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Princípios gerais do processo civil – Anotações de Direito – Medium

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Princípios gerais do processo civil
Teoria geral do processo civil
São princípios gerais do processo civil na Constituição Federal o devido
processo legal, a isonomia, o contraditório, a inafastabilidade do
controle jurisdicional, a imparcialidade do juiz, a publicidade dos atos
processuais, o duplo grau de jurisdição e a duração razoável do
processo.
Já os princípios infraconstitucionais são o dispositivo, a persuasão
racional (livre convencimento motivado), a oralidade, a boa-fé e a
cooperação.
Princípios constitucionais
Devido processo legal
art. 5º LIV
O devido processo legal é o princípio que constitui a base de todos os
demais; o gênero do qual os outros são espécie.
O princípio obriga que se respeitem as garantias processuais e as
exigências necessárias para a obtenção de uma sentença justa e célere.
Isonomia
art. 5º, caput e I, CF 
art. 7º, CPC
Isonomia é a necessidade de dar às partes tratamento igualitário em
relação ao exercício de seus direitos e faculdades processuais, aos
meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções
processuais.
É preciso que esta igualdade seja substancial, não formal. Isto é:
tratam-se os iguais igualmente e os desiguais, desigualmente. Para
reequilibrar a relação, a lei consagra uma série de medidas protetivas à
parte mais vulnerável — o consumidor, por exemplo. Da desigualdade
formal advém a igualdade substancial.
Sendo assim, o juiz deve conduzir o processo de maneira tal que
garanta a igualdade das partes, dando-lhes as mesmas oportunidades
de manifestação.
Dois exemplos são a assistência judiciária, que permite a quem não
tem condições econômicas valer-se da assistência jurídica gratuita, e os
privilégios de prazo, recebidos pelos escritórios de prática jurídica das
faculdades de direito reconhecidas na forma de lei (art. 186, CPC).
niva Follow
Jun 30, 2017 · 10 min read
Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em
dobro para todas as suas manifestações processuais.
(…)
§ 3o O disposto no caput aplica-se aos escritórios de
prática jurídica das faculdades de Direito
reconhecidas na forma da lei e às entidades que
prestam assistência jurídica gratuita em razão de
convênios �rmados com a Defensoria Pública.
Contraditório
art.5º, LV, CF 
arts. 9 e 10, CPC
O contraditório exige que se dê ciência ao réu da existência do
processo e, às partes, dos atos que nele são praticados. As partes têm o
direito de ser ouvidos e de expor ao julgamento sua argumentação.
Há uma diferença entre o contraditório no processo civil e no penal.
Neste, é preciso a defesa su�ciente e técnica, sob pena de nulidade.
Naquele, há menor amplitude; se a parte não desejar defender-se, não
cabe ao juiz forçá-la.
Não há ofensa ao princípio do contraditório na concessão de liminares
inaudita altera parte, pois elas pressupõem situação de urgência e
apenas postergam o contraditório, sem suprimi-lo.
Também não há ofensa na produção de sentença de improcedência
liminar do pedido (art. 332, CPC). Não se justi�caria que o processo
prosseguisse quando já se sabe qual será o resultado. Além disso, o réu
não sofre nenhum prejuízo.
Outra questão relevante ao contraditório é a da prova emprestada,
que consiste em trazer a um processo prova que tenha sido produzida
em outro.
A prova deve ser realizada sob o crivo do contraditório, cienti�cando a
outra parte e dando-lhe oportunidade para manifestação. Por isso, a
prova emprestada não pode ser utilizada a menos que as partes nos
dois processos sejam as mesmas ou se aquele que não participou da
produção de prova no processo anterior concordar com seu uso.
Gonçalves cita o exemplo do acidente de trabalho. O trabalhador
acidentado pode postular um benefício acidentário em face do INSS e,
simultaneamente, buscar indenização do patrão que tenha agido com
culpa. Em ambas ações há necessidade de produção de prova pericial
médica que apure a extensão da incapacidade da vítima. Como as
partes não são as mesmas, sendo em uma o INSS e o trabalhador e em
outra o patrão e o trabalhador, o patrão deve consentir com o uso de
prova emprestada da ação com pedido incidentário. No entanto, caso a
prova seja desfavorável ao trabalhador, o patrão não precisa de seu
consentimento para produzir prova emprestada, já que o trabalhador
participou da outra ação.
Inafastabilidade do controle jurisdicional
art. 5º, XXXV, CF
A inafastabilidade do controle jurisdicional proíbe a lei de excluir da
apreciação do Judiciário lesão ou ameaça a direito. Garante a todos o
acesso à justiça para postular e defender seus interesses por meio do
exercício do direito de ação, obtendo pronunciamento judicial.
Este direito sofre limitações que não o ofendem, de ordem processual.
