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A HUMANIZACAO DE PROJETOS ARQUITETONICOS

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WILSON SCHETTINI NETO
Graduando de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Positivo
wilsonschettini@gmail.com
BORIS MADSEN CUNHA
Especialista, Universidade Positivo, Professor orientador
RESUMO
Considerando a premissa que a saúde é essencial para uma vida plena e que mantê-la é uma das principais preocupações do homem, este artigo busca analisar este tema com enfoque nas construções hospitalares e nas contribuições da arquitetura no processo de cura. A literatura nos mostra que os hospitais são projetos de grande complexidade e que no decorrer do tempo foram sendo adaptados as necessidades de cada época, muitas vezes, sem o devido cuidado arquitetônico, fato pelo qual estas construções não auxiliaram no processo de cura das pessoas que ali frequentavam. Assim, diante dos avanços da medicina e das ciências afins torna-se essencial discutir e propor melhorias nos edifícios hospitalares. A arquitetura, sem dúvida alguma pode contribuir muito no planejamento destes espaços com intuito de minimizar o sofrimento dos doentes e melhorar as condições de saúde dos usuários destes locais, incluindo os profissionais da área. Cabe destacar que o planejamento arquitetônico de um hospital pode contribuir também com a diminuição dos custos econômicos do funcionamento e da inserção do hospital no meio urbano.
Enfim, a ideia deste estudo é ir além da descrição dos aspectos e da dinâmica construtiva dos edifícios hospitalares, viabilizando acreditar que a arquitetura pode contribuir muito no processo de tratamento e cura das enfermidades, sendo possível e desejável de realizar-se. 
PALAVRAS CHAVE: Arquitetura. Humanização. Hospital.
ABSTRAT
​​Considering the premise that health is essential for a full life and that maintaining it is one of the main concerns of man, this article seeks to analyze this theme with a focus on hospital constructions and the contributions of architecture in the healing process. The literature shows us that hospitals are projects of great complexity and that in the course of time the them were being adapted according to the need of each era, often without the architectural care required, a fact by which these constructions did not help in the healing process of the people who attend them. Thus, in the face of advances in medicine and related sciences, it is essential to discuss and propose improvements in hospital buildings. Architecture can undoubtedly contribute much in the planning of these spaces in order to minimize the suffering of patients and improve the health conditions of the users of these places, including the professionals of the area. It should be noted that the architectural design of a hospital can also contribute to the reduction of the economic costs of the operation and the insertion of the hospital in the urban environment.
Finally, the idea of ​​this study is to go beyond the description of the aspects and the constructive dynamics of hospital buildings, making it possible to believe that the architecture can contribute a lot in the process of treatment and cure of the diseases, being possible and desirable to be realized.
KEY WORDS: Architecture. Humanization. Hospital.
1. INTRODUÇÃO
A arquitetura vem se tornando mais presente nos debates e estudos sobre a humanização dos edifícios hospitalares. Constata-se que um dos motivos da expansão do saber para áreas afins da saúde foi impulsionada pelos anseios de vários povos e comunidades que vislumbraram na saúde uma melhoria da qualidade de vida de sua população. Tanto no Brasil como em outros países, percebe-se que por décadas os projetos das construções de saúde ficaram dissociados do conceito de qualidade de vida. Embora desde o seu surgimento, os hospitais tivessem por objetivo principal atender as necessidades sociais e de saúde, a concepção humanista e holística do hospital como espaço de tratamento, bem-estar e cura é recente. 
Segundo Torrinha, por definição o termo hospital deriva do latim hospitále e significa hospitaleiro, relativo a hospedes (TORRINHA, 1942). No passado o hospital cumpria seu papel “ipsis litteris” como local de hospedagem e nesta época não havia distinção entre pessoas enfermas, pobres, viúvas, órfãos ou peregrinos; todos se misturavam e buscavam suprir neste espaço as suas necessidades de cuidado, sendo o hospital um lugar de hospedagem. A função da cura e do tratamento não existia e a “medicina” – entendida em sua concepção atual – não era realizada: tratava-se apenas do fornecimento de um abrigo e do estabelecimento de uma rotina.
