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2 PSICOLOGIA JURÍDICA Apresentação da Disciplina No presente material, abordaremos a Psicologia Jurídica, perpassando pelas diferentes teorias psicológicas que influenciam direta e indiretamente o pensamento jurídico, buscando compreender e analisar de forma crítica o diálogo entre a Psicologia e o Direito, e como essa relação se revela em nossa sociedade. Apresentação do Professor Meu nome é Anderson Moreno. Atualmente sou advogado do Escritório "Moreno Advocacia". Graduado em Direito pela Faculdade Integral Diferencial - FACID/PI (2010). Servidor Público do Governo Federal, Analista Técnico-Administrativo do Ministério dos Transportes com experiência na área de Direito Público. Atuo na Secretaria do Programa de Aceleração do Crescimento - SEPAC, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, no acompanhamento e monitoramento das decisões do TCU, principalmente no que diz respeito a esta Secretaria e Ministério e como Assistente do Secretário desta Pasta, Coordenador-Geral de Instrumentos de Fomento no Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, bem como detenho a função de Conselheiro Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), como representante desse Ministério. Advogado atuante na área de Direito do Consumidor. Mestre em "Políticas e gestão pública para o desenvolvimento” pela Universidade de Brasília – UnB, onde também tive a oportunidade de atuar, em 2015 e 2016, em estágio docente, nas aulas da disciplina "Litigância Intragovernamental". Link para currículo lattes : <http://lattes.cnpq.br/5425229742300852> 3 SUMÁRIO MODULO 1: PERSPECTIVA PSICANALÍTICA DO DIREITO ........................................ 04 1.1 Introdução a psicologia jurídica ..................................................................... 05 1.2 Âmbito de abrangência nas diferentes áreas do Direito ................................ 09 1.3 Esfera Criminal, Cível, Infância, Juventude e Direito de Família................... 11 MODULO 2: APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA NA ÁREA JURÍDICA. .............................. 25 2.1 Sociologia Criminal ....................................................................................... 31 2.2 Bioantropologia criminal ................................................................................. 35 MODULO 3: PSICOLOGIA E CRIMINOLOGIA. ............................................................. 37 3.1 Criminologia .................................................................................................. 38 3.2 Psicanálise .................................................................................................... 39 MODULO 4: NOÇÕES DE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE. .................. 41 4.1 Abordagens da Personalidade ....................................................................... 41 4.2 Teorias da Personalidade. ............................................................................ 42 4.3 Biopsicotipologia ........................................................................................... 45 4.4 Personalidade e Crime.................................................................................. 47 MODULO 5: PSICOPATOLOGIA FORENSE. ............................................................... 49 5.1 Transtornos específicos da personalidade. ................................................... 56 5.2 Psicopatia ..................................................................................................... 63 5.3 Serial Killer. ................................................................................................... 65 5.4 Transtornos sexuais. ...................................................................................... 66 MODULO 6: CAPACIDADE DE IMPUTAÇÃO DO AGENTE CRIMINAL DE TRANSTORNO MENTAL .............................................................................................. 69 6.1 O papel do psicólogo jurídico ......................................................................... 74 6.2 Psicodiagnóstico ........................................................................................... 77 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ............................................................................. 79 QUESTIONÁRIO DE LEITURA DIRIGIDA .....................................................................83 GABARITO ....................................................................................................................101 4 MÓDULO 1: PERSPECTIVA PISCANALÍTICA DO DIREITO A aproximação entre Psicologia e Direito data do fim do século XIX com a criação da Psicologia do Testemunho que consistia em verificar a fidedignidade e se eram verdadeiros os relatos dos indivíduos listados em um processo judicial. Porém, a partir da década de 1980, muitas transformações ocorreram na área da psicologia jurídica: deixou de possuir apenas caráter técnico e começou a ser introduzido o caráter social e humanizado (ALTOÉ, 1999). Figura 1 fonte: pixabay.com Leal (2008) explica que a Psicologia só surgiria como ciência que auxilia a Justiça em 1868 com a publicação do livro Psychologie Naturelle, do médico Despine. Seu material de estudo consistia em informações contidas na La Gazette des Tribunaux e outras publicações semelhantes. Sua metodologia de pesquisa consistiu em dividir o material em grupos conforme o motivo que levaram à consumação do crime. Após isso, investigou as particularidades psicológicas de cada caso de cada grupo. Assim, conclui que, raras exceções, o delinquente não apresenta problemas físicos e mentais. Para Despine, o que acometia os delinquentes eram tendências de comportamento moral que afetavam a capacidade intelectual desses sujeitos, isto é, o delinquente age motivado por sentimentos negativos (ódio, vingança, avareza, aversão, etc.) 5 Assim, Despine afirma que o que falta ao delinquente é compaixão por si próprio e com seus semelhantes sem capacidade de arrependimento. A partir disso, Despine começou a ser considerado o pai da Psicologia Criminal que naquela época era entendido como a ciência responsável por estudar os aspectos psicológicos do criminoso (LEAL, 2008). A psicanálise lida com o inconsciente e por isso acaba por desvendar as verdades da natureza humana Já o Direito segue o caminho da eliminação de falhas com a finalidade de assegurar a segurança jurídica dos indivíduos e suas relações (BRAGA, 2013) Para a psicanálise o sujeito segue as leis do inconsciente, as quais não consegue desrespeitar. Já no Direito o sujeito é aquele que age conscientemente. Assim, Braga (2013) entende que as ações conscientes do indivíduo (mundo externo) contra o ordenamento jurídico podem ser regidas pelo inconsciente mostrando que as leis do inconsciente podem se sobressaltar sobre as leis do mundo externo. Katz (1989) afirma que há várias maneiras de se produzir o inconsciente e é por esse motivo que o Direito tem dificuldade de ouvi-lo, mas isso não significa que ele o ignora. Por isso, a importância da psicanálise andar com o Direito já que a primeira se torna responsável por clarear e alertar o Direito quando da ação do inconsciente. Marchesini (2012) ao abordar a juspsicanalítica, nos apresenta uma nova maneira de lidar com o Direito, isto é, apresenta a possibilidade de que por meio do estudo da psicanálise seja feita uma nova abordagem e interpretação acerca das leis, ética, dogma jurídicos. Isso ocorre porque o Direito tem o objetivo de controlar a conduta humana e a psicanálise mostra que, apesar das tentativas, há algo (inconsciente) que é incontrolável. 1.1 Introdução à psicologia jurídica Leal (2008, p. 180) afirma que “a Psicologia Jurídicacorresponde a toda aplicação do saber psicológico às questões relacionadas ao saber do Direito”. Urra (1993) explica que a psicologia jurídica possui dois ramos: a psicologia forense e a psicologia criminológica. Pareces psicológicos já eram solicitados desde 1792 nos 6 tribunais dos Estados Unidos, porém só foi institucionalizada em 1970. A psicologia forense, segundo Freitas (2013), volta-se, praticamente de forma exclusiva, para as situações envolvidas em testemunhos e julgamentos nos fóruns e tribunais de justiça. Já a psicologia jurídica é algo mais ampla, já que possibilita a pesquisa acadêmica e até intervenção e tratamento de vítimas e infratores. Já Leal (2008) acrescenta à classificação a Psicologia Judiciária. A explicação de Leal (2008) para os subconjuntos da Psicologia Jurídica se encontra a seguir: Psicologia Forense: é o subconjunto em que se encontra os procedimentos forenses. Onde se encontra o assistente técnico. É a utilização do estudo psicológico em tudo aquilo que está/estará diante de apreciação judicial. Incluem as atividades dos psicólogos criminais, judiciários e pelo assistente técnico; Psicologia Criminal: é um subconjunto da Psicologia Forense e estuda as condições psíquicas do criminoso e a maneira pela qual se inicia a ação criminosa. Tem como áreas de atuação a Psicologia do delinquente, Psicologia do delito e a Psicologia das testemunhas. Psicologia Judiciária: é um subconjunto da Psicologia Forense e consiste em toda prática psicológica feita a pedido dos serviços judiciais, ou seja, está subordinada à autoridade judiciária. É onde se