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* * REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS HABEAS CORPUS Prof. Ms. PEDRO IVO SOARES BEZERRA * * Surgimento: primórdios em 1215, com a Magna Charta de João Sem-Terra, para conter abusos de agentes do poder ou de particulares à liberdade de locomoção surgimento com o due process of law (limites à repressão estatal). Necessidade de regramento para efetividade. Habeas Corpus Act – 1679 regramento procedimental do remédio jurídico. 1816 ampliação para abranger pessoas detidas por motivos diversos da acusação criminal. EUA: constitucionalização do HC. HABEAS CORPUS * * Brasil: o termo Habeas Corpus surgiu com o Código de Processo Criminal de 1832 (art. 340). Já havia previsão de direitos relativos à liberdade na Constituição Imperial de 1824 (art. 179, VIII). Doutrina brasileira do HC: constitucionalização do HC em 1891 de forma ampla, abrangendo tutela que ultrapassava a liberdade de locmoção – « violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder ». Reforma constitucional de 1926: restrição do HC à liberdade de locomoção. Criação do MS em 1932 (não locomoção). HABEAS CORPUS * * Conceito de HC: « ação autônoma de impugnação, de natureza constitucional, vocacionada à tutela da liberdade de locomoção » (BRASILEIRO, 2013, p. 1.773). Características: Natureza constitucional – garantia fundamental (assecuratória); Cláusula pétrea; Não é recurso (ação autônoma de impugnação - mandamental); Proteção à liberdade de locomoção; Impugna atos judiciais, administrativos ou particulares; Legitimidade amplíssima; Inexistência de dilação probatória (prova pré-constituída). HABEAS CORPUS * * Previsão legal: CRFB: Art. 5º, inciso LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; CPP: Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. HABEAS CORPUS * * Condições da ações no HC: * Interesse de agir: A) necessidade de tutela violência ou coação em liberdade de locomoção em virtude de constrangimento ilegal. Atos concretos, não risco meramente hipotético, nem normas em tese. Imprescindível o socorro à tutela jurisdicional. Ilegalidade ou abuso de poder ato não amparado em lei ou exercício irregular do poder (incompetência ou excesso). B) Adequação: tutela da liberdade de locomoção. Antes de 1926 era mais amplo. Criação do MS para outros direitos líquidos e certos. É adequado contra toda medida que possa, em tese, ensejar constrangimento à liberdade de locomoção ou agravar as restrições ao direito de ir, vir e permanecer. HABEAS CORPUS * * * Possibilidade jurídica do pedido: tutela jurisdicional admitida em abstrato pelo ordenamento jurídico. Exceções: 1) art. 142, §2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares. Não cabe HC para discutir a oportunidade e a conveniência da medida (mérito administrativo), se prevista em lei. Cabe discutir a legalidade da punição; 2) Estado de Sítio (medidas do art. 139) não cabe HC para análise do mérito, mas cabe para vícios formais. Divergência. * Legitimidade: A) ativa: amplíssima e irrestrita (bem jurídico liberdade). Ação penal popular, sem necessidade de capacidade postulatória (EOAB, art. 1º, §1º). Legitimidade para o recurso também é ampla. HABEAS CORPUS * * Impetrante ≠ paciente. “Quem tem legitimação para propor habeas corpus tem também legitimação para dele recorrer” (HC 73455 – STF). Pessoa jurídica (impraticável a afetação à liberdade de ir e vir) e animais (alguém - HC 833085 – Judiciário da Bahia ) não podem ser pacientes. MP tem legitimidade, desde que aja a favor da liberdade de locomoção do acusado. “É vedado ao Parquet utilizar-se do remédio constitucional para veicular pretensão que favoreça a acusação” (HC 91510 – STF). B) Passiva: pessoa responsável pela violência ou coação ilegal à liberdade de locomoção do paciente. Não confundir com o cumpridor da ordem (detentor do preso, p. ex.). Particular pode figurar (coator). HABEAS CORPUS * * Espécies: A) Liberatório: já consumado o ato constritivo à liberdade de locomoção; B) Preventivo (salvo-conduto): ameaça de constrangimento. Deve ser efetiva, plausível, objetiva. Impede a prisão tão somente pelo motivo que seu ensejo ao HC. Hipóteses legais de cabimento: elenco do CPP não é exaustivo. HABEAS CORPUS * * Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza; VI - quando o processo for manifestamente nulo; VII - quando extinta a punibilidade. HABEAS CORPUS * * A) Ausência de justa causa: “falta de suporte fático e de direito para a prisão ou para a deflagração da persecução penal contra alguém” (BRASILEIRO, 2013, p. 1794). Expressão vaga. Ausência de JC