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TCC Joelma

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Caruaru 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOELMA SILVA DOS SANTOS DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 
 
A PERCEPÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL ACERCA DO 
RACISMO 
 
Caruaru 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PERCEPÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL ACERCA DO 
RACISMO 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Universidade Norte do Paraná, como requisito parcial 
para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. 
 
Orientador: Prof. Maria Angela Santini 
JOELMA SILVA DOS SANTOS DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a Deus, 
sem ele não estaria aqui, foi 
ele que fez meu sonho se 
tonar realizado. Obrigada meu 
Deus por tanto amor por mim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 A Deus por me manter de pé e sempre com esperança de dias 
melhores. 
 As minhas filhas, Maria Fernanda e Maria Giovana, pela paciência e 
apoio sem elas não teria ido muito longe, minhas princesas lindas, amo vocês! 
 A minha professora e tutora de curso Alexsandra Katiussia, que teve 
uma grande contribuição com seus conhecimentos e sempre se dispôs a me passar, 
sempre se disponível as minhas solicitações, que Deus a proteja sempre. 
 A professora e amiga Ivanilda Barbosa, pelo incentivo apara voltar a 
estudar, foi sem dúvida de grande e fundamental importância. 
 Ao meu esposo (in memory), sei que você estar pertinho de Deus, 
mais muito obrigada, pelas filhas lindas que você me deu, tenho orgulho do grande 
homem e grande guerreiro que foste, sei que onde estiver será sempre meu anjo, 
cuidando e zelando por mim e por nossas filhas, tenho plena convicção que um dia 
nos encontraremos. Nunca irei te esquecer! 
 A minha família, em especial a grande mulher da minha vida, minha 
mãe, Marliete Maria da Silva a senhora é minha expiração de vida, de garra e de fé. 
A todos meu muito obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor 
de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. 
Para odiar, as pessoas precisam aprender, e 
se elas aprendem a odiar, podem ser 
ensinadas a amar, pois o amor chega mais 
naturalmente ao coração humano do que o seu 
oposto. A bondade humana é uma chama que 
pode ser oculta, jamais extinta. 
Nelson Mandela 
 
 
 
 
 
OLIVEIRA, Joelma Maria dos Santos. A percepção do Assistente Social acerca 
do Racismo. 2017. 56 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em 
Serviço Social – Sistema de Ensino Presencial Conectado, Universidade Norte do 
Paraná, Caruaru, 2017. 
 
 
 
RESUMO 
Embora se tenha diversos avanços na participação política da população negra, é 
notável e persistente a marginalização, o preconceito e a discriminação dessa 
população. A complexidade das relações raciais no Brasil revela o campo de 
disputas em que o Serviço Social é chamado a intervir, pois o projeto ético-político 
que orienta o trabalho profissional do assistente social é portador de uma direção 
social na perspectiva da emancipação dos sujeitos coletivos. Este trabalho é 
resultado da pesquisa e da reflexão sobre o racismo no Brasil e o trabalho do 
assistente social, dialogando com a percepção dos profissionais acerca do racismo, 
do preconceito e da discriminação racial no seu trabalho cotidiano. Sendo assim o 
desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso está pautado no racismo sofrido 
pelas classes menos favorecidas e a percepção do assistente social pautado no 
código de ética da profissão. Com tudo, sabemos que o racismo e as teorias racistas 
não surgiram do nada, elas possuem uma história própria e é dentro dessa história 
que faremos um levantamento para tentar compreender o racismo velado nos dias 
de hoje. 
 
 
Palavras-chave: Assistente Social. Diáspora. Discriminação. Racismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OLIVEIRA, Joelma Maria dos Santos. A percepção do Assistente Social acerca 
do Racismo. 2017. 56 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em 
Serviço Social – Sistema de Ensino Presencial Conectado, Universidade Norte do 
Paraná, Caruaru, 2017. 
 
ABSTRACT 
Although there have been several advances in the political participation of the black 
population, it is remarkable and persistent the marginalization, prejudice and 
discrimination of this population. The complexity of racial relations in Brazil reveals 
the field of disputes in which the Social Service is called upon to intervene, since the 
ethical-political project that guides the professional work of the social worker carries a 
social direction in the perspective of the emancipation of the collective subjects. This 
work is the result of research and reflection on racism in Brazil and the work of the 
social worker, dialoguing with the professionals' perception about racism, prejudice 
and racial discrimination in their daily work. Thus, the development of the course 
work is based on the racism suffered by the less favored classes and the perception 
of the social worker based on the code of ethics of the profession. All in all, we know 
that racism and racist theories did not come out of nowhere, they have a history of 
their own and it is within this history that we will make a survey to try to understand 
veiled racism these days. 
 
 
Keywords: Social Worker. Diaspora. Discrimination. Racism. 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
ABNT 
CRAS 
Associação Brasileira de Normas Técnicas 
Centro de referência de assistência Social 
LOAS 
UNOPAR 
 
 
Lei Orgânica da Assistência Social 
Universidade Norte Unopar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 
 
2 CAPITULO I - HISTORIA DO BRASIL: DA DIÁSPORA AO RACISMO VELADO..15 
 
3 CAPITULO II - A QUESTÃO RACIAL NA ATUALIDADE........................................26 
3.1 O racismo na área de educação, Saúde e Assistência Social.............................29 
 
4 CAPITULO III - O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NA LUTA PELO FIM DO 
RACISMO...................................................................................................................33 
 
5 CAPITULO V - O BRASIL E O ENFRENTAMENTO PARA A EQUIDADE 
IGUALDADE DAS QUESTÕES RACIAIS..................................................................44 
5.1 Politicas Publicas de promoção a igualdade racial..............................................44 
5.2 O papel do assistente social na promoção da igualdade racial...........................49 
 
6 CONSIDERAÇOES FINAIS....................................................................................54 
 
REFERÊNCIAS..........................................................................................................55 
 
 
 13 
1 INTRODUÇÃO 
 O racismo no Brasil é crime previsto na Lei n. 7.716/1989, e 
inafiançável e não prescreve, ou seja, quem cometeu o ato racista pode ser 
condenado mesmo anos depois do crime. 
 O Código de Ética Profissional do Assistente Social, aprovado em 
1993, é o primeiro código profissional do Serviço Social que introduz a questão da 
não discriminação comoum de seus princípios fundamentais. Isso remete a uma 
reflexão acerca da importância atribuída à ética e aos direitos humanos no interior do 
projeto ético-político a partir dos anos 1990, fortalecendo as bases para o 
desenvolvimento de um debate sobre a questão étnico/racial no cotidiano do 
assistente social. 
 Na história contada sobre o país há uma lacuna importante quanto 
ao destino da população negra após a abolição, fruto do silêncio que insiste em 
ratificar que a injustiça cometida contra essa parcela da população cessou com o fim 
da escravatura. 
 
A atribuição de cor aos indivíduos, prática comum no Brasil e que 
fundamenta a construção de grupos de cor pelos sociólogos, longe de 
prescindir da noção de "raça", pressupõe uma ideologia racial e um racismo 
muito peculiares. (Guimarães, 1999, p. 20) 
 
 A discriminação racial materializa o preconceito racial que é a 
manifestação comportamental baseada no juízo de valor, socialmente construído e 
destituído de base objetiva. 
 
O racismo continua sendo uma implacável e deprimente questão dos 
nossos tempos. São poucos os temas, se é que há outros, que demandam 
tanta atenção e esforço com tão poucos frutos. Toda vez que "baixamos a 
guarda", uma nova descoberta revela a complexidade, a virulência e a 
absoluta obstinação daquilo que notadamente tornou-se o problema do 
século XX. (Cashmore et al., 2000, p. 11) 
 
 A população negra ainda vive, majoritariamente, em situação de 
vulnerabilidade social, suscetível a mortes violentas, a agressões e abusos de 
autoridade, bem como invisível, nas suas especificidades, para as ações das 
políticas públicas, principalmente na área da saúde, educação, assistência social, 
habitação, nas artes e na mídia. 
 14 
 Há uma dificuldade em trazer à tona a discussão étnico-racial na 
trama de relações sociais, na sociedade burguesa, profundamente marcada pelo 
discurso da "democracia racial" e pelo racismo camuflado que também aliena a 
população negra, bloqueando seus processos de conscientização, participação e 
organização política (Pinto, 2003). 
 Entretanto, diante das conquistas históricas do projeto ético-político, 
expressas eticamente no Código de Ética de 1993, a busca de efetivação dos 
princípios que norteiam o trabalho do assistente social é um imperativo ético a ser 
perseguido. O combate ao racismo institucional e à discriminação por questões de 
raça/etnia se inscreve nessa lógica, e a questão racial pode ser debatida se as 
concepções teóricas que culminaram naquela construção forem devidamente 
apropriadas. 
 O racismo consiste na atribuição de uma relação direta entre 
características biológicas e qualidades morais, intelectuais ou comportamentais, 
implicando sempre em uma hierarquização que supõem a existência de raças 
humanas superiores e inferiores. Fatores como a cor da pele ou o formato do crânio 
são relacionados a uma série de qualidades aleatórias, como a inteligência ou a 
capacidade de comando. Discursos racistas historicamente têm servido para 
legitimar relações de dominação, naturalizando desigualdades de todos os tipos e 
justificando atrocidades e genocídios. 
 Temos com objetivos, compreender o impacto do racismo na vida 
social do individuo, com a percepção do assistente social, refletindo sobre as 
consequências que o racismo traz para a vida do indivíduo, entender como o 
assistente social pode intervir no racismo institucional e os motivos do racismo 
através da história do brasil. 
 O trabalho de conclusão de curso trata-se de uma pesquisa de 
natureza bibliográfica qualificativa, pois visa fazer um levantamento de dados sobre 
as motivações de um grupo, e compreender e interpretar determinados 
comportamentos, a opinião e as expectativas dos indivíduos de uma população. 
Para começarmos fiz um levantamento bibliográfico em diversos sites que abordam 
o tema, li alguns livros sobre o assunto, para que assim pudessem reunir 
conhecimento adequado acerca do tema, e assim desenvolver o projeto de 
pesquisa. 
 15 
2 CAPITULO I - HISTÓRIA DO BRASIL: DA DIÁSPORA AO RACISMO VELADO 
 
