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Unidade II 18R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 5 10 15 20 25 6 ELEMENTOS NATURAIS E CONSTRUÍDOS DO MEIO AMBIENTE São denominados elementos naturais aqueles que são “como a natureza os fez”, que não sofreu intervenção direta do homem, recurso natural presente num sistema e até conjuntos de plantas e animais nativos, silvestres; paisagens mantidas quase sem nenhuma intervenção humana; nascentes, rios e lagos não atingidos pela ação humana etc. Esses elementos são predominantes nas matas, nas praias afastadas, nas cavernas não descaracterizadas. Todavia, não existe uma natureza intocada pelo homem, uma vez que a espécie humana faz parte da interação da vida no planeta e vem habitando e interagindo com os mais diferentes ecossistemas há mais de um milhão de anos. Por isso, a maior parte dos elementos considerados naturais ou são produto de uma interação direta com a cultura humana (uma cenoura ou uma alface, por exemplo, são na realidade produtos de manejo genético por centenas de anos) ou provêm de ambientes em que a atuação do homem não parece evidente porque foi conservativa e não destrutiva ou, ainda, consistem em sistemas nos quais já houve regeneração. Já os elementos produzidos ou transformados pela ação antrópica são chamados elementos construídos do meio ambiente, como, por exemplo, as matérias-primas processadas, objetos de uso, construções e/ou cultivos. Em determinados espaços prevalecem os elementos adaptados pela sociedade humana, como cidades, plantações, pastos, jardins, praças e bosques plantados, entre outros. Unidade II ECOPEDAGOGIA 19 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 A diferenciação dos elementos transformados ou produzidos pela impactante ação humana dos que ainda não sofreram a intervenção humana é muito importante, pois evidencia a forma em que se processa a ação do homem na natureza e o modo como se constrói um patrimônio cultural, subsidiando a discussão da necessidade de se preservar e cuidar do patrimônio natural para garantir a sobrevivência das espécies, a biodiversidade, para conservar saudáveis os recursos naturais como a água, o ar e o solo e, de outro lado, preservar e cuidar do patrimônio cultural, construído pelas sociedades em diferentes espaços e tempos. Todos esses fatores são fundamentais na garantia da qualidade de vida, o que estaremos abordando com mais ênfase adiante. Esse equilíbrio é fundamental na promoção da qualidade de vida das populações. Ação antrópica é toda ação provinda do homem geradora de impacto ambiental, incluindo condicionantes como, por exemplo, a dinâmica populacional (aglomerações, crescimento populacional, deslocamentos, fluxos migratórios), o uso e a ocupação do solo (expansão urbana, paisagismo, instalações de infraestrutura, rede viária etc.) e a produção cultural, as ações de proteção e recuperação de áreas específicas, que estabelecem restrições e regras que deveriam ser obedecidas coletivamente. 7 FATORES FÍSICOS E SOCIAIS DO MEIO AMBIENTE Ao tratar das relações de trocas de energia e do uso dos recursos minerais, vegetais ou animais entre os elementos naturais ou construídos, estamos falando dos fatores físicos do ambiente. Porém, quando destacamos as relações econômicas, culturais, políticas, éticas, de destruição ou preservação, de consumismo ou conservação, por exemplo, estamos nos referindo aos fatores sociais do ambiente que abrangem os níveis local, regional e internacional. Ação antrópica é toda ação provinda do homem geradora de impacto ambiental, incluindo condicionantes como, por exemplo, a dinâmica populacional, o uso e a ocupação do solo e a produção cultural. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 20R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Proteção ambiental. Empregamos com frequência conceitos como proteção, conservação, preservação, recuperação e reabilitação quando nos referimos às ações articuladas ao se lidar com o meio em que vivemos. Entretanto, em oposição a estes conceitos, emprega-se especialmente o termo “degradação ambiental”, que engloba uma ou várias formas de destruição, poluição ou contaminação do meio ambiente. A seguir, uma relação de termos empregados pela legislação ambiental, de definições dadas pela lei ou por órgãos nacionais e internacionais de Meio Ambiente e de Saúde, que merecem nossa atenção: Proteção. É o mesmo que defender aquele ou aquilo que é ameaçado. Engloba outras ações como preservação, conservação, recuperação etc., consideradas formas de proteção. No Brasil há várias leis estabelecendo Áreas de Proteção Ambiental (APAs), que são espaços do território brasileiro definidos e demarcados pelo poder público (União, Estado ou Município), cuja proteção se faz necessária para garantir o bem-estar das populações presentes e futuras e o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Preservação. É proteger um ecossistema — uma área geográfica ou espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção, adotando-se as medidas preventivas legalmente necessárias e as medidas de vigilância adequadas — contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação. O Código Florestal estabelece