formal inexistência de lastro probatório mínimo; Ausência de JC material ilegalidade patente da persecução penal. Pode trancar investigação ou processo. Para caber HC, deve haver ameaça, ainda que potencial, à liberdade de locomoção. Senão, MS. B) Prisão por mais tempo do que determina a lei: prisão além da pena, não concessão de benefício prisional (ex.: progressão), tempo de prisão temporária e preventiva. HABEAS CORPUS * * C) Coação ordenada por autoridade incompetente: autoridade judiciária (jurisdição) incompetente determina medida que atinge a liberdade de locomoção. Não abrange autoridade administrativa (atribuição). D) Cessação do motivo autorizar da coação: desaparecimento da situação fática que deu ensejo à coação, que, inicialmente, era revestida de legalidade. Mudança de suporte fático e jurídico. E) Não admissão de fiança nos casos autorizados por lei: direito subjetivo constitucional do preso. F) Processo manifestamente nulo: nulidade manifesta, sem necessidade de dilação probatória. G) Extinção da punibilidade: perda da pretensão punitiva estatal. HABEAS CORPUS * * Competência para processo e julgamento: regras definidas na Constituição Federal, Constituições Estaduais e legislação infraconstitucional. Premissas: A) Pessoas do paciente e da autoridade coatora; B) Em regra, se a autoridade coatora tem foro de prerrogativa de função, a competência para o HC é do Tribunal competente para julgamento dos crimes por ela praticados (possível crime inerente à conduta que ensejou o HC). Exceção: Ministros de Estado; C) Cessará a competência do juiz quando a coação ou a violência provier de autoridade de igual ou superior jurisdição; D) Não cabe HC per saltum (supressão de instância). HABEAS CORPUS * * Procedimento: Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público. § 1o A petição de habeas corpus conterá: a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça; b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor; c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das respectivas residências. § 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal. HABEAS CORPUS * * Capacidade postulatória amplíssima. Menor rigor formal na petição inicial (tutelar efetivamente o direito) “não há maior rigor quanto à forma em que se tem a explicitação do pedido, sendo ele admitido até mesmo quando exteriorizado em papel higiênico, em papel de embrulhar mercadorias, etc., sempre que o paciente ou a pessoa que impetra a ordem a seu favor não disponha de outro meio, consideradas as circunstâncias do caso concreto". (MUCCIO, Hidejalma. Curso de processo penal. 2. ed. São Paulo: Método, 2011, p. 1.652). Nome do paciente: podem ser indicadas as características físicas, se não se souber, ou lugar onde se encontra preso. Autoridade coatora: cumprida a formalidade pela menção da função. Se particular, citar nome. HABEAS CORPUS * * Inexistência de dilação probatória: simplicidade e sumariedade procedimental. Direito líquido e certo, com prova pré-constituída. Pode haver análise e cotejamento do suporte probatório existente nos autos. Liminar: cabível. Analogia da LMS. Requisitos cautelares (fumus boni juris e periculum in mora). Garantia de efetividade diante da mora processual. Pode ser concedida ex officio. Apresentação do preso (raro) e requisição de informações (praxe – verdadeira contestação da autoridade coatora). Arts. 656, 657 e 658. Extensão de efeitos (art. 580, CPP): possível, se situação idêntica. Oitiva do MP: deve ser feita (custos legis ou parte). Dec.-Lei 552/69. HABEAS CORPUS * * Sistema recursal: o do CPP, ainda que a prisão não seja civil. “pouco importa que a prisão do devedor de alimentos ou do depositário infiel efetivamente não constitua sanção penal, mas instrumento de compulsão ao adimplemento de obrigações civis: o habeas corpus contra a efetivação ou ameaça de prisão civil é processo regulado pela lei processual penal” (AI 423277 AgR – STF. Coisa julgada: cognição secundum eventum probationis (limitada à prova existente, apreciada pelo Judiciário). Pode haver outra impetração por fundamento diverso ou quando apresentadas novas provas, neste caso ainda que com o mesmo fundamento. Preclusão em HC não exclui exame em outras vias. HABEAS CORPUS * * REFERÊNCIAS LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de processo penal. Niterói/RJ: Impetus, 2013. DIDIER Jr., Fredie (org). Ações constitucionais. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2007. MUCCIO, Hidejalma. Curso de processo penal. 2. ed. São Paulo: Método, 2011. Pedro Ivo Soares Bezerra Obrigado! Fim. * * * * * * * * * * * * * * * * * *