Com o advento do cristianismo surge uma visão humanística a qual altera a organização social e as responsabilidades do indivíduo. Assim surge o conceito de serviços gerais de assistência aos menos favorecidos e aos enfermos, idosos, órfãos, viúvas, da mesma forma que os viajantes e peregrinos, todos sustentados pela contribuição dos cristãos. Concomitantemente, neste mesmo período surge novos preceitos para a vida monástica, fato que reforçou a importância de ajuda aos doentes visando um tratamento em busca da cura. Também houve nesta época uma difusão do estudo das ervas medicinais e isto impactou na modificação da alimentação fornecidas aos enfermos e na disposição dos prédios onde estas pessoas eram abrigadas.
A partir do século XVIII, com o Iluminismo e a Revolução Industrial, constrói-se uma nova visão sobre o homem e a natureza. A crescente especialização das ciências e a ampliação dos conhecimentos neste período contribuíram para a busca do melhoramento das condições sanitárias, tendência que foi intensificada ao longo do século XIX. Logo, é no século XVIII por volta de 1770, quando a doença passa a ser reconhecida como fato patológico que o hospital se torna um instrumento de cura.
As transformações econômicas e sociais também alteraram a forma de inserção dos hospitais na vida urbana, visto que com a melhora de vida das pessoas nas cidades ocorreu aumento significativo na imigração da zona rural, consequentemente estes locais antes de hospedagem precisaram adaptar-se a esta nova realidade. Economicamente, a imigração obrigou estas instituições a atender uma demanda maior de pessoas, em menor tempo e com controle dos custos. Além deste planejamento, a classe médica passou a buscar um maior aprofundamento no estudo de algumas doenças, surgindo na classe burguesa clientes em busca deste atendimento especializado, pago com recursos financeiros do próprio paciente.
Com a continuidade do desenvolvimento da medicina e as novas descobertas desta ciência, houve a implantação de métodos antissépticos que contribuíram na diminuição das mortes por infecção ou por uso de técnicas equivocadas. Pode-se dizer então que gradativamente os hospitais deixaram de ser um lugar de hospedagem de pobres que iam lá para morrer, passando a ser um local onde podiam curar-se. A partir desta mudança os hospitais tornaram-se centros de estudo científico da medicina e das áreas afins, bem como, passaram a se preocupar com os efeitos psicológicos que o ambiente impõe aos usuários destes espaços.
Atualmente, segundo dados compilados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) existe a necessidade de que estas transformações continuem a ocorrer, visto que indicam uma relação entre o percentual de investimento em saúde de vários países e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), sendo este índice considerado um excelente parâmetro para uma gestão pública eficiente na área de saúde. Conforme demonstrado no gráfico a seguir, quanto maior o investimento na saúde maior é o IDH do país, fato este que demonstra a necessidade de ações contínuas relacionadas a renda, educação e a própria saúde.
Gráfico 1: Investimento em saúde comparado com o IDH.
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados da Organização Mundial de Saúde.
A pesquisa destes dados também evidencia que atualmente os países com melhores investimentos em saúde e com elevado IDH são: Suíça com 21% e IDH de 0,93, Estados Unidos da América com 19,8% e IDH de 0,91e Alemanha com investimento de 18,5% em saúde e IDH de 0,91.
No Brasil observa-se que o índice de investimento em saúde é de 8,7%, percentual que coloca o país abaixo da média mundial de 11,7%. No entanto o IDH do Brasil que é de 0,75 o que segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) classifica com um índice alto a nível mundial. 
Segundo a Organização mundial de saúde (OMS) o sistema de saúde implantado nos países europeus e nos Estados Unidos da América tornaram-se uma referência importante para o desenvolvimento dos espaços hospitalares, visto que estes países concentram suas pesquisas não só em formas de tratamentos, mas na criação de equipamentos e na distribuição do fluxo interno dos hospitais. Concomitantemente, também houve uma preocupação nestes países em possuir hospitais especializados em determinadas enfermidades, visto que a adoção destes projetos diminui o risco de infecções e contaminações, além de aumentar o conhecimento específico em um determinado assunto.
Dados de uma pesquisa desenvolvida pela empresa de consultoria em comunicação Healthcare Global sobre as dez melhores instituições hospitalares do mundo constatou-se que há uma predominância de hospitais de cunho especializado neste rol. Desta forma podemos afirmar que há uma tendência mundial em replicar esta ideia e que os hospitais se tornem cada vez mais específicos no atendimento de determinadas doenças. 
