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APOSTILA CAPÍTULOS I, II, III E IV (1)

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ECONOMIA E FINANÇAS
NOTAS DE AULAS DO PROFESSOR
 RAYMUNDO JOSÉ SANTOS GARRIDO
ÍNDICE
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
Por que convém ao (à) estudante de engenharia estudar
 economia e finanças .........................................................................................	04
Os agentes econômicos .....................................................................................	05
Necessidades humanas ......................................................................................	06
Bens e serviços ...................................................................................................	07
Objeto do estudo da economia .........................................................................	08
Fatores de produção ..........................................................................................	09
Escassez e fronteira de possibilidades de produção ..........................................	11
Consumo suntuário ............................................................................................	13
Questões econômicas fundamentais e sistemas econômicos ...........................	14
O quê produzir ...................................................................................................	15
Como produzir ...................................................................................................	15
Como distribuir a riqueza produzida .................................................................	16
Breves notas sobre as teorias do valor ..............................................................	17
O uso de modelos na análise de problemas econômicos ..................................	18
Vantagens comparativas ....................................................................................	19
Lei da procura e da oferta .................................................................................	20
Excedentes econômicos .....................................................................................	21
Excedente do consumidor .................................................................................	22
Excedente do produtor ......................................................................................	22
Fluxo circular da riqueza ....................................................................................	23
Economia, ciências e áreas afins ........................................................................	25
Relação da economia com a engenharia em suas diversas áreas ......................	28
Microeconomia e macroeconomia ....................................................................	30
Economia normativa e economia positiva .........................................................	31
Comentários adicionais ......................................................................................	31
CAPÍTULO 2
NOÇÕES DE MICROECONOMIA
Objeto do estudo da microeconomia ................................................................	33
Oferta, procura e estática comparativa .............................................................	33
Interferências governamentais na economia ....................................................	36
Tributos ..............................................................................................................	36
Subsídios ............................................................................................................	38
Política de preço máximo ..................................................................................	41
Política de preço mínimo ...................................................................................	42
Outros tipos de interferência do governo no equilíbrio de mercado ................	44
Teoria da firma ..................................................................................................	44
Produção e custos ..............................................................................................	44
Produto total de um fator variável ....................................................................	45
Produto médio de um fator variável .................................................................	46
Produto marginal de um fator variável ..............................................................	46
Síntese da análise no curto prazo ......................................................................	46
Síntese da análise no longo prazo: conceito de isoquantas ..............................	48
Restrição orçamentária e a otimização do processo produtivo
 no longo prazo ..................................................................................................	49
Funções de custo ...............................................................................................	52
Custo total .........................................................................................................	52
Custo médio .......................................................................................................	53
Custo marginal ...................................................................................................	53
Custos fixos e variáveis ......................................................................................	54
Curvas de custo no curto e no longo prazos ......................................................	54
Rendimentos e lucros ........................................................................................	56
Maximização do lucro e utilização dos insumos ................................................	56
Rendimentos em função dos níveis de produção ..............................................	56
Rendimento total ...............................................................................................	57
Rendimento médio ............................................................................................	57
Rendimento marginal ........................................................................................	57
Lucro ..................................................................................................................	57
Curvas de rendimento .......................................................................................	58
Síntese apertada da teoria do consumidor ........................................................	59
Abordagens cardinal e ordinal ...........................................................................	59
Preferências e curvas de indiferença .................................................................	60
Taxa marginal de substituição ...........................................................................	61
Restrição orçamentária e a otimização da escolha do consumidor ..................	62
Equilíbrio do consumidor ...................................................................................	63
A função de demanda ........................................................................................	64
Noções básicas sobre elasticidades ...................................................................	66
Elasticidade-preço da demanda .........................................................................	66
Elasticidade-preço da oferta ..............................................................................	67
Classificação dos coeficientes de elasticidades-preço da demanda
 e da oferta ........................................................................................................	68
Elasticidade-renda .............................................................................................	68
Elasticidade cruzada-preço da demanda ...........................................................	69
Breve estudo seletivo dos mercados .................................................................	70
Mercadosde bens de consumo .........................................................................	70
Principais características da concorrência perfeita ...........................................	70
Síntese do equilíbrio em concorrência perfeita .................................................	71
Breve estudo do monopólio ..............................................................................	74
Notas sobre os oligopólios .................................................................................	79
Concorrência monopolística ..............................................................................	83
Mercados de fatores de produção .....................................................................	84
Concorrência pura e concorrência perfeita dos fatores de produção .............. 84
Monopsônio ..................................................................................................... 84
Oligopsônio ...................................................................................................... 85
Concorrência monopsonística..............................................................................87
Monopólio bilateral ...........................................................................................87
Conclusão ..........................................................................................................88
CAPÍTULO 3
NOÇÕES DE MACROECONOMIA
Generalidades ……………………………......…........................................................……	89
Conceitos básicos …………………………..………..............................................…........	90
Estoques e. Fluxos …………………………...............................................……......……..	92
Produto e renda: abordagem preliminar ……………….....…….............................…	93
PIB e deflator ………......…………………............................................................………	94
PIB e PNB ……………………….…….....................................................……….......………	96
Produto potencial e hiato de produto …………………....................................………	97
PIB e PNB a preços de mercado e a custos de fatores ………................……….……	98
Produtos interno e nacional brutos e líquidos …………………........................……..	98
Identidades macroeconômicas básicas ………………………………............…………..….	99
Equilíbrio macroeconômico ………………………………...................................…………	99
Decomposição do investimento ………………………………………….................………….	101
Origem dos recursos para investimento …………………………………....………............	102
Origem dos recursos para financiar o déficit público ………………........................	103
Decomposição da renda nacional …………………….………………………......................	104
Determinação da renda …………………………………………………………….................……	105
Síntese do modelo clássico …………………………............………………….....………......…	105
Síntese do modelo keynesiano …………………………………………….............…......……	107
Síntese do modelo ISxLM ……………………………..........…..........................……........	112
Outros modelos …………………………………………………………….........................……….	114
A taxa de juro ……………………………………..........................................….......………..	115
Determinantes do Investimento ………………………………………….......……….............	116
Inflação ……………………..............…………....................................................……......	118
Tipos de inflação e comentários sobre fatores determinantes .….................…..	118
Notas sobre a teoria quantitativa da moeda ………………………....…................……	121
Efeitos do processo inflacionário ………………………………………....................….......	123
Breve referência à curva de Phillips ………………………………………...........….........…	124
Metas de inflação ……………………………............................................................…..	125
Desemprego e emprego …………………….………………………………................…......….	126
Câmbio ………………………………………………………….......................................……......	128
Taxa nominal e taxa real de câmbio ………………………....................................……	129
Regimes cambiais ………………………………………….....................................……….....	130
Atuação dos governos no mercado externo ……………………………………............….	132
Tópicos especiais …………….………………………..................................................…….	132
Dívida Pública …………………………………………..........................................….......…..	132
Algumas notas sobre o crescimento econômico ……………...........……..............…	134
Medida do custo de vida …………………………………………….....................………........	135
Elementos do arcabouço institucional e componentes do 
instrumental da aplicação dos conceitos macroeconômicos …….….....……	138
Contabilidade nacional ………………………..…………..................................…….........	138
Moeda e bancos ………………………………….……………………….........................…........	139
Breves notas sobre a história da moeda ……………………………………….......……......	139
Funções da moeda ………………………………………………………………………........…….....	141
Demanda por moeda ……………………………………………………………..……................…	142
Características da moeda …………………………………………………………...........……......	142
Papel dos bancos ………………………….....………..........................................…….......	143
Oferta monetária ……….....……………………………….......................................….......	143
O processo de criação de moeda ……………………………………………………...........…..	144
Encaixe técnico ………………………………………………………................................….....	145
Base monetária. Política monetária …………………….................................…......…	146
Mercados financeiros ………………………………....................................................….	147
Alguns comentários à economia brasileira recente ………….......................…......	147
Sobre a taxa de juro …………………………………………………………………………..........….	147
 O Risco-País ……………………………………………….....................................................
