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AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LINGUAGEM 
DAS ARTES VISUAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Fábio de Castilho Lima 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Neste nosso sexto e último encontro, vamos abordar uma estratégia de 
ensino com base nas noções de multiculturalismo e diversidade. Para tanto, 
vamos observar de que maneira a complexa relação entre diversidade e 
sociedade se desenvolve. Na sequência, nos aproximaremos da tríade cultura, 
diversidade e imagem para problematizarmos a forma como as diferenças são 
compreendidas e expressas em nosso cotidiano. A seguir, exploraremos a 
diversidade étnica brasileira, relatando diferentes momentos em que a arte 
brasileira destacou sua diversidade de maneira visual. Para finalizar, vamos sugerir 
uma atividade prática relacionando a diversidade cultural e a gravura. 
CONTEXTUALIZANDO 
Dada a diversificada matriz étnica do Brasil, projetos que valorizem e 
respeitem as diferenças culturais por meio das manifestações artísticas são de 
grande valor para o desenvolvimento de nossa sociedade. As propostas de ensino 
aqui abordadas têm historicamente o objetivo de problematizar e fomentar a 
diversidade cultural nos espaços educativos das mais diferentes naturezas. Além 
das questões de diversidade étnica, é importante tematizar as de gênero, urgentes 
na atualidade. 
TEMA 1 – MULTICULTURALISMO E DIVERSIDADE 
Você já ouviu, em notícias, matérias ou mesmo em artigos acadêmicos, o 
termo multicultural? Em geral, ele aparece relacionado a uma determinada 
população que habita certa cidade ou país. Mas de que forma lidamos com a 
realidade do multiculturalismo em nosso cotidiano? 
1.1 Contexto de desenvolvimento 
As ideias aqui levantadas e propostas como reflexão para estratégias de 
ensino da arte são demandas históricas acerca da diversidade cultural de nosso 
país. Segundo Brandim e Silva (2008, p. 54), 
Apesar das conquistas alcançadas em todos os países do mundo 
ocidental, tais como o Brasil, as ações efetivas têm sido tímidas na 
maioria das instituições formadoras (incluindo as escolas e 
 
 
3 
universidades) com vistas a uma educação multicultural capaz de 
ensinar e aprender a lidar com práticas discriminatórias. 
A principal ideia dentro de propostas que fomentem a diversidade cultural 
é a de que os educandos saibam se expressar por meio de linguagens baseadas 
em diferentes culturas e que compreendam o valor do respeito às diferenças, 
sejam elas quais forem. Para tanto, é preciso reafirmar as relações entre a 
imagem e a cultura. Segundo Freitas (2004, p. 14), é necessário “que se entenda 
a imagem visual como um signo [...], ou seja, como um circuito de relações entre 
uma forma e um conteúdo cultural”: se explorarmos o potencial que existe nas 
relações entre cultura e imagem, podemos aproveitar o ensino baseado na 
imagem para problematizar nossa sociedade multicultural. 
Figura 1 – Mural pintado pelo artista urbano Kobra – Praça Mauá/RJ 
 
O Graffiti, uma das linguagens contemporâneas mais populares, também mostra suas relações 
com o campo da cultura. 
Fonte: Ricardo Cohen/Shutterstock. 
A ideia de multiculturalismo associada ao contexto educacional vem 
ganhando força nas últimas décadas por meio de pesquisadores, principalmente 
da área da Educação, em busca de estratégias de ensino que contribuam para a 
diminuição das desigualdades sociais e, consequentemente, da violência. Canen 
e Xavier (2011, p. 642) apontam que “O multiculturalismo tem sido compreendido 
como um campo teórico, prático e político que busca respostas à diversidade 
cultural e desafio a preconceitos, com ênfase na identidade como categoria central 
para pensar uma educação valorizadora da pluralidade no contexto escolar”. 
 Para alcançar maior efetividade das propostas desenvolvidas, as autoras 
supracitadas defendem que uma das principais saídas é investir na formação de 
professores. Com isso, preceitos que contribuam para o desenvolvimento do 
 