Há que se considerar que além deste movimento nas áreas de saúde em busca de uma especialização, os hospitais especializados em tratamento e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) também são cada vez mais necessários, visto que estas doenças são responsáveis por cerca de 60% das causas de morte. 
Os avanços tecnológicos e os estudos científicos na área da saúde impulsionam outras áreas para uma busca constante de evolução com intuito de apresentar novas propostas que atendam às necessidades dos diferentes setores da saúde. Um exemplo desta evolução é a necessidade do planejamento adequado dos ambientes de saúde, visto que as transformações no ambiente físico e social de atendimento podem influenciar positivamente nos tratamentos relativos à saúde.
A humanização dos espaços hospitalares vem impulsionando a ideia do hospital como integrante do processo da cura, o que leva os arquitetos a uma progressiva especialização no projeto destes espaços. Cabe destacar ainda que vários aspectos como a distribuição espacial e fluxos tornam-se gradativamente essenciais na resolução de problemas na prática projetual da arquitetura hospitalar. Na literatura sobre o tema existem dados que apontam que essa preocupação se inicia no século XVIII com o combate a superlotação de leitos, chegando ao final do século XIX com a ampliação significativa da área ocupada por essas edificações, através da difusão do modelo pavilhonar o qual buscava facilitar a circulação e renovação do ar a fim de adaptar-se às descobertas de Pasteur. O edifício hospitalar passa então a ser organizado segundo a especialização de áreas internas, baseada em atividades de cuidados aos pacientes e seus diversos apoios.
Desta forma, é possível constatar que, somente a partir de meados do século XX, com o crescente interesse da sociologia e da antropologia pela saúde e pela doença que ocorreu o favorecimento da renovação dos estudos sobre os espaços hospitalares. A partir destas novas descobertas organizaram-se movimentos sanitaristas em diversos países com o objetivo de garantir o direito universal à saúde. No entanto, sabe-se que as críticas a exclusão social não são resolvidas apenas com a ampliação da saúde a todos. Assim as várias áreas ligadas a saúde são obrigadas a chegar a um consenso de que precisam unir esforços para renovar os espaços hospitalares e, nesse contexto, a humanização surge como promessa de solução.
Desta forma, para compreender quais as transformações arquitetônicas que efetivamente interferiram na qualidade de vida e na saúde das pessoas, faz-se necessário traçar um panorama histórico destas construções no mundo e no Brasil, bem como contextualizar a inserção da humanização nos espaços hospitalares e os aspectos sócio econômicos relacionados ao desenvolvimento das cidades. 
1.1 PANORAMA HISTÓRICO MUNDIAL
Segundo Miquelin, um dos locais mais antigos relacionados ao atendimento à saúde foi construído na civilização egípcia o templo de DEIR-EL-BAHARI em Tebas. Durante o período da antiguidade, 2800 a.C. os pacientes eram atendidos pelos sacerdotes de Imhotep (MIQUELIN, 1992). Ainda no período da antiguidade é importante destacar a Grécia e o Império Romano nos quais surgiram outros edifícios importantes para arquitetura hospitalar. 
Na Grécia existiram três tipos de edifícios ligados à saúde: os de domínio público chamados de Prythaneé que eram construções destinadas ao tratamento de saúde e aos cuidados com os idosos; os privados chamados de Latréias que eram casas de médicos para tratamento de seus pacientes e as construções de cunho religioso, que eram templos consagrados a Asclépios – Deus da medicina. Os dois primeiros estabelecimentos estavam associados ao tratamento dos enfermos e o terceiro – o templo era destinado a hospedagem de doentes em busca de cura. Os templos localizavam-se fora da cidade, em bosques e próximos a água corrente a qual era indispensável aos banhos e abluções (purificação pela água).
Figura 1: Templo de Asclépios, Grécia, séc. IV a.C. (a) planta; (b) corte; (c) croqui.
Fonte: MIQUELIN, 1992.
No Império romano surgiram duas formas de arquitetura voltada para o tratamento da saúde: Termas e Valetudinárias (MIQUELIN, 1992). As termas eram locais destinados aos banhos públicos que tinham diversas finalidades, entre as quais a higiene corporal e a hidroterapia (terapia pela água com propriedades medicinais). As termas romanas são compostas por um grande saguão de acesso, vestiários de ambos os lados, salas de repouso, piscina descoberta, salas de banho de acordo com a temperatura e sauna.