	149
Superávit primário ……………………………………..........................................…….	150
Déficit público …………………….....................……............................................	152
Política tributária e desigualdade: consumo das famílias ………………….......…	152
Política tributária: o peso das obrigações sobre setores produtivos 	..........	153
Comentários finais ……….………………………………..........................................…	154
CAPÍTULO 4
ASPECTOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS DE UM EMPREENDIMENTO DE ENGENHARIA
Notas preliminares .......................................................................................	155
Motivação para o estudo ..................................................................................	156
Níveis de abordagem do problema ............................................................. .....	156
Breves notas sobre a análise de custos e benefícios ........................................	157
Indicadores de mérito dos projetos ..................................................................	157
Valor Presente Líquido ......................................................................................	158
Taxa interna de retorno (TIR) ............................................................................	158
Razão de custos e benefício ..............................................................................	159
Payback ..............................................................................................................	159
Síntese das vantagens e desvantagens dos indicadores considerados ............	159
Taxa mínima de atratividade ............................................................................	160
As óticas de mercado e social na avaliação de projetos ..................................	161 Fases de elaboração e componentes do projeto para a
avaliação econômica .........................................................................................	161
Pesquisade mercado ........................................................................................	162
Tamanho do empreendimento .........................................................................	162
Projeto de engenharia e processo associado ....................................................	164
Localização .........................................................................................................	164
Investimento ......................................................................................................	165
Custos e receitas ................................................................................................	166
Financiamento ...................................................................................................	166
Subsídios para a avaliação de projetos sob a ótica social ..................................	166
Correção de falhas de mercado como medida para a racionalida
 dos gastos públicos ...........................................................................................	167
Variações Compensatórias como medida de convivência
 com as externalidades ......................................................................................	168
Preços sociais .....................................................................................................	169
Determinação dos Preços Sociais ......................................................................	170
Preço social do capital ou taxa social de desconto ............................................	170
Preço social da terra: .........................................................................................	171
Preço social do trabalho ....................................................................................	172
Preço social de um insumo básico .....................................................................	172
Preço social da energia ......................................................................................	172
Preço social da taxa de câmbio ..........................................................................	173
Breve estudo de caso: um projeto pecuário fictício ..........................................	174
�
introdução______________________________________________
capítulo 1
PAREI AQUI
01. Por que convém ao (à) estudante de engenharia estudar economia e finanças?
A engenharia é uma profissão fascinante! Por seu intermédio, o(a) profissional transforma recursos e riquezas em outras riquezas, adicionando-lhes valor. Esse valor adicionado constitui um importante conceito econômico que, desde estas primeiras linhas, insinua uma relação entre engenharia e economia. bem ou serviço que estará à disposição do uso ou consumo da sociedade.
Cada indivíduo depende dos demais para atender às suas necessidades. Alimentos, remédios, moradia, vestuário, educação, transporte e outros requisitos básicos para viver, tudo isso é resultado dos esforços de muitas pessoas que trabalham, de modo organizado ou não, em firmas e outras fmas de organizações produtivas, ou, ainda, individualmente. A relação de dependência entre os indivíduos e, entre estes e as firmas, outros tipos de organização, privadas e públicas, bem como das organizações entre si, implica trocas de bens e serviços.
Nos primórdios da cultura humana, as trocas eram feitas usando-se apenas as mercadorias. Desse modo, o indivíduo que precisasse de determinado alimento, o milho por exemplo, e dispusesse de cevada, teria que encontrar um outro indivíduo que precisasse da cevada e, ao mesmo tempo, dispusesse do milhoque preenchesse o seu interesse para que a troca pudesse ser negociada e efetivada.
Com o tempo, algumas mercadorias mais comuns passaram a ser utilizadas como moeda. O gado, o sal, a própria cevada ora referida, o arroz foram utilizados como moeda em distintas épocas e lugares como será comentado na seção sobre a História da Moeda, no Capítulo 3 deste Curso. A moeda, tal como é conhecida hoje, é, portanto, uma mercadoria que substituiu as que foram anteriormente utilizadas ao longo da história. Mas trata-se de uma mercadoria com uma característica que não se encontra em nenhuma outra que é a aceitação incontinenti quando oferecida em troca de uma mercadoria ou serviço. É tão especial essa troca que é conhecida como operação de compra e venda: o comprador entrega moeda ao vendedor que, em contrapartida, entrega a mercadoria ou presta o serviço ao comprador. Moedas compram, inclusive, outras moedas (operação de câmbio).
Ora, o(a) profissional de engenharia tem necessidade de conhecer os custos dos bens que produz. O custo de uma obra, tanto quanto o custo da energia produzida ou do serviço de saneamento prestado ou, ainda, o custo do produto industrializado produzido, bem como os custos de muitos bens e/ou serviços produzidos constituem tema inerente à carreira do(a) engenheiro(a).
Sucede que a determinação de custos de produção é passagem obrigatória no contexto da formação de preços dos bens e serviços, os quais não se atêm unicamente ao conhecimento dos custos, implicando a necessária avaliação das características da demanda por cada bem e serviço, uma vez mais impulsionando o(a) estudante de engenharia em direção à necessidade dos estudos econômicos. Esses aspectos nada bastassempara revelar a necessidade de o(a) estudante de engenharia se familiarizar com o estudo da economia, são reforçados por razões igualmente relevantes que resultam do fato de os(as) profissionais da engenharia e a sociedade em geral habitarem um mundo no qual o comportamento dos agregados econômicos afeta os preços, as receitas, os lucros, o valor da moeda, a desvalorização ou a valorização desta, a formação da riqueza bruta de cada país, as trocas entre países, entre muitos outros elementos da análise macroeconômica, segmento dos estudos econômicos que agasalha a análise dos referidos agregados.
Por fim, as finanças são uma relevante parte dos estudos da economia eis que tratam dos diversos mecanismos associados ao uso da moeda e outros meios de pagamento em um multivariado ambiente de transações entre consumidores, produtores e governos. Nesse contexto, os títulos de crédito, os descontos de títulos e duplicatas na rede bancária, os valores das ações das companhias nas bolsas de valores e o mercado de moedas estrangeiras alinham-se, entre muitas outras, a peças do conhecimento das finanças que interessam, em maior ou menor medida, ao(à) engenheiro(a), dependendo da oportunidade em que vá fazer uso de cada um desses instrumentos do mundo financeiro.
02. Os agentes econômicos
Na seção precedente, comentou-se sobre o interesse do(a) profissional da engenharia a respeito dos problemas econômicos. Mas a economia interessa a uma gama mais ampla de pessoas. Com efeito, os problemas econômicos sempre foram objeto das preocupações de governantes, monarcas, dirigentes públicos, empresários, professores e pesquisadores, sociólogos, filósofos e pessoas de inúmeras outras qualificações ou posições em face da sociedade, porque a economia sempre esteve presente na tomada de decisões das pessoas.
As relações econômicas são uma constante em qualquer sociedade, permeando o ambiente humano e regendo as relações entre pessoas, entre estas e empresas, do governo com as firmas e com as pessoas, fazendo aparecer em cena a figura do agente econômico, que nada mais reflete senão o papel desempenhado pelo ser humano em suas múltiplas formas de atuar, ora como consumidor, ora como produtor, ora como agente público.
A condição de consumidor que caracteriza o indivíduo procede das necessidades deste, questão explorada na seção 3, deste capítulo. Em verdade, as necessidades humanas são o elemento motor do processo econômico porquanto, para serem satisfeitas, implicam a necessidade de ter quem produza os bens e serviços que satisfarão as demandas, ao mesmo tempo em que implicarão a necessidade de um sistema organizadode atividades econômicas, sociais e políticas que dependem de um governo. Daí surge o conjunto de agentes econômicos: consumidores, produtores e governo.
Freqüentemente, ao atuar como produtor, o ser humano faz uso de um artifício muito presente em sistemas econômicos de livre iniciativa. Esse artifício é a firma, que emprega pessoas e é igualmente comandada por pessoas. No estudo da economia, a firma é um instrumento cuja importância é tão significativa que impõe a análise de seu comportamento em compartimento próprio do estudo da economia: a teoria da firma, tópico da análise microeconômica, a ser abordada no contexto do Capítulo 2 deste Curso.
Conforme indicado, é a organização para a produção que dá lugar ao conceito de firma ou empresa como unidade produtiva voltada para o atendimento ao mercado consumidor de seus produtos e/ou serviços, a jusante da cadeia de relações interssetoriais, portanto, e, também, defrontando-se com os mercados fornecedores de matérias primas e insumos, a montante dessa mesma cadeia ena condição de compradora de tais primas matérias e insumos para realizar a sua produção.
À comunidade de indivíduos, agrupados por famílias, dá-se a denominação de consumidores, e à coletividade de empresas dá-se o nome de produtores. Esses dois conceitos são muito importantes em qualquer sistema econômico de livre iniciativa. Os produtores produzem o que os consumidores consomem, mas, em inúmeras ocasiões, há excesso ou escassez da quantidade produzida de um bem e/ou serviço em relação à quantidade consumida, o que caracteriza o surgimento de determinados problemas econômicos. Assim, o desbalanceamento entre oferta e demanda costuma ser, em grande número de situações, a origem de um problema de natureza econômica.