 Uma saga de luta por inclusão o, por respeito, dignidade e vida, é o 
que nos oferece a história do Brasil, em relação a vida dos negros na sociedade 
brasileira. 
 Isso nos leva a refletir sobre a história de luta do povo negro, pois 
por muitos e muitos anos a História do Brasil, esteve presa a conquistas portuguesas 
e a narrativa elogiosa sobre o empreendimento do homem branco no novo 
continente. E por muitos anos, a sociedade branca, adotou a ideia do descobrimento 
do Brasil, para romantizar a invasão europeia das terras indígenas, diminuindo assim 
a cultura e a sociedade que aqui existia me 1500, e trazendo a força a população 
negra como escravos, essa ideia permitiu que muitas gerações encarassem a 
crueldade da escravidão como algo natural ou um mal necessário. 
 
A situação que os negros encontraram no Brasil foi de repressão, opressão 
e trabalho escravo, ambiente próprio para desenvolver no povo um ar de 
inferioridade, na cultura, na religião, na vida em geral, daí o porquê de hoje 
se ver a luta por resgatar os valores negros, visto que a cultura negra tem 
muito a nos oferecer, anos negros e ao mundo civilizado, isto é, aqueles 
que sabem respeitar as diferenças em todos os âmbitos ainda que não 
comunguem desta. (NERI) 
 
 Com isso, abrem-se os capítulos sobra a vida das populações 
negras que vieram a força para o nosso país. Sendo assim podemos falar sobre os 
portugueses, pois eles foram o segundo povo a viver em nessas terras. Foram eles 
que, dominaram, massacraram, roubaram e ludibriaram os índios, explorando assim 
nossas riquezas naturais, dessa forma influenciaram diretamente e de maneira 
determinante a nossa formação. 
 O que não acontecia, no Brasil de 1500, ou seja, na época da sua 
descoberta, era o respeito dos Europeus pelas identidades culturais da população 
africana, pois africanos tinham sua própria forma de viver em sociedade, de 
enfrentar suas dificuldades, ou seja, tinha sua própria cultura, cada grupo africano, 
tinha suas leis, seus hábitos, seus costumes, seus sentimentos, suas crenças. 
Assim, foi utilizando a força física que os portugueses, guiados por interesses 
 16 
econômicos, impuseram aos outros povos suas próprias formas de organização 
social, sem o mínimo de respeito a cultura deles. 
 A partir do século XVI o tráfico de africanos para o Brasil tornou se 
um negócio altamente lucrativo para comerciantes dos dois lados do Atlântico. 
 
Eram, pois, os africanos, mercadoria de alto valor na época. Para isso 
concorria, de certo, sua fácil adaptação a faina agrícola, uma vez que, 
acostumados a outras condições de vida, decorrentes de civilização maias 
adiantada, seus hábitos e temperamento muito diferiam do nomadismo 
indígena. [...] (LUNA, 1968, p. 16) 
 
 Nessa perspectiva, Amaral (2011), nos conta sobre essa diáspora: 
 
Os africanos eram capturados nas planícies africanas e levados até o litoral. 
Lá chegando, ficavam acondicionados em galpões durante semanas à 
espera de um navio negreiro. Esta era também chamado de tumbeiro, dado 
o elevado número de mortes ocorridas durante a travessia do Atlântico. 
Quando o navio negreiro aportava, eram embarcados no porão em grupos 
de 300 a 500 indivíduos, em uma viagem que poderia durar de 30 a 50 dias. 
Para que coubessem mais pessoas, os suprimentos eram diminuídos. (p. 
11) 
 
 Podemos perceber que o que marcou o processo de colonização no 
Brasil, foi a chegada das africanas e africanos. Primeiramente os portugueses foram 
até os países africanos, sequestrando o seu povo, em massa, para os recém-criados 
engenhos, para poder escravizar os africanos,como estratégia os portugueses 
incentivaram a rivalidade entre as diferentes nações africanas. Assim tiravam o 
proveito do próprio legado, que era a posse de prisioneiros, através da troca de 
armas. 
 
Desembarcados no Brasil, nos portos de Recife, Salvador, Rio de Janeiro e 
São Vicente, os africanos escravizados eram distribuídos para as diferentes 
localidades para realizar todo tipo de trabalho. Começaram trabalhando no 
litoral, no corte do pau-brasil e, posteriormente, no trabalho nos engenhos 
de cana-de-açúcar. Depois, foram levados para o interior do território e 
regiões longínquas para trabalhar na mineração, na criação de gado, no 
cultivo de cacau, nas charqueadas, na exploração das “drogas do sertão”. 
Trabalhavam também no serviço doméstico, nas construções públicas de 
todos os tipos e no comércio de gêneros alimentícios. (Amara, 2001 p. 12) 
 
 17 
 Nesse sentido, percebemos que a escravidão portuguesa era, antes 
de tudo, uma pratica de tentar transformar pessoas em objetos e animais, usando de 
uma teoria de posse sobre a vida do outro. Assim a escravidão portuguesa, nasceu 
e se desenvolveu através da ganancia capitalista, contida na colonização 
portuguesa. Essa escravidão se baseava na restrição da liberdade, e de suas 
futuras gerações, como também na desapropriação de todos os seus bens materiais 
e imateriais. 
 Assim Amaral (2011, pag. 13), ressalta que: 
 
É necessário ressaltar que a coisificação do escravo era uma ideologia 
senhorial, não refletia a visão de homens e mulheres escravizados. Estes 
nunca perderam a sua humanidade: amaram, buscaram constituir suas 
famílias, valorizaram os laços de parentesco e de amizade, cultuaram seus 
deuses, lutaram por melhores condições de vida e não se conformaram com 
a escravidão. Prova de que os homens e mulheres escravizados não se 
conformavam com a escravidão era a necessidade do uso da violência 
física como forma de manter a dominação. Qualquer ato de desobediência 
dos escravizados era respondido com o castigo físico exemplar, através do 
qual o senhor pretendia reafirmar o seu poder, marcando no corpo do 
escravizado a sua submissão. 
 
 Isso significa dizer que nos moldes portugueses, o escravo era um 
ser impedido, através da violência, de ter acesso à terra, de ter uma moradia, de ser 
recompensado pelo seu trabalho, de praticar sua religião, seus hábitos, etc. essa 
escravizou marcou profundamente, as relações sociais, desde o período Colonial, 
passando pelo Monárquico e pelo Republicano, com reflexos até nos dias de hoje. 
A crueldade do processo de escravidão portuguesa começava na negociação, a 
viagem acorria nos chamados navios negreiros, esses navios traziam em média 
quatrocentas pessoas, sob péssimas condições de sobrevivência, mal alimentados, 
privados de higiene e amontoados. 
 Souza descreve que (2008, p.84): “Além de serem afastados das 
aldeias nas quais cresceram e que eram o centro de seu universo, muito poucas 
vezes conseguiam se manter próximas de conhecidos e familiares mesmo quando 
todos eram capturados juntos”. 
 
Depois de capturados, em sua terra de origem, os que seriam vendidos, 
eram ligados, uns aos outros com elos de ferro que impediam as possíveis 
 18 
tentativas de fuga. Iniciavam a marcha até o porto, muitas vezes açoitados. 
O alimento e a água eram insuficientes, pois não se podia gastar muito 
tempo para alimentação, diante da pressa dos compradores. Os maus tratos 
e indiferença por suas vidas ocasionavam muitas mortes pelo caminho. 
Essas, quando ocorriam, o cadáver era desprendido da argola de ferro e 
jogado em um ponto qualquer do caminho. Os que sobreviviam eram 
levados ao navio, atirados nos porões onde os espaços eram mínimos e tão 
escuros que não se sabia se era dia ou noite. (Lima, 2010 p. 5) 
 
 Percebemos que nessas viagens de terror, a pessoa se quer podiam 
comunicar-se, eles eram separados conforme a sua origem, ou a sua linguagem e 
costume, para se evitar assim o fortalecimento entre eles e possíveis tramas de 
revoltas. 
 