 
4 
respeito à diversidade e da compreensão de multiculturalismo podem ser 
ensinados de forma multiplicadora no contexto escolar. 
TEMA 2 – DIVERSIDADE E SOCIEDADE 
Quantos diferentes sotaques você ouve todos os dias? Quão miscigenada 
é a região em que você vive? Você parou para pensar nas matrizes formadoras 
de sua região? Como você enxerga esse multiculturalismo em sua região? Essas 
questões são primordiais para que compreendamos as lógicas de formação 
identitária de nosso país. 
2.1 Como percebemos a diversidade de nossa sociedade? 
 É fato que o Brasil é mundialmente reconhecido por sua matriz multicultural, 
acrescida de diversos movimentos imigratórios. Vale lembrar que as ondas 
migratórias no mundo são fenômenos incessantes, ou seja, continuam a 
acontecer por diversos motivos. 
 Em suas diferentes facetas de constituição nacional, o Brasil possui 
singularidades, que foram pesquisadas ao longo de sua história. Contudo, 
nenhum outro autor se ateve tanto ao tema quanto o antropólogo, ensaísta, 
romancista e político Darcy Ribeiro. Em sua obra O povo brasileiro: a formação e 
o sentido do Brasil, Ribeiro (1995, p. 19) reafirma, em uma passagem que reúne 
aspectos históricos, culturais, sociais e econômicos das origens formadoras do 
Brasil, o status de país multicultural que possuímos: 
Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes 
raciais díspares, tradições culturais distintas, formações sociais 
defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um povo novo, 
num modelo de estruturação societária. Novo porque surge como uma 
etnia nacional, diferenciada culturalmente por suas raízes formadoras, 
fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e 
singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. 
Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, 
um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo, 
ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que 
inaugura uma forma singular de organização socioeconômica, fundada 
num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao 
mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa 
vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a 
todos os brasileiros. (Grifo do original) 
A diversidade brasileira é visível na maior parte de nossa História da Arte, 
sendo retratada em específico em determinados momentos, a exemplo da obra 
Operários, de Tarsila do Amaral, que é uma das mais recorrentes para ilustrar a 
 
 
5 
questão da miscigenação brasileira. Outro exemplo é a obra Monumento às três 
raças, da artista Neusa Moraes, 1968 (Figura 2). O monumento, localizado em 
Goiás, simboliza a miscigenação dos europeus, negros e indígenas como 
formadores do povo brasileiro. 
Figura 2 – Monumento às três raças, Neusa Moraes, 1968 
 
Fonte: Hpoliveira/Shutterstock. 
Até mesmo quando o academicismo europeu ditava as regras, o brasileiro 
cedeu características próprias às regras estéticas vigentes à época, a exemplo do 
barroco brasileiro. Trazido de Portugal para adornar palácios, igrejas e praças, o 
ensino da arte barroca tinha lugar nas oficinas por meio do fazer sob a orientação 
dos mestres. Essas oficinas eram a única educação artística popular na época. 
Porém, o barroco brasileiro desenvolveu características próprias, tornando-se 
diferente do barroco português. Um dos maiores responsáveis por essas 
diferenças, que veremos a seguir, é o artista Antônio Francisco Lisboa, mais 
conhecido por Aleijadinho, que desenvolveu um estilo próprio dentro da escultura 
barroca, em uma interpretação sem tanta rigidez em relação aoscânones. 
Marcado pela singularidade de seu estilo, Aleijadinho iniciou seu 
aprendizado logo na infância, observando seu pai, que era entalhador. Não fazia 
cópias sem motivos como os artesãos da época, mas representava em suas 
esculturas a mudança pela qual o Brasil passava no momento, compreendendo o 
nascimento de uma nova fase, sempre demonstrando o desejo do povo por 
justiça. É possível visualizar traços tipicamente brasileiros nos rostos das imagens 
produzidas, o que causou controvérsias na época. Por conta dessas 
 