Conforme mencionado, além dos produtores e consumidores, um sistema econômico incorpora, também, o governo, que é a representação da sociedade, estruturado de acordo com a constituição de cada país. O governo atua, em nome do estado�, planejando, regulando, estimulando, inibindo, coibindo, monitorando e fiscalizando o conjunto da sociedade, orientando-a para o desenvolvimento e para a busca do bem estar coletivo.
O governo atua, portanto, como um importante agente do processo econômico, na privilegiada condição de emissor das leis, normas e regulamentos jurídico-administrativos que regem a vida dos agentes econômicos. É justamente analisando o comportamento dos agentes econômicos e suas conseqüências para a sociedade que se desenrolará o presente Curso de Economia e Finanças. Essa análise será procedida, tanto quanto possível, com um olhar dirigido para o interesse da formação profissional e científica do(a) engenheiro(a), e se cingirá, neste primeiro Capítulo, à introdução dos principais conceitos que serão explorados nas demais partes do Curso.
03. Necessidades humanas
Todo o indivíduo carrega consigo necessidades que pretende vê-las satisfeitas. Alimentar-se, instruir-se, repousar, fazer recreação, formar um patrimônio, todas são, entre inúmeras outras, necessidades inerentes à vida do ser humano. Conforme se percebe, essas necessidades são bastante heterogêneas. Não se pode comparar, por exemplo, a necessidade de o indivíduo alimentar-se todos os dias com aquela vontade que ele tem, por exemplo, de viajar, a turismo, para o exterior. A primeira é básica, enquanto que essa última é supérflua.
Em seu trabalho intitulado Política, Aristóteles já classificava as necessidades em físicas e morais. As necessidades físicas, também ditas corporais, resultam das demandas do corpo humano para o seu funcionamento, associadas a hábitos adotados pelo ser humano. Comer e vestir-se diriam bem de um e de outro tipos dessas necessidades físicas ou corporais. Quanto às necessidades morais, também referidas como necessidades espirituais, estas procedem da componente psíquica do indivíduo, refletindo o desejo do conhecimento intelectual, da criação artística e de outras formas de manifestação do intelecto.
As necessidades físicas podem ser classificadas em necessidades biológicas ou absolutas, e necessidades relativas ou da existência social. As necessidades biológicas estão relacionadas com as funções vegetativas do corpo humano, mas nem todas têm significado inteiramente econômico.
As necessidades próprias da existência social são aquelas criadas pelo homem em razão da vida em coletivo que, com o tempo, fez aparecer hábitos, sedimentando costumes e normas de civilidade. Por exemplo, o uso da gravata não chega a ser um hábito indispensável ao indivíduo ao trajar. Igualmente, o uso de brincos e outros adornos pode ser dispensável. No entanto, ambas as necessidades foram se firmando como resultado de hábitos adquiridos, e são cambiantes de indivíduo para indivíduo, daí porque a denominação de necessidades relativas.
As necessidades morais ou espirituais são subjetivas e resultam de diferentes tipos e estágios de desenvolvimento das diversas culturas. Assinala-se que nem todas têm repercussão econômica, como é o caso, por exemplo, das inquietações filosóficas do indivíduo que, a menos que gerem algum tipo de demanda implicando a aquisição de bem e/ou serviço, ou que, de outro lado, gere algum tipo de oferta de bem e/ou serviço, não têm significado econômico. Para ter sentido econômico, a necessidade moral deverá implicar o uso de salário e/ou outra forma de renda do indivíduo para vê-la satisfeita, ou de seu próprio trabalho para criá-la, e/ou, ainda, da faculdade de poder ser submetida a troca por alguma outra mercadoria.
Por fim, há as necessidades coletivas que, embora advenham de necessidades individuais, são decorrência da vida em comum e não podem ser alcançadas por cada indivíduo isoladamente. É nesse ponto que o estado assume o papel de provê-las à coletividade, para tanto fazendo uso da arrecadação de recursos, isto é, do resultado da tributação, e de sua estrutura organizacional, com a qual promove ações nos setores de educação, segurança, saúde, habitação, transportes e uma série de outros serviços. As necessidades coletivas têm grande significado social porque, conforme referido acima, são providas pelo estado mediante o recebimento de pequenas quotas (tributos) de cada um de seus membros, para formar os recursos com os quais proporcionará a cada um os bens e/ou serviços de que necessitem, mas que dificilmente poderiam ser providenciados ou gerados por cada indivíduo isoladamente.
Bens e serviços
Os bens são quaisquer elementos que se prestam à satisfação das necessidades humanas. Em geral provêm da natureza, podendo estar em seu estado original ou já ter passado por algum tipo de transformação. A madeira em tronco de árvores recém derrubadas está, para efeitos práticos, em seu estado original. Os móveis fabricados com essa madeira, no entanto, já são produtos trabalhados que modificaram a matéria prima original. Ambos constituem bens econômicos.
Considerando que os serviços também servem para a satisfação das necessidades humanas, as referências que se fizerem a bens, neste texto, serão feitas por meio da expressão bens e/ou serviços de um modo geral. E, a menos nos casos em que se omita adrede e justificadamente a palavra serviços, a palavra bens, quando utilizada nos demais casos, deve ser tomada pela mencionada expressão.
Em geral, os bens são de natureza material, palpável, enquanto que os serviços podem ter, total ou parcialmente, um caráter intangível como vários serviços profissionais, a segurança pública e outros mais. Portanto, alguns serviços são compostos de uma parte intangível e outra material. Tal é o caso, por exemplo, dos serviços de restaurante, que trazem, em conjunto, os cuidados com o bem estar do comensal por meio de um ambiente agradável, além da refeição propriamente dita, sendo esta última a sua parte material.
Os bens podem ser classificados, quanto à disponibilidade, como bens livres e bens econômicos. Chamam-se bens livres aqueles bens que existem em abundância e que não demandam esforço humano para a suaobtenção. Exemplos de bens livres são a luz do dia, o ar atmosférico, entre outros. Suas duas principais características são não estarem sujeitos a regime de preços tampouco a regime de propriedade. São denominados bens econômicos aqueles que têm como característica freqüente o estado de escassez, real ou potencial. Adicionalmente, incorpora-se à caracterização de um bem econômico o fato de haver necessidade de trabalho para obtê-los.
Segundo a natureza do uso, os bens podem ser classificados em bens de consumo e bens de produção. Os bens de consumo, também denominados bens finais, são aqueles que satisfazem diretamente às necessidades do consumidor. E os bens de produção, também denominados bens indiretos, satisfazem indiretamente às necessidades do consumidor. Livros e cadernos comprados por estudantes para uso nos estudos, tanto quanto a pizza encomendada pela família para uma refeição caseira constituem exemplos de bens de consumo. O pneumático fabricado que é vendido à montadora de automóvel é um exemplo de bem de produção ou indireto. De outro lado, se alguém adquire, por exemplo, arroz, no supermercado para o estoque da família, neste caso o arroz terá sido um bemde consumo oufinal. Mas se o arroz é comprado para o estoque de um restaurante, o qual prestará o serviço a que se propõe, neste caso a mercadoria arroz é um bem de produção.
Há, ainda, outros critérios de classificação dos bens e serviços. Entre esses, está a classificação quanto ao grau de necessidade de um bem e/ou serviço para o consumidor ou para o produtor�. São considerados bens e/ou serviços de primeira necessidade os alimentos, remédios, artigos essenciais de vestuário, transporte, educação, entre outros. Em um segundo rol vêm os bens e serviços ao consumidor que não são absolutamente de primeira necessidade e que, também, não estão relacionados com o consumo de luxo, abordado neste capítulo. Esses bens são classificados como bens de segunda necessidade. Os bens e serviços de luxo formam, juntamente com outros não necessariamente de luxo, mas que são supérfluos, o grupo dos bens e serviços de terceira necessidade.
No caso de fatores de produção, por exemplo, dependendo da natureza de cada processo produtivo, a energia e a mão de obra poderiam ocupar ― e ocupam em muitas oportunidades ― o grupo de fatores de primeira necessidade. Em algumas indústrias como, por exemplo, a de bebidas e a de celulose e papel, além dos curtumes, a água constitui um fator de produção de primeira necessidade. Os bens e/ou serviços podem, ainda, ser submetidos ao critério da durabilidade e, neste caso, podem ser perecíveis e duráveis. 