áreas de preservação permanente ao longo dos cursos d’água (margens de rios, lagos, nascentes e mananciais em geral), que ficam impedidas de qualquer uso. A Constituição brasileira impõe, também, a preservação do meio ambiente da Serra do Mar, da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Pantanal mato-grossense e da zona costeira (Constituição Federal, art. 225, § 4º). Conservação. Conservar significa utilizar racionalmente um recurso, garantindo-se sua renovação ou sua 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 21 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 autossustentação, ou seja, é usar de modo apropriado o meio ambiente, dentro dos limites capazes de manter sua qualidade e seu equilíbrio em níveis aceitáveis. Para a legislação brasileira, “conservar” implica manejar, usar com cuidado, manter; enquanto “preservar” é mais restritivo: significa não usar ou não permitir qualquer intervenção humana significativa. Recuperação. É a tentativa de readquirir o que foi perdido. A expressão “recuperação ambiental” aplicada a uma área degradada pressupõe que nela se restabeleçam as características do ambiente original. Nem sempre isso é viável, e, às vezes, pode não ser necessário, recomendando-se, assim, uma reabilitação. A reabilitação de um espaço degradado pode fazer com que ele sirva para diversas funções, como a cobertura por vegetação nativa local, ou pode destiná-lo a novos usos, semelhantes ou diferentes do uso anterior à degradação. O investimento necessário à recuperação ou reabilitação deve ser de responsabilidade do agente degradador, que deve reparar o dano por meio do ressarcimento, para efeito de consertar ou atenuar o dano causado, que, sendo ambiental, além de provável pagamento de multa, pode envolver a obrigação de recuperar ou reabilitar a área degradada. Degradação. São alterações e desequilíbrios provocados no meio ambiente que prejudicam os seres vivos ou impedem os processos vitais ali existentes antes dessas alterações. A forma de degradação mais comum é causada pela ação antrópica — embora possa ser causada por efeitos naturais —, que gera impactos ambientais que repercutem nos meios físico-biológicos e socioeconômicos afetando os recursos naturais e a saúde humana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca que a poluição oucontaminação ambiental é uma alteração do meio ambiente que pode afetar a saúde e a integridade dos seres vivos. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 22R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 8 SUSTENTABILIDADE SOCIAL: UM DESAFIO DO SÉCULO XXI A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu como sustentável o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”, porém essa ideia permite interpretações contraditórias. Isso porque desenvolvimento pode ser entendido como crescimento, e crescimento sustentável é uma contradição: nenhum elemento físico pode crescer indefinidamente. Todavia, como vimos, é inevitável o confronto entre o desenvolvimento econômico vigente e a necessidade vital de conservação do meio ambiente, o que torna-se um dos grandes problemas no século XXI, fazendo surgir a discussão sobre como promover o desenvolvimento das sociedades de forma a gerar o crescimento econômico, explorando os recursos naturais de forma racional e não predatória. Há um consenso, no âmbito mundial, de que é fundamental a sociedade impor regras ao crescimento, à exploração e à distribuição dos recursos de modo a garantir as condições da vida no planeta. Nos documentos assinados pela grande maioria dos países do mundo, inclusive o Brasil, fala-se em garantir o acesso de todos aos bens econômicos e culturais necessários ao seu desenvolvimento pessoal e a uma boa qualidade de vida, relacionando-o com os conceitos de desenvolvimento e sociedade sustentáveis. Para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) “desenvolvimento sustentável” significa “melhorar a qualidade da vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas”, ou seja, otimizar o uso sustentável dos recursos renováveis em quantidades compatíveis com sua capacidade natural de renovação. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 23 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 9 SAÚDE, EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE: O DESAFIO DA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA O conceito de saúde possui muitas construções, atendendo à diversidade de interpretações individuais, culturais, enfim, tal conceito dependerá da visão que se tenha do ser humano e, principalmente, da qualidade da relação deste com o ambiente. Ao se ampliar o entendimento das relações entre indivíduo e meio ambiente, a condição de saúde ou doença passa a ser entendida como uma circunstância biológica, em que, no caso da doença, há uma otimização das condições mais favoráveis à sua instalação, assim, permanece a possibilidade de tratar saúde e doença como estados independentes que resultam de relações mecânicas dos indivíduos com o ambiente. A consciência dos riscos socioambientais derivados da alta modernidade abre possibilidades para processos pedagógicos que se baseiam no entendimento de que o ser humano