 
6 
características, o artista influenciou a produção barroca brasileira, que é 
considerada diferente da produção do período barroco europeu. 
Um de seus maiores legados artísticos encontra-se no Santuário de Bom 
Jesus de Matosinho, na cidade de Congonhas/MG, ao qual o artista dedicou 10 
anos de sua vida, a partir de 1796, e produziu 66 estátuas de madeira de cedro 
que simbolizam a Via Sacra, também chamada de Passos da Paixão, 
representando também os 12 profetas em pedra sabão. As 66 estátuas que 
compõem a Via Sacra estão dispostas em 6 capelas independentes e parecem 
possuir vida própria, seja pelas cores, pela perfeição ou mesmo pela riqueza de 
detalhes. 
Figura 3 – Estátua de um dos profetas esculpidos por Aleijadinho 
 
 
 
 
Igreja do Santuário de Bom Jesus de Matosinho, Congonhas/MG. 
Fonte: Eduardo Oliveira/Shutterstock. 
TEMA 3 – CULTURA, DIVERSIDADE E IMAGEM 
Se pensarmos a imagem em sua relação com a cultura, veremos que ela 
será lida de diferentes formas dependendo da experiência pessoal de cada 
indivíduo. Você já imaginou o potencial de desenvolvimento de usos didático-
pedagógicos nessa relação? 
3.1 A relação cultura-imagem 
Como vimos anteriormente na Aula 2, toda imagem produzida é 
influenciada pela cultura. Isso porque, se analisarmos com base em um ponto de 
vista social, levaremos em consideração aspectos “da história material da 
imagem, [...] de suas condições de produção, [...] bem como da cadeia de 
informações e valores eventualmente gerados a partir da imagem” (Freitas, 2004, 
p. 7). 
 
 
7 
Se podemos lidar com a relação entre cultura e imagem, abre-se a 
possibilidade de abordar o tema em ambiente escolar de forma prática. Não basta 
que seja proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nas Diretrizes 
Curriculares Nacionais a importância da convivência pacífica, da integração e da 
interação. A sensibilidade “para o outro” não acontece por meio de propostas 
impostas. Isso requer a prática de uma justiça curricular, fundamentada em três 
princípios (Connell, 1998): 
 Contemplar os interesses dos grupos em desvantagem, sem que isso 
venha a constituir guetos curriculares [desvantagem apontada por McLaren 
como populismo elitista]. 
 Efetivar a democracia como um processo coletivo de tomada de decisões. 
 Impulsionar a percepção de igualdade, fazendo com que a cidadania 
participante e os critérios contra-hegemônicos sejam vistos como 
elementos de um mesmo processo histórico. 
Uma das propostas mais inovadoras na problematização do tema da 
diversidade aliado à cultura visual é a chamada Pedagogia Queer, que se alia às 
noções de multiculturalismo crítico para discutir questões de identidade. 
O termo queer, de origem inglesa, remete aos anos de 1960/1970, e servia 
para designar, de maneira pejorativa, indivíduos homoafetivos. Com o passar dos 
anos, o termo acabou sendo adotado de maneira propositada pelos próprios 
homossexuais como forma de lutar contra o preconceito, utilizado como forma de 
empoderamento de grupos minoritários. Hoje em dia é utilizado comumente na 
mídia – de nomes de banda a programas de televisão. 
Dentro da Teoria Queer, a identidade é compreendida como uma entidade 
complexa, podendo ser percebida como algo não fixo e que não se deve 
categorizar. A identidade, segundo essa visão, seria o resultado das 
complexidades que constroem as principais características de uma pessoa: 
gênero, sexualidade, sexo, etnia, geração, classe social, cultura etc. (Rodrigues, 
2010). 
Ainda que se baseie na problematização de identidade de gênero – e, 
portanto, seja ideal para trazer tal tema à discussão –, a Pedagogia Queer não 
aborda exclusivamente essas questões. Para Rodrigues, 
Na Pedagogia Queer, o pensamento não binário se estende a todo o 
processo educacional e o próprio conhecimento passa a ser visto como 
algo fluido. O conteúdo de artes, por exemplo, deixa de se pautar pelo 
 