Finalmente, os estudos microeconômicos adotam dois critérios de classificação para os bens e/ou serviços: (i) quanto à correlação com outros bens; e (ii) quanto aos efeitos da variação do preço e/ou da renda. No que se refere à correlação, os bens e/ou serviços, quando correlatos, podem ser substitutos e complementares. Por exemplo, o feijão e a farinha no costume nordestino são complementares; o mesmo pode-se afirmar da relação entre feijão e arroz. E, como conseqüência dessa correlação, arroz e farinha são substitutos.
Quanto aos efeitos da variação do preço dos bens e/ou serviços e/ou da renda do consumidor, estes podem ser classificados em bens e/ou serviços superiores ou de luxo, normais, inferiores e bens e/ou serviços de Giffen. Esse critério de classificação será mais detidamente comentado no Capítulo 2, do presente Curso.
05. Objeto do estudo da economia
Uma das mais importantes preocupações dos estudos econômicos é a escassez de recursos para atender ou satisfazer às demandas dos agentes econômicos. A abundância de recursos, por oposição, nem sempre é objeto do interesse da economia porquanto é indicativa da inexistência de problema com o aprovisionamento de bens e serviços. Entretanto, em alguns casos o excesso de oferta de bens e serviços constitui também um problema econômico uma vez que afeta o estado de equilíbrio dos agentes, principalmente os da oferta, isto é, os produtores. Além disso, excessos de oferta de alguns bens e/ou serviços podem trazer problemas para a coletividade. Por exemplo, os produtores de batata no Brasil enfrentaram uma crise de excesso de produção sem precedentes em 2007, tendo que abandonar milhares de hectares plantados, afora as imensas quantidades de toneladas então já colhidas que foram jogadas ao lixo por falta de comprador. O excesso de produção ocorreu por uma expectativa frustrada gerada pelos preços favoráveis ao produtor no ano imediatamente anterior, o que fez com que a área plantada fosse expressivamente aumentada em várias regiões do país, além de se ter procedido ao plantio fora de época. Essa crise foi agravada em razão da grande oferta da variedade ágata, da batata, que encontrou fortes restrições no mercado consumidor dadas às suas características pouco apreciáveis, especialmente quanto à curta estabilidade químico-biológica dos tubérculos.
Mas é efetivamente a escassez de bens e serviços o que importa primordialmente analisar, dado que a insatisfação dos agentes da demanda, principalmente a demanda por bens e serviços de consumo, é um dos problemas mais frequentes da economia moderna.
Em segundo lugar, mas não menos importante, a economia reserva uma acentuada dose de atenção para o estudo do custo de oportunidade. O custo de oportunidade de um bem e/ou serviço corresponde às oportunidades que estão sendo deixadas de ser aproveitadas quando o agente econômico não emprega o dinheiro (ou outro bem qualquer que vá dar em troca) do modo mais rentável possível na compra de outros bens ou serviços. De modo mais preciso, o agente econômico, especialmente o produtor, deve empregar os recursos de que dispõe do modo mais rentável possível. Caso assim não proceda, a diferença perdida equivale ao custo de oportunidade. Portanto, o custo de oportunidade reflete o quanto o agente deixa de ganhar quando não aproveita o uso alternativo mais rentável possível de seus recursos.
Os mercados são também um tema do interesse dos estudos econômicos. Os mercados constituem um mecanismo que ajusta as decisões de consumo com aquelas de produção, e seus elementos-chave são preços e quantidades transacionadas. Os mercados não podem solucionar todos os casos de alocação de recursos, ainda que solucionem ou contribuam para a solução de uma significativa parte deste tipo de problema. Quando um mercado é ineficiente para alocar recursos, bens e/ou serviços, o que sucede com os mercados imperfeitos, a regulação governamental entra em cena, porém não deixa de considerar os elementos fundamentais com que o mercado lida, isto é o binômio preço e quantidade.
A análise do comportamento dos conjuntos totais de consumidores, de produtores, e do governo como um todo também interessa ao estudo da economia. Esses conjuntos são denominados agregados econômicos e são objeto da análise macroeconômica como será referido no presente capítulo.
Fatores de produção
As disponibilidades de recursos para a produção de bens e/ou serviços objetivando a satisfação das necessidades humanas são insuficientes em um grande número de casos, ensejando o aparecimento do problema que está no centro da definição de economia: a distribuição de bens escassos em relação às quantidades demandadas.
Esses recursos, ditos produtivos, também são chamados de fatores de produção. Os fatores de produção são, pois, elementos que entram no processo produtivo para, em conjunto, atuar na elaboração de bens e/ou serviços. Podem ser classificados em quatro grupos: (i) matéria-prima, também referida como natureza ou, ainda, terra, esta última pelo fato de provir do planeta Terra; (ii) capital; (iii) trabalho, ou mão de obra ou, ainda, homem, denominação esta última que está em desuso e cedendo lugar ao termo pessoa; e (iv) capacidade empresarial.
A matéria-prima é qualquer elemento advindo do meio físico, tendo ou não passado por transformação anterior, que participa de determinado processo produtivoe se incorpora ao corpo do produto produzido. A madeira, tanto quanto o aço ou o vidro, são exemplos de matérias primas. Do mesmo modo, o leite, a água e a manteiga são, sob certas circunstâncias, matérias primas, embora também também sejam bens de consumo.
É importante considerar que a matéria-prima, ao ser transformada em produto industrializado, em geral deixa resíduos. Os resíduos da produção advêm normalmente das perdas de matérias primas processadas e de outros elementos do processo como, por exemplo, rejeitos de combustão, rejeitos líquidos ou de natureza outra qualquer. Esse comentário é relevante para assinalar o atual debate sobre a economia do meio ambiente. É, também, oportuno, para salientar um conceito, igualmente atual, segundo o qual de um processo produtivo resultam sempre produtos e resíduos e não apenas os primeiros, como por muitas décadas do passado se considerou�.
O capital, por seu turno, é o conjunto de riquezas utilizadas para produzir outras riquezas que são os próprios bens ou serviços resultantes dos diversos processos produtivos. As máquinas e os edifícios de uma fábrica, tanto quanto o dinheiro, são distintas formas de capital. As máquinas, edifícios e demais ativos da firma são formas de capital imobilizado�, enquanto que o dinheiro em caixa ou em bancos constitui forma líquida de capital. Estudando-se o capital sob o ângulo da economia, o primeiro conceito a fixar é que este procede de inversões que têm origem na poupança dos agentes econômicos. Conforme será estudado no Capítulo 3, deste Curso, voltado para os conceitos macroeconômicos, a poupança é o resultado do adiamento do consumo, ou seja, é a parte da renda nacional que, não sendo consumida, torna-se disponível para as inversões econômicas. Assim, capitalizar, ou criar capitais, resulta da inversão de uma parte da renda nacional, justamente a que foi poupada, isto é, a que foi economizada. O crescimento de uma economia ocorre principalmente por meio de investimento líquido, ou seja, por meio de um processo de capitalização que, além de repor os capitais gastos, acrescente novos capitais, realizando algum nível de capitalização líquida�.
As economias que passam, em dado momento, por uma capitalização líquida positiva, são economias em crescimento. Aquelas cuja capitalização líquida é nula, encontram-se em estado estacionário, isto é, em estagnação. E as economias cuja capitalização líquida é negativa são economias em recessão. A capitalização de uma economia também pode ser financiada. Essa é, aliás, uma das maneiras de se promover agilmente o crescimento econômico. Os recursos para esse financiamento tanto podem vir de outras economias quanto podem ser gerados dentro da própria economia, aumentando-se, para tanto, a poupança. Aumentar poupança significa fazer migrar recursos então utilizados no consumo para a finalidade de investimento�.
O fator trabalho resulta da atuação do ser humano no contexto da produção econômica. Por isso mesmo também é denominado fator mão de obra. Tomado em agregado, o fator trabalho de uma economia depende do tamanho da população e de sua eficiência total. A demografia é, portanto, um elemento importante na avaliação do referido fator. Os estudos demográficos demonstram que não somente o tamanho de uma população deve ser objeto dos estudos de economia da demografia. Importante, também, é a sua densidade e seus movimentos migratórios, a proximidade com recursos naturais mais facilmente obteníveis, sua capacitação para o trabalho, os mercados dos bens e/ou serviços que podem ser produzidos, entre outros aspectos. 
Os distintos processos produtivos balanceiam, em razão de suas respectivas tecnologias, a dosagem dos fatores entre si, especialmente, capital e mão de obra, sendo alguns processos mais capital-intensivos e, outros, mais trabalho-intensivos. O que é verdadeiramente relevante ter-se em conta é o índice de produtividade em relação a todos e a cada um desses fatores. A produtividade média de um fator é a relação que existe entre determinado volume de produção e a quantidade utilizada do fator de produção considerado. Esse conceito, também referido como conceito mecanicista, ou ainda conceito científico de produtividade, corresponde à definição de produto médio de um fator, largamente utilizado no corpo da teoria da produção, parte dos estudos de microeconomia. O produto médio de um fator de produção será abordado no Capítulo 2 do presente Curso.
