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Resumo O mundo que mudou a máquina

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Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção - UFSCar
	Disciplina: Sistemas de Produção (Turma B)
	Curso: Mestrado Acadêmico
	Docente responsável: Prof. Dr. Pedro Carlos Oprime
	Discente: Diego José Casagrande
	RA: 11713704
TEXTO: “O MUNDO QUE MUDOU A MÁQUINA – SÍNTESE DOS TRABALHOS DO GERPRISA 1993-1999” – BOYER; FREYSSENET (2000)
No início da década de 1980, o crescimento significativo das montadoras japonesas, associado ao sucesso potencial específico da Toyota, levaram grande parte das indústrias automobilísticas do mundo a considerar o sistema Lean Production como o modelo produtivo ideal a ser utilizado. Entretanto, no cenário daquela época, pouco mais de dez anos após o estabelecimento desta convicção em esfera global, a mesma passou a tornar-se enfraquecida, motivada principalmente pela expressiva crise econômica vivenciada no Japão.
Em seu surgimento e no decorrer de seus primeiros períodos de aplicação, o Lean Production (denominação derivada do Toyotismo) configurava-se como um sistema produtivo com o propósito de “mudar o mundo”, tendo em vista a sua abordagem mais eficaz e adaptativa em relação ao fordismo. Apesar de sua validade e pontos positivos, contudo, o Toyotismo baseou-se essencialmente na construção e no delineamento de um processo de melhoria e reconfiguração com base nas premissas do sistema de produção em massa. Deste modo, o sistema Toyota não representava algo totalmente inovador ou plenamente superior, mas sim um modelo produtivo com adaptações e pontos de evolução se comparado ao fordismo. 
Ao visualizarem o Toyotismo como o único sistema produtivo válido (uma espécie de “one the best way” universal), as montadoras de automóveis passaram, erroneamente, a desconsiderar a necessidade de adaptação do modelo aos seus respectivos contextos locais. Deste modo, a generalização do Toyotismo representava algo perigoso, tendo em vista que existiam expressivas variações entre empresas de países distintos e até mesmo dentro do próprio Japão. Em termos históricos, o próprio fordismo, por exemplo, fracassou ao ser transplantado para fora dos EUA. Tal fato, por sua vez, evidencia que um sistema produtivo, por mais eficiente e válido que seja, possui condições que limitam e/ou impossibilitam a sua plena difusão em esfera mundial. Neste cenário, a pluralidade de modelos de produção representa uma situação ideal para o universo de atuação das indústrias automobilísticas, haja vista a variação das condições macroeconômicas, sociais e mercadológicas existentes nos países das quais estão inseridas, bem como as diferentes perspectivas existentes dentro da própria esfera estratégica organizacional. Não há, assim, uma fórmula individualizada que propicie sucesso.
Apesar da existência de três grandes modelos produtivos clássicos dentro de uma abordagem histórica (produção artesanal, produção em massa e produção enxuta), é possível observar que, no contexto da indústria automobilística, existem uma série de confusões conceituais e aplicações incorretas em relação aos mesmos. Mediante este cenário, alguns modelos que possuíam premissas distintas em inúmeros pontos essenciais, tais como o Toyotismo e o Hondismo, por exemplo, acabaram sendo abusivamente misturados sob a designação única do termo Lean Production. Diante deste contexto, tornou-se possível identificar, em linhas gerais, que não foram exclusivamente os diferentes tipos de sistemas produtivos que propiciaram a melhoria das montadoras, mas sim a adaptação das mesmas aos modelos econômicos e sociais de seus respectivos países. Daí, portanto, torna-se possível identificar o principal pilar que baseia a questão do mundo (contexto) “modificar” o funcionamento da máquina (indústria), tendo em vista que as mudanças nos sistemas produtivos e nas ações estratégicas das montadoras automobilísticas eram oriundas de influências externas.
