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TEORIA E HISTÓRIA DO DIREITO Direito Antigo Introdução Mais antigos documentos de natureza jurídica: cerca de 3000 a.C., por um lado no Egito, por outro na Mesopotâmia. É possível seguir a evolução do direito nessas duas regiões durante toda a antiguidade. Em 2000 a.C. outras regiões acordam para a história do direito, como, por exemplo, a Fenícia, Israel, Creta e Grécia. Já em torno de 1000 a.C., Grécia e Roma dominam o cenário, até que quase todos os países citados sejam reunidos no Império Romano, durante os cinco primeiros séculos d.C. É também nessa época que a Índia e a China conhecem o nascimento dos seus sistemas jurídicos. Introdução É interessante lembrar que, até pouco mais de cem anos, não se conhecia outros direitos da antiguidade, senão os direitos romano, grego e hebraico. Foi só a partir de descobertas arqueológicas e da publicação e tradução de cada vez mais documentos jurídicos que se pôde reconstituir o desenvolvimento do direito egípcio e dos diferentes direitos cuneiformes. Graças a isso, poderemos falar hoje sobre cinco sistemas jurídicos que muito colaboraram com o progresso do direito e das ciências jurídicas. Introdução 1. Egito: não nos transmitiu códigos ou livros jurídicos, mas foi a primeira civilização da história que desenvolveu um sistema jurídico individualista, muito parecido como o direito romano clássico. 2. Mesopotâmia: foi o país que conheceu as primeiras formulações do direito. Os Sumérios, os Acadianos, os Hititas, os Assírios, redigiram textos jurídicos que se podem chamar de “códigos”, chegando a formular regras de direito mais ou menos abstratas. Introdução 3. Hebreus: situados entre o Egito e a Mesopotâmia, não atingiram um desenvolvimento do direito tão grande como os vizinhos, porém registraram na Bíblia, seu livro religioso, um conjunto de regras morais e jurídicas que foram perpetuadas não somente no seu próprio sistema jurídico até os dias de hoje, como também no direito canônico (conjunto de leis e regulamentos feitos pelos líderes da Igreja, como forma de guiar os cristãos quanto a seus direitos e deveres) e no direito muçulmano. Introdução 4. Grécia: assim como o Egito, não deixou grandes legados jurídicos ou vastas codificações. Porém, com seus pensadores, em especial Platão e Aristóteles, fundou a ciência política, a ciência do governo, base do nosso direito público moderno. 5. Roma: na época da República e em especial no tempo do Império, sintetizou tudo que os outros direitos da antiguidade haviam trazido. 1. Egito A civilização Egípcia, da beira do Nilo, tem uma história de milhares de anos, dentro dos quais a evolução do direito, em especial na antiguidade, passou por fases ascendentes e descendentes, mais ou menos correspondentes às grandes oscilações de poder dos faraós. O conhecimento que temos do direito egípcio é baseado quase exclusivamente em atos de prática jurídica: contratos, testamentos, decisões judiciais, atos administrativos, etc. 1. Egito Praticamente não se tem notícia de livros de direito escritos pelos egípcios ou de complicações de leis ou de costumes. No entanto, isso não significa que eles tenham deixado de referir a suas leis, muitas vezes sob a forma de “instruções” e “sabedorias” contendo os elementos da teoria jurídica tendentes a assegurar o respeito das pessoas e dos bens. 1. Egito A história do Egito faraônico compreende três grandes períodos: Antigo Império (da III à VI dinastia – séculos 28 a 23 a.C.); Médio Império (cujo centro é a XII dinastia – séculos 22 a 17 a.C); e Baixo Império (da XVIII à XX dinastia – séculos 16 a 11 a.C.). Esses três momentos compreenderam a alternância de períodos individualistas e de períodos feudais na evolução do direito das instituições egípcias. 1. Egito No Antigo Império, a monarquia é única e poderosa, a nobreza feudal havia desaparecido. O setor administrativo é bastante organizado, agrupado por departamentos: fianças, registros, domínios, obras públicas, irrigação, culto, intendência militar, etc. Todos os funcionários são remunerados e podem ascender a funções mais altas, seguindo uma rigorosa carreira administrativa. Já o direito privado experiencia um certo individualismo, favorecido pelo desenvolvimento de uma economia de trocas. Todos os cidadãos são iguais perante o direito, com exceção dos prisioneiros de guerra, utilizados nas obras públicas e nas minas, em situação próxima à da escravatura. 1. Egito Na esfera familiar tudo está em pé de igualdade, tanto en t re h imens e mu lhere s , quan to o s fi l hos , independentemente da ordem do nascimento e do sexo. O direito dos contratos é bastante desenvolvido, havendo atos de venda, de arrendamento, de doação. O direito penal é pouco severo, comparado a outros períodos da antiguidade. Praticamente não se encontra representação da pena de morte. 1. Egito A partir do final do Antigo Império e início do Médio, houve um restabelecimento do regime senhorial e em parte feudal, com a divisão da autoridade entre os régulos. Formou-se uma oligarquia social baseada numa nobreza sacerdotal, com desenvolvimento da hereditariedade dos cargos e diversas formas de imunidade. Já no direito privado foi reforçado o poder paternal e marital, com desigualdade nas sucessões em razão do direito de progenitura e privilégio de masculinidade. 1. Egito Muitas terras se tornaram inalienáveis e os contratos ficaram escassos. Entra-se em um regime de economia fechada, com províncias se separando do poder central e um declínio estatal geral. Durante a XII dinastia se começa a assistir um renascimento da centralização do poder. A partir do século 16, e, portanto, no Baixo Império, reencontra-se um sistema jurídico parecido com o do Antigo Império, com preponderância das leis, igualdade jurídica dos habitantes e entre os filhos e filhas. 1. Egito 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes Há um lugar no mundo onde quase tudo que consideramos “civilizado” nasceu: o Crescente Fértil, região onde hoje está o Iraque, parte do Irã e de outros vizinhos. Esse lugar se chama “Crescente Fértil” em razão da fertilidade que os Rios Tigre e Eufrates davam à região, que parecia uma lua crescente de cabeça para baixo. Foi nesse pedaço do mundo que o homem dividiu as horas, os minutos e os segundos em sessenta, fez tijolos, ergueu com eles grandes construções, criou a jardinagem, inventou o Estado e o governo, fez as primeiras escolas, inventou a cerveja. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes Mas a maior invenção dessa gente da Mesopotâmia foi passar para uma superfície símbolos que expressavam ideias, ou seja, a escrita. O tipo de escrita por eles inventada se chama cuneiforme. Por que cuneiforme? Dá-se esse nome de “direitos cuneiformes” ao conjunto dos direitos da maior parte dos povos do Próximo Oriente que se serviram de um processo de escrita, parcialmente ideográfico, em forma de cunha ou prego. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes Não é de espantar, portanto, que tenham sido essas as primeiras pessoas a terem leis escritas em códigos. É importantíssimo lembrar, no entanto, que não há um direito cuneiforme único, e sim um conjunto de sistemas jurídicos, de diferentes períodos e regiões, apresentando uma certa unidade: direitos das diversas regiões da Suméria, da Acádia, da Babilônia, da Assíria, dos Hititas, dentre outros. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes É claro que há códigos que se destacaram, como o Código de Hammurabi. Porém, ainda que tenha sido o mais famoso de todos, é interessante falar um pouco sobre as características das leis escritas que vieram antes.Na região da Suméria, a lei e a justiça eram conceitos fundamentais, que impregnavam a vida social e econômica tanto na teoria quanto na prática. Nos últimos séculos foram encontradas milhares de pequenas tábuas contendo documentos de ordem jurídica, como contratos, atos, testamentos, recibos, notas promissórias. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes Para que se tenha uma ideia do direito privado, o divórcio era realizado por meio de decisão judicial e poderia favorecer qualquer um dos cônjuges. O adultério era um delito, porém sem consequências se havia o perdão do marido. O filho que renegasse o pai poderia ter a mão cortada ou ser vendido como escravo. A esposa era responsável pelas dívidas do marido. Já no campo penal, as leis muitas vezes possibilitavam substituir a Pena de Talião por multas ou indenizações legais. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes A Babilônia de Hammurabi Embora a Babilônia mais famosa seja a do rei Nabucodonossor, por ter participado da história dos Hebreus contada na Bíblia, a história da região é pré-Cristã e, cerca de mil anos antes, contou com a ascensão ao poder de Hammurabi, um rei com imensa habilidade política de alianças, que dobrou o território recebido do seu pai. Hammurabi construiu um grande império, abrangendo diversas outras regiões da Mesopotâmia, e não apenas angariou terras, como foi um exímio administrador. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes Em seu território havia diversos povos, línguas, raças e culturas. Para exercer seu poder sobre todos, criou mecanismos de unificação por meio de três elementos: a língua, a religião e o direito. A língua oficial se tornou o acádio, acordou-se a existência de um panteão de deuses e o Código de Hammurabi foi feito a partir da legislação precedente. Ele foi amplamente aceito e utilizado. Para que se tenha uma ideia, mil anos depois ele ainda era aplicado. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes Com Hammurabi se teve, além da criação do Código, uma reorganização da justiça: o poder judiciário, anterior ao reinado de Hammurabi, era exercido nos templos pelos sacerdotes em nome dos deuses. Na Babilônia, desde o início da I dinastia, começaram a ser organizados, parecido com o que já havia na Suméria, tribunais civis diretamente dependentes do soberano. Hammurabi conferiu à justiça real supremacia sobre a justiça sacerdotal; deu-lhe uniformidade de organização e regulamentou cuidadosamente o processamento das ações, compreendendo a propositura, o recebimento ou não pelo juiz, instruções sobre a tomada de depoimento de testemunhas, a sentença; foi estabelecida uma organização judiciária que incluía até o ministério público e um direito processual. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes A sociedade no período era dividida em três estratos: 1) awilum: constituído pelos homens livres, com direitos de cidadãos; 2) muskênum: classe intermediária, composta por funcionários públicos; 3) escravos: formado por prisioneiros de guerra. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes Alguns Pontos do Código de Hammurabi… Escrito em uma pedra, por volta de 1 792 a.C., é um conjunto de leis com 282 artigos. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes a) Pena de Talião – Art. 229. Se um construtor edificou uma casa para um awilum, mas não reforçou seu trabalho, e a casa que construiu caiu e causou a morte do dono da casa, este construtor será morto. Obs. É na Bíblia que encontramos a expressão “olho por olho, dente por dente”. No Brasil há o crime de exercício arbitrário das próprias razões para quem quiser fazer justiça pelas próprias mãos (art. 345 CP). 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes b) Roubo e receptação – Art. 6º. Se um awilum roubou um bem de propriedade de um deus ou do palácio, esse awilum será morto, e aquele que recebeu de sua mão o objeto roubado será morto. No Brasil há uma divisão para as duas condutas: para quem rouba, a pena será de 4 a 10 anos de reclusão mais multa (art. 157 CP); já para quem recebe a mercadoria roubada, será de 1 a 4 anos de reclusão mais multa (art. 180 CP). 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes c) Estupro: o estupro era previsto apenas e tão somente para as chamadas “virgens casadas”, ou seja, para as mulheres que ainda não coabitavam com os maridos. Para o homem livre que praticasse o estupro, a pena seria a morte. Art. 130. Se um awilum amarrou a esposa de um (outro) awilum que (ainda) não conheceu um homem e mora na casa de seu pai, dormiu em seu seio, e o surpreenderam, esse awilum será morte, mas a mulher será libertada. No Brasil, qualquer mulher pode ser vítima de estupro, inclusive a prostituta. O art. 213 do CP estipula uma pena de reclusão de 6 a 10 anos. Se do estupro resultar gravidez, há a possibilidade de aborto. (art. 128, II, CP). 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes d) Adultério: o crime de adultério era cometido somente pela mulher casada e não pelo homem. Caso um homem saísse com uma mulher casada, ela seria acusada de adultério e ele de cúmplice de adultério. Já se o homem casado saísse com uma mulher solteira, não havia crime, pois na Babilônia o concubinato era admitido. O marido traído poderia perdoar a mulher, caso em que ela não seria morte, nem seu cúmplice. Art. 129. Se a esposa de um awilum for surpreendida dormindo com outro homem, eles os amarrarão e lançarão n’água. Se o esposo deixar viver sua esposa, também deixará viver o seu servo. 2. Mesopotâmia e os Direitos Cuneiformes No Brasil, durante mais de 60 anos, tanto o homem quanto a mulher poderiam ser acusados de adultério. No entanto, o adultério foi revogado pela Lei nº 11.106/05 e, atualmente, não é crime, podendo apenas causar dissolução do casamento. 3. Direito Hebraico Os Hebreus são um povo de origem semita que vivia na Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates no Crescente Fértil) no final do segundo milênio a.C. Por esta época iniciaram um deslocamento que terminou por volta do século XVIII a.C., na região da Palestina. A terra dos Hebreus tem o Mediterrâneo de um lado, o deserto de outro e a qualidade de ter sido local de passagem entre a África (Egito) e a Ásia (Mesopotâmia). 