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4 J.H. ELLIOT

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ELLIOT, J. H. “A Espanha e a América nos Séculos XVI e XVII”, In: Bethel, L. (org). História 
da América Latina. Vol 1: América Latina Colonial. (1997). 
 
 O texto contrapõe as aspirações da coroa espanhola com relação à América com o que 
efetivamente se processou em território colonial, evidenciando a distância entre os 
desdobramentos práticos e os ideais projetados nas políticas administrativas voltadas às Índias. 
O ponto central gira em torno da estrutura estatal – hierarquizada e burocrática – instituída pela 
coroa no intuito de maximizar o controle sobre o território colonial; mas que, ao fim e ao cabo, 
serviu como aparato para oportunizar manobras relacionadas aos interesses locais e como um 
instrumento que colaborou para consolidação de uma elite que surge justo na imbricada relação 
com a estrutura administrativa. Em um trecho que deixa entrever essa centralidade, Elliot 
aponta para o caráter fragmentado da autoridade no contexto da colônia, tomando-o como 
 
(...) uma das mais notáveis características da América colonial espanhola. 
Externamente, o poder real era absoluto, tanto na lgreja quanto no Estado. Uma 
torrente de ordens eram emitidas pelo conselho das Índias em Madri, e esperava-se 
que uma burocracia numerosa, secular e clerical, as colocasse em vigor. Mas na 
prática havia tanta manobra pelo poder entre os diferentes grupos (...) que as leis 
inoportunas, embora olhadas com deferência devido à fonte de que emanavam, não 
eram obedecidas, enquanto a própria autoridade era filtrada, mediada e dispersada. A 
presença do Estado, portanto, apesar de permear tudo, não comandava tudo. As 
certezas de Madri eram dissolvidas nas ambiguidades da América (...) (p.299) 
 
Inscrito campo da história social, bem como política e econômica; opera com o binômio 
colônia e metrópole, observando as múltiplas implicações entre eles por meio dos três tópicos 
que organizam a narrativa. Cada qual, com um enfoque analítico: a estrutura administrativa e 
ideologias da coroa; desdobramentos concretos das políticas metropolitanas na colônia, com 
destaque à organização de instituições e classes coloniais; a síntese da relação entre coroa e 
colônia sob o prisma das transformações processadas no decorrer dos sécs. XVI e XVII. A 
noção de império perpassa todo o texto que evoca significados distintos assumidos ao longo do 
período. A coroa espanhola é um agente central: o texto perscruta como processos 
sociopolíticos, internos (ligados à colônia) e externos (contestação internacional, 
desdobramentos atlânticos das rivalidades européias) e processos econômicos, repercutiram 
sobre essa instituição, tendo gestado o que o autor designou como “combinação seiscentista 
entre negligência e exploração” (p.333) que influenciou decisivamente o desenvolvimento da 
sociedade americana. A observação desta influência consta como a principal influência 
historiográfica do texto, pois atrela-se à forja de importantes aspectos da nascente sociedade 
em meio ao processo de afastamento e afrouxamento de seus laços com a metrópole.

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