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Responsabilidade Civil Unidade II

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RESPONSABILIDADE CIVIL
Unidade II
5 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS
5.1 Do médico
As regras e princípios referentes à responsabilidade civil estabelecem em nosso país, via de regra, que 
aquele que causar dano a outrem, deve ressarci-lo por estes prejuízos.
 Lembrete
A responsabilidade civil do médico advém, também, desta disposição. 
Deve, pois, ser indenizado, caso postule o dano em juízo, aquele que 
submetido a tratamento médico, venha, por causa deste tratamento, a 
sofrer um prejuízo, seja de ordem material ou imaterial - patrimonial ou 
não patrimonial.
A fim de que se possa entender a situação jurídica que se estabelece entre o médico e o paciente 
lesado, alguns conceitos precisam ser relembrados como a diferença entre responsabilidade subjetiva 
e responsabilidade objetiva, bem como a responsabilidade contratual e a extracontratual e ainda os 
conceitos de obrigação de meios e obrigação de resultado.
A responsabilidade subjetiva (ou teoria da culpa) é aquela em que, além do ato lesivo do agente 
causador de lesão, do dano estar presente no lesado e do nexo causal estar estabelecido entre o ato 
lesivo e o dano ao lesado, tem que constar, nesta relação, a culpa do agente causador do dano. Esta 
culpa caracteriza-se pela presença de dolo ou só de culpa no sentido estrito, ou seja, de imprudência, 
negligência ou imperícia.
Por outro lado, a responsabilidade objetiva é aquela em que, presentes na relação entre o agente causador 
do dano e o lesado o ato lesivo, o dano no lesado e o nexo de causalidade entre este ato e este dano, não há 
que se falar em culpa para que fique caracterizada a necessidade de indenizar o lesado pelos prejuízos, de 
qualquer ordem, que porventura tenha sofrido. A presença de culpa é desnecessária para que se caracterize, 
juridicamente, a necessidade de indenizar o lesado pelos prejuízos dos quais tenha sido vítima.
A relação contratual é aquela que se estabelece entre as partes, baseada na autonomia da vontade 
de ambas. Decorre de uma convenção entre elas, tornando-se lei aquilo que for acordado pelas mesmas. 
Já a relação extracontratual é aquela que se estabelece entre as partes, decorrente de disposições legais 
presentes em nosso ordenamento. Independe da vontade das partes e é regida por dispositivos que 
vigoram erga omnes.
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A obrigação de meio se dá quando aquele que é contratado não se compromete com um 
objetivo específico ou determinado. Ele obriga-se a utilizar (no cumprimento da obrigação que 
tem com o contratante) toda a sua diligência e prudência, de acordo com as técnicas usuais 
naquele momento, para executar o procedimento com o qual se comprometeu.
A obrigação de resultado é, pelo contrário, aquela em que há um compromisso do contratado em 
atingir um resultado específico ou estabelecido para satisfazer o que se obrigou com o contratante. 
Quando não se atinge este resultado predeterminado, presume-se que o contratado agiu com culpa 
(culpa presumida).
Nas obrigações de meio, o ônus da prova cabe ao autor, o que, aliás, é a regra geral em nosso 
ordenamento jurídico. Nas obrigações de resultado, devido à presunção de culpa, há inversão do ônus 
da prova, cabendo ao requerido provar a inverdade do que lhe é imputado.
 Observação
A doutrina e a jurisprudência são unânimes em estabelecer que a 
atividade médica é regida pela responsabilidade subjetiva. Nesse sentido, é 
a inteligência do artigo 186 do Código Civil.
A partir do advento do Código do Consumidor, em seu artigo 14, parágrafo 4°, o comando ficou 
ainda mais expresso:
A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante 
a verificação de culpa.
Exemplo dos mais comuns em que se opera a relação de consumo do tipo contratual entre 
médico e paciente, é o que se refere à cirurgia estética. Neste tipo de operação, o médico 
vincula-se à obrigação de resultado (obtenção de determinado efeito prometido e esperado 
pelo paciente). Nesta hipótese, por tratar-se de uma obrigação de resultado, o que ocorre é 
a culpa presumida, devendo o médico, se for o caso, fazer prova em contrário. Ou seja: cabe 
ao profissional provar que não agiu com imprudência, negligência ou imperícia (até mesmo 
dolo), havendo uma inversão do ônus de provar. Essa responsabilização do médico, nestes termos 
referidos, decorre do vínculo que se estabelece entre este e o paciente, caracterizado como um 
contrato.
 Observação
Pode tratar-se de uma relação extracontratual com o paciente nos 
casos, por exemplo, de atendimento de emergência ou, até mesmo, de 
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atendimento a um paciente já encontrado em estado de inconsciência, 
quando do primeiro contato com o médico.
No caso da análise da relação contratual, o contrato que se estabelece entre o médico e o paciente 
não encontra uma colocação definida dentro dos contratos típicos ou nominados. Pode-se considerá-
lo atípico ou inominado, já que seria um contrato de serviço intelectual, com características especiais, 
até de aleatoriedade, visto não se quantificar com precisão seu objetivo – obrigação de meio que é. 
Contrato livre, tácito quase sempre, e geralmente, não feito por escrito. Celebra-se este contrato pela 
simples comunhão de vontade entre as partes – médico e paciente, ali no consultório médico. Daí sua 
informalidade.
E, não resta dúvida que, mesmo sendo uma obrigação de meio, cabe ao médico agir com diligência e 
prudência, para que venha a adimplir com aquilo pelo qual se obrigou, devendo atuar usando a melhor 
técnica compatível com o local e tempo do atendimento médico que realizar.
 Lembrete
A cura não pode ser o objetivo maior devido à característica de 
imprevisibilidade do organismo humano – mormente em estado de doença, 
o que se reflete em limitações no exercício da medicina.
Curar a dor é quase um ato divino. Ter a vida de um paciente, em suas 
mãos, esvaindo-se como grãos de areia na ampulheta, tendo que decidir os 
rumos a serem tomados, antes que seja tarde demais, é uma atribuição para 
verdadeiros vocacionados, como um sacerdócio estabelecido para o bem da 
coletividade (GAGLIANO; PAMPLONA, 2003, p. 238).
 Observação
Em contrapartida, já não se pode dizer o mesmo quando estivermos 
frente a um atendimento médico por ocasião de uma cirurgia plástica 
estética. Para os casos de cirurgia plástica reparadora, cabe a caracterização 
de uma obrigação de meio.
O estudo da responsabilidade civil do médico ganhou uma proporção maior nos debates forenses 
nos últimos anos com os chamados erros médicos. É possível verificar que, desde o Código de Hamurabi, 
a responsabilidade legal do médico foi prevista, estabelecendo uma punição para a conduta errônea do 
mesmo diante do paciente.
Com a imagem do médico da família, profissional que cuidava do pai, filho e neto, que convivia no 
seio familiar com respeito e admiração, que poucos ousavam contestar os procedimentos e resultados, 
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o erro e a morte raramente eram imputados a ele, sendo considerados frutos da incapacidade do meio 
hospitalar ou da ausência de medicamento adequado para a cura do paciente.
Durante muito tempo, o médico era visto como um profissional cujo título lhe garantia a omnisciência, 
como profissional, amigo e conselheiro, figura de uma relação social que não admitia dúvida sobre a 
qualidade de seus serviços, e, menos ainda,a litigância sobre eles. O ato do médico se resumia na relação 
entre uma confiança e uma consciência.
Entretanto, com a evolução da sociedade, as expectativas se ampliaram e com elas as obrigações e 
cobranças impostas pelo paciente ao médico, até mesmo por conta da rede de seguridade social, dos 
planos de saúde e dos convênios.
 Observação
O advento da Constituição de 1988, do Código de Defesa do Consumidor 
e do Novo Código Civil fez com que inúmeras condições legais amplas para 
a discussão da atuação do profissional liberal ocorressem. O Direito não 
vilipendiou nenhuma das profissões liberais. Possibilitou, em verdade, ao 
cidadão comum, a discussão judicial de seu alegado direito, até para que 
não reste dúvidas, no seio social, acerca do procedimento adotado pelo 
profissional que conduz suas próprias atividades, sem interferência de 
outras pessoas, como um patrão, por exemplo.
Interessante anotar que não há um conceito de erro médico, pois as particularidades da atuação do 
profissional devem ser avaliadas em cada caso, ainda mais diante do constante avanço da Medicina no 
aprimoramento e criação de técnicas e tratamento.
A obrigação do médico não é, necessariamente, curar o doente, mas utilizar todo seu zelo e 
conhecimento profissional em cada caso. Ensina Monteiro (2003, p. 45) que “nos contratos de meio, o 
devedor obriga-se a empregar diligência, a conduzir com prudência para atingir a meta colimada pelo 
ato”.
 Observação
Assim, a responsabilidade do médico há de ser apurada por meio da 
verificação da conduta do medido no cumprimento de sua obrigação de 
meio, mantida com o paciente. Deve o profissional de Medicina empregar os 
meios conhecidos, necessários e disponíveis para o tratamento do paciente, 
mas é evidente que não há como garantir o perfeito e matemático resultado 
do seu trabalho.
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Na obrigação de resultado, o devedor obriga-se a realizar um fato determinado, a alcançar certo objetivo. 