 
8 
dualismo entre as belas artes e todas as outras manifestações, que são 
contempladas como curiosidades. 
Essa mudança de compreensão da lógica de pensamento fundamenta a 
aplicação da Pedagogia Queer no ensino da arte, pois valoriza a produção que 
em geral não é contemplada nos conteúdos curriculares. O pensamento não 
binário é fomentado dentro dessa proposta pedagógica e pode contribuir para uma 
infinidade de reflexões em ambiente de ensino: “As discussões e as dúvidas são 
valorizados em contrapartida às soluções e paradigmas; o que se pretende é 
entender o naturalizado, os processos e as construções” (Rodrigues, 2010). 
Atividades que contribuam para o desenvolvimento da liberdade de 
pensamento certamente fomentam a capacidade expressiva daqueles que as 
exercem. O educando aprende, com base em questionamentos levantados pela 
referida teoria, a argumentar suas ideias e defender seus posicionamentos. Uma 
das principais contribuições da Teoria Queer é a aceitação de outras formas de 
compreensão identitária, não se relacionando exclusivamente com questões de 
gênero, mas buscando a inclusão do excluído e do oprimido, seja este qual for. 
“Tal como os sujeitos de que fala, a Teoria Queer é, ao mesmo tempo, 
perturbadora, estranha e fascinante. Por tudo isso, ela parece arriscada. E talvez 
seja mesmo... mas, seguramente, ela também faz pensar” (Louro citado por 
Rodrigues, 2010, p. 743-744). 
TEMA 4 – DIVERSIDADE ÉTNICA BRASILEIRA 
Como você descreveria a diversidade étnica brasileira? Há como classificar 
as diferentes etnias que aqui residem? Você acredita que esses povos convivem 
de maneira harmoniosa? E se partíssemos do princípio de que grande parte dos 
nossos cidadãos são resultantes de misturas entre os diferentes povos que 
historicamente formam o Brasil? De que forma acontece o convívio social entre 
os descendentes daqueles que constituíram nossa matriz em nossa sociedade? 
Confira adiante alguns questionamentos e reflexões acerca deste tema, para 
pensarmos as possibilidades de aplicação de aspectos multiculturais ao ensino 
das artes visuais. 
4.1 Os brasis no Brasil 
O regionalismo é marcante dentro da produção brasileira de artes visuais. 
Isso porque muitos artistas desenvolvem de maneira consciente, ou simplesmente 
 
 
9 
por meio da reprodução visual, influências e/ou referências relacionadas à cultura 
local. Vale lembrar que os elementos integrantes das ditas culturas regionais são, 
em geral, o resultado da miscigenação étnica que se desenvolveu e continua se 
desenvolvendo em nosso país e em todo o mundo. 
 A literatura de cordel (Figura 4) é uma das mais fortes representações de 
regionalidade dentro do contexto da arte brasileira. Trata-se, em geral, da 
narrativa de histórias locais, como lendas e mitos, com ilustrações produzidas 
baseadas na técnica da xilogravura, ou gravura em madeira. 
Figura 4 – Literatura de Cordel à venda em Ipojuca/PE 
 
O gênero é um dos mais conhecidos exemplos de arte regional no Brasil. 
Fonte: Vanessa Volk/Shutterstock. 
Ainda que tenhamos uma matriz multicultural como principal elemento 
formador de nosso país, existe uma lacuna a ser preenchida quando tratamos dediversidade: é a ideia de democracia racial, que não passa de um mito em terras 
brasileiras, ao contrário do que pensa o senso comum. Salaini (2012, p. 133) 
denuncia: 
Após a abolição da escravidão, a condição dos negros no país, por 
exemplo, foi e ainda é tema de estudos sociológicos, antropológicos e a 
inexistência de “conflitos raciais abertos” no período pós-abolição levou 
muitos a pensarem numa sociedade harmônica em termos raciais, 
corroborando a ideia de democracia racial. 
Isso significa afirmar que, ainda que seja evidente a formação multicultural 
brasileira, historicamente determinados grupos sofreram e ainda sofrem com o 
 