encontra a função pericial. Tem como áreas de atuação a Psicologia Jurídica e as questões da Infância e Juventude (adoção, intervenção de crianças e jovens em situação de risco, etc.); Psicologia Jurídica e o Direito de Família (separação, paternidade, disputa de guarda, etc.); Psicologia Jurídica e Direito Civil (interdição, indenização, etc.); Psicologia Jurídica do Trabalho (acidente de trabalho, dano psíquico, etc.); Psicologia Jurídica e o Direito Penal (perícia, insanidade mental, etc.); Psicologia Judicial ou do Testemunho (falsas memórias, estudo do testemunho, etc.); Psicologia Penitenciária (penas alternativas, trabalho com agentes de segurança, etc.); Psicologia Policial e das 7 Forças Armadas (seleção e formação de agentes, atendimento psicológico, etc.); Mediação (mediador em questões como as de Direito de Família e Penal); Psicologia Jurídica e Direitos Humanos (defesa e expandir os Direitos Humanos); entre outras áreas possíveis. Freitas (2013) entende que a psicologia jurídica tem uma configuração de coexistência, ou seja, há escolas PSI simultâneas (psiquiatria, psicologia e psicanálise) com destaque para a psicologia clínica e psicologia social. Para o autor, a psicologia jurídica está intimamente ligada a um conceito básico: a moral. A psicologia jurídica é aplicada com o objetivo de melhorar o exercício do Direito. Isto é, o trabalho de juristas, assistentes sociais, magistrados e psicólogos (FREITAS, 2013). Esse trabalho é executado em conjunto nos seguimentos a seguir, conforme explica Freitas (2013): Análise de testemunho; Exames de evidências delitivas; Análise do grau de veracidade das confissões; Compreensão psicossocial do delito (descobrir as motivações para a prática do crime); Orientação psíquica e moral do infrator; Análise das melhores medidas profiláticas do ponto de vista sociocultural e psicológico aos variados perfis da delinquência; Atuar de forma preventiva para evitar a reincidência; Apoiar e dar tratamento psicológico às vítimas de delitos. É importante que o psicólogo jurídico tenha conhecimento para aplicar os métodos terapêuticos e de diagnóstico complexos. Tais diagnósticos incluem: aplicação, análise e interpretação de provas psicológicas; o uso de padrões psicométricos em comparação com as provas psicológicas para que o diagnóstico seja válido, confiável e adequado. É importante observar também que esses psicólogos devem ter sensibilidade para identificar as demandas subjetivas, que possam vir 8 aparecer antes mesmo do problema psicológico, nos operadores do Direito ou vítimas e acusados (FREITAS, 2013). Soria (1998) conclui que a psicologia jurídica tem o objetivo de criar um elo terapêutico com as vítimas, infratores ou até mesmo os profissionais do Direito, depende de cada contexto. Na área de assistência aos trabalhadores do campo jurídico, os psicólogos jurídicos, junto com os psicólogos do trabalho, devem planejar e executar programas de saúde mental, ações de segurança e salubridade. Quanto à assessoria, o psicólogo atua em conjunto com assistentes sociais e sociólogos, seja em escritórios de advocacia ou em juízo, com a finalidade de apresentar as melhores técnicas ou estratégias para dirimir os efeitos psicológicos que uma decisão judicial possa vir a ter, seja na vítima ou acusado. Já na esfera penal sua atuação deve ser consistente na apresentação de dados empíricos acerca do réu para que sejam persuasivos. A psicologia jurídica tem como áreas mais importantes a de estudo e intervenção no comportamento dos infratores e o estudo e intervenção no comportamento da vítima. No que tange ao comportamento dos infratores as ações elencadas por Freitas (2013) são: Investigação, tratamento e prevenção de comportamentos desviantes do ponto de vista legal; Abordagem biopsicossocial a respeito da origem da conduta antissocial; Técnicas, métodos e estratégias para a modificação de tais condutas por instituições competentes; Já a área a respeito do comportamento das vítimas Freitas (2013) cita como ações as seguintes: Auxiliar no restabelecimento psíquico; Intervir e aconselhar as vítimas em momentos críticos e delicados; Proteger e amparar crianças envolvidas em disputa de guarda ou tutela; Proteger e amparar mulheres agredidas pelos companheiros; 9 Opinar de forma técnica sobre os pedidos de indenizações a respeito de danos morais; Assessorar o governo em políticas públicas com temas relacionados à violência social. É possível também que os psicólogos atendam advogados e promotores a respeito de técnicas persuasivas e argumentativas para melhorar seu poder de defesa (ROMERO, 2001). 1.2 Âmbito de abrangência nas diferentes áreas do Direito Figura 2 Fonte: pixabay.com De acordo com Lago (2009) costuma-se associar a Psicologia Jurídica a avaliações, pareceres e laudos, porém, não se resume apenas a isso. Segundo a autora, as principais áreas do Direito que recorrem a Psicologia Jurídica são Direito de Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil, Direito Penal e Direito do Trabalho. As seguintes atuações são listadas por Lago (2009): Psicólogo jurídico e o Direito da Família: separação e divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas; 10 Separação e divórcio: na maioria das vezes a participação do psicólogo está relacionada aos casos em litígio. O psicólogo, nesses casos, atua como mediador buscando identificar a causa do conflito e tentar chegar a um acordo. Caso ache necessário, poderá encaminhar as partes ao acompanhamento psicológico. Regulamentação de visitas: o psicólogo serve como uma ponte entre o juiz e a família, já que, mesmo depois de acordado questões como as visitas, podem haver conflitos. Aqui o mediador pode funcionar também como um mediador, mas principalmente como uma ponte entre o Judiciário e as partes, já que é ele o responsável por repassar aojuiz o andamento e adaptação da família com o acordo. Disputa de guarda: a necessidade do psicólogo nesses casos é devido a casos em que não há um acordo entre as partes. Fica a cargo do psicólogo fazer uma avaliação psicológica das partes para saber quem tem melhores condições de receber a guarda da criança. Psicopatologia, psicologia do desenvolvimento e psicodinâmica do casal são conhecimentos necessários ao psicólogo. Assuntos como guarda compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e síndrome de alienação parental devem ser dominadas pelo psicólogo. Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente: adoção e destituição do poder familiar e aplicação de medidas socioeducativas para adolescentes autores de ato infracional. Adoção: além de orientar os futuros pais, cabe ao psicólogo, primeiramente, garantir que os candidatos atendam às exigências legais. Após isso, os psicólogos ficam responsáveis por assessorar, informar e avaliar qualitativamente os candidatos a fim de evitar negligência, abuso, rejeição ou devolução. Destituição do Poder Familiar: a participação do psicólogo nesses casos é extremamente fundamental, já que, retirar uma criança de sua família pode, ou não, trazer consequências negativas, em menor ou maior grau, no futuro. Adolescentes autores de ato infracional: nesses casos o psicólogo atua de forma que proporcione aos adolescentes a superação da exclusão e a introdução à participação social. A execução das medidas socioeducativas deve ser realizada de maneira que envolva a família e a comunidade. 11 Dano psíquico: cabe ao psicólogo avaliar o grau e a existência desse dano decidindo se o dano deve ser ressarcido financeiramente. Interdição: cabe ao psicólogo avaliar a enfermidade e se o seu grau é ou não passível de interdição. Psicólogo jurídico e o Direito Penal: o psicólogo pode ser requisitado para avaliar a sanidade, periculosidade e condições de discernimento das partes em julgamento. Vitimologia: cabe ao psicólogo traçar o perfil da vítima compreendendo as reações da vítima diante do crime cometido. A análise deve ser realizada a partir da ocorrência até as consequências do crime. Ademais, cabe também a aplicação de medidas preventivas e prestação de assistência às vítimas. Psicologia do Testemunho: os psicólogos são chamados para avaliar se os testemunhos são verdadeiros ou não excluindo o fenômeno das falsas memórias. 