pode optar por comportamentos, atitudes e ações políticas — do plano local ao global, em direção a um projeto de sociedade —, baseado na eficiência econômica, prudência ecológica e justica social. Dessa forma, a sociedade do futuro, sob a perspectiva da sustentabilidade, será cada vez mais reflexiva, mais dependente do conhecimento gerado e socializado. Se tomarmos um paradigma mais abrangente de análise do fenômeno saúde/doença, veremos que esse conceito resulta das próprias formas de organização da sociedade, não negando a existência do fenômeno biológico, muito menos o processo de interação que se estabelece entre o agente causador da doença, o indivíduo suscetível e o ambiente. Na figura 2, a seguir, podemos visualizar que o surgimento do estado de doença ocorre por conta de um desequilíbrio em um dos elementos da chamada tríade epidemiológica. A vida humana é dinâmica e contraditória, não estática. Dessa forma, os problemas de saúde não se reduzem à aparição de um transtorno e à busca de um serviço de saúde. Eles são o resultado de um processo complexo e dinâmico que se produz no interior da sociedade. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 24R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Inter-relação entre agente, suscetivel e ambiente que produzem estímulo à doença História natural e prevenção de doenças (*) Período pré-patogênese Morte Defeito, invalidez Sinais e sintomas Alterações de tecidos Recuperação Interação Suscetível - Estímulo - Reação Período de patogênese Níveis de aplicação das medidas preventivas Prevenção primária Prevenção secundária Prevençãoterciária Promoção de saúde Proteção específica Diagnóstico precoce e tratamento imediato Reabilitação Limitação de incapacidade Fonte: Leavel; Clark, 1978. Esse cenário prioriza o entendimento de saúde como um valor coletivo, de determinação social, propondo que a sociedade se organize em defesa da vida e da qualidade de vida. Assim, ao tratar do conceito de saúde, envolvem-se componentes como a qualidade da água que se consome e do ar que se respira, as condições de fabricação e uso de equipamentos nucleares ou bélicos, o consumismo desenfreado, a miséria, a degradação social e a desnutrição, ou seja, os estilos de vida pessoais e as formas de inserção das diferentes parcelas da população no seu espaço social. Implica, ainda, a consideração dos aspectos éticos relacionados ao direito à vida e à saúde, aos direitos e deveres, às ações e omissões de indivíduos e grupos sociais, dos serviços privados e públicos. As tecnologias existentes podem melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas. No entanto, além de não serem aplicadas em benefício de todos, por ausência de uma política que priorize as questões sociais, há também uma série de doenças relacionadas ao potencial genético de indivíduos ou outros 5 10 15 ECOPEDAGOGIA 25 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 fatores puramente ocasionais, que, por melhores que sejam as condições de vida, ainda se convive com doenças, deficiências, problemas de saúde e com a morte. Nesse contexto, a saúde torna-se produto do estilo de vida e das condições de existência, ou seja, uma forma de representação da inserção humana no mundo. Dados apontam que a causa direta da maior parte dos casos de doença e morte prematura, no Brasil, são as condições desfavoráveis de vida, ou seja, as elevadas taxas de desnutrição infantil e anemia, a prevalência inaceitável de hanseníase (conhecida ainda como lepra) que decorrem da falta de condições mínimas de alimentação, saneamento e moradia para a vida humana. As doenças cardiovasculares, típicas de países desenvolvidos, vêm ganhando crescente importância entre as causas de morte, associadas principalmente ao estresse, a hábitos alimentares impróprios, ao tabagismo compulsivo, à vida sedentária e à ampliação da expectativa de vida. É inegável, porém, que a associação entre doenças e estilos de vida, que se impõem de forma global neste fim de século, distribuem-se entre pessoas de diferentes faixas de renda e posições socioeconômicas de forma mais padronizada do que as doenças associadas à pobreza, em que a população é submetida a precários padrões de vida, ficando, evidentemente, mais vulneráveis a situações de riscos. Em um país como o nosso, por causa da grande diversidade social, apresentam-se todas as diferenças e disparidades. Elas estão presentes em seu território, tanto nas macros como nas microrregiões, exigindoa necessidade de implantação efetiva de ações básicas para a proteção da saúde coletiva e a exigência crescente de atendimento voltado para as chamadas doenças modernas. Isso se expressa, como não poderia deixar 5 10 15 20 25 30 Unidade II 26R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 de ser, em níveis extremamente diferenciados de qualidade de vida e saúde. A promoção da saúde é otimizada quando são asseguradas as condições para a vida digna dos cidadãos. Para tanto, faz- se uso da educação como meio principal na conscientização da necessidade da adoção de estilos de vida saudáveis, do desenvolvimento de aptidões e capacidades individuais, da produção de um ambiente saudável, da eficácia da sociedade na garantia de implantação de políticas públicas voltadas para a qualidade de vida e dos serviços de saúde. Há várias ações de proteção e prevenção da saúde, entre elas encontramos as de natureza eminentemente preventivas, como, por exemplo, a vacinação, a realização de exames médicos e odontológicos periódicos, a fluoretação das águas para prevenir a cárie dental e, principalmente, conhecer a cada momento o estado de saúde da comunidade e desencadear, quando necessário, medidas dirigidas à prevenção e ao controle das vulnerabilidades. 