Empilhados nos porões, recebendo parcas rações de comida e de água, era 
natural que o morticínio fosse acentuado. Perdia-se, invariavelmente, 10% 
da carga, na melhor das hipóteses, e casos houve em que morreu a metade 
dos indivíduos transportados. Amontoados no porão, quando o navio 
jogava, a massa de corpos negros agitava-se como um formigueiro, para 
beber um pouco desse ar lúgubre que se escoava pela estilha gradeada de 
ferro. (MACEDO, apud. MARTINS, 1974, p. 29) 
 
 Ao chegarem no rio de janeiro, eram colocados à venda e 
anunciavam: “negros fortes, bons e moços, chegados na última nau.” (MACEDO, 
1974). 
 Lima (2010 p. 8) coloca que, “a chegada dos compradores fazia 
parte de um ritual considerado inconcebível nos dias de hoje; os músculos dos 
negros eram apalpados, tinham os lábios levantados para o exame dos dentes e 
eram obrigados a saltar, dançar, para que fosse examinado seu vigor físico.” 
 Vale ressaltar, o preço dos escravos era definido pelo sexo, idade e 
especialização, mas dependia, sobretudo, de sua condição física. O destino dessas 
peças estava nas mãos dos senhores, que podiam alugar, vender, hipotecar, 
segurar ou penhorar suas novas propriedades. (MOURA, 1996) 
 Arrancados e separados, das suas terras e familiares, como animais, 
ao atravessar o Oceano Atlântico, perdiam seus nomes de batismo, sendo 
rebatizados com nomes de santos da igreja católica, ao chegar no porto era levado 
para os mercados de negros, e expostos a venda, para depois suportar todos os 
açoites e desrespeito possíveis e impossíveis, por parte de capatazes, feitores, 
 19 
capitães do mato e senhores. 
 O mundo dos escravos se resumia ao trabalho, único, estafante e 
obrigatório. No entanto, havia os que possuíam alguma habilidade, ou a adquiriam e 
eram os escravos urbanos, mais bem tratados. 
 
Esse é o universo das mucamas, pajens, amas-de-leite, amas-secas, 
cozinheiras, cocheiros, lavadeiras, copeiros e garotos de recado. No 
entanto, esses cativos representavam uma minoria e não raro distanciavam-
se dos demais. Uma velha ladainha dizia: Negro no eito vira copeiro, não ia 
mais para seu parceiro. (MOURA, 1996, p.12) 
 
 A vida dos escravos, não era apenas submissão, muitos deles 
rebelavam-se e carregava consigo o desejo de vingança, muitos deles suicidavam-
se, fugiam e até mesmo massacrar as famílias dos senhores, ou poderia ser de 
forma mais pacifica através de uma negociação de uma carta de alforria. 
 
A maioria das cartas de alforria era onerosa, pelas quais o escravo deveria 
pagar uma quantia em dinheiro para ressarcir o prejuízo do proprietário ou 
recompensá-lo indiretamente com a prestação de serviços, permanecendo 
em sua companhia até a morte, servindo e não “ser ingrato ou dar desgosto. 
(MATTOS, 2007, p 122.) 
 
 Assim sabemos que a alforria poderia ser paga ou ser gratuita, 
nesse caso quase não acontecia. 
 Em relação as revoltas Lima (2010, p. 11), coloca que: 
 
As formas de resistência não partiam apenas de grandes e programadas 
insurreições, de levas de escravos. Na sua maioria eram de pequenos 
grupos ou até mesmo de escravos solitários que se aventuravam, 
embrenhando-se nas matas e não poucas vezes morriam de fome, isso 
quando não retornavam ou eram resgatados. Há de se considerar que após 
a revoltas de escravos em certos lugares, em alguns casos passou a haver 
um temor da força dos grupos que se uniam e na calada da noite 
planejavam revoltas. 
 
 Os africanos escravizados, quando conseguiam fugir passavam a 
viver em locais denominado quilombo, que inicialmente era apenas um esconderijo, 
passou a ser um local temido pelos brancos que por ali se aventuravam, sendo 
 20 
assim osquilombos mais conhecidos, e de maior resistência foi o Palmares e o 
Zumbi. 
 
Palmares e Zumbi se tornaram importes símbolos da resistência contra a 
escravidão, sendo exemplo mais espetacular de um tipo de ação 
largamente adotada pelos escravos de todo o período escravista. Os 
quilombos, nos quais os escravos fugidos reconquistavam sua liberdade, 
podiam estar afastados de qualquer núcleo de colonização ou mais 
próximos de um arraial ou uma cidade. Nos mais isolados, os quilombolas 
viviam do cultivo da terra, da caça, da pesca, produzindo seus tecidos, seus 
potes, suas cestas, seus instrumentos de trabalho e armas. (SOUZA, 2008, 
p. 98) 
 
 No quilombo, eles tinham sua organização e sua lei, não era 
admitido o roubo ou a traição, sendo esses dois passível de punição com a morte. 
 
Palmares e Zumbi se tornaram importes símbolos da resistência contra a 
escravidão, sendo exemplo mais espetacular de um tipo de ação 
largamente adotada pelos escravos de todo o período escravista. Os 
quilombos, nos quais os escravos fugidos reconquistavam sua liberdade, 
podiam estar afastados de qualquer núcleo de colonização ou mais 
próximos de um arraial ou uma cidade. Nos mais isolados, os quilombolas 
viviam do cultivo da terra, da caça, da pesca, produzindo seus tecidos, seus 
potes, suas cestas, seus instrumentos de trabalho e armas. (SOUZA, 2008, 
p. 98) 
 
 Os quilombos eram cheios de cultura, e religiosidade. Toda a história 
do Brasil que se conhece, com raras exceções, ainda não aprofundou na trajetória 
da origem étnica negra em nosso país. A decantada abolição da escravatura não 
conseguiu livras os negros da discriminação racial e suas consequências, tais como, 
a exclusão e a miséria. A discriminação de aspectos cruéis e efeitos inimagináveis 
emergiu após treze de maio. A opressão continuou durante várias décadas. (Lima 
2010, p. 17) 
 Lima (2010), coloca que o primeiro passo para se alterar a trajetória 
dos africanos no Brasil, foi a Lei Eusébio de Queiróz, promulgada pelo mesmo, 
então Ministro da Justiça entre1848 e 1852. Aprovada 7 em 4 de setembro de 1850 
devido à pressão exercida pela Inglaterra, que foi o principal motivo para que a lei 
fosse sancionada. 
 
 21 
[...] as dificuldades da após-Abolição, com a grande massa de libertos sem 
ter o que fazer, entregues à própria sorte, não foram cogitadas no momento 
devido e tiveram como resultado a desorganização geral que se verificou 
depois, prejudicando fundamentalmente a vida nacional. (LUNA, 1968, p. 
203) 
 
 Conforme descrição de Luna (1968, p.207): 
 
Da cidade foi o negro, realmente, escorraçado. Com a intensificação da 
imigração, os trabalhadores estrangeiros, que gozavam da preferência dos 
empregadores, passavam a se concentrar nos centros urbanos mais 
desenvolvidos. A região sul, pelas suas condições climatéricas e melhores 
possibilidades oferecidas pelo mercado de trabalho, foi a que mais atraiu o 
imigrante europeu. As cidades de São Paulo, Curitiba e Desterro (hoje 
Florianópolis) foram, aos poucos, transformando velhos hábitos e costumes 
pelo processo de europeização. À medida que isso acontecia, aumentavam 
as dificuldades para negros e mulatos no mercado de trabalho, atingindo 
também os demais. 
 
 Depois das Leis e consequentemente da liberdade dos escravos, 
Luna descreve: 
 
 A importação não cessou até as vésperas da Abolição. Embora vigorassem 
leis proibitivas, os negreiros sempre encontravam meios de burlá-las, 
geralmente, com a complacência das próprias autoridades, o que não é de 
estranhar, sabendo-se que a classe dominante era constituída de senhores 
de escravos, fazendeiros de café e donos de engenhos, seus parentes e 
aderentes, transformados, de uma hora para outra, em nobres da Colônia e 
do Império [...] (LUNA, 1968, p.98) 
 
 Mesmo com a “abolição” da escravatura, ainda foram décadas para 
que fossem tomadas medidas para reverter a situação da pessoa escravizada. 
Em todo o país existem descendentes afro que vivem do cultivo da terra, em 
comunidades que relembram os quilombos. São os chamados quilombos 
contemporâneos. 
 Lima (2010), relata que: 
 
no Brasil constata-se que, por ter sido seu trabalho a força motriz que 
impulsionou o progresso das classes dominantes séculos atrás, foi o que 
deu a eles esta situação de desigualdade diante dos brancos. As 
disparidades são evidentes no aspecto social e aliadas a esta 
 22 
desproporcionalidade convive-se com o preconceito. 
 
 Araújo comentou: 
 
Penso, por fim, na ambiguidade desta nossa história de que são vítimas os 
negros, numa sociedade que os exclui dos benefícios da vida social, mas 
que, no entanto, consome os deuses do candomblé, a música, a dança, a 
comida, a festa, todas as festas de negros, esquecida de suas origens. E 
penso também em como, em vez de registrar simplesmente o fracasso dos 
negros frente às tantas e inumeráveis injustiças sofridas, esta história 
termina por registrar a sua vitória e a sua vingança, em tudo o que eles 
foram capazes de fazer para incorporar-se à cultura brasileira. Uma cultura 
que guarda, através de sua história, um rastro profundo de negros africanos 
e brasileiros, mulatos e cafuzos, construtores silenciosos de nossa 
identidade. E não se pode dizer que não houve afetividade ou cumplicidade 
nessa relação. A mestiçagem é a maior prova dessa história de pura 
sedução, da sedução suscitada pela diferença, que ameaça e atrai, mas 
acaba sendo incorporada como convívio tenso e sedutor, em todos os 
momentos da nossa vida. Tudo isso é memória. Tudo isso faz parte da 
nossa história. Uma história escamoteada que já não poderá mais ficar 
esquecida pela história oficial. (ARAUJO. 2007, p.5) 
 
 Assim, hoje no país a população negra sofre com o racismo velado, 
é preciso contar sua história. Não apenas os relatos de sofrimento diante das 
chibatas na clausura desumana das senzalas, mas a história de seus feitos, suas 
glórias, sua ascensão na sociedade. 
 