As Valetudinárias foram consideradas por vários autores como precursoras do hospital ocidental. O Valetudinarium era uma espécie de hospital militar de campanha, destinado a acolher e tratar doentes, feridos e soldados em geral. Este hospital localizava-se ao longo das estradas e próximo a linhas de fronteira do Império. Um exemplo deste tipo de edifício é o Valetudinarium de Windisch datado do século I d.C. Do ponto de vista morfológico, observa-se nas valetudinárias pela primeira vez, a organização de um sistema de circulações que delimitou corredores internos e estabeleceu limites entre o espaço público e o privado.
Figura 2: Valetudinarium de Windisch, Suíça, séc. I d.C. Planta: 1. Acesso; 2. Pátio; 3. Quadros enfermeiras; 4. Quartos pacientes; 5. Circulação; 6. Passagem; 7. Vestíbulos.
Fonte: MIQUELIN, 1992.
Um outro fato importante relacionado a história dos hospitais ocorreu no ano 325 d.C. durante o Concílio de Nice quando a igreja recomenda que cada vila reserve um local separado para o abrigo dos viajantes, enfermos ou pobres.
Na idade média os hospitais eram implantados em aglomerados urbanos ou em cruzamentos de rotas comerciais e tinham o papel de abrigar viajantes e confinar pessoas doentes. A morfologia básica do hospital medieval era a nave, característica da arquitetura religiosa, onde a nave era em forma de abóbadas e os vãos maiores, melhorando significativamente as condições de iluminação e ventilação. 
Um dos principais modelos da arquitetura medieval foi o hospital do Santo Espírito de Lubeck, datado de 1286. Sua nave abriga quatro fileiras de leitos iluminados por grandes aberturas localizadas no alto das paredes laterais, e um altar localizado numa das extremidades, além do porão sob o nível dos leitos destinado as salas para tratamentos e isolamento.
Figura 4: Enfermaria do Hospital de Montpellier.
Fonte: TOLLET, 1892.
Figura 3: Figura 5: Hospital Santo Espírito de
Lubeck, 1286. Planta: 1. Acesso; 2. Capela; 
3. Nave dos leitos; 4. Pátio; 5. Serviço.
Fonte: MIQUELIN,1992.
Na Renascença os hospitais passaram a ser construções mais complexas. Os hospitais com tipologia em cruz desta época utilizaram duas formas básicas: o elemento cruciforme e o pátio interno ou claustro, rodeado por galerias e corredores. Um dos principais modelos é o Ospedalle Maggiore de Milão, construído em 1456.
Figura 5: Ospedalle Maggiore, Milão, 1456. (a) planta; (b) croqui; 1. Acesso; 2. Capela; 3. Pátios; 4. Internação em cruz. 
Fonte: MIQUELIN, 1992.
É importante citar que embora na Renascença tenham ocorrido grandes avanços na Arquitetura hospitalar, estes continuaram a acontecer também no início da Revolução industrial. Nesta época os hospitais seguiram o modelo pavilhonar sendo destaque o Royal Naval hospital em Plymouth na Inglaterra. Neste modelo havia dois pavilhões com dois pavimentos ligados por uma galeria de circulação coberta que delimitava um pátio interno. O diferencial deste modelo é a área de isolamento para doenças infecto contagiosas, além disto serviu de base para construção do hospital Lariboisiere (1846) em Paris. 
No Lariboisiere o edifício configura-se em dois grupos de cinco pavilhões, intercalados por áreas de jardins e ligados por uma circulação que contorna o pátio interno. Este modelo privilegiou o sistema de ventilação com um pé direito alto.
Figura 6: Hospital Lariboisiere, Paris, 1846-1854. (a) planta; (b) croqui; 1. Acesso; 2. Administração; 3. Consulta; 4. Farmácia; 5. Cozinha e serviços; 6. Pacientes; 7. Pessoal; 8. Salas de cirurgia; 9. Banhos; 10. Lavanderia; 11. Capela; 12. Necrotério.
Fonte MIQUELIN, 1992.