De acordo com a conceituação acima, a produtividade de um sistema de produção em relação ao fator matéria prima é a razão entre a quantidade produzida do produto que resulta desse processo e a quantidade da matéria prima utilizada. Se o produto for medido, por exemplo, em unidades físicas (u.f.), e a matéria prima em quilogramas (kg), então a unidade dessa produtividade é dada em u.f./kg da matéria prima utilizada. No caso da produtividade da mão de obra, a unidade será o resultado da quantidade produzida por tempo de trabalho realizado, normalmente medido em horas. E no caso de utilização de máquinas, essa produtividade poderá ser a razão entre a quantidade produzida e o número de horas de funcionamento das máquinas. Mas é possível também calcular-se a produtividade total em relação aos três fatores simultaneamente. Nesse caso, a unidade a adotar no denominador terá que ser o custo total dos fatores, pois não será possível tomar-se a soma de quilogramas com horas de trabalho humano e com horas de máquina.
Finalmente, no que diz respeito ao fator capacidade empresarial, este resulta de uma série de ingredientes aportados pelo investidor-gestor. Entre tais ingredientes, alinham-se principalmente a tecnologia adotada, a capacidade organizativa do empresário, aí incluídas as decisões sobre a seleção da mão de obra, das matérias primas, de métodos de informatização, automação e mecanização, além da busca da capacidade econômica para prover o seu negócio com as condições de obter e utilizar todos esses ingredientes.
O conceito de capacidade empresarial contém, adicionalmente, a perspicácia do empreendedor quanto à percepção dos mercados e o compromisso permanente com a criatividade e a inventividade aplicadas à prática incessante da busca da inovação.
A análise do comportamento das grandes firmas demonstra que, em geral, a capacidade empresarial costuma ser proporcional ao tamanho da firma. Dessa constatação resulta que a intuição e a referida perspicácia empresariais são capazes de influir na natureza dos mercados cativos, expandindo-os, por exemplo, por meio de fusões e aquisições de firmas.
O fator capacidade empresarial afeta, portanto, não somente a unidade produtiva, como também parcelas significativas dos mercados nos quais determinadas firmas atuam, sendo um fator decisivo na agregação de valor ao bem ou serviço produzido, constituindo assim um capítulo importante da teoria da produção, objeto da capítulo seguinte.
07. Escassez e fronteira de possibilidades de produção
O estudo da fronteira de possibilidades de produção, também referida como curva de possibilidade de produção, ou, ainda, curva de transformação, é útil para demonstrar como a escassez permeia os fatores de produção, uma das razões para o estudo da economia.
Para melhor compreensão, exemplifique-se o problema mediante a avaliação de uma firma que produza apenas dois produtos. Seja essa firma uma marcenaria que fabrique dois tipos de portas: o tipo I (standard) e o tipo II (de fino acabamento). Analisem-se exclusivamente dois dos fatores de produção que entram no processo de fabricação das portas, supondo-os constantes: as máquinas e os trabalhadores. Por fim, considere-se que, após a análise técnica do setor de planejamento da produção dessa fábrica, o resultado encontrado tenha sido o do quadro da Figura 01.01.
Uma leitura preliminar desse quadro mostra que, se somente forem produzidas portas do tipo I, então serão fabricadas 40 portas. Se, ao contrário, somente forem produzidas portas do tipo II, então apenas 5 portas serãofabricadas. 
Fig. 01.01 – Pares de produção das portas tipos I e II
	TIPOS DE PORTAS
	I
	II
	40
	0
	35
	1
	28
	2
	20
	3
	12
	4
	0
	5
Entre as quantidades extremas de cada coluna do quadro alinham-se quantidades intermediárias que formam pares correspondentes dos tipos de portas I e II. Esses pares de quantidades descrevem a curva de possibilidades de produção mostrada na Figura 01.02.
A continuação da leitura do mencionado quadro permite verificar que, para acrescentar-se uma unidade de porta do tipo II ao lote de produção quando o par produzido é de 40 portas do tipo I e nenhuma do tipo II, isto é, para o par (40;0), é necessário que se abra mão da produção de cinco portas do tipo II.
Fig. 01.02 – Curva de possibilidades de produção
É também digno de nota o seguinte conjunto de observações aos elementos da curva de possibilidades de produção: (i) a produção das portas do tipo I é mais complexa e/ou laboriosa do que a produção de portas do tipo II, uma vez que, quando todos os fatores são postos à disposição da fabricação de I, alcança-se um total de 40 unidades, e quando esse mesmo estoque de fatores é posto à disposição da produção de II, somente se alcançam 5 unidades; (ii) qualquer ponto acima da curva de possibilidades de produção é indicativo de um par de portas que a fábrica não pode fabricar (por exemplo, o ponto A da mencionada Figura 01.02); (iii) qualquer ponto abaixo da curva de possibilidades de produção é indicativo de um par de portas que a fábrica pode fabricar, mas que não fará uso de todos os fatores produtivos disponíveis (por exemplo, o ponto B da Figura 01.02).
Se a fábrica estiver produzindo uma unidade do tipo I, isto é, quando o par de portas produzido for representado por (1;35), e seu gestor decidir aumentar a produção de portas do tipo I em uma unidade, ceterisparibus�ele terá de abrir mão de produzir 5 unidades de portas tipo II para poder acrescentar essa unidade do tipo I, pois o novo par coordenado será (2;28). Isso significa que as 7 unidades que se deixam de produzir de portas do tipo II correspondem ao custo de oportunidade dessa decisão. Esse custo de oportunidade aumenta para o equivalente a 8 portas do tipo II quando a fábrica pretende produzir o par (3;20). Uma observação ao gráfico permite verificar que o custo de oportunidade em cada nova unidade que a fábrica produz de I é crescente. O custo de oportunidade crescente é explicado pelo fato de o deslocamento dos fatores de produção de um tipo de produto para o outro gerar ineficiência porquanto o uso (manejo) dos fatores não é igualmente adequado aos dois tipos de processo. Por exemplo, alguns trabalhadores especializados na produção de portas tipo II, ao serem transferidos para a produção de portas do tipo I, serão menos eficientes. Do mesmo modo, alguns trabalhadores especializados na produção de portas tipo I, ao serem transferidos para a produção de portas do tipo II, apresentarão produtividade mais baixa. É justamente o fato de o custo de oportunidade ser crescente que explica a concavidade para baixo da curva de possibilidades de produção.
Exemplo de aplicação no 01.01
A fronteira de possibilidades de produção de uma economia que produz apenas dois produtos, vestuário e alimento, é dada por x22=1600-x12, sendo x1 a produção horária de alimento e x2 a produção horária de vestuário. Qual o custo de oportunidade de passar-se da produção de 25 peças de vestuário por hora para 30 peças por hora. Esboce o gráfico da fronteira de possibilidade.
Solução
A produção de vestuário igual a 25 corresponde a uma produção de alimento igual a 975, quantidade a que se chega a partir de x1=1600-252 (ponto A da curva de fronteira de possibilidade da Figura 01.03). Se a produção de vestuário aumenta para 30, a produção de alimento se reduz para 700, quantidade obtida a partir de x1’=1600-302 (ponto B da curva de fronteira de possibilidade já referida). O aumento de 5 unidades de vestuário implicou a redução de 975-700=275 unidades de alimento, que refletem o custo de oportunidade para a alteração na produção dada no enunciado.
Fig. 01.03 – Curva de possibilidades de produção
de vestuário e alimento
08. Consumo suntuário
Classifica-se como consumo suntuário, ou consumo de luxo, o consumo ou uso de bens e/ou serviços considerados supérfluos para o indivíduo. Inicialmente, deve-se considerar que o conceito de luxo é relativo à renda de cada consumidor ou agente econômico. Frequentar peças teatrais pode ser considerado um luxo para quem aprecie o teatro e ganhe o salário mínimo, e ser, ao mesmo tempo, uma recreação absolutamete corriqueira para indivíduos de elevada renda e que se interessem pelo teatro. Em outro exemplo, no Brasil, até o princípio dos anos 1990, dispor de uma linha telefônica ainda era considerado luxo para uma expressiva parcela da população. Nos dias atuais, existem mais linhas telefônicas, entre fixas e móveis, do que a totalidade da própria população brasileira.
