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Resumo Psicologia Hospitalar.

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A experiência do Adoecer: uma Discussão sobre Saúde, Doença e Valores.
·	Saúde como ausência de doença.
·	Saúde como completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença. (definição da Organização mundial da saúde).
·	Saúde como um processo vivido singularmente, em nível orgânico e psíquico. (Dejours).
·	Saúde com base na normalidade estatística, ou seja, o que é mais frequente em maior parte de uma espécie.
·	Nietzsche apresentou a verdade e a ciência como ficções sustentadas por uma mesma perspectiva de valores. A palavra valor provêm do latim que significa " passar bem", Canguilhem em raciocínio por antonimia como "não valor" que significa estar doente, uma desvalorização, uma perda do próprio valor. Em oposição ao bem-estar, o estar doente seria nocivo, social e individualmente desvalorizado e indesejável.
·	Rotinas diagnósticas mecanizadas na caracterização de doenças, o processo de racionalização da medicina moderna baseia-se em abordagens objetivas e quantíficaveis, subestimando a dimensão psicossociocultural dos sujeitos. Os profissionais de saúde e seus pacientes pertencem à mesma cultura, mas ambos interpretam o processo saúde-doença de formas diferentes.
·	Os padrões sintomáticos que se repetiam em determinados padecimentos foram nomeados DOENÇAS, independentemente da variância individual do processo do adoecer. A doença passou a ser considerada um desvio do que se espera do organismo normal, uma perturbação passível de ser diagnosticada e tratada. Devido a necessidade de objetividade exigida pela ciência.
·	Em 1980 alguns médicos devido as insatisfações pela abordagem diagnóstica médica não levar em consideração a subjetividade dos indivíduos propuseram a abordagem denominada " Medicina Centrada na Pessoa". Método que por meio de uma escuta atenta e qualificada, objetiva um entendimento integral da vivência individual daquele padecimento, a fim de construir conjuntamente um plano terapêutico, estimulando a autonomia da pessoa no processo. Propõe uma humanização das ações dos profissionais. Constitui uma proposta para uma prática que não admite a doença como foco da intervenção do profissional e traz o sujeito e suas necessidades individuais ao primeiro plano da relação terapêutica.
·	Canguilhem aponta que a fronteira entre o normal e o patológico - sádios e doentes- frequentemente se dá por uma comparação com uma norma resultante da média esperada para uma população específica. Ainda que consideradas as exigências e o rigor do método científico, o autor afirma que uma média, obtida estatísticamente, não permite afirmar que determinado indivíduo é normal ou não. Existencialmente, o relevante não é a norma estatística, mas os desdobramentos e desencontros impostos à vida da pessoa e as consequências biopsicossociais que as intervenções focadas estritamente na dimensão biológica podem gerar. Como por Ex: A pessoa é privada de trabalhar e ter uma vida ativa como possuia antes do "diagnóstico", ou passa a ter restrições médicas que limita a prática de suas atividades antes rotineiras, a pessoa pode se sentir ainda mais doente e passar a apresentar outros sintomas.
·	O conhecimento dos profissionais de saúde estabelece claramente a fronteira entre o normal e o patológico, traduzida em um padrão que fundamenta diagnósticos e intervenções. Portanto, há uma flexibilidade em relação às condições individuais, estar doente passa a ser uma norma individual. Desta forma, o indivíduo é quem avalia a transformação do normal em patológico, porque é ele quem sofre as consequências no momento em que se sente incapaz de realizar as tarefas que a nova situação lhe impõe. É a partir do julgamento individual de estar doente que cada pessoa sente a necessidade de procurar assistência.
·	~> São os doentes que geralmente julgam - de pontos de vista muito variados- Se são normais ou voltaram a sê-lo. Para um homem que imagina seu futuro quase sempre a partir de sua experiência passada, voltar a ser normal significa retomar uma atividade interrompida, ou pelo menos uma atividade considerada equivalente, segundo os gostos individuais ou valores sociais do meio. Mesmo que essa atividade seja uma atividade reduzida, mesmo que os comportamentos possíveis sejam menos variavéis, menos flexíveis do que eram antes, o indivíduo não da importância assim a estes detalhes. O essencial, para ele, é sair do abismo de impotência ou de sofrimento em que quase ficou definidamente.