Cabe ressaltar que foi a partir das observações sobre o sistema pavilhonar que a enfermeira inglesa Florence Nightingale estabeleceu as bases e dimensões do que ficou conhecido como “enfermaria Nightingale”, em 1857. O mérito desta enfermeira não se restringe apenas ao modelo de enfermaria, mas ao pioneirismo em entender que a saúde dos pacientes dependia também da organização e configuração espacial do edifício, privilegiando o conforto e a ventilação cruzada. O modelo Nightingale perdurou até o final do século XIX.
Figura 7: Enfermaria Nightingale, 1857. Ventilação cruzada. 
Fontes: MIQUELIN, 1992 - Esquema de ventilação elaborado pelo autor e ÁRIES, 1992.
Nas primeiras décadas do século XX, o modelo pavilhonar Nightingale ainda era referência para a arquitetura na saúde (Miquelin, 1992). No entanto, com os avanços tecnológicos no início do século XX, surgiram críticas aos altos custos de implantação do sistema pavilhonar, fato que impulsionou o surgimento na América do Norte de um novo conceito, o monobloco vertical com plantas compactas (TOLEDO, 2006). A estrutura de desempenho desses monoblocos verticais, que segundo Miquelin eram enfermarias Nightingale sobrepostas, revelaram dificuldades na distribuição dos vários serviços que impactam no fluxo interno. Com o passar do tempo seu conceito passou por modificações para corrigir os problemas de fluxo dando origem aos hospitais de tipologias mistas, nas quais a proposta era de melhor distribuição das diferentes áreas funcionais (MIQUELIN, 1992).
O hospital de Veneza na Itália projetado em 1963 pelos arquitetos Le Corbusier e Guilhermo Jullian, mesmo não tendo seu projeto executado é considerado uma das primeiras referências mundiais dessa nova arquitetura, preocupada em oferecer um rol diversificado de serviços, com baixo custo e qualidade. Este hospital foi projetado de maneira a se integrar na paisagem da cidade e seu projeto horizontal não pretende se tornar um marco e sim uma extensão do tecido da cidade. Nele os espaços internos derivam de uma grelha estruturante que não só permite organizar o extenso programa do hospital como integrá-lo com o tecido urbano da cidade, sem perder sua coerência interna.
Outro hospital projetado com a visão de atender ao novo conceito de humanização do atendimento e melhor uso dos espaços é o New North Zealand Hospital em Hillero na Dinamarca, projetado em 2014 pelos arquitetos Jacques Herzog e Pierre de Meuron. O objetivo deste projeto foi aproximar os pacientes da natureza, tendo sua localização próxima a uma floresta. Segundo os arquitetos este projeto demonstra que a arquitetura e funcionalidade podem ser combinadas dentro de um hospital. 
Desta forma, pode-se dizer que a criação de espaços que propiciem o desenvolvimento do setor de saúde e assim contribuam para o bem-estar e recuperação dos pacientes representa uma necessidade imprescindível para as cidades e consequentemente para o país, sendo também a área de saúde um nicho de trabalho expressivo para a arquitetura.
1.2 PANORAMA BRASILEIRO
Segundo Costeira (2008, p. 60) as Santas Casas têm um papel importante na configuração da assistência à saúde, no Brasil e até hoje exercem grande influência na prestação de cuidados às populações, com sedes geralmente funcionando em edifícios muitos antigos, servindo como objeto de estudo e reflexão para a saúde pública e a arquitetura de ambiente de saúde. 
No estudo da história hospitalar brasileira percebe-se que o desenvolvimento dos hospitais no nosso país se confunde com as ações governamentais de assistência à saúde como a reforma higienista do Prefeito Pereira Passos e do sanitarista Oswaldo Cruz e a expansão em 1945 das áreas de atuação dos Institutos de aposentadorias e pensões, os quais passaram a incluir serviços na área da saúde.
Com a concretização do sistema único de saúde (SUS) em 1990 e as políticas de humanização dos ambientes hospitalares conforme descrito na Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990) passa a valer o atendimento à saúde a todos os segmentos da população.
As estruturas hospitalares arquitetônicas brasileiras também foram influenciadas pelos conceitos de modernidade preconizados por Le Corbusier. Como exemplos disto temos a maternidade universitária de São Paulo (1944) de Rino Levi, hospital da Lagoa (1952) de Oscar Niemeyer e o hospital de Clínicas de Porto Alegre (1955) de Jorge Moreira. 
