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Tutela Antecipada Incidental

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Direito Processual
 Civil - Conhecimento
		Prof.: Heverton José Mamede
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE CEILÂNDIA - DF
EDSON ARANTES DO NASCIMENTO, brasileiro, casado, aposentado, inscrito no CPF sob nº. 123.456.789-10, RG nº 7654321, residente e domiciliado na Qnm 10 Conjunto 10 Casa 10 Ceilândia Sul, email eusouocara@gmail.com, vem por meio de seu procurador, com procuração anexa, perante Vossa Excelência, propor:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS 
Em desfavor da empresa CENTAURO (SBF) COMERCIO DE PRODUTOS ESPORTIVOS LTDA, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ sob o número 06.347.409/0069 - 53, estabelecida na Csb 02 Lotes 01 a 04, Taguatinga Sul - DF, CEP 72.015-901, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
 
DOS FATOS:
 .
O Autor por volta do mês de abril do presente ano dirigiu-se até a agência do Banco do Brasil situada próxima ao seu domicilio no intuito de retirar um empréstimo bancário.
Ocorre que, o Autor teve o crédito negado. Naquela ocasião foi informado que havia dois protestos em seu nome, emitidos na Região Administrativa de Taguatinga.
Surpreso com a notícia já que não estava em débito com nenhuma empresa, procurou elucidar o caso. Ato contínuo em contato por telefone foi solicitado ao cartório do 10° Ofício de Notas e Protesto de Ceilândia, uma certidão de protesto em nome do Autor.
 Compulsando a certidão supracitada (anexa) descobriu-se que o débito era oriundo de duas cobranças emitidas pela empresa Ré: 1º Título Nº 1000; 2º Título N.º1001 .
Todavia, o Autor desconhece o débito, não é devedor dos títulos supracitados, não fez nenhuma compra com a empresa Ré e também não autorizou que alguém a fizesse em seu nome. O Autor pessoa humilde, íntegra, sempre prezou pelo seu bom nome na praça, a dívida indevida que lhe foi lançada atingiu de pronto sua moral, sobretudo, tendo seu nome sido taxado no rol de inadimplentes.
Logo, o Requerente busca o amparo do Poder Judiciário visando a declaração de inexistência de dívida, a baixa do protesto em seu CPF e, uma indenização pelos danos extrapatrimoniais sofridos em virtude da inscrição indevida, pugnando por uma reparação pecuniária a fim de tentar ao menos amenizar os transtornos ocorridos frente à ilicitude movida pela empresa Ré.
DO DIREITO:
DA ILEGALIDADE DO DÉBITO E DA RESPONSABILIDADE DA EMPRESA REQUERIDA.
No presente caso, estamos diante de uma situação de protesto indevido, quando a dívida lançada não existe. O Autor não comprou e também não autorizou nenhuma compra perante a Ré.
Em que pese não tenha havido qualquer negócio entre o Autor e a empresa Requerida que ensejasse a cobrança em liça, aplica-se ao caso o Código de Defesa do Consumidor - CDC, por força do art. 17 do mesmo diploma legal.[1: ]
Quanto a responsabilidade da empresa Requerida, essa responde de forma objetiva pelos danos que causar, conforme reza o art. 14 do CDC, verbis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Nesse sentido:
RESPONSABILIDADE CIVIL. INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Ausência de prova da contratação do serviço que culminou com a inscrição do nome do autor em órgãos de proteção ao crédito.  Responsabilidade objetiva da empresa, a quem incumbia demonstrar o negócio jurídico. Inscrição indevida em cadastro de inadimplentes. Dano moral in re ipsa. Precedentes do STJ. 2. Quantum. Inexistindo critérios objetivos de fixação do valor para indenização por dano moral, cabe ao magistrado delimitar quantias ao caso concreto. (...) NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70066925207, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 25/11/2015)
Assim, após o lançamento imotivado das cobranças em nome do Autor, defluiu-se a responsabilidade da empresa Requerida, cabendo arcar com a reparação pelos danos que causou.
DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
Nos casos de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, em face da hipossuficiência do Autor em relação aos arbítrios das grandes empresas, neste caso de protesto indevido e restrição ao crédito, se faz mais que necessária a inversão do ônus probatório em favor do Requerente, consoante ao disposto no art. 6º, inc. VIII do CDC, para que a Requerida comprove nos autos a licitude da inscrição negativa.
Outrossim, impõem o Código de Processo Civil, no seu artigo 373, inciso II, no tocante a matéria probatória que se aplica ao presente caso, o qual determina ser incumbência da Requerida a produção da prova dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito da parte Requerente.
Com isso, cabe a empresa Requerida comprovar o negócio subjacente que gerou os protestos: 1º Título Nº 1000; e 2º Título N.º 1001. Por derradeiro, não apresentando nenhuma justificativa se faz necessária impor a exclusão dos débitos, bem como seja providenciada a baixa dos protestos em nome do Autor.
DA CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL.
Conforme já mencionado em tópico específico, o Autor teve lançados em seu nome protestos indevidos, haja vista que o Autor não está em débito com a empresa, não fez nenhuma compra e também não autorizou ninguém a fazer, portanto, são ilegítimas as cobranças em discute.
Quanto à reparação pelo dano moral, oportuno trazer a baila o Código Civil que em seu art. 186, e art. 927 assim estabelecem:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
A parte Ré agiu erroneamente incluindo o nome do Autor no rol de inadimplentes, por dívida inexistente, havendo claro nexo de causalidade entre a sua conduta e os danos sofridos pela parte Requerente.
O Autor ao tentar retirar um empréstimo no Banco do Brasil, viu sua solicitação ser negada ante os protestos indevidos lançados. A atitude da Ré causou danos ao Autor que teve cessada sua linha de crédito. 
Na mesma esteira, o dano moral no presente caso se deriva in re ipsa, ou seja, decorrem dos próprios fatos ilícitos. Logo, provada a permanência do Autor nos cadastros restritivos de crédito (doc. anexo) gerado o direito a indenização.
Nesse sentido vem se posicionando maciçamente a jurisprudência:
RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. PROTESTO INDEVIDO. INSCRIÇÃO NEGATIVA NOS ORGAOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. AUSÊNCIA DE PROVA ACERCA DA ORIGEM DO DÉBITO, DA AUTORIZAÇÃO PARA AQUISIÇÃO DA MERCADORIA OU ENTREGA NA CASA PESSOA CONTRATADA PARA REALIZAÇÃO DA OBRA. CONTRATAÇÃO E PAGAMENTO QUE SE LIMITOU AOS 18M³ DE CONCRETO. QUANTIDADE EXCEDENTE QUE NÃO PODE SER EXIGIDA DA AUTORA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM FIXADO EM R$ 8.880,00 QUE NÃO COMPORTA REDUÇÃO, POIS ESTÁ DE ACORDO COM OS PARÂMETROS ADOTADOS PELAS TURMAS RECURSAIS EM CASOS SEMELHANTES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71006215479, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Glaucia Dipp Dreher, Julgado em 26/08/2016)
RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. RELAÇÃO DE CONSUMO. PROTESTO INDEVIDO, ORIGINADO POR DÉBITO VINCULADO A COMPRAS FEITAS PELA FILHA DO AUTOR. AUSÊNCIA DE PROVA DA AUTORIZAÇÃO POR PARTE DO REQUERENTE. DANO MORAL CARACTERIZADO NA MODALIDADE IN RE IPSA. QUANTUM INDENIZATÓRIO FIXADO EM SEDE SENTENCIAL (R$ 7.780,00) QUE NÃO COMPORTA REDUÇÃO, POIS ARBITRADO EM CONSONÂNCIA COM OS PARÂMETROS UTILIZADOS PELAS TURMAS RECUSAIS CÍVEIS EM CASOS ANÁLOGOS. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO DESPROVIDO.(Recurso Cível Nº 71005530407, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Roberto Carvalho Fraga, Julgado em 29/10/2015)
RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE DESCONSTITUIÇÃO DE DÉBITOS CUMULADA COM DANOS MORAIS. PROTESTO INDEVIDO. COMPRA NÃO AUTORIZADA E NÃO REALIZADA. COBRANÇA INDEVIDA. SITUAÇÃO QUE CAUSOU VEXAME, VERGONHA E CONSTRANGIMENTO AO AUTOR PLENAMENTE INDENIZÁVEIS. INDENIZAÇÃO FIXADA EM R$ 7.240,00 QUE ESTÁ DENTRO DOS PARÃMETROS DAS TURMAS RECURSAIS. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO NÃO PROVIDO. (Recurso Cível Nº 71005218581, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Gisele Anne Vieira de Azambuja, Julgado em 28/11/2014)
Há de sopesar também que o Requerente é pessoa idosa, onde a sua vulnerabilidade é potencializada, tornando-se um consumidor hipervulnerável, merecendo ampla proteção jurídica.