·	Um prática de negociação compartilhada e que considere a subjetividade do paciente é muito importante para reverter assimetrias na relação médico-paciente e suas consequências.
·	O "estar-doente" depende da percepção do sujeito em relação à sua condição. Sendo assim, encarar este momento de sofrimento pode, finalmente, ser positivo ou se tornar uma situação com consequências negativas, dependendo da cultura do médico e da maneira de encarar a vida do paciente.
O ser doente: uma visão à luz de Georges Canguilhem
·	A compreensão do SER DOENTE percebida por muitos profissionais centra-se numa dimensão anatomofisiológica, não levando em consideração as subjetividades dos indivíduos. 
·	Estar doente, vulgarmente, pode significar ser nocivo ou indesejável, ou socialmente desvalorizado. O que é desejável é a vida, uma vida longa, a experimentação de sensações agradáveis, a capacidade de relacionar-se, a possibilidade de trocar vivências e afetos, a capacidade de reprodução, a capacidade de trabalho físico e mental, a força física e energética, a ausência de dor, um estado no qual o corpo sente o mínimo de desconforto e percebe a agradável sensação de "ser no mundo".
·	Não há um doente efetivo, mas um processo em andamento e um "tempo doente vivido pelo ser", com possibilidades de resultados positivos na busca de ser saudável. Uma média obtida estatísticamente não permite dizer se determinado indivíduo é normal ou não.
·	O ser doente não é um ser anormal, é um ser que vivência uma doença e que tem várias possibilidades de restabelecimento do ser saudável, porém deverá encontrar para isso, o melhor caminho para compreensão de seu estado temporário para atingir novas dimensões de vida. Ser doente é, realmente para o homem, viver uma vida diferente, mesmo no sentido biológico da palavra.
O cuidado na ressignificação da vida diante da doença
·	As doenças interferem diretamente nos projetos existenciais das pessoas, exigindo uma ressignificação de suas vidas.
·	Os sintomas transmitem mensagens que podem transformar a vida do doente, constituindo-se em oportunidades de autoconhecimento. A compreensão da doença e a ação da pessoa diante dela são fundamentais na construção de um sentido, na interpretação da situação vivida em decorrência da doença e no entendimento como oportunidade (ressignificação) ou desventura (não-ressignificação). 
·	Ressignificação: re-interpretação do passado, elaborada pelas pessoas e sempre influenciada pelo ponto de vista que assumem no presente. É produzir sentidos para a experiência da doença. Implica um processo de subjetivação, no qual a pessoa passa a apropriar-se da sua doença e a operar um reordenamento na vida. A introdução da nova concepção no mode de viver, como resposta à doença, exige que a pessoa doente se situe no novo contexto existencial provocado pela doença.
·	O universo existencial constitui um espaço desestabilizado pela inquietação gerada pela nova situação decorrente da doença. A ressignificação implica enfrentar a situação e avançar do problema orgânico fisiológico para o problema humano existencial.
·	Os modos de pensar saúde implicam mudanças nas práticas de saúde. O cuidado é entendido neste contexto como interação entre dois ou mais sujeitos visando ao alívio de um sofrimento ou alcance de bem-estar. Cuidado então compõe as práticas de saúde mas não se reduz a elas, e sim um dispositivo que pode produzir subjetividade e ressignificação para as pessoas em situação de doença, uma vez que a ressignificação pode ser influenciada pelo ambiente sociocultural.
·	O cuidadonão se esgota como realização de técnicas e procedimentos profissionais terapêuticos objetivos. Ao contrário, possui um elemento subjetivo (capacidade de entender a dimensão subjetiva e existencial do ser humano) que remete para a dimensão humana e de sentido da existência.