1.3 Esfera Criminal, Cível, Infância, Juventude e Direito de Família Abaixo serão explicados de maneira aprofundada algumas questões já mencionadas nos tópicos anteriores. ESFERA CRIMINAL Bessa (2007) afirma que a sociedade de forma natural impõe regras aceitáveis e não aceitáveis. A partir disso, surge o Estado com o monopólio da força regulando e punindo aqueles que agem de maneira não aceitável para a sociedade. Antigamente, a religião era muito forte na composição e organização da sociedade. A ordem política era confundida com a ordem religiosa o que resultou em algumas penas a partir de preceitos religiosos (MATTOS, 2013). Segundo Mattos (2013), naquela época a pena tinha caráter vingativo, isto é, não havia limites no momento de aplicar as penas, apenas o desejo de satisfazer o sentimento de vingança. Com o passar dos tempos a sociedade evoluiu e com ela as punições também. A instituição de penas mais brandas diminuiu esse caráter vingativo, já que é possível que 12 o acusado não seja punido caso restitua o dano causado, por exemplo. Entretanto, penas agressivas continuavam presente. Os representantes da Igreja eram os responsáveis por aplicar as penas que chegavam a ser desumanas, já que tinham o objetivo de “purificar” a alma do acusado. Mais adiante no tempo surge outro tipo de pena chamado por Foucault de suplício. O suplício consistia em uma espécie de ritual para mostrar a grandeza e tamanho do poder do soberano sobre a sociedade. Um exemplo bastante conhecido no Brasil é o enforcamento e esquartejamento de Tiradentes. Depois do suplício surgiu o que Foucault chamou de disciplina. A disciplina consiste na vigilância individual, perpétua e ininterrupta. A mudança do suplício para disciplina só foi possível por causa da mudança sociopolítica que ocorreu (feudalismo-monárquico para capitalismo) (MATTOS, 2013). Figura 3Fonte: pixabay.com Com o monopólio do poder punitivo pelo Estado cabe a ele disciplinar as relações e ações dos cidadãos. A partir desse momento todos os cidadãos são considerados iguais perante a lei e tem como principal pena a restrição da liberdade, criada por Bentham, a liberdade, aliás, é entendida por Foucault como bem maior da sociedade (MATTOS, 2013). Quando se trata de Direito Penal brasileiro temos como código norteador o Código Penal que traz em seu art. 32 três principais modalidades de penas: privativa de liberdade, restritiva de direito e multa. As penas restritivas de liberdade subdividem-se em duas outras espécies: detenção e reclusão. A principal diferença entre essas duas consiste no limite que um juiz pode deferir para o cumprimento, isto é, a reclusão, devido ao seu limite tempo, pode ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto enquanto a detenção pode ser cumprida em regime semiaberto ou aberto (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). 13 Além disso, o instituto penal brasileiro prevê a progressão de regime. A progressão consiste na transferência de regime menos rigoroso, desde que atendida as exigências, sempre respeitando o princípio da individualização da pena. Para que um apenado obtenha progressão de regime é necessário que já tenha cumprido, no mínimo, um sexto de sua pena e que tenha bom comportamento comprovado pelo diretor do estabelecimento em que se encontra cumprindo pena (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). Fatores que levam ao ato delituoso Marques e Oliveira (2013) afirmam que antigamente era tido que o criminoso já nascia criminoso, porém, com o passar do tempo outras teorias surgiram e sugeriram que há outros fatores que influenciam a conduta delituosa. A partir disso, Fiorelli (2010) observa que é importante observar dois fatores: o condicionamento e a observação de modelos. O condicionamento consiste no reforço positivo, isto é, a repetição de ações no qual o indivíduo se encontra exposto. A observação de modelos é a observação de comportamentos agressivos para que no futuro os atos sejam repetidos. Outro conceito importante ao falar sobre práticas delituosas é o de imputabilidade. A imputabilidade consiste no fato de um indivíduo compreender que sua conduta, ao praticar um crime, é de fato um crime. Já a inimputabilidade é o inverso, é a falta de capacidade de o indivíduo compreender que seu ato é considerado criminoso. A semi-imputabilidade é um meio termo entre os dois últimos, já que a culpabilidade é diminuída devido a transtornos de leve intensidade que o indivíduo possa apresentar (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). Sistema prisional A Lei de Execução Penal traz em seu corpo garantias que proporcional os direitos humanos aos apenas, como por exemplo, a individualização da pena e assistência médica, social, religiosa a fim de que, ao reingressar à sociedade, o indivíduo seja de fato reintegrado (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). Entretanto, segundo Marques e Oliveira (2013) não é bem assim que acontece nas penitenciárias brasileiras. A realidade do sistema prisional brasileiro é de puro caos em que é possível notar superlotação, violência entre os apenados, abuso de autoridade, homicídios e tortura. 14 A Psicologia está inserida dentro deste contexto jurídico, desempenhandopapéis de avaliação e tratamento, desenvolvendo, além do polêmico exame criminológico, atividades psicoterapêuticas e, ainda no que se refere à Psicologia Criminal, estudando e analisando intervenções possíveis, perante as pessoas presas e a instituição prisional como um todo. (CHAVES, 2010, p.5) Por isso, a presença da Psicologia Jurídica nesse âmbito é de extrema importância. Assim, O Conselho Federal de Psicologia por meio da Resolução nº 012/2011 determina que os psicólogos deverão observar os direitos humanos dos indivíduos que se encontram cumprindo pena no sistema carcerário brasileiro trabalhando em prol da cidadania e reinserção do apenado na sociedade. Figura 4Fonte: pixabay.com Quando um detento chega ao presídio deve passar por avaliação nas Comissões Técnicas de Classificação (CTC’s) que tem como objetivo traçar medidas e estratégias para reduzir os prejuízos que podem advir da convivência e contribuir para a capacitação dos presos (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). De acordo com Chaves (2010) ao darem entrada na unidade prisional, os presos passam pela CTC que avaliam o histórico do preso (pessoal, criminal, familiar e comportamental). A partir disso, a CTC encaminha o A Psicologia está inserida dentro deste contexto jurídico, desempenhando papéis de avaliação e desenvolvendo, além do atividades psicoterapêuticas polêmico exame e, ainda no que Psicologia Criminal, estudando e analisando tratamento, criminológico, se refere à intervenções possíveis, perante as pessoas presas e a instituição prisional como um todo. (CHAVES, 2010, p.5) 15 As avaliações psicológicas individualizadas, previstas em lei, são inviáveis nos presídios brasileiros em razão das superpopulações existentes. Pelo mesmo motivo, proporcionar um “tratamento penal” aos apenados ou estabelecer outro tipo de relações institucionais com os demais funcionários, internos e/ou seus familiares são tarefas difíceis para os psicólogos que trabalham junto ao sistema carcerário. As avaliações psicológicas individualizadas, previstas em lei, são inviáveis nos presídios brasileiros em razão das superpopulações existentes. Pelo mesmo motivo, proporcionar um “tratamento penal” aos apenados ou estabelecer outro tipo de relações institucionais com os demais funcionários, internos e/ou seus familiares são tarefas difíceis para os psicólogos que trabalham junto ao sistema carcerário. preso para intervenções que entender necessária, ou seja, caso um preso, por exemplo, apresenta algum transtorno mental é encaminhado para avaliação psiquiátrica ou se não tem profissão é encaminhado para um curso profissionalizante. Além disso, o Conselho Federal de Psicologia define atendimento “psicológico, psicoterapêutico, diálogo, acolhimento, acompanhamento, orientação, psicoterapia breve, psicoterapia de apoio, atendimento ambulatorial entre outros” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2009, p. 19) ao preso como forma de garantir sua saúde e seus direitos. O psicólogo pode ser solicitado em casos de indisciplina do preso, por exemplo, para auxiliar na solução de forma que tais atos por parte do preso prejudique a execução penal, isto é, impossibilitando que o mesmo ganhe vantagens e benefícios e a progressão de regime. Outro tipo de atendimento solicitado é quando o próprio indivíduo ou familiar requisita acompanhamento psicológico o que acaba por ter melhor resultado já que há aceitação do próprio preso. De maneira geral, o tratamento dado aos presos no ambiente prisional deve ser pautado pelos Direitos Humanos com base no princípio da humanização das relações (CHAVES, 2010). A conjuntura brasileira, entretanto, não permite que esse tipo de atendimento seja realizado. Primeiramente, conforme explicita Chaves (2010), pelo fato de a composição física das unidades desconsiderarem a composição humanizada de tratamento ao preso focalizando apenas o aspecto da segurança. Assim, faltam inclusive salas específicas para tratamentos. Segundamente, como apresenta Lago (2009), 16 Algumas outras técnicas mencionadas pelo Conselho Federal de Psicologia que os psicólogos podem utilizar como ferramenta para reintegrar o preso à sociedade consiste no trabalho em grupo. Assim, a utilização de técnicas como oficinas terapêuticas, psicoterapia e reflexões em grupo permitindo a troca de experiência e convivência dos presos (CHAVES, 2010). A Lei de Execução Penal em seu art. 26 traz a definição de egressos, público que também deve ser acompanhado por psicólogos, que consiste em indivíduos liberados definitivamente pelo sistema prisional (durante um ano, após sua liberação) e aqueles que estão em condicional. A partir disso, em seu art. 25, a Lei determina que os egressos devem ser apoiados, orientados e assistidos durante o período de reintegração à sociedade garantindo, inclusive, moradia e alimentação pelo prazo de dois meses podendo esse prazo ser prorrogado. Porém, o Conselho Federal de Psicologia (2009, p. 32) pontua que o Brasil não adota as determinações legais, já que “os egressos retornam, assim, ao convívio social sem que, muitas vezes, tenham recursos para adquirir uma passagem de ônibus à saída do presídio”, por exemplo. Para tentar reverter essa situação o Conselho Federal de