3. Direito Hebraico Os Hebreus, como a maioria dos povos da região, eram agricultores-pastores. Viviam do pastoreio de ovelhas e cabras e do plantio de uvas, trigo e outros produ tos. Além disso, é um povo que tem no comércio uma grande presença, em especial nos períodos de Davi e Salomão, tendo em vista que a região que habitam pe uma encruzilhada nas rotas da Mesopotâmia, Egito, Mar Vermelho e deserto. O seu grande diferencial dos demais povos estava no fato de serem monoteístas, ou seja, de acreditarem em um deus único. Essa característica marca toda a história do povo, bem como toda e qualquer produção cultural. 3. Direito Hebraico A história dessas pessoas pode ser acompanhada pela Bíblia, no Antigo Testamento, que reúne a Torá (ou a Lei), os Profetas e os Escritos. O Novo Testamento inclui a história (e os ensinamentos) de parte dos Hebreus que acreditaram que Jesus é o Messias que o Antigo previa. Este relacionamento é de tal modo intrincado que não se pode compreender esse povo sem entrever a interferência de Deus em suas vidas. Para eles, Deus escolhia os líderes, o lugar onde ficariam, dava fartura ou não. Deus, dependendo do merecimento do povo, dava a vitória ou a derrota na guerra. 3. Direito Hebraico Para os hebreus, o direito é dado por Deus a seu povo. Há o estabelecimento de uma aliança entre Deus e o povo dito escolhido. O direito é, portanto, imutável; cabe apenas a Deus modificar – ideia reencontrada no direito canônicoe no direito muçulmano. Os intérpretes – rabinos – podem interpretá-lo para adaptá-lo à evolução social, mas não podem jamais modificá-lo. Não é de estranhar, portanto, que para este povo a lei tenha sido inspirada por Deus e ir contra ela seria o equivalente a ir contra Deus. Então, o leigo e o divino interagem de tal modo que pecado e crime se confundem. 3. Direito Hebraico Por volta de 1800 a.C., fortes secas obrigaram os Hebreus a saírem da Palestina em direção ao Egito. Nessa época, um povo chamado Hicsos, tentava conquistar as planícies do Nilo; não se sabe se os Hebreus enfrentaram ou se aliaram aos hicsos; sabemos, entretanto, que em 1580 a.C., depois da expulsão destes, os Hebreus passaram a ser perseguidos no Egito, passando a pagar pesados impostos e chegando até mesmo à escravidão. 3. Direito Hebraico Moisés lideraria esse povo, aproximadamente em 1250 a.C., de volta à Palestina, em um episódio chamado êxodo, ou fuga. Conta a Bíblia que Moisés teria sido criado por uma princesa egípcia que o havia encontrado em uma cesta boiando no rio e que, após chegar à idade adulta, teria tomado consciência de suas raízes hebraicas e, depois de um exílio, teria voltado ao Egito para liderar a libertação dos Hebreus. Antes de chegarem à Palestina, segundo a Bíblia, os Hebreus teria passado quarenta anos no deserto e aí teriam forjado, sob a liderança de Moisés, toda a base de sua civilização, inclusive suas leis. Sua base moral está prevista nos 10 mandamentos pronunciados por Deus. 3. Direito Hebraico Formação do Direito Hebraico – da Legislação Mosaica aos Dias de Hoje: A tradição indica Moisés como autor do Pentateuco, portanto autor do Deuteronômio, das chamadas Leis Mosaicas. Esta obra deverá ter então a idade de seu criador e deverá ser datada no século XIII a.C. Mas os anos de 586 a.C. e seguintes foram primordiais também para a formação de uma legislação “extra mosaica”. Em 586 a.C., após um cerco que durou mais de um ano, o rei da Babilônia, Nabucodonossor, conquistou o reino dos hebreus e estes foram levados – em número pequeno, mas significativo, visto que representavam a elite social e religiosa da nação – para a Babilônia, como escravos. 3. Direito Hebraico Este cativeiro foi ponto de partida para um direito hebraico novo, oral, visto que ao entrarem em contato com diversas culturas diferentes e fortes (notadamente persas, gregos e romanos) os hebreus sentiram a necessidade de afirmar sua cultura, ao mesmo tempo que procuraram adaptá-la dentro dos parâmetros das influências que estavam recebendo. Esse processo, iniciado na Babilônia, somente iria terminar 900 anos mais tarde. 3. Direito Hebraico Principal pena prevista pela Torá Lapidação: morte por apedrejamento. Reebiam esta pena os feiticeiros, os filhos rebeldes, as prostitutas e as mulheres adúlteras. O Brasil não admite a pena de morte, como regra geral. Há, no entanto, uma exceção prevista na CF, no art. 5º, XLVII, “a”. Caso ela ocorra, o meio de execução será o fuzilamento (art. 707 do Código Penal Militar). 3. Direito Hebraico OBS. Individualização das Penas “Os pais não serão mortos no lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais. Cada um será executado por seu próprio crime.” Este princípio que individualiza as penas minimiza a ação do princípio da pena de Talião entre os Hebreus, fazendo com que aplicações da Pena de Talião como no caso visto em Hammurabi – que o filho do construtor morre por causa da casa que o pai fez, que ao cair matou o filho do dono da casa – não sejam possíveis. Depois dos Hebreus, praticamente só no século XVIII d.C. vamos encontrar a aplicação deste princípio tão lógico e valoroso. 4. Direito Grego Na Antiguidade, “Grécia” não indica um nome de um país ou de uma unidade política. Por suas condições geográficas, Grécia significava uma região. 4. Direito Grego Quando se fala em Grécia, pode-se também falar em uma certa unidade cultural, com deuses, dialetos e alguns hábitos em comum. Portanto, compreender essa “não unidade” que era a Grécia significa buscar a compreensão do que seria uma cidade-Estado. A cidade não tinha o significado que tem hoje. Cidade era a associação religiosa e política das famílias e das tribos. Era na cidade que o coração e a vida se centravam e o território era somente um apêndice. O Estado ateniense, por exemplo, compreendia todos os indivíduos livres que viviam em Atenas e mais todos aqueles que viviam nos territórios da Ática – região a qual pertencia Atenas. 4. Direito Grego Comum a todas as cidades-Estado gregas era a crença – independente dos regimes políticos a que se submetiam – de que na cidade-Estado governavam não os homens, mas as leis. A legitimidade da “lei consuetudinária para os gregos decorria da atividade venerável que lhe era atribuída em forma histórica ou, com maior frequência, miticamente. 4. Direito Grego Entre os séculos VIII e VII a.C. as cidades gregas conheceram um grande desenvolvimento. Esse progresso gerou a queda das monarquias e o início de turbulências sociais que acabaram por produzir legislações e famosos legisladores. Eram numerosas as cidades-Estado, assim como numerosos eram os legisladores, que, em diferentes momentos históricos se sobressaíam individualmente. Entretanto, duas cidades se apresentaram como as mais intrigantes, juridicamente falando: Esparta e Atenas. 