·	A cultura científica percebe o corpo humano como uma máquina constituída de sistemas e órgãos, percebe a doença a ser tratada e não o ser humano doente. Fragmentando assim o indivíduo e contribuindo para que perca o significado, tornando-se mais difícil um saber unidimensionalizado. Portanto, a integração da cultura científica, com a humanista, voltada para o sentido da existência, como complementares e inseparáveis permite tratar a pessoa em sua integralidade. O sentido vivido pelo sujeito, na rede de significações e ressignificações qualificam seu estado de saúde/doença.
·	A doença, como fenômeno intimamente ligado à vida privada dos indivíduos, é, raramente, um caso isolado, ou seja, tem a ver com significados partilhados culturalmente sob influência do meio e da posição social do indivíduo.
·	A significação/ressignificação da saúde e da doença produz subjetivação. Na busca de sentido, os seres humanos interpretam suas experiências, incluindo a doença, fundamentados em referências simbólicas presentes nos significados socialmente aceitos. A subjetividade se faz de modo plural, ou seja, é nas múltiplas relações do homem com os outros homens e com o mundo que a subjetividade é produzida constantemente.
O ser "trabalhador de enfermagem" e o SER "doente" : considerações sobre o desempenho de papéis sociais.
·	A análise do processo de hospitalização pressupõe a tentativa de caracterização da trajetória individual do paciente, que se inicia com o ser e estar doente e que culmina com a inserção desse doente no sistema assistencial e tudo o que ele representa: A distância da família, dos amigos e da ocupação; O despojamento de direitos; A modificação de hábitos, na sua dimensão física-psiquica e social; A dependência de estranhos e, mais do que tudo, o cerceamento da liberdade e autonomia sobre o próprio corpo e a própria vida. Esse processo de enquadramento aos padrões institucionais se faz pela utilização de mecanismos coercitivos específicos, utilizados principalmente pela Enfermagem, configurando um contexto que culmina com a adaptação do doente como única forma de permanência no Sistema, abrangendo:
1.	 O ritual de iniciação: o início da despersonalização do doente. Por dependerem da internação as pessoas se submetem a um atendimento insatisfatório ( longas filas de espera, contraditório esquema de triagens, informações incompreensíveis e inacessíveis) objetivando o processo de quebra de resistências individuais, tornando explícita a necessidade de mudança de comportamentos como pré-requisito para a institucionalização. Aqueles que conseguem ultrapassar as barreiras tecno-burocratica alcançam a internação, fase mais aprimorada de despersonalização. Uma vez que internadas, as pessoas são despojadas de bens pessoais e do convívio com tudo e com todos que as identificam enquanto indivíduos, passando agora a desempenhar papel específico: o ser doente. Perdem a identidade, passando a ocupar um leito hospitalar ganhando, por isso, um número e um diagnóstico como substitutivo do próprio nome.
2.	Ritual de ajustamento (aceitação de valores da instituição como seus): Enquadramento nas rotinas do hospital (horário de banho, de refeições, de visitas, de medicação, de controles), e na delimitação de espaços, que raras vezes ultrapassam o próprio leito, dentre outras formas de manipulação da identidade individual. Tais rotinas são veiculadas como sendo indispensáveis ao bem estar do doente e, consequentemente, ao do hospital. Essa aderência às rotinas, por mais antinaturais que sejam, advêm tanto da paulatina perda da identidade valorizada e recompensada. Cuidados com o próprio corpo passam a ser prestados por funcionários. Hábitos e ritmos individuais são abolidos em defesa de rotinas coletivas.
3.	O ritual de isolamento: a família como instrumento de coerção. Além de ter seu papel alterado na estrutura familiar, transfomando-se num ser dependente, o doente passa a ter o seu comportamento extremamente vigiado. A sua permanência por tempo mais prolongado ou uma resposta não positiva ao tratamento podem ser condições interpretadas pela familia como um desajuste às regras e exigências do tratamento, um ato de rebeldia frente às expectativas institucionais, levando ao desencadeamento de recriminações ao invés de apoio.