10 EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: RECONHECENDO ESPAÇOS SOCIAIS E RESSIGNIFICANDO CONCEITO Não podemos deixar de considerar que o que a sociedade admite por saúde também está sempre presente na sala de aula e no ambiente escolar. Em seu contexto pedagógico, a escola tem adotado uma visão reducionista de saúde, embora considere a importância das condições ambientais mais favoráveis à instalação da doença, a relação entre o “doente” e o “agente causal” ainda é priorizada. A relação entre acesso à educação e melhores níveis de saúde e de qualidade de vida são inegáveis, pois educar trata-se prioritariamente da articulação de conhecimentos, atitudes, aptidões, comportamentos e práticas pessoais que 5 10 15 20 25 ECOPEDAGOGIA 27 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 possam ser aplicados e compartilhados com a sociedade, favorecendo individual e socialmente o desenvolvimento da autonomia ao mesmo tempo em que atende a objetivos sociais. Nesse contexto, devemos ter clareza de que a educação para a saúde não cumpre o papel de substituir as mudanças estruturais da sociedade, as quais são necessárias para que a qualidade de vida e a saúde sejam garantidas, mas pode contribuir decisivamente para sua concretização. Por sua vez, educação e saúde estão intimamente relacionadas, e, em especial, a educação para a saúde é resultante da interação desses dois fenômenos. Embora seja responsabilidade de toda sociedade, em especial dos próprios serviços de saúde, a escola ainda é a instituição que deve necessariamente assumir-se como espaço genuíno de promoção da saúde. A Organização Mundial da Saúde declara que as escolas que fazem a diferença e contribuem para a promoção da saúde são aquelas que: • têm uma visão ampla de todos os aspectos da escola, provendo um ambiente saudável que favoreça a aprendizagem, não só nas salas de aula, mas também nas áreas destinadas ao recreio, nos banheiros, nos espaços em que se prepara e é servida a merenda, enfim, em todo o prédio escolar; • concedem importância à estética do entorno físico da escola, assim como ao efeito psicológico direto que ele tem sobre professores e alunos; • estão fundamentadas num modelo de saúde que inclui a interação dos aspectos físicos, psíquicos, socioculturais e ambientais; • promovem a participação ativa de alunos e alunas; reconhecem que os conteúdos de saúde devem A educação para a saúde deve favorecer a mobilização para as necessárias mudanças na busca de uma vida saudável. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 28R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 ser necessariamente incluídos nas diferentes áreas curriculares; • entendem que o desenvolvimento da autoestima e da autonomia pessoal são fundamentais para a promoção da saúde; • valorizam a promoção da saúde na escola para todos os que nela estudam e trabalham; • têm uma visão ampla dos serviços de saúde voltados para o escolar; • reforçam o desenvolvimento de estilos saudáveis de vida e oferecem opções viáveis e atraentes para a prática de ações que promovem a saúde; • favorecem a participação ativa dos educadores na elaboração do projeto pedagógico da educação para a saúde; • buscam estabelecer interrelações na elaboração do projeto escolar. Assim, podemos constatar que a informação ocupa um lugar importante na aprendizagem, mas a educação para a saúde deve favorecer a mobilização para as necessárias mudanças na busca de uma vida saudável em que os valores e a aquisição de hábitos e atitudes constituem as dimensões mais importantes. Para tanto a escola precisa enfrentar o desafio de permitir que seus alunos reelaborem conhecimentos, ressignifiquem valores, habilidades e práticas favoráveis à saúde, fortalecendo comportamentos e hábitos saudáveis, que os faça tornar- se sujeitos capazes de promover transformações que tenham repercussão em sua vida pessoal e na qualidade de vida da coletividade, promovendo uma sociedade sustentável e que preserve a qualidade de vida como valor essencial ao ser humano. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 29 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Desenvolver essa postura crítica é muito importante para os alunos, pois isso permite que eles reavaliem essas mesmas informações, percebendo os vários determinantes da leitura, os valores que são associados a elas e aqueles trazidos de casa. Isso ajuda os alunos a ampliarem sua visão de modo a agir mais seguramente ante a realidade que vivem. Os professores precisam, para tanto, conhecer o assunto e buscar com os alunos mais informações, ao mesmo tempo em que desenvolvem suas atividades: pesquisando em livros e levantando dados, conversando com os colegas das outras disciplinas, ou convidando pessoas da comunidade — professores especializados, técnicos de governo, lideranças, médicos, agrônomos, moradores tradicionais que conhecem a história do lugar etc. — para fornecer informações, dar pequenas entrevistas ou participar das aulas na escola. Deve- se recorrer a todos os tipos fontes possíveis: desde livros tradicionalmente utilizados até registros orais dos habitantes da região. A heterogeneidade de fontes é importante até mesmo como medida de checagem da precisão das informações, mostrando ainda a diversidade de interpretações dos fatos. Os temas da atualidade exigem uma permanente atualização, pois estão em contínuo desenvolvimento; e atualizá-los junto com os alunos é uma excelente oportunidade para que eles vivenciem o desenvolvimento de procedimentos elementares de pesquisa e construam, na prática, formas de sistematização da informação, medidas, considerações quantitativas, apresentação e discussão de resultados etc. O papel dos professores como orientadores desse processo é de fundamental importância. Essa experiência permite que os alunos percebam que a construção e a produção dos conhecimentos são contínuas e que, para entender as questões ambientais, há de se atualizar constantemente. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 30R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Com o apoioda ONU e de diversas organizações não governamentais, o PNUMA propôs, em 1991, princípios, ações e estratégias para a construção de uma sociedade sustentável, partindo do princípio de que, “se uma atividade é sustentável, para todos os fins práticos ela pode continuar indefinidamente. Contudo, não pode haver garantia de sustentabilidade a longo prazo porque muitos fatores são desconhecidos ou imprevisíveis”. Em vista disso, propõe-se que as ações humanas ocorram dentro das técnicas e princípios conhecidos de conservação, num processo monitorado das decisões, avaliação e redirecionamento da ação. Nesse cenário, a escola, como já vimos, é uma das instâncias da sociedade que pode contribuir na construção desse processo. Uma sociedade sustentável, segundo o mesmo Programa, é aquela que interage em harmonia com nove princípios interligados apresentados a seguir: • Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos (princípio fundamental). Trata-se de um princípio ético que “reflete o dever de nos preocuparmos com as outras pessoas e outras formas de vida, agora e no futuro”. • Melhorar a qualidade da vida humana (critério de sustentabilidade). Esse é o verdadeiro objetivo do desenvolvimento, ao qual o crescimento econômico deve estar sujeito: permitir aos seres humanos “perceber o seu potencial, obter autoconfiança e uma vida plena de dignidade e satisfação”. • Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra (critério de sustentabilidade). O desenvolvimento deve ser tal que garanta a proteção “da estrutura, das funções e da diversidade dos sistemas naturais do planeta, dos quais temos absoluta dependência”. • Minimizar o esgotamento de recursos não renováveis (critério de sustentabilidade). São recursos como os Os temas da atualidade exigem uma permanente atualização, pois estão em contínuo desenvolvimento; e atualizá-los junto com os alunos é uma excelente oportunidade para que eles vivenciem o desenvolvimento de procedimentos elementares. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 31 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 minérios, petróleo, gás, carvão mineral. Não podem ser usados de maneira “sustentável” porque não são renováveis. Mas podem ser retirados de modo a reduzir perdas e principalmente a minimizar o impacto ambiental. Devem ser usados de modo a “ter sua vida prolongada como, por exemplo, por meio de reciclagem, pela utilização de menor quantidade na obtenção de produtos, ou pela substituição por recursos renováveis, quando possível”. • Permanecer nos limites de capacidade de suporte do planeta Terra (critério de sustentabilidade). Não se pode definir exatamente uma sociedade sustentável, por enquanto, mas indubitavelmente existem limites para os impactos que os ecossistemas e a biosfera como um todo podem suportar sem provocar uma destruição arriscada. Isso varia de região para região. Poucas pessoas consumindo muito podem causar tanta destruição quanto muitas pessoas consumindo pouco. Devem-se adotar políticas que desenvolvam técnicas adequadas e tragam equilíbrio entre a capacidade da natureza e as necessidades de uso pelas pessoas: • Modificar atitudes e práticas pessoais (meio para se chegar à sustentabilidade). “Para adotar a ética de se viver sustentavelmente, as pessoas devem reexaminar os seus valores e alterar o seu comportamento. A sociedade deve promover atitudes que apóiem a nova ética e desfavoreçam aqueles que não se coadunem com o modo de vida sustentável.” • Permitir que as comunidades cuidem de seu próprio ambiente (meio para se chegar à sustentabilidade). É nas comunidades que os indivíduos desenvolvem a maioria das atividades produtivas e criativas. E constituem o meio mais acessível para a manifestação de opiniões e tomada de decisões sobre iniciativas e situações que as afetam. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 32R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 • Gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvolvimento e conservação (meio para se chegar à sustentabilidade). A estrutura deve garantir “uma base de informação e de conhecimento, leis e instituições, políticas econômicas e sociais coerentes”. A estrutura deve ser flexível e regionalizável, considerando cada região de modo integrado, centrado nas pessoas e nos fatores sociais, econômicos, técnicos e políticos que influem na sustentabilidade dos processos de geração e distribuição de riqueza e bem-estar. • Constituir uma aliança global (meio para se chegar à sustentabilidade). Hoje, mais do que antes, a sustentabilidade do planeta depende da confluência das ações de todos os países, de todos os povos. As grandes desigualdades entre ricos e pobres são prejudiciais a todos. 11 DIVERSIDADE: DESIGUALDADE E ÉTICA O naturalista francês Lamarck, em 1809, ano do nascimento de Charles Darwin, elaborou a primeira teoria sobre a evolução das espécies. Embora a capacidade dos seres vivos de mudar e evoluir já tivesse sido observada e registrada por muitos estudiosos, é apenas com Lamarck que surge a primeira hipótese sistematizada. Nesse cenário, um dos valores que passa a ser reconhecido como essencial para a sustentabilidade da vida na Terra é o da conservação da diversidade biológica (biodiversidade), e, para a sustentabilidade social, reconhece-se a importância da diversidade dos tipos de sociedades, de culturas (sociodiversidade). A evolução permitiu o aparecimento das espécies atuais. A diversidade biológica ou biodiversidade consiste no conjunto Sabe-se pouco ainda sobre o papel relativo de cada espécie e de cada ecossistema na manutenção do equilíbrio natural em condições viáveis para a sobrevivência. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 33 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 total de disponibilidade genética de diferentes espécies e variedades, de diferentes ecossistemas, que através de lentos processos evolutivos surgem incansavelmente constituindo novos sistemas, que as mudanças nas condições ecológicas podem fazer desaparecerem. Entretanto, a ação humana vem acelerando muito as mudanças nas condições ecológicas, levando a rápidas mudanças climáticas e à extinção de espécies e variedades, o que tem uma gravidade considerável. Sabe-se pouco ainda sobre o papel relativo de cada espécie e de cada ecossistema na manutenção desse equilíbrio em condições viáveis para a sobrevivência. Todavia, é sabido que todas as espécies são componentes do sistema de sustentação da vida, que a conservação da biodiversidade é estratégica para a qualidade de vida. Desse modo, descobrem-se substâncias de grande valor para a saúde, alimentação, obtenção de tinturas, fibras e outros usos, no grande laboratório representado pelas diferentes espécies de plantas e animais, muitas das quais eram desconhecidas ou desprezadas até pouco tempo. A diversidade biológica deve ser conservada não só por sua importância conhecida e presumível para a humanidade, mas por uma questão de princípio: todas as espécies merecem respeito, pertencemos todos à mesma e única trama da vida neste planeta. 12 REFLEXÃO Nessa carta, com trecho a seguir, o Cacique Seattle responde ao presidente norte-americano F. Pierce, que tentava comprar as suas terras. Um exemplo sublime de consciência holística e ecológica. Uma denúncia à ganância do homem branco, cioso de seu intelecto. Um grito contra a injustiça dos que pensam ter o direito sobre a terra, excluindo seus semelhantes e outros seres vivos. Um apelo ao humanismo: 5 10 15 20 2530 Unidade II 34R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 A carta do chefe indígena Seattle (1854) Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada pedaço de terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho (...). Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar para seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão. Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra tudo de que necessita. A terra, para ele, não é sua 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 35 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 irmã, mas sua inimiga, e, quando a conquista, extraindo dela o que deseja, ele prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa (...). Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto. Eu não sei... nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez porque o homem vermelho seja um selvagem e não compreenda. Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater de asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta de um homem, se não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros. O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro: o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao [seu próprio] mau cheiro (...). Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se nós a decidirmos aceitar, imporei uma 5 10 15 20 25 30 Unidade II 36R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 condição: O homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos (...). O que é o homem sem os animais? Se os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma lição em tudo. Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá também aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Disto nós sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem é que pertence à terra. Disto sabemos: todas as coisas então ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorre com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não teceu a teia da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizermos ao tecido, fará o homem a si mesmo. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala como ele, de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos (e o homem branco poderá vir a descobrir um dia): Deus é um só, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Vocês podem pensar que o possuem, como desejam possuir nossa terra, mas não é possível. Ele 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 37 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 é o Deus do homem e sua compaixão é igual para o homem branco e para o homem vermelho. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar o seu Criador. Os homens brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos. Mas, quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos das florestas densa, impregnados do cheiro de muitos homens e a visão dos morros, obstruídas por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.2 A carta da Terra Preâmbulo Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global 2Veja texto na íntegra disponível em http://www.cetesb.sp.gov.br/ Institucional/carta.asp. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 38R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida e com as futuras gerações. Terra, nosso lar A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem- estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos os seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas.A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado. A situação global Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente, e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 39 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis. Desafios para o futuro A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes. Responsabilidade universal Para realizar essas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre, bem como com nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo em que a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade 5 10 15 20 25 30 Unidade II 40R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade, considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza. Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando a um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada. Princípios I. Respeitar e cuidar da comunidade da vida 1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade. a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos. b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade. 2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor. a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas. 5 10 15 20 25 ECOPEDAGOGIA 41 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica responsabilidade na promoção do bem comum. 3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas. a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar seu pleno potencial. b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável. 4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações. a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras. b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a longo prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra. Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é preciso: II. Integridade ecológica 5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação com a diversidade biológica e com os processos naturais que sustentam a vida. 5 10 15 20 25 Unidade II 42R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento. b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural. c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados. d. Controlar e erradicar organismos não nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos. e. Manejar o uso de recursos renováveis, como água, solo, produtos florestais e vida marinha, de forma que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas. f. Manejar a extração e o uso de recursos não renováveis, como minerais e combustíveis fósseis, de forma que diminuam a exaustão e não causem dano ambiental grave. 