Figura 8: Hospital da Lagoa – Oscar Niemeyer, 1952.
Fonte:<http://saudeonline.grupomidia.com/wp-content/ uploads/ 2012/12/lagoa_SN.jpg>
Em 1960 a Fundação Hospitalar de Brasília, instituição encarregada de implantar e administrar o plano de saúde da cidade, tentou-se estabelecer um novo modelo de hospital extensível e flexível de modo a absorver as inovações proporcionadas pelo progresso científico. A ideia era promover uma modificação conceitual dos ambientes hospitalares, objetivo este alcançado pelo arquiteto Lelé na rede Sara Kubitschek.
Nos anos 70 com o acelerado processo de urbanização brasileira e consequentemente maior demanda por serviços essenciais, entre eles os de saúde, levaram o Ministério da Saúde a reorganizar as normas para as edificações hospitalares. Este novo modelo de recomendações causou um grande impacto na implantação física dos hospitais, exigindo uma nova abordagem para a arquitetura destas instituições. 
Ainda sobre a Arquitetura hospitalar brasileira contemporânea, não podemos deixar de destacar as obras de João Figueiras Lima – Lelé, por ajudar a criar uma instituição de caráter abrangente envolvida também com os problemas sociais, econômicos e culturais do país. Ao projetar a rede de hospitais Sara Kubitschek consegue resgatar o verdadeiro objetivo do hospital - espaço que contribui no processo de cura. Segundo Santos (2004) ao projetá-los com essa finalidade, o arquiteto Lelé resgata um objetivo que surge no final do século XVIII e que não vem sendo enfatizada por boa parte da arquitetura hospitalar contemporânea. No discurso do arquiteto João Filgueiras Lima, Lelé, as imagens da relação com a natureza e da integração entre a arquitetura e obras de artes, ambas já presentes na arquitetura moderna brasileira, são evocadas como possibilidade de humanização dos hospitais. Em conjunto com o artista plástico Athos Bulcão, Lelé, em seus hospitais, aproxima o espaço arquitetônico de elementos artísticos, como: painéis coloridos, muros de argamassa armada,pinturas, murais, entre outros. Busca-se, desta forma, a concepção de espaços mais alegres, que despertem o interesse dos pacientes e que sejam, portanto, belos.
Segundo esse arquiteto, apesar de os edifícios hospitalares serem projetos extremamente rigorosos em relação à funcionalidade, portanto muito importante a atenção a sua distribuição espacial e a seus fluxos, a beleza não deve ser excluída. A beleza é vista por Lelé como a chave para a humanização, visto que, em suas próprias palavras, ela “alimenta o espírito”. Deve-se, portanto, possibilitar no projeto de arquitetura hospitalar a junção destes dois fatores: humanização, através da beleza, e funcionalidade.
Figura 9: Rede Sarah – Salvador
Fonte: < http://www.sarah.br/media/1216/fortaleza-01.jpg>.
A ideia do lar e da intimidade também é frequente nos discursos sobre a necessidade de humanizar as arquiteturas voltadas para saúde, um exemplo disto é a visão do arquiteto Jorge Ricardo Santos de Lima Costa que discute sobre as repercussões que a estadia no espaço hospitalar exerce na vida do paciente. Segundo o autor, o hospital é o símbolo da possibilidade de reformulação corporal e mental e, portanto, seus espaços devem ser configurados a partir do ponto de vista de seus usuários.
Para o arquiteto, o acolhimento em um hospital é, muitas vezes, traumatizante pelo fato de se tratar de um rito de passagem, em que o indivíduo sai do domínio privado (ambiente familiar) e entra no domínio público (hospital). No ambiente familiar, o ser humano está sujeito a um espaço com dimensões reduzidas – que transmitem sensações de bem-estar e acolhimento –, enquanto que o hospital é um ambiente com grandes dimensões, corredores extensos que transformam o espaço em um local distante, estranho e impessoal, impedindo sua apropriação. Além disso, o problema do paciente é socializado, ou seja, o seu corpo é invadido por ações e pensamentos dos profissionais da saúde deixando o indivíduo submetido às forças e normas desse espaço.