É o caso típico do dever assumido pelo cirurgião plástico. Não atingindo o resultado estético pretendido, aflora 
a responsabilidade civil do profissional, que deverá indenizar o paciente pelo dano causado.
Os pacientes, na maioria dos casos de cirurgia estética, não se encontram doentes, mas pretendem 
corrigir um defeito, um problema estético. Interessa-lhes, efetivamente e objetivamente, o resultado. Se 
o cliente fica com aspecto pior após a cirurgia, não se alcançando o resultado que constituía a própria 
razão de ser do contrato, cabe-lhe o direito à pretensão indenizatória. A indenização abrange, geralmente, 
todas as despesas efetuadas, danos morais e estéticos, bem como o pagamento de tratamentos e novas 
cirurgias.
Neste diapasão, o Código do Consumidor veio facilitar sobremaneira os reclamos de maus serviços 
médicos, já que, por vezes, o acesso à Justiça era dificultado pela manutenção dos princípios tradicionais 
da responsabilidade civil subjetiva.
A visão da vulnerabilidade do consumidor permitiu ao Estado lhe cobrir de maiores proteções, 
indicando que, mesmo havendo a celebração de um contrato, o polo hipossuficiente será o paciente. A 
possibilidade de alteração do ônus da prova gerou ainda uma novidade processual ímpar, ao indicar que 
poderá caber ao médico a prova de sua não responsabilidade. O juiz deverá verificar se é pertinente e 
verídica a alegação do consumidor ou efetivamente o seu estado de hipossuficiência, segundo as regras 
ordinárias de experiência. Assim os tribunais já entenderam:
Responsabilidade civil. Médico e hospital. Inversão do ônus da prova. 
Responsabilidade dos profissionais liberais.
Matéria de fato e jurisprudência do STJ (Resp. Nº 122.505-SP).
1. No sistema do Código de Defesa do Consumidor a “responsabilidade 
pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de 
culpa” (art. 14, § 4º).
2. A chamada inversão do ônus da prova, no Código de Defesa do Consumidor, 
está no contexto da facilitação da defesa dos direitos do consumidor, ficando 
subordinada ao “critério do juiz, quando for verossímil a alegação ou quando 
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências” (art. 6º, 
VIII). Isso quer dizer que não é automática a inversão do ônus da prova. 
Ela depende de circunstâncias concretas que serão apuradas pelo juiz no 
contexto da facilitação da defesa” dos direitos do consumidor. E essas 
circunstâncias concretas, nesse caso, não foram consideradas presentes 
pelas instâncias ordinárias.
3. Recurso especial não conhecido. Data da decisão: 24/05/1999 - Órgão 
julgador: T3 - Terceira turma. STJ – Acórdão: Resp. 171988/RS; Recurso 
especial: 1998/0029834-7 - Fonte: DJ. Data: 28/06/1999 PG: 00104 BCC 
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VOL.: 00194 PG: 00074 - JSTJ VOL.: 00008 - PG: 00294 - RT VOL.:00770 
PG:00210 - Relator Min. Waldemar Zveiter.
Indenização. Danos morais e materiais. Responsabilidade civil. Erro médico. Não 
ocorrência. Anestesia. Exame pré-operatório realizado. Ação improcedente. 
Código de defesa do consumidor. - Art. 6.º, INC. VIII - Inaplicabilidade.
A responsabilidade civil dos médicos somente decorre de culpa provada, 
tendo em vista ter sido adotado o sistema de responsabilidade subjetiva 
pelo Código Civil, de forma que, não resultando provadas a imprudência, 
imperícia ou negligência, nem o erro grosseiro, fica afastada a obrigação de 
indenizar. - Recurso não provido. Apelação Cível Nº 360.533-8, da Comarca de 
Brasópolis.
Indenização. Hospital. Responsabilidade objetiva. Erro na aplicação de 
medicamento. Culpa caracterizada do preposto. Responsabilidade subjetiva. 
Dano moral e dano estético. Desnecessidade de constituição de capital. 
É objetiva a responsabilidade do hospital por ato de preposto que cause 
dano à paciente internado sob seus cuidados, nos termos do que estabelece 
o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, sendo, no entanto, subjetiva 
a responsabilidade do preposto, dependendo de comprovação de culpa. 
Demonstrado pelo conjunto probatório o erro de auxiliar de enfermagem 
ao diluir medicamento em substância incorreta, ocasionando na paciente 
parada cardiorrespiratória após aplicação da medicação, configurados 
se encontram os elementos necessários a ensejar o dever de indenizar o 
hospital à paciente em lide principal contra ele movida, assegurando-se 
o consequente direito de regresso contra seu preposto cuja culpa restou 
demonstrada. É possível a cumulação do ressarcimento do dano estético 
com o dano moral, desde que, em relação a este, ocorra deformidade 
física que exponha a vítima a constrangimentos, causando-lhe também a 
perda da autoestima, experimentando prejuízos em conviver ou suportar 
a lesão estética, que tem que ser indubitavelmente comprovada. Sendo o 
beneficiário da pensão incluído na folha de pagamento da empresa vencida, 
pode ela ser dispensada de constituir capital garantidor do pagamento, 
a critério do juiz. Número do Processo: 0328035-7 (7º) - Órgão Julgador: 
Terceira Câmara Cível - Recurso: Apelação (Cv) - Relator: Duarte de Paula 
- Data do Julgamento: 13/06/2001 - Dados da Publicação: Não publicado 
Apelação cível Nº 328.035-7 - Monte Carmelo.
5.2 Do advogado
Como profissional liberal, o advogado responde civilmente pelos danos que causar ao cliente. Ele 
tem a liberdade e a independência na defesa do cliente, porém também tem obrigação de prudência. 
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Incorre em responsabilidade civil o advogado que, imprudentemente, não segue as recomendações do 
seu cliente. Nahipótese de consulta jurídica, o conselho insuficiente deve ser equiparado à ausência de 
conselho, o que também pode ocasionar a responsabilização do advogado.
No Direito brasileiro, as seguintes as normas gerais podem ser aplicadas ao advogado:
a) Art. 133 da Constituição Federal - estabelece a inviolabilidade do advogado por seus atos e 
manifestações no exercício da profissão. É norma de exoneração de responsabilidade, não podendo 
os danos daí decorrentes serem indenizados, salvo no caso de calúnia ou desacato;
b) Art. 159 do Código Civil - regra básica da responsabilidade civil subjetiva, de um modo geral, que 
é aplicável aos profissionais liberais;
c) Art. 32 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB) - responsabiliza o advogado pelos 
atos que, no exercício profissional, praticar com dolo ou culpa;
d) Art. 14, § 4º, do Código do Consumidor – reforça, apesar de tratar em grande parte da responsabilidade 
objetiva, a verificação da culpa, no caso dos profissionais liberais.
A responsabilidade civil do advogado assenta-se nos seguintes elementos:
a) ato (ou omissão) de atividade profissional;
b) dano material ou moral;
c) nexo de causalidade entre o ato e o dano;
d) culpa presumida do advogado;
e) imputação da responsabilidade civil ao advogado.
O advogado exerce atividade, entendida como complexo de atos teleologicamente ordenados, com 
caráter de permanência. A atividade de advocacia depende de requisitos, qualificações e controles 
previstos em lei. Ela obriga, e qualifica como culposa, a responsabilidade pelo dano decorrente de 
qualquer de seus atos de exercício.
A culpa perdeu progressivamente o lugar privilegiado que ostentava, com o crescimento das hipóteses 
de responsabilidade objetiva. Porém, com relação ao advogado, ela será sempre presumida. O dolo, no 
caso do advogado, pode significar a existência, por exemplo, da lide temerária, quando houver coligação 
com o cliente para lesar a parte contrária. Isso é uma gravíssima infração à ética profissional e, também, 
acarretará responsabilidade solidária, tanto por dano material como por dano moral. Ao contrário da 
culpa, o dolo em lide temerária acarreta mais implicações ao advogado, já que este foi beneficiado 
diretamente e indevidamente.
A lide temerária, no entanto, não se presume, nem pode ser decretada de ofício pelo juiz. Também 
não basta a prova da temeridade - que pode ser resultado da inexperiência ou da simples culpa do 
advogado. Deverá ser apurada em ação própria, proposta contra o advogado, pelo próprio cliente.
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Considera-se nula a cláusula de irresponsabilidade no contrato de prestação de serviços de advocacia, 
especialmente pelas novas dimensões do Código do Consumidor. Ele não excluiu o profissional liberal 
das regras sobre responsabilidade do fornecedor. Se assim fosse, tê-lo-ia retirado de seu campo de 
aplicação. Também não o remeteu à responsabilidade negocial do direito comum das obrigações. Sua 
responsabilidade é extranegocial nas relações de consumo.
 Observação
Caberá ao cliente provar a existência do serviço, ou seja, a relação 
negocial entre ambos, e a existência do defeito de execução, que lhe 
causou danos, sendo suficiente a verossimilhança da imputabilidade. 
Cabe ao advogado provar, além das hipóteses comuns de exclusão de 
responsabilidade, que não agiu com culpa ou dolo. Se o profissional liberal 
provar isso, a responsabilidade não lhe poderá ser imputada.