Psicologia sugere a criação de programas sociais de reintegração do preso como a Central de Acompanhamento de Penas e Medidas Alternativas (CEPAPA) e o Programa de reintegração do Egresso do Sistema Prisional (PrEsp). O PrEsp, por exemplo, tem o objetivo de diminuir a exclusão social do preso e promover condições da retomada da vida em liberdade promovendo o distanciamento de situações que podem provocar a reincidência criminal. Para um bom funcionamento desses programas o Conselho determina que: O foco deve ser em fatores que possam contribuir para algum tipo de comportamento que possa causar a reincidência; O emprego de métodos participativos orientados para a solução de problemas; A duração e a intensidade da intervenção por meio dos programas deve ser de acordo com os riscos de reincidência; Necessidade de persistência em um objetivo bem definido para que se 17 evite desvio e mudanças ao acaso de finalidade e objetivos; A alocação dos egressos deve ser feita de acordo com suas necessidades e meios de aprendizagem. Outro público atendido pelos psicólogos são as pessoas que estão em contato direto com os presos como sua família e os agentes penitenciários. O primeiro contato com a família deve ser o de informar acerca das condições em que seu parente se encontra (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). Os autores Marques e Oliveira (2013) afirmam que o atendimento familiar permite que o vínculo familiar seja mantido. O vínculo familiar é essencial para a futura reintegração na sociedade como mostram pesquisas como a que mostrou que os presos que receberam visita dos familiares no Estado da Flórida (EUA) tiveram reincidência bem inferior em relação aos outros. Outro público que deve receber atendimento são os agentes penitenciários para que possam realizar suas funções de maneira saudável. Esse acompanhamento deve acontecer porque o ambiente carcerário tem como principal característica a pouca salubridade, isto é, a iluminação é precária, equipamentos e ferramentas são desgastadas e a falta de higiene é presente em alguns setores. Além disso, o ambiente prisional é caracterizado por enorme “tensão”. Assim, há um grande risco à saúde mental e física desses agentes (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). Pessoas expostas a esse tipo de ambiente em longo prazoestão sujeitas a manifestar estresse e angústia por meio de comportamentos agressivos, principalmente, com os presos além, é claro, de acabar adoecendo (MARQUES E OLIVEIRA, 2013). Por isso, o Conselho Federal de Psicologia aponta a necessidade de se oferecer atendimento psicológico, orientações e avaliações para os agentes penitenciários. ESFERA CÍVEL O psicólogo atua na esfera cível em casos de interdição ou nos referentes a dano psíquico. Dano psíquico Segundo Ferraz (2007) o Direito parte do princípio que nem todo dano moral tem como consequência algum dano psicológico. Assim, o dano moral afeta a personalidade 18 do indivíduo que por sua vez é formada por uma imagem carregada de significados. A autora afirma que a personalidade humana é una, indivisível e protegida pela lei por sua condição de ser inerente ao ser. O dano moral é objeto de avaliação psicológica ou psiquiatra apenas quando ocorre dano psíquico. Esse dano não leva necessariamente a uma incapacidade psíquica. Trata-se apenas de marcas psicológicas que marcam a vida do indivíduo como, por exemplo, dores físicas advindas de um fator estressante que podem interferir no cotidiano e relações das pessoas. Ou seja, ao ofender o indivíduo o ofensor interfere na relação familiar, relações sociais, vida profissional, imagem, estética, reduz a autoestima, condição econômica-social e demais fatores psicossociais (FERRAZ, 2007). INFÂNCIA E JUVENTUDE De acordo com Silva (2016) a atuação dos psicólogos nas Varas da Infância e Juventude é diferente quando comparada com outras áreas do Direito. Isso ocorre porque não há realização de perícias e a participação de psicólogos assistentes técnicos é pouca. O que acontece nessa área é a emissão de pareceres não conclusivos de caráter situacional a respeito da estrutura familiar da criança ou adolescente. Adoção A adoção se trata da união por meio de sofrimento, isto é, normalmente, de um lado há uma criança abandonada e do outro uma família incapaz de gerar seus próprios filhos. A avaliação psicológica nesses casos é essencial para evitar problemas e compreender a linguagem inconsciente e a disponibilidade interna de estabelecer comunicação entre as partes. Essa avaliação deve levar em conta os aspectos intrapsíquicos, dinâmica relacional e o contexto e a realidade social em que as partes se inserem (SILVA, 2016). Silva (2016) esclarece que a adoção nem sempre ocorre devido ao abandono. Pode ocorrer também por: Consentimento ou solicitação dos pais perante o juiz para colocar a criança em outra família; Desaparecimento dos pais; Morte dos pais; 19 Negligência; Privação de direitos; Abuso; Maus tratos; O psicólogo deve avaliar e acompanhar de forma preventiva as pessoas interessadas em adotar, uma vez que um processo de adoção envolve muitas questões afetivo-emocionais. Além do caráter preventivo, esse acompanhamento e avaliação tem o objetivo de propiciar um futuro relacionamento familiar concreto como maneira de preparar a família para a realidade da criança adotada. A idealização da criança “perfeita” por parte dos pais que pretendem adotar é algo que ocorre com frequência, por isso o psicólogo precisa estar atento e acompanhar essas famílias, pois isso acarreta consequências para o desenvolvimento e formação da criança que tentará a todo custo atender aos anseios de seus pais (SILVA, 2016). Figura 5Fonte: pixabay.com Quando os pais buscam a adoção como opção devido à infertilidade ou esterilidade é necessário que o psicólogo faça uma avaliação a respeito do significado psicológico desse fator na vida do casal. Por exemplo, o fato de ser infértil faz com que a mãe fique vulnerável e passem por momentos de privação afetiva e anseiam por um filho 20 para preencher o vazio em decorrência de suas condições. Assim, é necessário que haja um acompanhamento do casal para analisar a história individual e conjugal, o papel que cada um tem em sua família e qual o comportamento de cada um na nova estrutura familiar (SILVA, 2016). Além da ilusão da criança perfeita e da adoção motivada pela infertilidade e esterilidade Silva (2016) afirma que pode ocorrer também de o casal já possuir filhos (biológicos ou adotivos) e a entrada de uma nova criança no contexto familiar pode não ser muito bem aceita por esses filhos. De maneira geral, Silva (2016) aponta que devem ser realizadas, no mínimo, quatro entrevistas, individual e conjuntamente, com o casal. Caso já existam crianças na família ela deve participar desse processo. Além da entrevista, pode-se utilizar de outras ferramentas como testes projetivos gráficos, configuração geracional das famílias de origem do casal adotante, fotos da família atual e de origem dos que pretendem adotar, etc. Guarda e Tutela Do ponto de vista psicológico, a guarda e tutela se assemelham à adoção. Assim, ao chegar um pedido de guarda ou tutela na Vara da Infância e Juventude o psicólogo jurídico deve avaliar a motivação e as condições da família requerente (SILVA, 2016). Destituição do poder familiar Silva (2016) que a mentalidade que permeia a sociedade brasileira é de que os pais possuem poder irrestrito sobre os filhos o que permite que usem de sua autoridade e violência para controlar seus filhos. Há os casos também de negligência em que os pais deixam de se utilizar do poder-dever concedido a eles para proteger e fornecer os meios para o pleno desenvolvimento da criança ou adolescente. O psicólogo tem a incumbência de avaliar os motivos, fatores e questões psicológicas que levaram a destituição do poder familiar (maus tratos, abuso sexual, negligência, etc.) para sugerir o que pode ser feito com os pais (SILVA, 2016). Rovinski (2007) lembra que o psicólogo ao analisar a situação deve se ater apenas a competência parental já que o problema nessa competência pode ser motivado por diversas razões e não necessariamente por uma questão individual (patologia psíquica). Por isso, o 21 psicólogo deve entrevistar os pais e a criança, individualmente, e, caso possível, observá- los juntos em seu ambiente. Em caso de maus tratos ou abuso físico, sexual ou psicológico Silva (2016) explica que devem ser observados alguns aspectos no momento da entrevista, que deve ser feita com todos os envolvidos: Relato dos fatos que os levaram àquela situação; Composição familiar; Histórico e personalidade de cada um. O psicólogo, segundo Silva (2016), possui duas abordagens: Imediata: ➢ Encontrar um lugar seguro para proteger a vítima; Ø Tomar medidas urgentes, como tratamento médico; Ø afastar o agressor de casa, caso seja necessário. Mediata: ➢ Aprofundar os estudos; ➢ Análise melhor do caso. Além da entrevista, outras técnicas utilizadas pelo psicólogo são: anamnese psicológica, hora lúdica, testes e outros métodos que achar necessário. Na anamnese os aspectos devem ser observados, segundo Silva (2016): Histórica relatada pelos pais; Traumatismos inexplicáveis; Histórias discrepantes; Demora na assistência médica; Desenvolvimento insuficiente da criança; Cumplicidade entre os pais; Maus tratos constantes, mesmo