A História demonstra que o consumo suntuário tem sido a causa da ênfase nas diferenças de status sociais. Indivíduos que têm acesso a bens e/ou serviços de luxo são percebidos pelos demais como pessoas abastadas. Sob o ponto de vista dos estudos econômicos, o luxo é capaz de produzir efeitos negativos e positivos também. No que se refere aos efeitos negativos, o luxo é visto como uma atividade cujos esforços empregados na produção dos bens e/ou serviços poderiam ser canalizados para a produção de outros bens e/ou serviços que fossem mais necessários, os quais, certamente, de menor custo, serviriam para satisfazer a demandas de uma quantidade maior de indivíduos ou famílias.
Em termos de efeitos positivos produzidos pelo consumo suntuário, reconhece-se que, ao ser objeto do interesse de classes de altas rendas, os bens e serviços de consumo de luxo são mais freqüentemente suscetíveis a estímulos que levam ao aperfeiçoamento da qualidade dos padrões intermediários, e também dos padrões inferiores, dos mesmos bens e/ou serviços, contribuindo, no contexto do processo de produção capitalista, para a melhoria do processo e do produto. Em outras palavras, a produção e venda de bens de luxo desperta o conjunto total dos consumidores para níveis mais elevados de qualidade que devem ser almejados.
Veja-se, por exemplo, o caso do automóvel que foi bem suntuoso no início décadas, porque somente podia ser comprado por pessoas de elevadas rendas. Foi justamente isso que levou a indústria automobilística a perceber a necessidade do barateamento do produto, o que somente tornou-se possível por meio da grande produção acompanhada de alguns tipos de incentivos como o crédito, por exemplo, contribuindo para que um número maior de consumidores pudesse ver materializado seu desejo de ter o carro próprio.
O luxo contribui, também, para mudanças de grande significado político e econômico, ao estabelecer o confronto entre as classes dominantes e as menos abastadas. Assim ocorrera, em certa medida, na Revolução Francesa, em 1789, na Revolução Soviética de 1917, e tem ocorrido com movimentos menos perceptíveis, onde o luxo afronta as classes de rendas mais baixas. A existência do luxo é, pois, fator que contribui, às vezes como causa imediata, para importantes desfechos de relações deterioradas entre classes sociais. Essa razão, associada aos argumentos apresentados anteriormente, justificam a importância do consumo de bens e serviços de luxo no contexto do estudo da economia.
Questões econômicas fundamentais e sistemas econômicos
Em economia, o processo decisório toma, como ponto de partida, a busca de respostas claras a três inquietações principais. A primeira diz respeito ao quê deve ser produzido, ou seja, qual o objeto para o qual cada segmento da economia pode drenar seus esforços. Em economias de livre iniciativa, essa primeira inquietação guia a decisão que o empresário toma quando vai iniciar um novo negócio. E a parte produtiva à escala macroeconômica,em seu conjunto, resultará da agregação de todas as atividades empresariais adicionadas da produção do setor público, em geral limitada�.
A segunda pergunta está relacionada com o método que deve ser empregado na produção, isto é, corresponde à indagação sobre como e onde produzir, implicando a noção de processos produtivos e localização física do empreendimento e suas ramificações (filiais ou sucursais).
Por fim, aflora uma questão que é das mais delicadas em economia, que se refere a como se deve promover adistribuição da riqueza produzida, ou seja, como promoverem-se os meios pelos quais se possa assegurar o acesso da maioria dos consumidores aos bens e/ou serviços produzidos.
As respostas a essas indagações não são triviais nem de simples elaboração. Há inúmeros fatores atuando nesse contexto, que não é de natureza apenas econômica. Muito mais do que matéria de caráter apenas econômico, essas três inquietações refletem, antes, complexas questões de caráter social, histórico, político, cultural, tecnológico e outros que estão a influir no contexto das decisões adotadas pelos agentes econômicos. A Economia Política, tal como comentada neste capítulo(seção 16), contribui para a busca das possíveis respostas a essas questões.
09.01. O quê produzir
Admita-se, inicialmente, uma economia livre e fechada�, ou seja, os agentes econômicos produtores é que tomarão a iniciativa de decidir o que vão produzir, e sua produção será colocada à disposição do mercado interno de seu país. Nesse caso, a resposta à primeira das três indagações levará em conta, entre outros fatores�, o mercado, que expressa o desejo do conjunto dos consumidores. Os agentes produtores costumam decidir, portanto, conforme a sua leitura a respeito do que o mercado prefere e/ou deve preferir, por meio de uma tão consistente quanto possível tarefa de pesquisa. Entretanto, eventualmente eles podem decidir, em algumas situações, pela produção de bens e/ou serviços sobre os quais o mercado não tenha necessariamente sinalizado em termos de possível demanda. Isso ocorre, por exemplo, quando os produtores inovam com a produção de bens e/ou serviços antes desconhecidos, ou de produtos conhecidos porém adicionando-lhes características inovadoras, e que, os estudos prospectivos, ou mesmo a intuição, demonstraram que o mercado se inclina a receber bem a inovação.
O que é importante assinalar é o fato de que, em economias livres, os agentes produtores são os que tomam essa decisão sobre o quê produzir, mas quase sempre cercados da necessária atenção para que não se decidam por algo que o mercado possa vir a não acolher. Assinale-se que, em muitos casos, essa decisão advém de sinais emitidos pelo governo por meio de estímulos e desestímulos sobre o que entende deva ser, ou deva não ser, respectivamente, objeto da produção econômica. Tais estímulos e desestímulos refletem intervenções do governo na economia�.
De outro lado, em economias de planificação centralizada, típicas dos regimes socialistas, a decisão sobre o quê produzir costuma resultar de um trabalho de planejamento elaborado pelo governo e é tomada como uma ordem expedida que não comporta questionamentos tampouco alterações. Nesses casos, o governo, atua como agente produtor único e formula o seu entendimento próprio a respeito das necessidades do conjunto dos consumidores.
09.02. Como produzir
No que se refere à pergunta sobre o como produzir, a resposta poderá ser encontrada na tecnologia e seus constantes aperfeiçoamentos, que conduzem ao desenvolvimento dos processos produtivos, os quais indicam os caminhos pelos quais a produtividade pode ser maximizada, contribuindo para a escolha de processos eficientes. Além disso, o modo de produzir inclui necessariamente decisão sobre localização física, leiaute (arranjo físico) de instalações, tudo em consonância com o estudo de mercado que é o ponto de partida de todo o processo de definição do como produzir.
Os elementos comentados nos dois períodos imediatamente anteriores são indutores do conceito de eficiência econômica, o qual implica três conceitos diferentes de eficiência: (i) eficiência técnica; (ii) eficiência alocativa; e (iii) eficiência de escala.
Aeficiência técnica assegura que, com os recursos disponíveis, a produção seja maximizada, enquanto que a eficiência alocativa garante, para um dado nível de produção e uma dada estrutura de preços dos vários insumos, uma alocação perfeita dos recursos existentes entre as várias unidades produtivas. Vistas sob o ângulo da economia, eficiências técnica e alocativa juntas asseguram que os custos sociais sejam minimizados. Sucede que a minimização dos custos sociais é condição necessária para a maximização do benefício social líquido, mas não é suficiente. A condição de suficiência só é garantida com a eficiência de escala. Eficiência de escala assegura, pois, para um dado nível de preços relativos, um nível de produção ótimo�. Esses três conceitos de eficiência, quando considerados em conjunto, garantem que o benefício social líquido será maximizado.
Como distribuir a riqueza produzida
A distribuição da riqueza produzida constitui um desafio complexo da Política Econômica, pois a busca de critérios justos de repartição dos bens e serviços produzidos tem sido, não raro, objeto de importantes disputas entre as classes sociais, que têm conduzido a fatos históricos marcantes. Essa questão já foi passada em comentário, de certa forma, quando se tratou do consumo de luxo.
O processo de distribuição envolve sobretudo a orientação emanada do governo que estabelece as linhas de sua Política Econômica, cujo princípio básico é o de contribuir para a melhoria do bem estar social. Por esses breves comentários, percebe-se claramente que a questão distributiva constitui um problema econômico de grande significado, pois está no centro da abordagem de uma discussão maior que se refere à evolução das doutrinas político-econômicas.
Nas economias de mercado, por exemplo, a questão distributiva está intimamente relacionada com a renda das famílias, que pode variar, dependendo do estágio de desenvolvimento econômico de cada economia, em um espectro amplo que vai desde uma repartição que possa ser considerada justa, até graus acentuados, e mesmo insuportáveis, de disparidades entre segmentos extremos da sociedade.