Essa é a inteligência possível do § 4º do art. 14 do Código do Consumidor, que impõe a verificação 
da culpa para responsabilizar o profissional liberal pelos defeitos do serviço que prestou. No caso do 
fornecedor de serviços em geral, cabe ao advogado o ônus da contraprova, em hipóteses que a lei 
delimita em numerus clausus:
a) não houve defeito no serviço, e, portanto, dano ao consumidor;
b) a culpa pelo defeito foi exclusivamente do consumidor;
c) o dano foi pré-excluído, uma vez que o suposto defeito decorreu da adoção de novas técnicas.
Além delas, devemos cogitar outras hipóteses de pré-exclusão de contrariedade a direito previstas 
no direito obrigacional comum, como o caso fortuito e a força maior, a legítima defesa e o estado de 
necessidade.
A culpa exclusiva do consumidor, no caso dos serviços, é sempre mais difícil que no caso de produtos, 
máxime em se tratando de advocacia; todavia, ocorre como nos seguintes exemplos: o depoimento 
pessoal do cliente, que contradiz a linha de defesa do advogado; a falta de entrega de documento, 
imprescindível para o caso; a falta de adiantamento para pagamento do preparo do recurso; o prejuízo 
decorrente de negociação diretamente feita pelo cliente com a parte adversária, sem conhecimento do 
advogado etc.
Acabamos de demonstrar que a situação específica do profissional liberal correspondia à 
responsabilidade por culpa presumida. Ela tem por efeito prático justamente a inversão do ônus 
da prova. É assim em todas as hipóteses consagradas no Direito comum, desde quando a legislação 
brasileira passou a presumir a culpa do transportador. Supõe-se que o profissional liberal é culpado 
pelo defeito do serviço, salvo prova em contrário, por ser a presunção juris tantum. Não se pode 
cogitar, em culpa presumida, que se atribua o ônus da prova ao consumidor, porque tornaria 
ineficaz a presunção.
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RESPONSABILIDADE CIVIL
 Observação
Como regra geral, a doutrina dominante diz que o profissional liberal 
assume obrigação de meio, sendo excepcionais as obrigações de resultado. 
Na obrigação de meios, a contrariedade a direito reside na falta de diligência 
que se impõe ao profissional, considerado o estado da arte da técnica e da 
ciência, no momento da prestação do serviço (exemplo: o advogado que 
comete inépcia profissional, causando prejuízo a seu cliente). O profissional 
não prometeria resultado, mas a utilização, com a máxima diligência possível, 
dos meios técnicos e científicos que são esperados de sua qualificação.
O cliente que demanda o serviço do advogado para redação de algum ato jurídico (parecer, 
contrato, estatuto de sociedade etc.) procura evitar que algum problema futuro venha a 
lhe causar prejuízo. Tem-se assim tanto obrigação de meios como de resultado, o que torna 
inviável a dicotomia. Quando o cliente procura o advogado para ajuizar ação, não pretende 
apenas o patrocínio mais diligente, mas a maior probabilidade de resultado favorável. Em 
qualquer dessas situações, cabe ao advogado provar que não agiu com imprudência, imperícia, 
negligência ou dolo nos meios empregados e no resultado, quando de seu serviço profissional 
redundar dano.
6 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
A responsabilidade civil do Estado vem sendo regulada diferentemente, ao longo do tempo, pelas 
diversas Constituições Brasileiras.
Constituição Política do Império do Brasil de 1824:
Art. 179, item 29 – Os empregados públicos são estritamente responsáveis 
pelos abusos e omissões praticados no exercício das suas funções, e por não 
fazerem efetivamente responsáveis aos infratores.
Constituição Federal de 1891:
Art. 82 – Os funcionários públicos são estritamente responsáveis pelos abusos 
e omissões em que incorrerem no exercício de seus cargos, assim como pela 
indulgência ou negligência em não responsabilizarem efetivamente os seus 
subalternos.
Parágrafo único – O funcionário público obrigar-se-á por compromisso 
formal, no ato da posse, ao desempenho dos seus deveres.
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Constituição Federal de 1934:
Art. 171 – Os funcionáriospúblicos são responsáveis solidariamente com a 
Fazenda nacional, estadual ou municipal, por quaisquer prejuízos decorrentes 
de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seus cargos.
§ 1º - Na ação proposta contra a Fazenda pública, e fundada em lesão 
praticada por funcionário, este será sempre citado como litisconsorte.
§ 2º - Executada a sentença contra a Fazenda, esta promoverá execução 
contra o funcionário público.
Constituição Federal de 1937:
Art. 158 – Os funcionários públicos são responsáveis solidariamente com a 
Fazenda nacional, estadual ou municipal, por quaisquer prejuízos decorrentes 
de negligência, omissão ou abuso no exercício dos seus cargos.
Constituição Federal de 1946:
Art. 194 – As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente 
responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa qualidade, causem 
a terceiros.
Parágrafo único – Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcionários 
causadores do dano, quando tiver havido culpa destes.
Constituição Federal de 1967/69:
Art. 105 – As pessoas jurídicas de direito público respondem pelos danos que 
seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros.
Parágrafo único – Caberá ação regressiva contra o funcionário responsável, 
nos caso de culpa ou dolo.
Constituição atual de 1988:
Art. 37, § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, 
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso 
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Verifica-se pelas duas primeiras Cartas Políticas, a de 1824 e a de 1891, que os funcionários 
públicos eram direta e exclusivamente responsáveis por prejuízos decorrentes de omissão ou abuso 
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RESPONSABILIDADE CIVIL
no exercício de seus cargos. Nenhuma responsabilidade se assumia perante terceiros prejudicados 
por atos de seus servidores. Imperava a teoria da irresponsabilidade do Estado pelos atos de seus 
servidores.
Na vigência das Constituições de 1934 e de 1937, o princípio da responsabilidade solidária era 
observado. O prejudicado podia mover ação contra o Estado, ou contra o servidor público, ou contra 
ambos, bem como promover a execução de sentença da mesma forma, segundo o seu critério de 
conveniência e oportunidade.
 Lembrete
A partir da Constituição Federal de 1946, adotou-se o princípio 
da responsabilidade em ação regressiva. Desapareceu a figura da 
responsabilidade solidária: não havia mais o litisconsórcio necessário.
Com o advento do Código Civil de 1916, prevendo o princípio da regressividade e a elaboração 
de textos constitucionais a partir da Carta Política de 1946, adotou-se a teoria da responsabilidade 
objetiva do Estado. Interessante notar que, desde a Constituição de 1967, houve um alargamento na 
responsabilização das pessoas jurídicas de direito público pelos atos de seus servidores, pois se passou a 
abranger tanto as entidades políticas nacionais como as estrangeiras.
Esse alargamento acentuou-se na Constituição de 1988, que passou a estender a 
responsabilidade civil objetiva às pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de serviços 
públicos. Determinados serviços públicos, ou não essenciais (ao contrário dos essenciais, como 
os concernentes à administração da justiça, à segurança pública etc.), podem ter as respectivas 
execuções delegadas aos particulares.
De fato, não seria justo, nem jurídico, submeter o terceiro, vítima da ação ou omissão do concessionário, 
à difícil tarefa de comprovar a culpa do agente só porque o Estado delegou ao particular a execução 
da obra ou do serviço. Por isso, as empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviços 
públicos respondem objetivamente pelos danos causados por atos ou omissões de seus diretores, 
gerentes ou empregados.
 Observação
Diante disso, é possível se verificar que a responsabilidade civil do 
Estado, em relação aos atos comissivos ou omissivos de seus agentes, 
é de natureza objetiva, isto é, prescinde da comprovação de culpa. 
Neste particular, houve uma evolução da responsabilidade civil no que 
tange ao Estado. Esta teoria é a única compatível com a posição do 
Poder Público ante os seus súditos, pois o Estado dispõe de uma força 
infinitamente maior que o particular.
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O Estado utiliza-se de toda uma infraestrutura material e pessoal para a movimentação da 
máquina judiciária e de órgãos que devam atuar na apuração da verdade processual. A doutrina da 
responsabilidade objetiva do Estado comporta exame sob o ângulo de três teorias objetivas: a teoria da 
culpa administrativa, a teoria do risco administrativo e a teoria do risco integral, conforme preleciona 
Meirelles (1990):
Pela teoria da culpa administrativa, a obrigação de o Estado indenizar 
decorre da ausência objetiva do serviço público em si. Não se trata de culpa 
do agente público, mas de culpa especial do Poder Público, caracterizada 
pela falta de serviço público. Cabe à vítima comprovar a inexistência do 
serviço, seu mau funcionamento ou seu retardamento. Representa o estágio 
de transição entre a doutrina da responsabilidade civil e a tese objetiva do 
risco administrativo.
Pela teoria do risco administrativo, basta tão só o ato lesivo e injusto 
imputável à Administração Pública. Não se indaga da culpa do Poder 
Público mesmo porque ela é inferida do ato lesivo da Administração. Basta 
a comprovação pela vítima, do fato danoso e injusto decorrente de ação ou 
omissão do agente público (p. 36).
Essa teoria, como o próprio nome indica, é fundada no risco que o Estado gera para os administrados 
no cumprimento de suas finalidades que, em última análise, resume-se na obtenção do bem comum.