sendo “leve”; Dúvida dos pais quanto à paternidade; Identificação da criança como sendo indesejada; 22 Nascimento da criança ocasionou separação dos pais ou resultou em casamento; O nascimento da criança ou sua própria gestação está associado a algum evento negativo na vida dos pais. A observação das consequências para as crianças também é importante, como explica Silva (2016)que podem ser: Físicas: cicatrizes, danos cerebrais e morte, por exemplo; Psicológicas: baixa autoestima a danos severos; Cognitivos: déficit de atenção a distúrbios de aprendizagem, por exemplo; Comportamentais: dificuldade de relacionamento com colegas a comportamentos suicidas. Após esse processo o psicólogo deve emitir um laudo que, além de conter suas impressões e análise do caso, pode apresentar encaminhamentos das partes a outros especialistas de diversas áreas. Ao elaborar o laudo psicológico, deve considerar todas as situações e que ao decidir retirar o poder familiar a criança em questão também sofre consequências e que os prejuízos (motivo pelo qual está sendo retirado o poder familiar) seja a justificativa para a intervenção do Estado na relação familiar. Para tanto, cabe ao psicólogo apresentar evidências que comprometem o bem-estar da criança (ROVINSKI, 2007). Queixas de comportamento Segundo Silva (2016), é cada vez mais frequente o a queixa de comportamento de crianças em Conselhos Tutelares. Essas queixas consistem em delitos praticados pelos menores. A avaliação do psicólogo consiste em analisar se o motivo é um problema psicológico ou é sintoma de algum problema familiar (o que é mais comum). DIREITO DE FAMÍLIA Guarda compartilhada Quando um casal se separa é necessário que se decida com quem ficará a guarda dos filhos, caso os pais não cheguem a um acordo quem decide é o juiz (LAGO E 23 BANDEIRA, 2009). De acordo com Trindade (2004) a guarda poderá ser compartilhada ou exclusiva. A guarda exclusiva consiste naquela em que as decisões referentes a vida do filho são de responsabilidade de quem ficar com a guarda, mesmo com os dois mantendo o poder familiar. Já a guarda compartilhada é aquela em que ambos os pais tomam as decisões, independentemente de morar ou não ou o tempo que passa com um deles, por exemplo. A guarda compartilhada não é possível em todos os casos. Lago e Bandeira (2009) entendem que para que esta possa ser conferida ao casal é necessário que haja uma avaliação: Da história do casal; Disputas antes e pós-divórcio; Idade dos filhos; Habilidades de cooperação e co-parentalidade. Síndrome de alienação parental A Síndrome da Alienação Parental (SAP) é muito comum em disputas de guarda. A SAP é caracterizada pelo processo de “programação” de uma criança para que ela não goste de um de seus genitores sem justificativa. O genitor alienador programa a criança para denegrir a imagem do genitor alienado, ou seja, se a criança não contribui para denegrir a imagem do pai ou mãe não se pode falar em SAP (GARDNER, 2002). Algumas características notadas por Gardner (2002) nas crianças afetadas pela SAP são: Campanha de descrédito; Justificativas fúteis para suas atitudes; Ausência de ambivalência, isto é, existe somente um sentimento: o ódio; A criança afirma que ninguém influenciou em seu comportamento; A criança defende o genitor alienador; A criança não sente culpa por denegrir o genitor alienado; Afirmação de situações que não existiram. 24 Como diagnóstico, Gardner (2002) apresenta a realização de entrevistas conjuntas pois, só assim o psicólogo poderá confrontar e confirmar as versões. Além de diagnosticar a SAP, é importante que os psicólogos encontrem uma maneira de diminuir as consequências na relação entre o filho e o genitor alienado, considerado a parte mais complexa do tratamento. Há também a necessidade de tratar o genitor alienador e sua psicopatologia. 25 MÓDULO 2: APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA NA ÁREA JURÍDICA A aproximação entre Psicologia e Direito data do fim do século XIX com a criação da Psicologia do Testemunho que consistia em verificar a fidedignidade e se eram verdadeiros os relatos dos indivíduos listados em um processo judicial. Porém, a partir da década de 1980, muitas transformações ocorreram na área da psicologia jurídica: deixou de possuir apenas caráter técnico e começou a ser introduzido o caráter social e humanizado (ALTOÉ, 1999). Figura 6Fonte: pixabay.com Leal (2008) explica que a Psicologia só surgiria como ciência que auxilia a Justiça em 1868 com a publicação do livro Psychologie Naturelle, do médico Despine. Seu material de estudo consistia em informações contidas na La Gazette des Tribunaux e outras publicações semelhantes. Sua metodologia de pesquisa consistiu em dividir o material em grupos conforme o motivo que levaram à consumação do crime. Após isso, investigou as particularidades psicológicas de cada caso de cada grupo. Assim, conclui que, raras exceções, o delinquente não apresenta problemas físicos e mentais. Para Despine, o que acometia os delinquentes eram tendências de comportamento moral que afetavam a capacidade intelectual desses sujeitos, isto é, o delinquente age motivado por sentimentos negativos (ódio, vingança, avareza, aversão, etc.) 26 Assim, Despine afirma que o que falta ao delinquente é compaixão por si próprio e com seus semelhantes sem capacidade de arrependimento. A partir disso, Despine começou a ser considerado o pai da Psicologia Criminal que naquela época era entendido como a ciência responsável por estudar os aspectos psicológicos do criminoso (LEAL, 2008). A psicanálise lida com o inconsciente e por isso acaba por desvendar as verdades da natureza humana Já o Direito segue o caminho da eliminação de falhas com a finalidade de assegurar a segurança jurídica dos indivíduos e suas relações (BRAGA, 2013) Para a psicanálise o sujeito segue as leis do inconsciente, as quais não consegue desrespeitar. Já no Direito o sujeito é aquele que age conscientemente. Assim, Braga (2013) entende que as ações conscientes do indivíduo (mundo externo) contra o ordenamento jurídico podem ser regidas pelo inconsciente mostrando que as leis do inconsciente podem se sobressaltar sobre as leis do mundo externo. Katz (1989) afirma que há várias maneiras de se produzir o inconsciente e é por esse motivo que o Direito tem dificuldade de ouvi-lo, mas isso não significa que ele o ignora. Por isso, a importância da psicanálise andar com o Direito já que a primeira se torna responsável por clarear e alertar o Direito quando da ação do inconsciente. Marchesini (2012) ao abordar a juspsicanalítica, nos apresenta uma nova maneira de lidar com o Direito, isto é, apresenta a possibilidade de que por meio do estudo da psicanálise seja feita uma nova abordagem e interpretação acerca das leis, ética, dogma jurídicos. Isso ocorre porque o Direito tem o objetivo de controlar a conduta humana e a psicanálise mostra que, apesar das tentativas, há algo (inconsciente) que é incontrolável. Leal (2008, p. 180) afirma que “a Psicologia Jurídica corresponde a toda aplicação do saber psicológico às questões relacionadas ao saber do Direito”. Urra (1993) explica que a psicologia jurídica possui dois ramos: a psicologia forense e a psicologia criminológica. Pareces psicológicos já eram solicitados desde 1792 nos tribunais dos Estados Unidos, porém só foi institucionalizada em 1970. A psicologia 27 forense, segundo Freitas (2013), volta-se, praticamente de forma exclusiva, para as situações envolvidas em testemunhos e julgamentos nos fóruns e tribunais de justiça. Já a psicologia jurídica é algo mais ampla, já que possibilita a pesquisa acadêmica e até intervenção e tratamento de vítimas e infratores. Já Leal (2008) acrescenta à classificação a Psicologia Judiciária. A explicaçãode Leal (2008) para os subconjuntos da Psicologia Jurídica se encontra a seguir: Psicologia Forense: é o subconjunto em que se encontra os procedimentos forenses. Onde se encontra o assistente técnico. É a utilização do estudo psicológico em tudo aquilo que está/estará diante de apreciação judicial. Incluem as atividades dos psicólogos criminais, judiciários e pelo assistente técnico; Psicologia Criminal: é um subconjunto da Psicologia Forense e estuda as condições psíquicas do criminoso e a maneira pela qual se inicia a ação criminosa. Tem como áreas de atuação a Psicologia do delinquente, Psicologia do delito e a Psicologia das testemunhas. Psicologia Judiciária: é um subconjunto da Psicologia Forense e consiste em toda prática psicológica feita a pedido dos serviços judiciais, ou seja, está subordinada à autoridade judiciária. É onde se encontra a função pericial. Tem como áreas de atuação a Psicologia Jurídica e as questões da Infância e Juventude (adoção, intervenção de crianças e jovens em situação de risco, etc.); Psicologia Jurídica e o Direito de Família (separação, paternidade, disputa de guarda, etc.); Psicologia Jurídica e Direito Civil (interdição, indenização, etc.); Psicologia Jurídica do Trabalho (acidente de trabalho, dano psíquico, etc.); Psicologia Jurídica e o Direito Penal (perícia, insanidade mental, etc.); Psicologia Judicial ou do Testemunho (falsas memórias, estudo do testemunho, etc.); Psicologia Penitenciária (penas alternativas, trabalho com agentes de segurança, etc.); Psicologia Policial e das Forças Armadas (seleção e formação de