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O IMPÉRIO DE DOM PEDRO II A era mais liberal da história do Brasil Daniel Pimenta Graduando, Relações Internacionais Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais – IBMEC/MG INTRODUÇÃO Dom Pedro II, foi imperador do Brasil de 1831/1841 a 1889, época de grande progresso e avanços na economia, industrialização e internacionalização do país. Um período áureo, que pode ser comparado no âmbito cultural à Era Elizabetana (1558-1606), com o desenvolvimento das artes e da literatura, e no âmbito cientifico à Era Vitoriana (1837-1901), sempre tendo como patrono o Imperador Dom Pedro II. Para além disso, um fato relevante é a estrutura do Estado Brasileiro durante o 2º Reinado. Existe uma divergência entre as correntes marxista e liberal. Alguns interpretam que o Brasil era um regime autocrático, uma monarquia absolutista e que, portanto, não era uma democracia, já outra corrente defende que o Brasil era uma democracia, com uma monarquia constitucional parlamentarista e com liberdades individuais garantidas pela Constituição e respeitadas pelo Estado. O IMPÉRIO EM NÚMEROS O Brasil era em 1880, era a 4ª economia do mundo, com uma taxa de crescimento de 8.81% ao ano e com uma média de inflação de 1.08% anual. O Réis, moeda brasileira durante o período, tinha valor equiparado à Libra Esterlina, moeda britânica, usada em transações internacionais. A Marinha Imperial Brasileira era a segunda maior marinha do mundo, atrás apenas da Marinha Real Britânica. Era composta por 107 navios de guerra modernos, entre eles incluía fragatas, corvetas, encouraçados e náus. Algumas das melhores embarcações de guerra da época era o Encouraçado de Esquadra Riachuelo e Encouraçado de Esquadra Aquidabã. A população brasileira no senso de 1872 chegava a 14 Milhões, a maior em toda a América Latina. Era composta por 38,1% de Brancos, 38,3% Pardos, 19,7% de Negros e 3,9% de Indígenas. O ESTADO BRASILEIRO NO 2º REINADO O Império Brasileiro, sem dúvidas, era uma democracia, onde se era assegurado o direito à expressão e a liberdade de imprensa. O poder do Imperador Dom Pedro II era limitado pela Constituição e qualquer lei proposta pelo Imperador precisava passar pelo parlamento. Assim como acontece em todas as Monarquias Constitucionais Parlamentaristas, cabia ao Imperador indicar o Presidente do Conselho de Ministros, e este indicaria os demais ministros de seu gabinete. Apesar, de deter o poder constitucional de dissolver o parlamento, Dom Pedro II nunca se utilizou deste artificio. A liberdade de imprensa era garantida e era a regra durante o 2º Reinado. A imprensa era livre tanto para pregar o ideal republicano quanto para criticar o Imperador, os políticos e as pessoas públicas em geral. O historiador José Murilo de Carvallho, considera que “Diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros.” além disso “Schreiner, ministro da Áustria, afirmou que o Imperador era atacado pessoalmente pela imprensa de modo que ‘causaria ao autor de tais artigos, em toda a Europa, até mesmo na Inglaterra onde se tolera uma dose bastante forte de liberdade, um processo de alta traição”. Dom Pedro II se colocava frontalmente contrário a qualquer tipo de censura à imprensa e dizia “Imprensa se combate com imprensa” A DEMOCRACIA NO MEIO DE REGIMES AUTOCRATICOS Em toda a América Latina, após os movimentos secessionistas e independentistas, surge o movimento republicano aliado ao autoritarismo. Ao mesmo tempo que fugia do absolutismo espanhol, os países hispano-americanos experimentam um novo tipo de absolutismo, as ditaduras republicanas, algo que se torna regra na América Latina até o fim do século XX. O Brasil por sua vez, faz o movimento contrário, baseando suas ideias independentistas nos Founding Fathers americanos, priorizando sempre a democracia, a regulação do poder e as liberdades aos cidadãos. Devemos levar em conta que a definição de democracia evoluiu ao longo dos séculos, e o que consideramos hoje como democracia, era impossível de ser aplicado no passado. O Império do Brasil, juntamente com os Estados Unidos, Reino Unido e alguns países europeus estavam na vanguarda do movimento democrático e eram sociedades consideradas livres, para este período histórico, e protetoras da liberdade de expressão e imprensa garantidas por leis positivadas. Outro