4. Direito Grego ESPARTA Foi uma das primeiras cidades-Estado, fundada no século IX a.C., por invasores dórios nas margens do rio Eurotas, na Planície da Lacônia. Quanto à sua sociedade, Esparta apresentava três camadas sociais: - Esparciatas: eram os dórios, guerreiros que recebiam educação militar especial; - Periecos: eram os aqueus, tinham boas condições materiais de vida, mas nenhum direito políticos; - Hilotas: eram escravos de propriedade do Estado, não tinham proteção da lei e sua condição humana era uma das mais insuportáveis de todo o mundo antigo. 4. Direito Grego Embora se possa, à primeira vista, subentender que os esparciatas estariam em uma situação privilegiada na sociedade, que sua vida seria tranquila, o formato extremamente militarista da sociedade e da ideologia do Estado fazia com que, não obstante não precisassem calejar suas mãos com um arado, o cotidiano não fosse nada sereno. Para que se tenha ideia do ponto a que o militarismo chegava, convém descrever a “educação espartana”, termo até hoje empregado com o sentido de rigidez extrema. 4. Direito Grego Desde a primeira infância, o esparciata era educado para viver para o Estado. Um bebê, se julgado saudável por uma comissão especial de anciãos, estava imediatamente sob supervisão pública. As crianças que não eram aprovadas por este julgamento eram enjeitadas pelo governo e acabavam ou morrendo ou sendo acolhidas por algum hilota de bom coração. Até os sete anos a criança recebias cuidados de sua mãe e de amas especiais do governo. Aos 7 os meninos eram afastados de suas famílias e integravam um grupo militar comandado por um jovem esparciata, onde marchavam, faziam ginástica e aprendiam alguma coisa de música e leitura. 4. Direito Grego Dos 12 aos 17 anos, esses meninos deviam ir para o campo, onde teriam de se sustentar pelo próprio esforço. Eles comiam alimentos preparados por eles mesmos e duas camas eram uma forragem de palha recolhida às margens do rio Eurotas. Constantemente participavam de competições populares e de ginástica. Com o intuito de desenvolver a independência desses meninos, eles eram incentivados a roubar, principalmente alimentos. Entretanto, se mal sucedido, o garoto era impiedosamente surrado. Veja-se que a surra não era pelo roubo, e sim por ter sido pego.4. Direito Grego Aos 17 anos o rapaz passava pela Kriptia, que consistia em se esconder no campo, munido de punhais, para à noite degolar quantos escravos conseguisse. Quem passasse por essa prova era considerado adulto, recebia um lote de terra e ia viver no quartel, onde recebia uma refeição por dia ao final da tarde. Os esparciatas não podiam se casar até os 30 anos, podiam apenas morar junto. Quando atingida a idade, podiam, além de casar, participar da Assembleia e deixar o cabelo crescer. 4. Direito Grego Aos sessenta, aposentavam-se do exército e podiam tomar parte do Conselho de Anciãos. As meninas, por sua vez, recebiam praticamente o mesmo tratamento físico, porém com o objetivo de se tornarem boas mães de esparciatas. As mulheres de Esparta tinham mais liberdade do que as mulheres de outras cidades- Estado da Antiguidade, podendo receber herança e enriquecer com o comércio, que era uma atividade proibida aos homens. 4. Direito Grego A partir do século VII a.C., a economia de Esparta se transformou, surgindo uma vasta propriedade estatal no lugar das antigas propriedades coletivas. Esta propriedade se dividia em cerca de 8 a 9 mil lotes, chamados cleros. Os lotes eram distribuídos entre os guerreiros dórios, que não as podiam ceder ou vender. O estado tinha a posse legal e o cidadão (esparciata) o seu usufruto. Para o trabalho nessa terra, o Estado emprestava seis escravos por lote, os quais também eram propriedade sua. 4. Direito Grego Os periecos se dedicavam à agricultura e, um pouco, à criação de pequenos animais, ao artesanato, à mineração de ferro e ao comércio. Eles tinham a propriedade de suas terras, porém estas eram sempre da periferia, não das melhores. Quanto à política, a partir desse período, também se tornou extremamente conservadora. O poder passou a ser monopolizado pelo Conselho de Anciãos, 28 gerontes, cidadãos acima dos 60 anos, que tinham cargo vitalício e eram escolhidos por aclamação na assembleia. 4. Direito Grego Esse Conselho escolhia o poder executivo: os Éforos, cinco magistrados com madato de um ano que tinham por função cuidar da educação das crianças esparciatas, fiscalizar a vida pública e julgar os processos civis. Fica claro que, culturalmente, a Esparta desse período tinha como característica cultural marcante o militarismo levado às últimas consequências. 4. Direito Grego A esse militarismo se somava um esforço de manutenção do seu modo de vida, do status quo. Eles foram plenamente vitoriosos nesse sentido, gerando por séculos a sociedade provavelmente mais imóvel da história. Isso ocorria muito em razão de três características dos espartanos largamente incentivadas pelo Estado: a xenofobia (aversão a pessoas estranhas e a tudo que venha de outro lugar); xenelasia (impedimento da estadia de estrangeiros); e o laconismo (falar só o mínimo necessário, utilizando o mínimo de palavras possível). 4. Direito Grego ATENAS Atenas se localiza na Península de Ática e se estende pelo mar na direção leste. É uma cidade separada do resto da Grécia por montanhas muito altas, ainda que de fácil acesso. Sua localização geográfica a protegeu de invasões, especialmente dos Dórios, e facilitou sua vida política, uma vez que a região favorecia a união de considerável território em torno de um centro político. No século VIII a.C. a economia de Atenas era, basicamente, rural. Porém, as atividades artesanais e comerciais estavam em crescimento, ultrapassando os limites da região. 4. Direito Grego Com o desenvolvimento comercial, os agricultores que possuíam terras pouco férteis junto às montanhas se viram, cada vez mais, em situação difícil, pois a importação de cereais, aliada a algumas crises climáticas, aumentavam sua concorrência, gerando um endividamento para os eupátridas – que, além de monopolizar o poder, monopolizavam também as melhores terras, possuindo-as em latifúndios cultivados por rendeiros os escravos. Este endividamento gerava não apenas a perda de terras, como também, caso houvesse a penhora do próprio corpo, escravidão por dívida. 4. Direito Grego Os eupátridas monopolizavam o poder, tanto quando ainda existia um rei, quanto quando passaram a governar sozinhos, formando uma oligarquia. À medida em que o tempo passava, a situação de empobrecimento dos agricultores piorava, somando-se à insatisfação de comerciantes e artesãos que se tornavam cada vez mais ricos e desejavam participar da vida política. 4. Direito Grego A oligarquia estava, portanto, situada entre dois problemas: de um lado, novos ricos querendo participar do governo que lhes era vedado; de outro, pobres exigindo o fim da escravidão por dívida e a repartição das grande propriedades. Os insatisfeitos formaram o Partido Popular e o governo oligárquico o Partido Aristocrático. A crise era grave em razão de a aristocracia não ter mais o monopólio das armas. Com a chegada de armas mais baratas, os pobres puderam se armar e exigir a participação no exército. 