Esta busca da analogia com o espaço urbano não é, de fato, muito corrente nos discursos brasileiros sobre a humanização do espaço hospitalar, contudo essa analogia aparece de forma latente em alguns projetos relevantes dentro do contexto nacional, como é o caso da ampliação do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O projeto de ampliação desenvolvido pelos arquitetos Jarbas Karmam, Domingos Fiorentini e Jorge Wilheim reconfigurou o acesso e o espaço de recepção ao público através de uma galeria com grande pé-direito no térreo localizada no espaço de transição entre o segundo e o terceiro bloco. A intenção foi trocar os espaços frios e estressantes presentes nos hospitais tradicionais por um espaço mais humanizado, representado no caso por uma galeria semi pública. Deste modo, o paciente não é apartado do convívio social durante a sua estadia e o hospital se torna parte do espaço urbano.
1.3 LINHA DO TEMPO
Figura 10: Linha do tempo – Evolução hospitalar
Fonte: Desenvolvido pelo Autor.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através desse artigo é possível concluir que o conceito de humanização do espaço hospitalar ainda está aberto para novas descobertas, pois na prática ainda existem poucos projetos que contemplam este ideal. Atualmente, mesmo diante da visão restrita de alguns gestores é fundamental que o arquiteto ao projetar instituições de saúde, sejam hospitais especializados em doenças de alta complexidade ou clínicas para consultas ambulatoriais de rotina, considere os princípios da humanização e da sustentabilidade, a fim de ampliar os ensinamentos da arquitetura contemporânea. 
Cabe destacar que o projeto de ambientes hospitalares exige uma atenção especial por parte do arquiteto, pois envolve uma rigorosa legislação. Os hospitais são projetos complexos que seguem normas rígidas elaboradas pelo Ministério da Saúde e ANVISA, por este motivo precisam ser pautados em Lei, sustentáveis, funcionais, flexíveis, seguros e humanizados. Claro que é fundamental atender todas as diversas normas e as exigências sanitárias, mas o ponto essencial no projeto do hospital é ter um conceito embasado na humanização dos espaços, visto que este aspecto interfere no processo da cura e no bem-estar do paciente, além de contribuir na rotina de trabalho dos profissionais da saúde, favorecendo um ambiente de trabalho menos estressante e mais adequado. 
A funcionalidade destas instituições está embasada no objetivo de facilitar os fluxos dos processos, organizando e otimizando o tempo e também na distribuição adequada dos espaços. Desta forma, pode-se afirmar que a segurança direta gerada pela organização e adequação dos procedimentos e processos, refletirá no bem-estar dos usuários. 
O fato do hospital ser um projeto de alto investimento financeiro torna relevante a sua flexibilidade para a expansão, pois o crescimento destas instituições é inevitável e acontece em intervalos curtos de tempo. Há um aspecto muito significativo relacionado a expansão de um hospital que é o fato desta instituição precisar crescer sem parar o seu funcionamento. 
Enfim, devido à importância social de um hospital, o arquiteto precisa estar a par de todas as necessidades deste tipo de estabelecimento, buscando compreender as necessidades do trabalho nesta área tanto em relação aos funcionários como sob o ponto de vista do paciente. E, todo este cuidado com um único intuito: propor uma arquitetura hospitalar inclusiva, que colabore no processo de cura e no bem-estar de todos os que o utilizam.
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MIQUELIN, Lauro Carlos. Anatomia dos Edifícios Hospitalares. São Paulo: CEDAS, 1992.
LIMA, João Filgueira – Lelé. Arquitetura uma Experiência na Área da Saúde. São Paulo: Holcim, 2012. 
BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1976.
CARVALHO, Antônio Pedro Alves de. Implantação de unidades hospitalares. IN. CARVALHO, Antônio Pedro Alves d (org). Arquitetura de unidades hospitalares. Salvador: UFBA/FAU/ISC,2004. Pág. 11-20.
GOMEZ, Mariluz. Arquitetura Hospitalar e modelo gerencial. In. CARVALHO, Antonio P.A (org) Temas de arquitetura de estabelecimentos assistenciais de saúde. 2ed. Salvador Quarteto , 2003. Pág. 133-149.
TOLEDO, Luiz Carlos. Feitos para curar: arquitetura hospitalar & processo projetual. Rio de Janeiro: ArqSaúde; ABDEH, 2006.
TOLLET, Casimir. Les édifices hopitalier: depouis leur origine jusqu’à nos jours. 10. ed. Paris: [s.n.], 1892.

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