agentes, atendimento 28 Freitas (2013) entende que a psicologia jurídica tem uma configuração de coexistência, ou seja, há escolas PSI simultâneas (psiquiatria, psicologia e psicanálise) com destaque para a psicologia clínica e psicologia social. Para o autor, a psicologia jurídica está intimamente ligada a um conceito básico: a moral. A psicologia jurídica é aplicada com o objetivo de melhorar o exercício do Direito. Isto é, o trabalho de juristas, assistentes sociais, magistrados e psicólogos (FREITAS, 2013). Esse trabalho é executado em conjunto nos seguimentos a seguir, conforme explica Freitas (2013): De acordo com Lago (2009) costuma-se associar a Psicologia Jurídica a avaliações, pareceres e laudos, porém, não se resume apenas a isso. Segundo a autora, as principais áreas do Direito que recorrem a Psicologia Jurídica são Direito de psicológico, etc.); Mediação (mediador em questões como as de Direito de Família e Penal); Psicologia Jurídica e Direitos Humanos (defesa e expandir os Direitos Humanos); entre outras áreas possíveis. Análise de testemunho; Exames de evidências delitivas; Análise do grau de veracidade das confissões; Compreensão psicossocial do delito (descobrir as motivações para a prática do crime); Orientação psíquica e moral do infrator; Análise das melhores medidas profiláticas do ponto de vista sociocultural e psicológico aos variados perfis da delinquência; Atuar de forma preventiva para evitar a reincidência; Apoiar e dar tratamento psicológico às vítimas de delitos. 29 Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil, Direito Penal e Direito do Trabalho. As seguintes atuações são listadas por Lago (2009): Psicólogo jurídico e o Direito da Família: separação e divórcio, disputa de guarda e regulamentação de visitas; Separação e divórcio: na maioria das vezes a participação do psicólogo está relacionada aos casos em litígio. O psicólogo, nesses casos, atua como mediador buscando identificar a causa do conflito e tentar chegar a um acordo. Caso ache necessário, poderá encaminhar as partes ao acompanhamento psicológico. Regulamentação de visitas: o psicólogo serve como uma ponte entre o juiz e a família, já que, mesmo depois de acordado questões como as visitas, podem haver conflitos. Aqui o mediador pode funcionar também como um mediador, mas principalmente como uma ponte entre o Judiciário e as partes, já que é ele o responsável por repassar ao juiz o andamento e adaptação da família com o acordo. Disputa de guarda: a necessidade do psicólogo nesses casos é devido a casos em que não há um acordo entre as partes. Fica a cargo do psicólogo fazer uma avaliação psicológica das partes para saber quem tem melhores condições de receber a guarda da criança. Psicopatologia, psicologia do desenvolvimento e psicodinâmica do casal são conhecimentos necessários ao psicólogo. Assuntos como guarda compartilhada, falsas acusações de abuso sexual e síndrome de alienação parental devem ser dominadas pelo psicólogo. Psicólogo jurídico e o direito da criança e do adolescente: adoção e destituição do poder familiar e aplicação de medidas socioeducativas para adolescentes autores de ato infracional. Adoção: além de orientar os futuros pais, cabe ao psicólogo, primeiramente, garantir que os candidatos atendam às exigências legais. Após isso, os psicólogos ficam responsáveis por assessorar, 30 informar e avaliar qualitativamente os candidatos a fim de evitar negligência, abuso, rejeição ou devolução. Destituição do Poder Familiar: a participação do psicólogo nesses casos é extremamente fundamental, já que, retirar uma criança de sua família pode, ou não, trazer consequências negativas, em menor ou maior grau, no futuro. Adolescentes autores de ato infracional: nesses casos o psicólogo atua de forma que proporcione aos adolescentes a superação da exclusão e a introdução à participação social. A execução das medidas socioeducativas deve ser realizada de maneira que envolva a família e a comunidade. Dano psíquico: cabe ao psicólogo avaliar o grau e a existência desse dano decidindo se o dano deve ser ressarcido financeiramente. Interdição: cabe ao psicólogo avaliar a enfermidade e se o seu grau é ou não passível de interdição. Psicólogo jurídico e o Direito Penal: o psicólogo pode ser requisitado para avaliar a sanidade, periculosidade e condições de discernimento das partes em julgamento. Vitimologia: cabe ao psicólogo traçar o perfil da vítima compreendendo as reações da vítima diante do crime cometido. A análise deve ser realizada a partir da ocorrência até as consequências do crime. Ademais, cabe também a aplicação de medidas preventivas e prestação de assistência às vítimas. Psicologia do Testemunho: os psicólogos são chamados para avaliar se os testemunhos são verdadeiros ou não excluindo o fenômeno das falsas memórias. O Direito recorre à Psicologia em casos complexos e sem aspectos nítidos. Os cursos de Psicologia Jurídica focam em uma formação multidisciplinar englobando o Direito (conhecimento das leis e seu estudo, funcionamento de tribunais, etc.), 31 Criminologia, Sociologia e Psicologia Social com o objetivo de compreender casos complexos que envolvem diversas variáveis (FREITAS, 2013). Assim, nota-se que a Psicologia e o Direito se juntam para tentar superar o tratamento estritamente jurídico que é dado aos casos. De acordo com Oliveira (2012) a junção dessas duas áreas permite um ganho cognitivo para o jurista. Isso é vantajoso porque permite a promoção efetiva da justiça devido a capacidade de contextualizar de forma mais abrangente. Essa união permite a utilização de técnicas e métodos das duas áreas, principalmente no que tange ao esclarecimento de fatos, o procedimento e a predição da conduta. Fica nítido que a Psicologia Jurídica se trata de um campo interdisciplinartanto em sua formação como em sua atuação. 2.1 Sociologia Criminal Na perspectiva sociológica do crime, as teorias não se limitam ao crime e ao indivíduo, mas sim na sociedade em geral. Há duas visões que influenciam as teorias sociológicas do crime apresentadas por Penteado Filho (2011): TEORIAS DO CONSENSO As teorias do consenso entendem que apenas por meio do funcionamento equilibrado e perfeito de suas instituições possibilitam o alcance de seus objetivos. Tem como postulados: a sociedade é composta de elementos funcionais que tem por base o Funcionalista: é chamada de teoria da integração ou teoria do consenso. Tem como exemplos a Escola de Chicago, teoria da associação diferencial, teoria da anomia e teoria da subcultura delinquente; Argumentativo: chamada de teoria do conflito. Seus exemplos são o labelling approach e a teoria crítica ou radical. 32 consenso (PENTEADO FILHO, 2011). ➢ Escola de Chicago A expansão da cidade de Chicago causou diversos problemas sociais, econômicos, culturais, etc. o que favoreceu o surgimento da criminalidade na cidade. Assim, a Escola de Chicago se utilizou de inquéritos sociais em suas investigações para compreender a criminologia da cidade. Esses inquéritos consistiam em perguntas diretas realizadas por uma equipe. Para auxiliar no estudo geral dessa técnica, os especialistas se utilizavam de análises biográficas para se obter um perfil da história criminal individual (PENTEADO FILHO, 2011). Figura 7Fonte: pixabay.com Os estudiosos perceberam que as pessoas começavam a se aproximar umas das outras (vizinhos) o que permitia uma espécie de controle informal, já que um cuidava do outro. Perceberam também que a mobilidade e fluidez impossibilitava esse controle informal, já que com a complexificação da sociedade, as pessoas começavam a se mover (mudar-se, emprego, etc.) o que diminuía o contato com o outro e, consequentemente, a diminuição do controle informal (PENTEADO FILHO, 2011). A contribuição da Escola de Chicago para a Criminologia é a ideia de desorganização social e a identificação de áreas de criminalidade. Ou seja, o crescimento da cidade diminui o controle informal e as pessoas se afastam umas das outras o que impossibilita o impedimento de ações antissociais. Quanto às áreas de 33 criminalidade, a Escola afirma que há zonas na cidade que favorecem a formação de guetos (quanto menor a condição social maior é a possibilidade de formar-se um gueto) como apresentado abaixo (PENTEADO FILHO, 2011). Figura 8 DIREITOS AUTORAIS DE TERCEIRO, FAVOR REFAZER IMAGEM. Fonte: Penteado Filho, 2011, p. 86 O Loop é tido como zona central que se apresenta como zona comercial composta por bancos, lojas, fábricas, etc. A zona de transição (II) é caracterizada por ser de transição, como o próprio nome diz, ou seja, ela se encontra entre a zona comercial (I) e a zona residencial (III). É a zona de transição que está mais sujeita a criminalidade, já que possui a possibilidade de ser invadida pelo crescimento da zona comercial (PENTEADO FILHO, 2011). ➢ Associação Diferencial 34 Essa teoria afirma que o comportamento delituoso jamais é herdado, mas sim aprendido, confeccionado ou desenvolvido. Ou seja, a associação diferencial consiste no “processo de apreensão de comportamentos desviantes, que requer conhecimento e habilidade para locupletar das ações desviantes” (PENTEADO FILHO, 2011, p. 87). ➢ Anomia É uma teoria que possui variante marxista. É uma teoria que não vê o crime como uma anomalia. A teoria tem como postulado que a sociedade é harmônica e só ocorre uma disfunção no momento em que o Estado não consegue manter a harmonia, seja qual for o motivo. Assim, quando há a desestabilização da sociedade ocorre a anomia, isto é, desrespeito às normas sociais. ➢ Subcultura delinquente Possui três premissas: caráter pluralista; acompanhamento normativo da conduta desviante e estruturas semelhantes dos comportamentos regulares e irregulares. É caracterizado por: não utilitarismo do ato, malícia da conduta e negativismo. Ou seja, não há motivação racional para muitos dos crimes; há o prazer em prejudicar o próximo e as condutas se opõem às regras sociais (PENTEADO FILHO, 2011). TEORIAS DO CONFLITO As teorias do conflito, por sua vez, afirmam que a harmonia da sociedade só existe por meio da coerção. Possui como postulados: as sociedades estão sujeitas às mudanças já que todos os seus compostos favorecem a dissolução (PENTEADO FILHO, 2013). ➢ Labelling approach Essa teoria entende que a conduta criminosa não é inerente do ser humanos, mas sim aprendida, desenvolvida ou adquirida no processo em que se confere a criminalidade. Assim, as condutas desviantes são definidas pela sociedade e quem não se encontra no padrão definido sofre represália, inclusive de amigos e familiares, o que potencializa as ações e causam reincidência e, assim, são tidos como criminosos (PENTEADO FILHO, 2011). 