4.	O processo de adaptação final: a submissão ao Sistema. Lentamente o indivíduo passa a assimilar o papel "ser doente" e passa a reproduzir tais valores. A despersonalização deverá caminhar da cópia à imitação das formas de controle exercido, agora, sobre outros doentes.
·	O "SER DOENTE": a docilidade como resposta à coerção.
1.	o processo de induzir o doente a renunciar à maturidade consequentemente faz emergir comportamentos mais característicos da infância ou adolescência. Uma vez destituído do seu eu, o doente tende a perder a responsabilidade e o poder de decisão sobre si próprio e sobre tudo o que lhe diz respeito. A vivência limita-se ao presente imediato, desvinculado de um passado que lhe foi negado e de perspectivas futuras que fogem da sua alçada.
2.	A negação em assumir responsabilidades frente ao próprio tratamento seria outro passo para a desintegração da pesonalidade enquanto expressão do enfraquecimento e de descontrole de sua vida.
3.	A projeção seria outro instrumento de defesa capaz de transferir para outros a razão de ser do seu comportamento infantilizado.
4.	o anonimato passa a ser valorizado na medida em que significa uma abstenção do processo decisório, uma diluição como tentativa de passar despercebido, representando ao tempo, uma segurança relativa e a desistência da própria personalidade. Finalizando esse caminho de negação do eu torna-se imprescíndivel a aderência aos esteriótipos institucionalmente valorizados: o do doente calmo, acessivel, dócil.
·	O desempenho desse papel de controle social acaba gerando como reação, defesas organizacionais e psicológicas peculiares: Nos Profissionais.
1.	Fragmentação do relacionamento profissional/doente, prevenindo-se do contato direto e, consequentemente da ansiedade decorrente, pela redução da assistência a tarefa separadas.
2.	A despersonalização, categorização e negação da importância da pessoa que passa a ser tratada não pelo nome, mas pelo número do leito ou pela doença ou órgão doente.
3.	Pela uniformização das condutas e dos doentes, gerando um atendimento determinado pela pertinência a uma categoria de doentes e minimamente pelos seus desejos e necessidades específicas.
4.	Pelo distanciamento e negação de sentimentos garantidos pelas frequentes mudanças na escala de serviços, meio pelo qual se inviabiliza qualquer possibilidade de interação interpessoal.
O ser doente no tríplice mundo da criança, família e hospital: uma descrição fenomenológica das mudanças existenciais.
Mundo do hospital
Equipe de saúde: percepção de si - A equipe é um ser-aí, com todos os seus sentimentos e preocupações existenciais. Revela-se uma mescla de ser que cuida e, ao mesmo tempo, necessita ser cuidado. É um ser de preocupação que, ao cuidar-se, cria um sistema de autorealimentação que lhe fornece energia para centrar-se no cuidado do outro.
·	Ser-aí no mundo do hospital
Para Heidegger o homem é existência, é um ser no mundo, o "ser-aí". existindo ele é. O estar no mundo dá condições ao ser de "vir a ser". É na relação com o outro, e através do outro, que o ser passa a assumir a sua existência humana, começa a conhecer-se e a reconhecer-se como um ser único, manifestando sua própria maneira de ser. A equipe da saúde também vivência os aspectos mais profundos da existência humana e revela, os significados que atribui à vida. (Sendo assim, passa a internalizar todo o processo de despersonalização).
O sentimento de situação.
O sentimento de situaçãoé um aspecto fundamental do Ser-aí. Este sentimento ou angústia é tomada de consciência do homem de sua situação indefinida, de sua desproteção e desamparo, lançado ao mundo independente de sua vontade. É uma realidade que todo o ser humano vivência. Auxilia enfrentar o cotidiano, a tomar consciência do sofrimento de estar lançado ao mundo. Portanto, necessita ser um ser de compreensão, pois o homem ao compreender-se, compreende o mundo.