As variações econômicas e sociais dos países, ao longo do tempo, foram responsáveis pela criação de novas demandas de produtos por parte dos consumidores, alterando assim o planejamento e a dinâmica de funcionamento estratégica das indústrias automobilísticas. Tornou-se, necessário, assim, a implantação de um processo transitório e de adaptação dos sistemas industriais até então existentes. Com o advento da inovação, o mercado automotivo deixou de fabricar somente carros padronizados e modelos únicos, a exemplo do que ocorria no fordismo, passando assim a dirigir também os seus esforços para a diagnóstico e o atendimento das tendências de mercado que surgiram ao longo do tempo. No cenário contemporâneo, desta forma, a representação da existência de somente três grandes sistemas produtivos não mais se configura como algo válido, já que as mudanças em modelos e métodos preconizou a implantação da pluralidade no segmento de automóveis em sua totalidade.
Ao visualizar o setor automobilístico sob uma perspectiva histórica mais aprofundada, torna-se possível enfatizar que as regras gerais de um determinado sistema produtivo não devem ser consideradas válidas e aplicáveis em todos os períodos e/ou contextos. No entanto, apesar disso, uma parcela de mercado do segmento ainda tende a considerar a existência de um único modelo correto e geral dentro de cada período de tempo. Diante de um cenário mercadológico e produtivo no qual a racionalidade deve prevalecer em detrimento de simples modelos pré-concebidos, contudo, as condições de desempenho da indústria automobilística estão diretamente associadas as estratégias de lucro e ao compromisso de governança das empresas.
Ao longo do tempo, as indústrias automobilísticas estabeleceram seis estratégias (modelos) de lucro básicas distintas visando tornarem-se competitivas (estratégias taylorista, woollardista, fordista, sloanista, toyotista e hondista). Porém, diante de um contexto mercadológico abrangente e cada vez mais volátil, a adoção ou surgimento de um modelo produtivo implica em sua sincronização com as estratégias adotadas pelas empresas mediante o contexto no qual as mesmas atuam. Os modelos produtivos, de modo geral, não mais se configuram como uma receita universal ou um padrão ideal, mas sim como algo adaptável ao universo e aos atores vinculados a cada indústria automobilística em termos individuais. É fundamental, desta maneira, buscar a sincronização contínua dos modelos produtivos com base nas características e práticas gerenciais intrínsecas as empresas atuantes no setor automotivo. Não basta, portanto, simplesmente adotar um modelo produtivo de terceiros com a justificativa de este ser o melhor. É preciso analisá-lo e adaptá-lo ao meio no qual a empresa se desenvolve.
A mudança de posicionamento estratégico das indústrias automotivas não deve ocorrer simplesmente em virtude das tendências do segmento ou com base nas ações e medidas desenvolvidas pelo cenário concorrencial. A questão do posicionamento estratégico, portanto, não se trata de algo apenas a ser decretado sem a existência de um prévio diagnóstico conjuntural e planejamento. Partindo desse pressuposto, é fundamental que as empresas automobilísticas modifiquem as suas estratégias e sistemas produtivos com base numa reconstrução de seus princípios gerais de atuação, estando esses diretamente vinculados aos compromissos de governança estipulados em dado momento. Cada empresa ocupa o seu espaço no mercado e necessita desenvolver os seus negócios mediante o ambiente em que atua.
No início da década de 1990, devido a implosão do confronto entre os sistemas capitalista e socialista em âmbito mundial, a indústria automobilística experimentou uma série de efeitos que afetaram significativamente a definição de suas estratégias de lucro e de compromissos de governança. Estes, por sua vez, assim como a percepção da necessidade de adaptação das indústrias aos modelos econômicos e sociais de seus respectivos países, também foi outro fator que comprovou a tese de que é o “mundo” (ambiente externo) que modifica as condições gerais de funcionamento e gerenciamento da “máquina”(indústria).
Com o desenvolvimento econômico dos países emergentes e a consolidação das classes sociais médias no final do século XX, grande parte das indústrias automotivas decidiu migrar para diferentes mercados. Diante deste contexto, as montadoras tiveram que atender a demandas mundiais até então inexistentes. Entretanto, a imposição de uma necessidade de estar presente em todos os mercados a fim de enfrentar quaisquer eventualidades se configurou como algo arriscado, tendo em vista a inexistência de estratégicas arquitetadas de forma prévia e analítica.

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