[...] em nosso país, apesar de todos se dizerem avessos ao racismo, não há 
quem não conheça cenas de discriminação ou não saiba uma boa piada 
sobre o tema. Ainda hoje o trabalho manual é considera aviltante e a 
hierarquia social reproduz uma divisão que data da época do cativeiro. Com 
naturalidade absorvemos a ideia de um elevador de serviço ou de lugares 
que se transformam em verdadeiros guetos raciais. É por isso que não 
basta condenar a história, ou encontrar heróis delimitados. Zumbi existe em 
cada um de nós. É passado e é presente. (MOURA. 1996. P.30) 
 
 O Brasil, é um pais desigual, isso é comprovado através da história 
do descobrimento do país, como também através da análise de qualquer dado 
socioeconômico, os africanos trazidos como escravo para o Brasil, sofreram desde a 
captura até o momento de sua morte, deixando para nos brasileiros heranças 
culturais riquíssimas. 
 A abolição da escravidão, em 13 de maio de 1888, não constituiu 
 23 
uma mudança qualitativa na estrutura social do Brasil. Ao contrário, aumento as 
desigualdades entre o povo “Branco” e os afrodescendentes. 
 Para aumentar ainda mais essa desigualdade no dia 15 de 
novembro de 1889, data marcada pela proclamação da república, fato que estimulou 
os projetos idealizadores, assim: “O projeto de nação elaborado pelas elites 
brasileiras nas décadas finais do século XIX e início 4 deste [século XX] tinha na 
exclusão de parcela da população brasileira um dos pontos centrais.” (Oliveira, 2000: 
p. 7) 
 Um desses projetos idealizadores abordou a questão da 
mestiçagem: 
 
“[...] a ideia da mestiçagem tida ora como meio para estragar e degradar a 
boa raça, ora como meio para reconduzir a espécie a seus traços originais; 
as ideias sobre a degenerescência da mestiçagemetc., todo o arcabouço 
pseudocientífico engendrado pela especulação cerebral ocidental repercute 
com todas as suas contradições no pensamento da elite intelectual 
brasileira.” (MUNANGA, 2008: p. 47) 
 
 Mananga (2008) aponta que a produção discursiva da elite 
intelectual do Brasil, do final do século XIX à meado do século XX, foi desenvolvida 
num modelo “racista universalista”. A consequência maior dessa ideia de 
mestiçagem é os racimos. 
 
“A discriminação pode ser mais sistêmica em vez de pessoal, e, por 
conseguinte, mais difícil de identificar e de compreender, quando está 
internalizada e naturalizada por discursos de que se vive num país 
miscigenado. Algumas vítimas negam que estejam oprimidas ou então 
aceitam sua condição, como se fosse um destino que a vida lhes 
proporcionou. Outras reagem oprimindo aqueles que estão “abaixo” delas.” 
(SANTOS, 2012: p. 30) 
 
 Hoje, vemos um a enorme taxa de mortalidade da população negra, 
a renda per capita dos “brancos” é duas vezes maior que a do negro, o número de 
negros alfabetizados é menor que a da população “branca”, e a desigualdade é 
muito maior, quando analisamos a população negra feminina. Tudo isso é reflexão 
de um passado de injustiças e coisificação da pessoa inicial que foi a africana 
transformados em escravos. 
 24 
 As consequências do racismo no Brasil, enquanto mecanismo de 
dominação política, cultural e social, não implicam apenas na segregação 
socioeconômica dessa população, mas também funciona como um mecanismo 
estrutural de entnocídio e genocídio da população negra, desde o início da 
colonização portuguesa até os dias atuais. 
 A nova política cultural brasileira cria imensas possibilidades e 
muitas demandas para o Estado e para a sociedade. 
 O racismo é a expressão, da classificação social que promove a 
desigualdade. A distribuição desigual de bens, de saber, de poder, de prestigio e de 
riqueza promove, também a discriminação social da população negra. 
 Psicologicamente o negro rejeita sua origem étnica, vive um conflito 
de identidade imposto pelo sistema que insiste em denominá-lo de “moreno”, 
“pardo”, “crioulo” “escurinho” “de cor”, etc. e não tem conhecimento da história de 
luta de seu povo porque quase nada é registrado pela historiografia oficial 
 Hoje, o estado brasileiro, adota políticas especiais para localizar e 
identificar obstáculos colocados à mobilidade da população negra procurando 
combatê-los com medidas concretas. O Programa de Governo deverá conter 
propostas que contribuam para o avanço na luta contra o racismo e pela superação 
da discriminação, do preconceito e a exploração racial. O preconceito e 
discriminação da população negra é expressiva e por muitas vezes latente. 
 
A partir da segunda metade da década de 1990 acelera-se um processo de 
mudanças acerca das questões raciais, marcado fortemente por uma 
aproximação entre o Movimento Negro e o Estado brasileiro. É a partir deste 
momento que as reivindicações por ações mais concretas para o 
enfrentamento das desigualdades raciais começam a ser cobradas. Dois 
acontecimentos — um de âmbito nacional e outro, internacional — são 
destacados consensualmente pelos estudiosos do tema como momentos 
importantes desse processo: a Marcha Zumbi de Palmares contra o 
Racismo, pela Cidadania e a Vida, em 1995, ano de comemoração do 
tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares, e a Conferência de Durban, 
em 2001. (Lima, 2010) 
 
 Por outro lado, temos o sistema educacional brasileiro que é elitista, 
sexista e racista. Possui um currículo escolar que não contempla a verdadeira 
história do negro, desde suas origens africanas até o fato de ter sido o segundo 
 25 
trabalhador no Brasil, os primeiros foram os povos da floresta, e o que deveria ser 
motivo de orgulho passa a ser motivo de vergonha por que a historiografia passa 
para o educando em geral que os negros se submeteram à escravidão, e quase 
nada é contado sobre a grande resistência negra e as inúmeras revoltas contra a 
escravidão. 
 As condições de saúde da população negra são agravadas dadas as 
péssimas condições de vida: péssimas habitações, que provocam, pela falta de 
saneamento básico, etc., as mais diversas doenças, além dos problemas 
acarretados pelo trabalho extenuante e insalubre, pela pressão psicológica sofrida 
(assédios) diariamente em decorrência da rejeição experimentada que provoca 
desajustes emocionais que tem como consequência problemas de saúde mental, 
hipertensão, enfarte e derrames, além dos colapsos cardíacos. 
 A contribuição do negro para a formação da cultura brasileira, que é 
repleta de raízes africanas trazidas pelos negros escravizados no Brasil, é marcante. 
Entretanto não é valorizada, uma vez que a visão etno-eurocêntrica existente na 
sociedade colabora muito para isto. 
 
A herança rural, a manutenção de privilégios de classe, o pouco 
investimento e/ou o investimento tardio na educação, bem como o desigual 
acesso à estrutura de oportunidades, constituíram o cenário de extrema 
desigualdade que caracterizou por décadas a sociedade brasileira. Nos 
últimos quinze anos, tornou-se necessário discutir de forma mais efetiva a 
implantação de políticas sociais com vistas a minimizar um quadro 
considerado inaceitável para um país como o Brasil. Da mesma forma, o 
cenário em que as políticas afirmativas foram consolidadas é fruto de 
profundas e permanentes desigualdades raciais. O Estado brasileiro não se 
ateve ao problema de promoção de acesso da população negra à estrutura 
de oportunidades, bens e serviços no país, até mesmo no momento em que 
ganhou corpo o debate sobre as desigualdades raciais e os processos 
discriminatórios da sociedade brasileira, tanto pela militância como pela 
academia. (Lima, 2010). 
 
 A dificuldade de acesso ao poder, pela população negra, é 
preocupante, sabemos que existem diversas leis que tentam minimizar a 
desigualdade da população negra em relação a “branca”, o ultimo mecanismo 
lançado para tentar minimizar as desigualdades, foi o Estatuto da Igualdade Racial, 
o estatuto visa orientar as políticas públicas, para promover a igualdade racial e 
eliminar o racismo. 
 26 
 Nossa última constituição coloca a discriminação racial como um 
crime inafiançável. Entre nossas discussões proferimos, ao mesmo tempo, horror ao 
racismo e admitimos publicamente que o Brasil é um país racista. Tal contradição 
indica que nosso racismo é velado e, nem por isso, pulsante. Queremos ter um 
discurso sobre o negro, mas não vemos a urgência de algum tipo de mobilização a 
favor da resolução desse problema. 
 Ultimamente, os sistemas de cotas e a criação de um ministério 
voltado para essa única questão demonstram o tamanho do nosso problema. Ainda 
aceitamos distinguir o negro do moreno, em uma aquarela de tons onde o último 
ocupa uma situação melhor que a do primeiro. Desta maneira, criamos a estranha 
situação onde “todos os outros podem ser racistas, menos eu... é claro!”. Isso nos 
indica que o alcance da democracia é um assunto tão difícil e complexo como a 
nossa relação com o negro no Brasil. 
 Porém, temos que entender que o estatuto e as outras leis sejam 
seguidos, as populações em geral precisam saber que elas existem, o que elas 
dizem, e que direitos e politicas elas propõem, e precisamos lutar e cobrar para que 
elas sejam cumpridas e postas em pratica, por toda a população brasileira. 
 