Quem não tem legitimidade ou interesse é carecedor de ação e não
receberá do Judiciário resposta de acolhimento ou rejeição de sua
pretensão.
Não se impõem, no entanto, restrições que di�cultem o acesso à justiça
e não sejam de ordem processual. Não é lícito, por exemplo,
condicionar a garantia da ação ao esgotamento das vias administrativas 
— salvo a hipótese do art. 217, § 1º, da CF.
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas
desportivas formais e não-formais, como direito de
cada um, observados:
§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva,
regulada em lei.
Imparcialidade do juiz
art. 5º, LIII, XXXVIII, CF 
arts. 144 e 145, CPC
A garantia do juiz natural impede que as partes possam escolher, a
seu critério, o julgador que irá apreciar a sua pretensão. Não há escolha
do juiz de acordo com o arbítrio e a vontade das partes. A causa deve
ser apreciada por órgão judicial que já exista no momento do litígio e
que tenha sua competência preestabelecida pela CF e por lei.
Não constituem ofensa ao princípio da imparcialidade do juiz a
possibilidade de modi�cação de competência estabelecida em lei, como
a conexão, e a alteração de competência absoluta ou por supressão do
órgão jurisdicional (art. 43, CPC).
Art. 43. Determina-se a competência no momento
do registro ou da distribuição da petição inicial,
sendo irrelevantes as modi�cações do estado de fato
ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a
competência absoluta.
Publicidade dos atos processuais
arts. 5º, LX e 93, IX, CF 
arts. 11 e 189, CPC
A publicidade é necessária para que a sociedade possa �scalizar seus
juízes. Preserva-se, com isso, o direito à informação. No entanto,
quando houver interesse público envolvido ou quando a divulgação
possa trazer danos às partes, justi�ca-se a imposição de restrições à
publicidade — que não se aplicam às partes do processo e a seus
procuradores.
Duplo grau de jurisdição
Não há na CF exigência expressa do duplo grau de jurisdição. O
princípio decorre do sistema constitucional, que prevê a existência de
tribunais que julguem recursos.
A possibilidade de que as decisões judiciais venham a ser analisadas por
um outro órgão assegura que estas, quando equivocadas, sejam
revistas, o que imbui o juiz de maior responsabilidade.
Existem diversas hipóteses em que o duplo grau não ocorre, como os
casos de competência originária do STF e os em que o tribunal possa
apreciar o mérito (art. 1.103, CPC).
Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o
conhecimento da matéria impugnada.
(…)
§ 3o Se o processo estiver em condições de imediato
julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o
mérito quando:
I — reformar sentença fundada no art. 485;
II — decretar a nulidade da sentença por não ser ela
congruente com os limites do pedido ou da causa
de pedir;
III — constatar a omissão no exame de um dos
pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV — decretar a nulidade de sentença por falta de
fundamentação.
Princípio da razoávelduração do processo
art. 5º, LXXVIII, CF 
art. 4º, CPC
Um dos entraves mais problemáticos ao funcionamento da justiça é a
demora no julgamento dos processos. O princípio de razoável duração
do processo é dirigido ao legislador, para que editem leis que não
atravanquem e que acelerem o andamento do processo; ao
administrador, para que cuide da manutenção dos órgãos judiciários; e
aos juízes, que devem diligenciar para que o processo caminhe a uma
solução rápida.
Busca-se uma obtenção dos melhores resultados com a máxima
economia de esforços, despesas e tempo. Um exemplo é a adoção das
súmulas vinculantes. Outro é o art. 1.048 do CPC, que estabeleceu
prioridade de tramitação para processos em que a parte ou interessado
é maior de 60.
Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em
qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos
judiciais:
I — em que �gure como parte ou interessado pessoa
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou
portadora de doença grave (…)
. . .
Princípios infraconstitucionais
Dispositivo
art. 370, CPC
Mesmo nos processos que versam sobre interesses disponíveis, há
sempre um interesse público subjacente. Assim, a iniciativa da
investigação dos fatos e produção de provas segue, no processo penal, o
princípio inquisitivo, que busca a verdade real e dá ao juiz a
capacidade de conduzir a produção de provas, não sendo mero
espectador.
Já no processo civil, a busca era pela verdade formal, do princípio
dispositivo. O juiz decidia de acordo com os elementos instrutórios
trazidos pelas partes, não tendo poderes para determinar outras
provas.
Na atual dinâmica do processo civil, ampliam-se as capacidades do juiz,
que deve ter participação ativa — indeferindo provas impertinentes e
desnecessárias e determinando as que pareçam necessárias para um
julgamento mais justo.
Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento
da parte, determinar as provas necessárias ao
julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão
fundamentada, as diligências inúteis ou meramente
protelatórias.