ponto importante a ser ressaltado era que as liberdades civis eram profundamente respeitadas: o Brasil, mesmo tendo a Religião Católica como oficial, assegurava constitucionalmente o direito de cada grupo religioso realizar seu culto, seja lá ele qual fosse. A monarquia gozava de alta popularidade entre os setores judaicos e entre os religiosos de matriz africana. Naquela época isto era uma inovação, visto que eram poucos os países no mundo que admitiam liberdade de culto. As eleições eram realizadas periodicamente e rigorosamente seguindo o calendário eleitoral e o país nunca teve eleições adiadas ou antecipadas por conta de uma crise política. O Comparecimento era alto, para níveis da época, 13%, enquanto nos Estados Unidos não passava dos 8% e no Reino Unido dos 10%. No Brasil o movimento republicano que propunha publicamente a deposição do Imperador, apesar de ser um pequeno grupo, tinha a proteção do Estado para seu funcionamento. Jornais do movimento publicavam notícias e artigos de opositores políticos que criticavam o Imperador funcionavam normalmente que se limitava a escrever notas de próprio punho em replica às críticas sofridas, sendo sempre cordial, verdadeiro, sem jamais ofender seus opositores e até elogiava os bons feitos daqueles que os tinha. Isso acaba com o golpe de estado que levou a República onde s eleições são suspensas, os comandantes do país fecham o parlamento, proíbem o funcionamento de partidos e de jornais contrários ao governo, e o Estado passa perseguir, prender e executar seus opositores, seguindo os moldes das ditaduras latino-americanas. O Império Brasileiro era tão democrático, estável e respeitoso para com os seus cidadãos que o Presidente da Venezuela em 1889, Rojas Paul, ao saber do Golpe de 1889, declarou: “Foi-se a única República do Hemisfério Sul.” A QUESTÃO ABOLICIONISTAS A Família Imperial esteve na vanguarda na luta contra os escravocratas. Dom Pedro I escreveu repetidos artigos na imprensa contra a escravidão, a Família Imperial alforriou todos os seus escravos, Dom Pedro II usava o seu vencimento para comprar a libertação de escravos, além de ter enviado muitos escravos libertos para estudar no exterior e, finalmente, a Princesa Isabel sancionou a Lei Áurea, símbolo máximo da igualdade de todos perante as leis e talvez o mais importante documento que versa sobre Direitos Humanos no País. O Imperador e sua família era alvo constante de chacota da elite agrária escravocrata, pois não detinha nenhum escravo. Uma carta da Princesa Isabel ao então Visconde de Santa Victória, tratava de um projeto conjunto do Governo de Sua Majestade como banco do Visconde para indenizar todos os antigos escravos, fato que não ocorreu por conta do golpe republicano de 1889. Em 1870, poucos brasileiros eram contrários à escravidão, e ainda menos brasileiros opunham-se publicamente a ela. Pedro II era um dos poucos que o faziam, considerando a escravidão "uma vergonha nacional". O imperador nunca possuiu escravos. Em 1823, escravos formavam 29% da população brasileira, mas essa porcentagem caiu para 15,2% em 1872. A abolição da escravatura era um assunto delicado no Brasil. Escravos eram usados por todos, do mais rico ao mais pobre. Pedro II desejava pôr fim à escravidão gradualmentepara pouco impactar a economia nacional. Ele conscientemente ignorava o crescente prejuízo político à sua imagem e à monarquia em consequência de seu suporte à escravidão. O imperador não tinha autoridade constitucional para diretamente intervir e pôr um fim na escravidão. Precisaria usar todos seus esforços para convencer, influenciar e ganhar suporte entre os políticos para atingir sua meta. Seu primeiro movimento público contra a escravidão ocorreu em 1850, quando ameaçou abdicar a menos que a Assembleia Geral declarasse o tráfico de escravos africanos para o Brasil ilegal, algo que já defendia mesmo antes de assumir o trono. Após a fonte estrangeira do fornecimento de novos escravos ter sido eliminada, Pedro II dedicou sua atenção no começo dos anos 1860s em remover a fonte restante: a escravidão de crianças nascidas como escravos. A legislação foi feita através de sua iniciativa, mas o conflito com o Paraguai atrasou a discussão da proposta na Assembleia Geral. Pedro II abertamente pediu a gradual erradicação da escravidão na Fala do trono em 1867. Foi pesadamente