3 CAPITULO II - A QUESTÃO RACIAL NA ATUALIDADE 
 
 Segundo o dicionário online de português, preconceito é a forma de 
pensamento na qual a pessoa chega a conclusões que entram em conflito com os 
fatos por tê-los prejulgado. O preconceito existe em relação a quase tudo e varia em 
intensidade da distorção moderadaa um erro total. 
 A sociedade caracteriza-se por uma pluralidade étnica, formado por 
três grupos distintos: portugueses, índios e negros de origem africana. As diferenças 
levaram a formação de hierarquia de classes e o prestígio social entre ambos. Os 
índios e negros estão em situações de desigualdade, ou seja, são exclusos do meio 
social em que vivem. 
 O complexo de raça ou cor é um elemento de controle e hierarquia 
social, a inclusão da cor a ser considerado em estudos sobre relações sociais, passa 
 27 
a ser importante como indicador da existência de desigualdades. O preconceito 
racial é a convicção que existe em relação a cor da pele. É um conceito adquirido ao 
longo da história. Esse conceito subtende ou afirma que existe raças puras, que são 
superiores às demais, ou seja, o preconceito racial perverte uma singularidade das 
raças e enxerga essas deferências como algo que separa os indivíduos uns dos 
outros, como um grupo inferior ao outro. 
 Segundo alguns dispositivos constitucionais, capitulo I, Artigo 5º, 
temos o direito de viver, ser livre, de ter sua casa, de ser respeitado como pessoa, 
de não ter medo, de não ser discriminado pela opção sexual, de sua cor, idade, 
trabalho, da sua cidade de origem, mas isso não é posto na prática muitas pessoas 
já sofreram algum tipo de preconceito. Quando falamos em preconceito racial, as 
maiores vitimas são os negros. 
 O preconceito racial tem moldado as sociedades contemporâneas, 
na verdade, o preconceito tem moldado as sociedades desde o inicio dos tempos. 
Até mesmo na Bíblia podemos observar indícios de preconceito, vemos que certos 
povos tinham sido dominados devido às suas diferenças, além de implementações 
espirituais. Sempre que há diferenças, há o medo, a intolerância e a injustiça. 
 Na teoria, o preconceito racial era pra ter acabado quando a 
Princesa Isabel assinou a lei Aurea, onde libertava todos os negros da escravidão, 
mas na realidade eles são exclusos e discriminados. Os antecedentes históricos 
podem ser considerados como prova de que o negro sempre foi discriminado em 
todos os aspectos, não tinham, por exemplo, direito nem sobre seus filhos, pois 
estes na hora do nascimento eram considerados propriedades dos senhores. 
 A população de nosso país possui uma diferença de raça, e no 
fundo, todos tem um pouco do índio, do negro, do amarelo e do branco. 
 Diante de tudo, se faz necessário levantar os aparatos legais que 
nos mostra um viés do combate ao racismo. 
 A Constituição Federal brasileira tem embasamento forte no Art. 1º, 
III, que trás entre outros o fundamento da dignidade da pessoa humana. O 
fundamento por si só já bastaria para o legislador criar lei acerca do tema “racismo”, 
mas como podemos observar, o tema se estende ao longo do texto constitucional. 
Vejamos o Art. 3º que também trata o assunto: 
 28 
 
“Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
(...) 
III – Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais; 
IV – Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, 
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. 
 
 Nas relações internacionais a Constituição Federal, expressa no Art. 
4º, VIII, o repúdio ao racismo. Mas o tema é tratado de forma direta no Art. 5º, XLII 
que traz o texto: prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, 
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. 
 Em uma análise reflexiva, rápida e não muito profunda das 
referências acima citadas, podemos concluir que nossa carta constitucional condena 
de forma absoluta qualquer forma de preconceito ou discriminação, chegando ao 
ponto de ter sido inserida em seu texto de forma expressa que o racismo constitui 
crime, e não mera contravenção, como era tratada antes da promulgação da 
Constituição Federal de 1988. 
 No ordenamento jurídico brasileiro, vindo para regulamentar o Art. 
5º, XLII, da Constituição Federal, que trata e define o ato racista como crime, a lei 
7.716 de 05/01/1989 – Lei do Crime Racial – de autoria do então parlamentar Carlos 
Alberto Caó, norma apelidada de “Lei Caó”, é considerada um grande e expressivo 
avanço jurídico e político na tentativa de diminuir e erradicar as desigualdades 
raciais no país, pois a lei caracteriza e especifica as atitudes que podem ser 
consideradas racismo, mas não apenas a tipificação do ato racista, mas também o 
fato de tratar o racismo como crime, e consequentemente trazendo maior rigor à 
pena que sofre aquele que pratica o ato racista, se comparada a sua antecessora, a 
lei 1.390 de 03/07/1951 – Lei Afonso Arinos, que tratava o racismo como mera 
contravenção. 
 O tema racismo ainda não está totalmente claro em seus aspectos 
formais para a sociedade, principalmente quando se trata da lei. Mesmo com 
implantação de legislação contra o racismo, existem aqueles que não sabem 
diferenciar determinadas atitudes como sendo prática de crime de racismo ou não. 
 29 
Uma das maiores confusões que as pessoas normalmente cometem é confundir 
racismo com injúria racial. 
 Injúria racial – art. 140, §3º do Código Penal Brasileiro – ocorre 
quando são expressadas ofensas a uma pessoa tendo como motivação, entre 
outras, a raça. O exemplo mais comum relacionado ao fato é chamar um negro de 
“macaco”. Esse exemplo já ocorreu em vários casos no futebol – como na matéria 
jornalística em análise – em que jogadores foram ofendidos dessa mesma forma. No 
exemplo citado e de acordo com a lei, os casos seriam julgados como injúria racial, 
onde há a lesão da honra subjetiva da vítima. Injúria racial tem pena de um a três 
anos e multa. 
Já o racismo é mais grave, sendo crime inafiançável e imprescritível. Para o crime 
ser considerado como racismo, aquele que o pratica tem que menosprezar a raça de 
alguém, seja por impedimento de acesso há determinado local ou negar emprego 
baseado na raça da pessoa. Como exemplo, pode-se considerar o impedimento da 
matrícula de uma criança em uma escola por ela ser negra, ou negar trabalho a 
certo alguém pelo mesmo motivo. 
 Racismo tem pena de um a cinco anos mais multa dependendo do 
ato tipificado na Lei 7.716, Lei do Crime Racial. Resumidamente, o racismo impede a 
prática do exercício de um direito que o indivíduo possui, tendo como motivo a 
discriminação da raça. A injúria racial se determina pela ofensa às pessoas com 
base na raça. 
 
3.1 O racismo na área de educação, Saúde e Assistência Social 
 
 É notório que o racismo no Brasil em pleno século XXI ainda é real. 
O racismo é a tendência do pensamento, ou o modo de pensar, em que se dá 
grande importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores 
umas às outras, normalmente relacionando características físicas hereditárias a 
determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais, ou seja, o 
racismo consiste em crer que certas pessoas são superiores a outras devido a 
pertencer a uma raça específica. Os racistas diferenciam as pessoas com base em 
características físicas como a cor de pele. Segundo Antônio Olímpio de Sant’Ana, “o 
 30 
racismo é a pior forma de discriminação porque o discriminado não pode mudar as 
características raciais que a natureza lhes deu”(Sant’Ana, 2005, p.41). 
 Sendo assim, a questão do racismo nunca foi privilégio de nenhuma 
cultura em particular, mas sempre esteve presente ao longo da história da 
humanidade, assumindo formas diversas. O racismo é uma mazela histórica, cuja 
raiz de amargura se encontra na própria natureza humana. Na sociedade atual, ele 
assume várias formas, vai de manifestações explicitasde violência e intolerância a 
ações camufladas de segregação. Nesse contexto, falsos valores são criados para 
justificar a atitude racista, valores esses que se espalham no inconsciente coletivo 
da população, produzindo toda uma geração de pessoas preconceituosas e 
indiferentes com essa realidade de marginalização. O racismo na sociedade 
continua a crescer, e um dos motivos que poderiam ser apontados é o legado 
histórico da discriminação sobre os negros, advindos de relações escravistas do 
passado e do atual estigma que recai sobre eles, que os empurra para os guetos e 
favelas, impossibilitando ou dificultando sua entrada no mercado de trabalho e de 
terem uma boa educação. No mercado de trabalho, no momento da seleção de um 
candidato, por exemplo, ele não é visto apenas pela capacidade profissional, mas 
sim pela cor e aparência. Já na escola, existe diferenciação dos alunos por parte dos 
educadores e até dos próprios estudantes. 
 No ambiente escolar, os negros são tratados de forma diferenciada, 
por meio de um racismo camuflado. O racismo é uma realidade que precisa ser 
banida, para tanto, é necessário não apenas boa vontade e sim atitudes e decisões. 
Cada pessoa deve ser responsável pelo respeito e dignidade de todos os indivíduos, 
a começar pela luta em favor da igualdade entre as pessoas. 
 O Ministério de Educação e Cultura tem com objetivo planejar, 
orientar e acompanhar a formulação e a implementação de políticas educacionais, 
tendo em vista as diversidades de grupos étnico-raciais como a população 
afrodescendente tendo como um dos focos, a escolarização como estratégia para a 
formação de uma sociedade mais justa. 
 Muitas pessoas, inclusive professores não perceberam que todos 
são iguais, independente da cor da pele. Tudo isso se torna ainda mais preocupante, 
quando levamos em consideração que a postura de muitos professores diante da 
questão racial tem sido vergonhosa, pois apesar de afirmarem que não são racistas, 
 31 
as atitudes de alguns dentro da sala de aula tem demonstrado o contrário. 
 O papel da escola é formar cidadãos e dar aos alunos os 
ensinamentos que eles precisam para viver e trabalhar neste mundo de evolução, 
bem como orientá-los para vida. Cabe a escola, principalmente aos professores um 
papel formativo no combate ao racismo, e a discriminação que ocorre dentro da sala 
de aula e na escola em geral. De acordo com Ana Paula Lima e Ademir Santos: 
 
Para que uma formação escolar com perspectivas de combate ao racismo 
seja implementada, é fundamental discutir condições de preparação e 
atuação dos professores: consideramos a docência aspecto central para a 
promoção de condições não discriminatórias na escola (Lima e Santos, 
2009, p.265). 
 