Alguns membros da sociedade, atingidos pela Administração Pública no desempenho regular de suas 
missões, são ressarcidos pelo regime da despesa pública, isto é, a sociedade como um todo concorre para 
a realização daquela despesa, representada pelo pagamento de tributos. Daí porque, pode-se afirmar 
que o risco e a solidariedade fundamentam essa doutrina, que vem sendo prestigiada, entre nós, desde 
a Carta Política de 1946. Ela se assenta exatamente na substituição da responsabilidade individual do 
agente público pela responsabilidade genérica da Administração Pública.
 Observação
Cumpre lembrar, entretanto, que a dispensa de comprovação de culpa 
da Administração pelo administrado não quer dizer que o Poder Público 
esteja proibido de comprovar a culpa total ou parcial da vítima para excluir 
ou atenuar a indenização.
Assevera Meirelles (1990):
Finalmente, pela teoria do risco integral, a Administração responde 
invariavelmente pelo dano suportado por terceiro, ainda que decorrente de 
culpa exclusiva deste, ou, até mesmo de dolo. É a exacerbação da teoria do 
risco administrativo que conduz ao abuso e à iniquidade social.
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RESPONSABILIDADE CIVIL
Essa teoria jamais vincou na doutrina e na jurisprudência e por isso mesmo 
nunca foi acolhida pelas diferentes Cartas Políticas de nosso país (p. 37).
Vale destacar que a expressão funcionário público, empregada pelas diversas Cartas Políticas, deve 
ser interpretada em seu sentido mais amplo.
Deve compreender, para fins de responsabilidade civil objetiva do Estado, qualquer pessoa 
incumbida da execução de qualquer obra ou serviço público. Deve ser sinônimo de agente 
administrativo ou agente público, isto é, todo aquele que presta serviços à Administração Pública,direta ou indireta.
Há que se verificar que os agentes políticos (que são apenas os governantes e seus auxiliares 
diretos como Ministros e Secretários das diversas partes do Poder Executivo), também são tidos como 
funcionários públicos.
 Observação
Para efeito de responsabilização civil do Estado, não importa que o 
agente público que praticou o ato ou a omissão administrativa estivesse 
irregularmente investido no cargo ou na função. O importante é que o 
dano causado a terceiro decorra da ação ou omissão do agente público no 
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las.
De fato, é indiferente para a vítima a qual título o causador do dano esteja vinculado à entidade 
política. Deste modo, o dano decorrente de abuso do agente público no exercício de suas atribuições não 
pode eximir o Estado da sua responsabilidade objetiva. Aliás, deveria até mesmo agravá-la, já que houve 
verdadeiramente a culpa in eligendo na escolha deste funcionário.
 Lembrete
Deste modo, a partir da Constituição de 1946, é a teoria do risco 
administrativo que vem sendo adotada, combinada com o princípio da 
ação regressiva. A Carta Política de 1988 estendeu a responsabilidade 
objetiva do Estado às pessoas jurídicas de direito privado, prestadoras de 
serviços públicos. Atualmente, qualquer pessoa de direito público, nacional 
ou estrangeira, submeter-se-á ao preceito do § 6º do art. 37.
O Estado responde objetivamente por dano causado por seu agente, em substituição 
à responsabilidade deste, sem indagação de culpa. E o ônus financeiro da assunção dessa 
responsabilidade objetiva é suportado por toda sociedade, que provê os cofres públicos por meio 
de tributos.
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O prejudicado pela ação estatal sempre terá o direito à indenização a ser pleiteada contra a Fazenda 
Pública ou contra a pessoa jurídica privada, prestadora de serviço público a que pertencer o agente 
causador do dano. A ação nunca é dirigida contra o agente público ou de quem faz as suas vezes. Estes 
se limitam a responder regressivamente ao Estado em casos de dolo ou culpa. Para a caracterização do 
direito à indenização, segundo a doutrina, devem concorrer as seguintes condições:
a) a efetividade do dano - deve existir concretamente o dano de natureza material ou moral 
suportado pela vítima;
b) o nexo causal - deve haver nexo de causalidade, isto é, uma relação de causa e efeito entre a 
conduta do agente e o dano que se pretende reparar. Inexistindo o nexo causal, ainda que haja 
prejuízo sofrido pelo credor, não cabe cogitação de indenização;
c) oficialidade da atividade causal e lesiva imputável ao agente do poder público - a 
responsabilidade civil objetiva do Estado decorre da conduta comissiva ou omissiva de seu agente 
no desempenho de suas atribuições ou a pretexto de exercê-las. É indispensável que o agente 
pratique o ato no exercício da função pública ou a pretexto de exercê-la, sendo juridicamente 
irrelevante se ele é praticado em caráter individual;
d) ausência de causas excludentes - a doutrina da responsabilidade objetiva adotada pela Carta 
Política está fundada na teoria do risco administrativo e não na teoria do risco integral. Por isso, 
a responsabilidade do Estado não é absoluta. Ela cede na hipótese de força maior ou de caso 
fortuito. Da mesma forma, não haverá responsabilidade do Estado havendo culpa exclusiva da 
vítima. No caso de culpa parcial da vítima, impõe-se a redução da indenização devida pelo 
Estado. São essas as regras básicas das excludentes.
 Lembrete
Resumindo, o Estado sempre responderá objetivamente pelo dano 
causado ao administrado por ação ou omissão de seus agentes, desde que 
injustamente causado. Depois de ressarcir a vítima, poderá promover a 
ação regressiva contra o agente causador do dano, se houver culpa ou dolo 
deste.
A existência do dolo ou da culpa é matéria que não diz respeito ao terceiro prejudicado pela atuação 
estatal. É assunto pertinente exclusivamente ao relacionamento funcional do agente com a entidade 
pública ou privada à qual se acha vinculado.
 Observação
No caso de responsabilidade por atos legislativos e judiciais, parte 
da doutrina defende a responsabilidade civil do Estado quando se 
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RESPONSABILIDADE CIVIL
tratar de leis inconstitucionais. Seria indenizável o dano causado por 
lei inconstitucional, porque, na realidade, o Estado não teria agido 
no exercício de sua função legislativa. Outros doutrinadores não 
admitem a responsabilidade do Estado por atos legislativos, porque a 
lei é uma norma geral e abstrata que atua sobre toda a coletividade. 
A responsabilidade pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, 
causarem a terceiros, a que alude o texto constitucional, é a de natureza 
civil, contrapondo-se à responsabilidade criminal.
O Poder Público e suas concessionárias, permissionárias e autorizadas respondem por perdas e danos 
por ação ou omissão de seus agentes, em conformidade com a teoria do risco administrativo, tanto para 
a indenização de danos materiais como para a de danos morais.
7 RESPONSABILIDADE CIVIL CALCADA NA RELAÇÃO DE CONSUMO
7.1 Nos contratos de transporte
O transporte coletivo urbano tornou-se instrumento fundamental para o cumprimento das 
funções sociais e econômicas do Estado moderno. Mas, lamentavelmente, a sua dívida social 
neste campo é enorme, porquanto o transporte coletivo em nosso país se torna cada vez mais 
deficiente e até desumano. A falta de investimentos em transporte coletivo superlotou as cidades 
com veículos automotores que causam monstruosos engarrafamentos.
 Observação
O transporte coletivo, atualmente, é um serviço público de interesse 
geral, cuja prestação se dá, via de regra, por meio de delegação (concessão 
ou permissão), nas formas do art. 175, da Constituição Federal. Vale destacar 
que o serviço público deve ser adequado, conforme disposto no art. 6º, da 
lei 8987/95.
Por pelo menos três aspectos distintos pode ser examinada a responsabilidade do transportador: em 
relação aos seus empregados, em relação a terceiros e em relação aos passageiros.
Com relação a terceiros, a responsabilidade do transportador é extracontratual. Não há entre eles 
nenhuma relação jurídica contratual. São estranhos até o momento em que ocorre o acidente, dele 
procedendo o vínculo jurídico ensejador do dever de indenizar. O art. 37, § 6º, da Constituição Federal 
dispõe ser esta responsabilidade objetiva, fundada no risco administrativo. Esse dispositivo constitucional 
só se aplica à responsabilidade extracontratual porque o texto fala em terceiros, e terceiro é quem não 
tem relação jurídica contratual com o causador do dano.
A responsabilidade em relação aos empregados será fundada no acidente de trabalho, uma vez 
que há, entre a empresa e o empregado, uma relação contratual trabalhista. A indenização deverá ser 
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pleiteada junto ao INSS. Mas, havendo dolo ou culpa do empregador, poderá ser também pleiteada uma 
indenização de Direito Comum, com base no art. 7º, XXVIII, da Constituição.
Apenas em relação ao passageiro a responsabilidade do transportador será contratual, 
fundada no contrato de transporte, aspecto que passaremos a examinar com maior vagar. Por 
sua natureza, o transporte de passageiros é um contrato de adesão, uma vez que suas cláusulas 
são previamente estipuladas pelo transportador, às quais o passageiro simplesmente adere no 
momento da celebração.
