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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DEPARTAMENTO DE DIREITO JUR 1955 Turma 2HX – G2 TRIBUNAL DO JÚRI – 2021.2 Prof. Carlos Gustavo Vianna Direito Alunos: Ana Clara Benevenuto Mattos de Andrade Djalma Padilha Gerk AVALIAÇÃO DE JULGAMENTO DE CASOS DE FEMINICÍDIO Estudo 1: Caso Daniela Perez (1992) Na tarde do dia 28 de dezembro, por volta das 22h, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz assassinaram a, então atriz, Daniella Perez após terem levado a vítima, desacordada, em direção a Avenida das Américas, na Rua Cândido Portinari, região deserta da Barra da Tijuca, no Rio de Grande. No local do crime, os condenados apunhalaram Daniella com 18 estocadas, que atingiram a região do pulmão, coração e pescoço. No mesmo dia, na delegacia, Guilherme e Paula chegaram a consolar a mãe de Daniella e Raul Gazolla. Relata-se que a frieza foi tamanha que chegaram a solicitar que mantivessem estes informados sobre os resultados do desapareci- mento da atriz. O julgamento ocorreu em 25 de Janeiro de 1997 e, depois de mais de 67 horas e 58 minutos de muita confusão (com cobertura ampla da empresas), sendo o julgamento que mais atraiu a atenção pública dos últimos anos em todas as emissoras do país, o 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro condenou ambos os réus por cinco votos a dois. Guilherme de Pádua foi sentenciado a cumprir pena de 19 anos de prisão, sendo libertado em 14 de outubro de 1999, após ficarem presos por 6 anos e 9 meses, o que significa o cumprimento de um terço da pena. Já Paula Nogueira de Almeida Thomaz, 23, foi condenada a 18 anos e seis meses de prisão. Por quatro votos a três, os sete jurados a consideraram culpada da acusação de ter participado da morte da atriz Daniella Perez. A cobertura da mídia foi o grande motivacional apresentado perante o crime que, até hoje, desconhecem-se as reais motivais, mas ao que tudo indica se deu pela inveja do protago- nismo da novela “Corpo & Alma” ter se focado na figura feminina de Daniella, e não de Gui- lherme de Pádua. Além disto, a mídia discorreu por muito tempo que Paula Thomaz teria sido motivada pela afetividade com Guilherme, contudo, como não comprovado à época, a redução de pena só se deu devido a idade inferior a 21 anos que a acusada e condenada possuía na época. O que se faz mais importante desprender é que o crime, até o momento, não era imposto sob o ponto de vista do feminicídio, embora fossem tácitos os motivos que levaram, principal- mente, Guilherme a cometer o crime. Hoje, com os fundamentos penais encontrados na lei penal brasileira, especialmente em face da Maria da Penha de 2006, é possível que condenação im- putasse em pena maior devido aos agravantes e, com a maior participação da mídia e das redes sociais, possível ainda seria que os resultados do júri fosse unânimes em face do peso social em que um crime é cometido. Frente a este exposto, abaixo se apresenta outro consolidado, mais atual, sobre o feminicídio no Brasil. Estudo 2: Caso Maria Francisca Borges Ocorre que, no dia 03 de setembro de 2017, por volta das 16h30, no interior do aparta- mento do casal, no Riacho Fundo II/DF, Leonardo Gonçalves Borges, de 41 anos, despejou álcool sobre sua companheira, ativando em seguida um queimador do fogão, causando-lhe ex- cessivas lesões cutâneas e danos a saúde, descritas, aproximadamente às 18:45 pelo exame le- gal, que afirmou que a vítima apresentava regular estado geral, corada, desidratada +/4, afebril, eupneica, acianótica, afebril, consciente e orientada, além do diagnóstico de 40% da superfície corporal queimada (com lesões de segundo e terceiro grau). Viva, a vítima só não morreu por- que conseguiu fugir para o banheiro, apagando o fogo que se propagava por seu corpo. Leo- nardo e a vítima, casados, discutiram banalmente. Frente ao crime, Leonardo Gonçalves Borges foi condenado, dia 08 de novembro de 2018, a 15 anos de reclusão, em regime inicial fechado, pela tentativa de homicídio triplamente qualificada por meio cruel (emprego de fogo), uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e contra mulher (feminicídio), por razões da condição de sexo feminino (art. 121, § 1º e 2º, incs. III, IV e VI, § 2º - A, inciso I, c/c artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal). O crime foi praticado contra sua companheira, na presença de uma criança de quatro anos de idade, sobrinha da vítima. Neste caso, ainda, Leonardo ainda terá que reparar o dano causado à vítima com a quantia de R$ 30 mil. E segundo o juízo do tribunal do júri, o grau de culpabilidade foi enorme e, inclusive, anormal para o tipo penal, com alto grau de reprovabilidade, haja vista que foi praticado na presença da sobrinha de Maria Francisca Borges, o que aumenta os possíveis re- sultados e agravantes da pena. A mídia não se mostrou equivalente ao caso de Maria Francisca Borges tão quando no caso de Elisa Samúdio, mas com as mudanças inseridas através da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), é possível perceber que o Tribunal do Júri agiu com tamanha precisão, haja vista que, mesmo com ausência de morte, produziu sentença condenatória relevante, sem possibilidade de recorrência em liberdade. Isto correlata, sobretudo, as mudanças jurídico-le- gais que se buscam ocorrer a partir do desenvolvimento da lei. Cabe, sobretudo, entender que não se pode negar que a imprensa apresenta um papel fundamental nas práticas da sociedade, alimentando a opinião pública sobre a sua formação, o que, por consequência, eleva a cultura jurídica; entretanto, não se pode esquecer que existem diversos limites e responsabilidades acerca da divulgação de informações e que, também, mui- tas das vezes, a imprensa pode atrapalhar os resultados de um julgado, tornando-o nulo, como no caso das crianças desaparecidas em Guaratuba. O que se percebe, sobretudo às análises vis- tas, é que não há tamanha diferenciação jurídico-legal, mas amplamente televisiva.
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