 Nesse sentido, a escola se torna reprodutora, estando a serviço da 
ideologia dominante e experimentando em seu interior as mazelas sociais. 
 Segundo Gandin (1995, p. 35), “a escola é o espelho da sociedade 
que a cerca”. Essa compreensão da escola chega a ser óbvia, uma vez que a 
mesma não é uma ilha isolada de todo o resto da sociedade. Pelo contrário, a escola 
é um micro-cosmo da comunidade que a cerca, apresentando características sócio-
culturais inerentes a esse meio externo. Sendo assim, imaginar a escola isenta das 
pressões sociais soa como algo utópico, uma vez que ela própria, sendo concebida 
como convencional e reprodutora, é o resultado das metamorfoses pelas quais a 
sociedade vem passando. 
 É preciso entender que o racismo está presente no cotidiano 
escolar, nas falas dos alunos, nas omissões dos professores e até mesmo na 
maneira como as carteiras em sala de aula estão dispostas. E na medida em que 
essa realidade vai sendo ignorada, a discriminação silenciosa vai ganhando força e 
oprimindo ainda mais os alunos negros. Sobre isso, Castro e Abramovay (2006) 
afirmam: 
 
“A discriminação na escola não é apenas uma prática individual entre os 
atores escolares, mas são principalmente ações e omissões do sistema 
escolar que podem contribuir para prejuízos na aprendizagem do aluno 
negro, minar o seu processo 
identitário e deixar mágoas, sofrimentos, muitas vezes não expressos”. 
(CASTRO E ABRAMOVAY, 2006, p. 245). 
 32 
 
 Todavia, a escola não é somente o meio onde as mazelas sociais 
são reforçadas, antes, ela é também, fonte para se discutir os dilemas urgentes da 
humanidade. Entre esses dilemas se encontra a questão do racismo, e os atores 
escolares precisam enxergar esse potencial catalisador da educação no combate do 
mesmo. A escola, como cenário fértil para os grandes debates, precisa se assumir, 
por meio de seus componentes, como uma protagonista na luta contra qualquer tipo 
de discriminação. Pensar a escola como protagonista na luta pela superação do 
racismo, é concebê-la como um espaço de construção de projetos, onde os 
esquemas mentais discriminadores e racistas podem ser substituídos por novos 
valores, baseados no respeito à dignidade humana. 
 O racismo é um dos principais fatores estruturantes das injustiças 
sociais que acometem a sociedade brasileira e, consequentemente, é a chave para 
entender as desigualdades sociais que ainda envergonham o país. 
 Diante disso, não há mais espaço para a omissão do Estado diante 
do racismo, do preconceito e das desigualdades deles resultantes. O momento é 
propício à explicitação dessa fratura social e para a implementação de políticas e 
ações que promovam a igualdade racial no país. O Brasil nunca se constituirá em 
um Estado verdadeiramente democrático, livre e justo, sem superar o racismo, 
permitindo que a população negra seja integrada de forma emancipada e digna na 
sociedade, sem ocupar os tradicionais espaços subordinados a que vem sendo 
relegada. 
 O racismo é percebido e vivido no cotidiano: nos shopping centers 
de elite, onde os trabalhadores negros são confinados em postos de vigias ou 
faxineiros e raramente empregados em atividades de atendimento ao público; na 
programação televisiva, onde os negros/as, quando aparecem, ocupam as 
tradicionais posições de subordinação (a empregada doméstica, o bandido, a 
prostituta, o menino de rua, o segurança); nas piadas e expressões de cunho racista 
sempre presentes nas reuniões de família brancas. 
 
4 CAPITULO III - O PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NA LUTA PELO FIM DO 
RACISMO 
 33 
 
 O Assistente Social põe em pratica a práxis quando ele trabalha 
dentro das três dimensões do Serviço Social que são; teórico/metodológico, 
ético/político e técnico operativo; a parte operativa, que é a parte pratica, vai 
expressar as dimensões ético/política e teórico/metodológico, operacionalizando 
assim o saber do Assistente Social para atender as demandas do seu cotidiano; 
segundo Barroco (2012) a práxis é o ser social transformando e trabalhando sobre 
algo e colocando assim em pratica todo seu conhecimento adquirido. 
 A complexidade das relações raciais no Brasil revela o campo de 
disputas em que o Serviço Social é chamado a intervir, pois o projeto ético-político 
que orienta o trabalho profissional do assistente social é portador de uma direção 
social na perspectiva da emancipação dos sujeitos coletivos. 
 Nas primeiras décadas do século XX o modo de produção capitalista 
modifica radicalmente as relações sociais, e a questão social ganha visibilidade no 
cenário nacional, a partir das diversas lutas protagonizadas pela classe trabalhadora 
na defesa dos direitos sociais e contra o autoritarismo do Estado burguês. 
 O sistema capitalista modifica profundamente a dinâmica das 
relações sociais, mesmo quando se considera que a desigualdade entre as várias 
camadas sociais é um fenômeno antigo. A forma que a pobreza assume nessasociedade é radicalmente nova. Pela primeira vez na história da humanidade, a 
pobreza cresce na mesma proporção que se criam as condições para sua redução 
e, no limite, para sua supressão (Netto, 2005). 
 No bojo desta contradição e sob a influência da Igreja católica, surge 
na década de 1930 o Serviço Social brasileiro para intervir nas diversas 
manifestações da questão social, produzidas pela sociedade capitalista. 
 À medida que o Serviço Social surge profundamente marcado pelo 
caráter de apostolado católico, analisando a questão social como problema moral e 
religioso, as relações raciais não são problematizadas adequadamente, uma vez 
que as reflexões da categoria privilegiam as ações direcionadas à "resolução" moral 
das contradições de classe. 
 Várias modificações e determinações sócio históricas consolidam 
um Serviço Social maduro, na década de 1980, entre elas a incorporação de uma 
 34 
análise crítica orientada pela herança marxista que permite uma apreensão do 
movimento de transformação da realidade social. 
 No interior desse processo são criadas as condições para a 
compreensão teórico-metodológica do significado do Serviço Social no processo de 
produção e reprodução das relações sociais, desvelando o seu caráter político, ou 
seja, o fato de que não há neutralidade no trabalho do assistente social. 
 O Código de Ética Profissional do Assistente Social, aprovado em 
1993, é o primeiro código profissional do Serviço Social que introduz a questão da 
não discriminação como um de seus princípios fundamentais. Isso remete a uma 
reflexão acerca da importância atribuída à ética e aos direitos humanos no interior do 
projeto ético-político a partir dos anos 1990, fortalecendo as bases para o 
desenvolvimento de um debate sobre a questão étnico/racial no cotidiano do 
assistente social. 
 Nesse cenário e apesar das crescentes reivindicações do 
movimento negro, em defesa de uma ressignificação da questão racial no Brasil, a 
contribuição da profissão na produção do conhecimento acerca dessa temática 
permanece muito tímida. 
 Se a aproximação do Serviço Social em direção ao debate étnico-
racial é tímida, há que se problematizar como a profissão vem desvelando os 
discursos e conceitos sobre essa temática. 
 Ao se deparar com os vocábulos afrodescendente, branquitude, 
discriminação racial, etnia, negro, preconceito racial, racismo, racialismo e raça, os 
profissionais podem transitar por diversas interpretações, muitas vezes antagônicas. 
Entendemos que as palavras são carregadas de significados e, portanto, optamos 
por explanar sucintamente que sentido atribuímos aos conceitos intrínsecos 
à questão racial nesta pesquisa. 
 A análise das principais bibliografias4 sobre as relações raciais no 
Brasil revela uma diversidade de conceitos, que ora podem reforçar o 
posicionamento político a favor da erradicação do racismo e da discriminação racial, 
ora podem fortalecer o discurso dominante na perspectiva da manutenção do status 
quo. 
 Diversos cientistas sociais utilizam, em geral, o padrão de relações 
 35 
raciais dos Estados Unidos da América para comparar, contrastar e entender a 
construção social das raças em outros países e especialmente no Brasil. Ao 
identificar que o modelo americano, conhecido como "Jim Crow", exibia um padrão 
de relações violento, conflitivo e segregacionista contra os negros, respaldado em 
regras precisas de filiação grupal, diversos pesquisadores negaram e negam a 
existência do racismo no Brasil. 
 Na história contada sobre o país há uma lacuna importante quanto 
ao destino da população negra após a abolição, fruto do silêncio que insiste em 
ratificar que a injustiça cometida contra essa parcela da população cessou com o fim 
da escravatura. Por outro lado, a busca pela transformação da nação em um país 
desenvolvido e industrializado logrou justificar essa exclusão, e os estereótipos5 se 
disseminaram pelo país, atribuindo ao negro a culpa por sua condição social. 
A atribuição de cor aos indivíduos, prática comum no Brasil e que fundamenta a 
construção de grupos de cor pelos sociólogos, longe de prescindir da noção de 
origem étnica, pressupõe uma ideologia racial e um racismo muito peculiares. 
(Guimarães, 1999, p. 20) 
 Qualquer estudo sobre o racismo no Brasil deve partir do princípio 
de que aqui o racismo é um tabu, pois os brasileiros se imaginam numa democracia 
racial. Essa ideia de civilidade tem raízes profundas na história do Brasil e pode ser 
verificada desde que foi abolida a escravidão (Guimarães, 1999). 
 De acordo com Guimarães (1999), o racismo ocorre quando grupos 
humanos considerados raças ou identificados por traços raciais ou racializados 
(como, por exemplo, a cor) são tratados de modo desigual do ponto de vista 
econômico, político, social e cultural. 
 As desigualdades são entendidas como discriminação racial quando 
se encontram e se comprovam mecanismos causais que operam na esfera individual 
e social e que possam ser retraçados ou reduzidos à ideia de raça. Assim, grupos 
considerados superiores obtêm privilégios em relação aos outros grupos, 
considerados inferiores. 
 A discriminação racial materializa o preconceito racial que é a 
manifestação comportamental baseada no juízo de valor, socialmente construído e 
destituído de base objetiva. 
 36 
 O preconceito pode ser individual ou social. O homem pode estar tão 
cheio de preconceitos com relação a uma pessoa ou instituição concreta que não lhe 
faça absolutamente falta a fonte social do conteúdo do preconceito... Costumamos, 
pura e simplesmente, assimilá-los de nosso ambiente, para depois aplicá-los 
espontaneamente a casos concretos através de mediações. (Heller, 1970, p. 49) 
 O racismo no Brasil, enquanto uma construção sócia histórica, traz 
consigo o preconceito e a discriminação racial, acarretando prejuízos à população 
negra nas diferentes fases do ciclo de vida, independente da camada social e da 
região de moradia. Reforça-se pela linguagem comum, mantém-se e alimenta-se 
pela tradição e pela cultura, ao mesmo tempo em que influencia a vida, as formas 
como as instituições se organizam e as relações interpessoais (Lopes e Quintiliano, 
2007). 
 A utilização do conceito de raça nas Ciências Sociais e na política 
brasileira apresenta vários problemas que precisam ser equacionados. Este não está 
baseado na fundamentação biológica, mas porta um significado propriamente 
sociológico, relacionado a determinada identidade cultural. "Trata-se de um sistema 
de marcas físicas (percebidas como indeléveis e hereditárias), ao qual se associa 
uma 'essência', que consiste em valores morais, intelectuais e culturais" (Guimarães, 
1999, p. 28). 
 O Brasil constrói uma noção particular de raça segundo a qual 
podem ser "consideradas" brancas as pessoas mestiças e de pele mais claras que 
exibem símbolos da europeidade: formação cristã e domínio das letras. Por essa 
regra, quanto mais próxima a pigmentação da pele estiver do branco europeu, maior 
a aceitação social e a valorização da pessoa (Guimarães, 1999). 
 A opção teórica pelo conceito de raça justifica-se pelo modo como o 
racismo opera no Brasil. Portanto, sua utilização não remete ao sentido clássico, 
relativo às categorias biológicas. 
 Nessa perspectiva, concordamos com Ianni (1992, p. 120): 
 