A solicitude
É uma forma de relacionar-se com o outro. Uma relação mais envolvente, cujos ingredientes básicos são a consideração e a paciência com o outro. A solicitude, ou cuidar do outro, apresenta-se sob duas roupagens: Uma relaciona-se ao fazer tudo pelo outro, a outra possibilita ao outro crescer e amadurecer, descobrir-se.
A preocupação
O sentimento de cuidado e/ou preocupação é um traço forte na vivência do grupo. E é expressa de várias maneiras: sentem-se úteis, impotentes e frustrados ao desenvolver o cuidado no seu cotidiano.
Os sentimentos
No mundo do hospital estabelece-se uma relação de afeto e cooperação entre o paciente e a equipe, pois ao compartilhar do mesmo mundo formam uma comunidade existencial. No momento da separação (por alta ou óbito). A separação produz na equipe sentimentos de dor, tristeza, frustração e impotência, e nesse momento necessita de suporte psicológico para enfrentar a perda tão frequente na realidade existencial do mundo do hospital. o não saber sobre a cura dos pacientes produz um sentimento de frustração.
·	Enfrentar a Doença
O estar-aí da equipe torna-se parte do mundo do hospital. Sua presença confunde-se com a tarefa de preservar a vida, utiliza-se de seus conhecimentos e de todos os instrumentos terapêuticos disponíveis para mantê-la. A equipe passa a integrar o existir do ser doente e da família, incorporando-os à sua realidade existencial.
O cuidado
É compreendido a partir do encontro com o outro, é um processo complexo, com uma variedade de significados, envolvendo o ser doente, a família e os integrantes da equipe. (Valor da vida, qualidade de vida, resgate da sensibilidade, afeto e solicitude)
Viver significa celebrar o estar no mundo com o outro, ser saudável e poder desenvolver suas possibilidades de ser-no-mundo. A doença é uma dimensão existencial, é um elemento "natural" possível de ocorrer na vida de qualquer ser humano. Entretanto, quando presente na vida do ser, a doença é um elemento desestruturador, atuando em todas as áreas do seu mundo, é responsável pelo sofrimento e pela dor que o ser passa a vivenciar. A doença significa uma ameaça à existência do ser, uma agressão à sua corporeidade.
A vivência da doença gera, para o ser uma situação de impotência, de impedimento, o que dificulta suas relações com vários setores do mundo. O ser desestrutura-se como ser biológico e simbólico ao ingressar no mundo do hospital, mundo em que as perdas se sucedem, onde dor e sofrimento fazem parte do cotidiano. A doença víncula o ser com o mundo de maneira dolorosa, expondo uma gama de sentimentos, ações e reações ao vivenciar esta realidade. Combater a doença é uma caminhada árdua, difícil, com muito estresse e sofrimento do ser-no-mundo do hospital.
A finitude
O ser humano, como manifestação da vida é uma combinação de energias e talentos. Traduz uma maneira própria de ser, sentir e agir no mundo mas, na essência do existir, está implícita a finitude. A morte é um elemento da existência. O confronto com o limite da vida provoca sentimentos de impotência e angústia, pois ao enfrentar a morte do outro, de maneira consciênte ou inconsciente, o ser humano defronta-se com a própria finitude, e daí advém o estresse exarcebado.
A família e a doença
A meta do mundo do hospital e da família é preservar a vida do paciente agora ameaçada. O cotidiano da família transforma-se, sofre com experiência do ente doente. A doença é responsável pela crise que passa a vivenciar. A doença aflora muitos sentimentos na relação famíliar podendo provocar desequilíbrio e sofrimento.
O sentimento de perda
A angústia de viver com a incerteza do futuro está expressa na fisionomia. Convive com as perdas da corporeidade e com a limitação so seu espaço no mundo. Tem que redimensionar-se para assumir esta nova realidade.