É, ainda, um contrato consensual, bilateral, oneroso e comutativo, posto que, paraa sua celebração, 
basta o simples encontro de vontades. Criam-se direitos e obrigações para ambas as partes e há um 
equilíbrio entre as respectivas prestações. Não é indispensável o bilhete ou passagem para a celebração 
do contrato, uma vez que ele é um instrumento formal. Nem mesmo o pagamento da passagem é 
elemento necessário para a consumação do contrato, configurando-se em posterior fase de execução 
do contrato. Sua característica mais importante é, sem sombra de dúvida, a cláusula de incolumidade 
que nele está implícita. A obrigação do transportador é de fim, de resultado, e não apenas de meio.
 Observação
Em suma, entende-se por cláusula de incolumidade a obrigação que 
tem o transportador de conduzir o passageiro são e salvo ao lugar de 
destino. Ele não se obriga a tomar as providências e cautelas necessárias 
para o bom sucesso do transporte; obriga-se pelo fim, isto é, garante que 
o passageiro chegue ileso ao seu destino.
O art. 17, do Decreto 2.681/12 (Lei das Estradas de Ferro) fala em culpa presumida. Com base na 
literalidade do texto, sustentou-se (e ainda há quem sustente) que a responsabilidade do transportador, 
em relação aos passageiros, é subjetiva, com culpa presumida. Nesse caso, inverte-se apenas o ônus da 
prova, cabendo ao causador do dano demonstrar que não agiu com culpa.
Porém, verifica-se do dispositivo legal que, entre as causas exonerativas de sua responsabilidade, só 
se admitem o caso fortuito ou força maior e a culpa do viajante. Dessa forma, à luz do próprio texto em 
exame, é de se concluir que a responsabilidade do transportador, em relação aos passageiros, é objetiva, 
embora tenha a lei, por erronia terminológica, falado em culpa presumida.
Hoje, é unânime o reconhecimento da responsabilidade objetiva do transportador, fundada na teoria 
do risco. Ocorrido o acidente que vitimou o viajante, subsistirá a responsabilidade do transportador, 
a despeito da ausência de culpa, já que é a única forma compatível com a cláusula de incolumidade, 
intrínseca ao contrato de transporte.
O Código do Consumidor tem regra específica no art. 22 e parágrafo único. Ficou ali estabelecido 
que os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer 
outra forma de empreendimento, além de serem obrigadas a fornecer serviços adequados, eficientes e 
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RESPONSABILIDADE CIVIL
seguros, respondem pelos danos que causarem aos usuários, na forma prevista no Código de Defesa do 
Consumidor.
 Observação
Com relação aos transportes, o Código do Consumidor fez mudar o 
fundamento dessa responsabilidade: agora, não é mais o contrato de 
transporte, mas sim a relação de consumo, contratual ou não. Mudou, 
também o seu fato gerador: não se perquire acerca do descumprimento da 
cláusula de incolumidade e sim se fala sobre o vício ou defeito do serviço, 
consoante o art. 14, CDC. O fornecedor do serviço terá que indenizar, desde 
que demonstrada a relação de causa e efeito entre o defeito do serviço 
e o acidente de consumo, chamado pelo Código de fato do serviço. O 
transportador só se exonera do dever de indenizar provando uma daquelas 
causas taxativamente enumeradas na lei: caso fortuito, força maior e culpa 
exclusiva da vítima.
Entende-se por fortuito interno o fato imprevisível, e, por isso, inevitável, que se liga à organização 
da empresa, que se relaciona com os riscos da atividade desenvolvida pelo transportador. No caso dos 
transportes, o estouro de um pneu do ônibus, o incêndio do veículo e o mal súbito do motorista são 
exemplos de fortuito interno.
 Lembrete
Tão forte é a presunção de responsabilidade do transportador que nem 
mesmo o fortuito interno o exonera do dever de indenizar; só o fortuito 
externo, isto é, o fato estranho à empresa, sem ligação alguma com a 
organização do negócio, é que pode exonerar o transportador.
A culpa exclusiva do passageiro também exonera o transportador de responsabilidade. Trata-se 
de fato exclusivo do viajante. O fato exclusivo da vítima afasta a responsabilidade do transportador 
porque, quem dá causa ao evento é o próprio passageiro, e não o transportador. O art. 17 do 
Decreto 2.681/12, em seu inciso 2º, é expresso e claro a esse respeito: “culpa do viajante, não 
concorrendo culpa da estrada” (do transportador). No mesmo sentido, o art. 14, § 3º, do Código 
do Consumidor. O interessante no caso dos transportes é que, havendo qualquer participação do 
transportador, ainda que concorrente com a participação do passageiro, não se admitirá a causa 
exonerativa.
Com relação à responsabilidade do terceiro, primeiramente se faz necessário classificá-lo. Deve-se 
entender por terceiro, alguém estranho ao binômio transportador-passageiro: qualquer pessoa que não 
guarde nenhum vínculo jurídico com o transportador. A Súmula 187 do Colendo Supremo Tribunal 
Federal enveredou-se pelo mesmo caminho, ao enunciar:
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A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o 
passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação 
regressiva.
A súmula só fala em culpa de terceiro, e não em dolo. O fato culposo do motorista de um 
caminhão que choca o veículo com um coletivo, não elide a responsabilidade da empresa 
transportadora. Tal fato caracteriza-se como fortuito interno, relacionado com a organização do 
seu negócio.
Tal já não ocorre com o fato doloso de terceiro. Este não pode ser considerado fortuito interno 
porque não guarda nenhuma ligação com os riscos do transportador. A melhor doutrina caracteriza 
o fato doloso de terceiro, como fortuito externo. Ele exclui o próprio nexo causal, equiparável à 
força maior, que, por via de consequência, exonera da responsabilidade o transportador.
 Observação
Em grandes centros urbanos, tornou-se comum o arremesso de pedra 
contra ônibus ou trens, ferindo e até matando passageiros. Os assaltos 
também proliferaram no curso das viagens, deixando os passageiros 
despojados de seus bens, quando não se transformam em tragédia de 
morte.
Neste sentido, se firmou a Corte do Superior Tribunal Federal:
Responsabilidade Civil – Assassinato de passageiro em virtude de assalto 
praticado por desconhecido, num trem da REFISA durante a viagem – Ato 
de terceiro equiparável a caso fortuito 
Incidência de obstáculo previsto no art. 325, inciso V, do Regimento Interno 
do STF – Arguição de relevância rejeitada – Inocorrência de divergência da 
Súmula n. 187 do STF, por inexistir o nexo de causalidade entre o acidente e 
o transporte. (2ª Turma do STF, RE 99.978-7, Rel. Min. Djaci Falcão – revista 
Amagis XI/503).
Por derradeiro, ressalte-se que a jurisprudência tem responsabilizado o transportador por assaltos, pedradas 
e outros fatos de terceiros ocorridos no curso da viagem somente quando fica provada a conivência dos seus 
prepostos, omissão ou qualquer outra forma de participação que caracterize a culpa do transportador.
O contrato de transporte é consensual e se consuma pelo simples acordo de vontades. O pagamento da 
passagem não é rigorosamente necessário para fechar o contrato de transporte, uma vez que, em muitos casos, 
ele só é feito no curso ou no fim da viagem, ou até mesmo depois, como no caso de pagamento em prestação. 
O pagamento do preço da passagem já é fase de execução da obrigação assumida pelo passageiro.
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RESPONSABILIDADE CIVIL
A execução do contrato de transporte, no que respeita à obrigação do transportador, tem lugar 
quando se inicia a viagem. A partir daí, aquilo que se chamacláusula de incolumidade, passa a ter que 
ser respeitada, e persiste até o final da viagem.
No transporte urbano, essa execução ocorre simultaneamente com a celebração do contrato; no 
transporte interestadual e aéreo, no qual a passagem é adquirida com antecedência, a execução tem 
lugar posteriormente.
No caso das estradas de ferro e metrôs, a responsabilidade do transportador inicia-se com o ingresso 
do passageiro na estação de embarque, após passar pela roleta. Correto o entendimento, tendo em vista 
que a estação pertence à companhia, sendo ainda certo que o passageiro, após adentrar na plataforma 
de embarque, fica por conta e risco do transportador.
Tratando-se de transporte rodoviário, tendo em vista que a estação de embarque não pertence à 
empresa transportadora, a execução do contrato tem início com o embarque do passageiro no veículo e 
só termina com o seu efetivo desembarque.
Com relação ao transporte aéreo, a ausência de lei específica é o grande problema. Se a mesma assim 
existisse e se por força de um acidente o transportador se visse obrigado a descumprir as cláusulas do 
contrato pelo qual se obrigou a entregar o passageiro incólume em seu destino, naturalmente cumprir-
lhe-ia reparar o dano, na forma do Direito comum.
A Convenção de Varsóvia de 12 de outubro de 1929, ratificada pelo Brasil em 02 de maio de 1931 
(Dec. 20.784, de 24-11-1931) dispôs sobre inúmeras situações de responsabilidade do transportador 
aéreo – artigos 17, 20, 21, 22, 23 e 25.
Conforme se depreende dos dispositivos antes mencionados, para que a responsabilidade do 
transportador se caracterize, basta que sobrevenha o acidente e que a vítima se encontre a bordo da 
aeronave ou em operações de embarque e desembarque (art. 17). O transportador poderá eximir-se da 
responsabilidade se provar que foram tomadas todas as medidas necessárias para evitar o dano, ou que 
lhe foi impossível tomá-las (art. 20).