Entretanto, economias puramente de mercado inexistem na prática. Em outras palavras, o liberalismo econômico por completo em uma sociedade é impossível, pois os mercados imperfeitos implicam a necessidade de regulação, o que significa presença do estado na economia. A própria teoria neoclássica, a doutrina que consagra a maior parte de seu corpo ao estudo dos mercados, reconheceessa circunstância e, mais do que isso, consagra numerosas páginas de seu conteúdo aos mercados de monopólio, oligopólio e demais mercados imperfeitos�. Em geral, os governos sempre interferem em seu funcionamento, em maior ou menor grau, tornando as economias puras de mercado uma irrealidade. Subsídios, taxas, políticas de preços mínimos são, entre outras, algumas dessas formas de intervenção.
Nas economias de planificação centralizada, típicas dos regimes socialistas, a questão distributiva é resolvida por meio de uma instância de planejamento integrante da estrutura do governo, a qual estabelece a forma de remuneração das diferentes profissões e ocupações, com a preocupação sempre presente de evitar desníveis, contribuindo para a construção e manutenção de uma sociedade menos heterogênea no que se refere ao acesso aos bens e serviços produzidos. A História do Pensamento Econômico analisa as principais características das diversas formas de socialismo, com destaque para o socialismo utópico, o socialismo cristão, o anarquismo, o socialismo das guildas, o sindicalismo e o socialismo marxista ou socialismo científico. De todas essas formas, a última, isto é, o socialismo marxista, é a que mais profundamente estudou os meios de produção e distribuição da riqueza, desnudando o capitalismo,e criando a expectativa do desaparecimento deste, o que não veio a ocorrer sobretudo por uma característica do agente capitalista que é a de negociar sempre e de adaptar-se continuadamente a novas condições que se lhe vão apresentando. No campo dos estudos do socialismo, ressalta-se o estágio mais elevado a que uma sociedade deve aspirar, qual seja o do comunismo, cujo slogan é: “de cada um, de acordo com a sua habilidade, para cada um de acordo com suas necessidades”. A contrapartida a esse slogan, no socialismo é: “de cada um, de acordo com a sua habilidade, para cada um de acordo com seu trabalho”.
Por fim, há os sistemas de economia mista. Nesses sistemas, a questão distributiva se resolve pela atuação conjunta do sistema de preços e da ação do estado, que dirige ou apoia, de modo decisivo, algumas atividades produtivas, promovendo as condições de gratuidade na obtenção de determinados bens e serviços essenciais, como a educação, saúde, transporte coletivo e outros mais. A social-democracia cujas origens remontam à fundação do Partido Social-Democrata alemão em 1875 com a proeminência de Karl Kautsky, que dedicou seus estudos à economia agrária, é um regime que encontrou seu apogeu entre 1945 e 1960. A bandeira empunhada pelo regime é a da defesa dos recursos públicos para garantir uma distribuição menos desigual da riqueza produzida mediante a expansão de programas nas áreas da saúde.
Breves notas sobre as teorias do valor
As diversas teorias de valor dos bens, mercadorias e serviços são um dos temas mais controvertidos em economia. A sucessão das doutrinas e, sobretudo, a explicitação do pensamento de alguns renomados pensadores foram muito ricas em termos de proposição de teorias para o valor. Bens e serviços heterogêneos têm diferentes valores de troca, ou diferentes preços. As correntes de pensamento econômico têm procurado métodos concretos para explicar de que dependem essas diferenças de preços e como calculá-los. Apesar de a questão do valor não ter sido, até aqui, um problema inteiramente resolvido no corpo da teoria econômica, o conceito de valor de troca sedimentou-se como um sinônimo de preço e, portanto, é variável mesmo quando analisado em relação a uma só mercadoria que pode ter preços distintos em função de condições diferenciadas que se situam em torno das transações.
Adam Smith e David Ricardo argumentavam que o valor dos bens dependia da quantidade de trabalho utilizada para a sua produção. Seria este o valor real de um bem no entendimento dos economistas clássicos. No entanto, admitiam esses mesmos clássicos, como os bens são elaborados para transação em seus respectivos mercados, neste contexto é o valor de troca que assume preponderância. O valor de troca, já identificado como preço do bem e/ou serviço, se forma a partir das relações entre procura e oferta. Em outras palavras, se determinado bem tem um valor real igual 100 unidades monetárias consoante o argumento da doutrina clássica, e existe excesso de oferta desse bem no mercado, é possível que os compradores somente aceitem pagar 95 unidades monetárias. Sejam quais forem as conjecturas a respeito do mercado desse bem, o certo é que as transações somente serão levadas a efeito por um preço que seja aceito tanto pelos produtores quanto pelos consumidores. Esse preço é chamado preço de equilíbrio. No exemplo comentado no período anterior, o preço de equilíbrio será aquele que os compradores concordem em pagar e, ao mesmo tempo, os vendedores aceitem receber.
Para as escolas Clássica e Socialista, entretanto, a lei da procura e da oferta opera como um mecanismo de ajustamento dos preços no mercado, por causas distintas, aproximando-os do valor real. Adicionalmente, a Escola Socialista aperfeiçoou a postulação dos clássicos sobre o valor-trabalho, introduzindo o conceito do trabalho socialmente necessário para a produção de um bem. Isso significa dizer que entre métodos distintos de elaboração industrial, o mais usual e mais eficiente é que deve refletir o valor-trabalho. Em outras palavras, métodos antiquados, ou então artesanais, de produção, dos quais resultem índices de produtividade inferiores aos normais, não podem comandar a definição do valor-trabalho. De outro lado, métodos produtivos muito avançados ainda em fase de pesquisa e, portanto, ainda não disseminados comercialmente, mesmo que possam responder por índices de produtividade superiores aos normais, também não devem nortear essa definição.
O valor-trabalho baseado no trabalho socialmente necessário é, pois, aquele lastreado em processos que estejam ao alcance dos meios produtivos da sociedade. Além disso, o trabalho socialmente necessário que se incorpora ao valor de um bem é o trabalho que procede desde o início da cadeia produtiva, quando de seu estágio extrativo, até a produção da mercadoria que se esteja avaliando, passando em seqüência por todas as etapas das relações intersetoriais.
Aos bens econômicos estão associados os conceitos de valor de uso e valor de troca. O valor de uso depende do significado da satisfação preenchida, ou seja, reflete a utilidade do bem para o consumidor. Refere-se com freqüência, como exemplo que bem elucida o conceito do valor de uso, ao exemplo de um indivíduo em pleno deserto, para quem um copo de água pode valer muito mais do que uma pedra de diamante.
Para a Escola Marginalista, que aprofundou os estudos dos clássicos dando ênfase ao papel da procura como força primária do mecanismo de formação dos preços dos bens e/ou serviços, o valor de troca é regulado pelos preços das transações, os quais resultam da aplicação prática da lei da procura e da oferta. Segundo essa lei, comentada na seção 13 do presente Capítulo, os preços sobem quando há escassez do bem e/ou serviço e se reduzem quando há excesso de oferta.
11. O uso de modelos na análise de problemas econômicos
O uso de modelos é tão comum em economia quanto na engenharia e em outras ciências experimentais. Os modelos são úteis para a análise de um problema da realidade por simplificarem-na mediante a seleção das variáveis que mais afetam o comportamento do problema estudado. O fato de constituírem uma simplificação da realidade significa que os modelos são conjuntos incompletos de informações relativas aos problemas do mundo real. O que parece, entretanto, ser uma desvantagem, contrariamente constitui uma vantagem da adoção de modelos porquanto serão avaliados apenas os pontos relevantes que interferem no problema e sua solução.
Tome-se como exemplo a demanda por um bem qualquer. Conforme estuda-se no Capítulo 2 deste Curso, a função de demanda depende de alguns fatores como o preço do bem, os gostos e preferências do consumidor, a renda do consumidor e os preços dos bens correlatos (substitutos e complementares). Na busca do preço e da quantidade de equilíbrio que se procede mediante a aplicação da lei da procura e da oferta, brevemente estudada neste capítulo, utiliza-se uma função de demanda do tipo q=f(p), onde “q” é a quantidade transacionada do bem ou serviço, e “p” é o preço deste bem ou serviço. A expressão dessa função demonstra que a quantidade transacionada depende apenas do preço do bem, o que reflete uma simplificação do modelo em relação à realidade. Dito de outro modo, o que é afirmado por essa função algébrica é que somente as variações de preço do bem objeto da análise é que interessam entrar no cálculo. Evidentemente que essa análise considera que, em determinado momento, os gostos e preferências tanto quanto as rendas dos consumidores não variem e que, também, não variem os preços dos bens correlatos. O fato de não variarem esses outros elementos equivale a tê-los excluído na passagem da realidade para o modelo, considerando que mantiveram-se invariáveis. Esse artifício é normalmente referido como a condição ceterisparibus, expressão latina muito utilizada em economia que pode ser traduzida como “tudo o mais mantendo-se inalterado”�.