Não se pode mais a�rmar, portanto, que o processo civil seja
genericamente regido pelo princípio dispositivo. No que toca a
produção de provas, mais vale o princípio inquisitivo, tendo o
magistrado a possibilidade de investigar e determinar livremente as
provas que entender pertinentes.
No entanto, o atual CPC também dá muito mais amplitude dispositiva
ao permitir, nos processos que admitem autocomposição, que as partes
convencionem mudanças ao procedimento para ajustá-lo às
especi�cidades da causa.
Persuasão racional
art. 371, CPC
Não há uma hierarquia de provas. O juiz apreciará a prova observando
o que conste dos autos, mas, ao proferir a sentença, deve indicar os
motivos que lhe formaram o convencimento. Isto surge da necessidade
de controle da atividade jurisdicional.
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos,
independentemente do sujeito que a tiver
promovido, e indicará na decisão as razões da
formação de seu convencimento.
Há divergência doutrinária no tocante ao art. 489 do NCPC, que
especi�ca os elementos essenciais à fundamentação de seu
convencimento.
Art. 489. São elementos essenciais da sentença: (…)
II — os fundamentos, em que o juiz analisará as
questões de fato e de direito; (…)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer
decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que:
I — se limitar à indicação, à reprodução ou à
paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida;
II — empregar conceitos jurídicos indeterminados,
sem explicar o motivo concreto de sua incidência
no caso;
III — invocar motivos que se prestariam a justi�car
qualquer outra decisão;
IV — não enfrentar todos os argumentos deduzidos
no processo capazes de, em tese, in�rmar a
conclusão adotada pelo julgador;
V — se limitar a invocar precedente ou enunciado de
súmula, sem identi�car seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI — deixar de seguir enunciado de súmula,
jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso
em julgamento ou a superação do entendimento.
Existe tese de que estas especi�cações cerceariam o livre
convencimento motivado assegurado ao juiz pelo art. 93, IX, da CF,
sendo inconstitucionais. É evidente, no entanto, que não há
cerceamento e sim especi�cação das motivações já previstas no livre
convencimento motivado. Há toda uma discussão neste respeito,
movimentada pelos magistrados mais preguiçosos do país.
Oralidade
arts. 139, 370 e 456, CPC
Com a evolução do princípio, a “oralidade” passou a signi�car a
necessidade de o julgador aproximar-se o quanto possível da instrução
e das provas realizadas ao longo do processo. O julgador deve colher
diretamente a prova e estar, pelo contato direto que manteve com as
partes e testemunhas, mais apto a julgar.
Art. 456. O juiz inquirirá as testemunhas separada e
sucessivamente, primeiro as do autor e depois as do
réu, e providenciará para que uma não ouça o
depoimento das outras.
No mesmo sentido, a recente lei 11.719/2008 introduziu o princípio da
identidade física do juiz no Processo Penal, acrescentando o § 2º ao art.
399 do CPP:
Art. 399. CPP. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz
designará dia e hora para a audiência, ordenando a
intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério
Público e, se for o caso, do querelante e do
assistente. (…)
§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a
sentença.
Também decorre do princípio da oralidade a concentração da
audiência. Esta deve ser una e concentrada, a �m de que a colheita da
prova oral gere uma visão sistemática dos fatos. A audiência una é
regra na Justiça do Trabalho, conforme o art. 849 da CLT:
Art. 849. CLT. A audiência de julgamento será
contínua; mas, se não for possível, por motivo de
força maior, concluí-la no mesmo dia, o juiz ou
presidente marcará a sua continuação para a
primeira desimpedida, independentemente de nova
noti�cação.
Boa-fé
art. 77, 80, 322 § 2º e 489 § 3º, CPC
A boa-fé está associada à lealdade processual e à necessidade de
respeito a todos aqueles que participam do processo (v. deveres anexos
à relação jurídica).
O CPC atual eleva a boa-fé à categoria principiológica, de norma
fundamental do processo civil. Seu art. 80 enumera as hipóteses em
que haverá litigância de má-fé; além deste, outras menções, como a do
art. 322, dão maior concretude à exigência.
Art. 322. O pedido deve ser certo. (…)
§ 2º A interpretação do pedido considerará o
conjunto da postulação e observará o princípio
da boa-fé.
Cooperação
art. 6º e 357, CPC
O princípio da cooperação é desdobramento da boa-fé e da lealdade
processual. Exige-se que as partes colaborem para que o processo
evolua adequadamente.
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses
deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de
saneamento e de organização do processo:
(…)
§ 3o Se a causa apresentar complexidade em
matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar
audiência para que o saneamento seja feito em
cooperação com as partes, oportunidade em que o
juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou
esclarecer suas alegações.
O magistrado, por sua vez, tem deveres como o de prevenir as partes
quanto a de�ciências ou insu�ciências de suas manifestações e de
esclarecer eventuais dúvidas a respeito de suas determinações.

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