Sobre o tema, já se manifestou o E. doutrinador Cristiano Heineck Schmitt :[2: ]
No que se refere ao consumidor idoso, assim como verificado em relação aos outros consumidores, como as crianças e os enfermos, sobressai o aspecto da vulnerabilidade potencializada, que se opta por designar de hipervulnerabilidade.”
A hipervulnerabilidade se justifica frente ao aspecto biológico, o idoso sente com maior intensidade o stress que lhe é causado.
Dessa forma, as esferas patrimonial e emocional foram plenamente atingidas, sendo que os efeitos do ato ilícito praticado pela Requerida alcançaram a vida íntima do Requerente, que viu quebrada a paz, a tranquilidade e a harmonia, originando sequelas que se refletem em sérios danos morais.
Em que pese o direito a indenização decorra da própria inscrição indevida, que por sua vez presume o abalo moral, esta ainda ficou sedimentada por todo o já exposto, desse modo, o Douto julgador no momento de arbitrar o quantum devido há que sopesar o caso concreto, onde o Requerente, pessoa idosa, sofreu veemente com a inclusão do seu nome no rol de inadimplentes. 
DOS PEDIDOS:
Ex positis, requer respeitosamente a V. Ex.ª:
A título de tutela provisória de urgência antecipada incidental:
A intimação da empresa Requerida, para que imediatamente promova a baixa da restrição de crédito que consta em nome do Autor sobre os dois títulos protestados: 1º Título Nº:1000 e 2º Título N.º 1001, sendo aplicada multa diária em valor a ser definido por este Douto Juízo, caso a empresa Requerida não regularize a situação, como medida preventiva para que se evite maiores danos ao Autor, uma vez que estão previstos os requisitos exigidos pelo artigo 300 do CPC;
O recebimento da inicial, com os documentos que a instruem;
A CITAÇÃO da empresa Requerida na pessoa de seu representante legal, no endereço inicialmente indicado, para comparecer à audiência de conciliação e, caso não haja acordo, possa oferecer sua contestação, sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos alegados;
 A aplicação do Código de Defesa do Consumidor, com a inversão do ônus da prova em favor do Autor, face à hipossuficiência e verossimilhança das alegações, consoante disposição do art. 6º, inc. VIII do CDC; 
Sejam tornados definitivos os efeitos da tutela provisória de urgência antecipada de caráter incidental e declarada inexigíveis as cobranças em testilha;
Seja condenada a Requerida ao pagamento de quantum indenizatório a título de DANO MORAL ao Requerente, em valor a ser fixado por este douto juízo, sendo sugerido o quantum debeatur em montante não inferior a dez salários mínimos, R$9.980,00 (nove mil novecentos e oitenta reais), levando em consideração os transtornos da inscrição indevida;
 A condenação da Requerida ao pagamento de custas processuais e de honorários advocatícios, caso haja atuação na seara recursal; 
Defira em favor do Requerente o benefício da Assistência Judiciária Gratuita, com arrimo no art. 98 do CPC, conforme declaração e comprovante de renda anexo; 
Seja assegurada a prioridade da tramitação, com fulcro no art. 71 da Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso), tendo em vista que o Requerente é pessoa idosa, conforme documento em anexo; e,
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos.
Dá-se a causa o valor de R$9.980,00.
Nesses termos, 
Pede deferimento.
 Brasília, 10 de abril de 2019.
Diego Armando Maradona Franco
OAB 19869/DF

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