Os modelos são de grande utilidade para compreender-se a teoria econômica. Osresultados que eles produzem precisam, entretanto, ser levados a teste, principalmente avaliando-se a sensibilidade do problema estudado em relação aos fatores que foram mantidos inalterados, verificando-se como as variações em cada um destes outros fatores que foram mantidos inalterados afetam o resultado obtido mediante o uso do modelo. A seqüência de testes com esses outros fatores e a comparação dos novos resultados seqüenciais são capazes de reproduzir a parte essencial do conjunto de elementos do mundo real que o modelo original simplificou.
12. Vantagens comparativas
No período em que os economistas clássicos lideraram o debate econômico, dois dos mais destacados autores da doutrina referiram-se ao comércio entre os países. Adam Smith, autor de A riqueza das nações, propunha a ampliação irrestrita do mercado externo e considerava que todos deveriam comprar as mercadorias no país que oferecesse o preço mais barato. David Ricardo veio enriquecer a proposta de Smith por meio de um estudo que tornou-se conhecido como a teoria das vantagens comparativas, ou teoria dos custos comparativos, de acordo com a qual, mesmo que o país “A” fosse mais eficiente do que o país “B” na produção de todos os bens que ambos produzissem, esse país deveria exportar para “B” os bens em que fosse comparativamente bem mais eficiente e importar de “B” aqueles bens em que fosse comparativamente menos eficiente, ainda que ostentando eficiência maior do que a de “B”.
Na sua formulação, Ricardo exemplifica a relação entre a Inglaterra e Portugal quanto à produção de vinho e de tecido (algodão). Portugal era mais eficiente em ambos os produtos, sendo três vezes mais eficiente em produção de vinho do que em produção de tecido. Considerando apenas os custos de produção, Ricardo propunha que Portugal exportasse vinho para a Inglaterra e importasse tecido desse mesmo país. A intenção da proposta das vantagens comparativas é baseada no fato de que, no exemplo em discussão, a Inglaterra se especializasse em produzir apenas tecido e Portugal se especializasse apenas em vinho, abandonando a produção de tecido, com ganhos totais superiores aos que se produziriam se ambos os países continuassem a produzir ambas as mercadorias.
Não estava presente na proposta de Ricardo a possibilidade de o capital de um país se instalar no outro país, situação que, uma vez ocorrendo como ocorre nos dias de hoje, Portugal provavelmente deveria exportar ambos os produtos, isto é, com o deslocamento de capital inglês para produzir o tecido em Portugal. Na época em que Ricardo apresentou sua proposta, ele recebeu crítica também por tê-la baseado tão somente na teoria do valor-trabalho e por considerar ambientes de pleno emprego.
A teoria das vantagens comparativas pode ser aplicada entre regiões ou cidades de um mesmo país, sem a dificuldade de ter-se que considerar a taxa de câmbio. Suponha-se por exemplo que, dois estados brasileiros produzam café e feijão. Sejam Bahia e São Paulo esses estados e considere-se que o estado de São Paulo seja duas vezes mais eficiente que a Bahia na produção de café e 1,5 vez mais eficiente do que a Bahia na fabricação do feijão, com iguais cargas horárias de mão de obra em ambos os processos, conforme os dados do quadro da Figura 01.04, cujos coeficientes de produtividade são fictícios.Embora São Paulo apresente uma vantagem absoluta nos dois produtos, sua vantagem é mais significativa em relação ao café. A Bahia compete com uma desvantagem menor no feijão.
Figura 01.04– Produção (fictícia) dos dois bens em cada um dos dois estados
	
	
HORAS DE TRAB.
	SÃO PAULO
	BAHIA
	
	
	PROD/HORA (t/h)
	PROD TOTAL (t)
	PROD/HORA (t/h)
	PROD TOTAL (t)
	CAFÉ
	700,00
	90,00
	63.000,00
	30,00
	21.000,00
	FEIJÃO
	300,00
	60,00
	18.000,00
	50,00
	15.000,00
Considere-se que os dois estados entrem em negociação da qual resulte a decisão de São Paulo somente produzir café e a Bahia somente produzir feijão com a efetuação de trocas destes produtos entre os dois estados. Considerando adicionalmente que a expansão ou redução da produção em ambos os estados ocorra a um custo constante por unidade produzida de qualquer dos produtos e que os custos de transporte sejam nulos (ou iguais). As novas quantidades produzidas em São Paulo e na Bahia são apresentadas no quadro da Figura 01.05, antes que sejam feitas trocas dos excedentes de produção.
Figura 01.05– Produção dos dois bens com base nas vantagens comparativas dos dois estados
	
	
HORAS DE TRAB.
	SÃO PAULO
	BAHIA
	
	
	PROD/HORA (t/h)
	PROD TOTAL (t)
	PROD/HORA (t/h)
	PROD TOTAL (t)
	CAFÉ
	1000,00
	90,00
	90.000,00
	----
	----
	FEIJÃO
	0,00
	60,00
	0,00
	----
	----
	CAFÉ
	0,00
	----
	----
	30,00
	0,00
	FEIJÃO
	1000,00
	----
	----
	50,00
	50.000,00
Diante do resultado proporcionado pela especialização, São Paulo poderá preservar as 63.000,00 t de café e oferecer à Bahia a diferença (90.000,00-63.000,00) t em troca de 18.000,00 t ou mais de feijão, uma vez que a produtividade paulista do café é igual a 1,5 vez a sua produtividade de feijão, donde (90.000,00-63.000,00)/1,5=18.000,00 t.
De outro lado, a Bahia, que passou a produzir 50.000,00 t de feijão, pode preservar as 15.000,00 t que produzia antes e oferecer (50.000,00-15.000,00) t em troca de 20.958,08 t ou mais de café, dado que sua produtividade de feijão é igual a (50,00/30,00)=1,67 vez a sua própria produtividade de café, donde (50.000,00-15.000,00)/1,67=20.958,00. Como há um espaço para negociação dos preços relativos, uma transação possível corresponde à entrega por São Paulo à Bahia das 27.000,00 t de café recebendo em troca as 27.000,00 t de feijão, fazendo com que São Paulo fique, ao final, com 63.000,00 t de café e com 27.000,00 t de feijão, e, a Bahia, com 23.000,00 t de feijão e 27.000,00 t de café.
Esse resultado demonstra que ambos os estados ficaram economicamente melhor (better off) no que se refere às produções dos dois bens, consideradas as simplificações adotadas. Entretanto, algumas condições relacionando número de horas consagrado à produção de cada produto e índices de produtividade são necessárias para a confirmação da teoria proposta. Sugere-se ao aluno, a título de exercício, averiguar que possíveis condições serão essas. Sugere-se, ainda, que exercite algumas variantes de negociação de preços em torno de um mesmo exemplo.
13. Lei da Procura e da Oferta
A procura é um fenômeno observado no comportamento do consumidor refletindo o desejo deste em obter determinado bem ou serviço. Alguns bens e/ou serviços, por essenciais que são à sobrevivência humana, costumam ser objeto de uma procura ditarígida, ou inelástica. Os alimentos básicos para uma família são bens que fazem parte desse grupo. A adjetivação baseada na elasticidade será desenvolvida no Capítulo 2.
Bens e/ou serviços, ditos de demanda elástica, podem deixar de ser comprados, ou então podem ser substituídos por outros. Como já mencionado anteriormente, a procura pelos bens e/ou serviços depende de fatores como a renda do consumidor, seus gostos e preferências, o preço do bem e/ou serviço desejado e a expectativa em torno da variação deste, além dos preços dos bens e/ou serviços correlatos.
De outro lado, a oferta constitui um fenômeno resultante da atitude do produtor, invariavelmente movido pelo desejo de realizar lucro, de mobilizar fatores produtivos e elaborar bens e/ou serviços os quais ele põe à disposição do mercado consumidor, com o objetivo de transacionar. A oferta é influenciada pelo preço do bem ou serviço�, pelo custo dos fatores de produção, pela tecnologia disponível, pelos preços de bens e/ou serviços correlatos que, neste caso, refletem as condições da concorrência na oferta, além de fatores como, por exemplo, a sazonalidade, a geografia, modismos e outros aspectos influentes sobre a iniciativa do produtor.
O diagrama cartesiano da Figura 01.06 ilustra o mecanismo da procura e da oferta, que é o ponto de partida

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