 
10 
preconceito e a discriminação. O ensino de arte, ao questionar aspectos como os 
aqui levantados, tem o potencial de desconstruir práticas preconceituosas, seja 
por meio dos temas trabalhados ou dos conteúdos abordados. 
TEMA 5 – A DIVERSIDADE CULTURAL E A GRAVURA 
Você já parou para pensar como determinada técnica de expressão pode 
ser adaptada e transformada, gerando uma infinidade de novas possibilidades 
artísticas? A seguir, sugerimos a inter-relação entre as teorias pedagógicas 
propostas e a diversidade possível dentro da linguagem da gravura. 
5.1 A gravura e a diversidade 
Uma das linguagens das artes visuais que mais nitidamente apresenta suas 
relações com a diversidade é a gravura. Isso porque em determinado momento 
as técnicas tidas como tradicionais, ensinadas por meio de postulados, 
começaram a ser expandidas pelos artistas, de forma a diversificar as técnicas da 
gravura. Uma das principais características para a expansão das técnicas de 
gravura é justamente a quebra com a compreensão binária que divide as técnicas 
em acadêmicas e populares. 
Vamos sugerir aqui a inter-relação entre as noções de diversidade vistas 
nesta aula e o excerto do texto a seguir, extraído do artigo O campo ampliado da 
gravura: continuidades, rupturas, cruzamentos e contaminações, da pesquisadora 
Maria do Carmo de Freitas Veneroso (2014, p. 175): 
Artistas e poetas contribuíram e continuam a contribuir para o diálogo 
entre arte culta e cultura de massa através da incorporação de 
estratégias que rompem com esta dicotomia entre alta/baixa cultura. 
Sem dúvida o desenvolvimento e a popularização de novos processos 
de impressão colaboraram fortemente para que a imagem gráfica 
inundasse até mesmo o espaço público, na forma de intervenções 
urbanas. A apropriação de imagens pré-existentes, a colagem, os 
processos fotográficos, a busca da tridimensionalidade na gravura são 
alguns dos fatores que colaboram para a expansão do modo de atuação 
dos gravadores. Tem havido uma nítida aproximação entre impressão, 
texto e imagem, cujo diálogo pode ser analisado também a partir da 
origem comum da escrita, do desenho e da impressão, sendo que seus 
desdobramentos através dos tempos culminaram na sua retomada pelos 
artistas contemporâneos. Por todos esses fatores mencionados, as 
fronteiras que definiam a gravura começaram a desfocar. A mudança 
operada no estatuto da gravura gerou pelo menos duas tendências 
igualmente importantes. Enquanto vários gravadores continuaram fiéis 
às técnicas tradicionais de gravura, outros passaram a estender os seus 
limites além daqueles usualmente aceitos. As décadas de 1980 e 1990 
foram muito propícias para a gravura, em razão da sua liberdade e 
diversidade e naquele momento. 
 
 
11 
Em seguida, poderiam ser levantados questionamentos acerca da noção 
de diversidade compartilhada pelos educandos, impulsionando alguns 
questionamentos acerca do “certo” ou do “errado” na arte. Uma ideia é trabalhar 
com base na Figura 5, na qual são representados dois indivíduos que discordam 
sobre um algarismo: Seria um 6 ou um 9? Cada um dos observadores está 
posicionado de forma a compreender de maneira oposta à compreensão do outro. 
Figura 5 – Dois indivíduos discordam com base em pontos de vista distintos 
 
Fonte: Paul Looyen/Shutterstock. 
Para finalizar, os estudantes poderiam criar gravuras que trabalhassem 
com o efeito de ilusão de ótica, permitindo mais de uma interpretação acerca da 
imagem. 
FINALIZANDO 
Nesta nossa última aula, vimos como é possível elaborar diferentes 
estratégias de ensino com base nos conceitos em torno do multiculturalismo e da 
diversidade. Vimos que, baseados na relação entre diversidade e sociedade, 
desenvolve-se a tríade cultura, diversidade e imagem, uma vez que a imagem 
não se separa da cultura. Sob a ótica da diversidade étnica brasileira, foram 
apontados diferentes momentos em que a arte brasileira destacou sua diversidade 
de forma visual. Para finalizar, sugerimos uma atividade prática relacionando os 
conceitos abordados à linguagem da gravura. 
Como um momento de finalização desta disciplina, gostaríamos de 
acrescentar que, ainda que existam diferentes possibilidades de estratégias de 
ensino, nenhuma delas é melhor ou pior que a outra. Percebemos semelhanças 
 