4. Direito Grego No meio dessa luta entre os dois partidos, um aristocrata tentou (sem sucesso) tomar o poder à força, a reação do Partido Popular foi imediata e a oligarquia se viu obrigada a oferecer reformas para acalmar os ânimos. 4. Direito Grego Drácon Surgiram os legisladores, os primeiros a redigirem leis em Atenas, em torno de 621 a.C. O primeiro foi Drácon, famoso até hoje pela severidade das leis, tanto que até hoje a palavra “draconiano” significa algo que é muito rigoroso ou drástico. Essa severidade pode ser compreendida pelo fato de Drácon ser eupátrida, o que fazia com que conservasse os sentimentos da sua casta e o vínculo com um direito religioso. Não parece que ele tenha feito outra coisa senão passar para escrito os antigos costumes, sem alterá-los. 4. Direito Grego Sua primeira lei era “honrar os deuses e os heróis e oferecer-lhes sacrifícios anuais sem nos afastarmos dos ritos seguidos pelos antepassados”. Ao não criar nenhuma novidade, Drácon reproduziu o direito ditado por uma religião implacável, que via em todo erro uma ofensa às divindades e em toda ofensa às divindades um crime odioso. Assim, quase todos os crimes eram passíveis de pena de morte. 4. Direito Grego Sólon Embora as leis de Drácon tenham reconhecido uma existência legal aos cidadãos e indicado o caminho da responsabilidade individual, ele não atingiu – até por nem ser sua intenção – os problemas econômico-social e político da região. Dessa forma, pouco tempo depois o Partido Popular voltou a exigir reformas. Em 594 a.C. foi indicado um novo legislador, chamado Sólon. Sólon era aristocrata de nascimento e comerciante de profissão, tendo cabeça de comerciante e assim legislando. 4. Direito Grego Pode-se afirmar que suas leis trouxeram uma grande revolução social. A eunomia – igualdade de todos perante a lei – está presente em todos artigos escritos por ele, sem distinção entre eupátridas e não-eupátridas. Sua reforma atingiu toda a estrutura do Estado Ateniense, política, social e economicamente. Foi a legislação de Sólon que preparou Atenas para ser a potência econômico-comercial que foi, indicando um incentivo ao desenvolvimento comercial e industrial que fariam dela a principal e mais poderosa cidade-Estado da região. 4. Direito Grego Para melhorar e simplificar as transações comerciais, Sólon dotou Atenas de um padrão monetário fixo e incentivou a exploração das minas de prata, para que a cidade tivesse uma melhor e maior circulação monetária. Além disso, instituiu um sistema de pesos e medidas único. Além disso, para minimizar os efeitos da crise política, Sólon concedeu anistia geral, estando perdoados os crimes políticosde todos que tivessem cometido um. Também suavizou a legislação draconiana, buscando apaziguar os ânimos exaltados da cidade. 4. Direito Grego Ainda limitou o direito de herança dos primogênitos, sendo todos os filhos homens passíveis de recebê-la. As filhas mulheres não recebiam nem se fossem a única herdeira. E, para atingir definitivamente o problema que gerava a revolta do povo, o legislador decretou a suspensão dos marcos de hipoteca, a devolução das terras aos antigos proprietários e, principalmente, proibiu a escravização por dívidas em Atenas. 4. Direito Grego No Brasil, a exemplo das leis de Drácon, temos as seguintes listas: - Lista Draconiana de Maus Pagadores (lista do SPC e Serasa) - Lista Draconiana dos culpados dos delitos – “rol dos culpados” no Direito Processual Penal. A instituição, na sociedade ateniense, da eunomia (igualdade de todos perante a lei), deu um passo importante no reconhecimento da cidadania, ao dizer “Todo homem livre, domiciliado em território ático, será considerado como cidadão ateniense”. No Brasil a eunomia está presente no art. 5º da CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Princípio da Igualdade. 5. Roma e o Direito Romano A história de Roma, hoje em dia, é muito pouco conhecida por nós. Há quem pense que os romanos eram apenas uma civilização violenta e há uma maioria que não sabe que no nosso DNA cultural há muito de lá. Somos romanos quando falamos, pois nossa fala vem do latim; somos romanos na nossa noção urbana, na nossa literatura, na política e na administração; somos romanos, principalmente, quando falamos em Direito e fundamos nossa sociedade em um Estado de Direito, Direito este sistematizado pelos romanos antigos. 5. Roma e o Direito Romano “A importância do Direito Romano para o mundo atual não consiste só em ter sido, por um momento, a fonte ou a origem do direito: esse valor foi só passageiro. Sua autoridade reside na profunda revolução interna, na transformação completa que causou em todo nosso pensamento jurídico, e em ter chegado a ser, como o Cristianismo, um elemento da Civilização Moderna.” (VON IHERING, Rudolf. História de Roma. Petrópolis: Vozes, 1968, p. 254) 5. Roma e o Direito Romano Juridicamente falando, a importância do estudo do Direito Romano fica muito clara quando o comparamos com o nosso Direito Civil. Cerca de 80% do nosso código se baseia direta ou indiretamente nas fontes jurídicas romanas. Antes de iniciarmos o estudo da história e das instituições romanas, ressalta-se duas características básicas desse povo, importantes de se ter em mente: 5. Roma e o Direito Romano (i) a primeira é o fato de tudo sobre Roma ser enorme, superlativo. Roma conquistou toda a volta do Mediterrâneo, a ponto de chamá-lo de “mare nostrum” (nosso mar). Roma, império, conquistou quase que toda a Europa. Roma, cidade, chegou a ter mais de um milhão de habitantes por volta do século I; (ii) A segunda é o fato de os romanos terem uma visão bastante elevada, quase arrogante, de si mesmos. Consideravam-se destinados a serem “caput mundi”, a cabeça do mundo. Sua vaidade estava em buscarem estar eternos através da história. Mapa de Roma na Antiguidade Mapa do Império Romano no seu ápice (117 d.C.) 5. Roma e o Direito Romano 1. História de Roma: Divisão Política Para que o Direito seja compreendido, há de se passar, ainda que superficialmente, pelo estudo de alguns conceitos e nomes referentes às Instituições Políticas dos diferentes momentos da história de Roma. A história se divide em: Realeza (da fundação de Roma a 510 a.C.); República (de 510 a.C. a 27 a.C.) e Império (de 27 a.C. até a morte de Justiniano em 566 d.C.). O Império ainda se subdivide em Alto Império (de 27 a.C. a 284 d.C) e Baixo Império (de 284 d.C. até a morte de Justiniano); esta subdivisão se baseia no absolutismo do imperador, que era menor no Alto Império e incondicional no Baixo. 5. Roma e o Direito Romano 1.a) A Realeza e suas instituições políticas: Segundo a mitologia romana, Roma teria sido fundada Rômulo, irmão gêmeo de Remo. Conta a lenda que os gêmeos eram filhos de Marte, deus da guerra, e da mortal Reia Sílvia, filha do rei Numitor. O irmão do rei teria dado um golpe de estado, feito de Numitor seu prisioneiro e condenado Reia à castidade, para que não houvesse descendentes da linhagem. Porém, Marte teria gerado com Reia os gêmeos Rômulo e Remo. Para salvar as crianças, estas foram colocadas em uma cesta e lançadas no Rio Tibre. A correnteza teria os arremessado à margem do rio, onde uma loba teria os encontrado, amamentado e cuidado deles até que fossem achados por um pastor, de nome Fáustulo, que, junto à sua esposa, os criou como filhos. 