criticado, e seu movimento foi condenado como "suicídio nacional". Opositores frequentemente diziam que "a abolição era seu desejo pessoal e não o desejo da nação" Por fim, foi decretada a lei "Lei do Ventre Livre" em setembro de 1871, sob a qual todas crianças nascidas de mulheres escravas após aquela data eram consideradas livres. A POLITICA EXTERNA DO 2º REINADO O Brasil, no século XIX, era um dos países mais respeitados do mundo. Tinha uma diplomacia vibrante, usada para fins nacionais e não políticos. O Brasil, recém-fundado, acompanhou com cautela as disputas sangrentas entre republicanos latino-americanos e, como manda a boa tradição, manteve prudência e continuou com a Monarquia como forma de governo, sempre buscando aprimorar suas instituições ao invés de destruir por interesses políticos. Durante toda a primeira metade do século passado, o Reino Unido, importante produtora de gêneros industrializados, buscava ampliar seu mercado consumidor. O país acreditava que essa ampliação dependia da abolição do trabalho escravo no continente americano. Portanto, desde a chegada de D. João VI ao Brasil – que foi auxiliada pela Coroa britânica – as autoridades inglesas pressionavam o governo brasileiro a abolir a escravidão. Esta demanda se chocava com os interesses dos grandes proprietários rurais brasileiros. Os britânicos acreditavam que a abolição deveria ocorrer de forma lenta e gradual: iniciaria pela extinção do tráfico negreiro, principal meio de abastecimento de mão de obra escrava em uma população cujo crescimento natural não era suficiente para a sua reposição. Devido aos adiamentos da decisão do governo imperial, as autoridades britânicas resolveram intervir: decretaram a Bill Aberdeen, dispositivo que permitia aos britânicos aprisionar navios que estivessem transportando africanos para o Brasil, apreender a carga e julgar a tripulação por crime, além do confisco da embarcação e da libertação dos africanos nas colônias britânicas no Caribe. Algumas apreensões foram feitas, o que abalou as relações entre Brasil e Reino Unido. Outro episódio marcante no relacionamento entre os dois países foi a chamada Questão Christie. Em 1861, um navio britânico, o Prince of Wales, naufragou nas costas do Rio Grande do Sul e sua carga foi pilhada por brasileiros. William Christie, representante britânico no Brasil, exigiu uma indenização de 3.200 libras, o que desagradou o governo imperial. Para agravar ainda mais a situação, pouco depois, três oficiais da marinha britânica, à paisana e completamente embriagados, foram presos pela polícia do Rio de Janeiro por provocarem desordens. Christie exigiu a imediata libertação dos oficiais britânicos, além da punição dos responsáveis pela prisão. O imperador Dom Pedro II concordou, inicialmente, em arcar com a indenização pelo saque do navio e também ordenou a libertação dos marinheiros britânicos, mas se recusou, terminantemente, a punir as autoridades brasileiras, que, segundo ele, agiram corretamente ao prender os arruaceiros. Em represália à decisão do imperador, Christie ordenou o aprisionamento de cinco navios brasileiros que se encontravam no Oceano Atlântico e os manteve como reféns até que a atitude do governo brasileiro se alterasse. Em resposta à atitude do embaixador britânico, centenas de pessoas se manifestaram nas ruas do Rio de Janeiro, insultando comerciantes ingleses radicados na cidade. Para arbitrar a questão diplomática envolvendo Brasil e Inglaterra, foi eleito o rei da Bélgica, Leopoldo I, que se manifestou a favor das atitudes do imperador Dom Pedro II e aconselhou o governo britânico a pedir desculpas ao Brasil, o que não ocorreu. Em 1863, as relações diplomáticas entre os dois países foram rompidas, apesar da manutenção dos contatos econômicos. REFERENCIAS CERVO, Amado Luiz. História da política exterior do Brasil. 2014. Editora UnB. 4ª Edição Brasília FAUSTO, Boris. A história do Brasil BARMAN, Roderick J. Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891 Stanford University Press. Stanfod BESOUCHET, Lídia Pedro II e o Século XIX 2ª ed. (Rio de Janeiro: Nova Fronteira) BUENO, Eduardo (2003). Brasil: Uma História (São Paulo: Ática) CARVALHO, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser (São Paulo: Companhia das Letras); LIRA, Heitor (1977). 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