A Convenção criou uma presunção de responsabilidade contra o transportador, invertendo o ônus da 
prova. Em vez de a vítima ter de provar a culpa do transportador, é ele quem terá que demonstrar que 
tomou todas as medidas necessárias para evitar o acidente.
 Observação
Há certa divergência doutrinária acerca de ser de meio ou de resultado 
a obrigação do transportador. Em alguns países da Europa, o transporte 
é uma obrigação de resultado - o transportador se obriga a entregar o 
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passageiro incólume em seu destino, e, quando não o faz, torna-se 
inadimplente, por conseguinte, responsável pela indenização. Somente se 
exclui a responsabilidade caso se demonstrasse que ocorreu caso fortuito 
ou de força maior. Para os Estados Unidos, a obrigação é de meio e, deste 
modo, o transportador se obriga apenas a agir com toda diligência e 
cuidado, empenhando-se em entregar o passageiro são e salvo ao seu 
lugar de destino. Deste modo, o transportador já se exonera do dever de 
indenizar, se demonstrar que agiu com diligência e os cuidados normais.
O transporte aéreo é dividido em: internacional e interno (ou nacional). O primeiro é disciplinado pela 
Convenção de Varsóvia, ratificada por vários países. Cumpre destacar que a ela sofreu emendas do Protocolo de 
Haia, de 28/09/55. O transporte aéreo interno é regulado pelo Código Brasileiro de Aeronáutica - Lei 7.565/86.
O art. 1º da Convenção de Varsóvia caracteriza como transporte internacional aquele cujos pontos 
de partida e de destino, haja ou não interrupção, estejam situados no território de duas altas partes 
contratantes, ou mesmo no de uma só, havendo escala prevista em território sujeito à soberania ou 
autoridade de outro Estado, seja ou não contratante.
A responsabilidade do transportador aéreo prevista na Convenção de Varsóvia é subjetiva, com culpa 
presumida, conforme se extrai dos dispositivos transcritos:
Responde o transportador pelo dano ocasionado por morte, ferimento ou 
qualquer outra lesão corpórea sofrida pelo viajante, desde que o acidente, 
que causou o dano, haja ocorrido a bordo de aeronave, ou no curso de 
quaisquer operações de embarque ou desembarque (art. 17).
O transportador não será responsável se provar que tomou, e tomaram os 
seus prepostos, todas as medidas necessárias para que não se produzisse o 
dano, ou que lhe não foi possível tomá-las (art. 20, I).
A interpretação atual tem sido no sentido de atribuir ao transportador aéreo responsabilidade 
objetiva, que não pode ser elidida nem pelo caso de força maior. “O fato do passageiro, concorrente ou 
exclusivo, pode atenuar ou elidir a responsabilidade do transportador” (art. 21).
A peculiaridade da responsabilidade do transportador aéreo é a indenização limitada a um valor 
máximo consoante o art. 22, n. I, da referida Convenção, valor esse que tem sido objeto de inúmeras 
divergências e dificuldades na sua fixação. A limitação, todavia, deixa de existir, passando a ser fixada 
por meio das regras do direito comum, se houver dolo ou culpa grave por parte do transportador, de 
acordo com o art. 25, n. I, do mesmo diploma legal. O ônus da prova, nesse caso, caberá à vítima.
 Lembrete
Após a vigência do Código do Consumidor, esta limitação passou a 
causar mais discussão. De um lado há os que sustentam que, sendo integral 
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o dever de indenizar estatuído pelo Código (art. 6º, VI), as hipóteses de 
responsabilidade civil tarifada não podem existir. De outro lado, há autores 
que defendem o princípio de que, no conflito entre a lei interna e o tratado, 
prevalece o tratado, deste modo, a Convenção de Varsóvia.
Em que pese os entendimentos em contrário, apesar da Convenção retratar uma norma que 
passou a vigorar no ordenamento jurídico interno, com o advento do Código do Consumidor, 
lei específica, deve prevalecer esta última, primeiro porque no caso de conflito entre o tratado 
e a lei posterior, deve prevalecer esta última, e também porque representa a última vontade do 
legislador.
A cláusula de não indenizar, ou destinada a estabelecer limite inferior ao fixado na Convenção, é 
expressamente considerada nula de pleno direito por força do art. 23 do próprio diploma.
O transporte aéreo realizado exclusivamente dentro do território nacional é disciplinado pelo Código 
Brasileiro de Aeronáutica, cujos princípios, no que respeita a responsabilidade do transportador, não são 
diferentes daqueles consagrados pela Convenção de Varsóvia.
A responsabilidade contratual do transportador aéreo está disciplinada no art. 256, do Código 
Brasileiro de Aeronáutica. A presunção de responsabilidade estabelecida nesse dispositivo é tão forte 
que só pode ser elidida “se a morte ou lesão resultar, exclusivamente, do estado de saúde do passageiro, 
ou se o acidente decorrer de sua culpa exclusiva” (art. 256, § 1º, “a”). Não há que se falar em caso fortuito 
interno ou externo, nem em fato exclusivo de terceiro.
O Código do Consumidor derrogou os dispositivos que estabeleciam responsabilidade limitada para 
as empresas de transporte aéreo. Como prestadoras de serviço que são, estão submetidas ao regime 
daquele Código (art. 3º, §2º e art. 6º, X) que estabelece responsabilidade objetiva integral. São os 
entendimentos dos tribunais:
Responsabilidade civil. Contrato de transporte. Prova indireta. Danos 
materiais e moral.
1 - As regras de experiência comum fixam-se diante dos procedimentos 
ordinários da sociedade (art. 335 do CPC) e, aliadas à prova indireta, servem 
à formação segura do convencimento do Juízo sobre a existência de um 
fato.
2 - Caracteriza-se o descumprimento da obrigação do transportador, ou o 
defeito do seu serviço, e enseja o dever deindenizar os danos material e 
moral daí decorrentes quando, em virtude da colisão do ônibus em que era 
transportado, o passageiro não chega incólume ao seu destino.
3 - Se da incapacidade decorrente da tensão física advinda com 
o acidente não resultou uma efetiva perda patrimonial, porque o 
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passageiro estava em férias e não perdeu rendimento do trabalho, bem 
como não realizou gastos com médico ou medicamentos, inexiste dano 
material a ser indenizado.
4 - Mas esse estado físico do passageiro, ferido e total e 
temporariamente incapacitado durante o período de suas férias, é 
motivo de constrangimento capaz de atentar contra a sua dignidade 
e caracteriza o dano moral. (TJRJ. Apelação Cível Nº 2000.001.17471, 
Reg. em 30/03/2001, Quinta Câmara Cível, Rel. Des. Milton Fernandes 
de Souza, julgado em 20/02/2001).
Direito civil. Indenização por danos morais. Transporte rodoviário. 
Roubo ocorrido dentro do ônibus. Inevitabilidade. Força maior. 
Exclusão da responsabilidade do transportador. Precedentes. Recurso 
desprovido.
I - A presunção de culpa da transportadora comporta desconstituição 
mediante prova da ocorrência de força maior, decorrente de roubo, 
indemonstrada a desatenção da ré quanto às cautelas e precauções normais 
ao cumprimento do contrato de transporte.
II - Na lição de Clóvis, caso fortuito é “o acidente produzido por força 
física ininteligente, em condições que não podiam ser previstas pelas 
partes”, enquanto a força maior é “o fato de terceiro, que criou, para a 
inexecução da obrigação, um obstáculo, que a boa vontade do devedor 
não pode vencer”, com a observação de que o traço que os caracteriza 
não é a imprevisibilidade, mas a inevitabilidade. Resp 264589/RJ ; 
Recurso especial (2000/0062816-6) DJ 18/12/2000 Relator(a) Min. 
Sálvio de Figueiredo Teixeira Data da decisão 14/11/2000 Órgão julgador 
Quarta turma – STJ).
Responsabilidade civil. Transportador. Limitação de indenização. Código de 
defesa do consumidor. Convenção de Varsórvia.
Editada lei específica, em atenção à Constituição (Art. 5º, XXXII), 
destinada a tutelar os direitos do consumidor, e mostrando-se 
irrecusável o reconhecimento da existência de relação de consumo, 
suas disposições devem prevalecer. Havendo antinomia, o previsto em 
tratado perde eficácia, prevalecendo a lei interna posterior que se revela 
com ele incompatível. Recurso conhecido e não provido. (Resp 169000/
RJ; Recurso especial (1998/0022178-6) DJ 14/08/2000 Relator(a) Min. 
Paulo Costa Leite Data da decisão 04/04/2000 Órgão julgador Terceira 
turma – STJ).
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Responsabilidade civil. Estrada de ferro.
O arremesso de pedra, de fora do trem, produtor de lesão corporal em 
passageiro, é ato de terceiro que não implica a responsabilidade civil do 
transportador. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior 
Tribunal de Justiça. (RESP 108757/SP ; Recurso especial (1996/0060104-6) 
DJ 15/05/2000 Relator(a) Min. Fontes de Alencar Data da decisão 21/03/2000 
Órgão julgador Quarta turma – STJ).