6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução. a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais, mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 43 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental. c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas consequências humanas globais, cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance. d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas. e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente. 7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário. a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos. b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursosenergéticos renováveis, como a energia solar e do vento. c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência equitativa de tecnologias ambientais saudáveis. d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos 5 10 15 20 25 Unidade II 44R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais. e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável. f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito. 8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido. a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento. b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar humano. c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público. III. Justiça social e econômica 9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental. a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos. 5 10 15 20 25 ECOPEDAGOGIA 45 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se por conta própria. c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações. 10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável. a. Promover a distribuição equitativa da riqueza dentro das e entre as nações. b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas. c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas. d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas consequências de suas atividades. 11. Afirmar a igualdade e a equidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas. a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 46R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias. c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os membros da família. 12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias. a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social. b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida. c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis. d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual. IV. Democracia, não violência, e paz 13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões e acesso à justiça. 5 10 15 20 25 ECOPEDAGOGIA 47 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse. b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões. c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembleia pacífica, de associação e de oposição. d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos. e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas. f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais em que possam ser cumpridas mais efetivamente. 14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessários para um modo de vida sustentável. a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável. 5 10 15 20 25 Unidade II 48R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação para a sustentabilidade. c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar a sensibilização para os desafios ecológicos e sociais. d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável. 15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração. a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de sofrimentos. b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável. c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas. 16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz. a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações. b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas. 5 10 15 20 25 ECOPEDAGOGIA 49 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/06 /0 9 c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica. d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa. e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz. f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte. O caminho adiante Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir essa promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da carta. Isso requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar essa visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria. 5 10 15 20 25 30 Unidade II 50R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isso pode significar escolhas difíceis. Precisamos, porém, encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva. Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações, respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento. Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida.3 3 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Carta_da_Terra. 5 10 15 20 25 ECOPEDAGOGIA 51 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Referências bibliográficas BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental: Parâmetros Curriculares Nacionais, vols. 4 e 9. Brasília. MEC/SEF, 1997. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração sobre o ambiente humano. Estocolmo, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, 1972. __________. Programa internacional de educação ambiental. Estocolmo, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, 1972. __________. Agenda 21. Rio de Janeiro, Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1992. Unidade II 52R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9
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