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AULA 9 – Patologia da Nutrição e Dietoterapia nas Alergias e Intolerâncias Alimentares Disciplina: Patologia da Nutrição e Dietoterapia Professora: Agda Maryon MKT-MDL-02 Versão 00 Alergia Alimentar - Introdução MKT-MDL-02 Versão 00 A alergia alimentar está incluída no grupo das reações adversas aos alimentos, que podem ser classificadas em: tóxicas, intolerância e hipersensibilidade (alergia). A alergia alimentar é mais prevalente nos primeiros anos de vida, e cerca de 6% das crianças menores de 3 anos de idade experimentam algum tipo de reação alérgica aos alimentos. Ela declina na primeira década de vida e, em adultos, sua prevalência encontra-se em torno de 1,5%. Reações Tóxicas - Conceito MKT-MDL-02 Versão 00 As reações tóxicas ocorrem quando uma quantidade suficiente de toxina capaz de provocar manifestações clínicas é ingerida por qualquer indivíduo (todos são suscetíveis). Um exemplo é a ingestão de alimento com toxina produzida pelo Staphylococcus aureus ou bacilo cereus. Intolerância - Conceito MKT-MDL-02 Versão 00 A intolerância depende de suscetibilidade individual. Por exemplo, a intolerância à lactose na hipolactasia do tipo adulto. Assim, a intolerância à lactose é uma reação adversa não tóxica, tendo a deficiência de lactose como fator individual de suscetibilidade. Nessa situação, os indivíduos têm a determinação genética de reduzir a produção de lactase a partir de uma determinada idade. Quando ingere uma quantidade que excede sua capacidade de hidrolisar e absorver esse dissacarídeo, o indivíduo pode apresentar sintomas. As pessoas com hipolactasia do tipo adulto podem ingerir as proteínas do leite de vaca. A ingestão da lactose em quantidade excessiva é a causa dos sintomas em parcela desses indivíduos. Reações de Hipersensibilidade - Conceito MKT-MDL-02 Versão 00 As reações de hipersensibilidade são determinadas por proteínas que desencadeiam reação imunológica, a qual pode determinar várias síndromes clínicas. Segundo o mecanismo imunológico presumivelmente predominante são classificadas em: reações tardias mediadas por células, reações imediatas mediadas por imunoglobulina E (IgE) e reações mistas nas quais ambos os mecanismos (reação por células e IgE) participam. Atenção para a palavra presumível: do ponto de vista prático, até o presente, só existem métodos diagnósticos que permitem a caracterização das reações mediadas pela IgE. Intolerância à Lactose MKT-MDL-02 Versão 00 Intolerância à Lactose - Fisiopatologia MKT-MDL-02 Versão 00 A intolerância à lactose compreende um conjunto de sintomas decorrentes da má absorção da lactose, um dissacarídeo constituído por uma molécula de glicose e uma de galactose, monossacarídeos absorvidos por meio dos enterócitos. Do ponto de vista fisiopatológico, os sintomas são decorrentes da lactose ingerida que não é absorvida e, na luz intestinal, exerce força osmótica e aumenta o fluxo de fluídos para o interior do intestino, promovendo o aparecimento de distensão, dor ou cólica abdominal, náusea, aumento do borborigmo (ruído gorgolejante provocado pelo deslocamento de líquidos, ou de gases em meio líquido, contidos nos intestinos), aumento da produção de flatos e diarreia. Intolerância à Lactose MKT-MDL-02 Versão 00 • A lactose não absorvida no indivíduo com deficiência de lactase, independentemente de ocorrer intolerância (sintomas) ou não, chega ao cólon, onde é fermentada, produzindo ácidos graxos de cadeia curta e gases, entre os quais se destaca o hidrogênio. Parte do hidrogênio produzido é absorvida no cólon e eliminada no ar expirado; parte dos ácidos graxos de cadeia curta também é absorvida no cólon, sendo utilizada como fonte energética para os colonócitos; e parte dos ácidos é eliminada nas fezes, provocando diminuição do pH fecal. • A deficiência de lactase é pré-requisito para que ocorra a intolerância à lactose. Por sua vez, a deficiência de lactase