35 ➢ Teoria Crítica ou Radical Essa teoria possui bases marxistas e entende que o capitalismo é a base da criminalidade já que favorece e promove o egoísmo que leva os seres humanos a realizar condutas criminosas. Além disso, afirma que os crimes cometidos pelos mais ricos passam despercebidos enquanto o crime cometido pelos mais desfavorecidos é extremamente criticado e perseguido (PENTEADO FILHO, 2011). NEORRETRIBUCIONISMO É uma corrente surgida nos Estados Unidos e possui como princípio a tolerância zero, isto é, repugnar os delitos menos graves o que teria por consequência a inibição de crimes mais graves (PENTEADO FILHO, 2011). 2.2 Bioantropologia criminal Penteado Filho (2011) esclarece que os primeiros estudos bioantropológicos foram realizados por Lombroso com destaque para análises morfológicas e fisiognômicas. A partir disso, destacou-se o estudo da antropometria que consiste no “estudo das medidas e proporções do organismo humano para fins de estatística e comparação” (PENTEADO FILHO, 2011, p. 102). Com o passar do tempo e a ramificação dos estudos, notou-se que os estudos estavam sendo irrelevantes e insuficientes então surgiram novas teorias críticas, principalmente no que tange à psiquiatria. Penteado Filho (2011) dá destaque às teorias dos tipos de autor e as teorias das personalidades psicóticas. As teorias dos tipos de autor apresentam quatro tipos de corporais: Leptossômico: estatura alta, tórax largo, peito fundo, cabeça pequena, pés e mãos curtas, cabelos crespos. Indivíduos que possuem esses tipos corporais são tendentes ao furto e estelionato; Atlético: estatura média, tórax largo, musculoso, estrutura óssea forte, rosto uniforme, pés e mãos grandes, cabelos fortes. Indivíduos com essas características tendem a cometer crimes violentos; 36 Pícnicos: tórax pequeno e fundo, curvado, formas arredondadas e femininas, pescoço curto, cabeça grande e redonda, rosto largo, pés e mãos curtas, cabelos curtos. Os indivíduos com essas características são menos predispostos ao crime; Displásico: corpo desproporcional e crescimento anormal são indivíduos propensos a cometerem crimes sexuais. As críticas dessas correntes tangem ao fato de acharem de conotação discriminatória, muito utilizada para justificar os atos nazifascistas para dizimarem as raças inferiores (PENTEADO FILHO, 2011). Outro destaque é para Schneider que criou o conceito de personalidades psicóticas que consiste em personalidades alteradas do ponto de vista afetivo e de sentimento individual.Para Schneider as condutas criminosas ou anomalias se devem mais ao caráter que a inteligência (PENTEADO FILHO, 2011). Penteado Filho (2011) nos apresenta também teorias bioantropológicas modernas que afirmam que alguns indivíduos são predispostos ao crime que e justifica por fatores congênitos, isto é, fatores relativos ao organismo humano. 37 MÓDULO 3: PSICOLOGIA E CRIMINOLOGIA A psicologia criminal tem o objetivo de encontrar, no interior do criminoso, os motivos e causas de seu comportamento, o fator que desencadeou esse comportamento e em quais situações ela se manifesta. Logo, o que se busca é uma maneira de prevenir a repetição do delito a partir do conhecimento da história, perfil e ferramentas do crime e criminoso (CECCARELLI, 2011). Penteado Filho (2012) esclarece que é possível que um indivíduo de boa formação e bons princípios tenha seu equilíbrio rompido e cometa um crime o que é chamado por Fernandes e Fernandes (2002) de conduta psicologicamente atípica pois se trata de um crime eventual. Entretanto, ocorre também os casos em que o indivíduo possui personalidade inquietante o que é chamada pelos autores de delinquência sintomática. Além desses dois, os autores apontam a possibilidade do defeito ou desvio de personalidade que é caracterizado pela má formação ou má constituição. Por isso, afirmam que é necessário a análise fatores primários (constitucionais e psicoevolutivos) e secundários (ação sobre uma estrutura concreta) que são agentes da conduta delituosa conforme apresentado a seguir. Figura 9 DIREITOS AUTORAIS DE TERCEIRO, FAVOR REFAZER IMAGEM. Fonte: PENTEADO FILHO, 2012, p. 296 38 3.1 Criminologia Penteado Filho (2012) conceitua criminologia como ciência empírica e interdisciplinar que analisa o crime, a personalidade do criminoso, o comportamento dele, da vítima e o controle social da conduta criminosa. Enquanto isso, Gomes e Molina (2008) apontam como característica da criminologia os seguintes pontos: A análise do crime deve ser feita considerando ser um problema humano, mas doloroso; Alcançar as vítimas e o controle social; Necessidade de atenção a prevenção e não apenas à repressão como em modelos mais tradicionais; Substituição do tratamento pela intervenção por se tratar de algo mais complexo, dinâmico e próximo a realidade social; Não afasta a análise etiológica do crime. Penteado Filho (2012) afirma que a criminologia tem como objeto de estudo o delito, delinquente, vítima e controle social. O crime, do ponto de vista da criminologia, possui quatro elementos, como é apresentado por Penteado Filho (2012): Incidência massiva na população: não é algo que ocorre de maneira isolada; Incidência aflitiva do ato praticado: causa dor e/ou comoção na vítima e sociedade; Persistência espaço-temporal do ato praticado: deve ocorrer por um tempo determinado no mesmo território; Consenso sobre a etiologia e técnicas de intervenção: a criminalização só pode ocorrer após análise de seus elementos e a repercussão produzida na sociedade. A maior parte da doutrina entende que a Criminologia pode ser dividida em criminologia geral e criminologia clínica. A criminologia geral é a sistematização, 39 comparação e classificação de resultados a respeito dos objetos da criminologia (delito, delinquente, vítima e controle social) e da criminalidade. Já a criminologia clínica consiste no tratamento dos criminosos, ou seja, é a aplicação da teoria (PENTEADO FILHO, 2012). Além dessa da classificação em criminologia geral e clínica há a divisão em criminologia científica (conceitos e métodos acerca dos objetos da criminologia e a justiça penal), criminologia aplicada (diz respeito a ciência e a prática dos operadores do direito), criminologia acadêmica (sistematização da teoria com finalidade pedagógica), criminologia analítica (análise do cumprimento da ciência criminal e da política criminal) e criminologia crítica ou radical (entendimento de que o delinquente é vítima da sociedade) (PENTEADO FILHO, 2012). 3.2 Psicanálise Serra (2015) explica que a partir da psicanalítica é possível extrair uma Teoria Gera do Crime que possui três pilares: O ser humano é antissocial por natureza; O crime é resultado da domesticação sem sucesso de um animal selvagem; A personalidade é moldada na infância. Lombroso distingue o criminoso nato do resto da sociedade, ou seja, para ele o delinquente já nasce delinquente o que importa são as questões congênitas e a hereditariedade. Já Freud vai na contramão das ideias de Lombroso e afirma que os seres humanos nascem imorais e antissociais em mesmo grau. Assim, para Freud o que corrompe o ser humano é o meio (SERRA, 2015). Para a psicanálise, o crime é o resultado dos instintos libidinosos, ou seja, o objetivo do crime é satisfazer, de maneira simbólica, esses instintos. O que acontece é a perda do caráter inibidor. Por isso, Freud sustenta que qualquer ser humano é capaz de matar, já que há um pouco de ser criminoso em todos nós devido a possibilidade da perda do caráter inibidor (SERRA, 2015). Na teoria psicanalítica existe ainda a criminalidade neuroticamente condicionada. Esse tipo de criminalidade consiste nos processos neuróticos flexibilizados que iludem 40 quanto aos verdadeiros motivos para a prática do ato. Alguns exemplos citados por Serra (2015) são: Crime por sentimento de culpa: é considerada a forma extrema de criminalidade neurótica. Aqui o criminoso prática o delito para expressar sua angústia, já que a punição representa o alívio. Ou seja, o indivíduo deseja a punição, mesmo