As raças são categorias históricas, transitórias, que se constituem 
socialmente a partir das relações sociais: na fazenda, engenho, estância, 
seringal, fábrica, escritório, escola, família, igreja, quartel, estradas, ruas, 
avenidas, praças, campos e construções. Entram em linha de conta 
caracteres fenotípicos. Mas os traços raciais visíveis, fenotípicos, são37 
trabalhados, construídos ou transformados na trama de relações sociais. 
 
 É na esfera das relações sociais que a questão racial ganha 
amplitude, na forma como a população negra acessa a riqueza socialmente 
produzida, ao estabelecer relações afetivas, no acesso e permanência no mercado 
de trabalho, na invisibilidade escolar. Enfim, é na vida cotidiana que a diversidade 
racial ganha contornos de desigualdade social. 
 Por sua vez, o conceito de etnia refere-se a indivíduos que 
compartilham uma herança social e cultural transmitida de geração em 
geração. Etnia refere-se a aspectos culturais e também tem um sentido político, de 
afirmação da diferença cultural enquanto valorização humana. Pessoas que podem 
ser identificadas como pertencentes a grupos raciais distintos, podem ser agrupadas 
num mesmo grupo étnico e vice-versa. Para além das características físicas, há um 
resgate do pertencimento ancestral, de um passado comum, conforme descrição a 
seguir: 
 
Um grupo possuidor de algum grau de coerência e solidariedade, composto 
por pessoas conscientes, ao menos em forma latente, de terem origens e 
interesses comuns. Um grupo étnico não é mero agrupamento de pessoas 
ou um setor da população, mas uma agregação consciente de pessoas 
unidas ou proximamente relacionadas por experiências compartilhadas. 
(Cashmore et al., 2000, p. 196) 
 
 Do exposto, pode-se inferir que os conceitos raça e etnia não são 
sinônimos, mas complementares, razão pela qual nas diversas produções é comum 
encontrarmos a associação raça/etnia. Entendemos que raça continua atual e que 
os aspectos culturais abarcados pelo termo etnia são motivadores de discriminação, 
principalmente quando associados à raça. Logo, optamos por problematizar 
a questão racial a partir da discussão de raça/etnia. 
 O termo negro, por sua vez, para além da cor da pele, remete a uma 
origem racial, aos descendentes de negros africanos no Brasil, valorizando os 
atributos físicos e culturais daqueles que representam quase metade da população 
brasileira. O termo tem um sentido político, de sujeitos que constroem a história, ao 
mesmo tempo em que se constroem (Gomes, 1995). 
 38 
 Negro é uma categoria utilizada pelo movimento negro para reforçar 
a identidade, em que preto e pardo são apenas cores, enquanto negra seria a raça, 
em sua dimensão social. 
 Consideramos importante também nomear a brancura, categoria 
socialmente construída, que começou a ser utilizada na segunda metade do século 
XVII e significava superioridade e privilégio, em contrapartida aos não brancos, 
considerados "os outros", conforme Cashmore et al. (2000). 
 Na atualidade, a brancura confere vantagens e prestígios, 
reatualizando o racismo nas relações sociais. A ideologia da brancura permitiu a 
construção/consolidação de relações sociais profundamente desiguais, com a 
atribuição de privilégios numa sociedade patriarcal, sexista e racista. A análise 
da questão racial neste trabalho não pode estar dissociada da análise da ideologia 
da brancura, pois é no âmbito das relações sociais que esses grupos disputam 
poder, espaço e território. 
 Branquitude - Na prática, ser branco exige pele clara, feições 
europeias, cabelo liso; ser branco no Brasil é uma função social e implica 
desempenhar um papel que carrega em si uma certa autoridade ou respeito 
automático, permitindo trânsito, eliminando barreiras. Ser branco não exclui "ter 
sangue negro" ou indígena. (Iraci e Sovik, 2004, p. 19) 
 Para efeitos metodológicos consideramos importante destacar 
também os conceitos de afro-brasileiro: 
 
Afro-brasileiro surge entre 1930 e 1940, em linhas de pensamento distintas 
das atuais. Além de que, afro-brasileiro faz parte de um período no qual os 
grupos de intelectuais brasileiros eram totalmente desinformados, para não 
dizer ignorantes, sobre a história africana. Nutriam teorias racistas sobre a 
cultura de base africana. Vejam que, nesta época, Gilberto Freyre e os seus 
seguidores consideravam a cultura africana inferior à européia. (Cunha Jr., 
apud Romão, 2005, p. 253) 
 