A imagem da criança com doença
A dor fisíca, o sofrimento, a depressão, a revolta e a vontade de viver são fatores incorporados à sua existência. A pessoa doente percebe a fragilidade da sua vida, as alterações de sua corporeidade e as limitações que passa a viver. Expressa uma profunda tristeza ao reconhecer, conscientemente ou intuitivamente, sua condição de estar doente e as implicações deste fato ao viver o dia-a-dia do tratamento.
No hospital
O ingresso no mundo do hospital é sinônimo de sofrimento e dor, mas também simboliza a possibilidade de cura, de retorno à vida normal. O significado de preservar a vida, no seu sentido mais profundo é revelado no mundo do hospital. O hospital é uma realidade distinta do mundo da família, ali compartilha a doença, o tratamento, os sucessos e insucessos com outras famílias e com a equipe de saúde. É o local dos medos, incertezas e esperanças nas possibilidades futuras do ser doente.
Tratamento
Tratamentos longos geram desgaste emocional e físico, requer persistência e esperança. É importante a família adotar estratégias que auxiliem a diminuir o estresse e dar segurança ao paciente, como reunir informações sobre a doença e tratamento. Quando o paciente é informado sobre sua doença, sente-se respeitado e com autonomia. Essa atitude incentiva a sua participação no tratamento e no autocuidado e mostra-se mais tranquila ao saber contra o que está lutando.
o sentir é personificado pelo seu corpo, através da postura, na conduta, no humor.
 "Ser" doente / "Estar" doente
Genericamente, "ser" remete a um traço, e "estar" a um estado. Por traço entende-se uma característica inerente, invariável e estruturante de algo, enquanto que a noção de estado remete para uma dimensão mais transitória, causal/acidental e não estruturante. Por conseguinte, "ser" algo implica o juízo predefinido de que nunca vamos deixar de o ser, e "estar" acarreta a ideia preconcebida de que, mais cedo ou mais tarde, iremos mudar. Tal diferença de conceito pode permitir a noção de transitoriedade do sofrimento psíquico do paciente, bem como a descentralização da patologia no seu Eu.
A percepção do paciente, para o clínico, induz de forma inevitável a sua atitude clínica e terapêutica. Para adquirir uma função realmente terapêutica, é necessário existir, da parte do clínico, uma tomada de intelecção do paciente como pessoa, ao invés de uma patologia. A história, os desejos, medos, valores, princípios, sonhos e ambições do paciente devem ser tomados como fundamentais, numa curiosidade verdadeiramente humana, relacional e emotiva.
Não existe nenhum médico, psicólogo, psicanalista ou psicoterapeuta que trate doenças. Todo o clínico trata, sim, pessoas que sofrem de uma doença. Nenhuma patologia existe per si, dissociada do corpo e da mente de quem afecta. Como tal, o clínico deve focalizar a sua percepção, nuclearmente, na pessoa do paciente que se encontra afectado pela doença. A pessoa não "é" doente, no sentido de que a doença define quem ele é, mas quem ele é "está" afectado pela doença, mesmo que se trate de uma patologia crônica e/ou progressiva.
A doença deve ser sempre realçada ao paciente como uma característica, conquanto indesejável, acessória e nunca definitiva ou reveladora de quem ele(a) é como ser humano. Insistir na distinção dizendo que "você não é ansioso(a), você é uma pessoa que sofre de ansiedade" permite perceber ao paciente a real distinção entre aquilo que é o seu diagnóstico e aquilo que o define como pessoa.
Uma grande parte da responsabilidade de os pacientes se submergirem no peso rotulador do seu diagnóstico é, ironicamente, dos próprios clínicos, que muitas vezes são facilmente seduzidos pelos tratados de psicopatologia, critérios de seriação sintomática, descrições psicopatológicase taxonomias nosográficas, reduzindo todo o conhecimento que poderiam obter do seu paciente ao seu sextante bibliográfico (como por exemplo o DSM-IV), o que desemboca inevitavelmente no trilho antagônico àquele que é, por definição, clínico: em vez de adaptarem o seu conhecimento aos pacientes, adaptam os pacientes ao conhecimento…

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