que inconscientemente. O autor explica que há uma inversão da ordem normal (crime-culpa-punição), nesse caso a ordem passa a ser culpa-crime-punição. Esse tipo de crime pode ocorrer várias vezes até que o que se almeja (punição) se concretize. Delito-sintoma ou delito-obsessão: o ato é incompreensível e irresistível. Exemplo: cleptomania; Crime provocado por mecanismos patológicos de sofrimento: ocorre tanto no sofrimento real quanto no imaginado. No sofrimento real, por exemplo, há um processo neurótico. Já no sofrimento imaginado, por exemplo, acontece um processo psicótico em que o agente projeta seu sofrimento sobre a vítima por achar que está sendo maltratado; Crime legitimado por meio de racionalizações: ocorre quando há invocação de motivos racionalmente aceitáveis para a prática do crime; 41 MÓDULO 4: NOÇÕES DE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE HUMANA Baptista (2008) faz algumas observações acerca do desenvolvimento da personalidade humana: A personalidade é uma organização; Representa um processo dinâmico no interior do ser humano; É um conceito psicológico de base fisiológica; Determina como o indivíduo se comportará; É formada por padrões de respostas consistentes; Assemelha-se aos pensamentos, sentimentos e comportamentos, ou seja, há reflexo em várias direções. Além disso, o autor apresenta alguns conceitos ligados ao estudo da personalidade (temperamento, caráter e traços de personalidade). Temperamento, de acordo com Baptista (2008), é definido por traços inatos da personalidade de origem genética, mas que podem sofrer alteração ao passar dos anos conforme suas experiências. Já o caráter é definido por disposições que surgem na vida do indivíduo e modificam o temperamento dele. Os traços de personalidade são caracterizados por seremduráveis e se manifestam quando é exigido determinado comportamento em diversas ocasiões, ou seja, os traços substituem aos poucos a ideia de caráter. 4.1 Abordagens da Personalidade Baptista (2008) afirma que há duas abordagens: idiográfica e nomotética. O autor conceitua as duas abordagens como Abordagem ideográfica, considera o indivíduo como uma pessoa inteira e única cujo processo consiste na concentração de um indivíduo e na observação das suas características em diversas situações, como por exemplo nos estudos de caso. Ao passo que a abordagem monotética faz referência à procura de regras que possam ser aplicadas a vários indivíduos, onde neste caso se estudam as características de um vasto número de indivíduos comparando-os entre si (BAPTISTA, 2008, p. 3). 42 4.2 Teorias da Personalidade As teorias da personalidade possuem as perspectivas psicanalítica, neo- analítica, humanista, da aprendizagem, cognitiva, das disposições, psicobiológica que serão explicadas a seguir. PERSPECTIVA PSICANALÍTICA Tem como seu criador Sigmund Freud. Seus elementos centrais são: a personalidade como um processo dinâmico composto de elementos em conflito; é dominada pela força do inconsciente e tem a sexualidade como algo crucial. Indica a existência do inconsciente, pré-consciente, consciente e o ego como primeira tópica e, o id e o superego como segunda tópica. Freud observa cinco fases do desenvolvimento da personalidade humana: oral, anal, fálica, período de latência e a fase genital (BAPTISTA, 2008). PERSPECTIVA NEO-ANALÍTICA Jung rejeita a ideia de Freud e reinterpreta, de forma diferente, os sonhos. O autor divide o inconsciente em inconsciente pessoal e inconsciente coletivo e afirma que existem quatro funções psicológicas: o pensamento, as impressões, as sensações e as intuições. A personalidade é construída em quatro fases: infância, juventude, middle age e old age (BAPTISTA, 2008). Já Adler, outro teórico da perspectiva neo-analítica, considera o ser humano em sua plenitude, isto é, o considera um indivíduo inteiro que passa da imaturidade para a maturidade. A partir disso, o autor afirma que o indivíduo decide a direção que sua vida tomará e tentando alcançar a perfeição no sentido escolhido. Entretanto, o autor entende que o ser humano deve se comprometer com três aspectos ao longo da vida: inserir-se na sociedade, dedicar seu tempo a um trabalho e desenvolver relações amorosas, pois, é a partir disso que os interesses sociais serão desenvolvidos (BAPTISTA, 2008). 43 Horney não concorda com as ideias de Freud e Jung e acredita que o desenvolvimento da personalidade só é possível se fatores presentes no meio permitirem que o indivíduo adquira confiança em si e nos outros, caso isso não aconteça pode ser que a criança desenvolva alguma necessidade neurótica. Quando não há o desenvolvimento normal da personalidade (desenvolvimento de alguma necessidade neurótica) o indivíduo pode criar três tipos de personalidade: submisso, agressivo e desligado (BAPTISTA, 2008). Figura 10Fonte: pixabay.com Já para Sullivan, a personalidade se constitui a partir de relações interpessoais. Para o autor essa constituição inicia na relação com a mãe e se encerra ao escolher um parceiro. Sullivan acreditava que o processo de formação da personalidade se desenvolvia da infância à adolescência com seis estágios diferentes, cada qual referente a um tipo de relação interpessoal que o indivíduo encontra no decorrer dessas fases (BAPTISTA, 2008). Eirkson entende que a personalidade se desenvolve durante oito estágios psicossociais sendo quatro na infância, um na adolescência e três na vida adulta. Enquanto Fromm entende que a personalidade é resultado da interação entre as necessidades humanas e as normas sociais e instituições (BAPTISTA, 2008). PERSPECTIVA HUMANISTA Rogers atribui importância à criatividade, intencionalidade, livre-arbítrio e espontaneidade. Além disso, tem o “eu” como aspecto central em sua teoria, isto é, 44 acredita que as experiências da vida, como elas foram vividas e a maneira pelo qual o mundo foi apreendido são importantes. Três fatores são primordiais em sua teoria: empatia, visão positiva e as relações congruentes (BAPTISTA, 2008). Maslow acreditava que os indivíduos são, em sua essência, bons, racionais e conscientes e são os únicos responsáveis por seus destinos e evolução. Por entender que fatores motivacionais sustentam a personalidade criou a Teoria da Hierarquia de Necessidades que se organiza conforme o que é mais importante ao ser humano (BAPTISTA, 2008). PERSPECTIVA DA APRENDIZAGEM Skinner entende que o ambiente influencia nossas ações e suas consequências determinam a repetição ou exclusão. Já Bandura acredita que os fatores mais importantes para o desenvolvimento da personalidade humana são os sociais e cognitivos. A observação do comportamento do outro produz um novo padrão de comportamento (BAPTISTA, 2008). Rotter concorda com Skinner de que o ambiente influencia o comportamento humano que tem como um dos diferenciais a ideia de expectativa que consiste no fato de que uma mesma situação pode ser interpretada de maneiras distintas por pessoas diferentes (BAPTISTA, 2008). PERSPECTIVA COGNITIVA Kelly entende que os processos cognitivos são as características dominantes no processo de desenvolvimento da personalidade humana, para tanto, o indivíduo cria construtos pessoais, isto é, expectativas. Enquanto isso, Mischel sugere a necessidade de cinco variáveis cognitivas para a construção da personalidade: competências, estratégias de codificação, expectativas, valores subjetivos e sistemas de autorregulação (BAPTISTA, 2008). No que tange à depressão, Beck afirmou que os indivíduos que sofrem dessa enfermidade possuem distorções cognitivas que resulta na descodificação inadequada da realidade (BAPTISTA, 2008). 45 PERSPECTIVA DAS DISPOSIÇÕES Allport entende que cada indivíduo é único devido sua configuração de traços. Cattell acredita que os traços são a base da personalidade do indivíduo que podem ser herdados e desenvolvidos ao longo do tempo. Já Eysenck acredita na existência de apenas três traços (ou dimensões) que constituem a personalidade humana: extroversão x introversão, neuroticismo x estabilidade emocional, psicoticismo x ego e a partir disso criou quatro níveis: tipos, traços, respostas habituais e respostas específicas (BAPTISTA, 2008). Outros muitos psicólogos acreditam que as diferenças individuais determinam a extroversão, agradabilidade, conscienciosidade, meuroticismo e a oportunidade à experiência (BAPTISTA, 2008). PERSPECTIVA PSICOBIOLÓGICA Gray criou sua teoria a partir da observação do comportamento animal sujeito a condição de recompensa e punição. Tem como elementos a ansiedade, impulsividade sistema fight/flight. Já Tellegen entende que há três dimensões que se sobressaem: emoção positiva, emoção negativa e constrangimento. Enquanto Zuckerman substitui o modelo de cinco fatores e cria um de três fatores: sociabilidade, emocionalidade e a busca impulsiva de sensações de caráter antissocial (BAPTISTA, 2008). Cloninger apresenta um modelo biossocial da personalidade que conversa com temperamentos e caráter. Para o autor o temperamento é geneticamente determinado, enquanto o caráter é adquirido por meio de aprendizagem e a partir do ambiente. Os temperamentos desse modelo são: procura por novidade, inibição do perigo, dependência da recompensa e a persistência. Já o caráter é constituído pelos tipos de: autodeterminação, cooperação, maturidade
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