 E afrodescendente, em que pese a opção de não utilizá-los na nossa 
fundamentação teórica, significa que: "O pleno conhecimento do passado africano, 
nasce sobretudo em decorrência deste conhecimento e da necessidade de 
relacionar o passado africano com a história do Brasil." (Cunha Jr., apud Romão, 
 39 
2005, p. 253). 
 Na perspectiva de fortalecer o debate sobre a questão racial, 
optamos por não utilizar o termo afrodescendente, ainda que tenha seus méritos, 
pois na atualidade tem conotações ambíguas. Se partirmos da premissa, verdadeira, 
de que os negros africanos têm presença marcante na formação da sociedade 
brasileira, uma parcela importante da nossa população atualmente é 
afrodescendente. 
 Por outro lado, essa mesma parcela da população pode no 
cotidiano, pelos diversos motivos apresentados ao longo desta reflexão, ocultar sua 
origem ancestral, enfraquecendo o debate político sobre a questão racial no Brasil. 
 As pessoas não são discriminadas apenas pela sua descendência, 
mas pelo fenótipo - cor da pele, traços faciais, tipo de cabelo -, pelo externo, no 
momento em que acessam o mercado de trabalho, os serviços públicos, os espaços 
coletivos etc. 
 Assim, entendemos que afrodescendente é uma categoria 
extremamente perigosa, que pode fortalecer o discurso daqueles que insistem em 
afirmar que somos todos brasileiros, desconsiderando a diversidade e a 
perversidade das relações sociais, terreno em que a discussão sobre a questão 
racial não tem base de sustentação. 
 A realidade brasileira em sua face mais perversa, das desigualdades 
sociais decorrentes da origem racial, tem sido questionada e fortemente combatida 
por diversos setores da sociedade, que ampliaram o debate público sobre a questão 
racial e intensificaram na última década as discussões sobre como o setor público 
poderia comprometer-se mais efetiva e continuamente com a prevenção e o 
combate ao racismo e às desigualdades raciais. 
 O processo é contraditório e exacerba questões que por séculos o 
país tenta silenciar. A tarefa é árdua, pois o racismo perpassa todas as esferas da 
vida cotidiana, se reproduz nas instituições e constantemente é naturalizado. A 
banalização da questão racial atinge inclusive uma parcela importante da população 
negra que não consegue perceber a trama de relações sociais e se culpabilizar por 
sua condição social. 
 O discurso dominante que ainda insiste em desvalorizar a população 
 40 
negra, sua cultura e suas tradições, perde legitimidade à medida que o debate racial 
avança, desconstruindo estereótipos. Concomitantemente, as diversas mobilizações 
do Movimento Negro culminaram em medidas como a criminalização do racismo, as 
políticas afirmativas, a defesa da equidade na educação e na saúde, entre outros 
direitos sociais. 
 Racismo institucional: a exacerbação da desigualdade social 
O racismo continua sendo uma implacável e deprimente questão dos nossos 
tempos. São poucos os temas, se é que há outros, que demandam tanta atenção e 
esforço com tão poucos frutos. Toda vez que "baixamos a guarda", uma nova 
descoberta revela a complexidade, a virulência e a absoluta obstinação daquilo que 
notadamente tornou-se o problema do século XX. (Cashmore et al., 2000, p. 11) 
 O racismo, por si só, é perverso e desencadeia relações sociais 
profundamente desumanas e continua a se reproduzir cotidianamente no início do 
século XXI. Quando ele perpassa o cotidiano das instituições, a situação torna-se 
ainda mais complexa e cristalizada, configurando-se como racismo institucional. 
O emprego do conceito de discriminação indireta ou racismoinstitucional para a 
promoção de políticas de equidade racial já é utilizado desde o final dos anos 1960 
em diversos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o conceito surge no contexto 
da luta pelos direitos civis e com a implementação de políticas de ações afirmativas. 
Na Inglaterra, o conceito passa a ser incluído como instrumento para a proposição 
de políticas públicas na década de 1980, como resultado do crescimento da 
população não branca e das dificuldades observadas pelo Poder Judiciário em 
responder às demandas daquela população. 
 No Brasil, a partir de meados dos anos 1990, esse conceito começa 
a ser apropriado para a formulação de programas e políticas de promoção da 
equidade racial. (Jacoud, 2008, p. 141) 
 A necessidade de democratizar o acesso da população negra às 
políticas públicas exige uma reflexão sobre o conceito de racismo institucional, que 
nas palavras do DFID/PNUD (2005, p. 6) significa: 
 
Fracasso das instituições e organizações em prover um serviço profissional 
e adequado às pessoas devido à sua cor, cultura, origem racial ou étnica. 
Ele se manifesta em normas, práticas e comportamentos discriminatórios 
adotados no cotidiano do trabalho, os quais são resultantes da ignorância, 
 41 
da falta de atenção, do preconceito ou de estereótipos racistas. Em 
qualquer caso, o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos 
raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a 
benefícios gerados pelo Estado e por demais instituições e organizações. 
 
 O racismo institucional refere-se às operações anônimas de 
discriminação racial em instituições, profissões ou mesmo em sociedades inteiras 
(Cashmore et al., 2000). O anonimato existe à medida que o racismo é 
institucionalizado, perpassa as diversas relações sociais, mas não pode ser atribuído 
ao indivíduo isoladamente. Ele se expressa no acesso à escola, ao mercado de 
trabalho, na criação e implantação de políticas públicas que desconsideram as 
especificidades raciais e na reprodução de práticas discriminatórias arraigadas nas 
instituições. 
 Portanto, o racismo institucional possui duas dimensões 
interdependentes e correlacionadas: a político-programática, e a das relações 
interpessoais. Quanto à dimensão político-programática podemos dizer que ela 
compreende as ações que impedem a formulação, implementação e avaliação de 
políticas públicas eficientes, eficazes e efetivas no combate ao racismo, bem como a 
visibilidade do racismo nas práticas cotidianas e nas rotinas administrativas. A 
dimensão das relações interpessoais abrange as relações estabelecidas entre 
gestores e trabalhadores, entre trabalhadores e trabalhadores, entre trabalhador e 
usuário, e entre usuário e trabalhador, sempre pautadas em atitudes discriminatórias 
(Amma-Psique e Negritude Quilombhoje, 2008). 
 No âmbito institucional - no qual se desenvolvem as políticas 
públicas, os programas e as relações interpessoais -, toda vez que a instituição não 
oferece acesso qualificado às pessoas em virtude de sua origem étnico-racial, da cor 
da sua pele ou cultura, o trabalho fica comprometido. Esse comportamento é 
resultante do racismo institucional (Lopes e Quintiliano, 2007). 
 Para identificar a parcela da população brasileira que sofre com as 
manifestações do racismo na vida cotidiana, optamos por utilizar as análises 
desenvolvidas por Paixão e Carvano (2008) na qualificação dos indicadores sociais 
das desigualdades raciais no Brasil, publicadas no Relatório anual das 
desigualdades raciais 2007-2008. 
 O relatório analisou a evolução dos indicadores sociais dos distintos 
 42 
grupos de cor ou origem étnica e sexo no Brasil. As bases de dados utilizados pelos 
pesquisadores para compor a análise foram, preferencialmente, as fontes oficiais. 
Conforme dados do RDR 2007-2008, a população residente no Brasil, segundo os 
grupos de cor ou raça, estava distribuída da seguinte forma: em 1995 a população 
total somava 152.374.603 habitantes, dos quais 82.826.798 eram brancos e 
68.635.438 eram pretos e pardos; em 2006 totalizava 183.550.526, dividida entre 
92.406.621brancos e 89.726.595 pretos e pardos; os demais eram de cor ou raça 
indígena e amarela. 
 Em 2006, a população branca residente no Brasil era de 49,7% e a 
população de pretos e pardos era de 49,5%. Os demais habitantes eram de cor 
ou origem étnica indígena (0,3%) e de cor ou origem étnica amarela (0,5%). Quanto 
à população de cor ou raça preta e parda, sua distribuição relativa entre as regiões 
geográficas do país ocorre da seguinte forma: a maioria vive majoritariamente no 
Nordeste, totalizando 39,3%, seguida pela região Sudeste, com 34,6% (Paixão e 
Carvano, 2008). 
 Ainda que os dados estatísticos sobre o percentual de negros na 
sociedade brasileira ratifiquem a presença marcante da população negra no país, a 
sua inserção precária na sociedade de classes nos indaga sobre os mecanismos 
que impedem sua ascensão social. Estratégias devem ser criadas para a construção 
de uma nova sociabilidade, combatendo todo tipo de preconceito ou discriminação 
racial contra esse grupo. 
 Decerto, pela própria história da profissão e o conservadorismo que 
marca sua gênese, o debate sobre a questão racial não encontrou terreno fértil para 
ser incorporado pelo Serviço Social até a década de 1980. 
 Entretanto, diante das conquistas históricas do projeto ético-político, 
expressas eticamente no Código de Ética de 1993, a busca de efetivação dos 
princípios que norteiam o trabalho do assistente social é um imperativo ético a ser 
perseguido. O combate ao racismo institucional e à discriminação por questões de 
raça/etnia se inscreve nessa lógica, e a questão racial pode ser debatida se as 
concepções teóricas que culminaram naquela construção forem devidamente 
apropriadas. 
 A população negra ainda vive, majoritariamente, em situação de 
 43 
vulnerabilidade social, suscetível a mortes violentas, a agressões e abusos de 
autoridade, bem como invisível, nas suas especificidades, para as ações das 
políticas públicas, principalmente na área da saúde, educação, assistência social, 
habitação, nas artes e na mídia. 
 Há uma dificuldade em trazer à tona a discussão étnico-racial na 
trama de relações sociais, na sociedade burguesa, profundamente marcada pelo 
discurso da "democracia racial" e pelo racismo camuflado que também aliena a 
população negra, bloqueando seus processos de conscientização, participação e 
organização política (Pinto, 2003). 
 Quanto ao projeto ético-político do Serviço Social, é pertinente 
ressaltar que as suas orientações de valor possuem uma objetividade real e 
dependem também da subjetividade dos sujeitos que o realizam cotidianamente. 
Portanto, o trabalho do assistente social compõe-se de múltiplas facetas, e a análise 
empreendida nessa pesquisa sobre o racismo institucional pode favorecer o 
desvelamento das práticas discriminatórias enraizadas em diversas instituições, com 
vistas à garantia dos direitos sociais, sem qualquer forma de discriminação racial. 
 Finalmente, há que se ressaltar que passados 124 anos da abolição 
da escravatura, o "legado" da marginalização da população negra permanece 
naturalizado. Se defendemos que as relações sociais são datadas e historicamente 
construídas, faz-se urgente a ressignificação da trajetória histórica da população 
negra no interior da sociedade brasileira, escancarando as perversidades 
perpetradas contra esse grupo e a consequente desigualdade racial e social. 
 
5 CAPITULO IV - O BRASIL E O ENFRENTAMENTO PARA A EQUIDADE 
IGUALDADE DAS QUESTÕES RACIAIS. 
 
5.1 Politicas Publicas de promoção a igualdade racial 
 
 As políticas sociais

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