pode ser classificada em duas categorias: deficiência primária de lactase e deficiência secundária de lactase. Deficiência Primária de Lactase MKT-MDL-02 Versão 00 ALACTASIA CONGÊNITA Doença genética congênita muito rara na qual existe ausência de lactase. Manifesta-se por diarreia quando o recém-nascido recebe leite contendo lactose (humano ou fórmula à base de leite de vaca). HIPOLACTASIA DO TIPO ADULTO Apesar da denominação, a diminuição de lactase pode ter início a partir dos 2 aos 3 anos de idade, em geral dos 4 aos 5 anos, ou até após essa idade. A maior parte dos hipolactásicos tipo adulto é assintomática mesmo quando consome lactose como parte da dieta habitual. Deficiência Secundária de Lactase MKT-MDL-02 Versão 00 • Ocorre em consequência à lesão intestinal por diferentes mecanismos, como, por exemplo, agentes infecciosos e outros, que promovem agressão da mucosa do intestino delgado, acompanhada da diminuição na quantidade de lactase no ápice das vilosidades. • Os métodos utilizados com maior frequência no diagnóstico da hipolactasia baseiam-se no aumento da glicemia de jejum (> 20 mg/dL) ou no aumento da concentração de hidrogênio no ar expirado, após dose padronizada de lactose administrada em jejum. Pode ser caracterizada também pela dosagem da própria enzima em fragmentos de biopsia intestinal. Deficiência Secundária de Lactase MKT-MDL-02 Versão 00 • Recentemente, a genotipagem vem sendo utilizada na pesquisa sobre hipolactasia do tipo adulto. Do ponto de vista clínico, os indivíduos com má absorção de lactose diagnosticada por métodos laboratoriais devem ser avaliados se apresentarem tolerância a alguma quantidade de lactose. Esse aspecto é importante na distinção da alergia à proteína do leite de vaca, em que geralmente o indivíduo apresenta manifestações independentemente da quantidade de leite ingerida. É importante, também, porque muitos indivíduos com má absorção de lactose ou intolerância a grande dose de lactose, muitas vezes, podem consumir produtos lácteos com menores quantidades de lactose, como o leite de vaca com baixo teor de lactose, queijos, iogurtes, entre outros. Esses alimentos são fontes importantes de cálcio, cujas necessidades são difíceis de serem atendidas quando o indivíduo é mantido em dieta sem leite de vaca e derivados. Intolerância à Lactose - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 • Deve-se ressaltar a importância de a orientação nutricional ser personalizada, em razão da variabilidade da intolerância à lactose. • A dose de lactose tolerada por cada indivíduo é diferente. Alguns não necessitam excluir totalmente o leite da alimentação, porém o consumo de lactose deve ser reduzido a uma quantidade que não proporcione o aparecimento dos sintomas, que depende de diversos fatores, como a dose de lactose consumida, o grau de adaptação colônica (pH, trânsito, motilidade, microbiota intestinal), a velocidade de esvaziamento gástrico e a característica física do alimento que contém a lactose (sólido ou líquido), de modo que, embora uma dieta livre de lactose possa ser útil no diagnóstico, a maioria dos indivíduos intolerantes não precisa seguir rotineiramente esse tipo de dieta para evitar os sintomas desagradáveis decorrentes da ingestão desse dissacarídeo. Intolerância à Lactose - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 • O consumo de leite integral gera menos sintomas com menor intensidade quando comparado ao consumo de leite desnatado. Uma das explicações para isso é o retardo do esvaziamento gástrico, que pode ser conseguido, também, por adição de chocolate ao leite. • Produtos como queijos, iogurtes, coalhadas e leite fermentado podem ser tolerados pela maioria dosindivíduos que apresentam hipolactasia do tipo adulto, seja por seu reduzido conteúdo de lactose ou pela presença de parte da atividade de betagalactosidase. Intolerância à Lactose - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 • Queijos do tipo minas (frescal, meia-cura e curado), prato, muçarela, gouda, estepe, requeijão, coalho e queijo manteiga apresentam baixo nível de lactose em relação ao leite. • O conteúdo de lactose do leite fermentado é muito inferior ao dos iogurtes e coalhadas, e isso pode ser explicado pela maior atividade de betagalactosidase durante o processo de fermentação do produto ou pela diluição do leite fermentado. • No caso dos iogurtes, a lactose presente nesse alimento é mais tolerada e bem digerida que a presente no leite, por causa do retardo do esvaziamento gástrico, do tempo de trânsito intestinal e da capacidade de seus micro- organismos (em especial, Lactobacillus bulgaricus) em hidrolisar a lactose. Intolerância à Lactose - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 • Atualmente, no mercado brasileiro, há várias opções de leite na forma líquida ou em pó. Existem fórmulas sem lactose para crianças e leite UHT com baixo teor de lactose. O leite com baixo teor de lactose é semelhante ao leite UHT, com sabor normal, contendo todos os nutrientes do leite. Para os lactentes com intolerância secundária à lactose, em geral, no curso de diarreia aguda ou persistente, deve ser preconizada uma fórmula sem lactose, que normalmente é derivada do leite de vaca, pobre ou isento de lactose, além das fórmulas de soja. Intolerância à Lactose - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 • No início, uma boa estratégia terapêutica é a exclusão completa da lactose da dieta até a remissão dos sintomas. • Posteriormente, faz-se a reintrodução gradual da lactose na dieta, considerando-se a dose-limite individual. • Estabelecida a dose máxima de lactose tolerada, o indivíduo deve assumir mudanças nos hábitos alimentares, como consumir o leite juntamente com outros alimentos, consumir produtos lácteos fermentados e fracionar a ingestão de leite em pequenas quantidades ao longo do dia. • Contudo, se essas estratégias não forem eficazes no tratamento da intolerância à lactose, algumas terapias farmacológicas, como a administração de lactase solúvel no leite, cápsulas ou tabletes de betagalactosidase para sólidos, podem ser utilizadas. Intolerância à Lactose - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 • É importante ressaltar que, independentemente da terapêutica adotada, deve- se considerar a necessidade de suplementação de cálcio, caso o consumo de produtos lácteos não seja garantido. Por fim, deve ser enfatizado que a dieta com reduzido teor de lactose deve atender às necessidades nutricionais do indivíduo e garantir um estado nutricional adequado. Alergia Alimentar MKT-MDL-02 Versão 00 Alergia Alimentar - Fisiopatologia MKT-MDL-02 Versão 00 • A alergia alimentar está incluída nas reações adversas aos alimentos. Os mecanismos envolvidos na fisiopatologia da alergia alimentar foram motivo de importantes revisões publicadas nos últimos anos. • Fundamentalmente, ocorre uma falha na supressão da resposta imunológica a uma determinada proteína, falhando, assim, o mecanismo de tolerância. Apesar do grande acúmulo de conhecimento nas últimas décadas, ainda não se sabe exatamente por qual motivo ocorre desenvolvimento de alergia ao invés de tolerância. • Determinados alimentos apresentam maior risco de desencadear alergia, como leite de vaca, ovo, soja, amendoim e frutos do mar, incluindo peixes. Alergia Alimentar - Manifestações Clínicas MKT-MDL-02 Versão 00 • As manifestações da alergia alimentar são muito variadas e dependem das características do indivíduo, do tipo de alimento desencadeante e do mecanismo fisiopatológico envolvido. Mecanismos mediados por IgE são responsáveis pelas reações imediatas que ocorrem minutos ou horas após a ingestão do alérgeno alimentar, desencadeando manifestações clínicas respiratórias, gastrintestinais e, nos casos mais graves, acometem o sistema cardiovascular. • Esse tipo de alergia alimentar geralmente é descrito em adultos, associando-se