5. Roma e o Direito Romano A fundação da cidade data de 753 a.C. Nos séculos seguintes, assim como as outras cidades-Estado da região, Roma foi governada por um rei. A realeza de Roma era vitalícia, mas não era hereditária. A escolha do próximo rei ficava a cargo das assembleias, chamadas Comícios Curiatos, a partir de um nome proposto pelo Senado. O rei era, então, investido do “imperium”, um poder total, que abrangia os âmbitos civil, militar, religioso e judiciário. 5. Roma e o Direito Romano O rei era juiz supremo, não havendo apelação contra suas sentenças. O Senado vem da palavra “senis”, que significa ancião. No final da realeza o senado era composto por trezentos membros, que atuavam como conselheiros do rei. Eles atuavam apenas quando solicitados e o rei não era obrigado a seguir o que diziam. Já os Comícios Curiatos eram reuniões de todos os homens considerados como “povo”, ou seja, os patrícios e os clientes, ficando de fora os plebeus e os escravos. 5. Roma e o Direito Romano Para que se compreenda cada uma dessas divisões sociais... Patrícios: descendentes das primeiras famílias que povoaram Roma, eram proprietário de terras e ocupavam importantes cargos públicos. Estavam no topo da pirâmide social, eram a minoria da população, e possuíam muita riqueza e escravos. Clientes: embora livres, os clientes viviam “presos” aos patrícios, com o qual tinham uma forte relação de dependência. Tinham apoio econômico e jurídico dos patrícios, em troca de ajuda em trabalhos e questões militares. Essa classe era formada basicamente por estrangeiros e refugiados pobres. 5. Roma e o Direito Romano Plebeus: a plebe era composta por pequenos comerciantes, artesãos e outros trabalhadores livres, que, juntos, formavam a maioria da sociedade romana. Possuíam poucos direitos políticos e de participação na vida religiosa. Escravos: camada sem direito social algum. Os escravos eram, na sua grande maioria, presos de guerra. Eram vendidos como mercadorias para patrícios e plebeus e não recebiam pagamento pelo seu trabalho, apenas comida e roupas. Executavam desde tarefas externas pesadas até serviços domésticos. 5. Roma e o Direito Romano 1.b) A República e suas instituições políticas: Quando da fundação da República (res + publicae = coisa do povo), os romanos decidiram pulverizar o poder executivo para as mãos de muitos. A ideia era instituir mandatos curtos, a maioria de um ano, evitando que alguém pudesse ter um poder exacerbado nas mãos. A única instituição que continuava vitalícia era o Senado. Embora, nesse período, sua função principal tenha passado a ser cuidar de questões externas, a vitaliciedade fez com que possuísse uma autoridade permanente, tornando-se o centro do governo. 5. Roma e o Direito Romano Quem detinha o poder executivo na Roma Republicana eram chamados de Magistrados e se dividiam em Magistrados Ordinários e Extraordinários, cada qual com suafunção específica. Os Magistrados Ordinários – Cônsules, Pretores, Edis e Questores – eram permanentes e eleitos anualmente. Os Extraordinários – como os censores – eram temporários e escolhidos somente quando havia necessidade. 5. Roma e o Direito Romano Os candidatos a determinada magistratura tinham que obedecer a determinadas condições. Primeiramente, deveriam ser cidadãos plenos e, dependendo do cargo almejado, já ter exercido outras atividades públicas do “cursus honorum”. O “cursus honorum”, ou caminho de honra, era uma escala de cargos que deveriam ser alcançados sucessivamente: primeiro a questura, depois a edilidade, a pretura e o consulado. As idades mínimas eram de 31 para a questura, 37 para a edilidade, 40 para a pretura e 43 para o consulado. 5. Roma e o Direito Romano 1.c) O Império e suas instituições políticas Durante o Império, a figura principal do governo era, evidentemente, o Imperador. O Imperador possuía o império em todos os seus aspectos: civil, militar e judiciário. As magistraturas ainda existem, mas não com o força e a importância que tinham antes. 5. Roma e o Direito Romano O Senado continua existindo, mas cada dia com atribuições mais limitadas. Sua competência, porém, é ampliada para os terrenos legislativo, eleitoral e judicial, já que podia reconhecer qualquer delito, conforme a vontade dos senadores. Roma, portanto, começou como uma pequena cidade e foi se tornando a capital do mundo conhecido. Era uma cidade de agricultores que se tornaram os donos do mundo. A mistura com novos povos, a partir das grandes conquistas, foram transformando os romanos tradicionais em romanos cosmopolitas, mais voltados para o mundo e abertos a mudanças. 5. Roma e o Direito Romano 2. O Direito Romano 2.a. Definição e características O Direito Romano é o conjunto de normas vigentes em Roma ddesde a fundação (século VIII a.C.) até Justiniano (século VI d.C.). Para os romanos, a definição de direito passava por seus mandamentos: “viver honestamente, não lesar ninguém e dar a cada um o que é seu”. 5. Roma e o Direito Romano 2.b. Períodos do Direito Romano O Direito Romano pode ser dividido em três períodos ou fases de evolução: Período Arcaico (ou Pré-Clássico), Período Clássico e Período Pós-Clássico. 5. Roma e o Direito Romano • Período Arcaico: vai da fundação de Roma, no século VIII a.C. até o século II a.C. Nessa época, o direito se caracteriza pelo formalismo, pela rigidez e pela ritualidade. As funções do Estado ainda eram limitadas a questões essenciais para sua sobrevivência, como guerra, punição dos delitos mais graves e observância de regras religiosas. A família era o centro de tudo, até do Direito. Os cidadãos romanos eram vistos primeiro como membros de uma unidade familiar e só depois como indivíduos. 5. Roma e o Direito Romano O mais importante marco deste período é a Lei das XII Tábuas, feita em 451 e 450 a.C. como resposta a uma das revoltas da plebe. Ela codificou regras costumeiras e, mesmo entrando rapidamente em desuso, foi chamada durante toda a história de Roma como fonte de todo o direito. 5. Roma e o Direito Romano Alguns pontos da Lei das XII Tábuas… Tábua IV: Pátrio Poder “É permitido ao pai matar o filho que nasce disforme, mediante o julgamento de cinco vizinhos”. Os romanos não toleravam as pessoas que possuíam defeitos físicos. Há registro na história de Roma que o imperador Cláudio era ridicularizado por mancar. De lá vem a ideia de “mente sã, corpo são”. 5. Roma e o Direito Romano No Brasil: A expressão “pátrio poder” foi substituída por “poder familiar” no Código Civil, por força da igualdade entre homens e mulheres consagrada na CF/88. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar enquanto menores (art. 1.630 CC/02). Se o pai ou a mãe matar o filho disforme, trata-se de homicídio (art. 121 CP); se a mãe matar o filho em estado puerperal, é infanticídio (art. 123 CP). 5. Roma e o Direito Romano Tábua V: Herança “Que as dívidas ativas e passivas sejam divididas entre os herdeiros, segundo o quinhão de cada um.” Em Roma, os herdeiros respondiam pelas dívidas do falecido até a parte a que tinham direito de receber. Essa regra também está prevista na legislação brasileira. No Brasil: A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido, mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na herança lhe coube (art. 1.997 CC). 5. Roma e o Direito Romano Tábua VII: Delitos Se alguém fere a outrem, que sofra a pena de talião, salvo se houver acordo.” Em Roma, havia a possibilidade de acordo para evitar a lei de talião. Esse acordo consistia no pagamento, em dinheiro, à vítima. Ou o agressor pagava ou tinha, por exemplo, um dedo cortado. No Brasil: A lesão corporal é crime tipificado no art. 129 CP. É graduada em lesão leve, grave ou gravíssima. A lesão leve tem pena de 3 meses a 1 ano de detenção; a lesão grave, pena de 1 a 5 anos de reclusão; e a gravíssima, pena de 2 a 8 anos de reclusão. Segundo a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), a violência doméstica contra a mulher tem pena de 3 meses a 3 anos de detenção. 5. Roma e o Direito Romano • Período Clássico: vai do século II a.C. ao século III d.C. e foi o auge do desenvolvimento do Direito Romano. O poder do Estado foi centralizado e os pretores e os jurisconsultos, que adquiriram maior poder de modificar as regras existentes, puderam revolucionar o Direito. 5. Roma e o Direito Romano • Período Pós-Clássico: vai do século XX d.C ao século VI. Nesse período, não houve grandes inovações, vivia-se do legado do período clássico. Porém, para acompanhar as situações, o direito se tornou comum e se sentiu a necessidade de codificar as regras. Houve uma série de tentativas, porém todas muito restritas. Foi somente após a queda do Império no Ocidente que Justiniano, Imperador no Oriente, conseguiu concluir a empreitada. 5. Roma e o Direito Romano A Codificação Justinianéia, chamada de Corpus Iuris Civilis, é considerada conclusiva, principalmente em razão de praticamente todos os códigos modernos trazerem marcas suas, e composta por quatro obras: o Codex, o Digesto, as Institutas e as Novelas. O Codex foi completado em 529 e reúne a coleção completa das Constituições Imperiais; o Digesto é a seleção das obras dos Jurisconsultos; as Institutas são um manual de Direito para estudantes e as Novelas são a publicação das leis do próprio Justiniano. 5. Roma e o Direito Romano 2.c. Fontes do Direito Romano O Direito Romano, em função de sua extensão temporal, contou com muitas fontes. •Costume: a forma mais espontânea e antiga de constituição do Direito. Os Romanos tinham como suporte fundamental e modelo do seu viver comum a tradição, no sentido da observância dos costumes dos antepassados. 5. Roma e o Direito Romano • Leis e Plebiscitos: para o Direito Romano a palavra lex tem um significado mais amplo do que se tem hoje em dia. Para eles, indica a deliberação da vontade com efeitos obrigatórios. Por exemplo, para uma cláusula em um contrato, fala-se em leges privatae (leis privadas). No período republicano há duas espécies de leis, dependendo da origem: a Lex Data, proveniente do Senado ou de algum magistrado, e a Lex Rogatae, propostas pelos magistrados e votadas pelos cidadãos romanos reunidos em Comícios, depois ratificadas pelo Senado. 5. Roma e o Direito Romano • Edito dos Magistrados: os Pretores (magistrados mais importantes no que se refere à Justiça), ao iniciar seu mandato, publicavam o edito para tornar pública a maneira pela qual administrariam a justiça durante seu ano. Com os editos acabavamsendo criadas novas normas que iam se estratificando, visto que os Pretores que entravam faziam uso das experiências bem-sucedidas dos anteriores. 5. Roma e o Direito Romano • Jurisconsultos: no princípio da história romana, somente os sacerdotes conheciam as normas jurídicas e somente eles as interpretavam. A partir do fim do século IV a.C, esse monopólio caiu por terra e apareceram peritos leigos, os Jurisconsultos. Principalmente no período clássico, os Jurisconsultos foram personagens da mais profunda importância para o desenvolvimento do Direito. Sua principal característica e qualidade era o estudo profundo e sistemático e, consequentemente, o respeito advindo desta sabedoria. 5. Roma e o Direito Romano Sua atividade consistia em indicar as formas dos atos processuais aos magistrados e às partes. Eles também auxiliavam na elaboração e escrita de instrumentos jurídicos e emitiam pareceres jurídicos a pedido de particulares e magistrados. Se inicialmente essa atividade só servia a cada caso específico, a partir do século I a.C. passou a ter força de lei, transformando-se a jurisprudência em fonte de direito. 5. Roma e o Direito Romano • Senatus-Consultos: eram deliberações do senado mediante proposta dos magistrados que passaram a valer como lei após o século I a.C. •Constituições Imperiais: a partir do século II d.C., depois do Imperador Adriano, as decisões dos imperadores passaram a ser fontes de direito. Aos poucos, à medida em que o poder se centralizava cada vez mais, o Imperador passou a substituir as outras fontes de Direito, vindo a se tornar a única fonte. 5. Roma e o Direito Romano Suas constituições poderiam ser nas formas de “edictas” – deliberações de ordem geral –; “mandatas” – instruções administrativas dadas aos funcionários imperiais e governadores de províncias; “decretas” – decisões proferidas em um processo no exercício do supremo poder jurisdicional, aplicadas e estendidas por juristas a casos semelhantes; “rescriptas” – respostas solicitadas ao Imperador a respeito de casos jurídicos a ele submetidos pelos magistrados ou particulares. 5. Roma e o Direito Romano 2.d. Divisão do Direito Romano Os romanos reconheciam uma série de divisões de seu direito, baseando-se na História, na origem da norma, na aplicação ou no sujeito a quem a norma se destinava. A principal diferença entre os direitos era entre o Ius Civile e o Ius Gentium: 5. Roma e o Direito Romano 2.d. Divisão do Direito Romano Os romanos reconheciam uma série de divisões de seu direito, baseando-se na História, na origem da norma, na aplicação ou no sujeito a quem a norma se destinava. A principal diferença entre os direitos era entre o Ius Civile e o Ius Gentium: Ius Civile: é o direito próprio do cidadão romano e exclusivo deste. Ius Gentium: é o direito universal, aplicável a todos os homens livres, inclusive os estrangeiros. 5. Roma e o Direito Romano •Divisão Baseada na Origem: baseando-se na fonte do Direito, os romanos diferenciavam o Ius Civile, o Ius Honorarium e o Ius Extraordinarium. Ius Civile: direito tradicional que provinha dos costumes, das leis, dos plebiscitos e, na época imperial, dos sentatus consultos e das constituições imperiais. Ius Honorarium: era o direito elaborado e introduzido pelos pretores. Ius Extraordinarium: era derivado da atividade jurisdicional do Imperador na época do império, a partir de controvérsias diferentes da ordem natural dos juízos. 