Para Gonçalves (2010):
Não há incompatibilidade entre o Código Civil e o Código de Defesa do 
Consumidor, visto que ambos adotam a responsabilidade objetiva do 
transportador; só elidível mediante a prova de culpa exclusiva da vítima, 
da força maior e do fato exclusivo de terceiro, porque tais excludentes 
rompem o nexo de causalidade. Malgrado não sejam todas mencionadas 
expressamente nos referidos diplomas, não podem deixar de ser aceitas 
como excludentes da responsabilidade do transportador, por afastarem, 
como mencionado, o nexo causal (p. 217).
7.2 O Código de Defesa do Consumidor
Nas palavras de Gonçalves (2010):
Os dois principais protagonistas do Código de Defesa do Consumidor 
são o consumidor e o fornecedor. Este é toda pessoa física ou 
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os 
entes despersonalizados que desenvolvam atividades de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação 
de serviços.
O conceito de fornecedor está, assim, intimamente ligado à ideia de atividade 
empresarial (p. 277).
No âmbito das relações de consumo, a responsabilidade civil do fornecedor pode emergir em 
decorrência de diversas espécies de vícios dos produtos.
Haverá, com isso, a responsabilidade civil por vícios de inadequação ou por vícios de insegurança, 
que recebem tratamento jurídico diferenciado pelo Código de Defesa do Consumidor. Observa-se que 
o regramento preocupa-se com a segurança dos consumidores, uma vez que impõe aos fornecedores o 
dever de colocar no mercado produtos indenes de vícios, sob pena de responsabilização. A mercadoria 
adquirida pelo consumidor deve corresponder a exatamente aquilo que dela se espera. A justa 
expectativa dos compradores e do público em geral frente aos produtos lançados no mercado é a de 
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que eles funcionem regularmente, de acordo com a finalidade para a qual foram desenvolvidos e que, 
simultaneamente, ofereçam segurança aos seus usuários.
 Observação
Os vícios de inadequação são aqueles que afetam a prestabilidade do 
produto, prejudicando seu uso e fruição ou diminuindo o seu valor. Ocorrem, 
ainda, quando a informação prestada não corresponde verdadeiramente ao 
produto, mostrando-se, de qualquer forma, impróprio para o fim a que se 
destina e desatendendo a legítima expectativa do consumidor. É o caso, por 
exemplo, da televisão que não tem boa imagem, do refrigerador que não 
mantém os produtos em baixa temperatura, da lata de extrato de tomate 
que não contém a quantidade informada na embalagem etc.
Para proteger a legítima expectativa que tem o consumidor na qualidade e utilidade do produto, 
o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) adotou o princípio da confiança. O 
produto deve proporcionar ao consumidor exatamente aquilo que ele esperava ou deveria esperar 
quando o adquiriu. O fornecedor deve proporcionar ao consumidor as informações necessárias para 
o uso do produto, a fim de evitar que eventuais danos venham a ocorrer pela imperícia natural dos 
consumidores.
 Lembrete
As informações devem ser claras, precisas e sem ambiguidades, de modo 
a não induzir o consumidor em erro, já que o fornecedor é responsável por 
aquilo que informa na oferta. Deste modo, surge para o produtor uma dupla 
obrigação: prover mercadorias adequadas às suas próprias finalidades e não 
colocar no mercado produtos que ofereçam riscos, além daqueles normais 
que lhe são intrínsecos e de conhecimento geral.
A inadequação, portanto, pode ocorrer na qualidade do produto (prestabilidade) ou na sua 
quantidade (quando o peso ou a medida não correspondem à informação prestada pelo fornecedor ou 
à indicada na embalagem). Por isso, a classificação dessa espécie de vícios em vícios de inadequação 
na qualidade e vícios de inadequação na quantidade. A constatação desses vícios se faz por um critério 
objetivo, bastando a verificação de que a informação sobre a qualidade ou quantidade não corresponde 
verdadeiramente ao que o produto proporciona. No Código do Consumidor, os vícios de inadequação 
são tratados nos artigos 18 e seguintes.
Os vícios de insegurança, por sua vez, são aqueles defeitos que fazem com que o produto seja 
potencialmente danoso à integridade física ou ao patrimônio do consumidor. Ocorrem quando a 
mercadoria não apresenta a segurança que dele legitimamente se espera, levando-seem consideração a 
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sua apresentação, o uso e os riscos normais, a época em que foi colocado em circulação, dentre outras 
circunstâncias e acabam expondo o consumidor a um dano patrimonial ou extrapatrimonial.
 Lembrete
Os vícios de insegurança são tratados nos artigos 12 a 17 do diploma 
consumerista. Podem ocorrer, segundo a doutrina brasileira, em face de 
defeitos de projeto (ou concepção), defeitos de construção (ou execução), 
defeitos de desenvolvimento ou ainda defeitos de informação.
A responsabilidade civil, na sistemática do direito do consumidor, ultrapassa as fronteiras da culpa, 
encontrando supedâneo na solidariedade social, base de uma responsabilidade sem culpa. O verdadeiro 
escopo dessa evolução é a preocupação de assegurar melhor justiça distributiva, de modo que o prejuízo 
causado a um consumidor seja suportado por toda a sociedade.
Com efeito, a responsabilidade civil objetiva do fornecedor é o sistema de reparação de danos mais 
adequado aos tempos modernos. Em primeiro lugar, porque oferece maiores garantias de proteção às 
vítimas; além disso, porque os custos de ressarcimento devem recair sobre o fabricante e o fornecedor, a 
quem cabe controlar a qualidade e a segurança dos produtos; por fim, porque, ainda que o consumidor seja 
diligente, o fornecedor tem melhores condições de suportar o risco do produto, mediante, por exemplo, 
seguro de responsabilidade, cujo valor do prêmio se incorporará ao preço de venda, distribuindo-se o 
custo entre os próprios consumidores.
 Lembrete
Acrescente-se que o fornecedor está em melhores condições de 
produzir a prova sobre o ocorrido, razão pela qual lhe é transferido o ônus 
de provar uma das causas excludentes de sua responsabilidade para que se 
exima de reparar o dano ou os prejuízos. Efetivamente, as dificuldades que 
tinham os consumidores na busca da prova, decorrentes principalmente 
do desconhecimento do processo industrial e da crescente automação, 
acabavam dificultando a imputação do fato lesivo ao seu autor.
A responsabilidade decorre do simples fato de realizar a atividade de produzir, estocar, distribuir 
e comercializar produtos ou executar determinado serviço. Se o fornecedor introduz um risco para a 
sociedade, deve responder pelos prejuízos que causar.
A doutrina brasileira, no entanto, foi além, criando uma nova modalidade de responsabilidade civil. 
Tendo em vista que a imputação decorre estritamente da lei, prescindindo da existência de culpa, e que 
a responsabilidade civil não deriva do contrato ou de ato ilícito, a doutrina brasileira tem chamado esse 
novo modelo de responsabilidade civil de responsabilidade legal, abrangendo nesse conceito tanto a 
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responsabilidade do fornecedor que celebra o contrato com o consumidor, como a daquele fornecedor 
que tem vínculo contratual apenas com a cadeia de fornecedores. Essa responsabilidade legal dos 
fornecedores tem como fundamento a Teoria da qualidade, segundo a qual a lei imporia a toda a cadeia 
de fornecedores um dever de qualidade dos produtos que são colocados no mercado e dos serviços que 
são prestados.
O Código do Consumidor ainda impôs a responsabilidade conjunta entre os fornecedores vinculados 
ou não por laços contratuais com o consumidor, o que demonstra a tendência moderna de ir além da 
responsabilidade contratual e extracontratual, centrando o dever de reparar na solidariedade social e na 
Teoria do risco.
Com base nesses delineamentos, pode-se conceituar a responsabilidade civil (no direito consumerista 
brasileiro), como o dever jurídico que surge para o fornecedor em consequência de um vício de 
inadequação ou de insegurança do produto ou serviço, que cause um dano efetivo ao patrimônio, à 
integridade física ou à vida do consumidor.
Os elementos identificadores e que geram a responsabilidade civil do fornecedor são, portanto, 
o vício (ou defeito) no produto, o dano (ou prejuízo) ao consumidor e o nexo de causalidade. Para 
obter a indenização, o consumidor somente precisa demonstrar a verossimilhança da existência 
desses três elementos, incumbindo ao fornecedor a prova de alguma das excludentes de sua 
responsabilidade.
De acordo com a lei consumerista brasileira, ocorrendo o vício de inadequação na qualidade do 
produto e esse não sendo sanado num prazo máximo de trinta dias, surgem para o consumidor as 
seguintes alternativas:
a) substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
b) restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais 
perdas e danos;
c) abatimento proporcional do preço (art. 18, caput e § 1º).
Esse prazo para o conserto do produto pode ser ampliado ou reduzido pelas partes, não podendo, 
contudo, ser inferior a sete nem superior a cento e vinte dias, sendo que, no caso de contrato de adesão, 
essa cláusula deve ser convencionada em separado (§ 2º).