a alimentos como o peixe, crustáceos, amendoim e algumas castanhas. Manifestações cutâneas podem variar de urticária até dermatite herpetiforme, incluindo angioedema. Mecanismos mediados e não mediados por IgE podem estar envolvidos e tem relação com alimentos como frutas, vegetais, peixes e frutos do mar. • Nos casos em que há acometimento cardiovascular, a anafilaxia aos alimentos é a mais temida. As reações anafiláticas são graves, potencialmente fatais. Ocorrem subitamente após a ingestão do alérgeno alimentar. Os alimentos mais envolvidos nos processos anafiláticos são: leite de vaca, clara de ovo, amendoim, castanhas, peixes, frutos do mar e trigo. Alergia Alimentar - Manifestações Cutâneas MKT-MDL-02 Versão 00 Urticária Dermatite Herpetiforme Angioedema Alergia Alimentar - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 No manejo das alergias alimentares, é importante destacar que o tratamento se baseia na exclusão ou eliminação do alérgeno alimentar, caracterizando-a como “DIETA DE EXCLUSÃO”. O principal objetivo do manejo dietético é a retirada das proteínas da dieta, as quais estão relacionadas aos sintomas clínicos. A dieta de exclusão/eliminação deve ser utilizada por pacientes com sintomas persistentes. Além de base do tratamento dietético, a dieta de exclusão é também instrumento fundamental no diagnóstico da alergia alimentar. Permite confirmar a suspeita de alergia alimentar quando ocorre desaparecimento dos sintomas e seu reaparecimento após a reintrodução do(s) alimento(s) suspeito(s). Dessa maneira, o resultado é considerado positivo para alergia alimentar àquele(s) determinado(s) alimento(s) Principais Alimentos Alergênicos MKT-MDL-02 Versão 00 Alergia Alimentar - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 A completa eliminação do alimento alergênico é a única forma comprovada de manejo dietético atualmente disponível. A dieta de exclusão tem os seguintes objetivos: Eliminar ou proscrever da dieta aqueles alimentos relacionados à sintomatologia ou aqueles considerados muito alergênicos; Evitar alimentos industrializados ou todos aqueles dos quais não é possível conhecer sua composição; Promover oferta energética e de nutrientes suficiente para atender às necessidades do indivíduo; Reintroduzir gradativamente os alimentos excluídos da dieta de acordo com a resposta clínica. Alergia Alimentar - Terapia Nutricional MKT-MDL-02 Versão 00 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS Devem-se utilizar as recomendações da ingestão diária de nutrientes (DRI), de acordo com idade e gênero, para o estabelecimento de energia, vitaminas e minerais a serem propostos na intervenção dietética individualizada, visando ao atendimento adequado das necessidades nutricionais do indivíduo. Conclusão MKT-MDL-02 Versão 00 É importante ressaltar que o tratamento da alergia alimentar deve ser privilegiado por abordagem multidisciplinar e contar com a participação do nutricionista em conjunto com o médico e os demais profissionais envolvidos, durante todo o acompanhamento. A equipe deve realizar cuidadosa avaliação do estado nutricional. Cabe ao nutricionista realizar avaliação criteriosa e detalhada da ingestão alimentar, além de estabelecer conduta dietética individualizada, devendo incluir informação necessária para os responsáveis da criança. História dietética bem detalhada permite identificar sintomas relacionados ao alimento e suspeitar de outros alimentos ou ingredientesque podem levar o paciente a fazer transgressões da dieta de exclusão, de forma voluntária ou involuntária. Para finalizar, é importante destacar que os alimentos a serem oferecidos devem proporcionar oferta adequada de nutrientes e segurança quanto à ausência do alérgeno alimentar na dieta. Referência Bibliográfica • CUPPARI, L. Guia de Nutrição: Clínica no Adulto. 3ª ed. São Paulo: Manole, 2014. MKT-MDL-02 Versão 00
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