 
12 
e pontos de convergência entre algumas ao mesmo tempo que imaginamos 
desafios para a aplicação de determinados pontos. Porém, ao analisarmos 
diferentes práticas de ensino, é importante que possamos percebê-las como 
possibilidades de atuação, e não como regras a seguir. Nesse sentido, Rodrigues 
(2010, p. 737) ressalta “a importância de se perceber toda teoria pedagógica como 
uma proposta e não um dogma, demonstrando que podemos relacionar teses, 
escolher os pontos com os quais mais nos identificamos e construir assim a nossa 
própria prática pedagógica múltipla e mutável”. 
LEITURA COMPLEMENTAR 
Texto de abordagem teórica 
Em Pedagogias queer e libertária para educação em cultura visual, Gabriela de 
Andrade Rodrigues realiza uma abordagem teórica de duas propostas pedagógicas 
que possibilitam a tematização de questões inerentes à diversidade em sala de 
aula, mostrando que é possível buscar a valorização do respeito aos grupos 
minoritários sem que isso gere sua demasiada exposição ou a criação de “guetos 
curriculares”. O artigo está disponível on-line em: 
RODRIGUES, G. de A. Pedagogias queer e libertária para educação em cultura 
visual. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 3, p. 735-745, dez. 2010. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v36n3/v36n3a06.pdf>. Acesso em: 4 
jul. 2018. 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
BRANDIM, M. R. L. e S.; ALBUQUERQUE, M. J. Multiculturalismo e educação: em 
defesa da diversidade cultural. Diversa, ano I, n. 1, p. 51-66, jan./jun. 2008. 
Disponível em: <http://leg.ufpi.br/subsiteFiles/parnaiba/arquivos/files/rd-ed1ano1-
artigo4_mariasilva.PDF>. Acesso em: 4 jul. 2018. 
CANEN, A.; XAVIER, G. P. M. Formação continuada de professores para a 
diversidade cultural: ênfases, silêncios e perspectivas. Revista Brasileira de 
Educação, v. 16, n. 48, set./dez. 2011. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n48/v16n48a07.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2018. 
CARVALHO, A. P. C.; SALAINI, C. J. et al. Desigualdades de gênero, raça e 
etnia. Curitiba: InterSaberes, 2012. (Série Temas Sociais Contemporâneos). 
CONNELL, R. W. Justiça, conhecimento e currículo na educação contemporânea. 
In: COSTA, M. V. (Org.). O currículo nos limiares do contemporâneo. Rio de 
Janeiro: DP&A, 1998. 
FREITAS, A. História e imagem artística: por uma abordagem tríplice. Estudos 
Históricos, Rio de Janeiro, n. 34, p. 3-21, jul./dez. 2004. Disponível em: 
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2224/1363>. Acesso 
em: 4 jul. 2018. 
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido de Brasil. 2. ed. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1995. 
RODRIGUES, G. de A. Pedagogias queer e libertária para educação em cultura 
visual. Educação e Pesquisa,São Paulo, v. 36, n. 3, p. 735-745, dez. 2010. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v36n3/v36n3a06.pdf>. Acesso em: 4 
jul. 2018. 
VENEROSO, M. do C. de F. O campo ampliado da gravura: continuidades, 
rupturas, cruzamentos e contaminações. Art Research Journal, vol. 1, n. 1, p. 
171-183, jan./jun. 2014. Disponível em: 
<https://periodicos.ufrn.br/artresearchjournal/article/viewFile/5275/4339>. Acesso 
em: 4 jul. 2018.

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