5. Roma e o Direito Romano •Divisão Baseada na Aplicabilidade: depende de que forma as regras podem os não ser aplicadas, distinguindo-se o Ius Cogens e o Ius Dispositivum. Ius Cogens: é a regra absoluta, sua aplicação não depende da vontade das partes interessadas. É o caso do direito público. Ius Dispositivum: admitia a expressão da vontade dos particulares, com regras que podiam ser modificadas ou postas de lado a depender do desejo das partes. 5. Roma e o Direito Romano •Divisão Baseada no Sujeito: dependendo da regra, esta era aplicada a todos ou somente a alguns. Ius Commune: é o conjunto de regras que regem de modo geral uma série de casos normais. Ius Singulare: são as regras que valem para somente uma categoria de pessoas, grupos ou situações específicas. 5. Roma e o Direito Romano 2.e. Capacidade Jurídica de Gozo: chamada também de “capacidade de direito”, é a aptidão do indivíduo para ser sujeito de direitos e obrigações. Hoje em dia, na maioria dos países, todos têm capacidade de direito, porém em Roma não era assim. Havia uma série de condições para que o homem tivesse capacidade jurídica de gozo: 5. Roma e o Direito Romano • Status Libertatis: para ter capacidade jurídica, o indivíduo tinha que ser livre. Escravos não tinham direitos, nem privados nem públicos, podendo ser apenas objetos de relações jurídicas. • Status Civitatis: a cidadania romana era imprescindível para a capacidade jurídica plena. Era cidadão aquele que nascia de casamento válido pelo ius civile ou se a mãe fosse de família cidadã. Podiam se tornar cidadãos os indivíduos ou povos que recebessem a cidadania por lei ou por vontade do imperador. 5. Roma e o Direito Romano • Status Familiae: para uma completa capacidade jurídica, era preciso que o indivíduo fosse independente do pátrio poder. Essa independência não tinha, necessariamente, relação com a idade ou com o fato de se ter paternidade, mas sim com a ausência de um ascendente masculino por morte ou por emancipação. 5. Roma e o Direito Romano •OBS.: Causas Restritivas da Capacidade Jurídica de Gozo: a capacidade de gozo não era uma garantia vitalícia, podendo ser perdida ou obtida. A perda podia ir de total, quando um indivíduo se tornava escravo, por exemplo, passando por média, quando um sujeito era desterrado e se tornava sem-pátria, até mínima, no caso da pessoa mudar seu status familiar por emancipação, adrogação ou adoção. Todos os casos falados acima se referem ao sexo masculino, uma vez que às mulheres não era permitida plena capacidade. 5. Roma e o Direito Romano 2.f. Direito de família •O Pátrio Poder: quanto maior o poder do pai de família, menor o poder do Estado e vice-versa, dependendo do período da história romana. Durante quase toda a história do Direito Romano, esse poder era absoluto, de vida e morte sobre todos que estavam sob sua chefia, e englobava o poder sobre os filhos, sobre a esposa, sobre os escravos e sobre pessoas livres que passaram de um pai de família a outro pela venda, por exemplo. 5. Roma e o Direito Romano O pátrio poder podia ser extinto pela morte do pai de família, pela sua perda de liberdade ou cidadania, pela morte ou adoção das pessoas alienadas, pela emancipação do filho ou casamento da filha. •O Casamento: para o romanos, o matrimônio era, antes de tudo, um ato consensual de convivência. Era um fato e não um estado de direito. Nesse sentido, os juristas romanos afirmavam, “não é a cópula em si, mas o afeto marital que constitui o matrimônio”; “não se contrai o matrimônio entre quem não deu consenso.” 5. Roma e o Direito Romano Consenso, aqui, era algo bastante limitado, bastando a futura noiva não se opor à vontade do pai, sendo que ela só poderia se opor em caso do homem escolhido ser indigno ou portador de alguma tara. •O Divórcio: o casamento na história de Roma jamais foi indissolúvel, tendo o divórcio sido previsto desde o direito romano arcaico, mesmo que com modificações ao longo do tempo. 5. Roma e o Direito Romano 2.g. Sucessão: questão intimamente ligada a tudo que envolve família, sua perpetuação e patrimônio. A expressão “sucessão” designava a transmissão de todos os direitose obrigações do defunto para outra pessoa, seu sucessor. Os sucessores naturais eram os filhos nascidos em “justas bodas” ou adotados. 5. Roma e o Direito Romano 2.hj. Delitos No início da história de Roma, não havia limites para a represália quando um indivíduo cometia um crime. O ofendido era livra para se vingar, não havendo uma distinção nítida entre punição e ressarcimento. Com o fortalecimento do Estado, foram sendo estabelecidos limites à vingança, que só poderia ser efetuada se o criminoso fosse pego em flagrante e, mesmo assim, os limites foram aumentados. 5. Roma e o Direito Romano Já havia alguma noção de causalidade (intenção; dolo x culpa), imputabilidade (aptidão do indivíduo praticar atos com discernimento), extinção da punibilidade (em caso de cumprimento de pena, obtenção do perdão, prescrição do crime, morte de quem cometeu o delito). Quanto aos delitos, havia distinção entre delitos públicos – como traição, homicídio e incêndio – e delitos privados – como furto, roubo, injúria, coação. 5. Roma e o Direito Romano 2.i. O Estudo do Direito e os Advogados em Roma inicialmente, o método de ensino do direito era essencialmente prático. Os jovens assistiam às consultas que o mestre dava a seu cliente e às explicações sobre cada caso. Depois, em especial a partir do século I a.C., o ensino prático passou a ser complementado por um ensino sistematizado, com uso de recursos de lógica grega, com um corpo de doutrina, um conjunto de princípios, de divisões e classificações. 5. Roma e o Direito Romano Com o crescimento da influência dos jurisconsultos, maior importância e atenção adquiriu o estudo do Direito, sendo seus escritórios tanto lugares de consultas quanto escolas públicas de Direito. Quanto aos advogados, havia dois tipos: os próprios jurisconsultos, especialistas no Direito, a quem cabia estudar o aspecto jurídico das controvérsias, e os oratores, que lutavam por seus clientes em juízo. 5. Roma e o Direito Romano Ser advogado em Roma era quase uma tendência natural, dado o apreço pela oratória que tinham os romanos. A popularidade dos advogados era proporcional à quantidade de litígios. “Durante duzentos e trinta dias por ano, para as instâncias civis, em todo o tempo para os processos criminais, a urbs se consumia com a febre judiciária que se apoderava não só dos litigantes ou dos acusados, mas também de seus advogados e da multidão de curiosos imobilizados durante horas à volta dos tribunais pela avidez do escândalo ou pelo gosto das controvérsias oratórias.”
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