Se, em face da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade 
ou as características do produto, diminuir-lhe o valor ou ainda no caso de se tratar de produto essencial, 
o consumidor poderá imediatamente se utilizar das alternativas referidas no § 1º do art. 18, antes 
mencionadas, sem precisar obedecer a qualquer prazo. Caso o consumidor tenha optado pela substituição 
do produto por outro de mesma espécie e isso não seja possível, poderá optar pela substituição por outro 
de espécie, marca ou modelo diversos, mediante eventual restituição de valores ou complementação da 
diferença de preços (§ 4º).
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Os efeitos da responsabilidade civil por vícios de inadequação na quantidade do produto, por sua 
vez, estão previstos, como referido, no art. 19. Constatados os vícios de inadequação na quantidade do 
produto, surge, para a cadeia de fornecedores, o dever de reparar. Assim, poderá o consumidor optar por 
uma das seguintes alternativas:
a) abatimento proporcional do preço;
b) complementação do peso ou medida;
c) substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
d) restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de ressarcimento 
por eventuais perdas e danos (art. 19, incs. I a IV).
Do mesmo modo do que ocorre na responsabilidade civil por vício de inadequação na qualidade, 
pode o consumidor, optar pela substituição do produto por outro de mesma espécie e, se esta não for 
possível, requerer a troca do produto por outro de espécie, marca ou modelo diversos, sem prejuízo da 
eventual complementação ou restituição de valores (§ 1º).
 Observação
Cabe ressalvar que, em qualquer contrato de consumo, é vedada a 
pactuação de cláusula que impossibilite, atenue ou exonere o fornecedor 
da responsabilidade de indenizar em face da ocorrência de vícios de 
inadequação ou de insegurança, sendo que a garantia legal do produto 
independe de termo expresso (artigos 24 e 25).
A responsabilidade civil do fabricante por vícios de insegurança é efeito lógico de um acidente de 
consumo, que ocorre quando o produto não apresenta a segurança que dele legitimamente se espera e 
acaba causando dano ao consumidor.
Tratam os artigos 12 a 17 da responsabilidade civil por fato do produto. Falta, contudo, no rol de 
responsáveis estabelecido no art. 12, menção expressa ao fabricante aparente, ou seja, àquelas redes 
de varejo que oferecem diversificada linha de produtos com sua própria marca, como se fabricantes 
fossem, quando,na verdade, o produto é fabricado por um terceiro oculto, a pedido da rede varejista.
O importante e inovador conceito, introduzido pelo art. 12 é a responsabilização independente da existência 
de culpa, o que facilita ao consumidor a busca por uma justa indenização. Segundo a lei consumerista brasileira, 
são pressupostos para a responsabilidade civil do fabricante por defeitos nos produto:
a) falha na segurança do produto;
b) colocação do produto no mercado;
c) dano;
d) nexo de causalidade.
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Por produto inseguro, deve-se entender aquele que é potencialmente danoso, ou seja, que possui 
um defeito capaz de, pela sua utilização, lesionar o consumidor. A simples fabricação de um produto 
com um defeito não enseja, por si só, a responsabilidade civil, sendo necessária a sua colocação no 
mercado.
É irrelevante, para a configuração de responsabilidade, que as vítimas sejam parte da cadeia de 
circulação jurídica do produto, que mantenham com este mera relação de fato decorrente de uso ou 
consumo, ou que simplesmente tenham se exposto aos efeitos do seu campo de periculosidade. As 
regras da exclusão, mesmo nesta responsabilidade objetiva, são as causas que importam no rompimento 
do nexo de causalidade e acabam afastando a responsabilidade civil. Assim, dispõe o § 3º do art. 12 que 
o fornecedor não será responsabilizado se provar:
a) que não colocou o produto no mercado;
b) que, embora tenha colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
c) culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
A não colocação do produto no mercado pressupõe que o fornecedor-produtor prove que 
não é sua a autoria da fabricação do produto ou que o fornecedor não foi responsável pela sua 
circulação. À guisa de exemplo, excluirá a responsabilidade do fornecedor a sabotagem, o furto e 
o roubo, na hipótese de ser o infrator quem colocou o produto em circulação. Nesses casos, caberá 
ao fornecedor a prova de tal fato. A excludente não beneficia o fornecedor, todavia, nos casos em 
que o produto é posto no mercado por ato de preposto ou em decorrência da falta de diligência 
na guarda do produto.
A prova de que o vício de insegurança inexiste incumbe ao fornecedor. Ao lesado, cabe tão somente 
demonstrar a verossimilhança do que alega, permitindo um juízo de probabilidade ao julgador, como, 
por exemplo, a demonstração de que já ocorreu outro acidente de consumo em relação a idêntico 
produto.
 Observação
O Código do Consumidor não prevê como causas de exclusão de 
responsabilidade o caso fortuito e a força maior, o que gera indagações 
a respeito. Para verificar se o caso fortuito e a força maior atuarão 
como excludentes de responsabilidade do fornecedor, deve ser analisado 
o momento de sua ocorrência. Caso aconteçam na concepção ou na 
produção, ou, ainda, quando o produto está sob a guarda do comerciante, 
o caso fortuito e a força maior não devem funcionar como eximentes de 
responsabilidade do fornecedor. Entretanto, se o caso fortuito e a força 
maior sobrevierem depois da tradição (entrega) do produto ao consumidor, 
não terão os fornecedores qualquer responsabilidade.
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8 RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DO ARTIGO 932 DO CÓDIGO CIVIL
8.1 Dos pais por atos dos filhos
“Pela ordem natural da vida, os pais – biológicos ou adotivos, pouco importa – são responsáveis por 
toda a atuação danosa atribuída aos seus filhos menores” (GAGLIANO; PAMPLONA, 2003, p. 169).
A responsabilização dos pais por danos causados pelos filhos menores teve um precedente importante 
na jurisprudência argentina: o caso Necochea.
A decisão teve origem na cidade de Necochea, onde a Cámara de Apelación en lo Civil, Comercial 
y de Garantias en lo Penal, ordenou aos pais de dois jovens condenados por assassinar um taxista o 
pagamento de indenização à esposa e aos três filhos do falecido. A decisão fixou o montante de $152.914 
pesos (cerca de R$127.000,00) para o ressarcimento dos danos morais e patrimoniais, incluídos também 
os gastos de sepultamento despendidos pela família. Os jovens contavam 19 e 18 anos (o art. 126 do 
Código Civil argentino estabelece a menoridade até 21 anos) na data do fato.
A patria potestad (poder paternal, equivalente ao nosso pátrio poder) é o principal fundamento 
jurídico da responsabilidade dos pais pelos danos causados por seus filhos menores (art. 264 do Código 
Civil argentino). Entre os deveres elencados neste artigo, estão os de vigilância, cuidado e educação, e a 
previsão existe para que, por meio de sua observância, se procure evitar a prática de condutas danosas 
para si e para toda a sociedade.
A obrigação entre os pais é, no ordenamento argentino, de caráter solidário. No caso de pais que não 
mantêm o vínculo conjugal, será responsabilizado apenas o que vive com o jovem, salvo se, no momento 
da produção do ato danoso, o menor esteja em companhia do outro genitor (art. 1.114 do Código Civil 
argentino). A responsabilidade é indireta, presumindo sua culpa pelo descumprimento dos deveres de 
educação e vigilância ativa que têm a obrigação de exercitar sobre os menores.
Essa vigilância, como citado na decisão, nada mais é do que proporcionar a seus filhos uma boa 
educação, formar-lhes hábitos e comportamentos adequados para a convivência social, especialmente 
fora do lar, na rua, onde não encontram a natural e lógica proteção, evitando que sejam partícipes de 
fatos ilícitos.
A vigilância ativa que devem exercitar os pais sobre seus filhos menores não consiste em sua 
efetiva presença em todos os momentos, senão na educação formativa do caráter e dos hábitos dos 
menores. Ainda quando o pai prove que exerceu o devido cuidado e diligência, demonstrando que 
seu comportamento foi adequado, não estará livre de responsabilidade civil, porque sobre ele pesa a 
presunção de defeito de educação a partir do fato cometido (art. 1.116 do Código Civil argentino).
Não significa proibir o menor de realizar livremente suas atividades, mas sim reprimir as más 
inclinações por meio do processo evolutivo, quiçá interminável. Assim, a vigilância ativa é conduta 
que se deve observar sem interrupção, porque é exigência do atual momento da pessoa por quem se é 
responsável, e basta um segundo para demonstrar que dela se careceu.
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Em síntese, são pressupostos para a responsabilização, no ordenamento argentino, a menoridade, o 
exercício da patria potestad (do pátrio poder) e a convivência do menor com os pais.
No nosso Direito civil, vale a pena distinguir algumas mudanças trazidas pelo Código Civil de 2002, 
com relação ao texto do Código Civil de 1916.
Na sistemática do Código Civil de 1916, o artigo 1.521 somente admitia a responsabilidade dos pais 
pelos atos ilícitos praticados pelos filhos menores que estivessem sob o seu poder e companhia. Assim 
determinava o referido artigo:
Art. 1.521. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob seu poder e em sua 
companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas 
mesmas condições;
III - o patrão, amo ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, 
no exercício do trabalho que lhes competir, ou por ocasião dele (art. 1.522);
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos, onde se 
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, 
moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até 
à concorrente quantia.

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