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Módulo Iniciação à Vida Universitária Universidade Católica do Salvador UCSal Salvador, Bahia. 2015 UCSal. Sistema de Bibliotecas Setor de Cadastramento U58 Universidade Católica do Salvador. Iniciação à vida universitária: módulo EAD. Salvador: UCSal, 2015. 200p. ISBN 978-85-88480-44-5 1. Ensino à distância – Iniciação à vida universitária. 2. Metodologia da Pesquisa. 3. Universidade Católica do Salvador. I. Título. CDU 378.147 Universidade Católica do Salvador – UCSAL Grão-Chanceler Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger Reitor Mauricio da Silva Ferreira Superintendência Acadêmica Silvana de Sá Carvalho Coordenação Geral de Educação a Distância Lismara Macêdo Revisão Textual Lícia Margarida Oliveira Mensagem do Reitor Caro estudante, Seja bem vindo! Desejo que este semestre e os próximos em que você estará conosco sejam momentos de realização, integração, acolhimento, partilha, solidariedade, compreendendo a importância de ingressar em uma Instituição de Ensino Superior, que, ao longo dos seus 50 anos, têm por princípio o respeito à ética e à tradição e a responsabilidade e seriedade em todas as suas ações junto à sociedade. Primeiramente quero parabenizá-lo pela excelente escolha que você fez, por fazer parte da Universidade Católica do Salvador, em especial, por ter oportunidade de iniciar o seu curso com o componente curricular – Iniciação à Vida Universitária que dá suporte ao aluno na sua relação com os demais componentes curriculares, subsidiando-o com saberes e técnicas necessárias ao seu trânsito na Universidade. Tenho certeza que estarão valorizando, em muito, seus currículos e seus conhecimentos de forma a entender como funciona a sua universidade enquanto espaço de aquisição, produção e socialização de conhecimento – ensino, pesquisa e extensão. Em segundo lugar, como sabe, a realização do componente curricular - Eixo de Formação Geral - dar-se-á na modalidade a distância (EAD). Penso que a interação entre os colegas seja não somente uma fonte riquíssima de networking com colegas de outros cursos, mas também um estímulo bem forte ao compartilhamento de conhecimentos e experiências. A Universidade Católica do Salvador acolhe você com alegria e confiante de que, juntos, temos muito a construir e deseja-lhe sucesso nesta nova jornada acadêmica. Reitor Pe. Mauricio Ferreira da Silva APRESENTAÇÃO Caro aluno, Você já deve ter percebido que os estudos para a Universidade diferem muito daqueles realizados ao longo do segundo grau. Na universidade, não basta consumir conteúdos e reproduzi-los nas avaliações; Aqui, além de absorver novas informações, somos provocados a produzir o nosso próprio conhecimento. Além disto, há toda uma gama de normas e técnicas, ainda pouco conhecidas, que precisa ser dominada para que você possa lidar com a linguagem científica, vigente no ambiente universitário. Estas normas são estabelecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), para que a linguagem científica brasileira seja, por um lado, homogênea e, por outro, compatível com a normatização internacional. O objetivo deste componente curricular é favorecer a sua ambientação neste novo mundo (a Academia). Assim, pensamos cada elemento deste módulo para que você possa compreender o que é a vida universitária e como lidar com as suas demandas, a partir deste momento. Leia atentamente cada Seção do módulo, veja as indicações complementares sugeridas, tire as suas dúvidas com o seu tutor e não perca os prazos das avaliações. Cumprindo tudo isso direitinho, você otimizará os seus conhecimentos na Introdução à vida universitária. Bons estudos! CONTEÚDO Unidade 1 Seção 1 – Universidade: origem e finalidade. Seção 2 – A Universidade Católica do Salvador (UCSal). Seção 3 – O percurso de estudo na universidade. Seção 4 – A leitura. Seção 5 – Leitura e poder na universidade. Unidade 2 Seção 1 – Suportes de arquivamento de leituras: resumo, resenha e fichamento. Seção 2– A escrita. Seção 3 – A produção do texto científico. Seção 4 – Publicações científicas e suas normas de apresentação. Seção 5 – Referências, citações e notas de rodapé. 10 Professores Alfons Heinrich Altmicks Graduado em Comunicação Social (UCSal) e em Pedagogia (FZG), especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior (UCSal) e em Educação e Novas Tecnologias (ESAB) , mestre em Ciências da Educação (Universidad San Carlos). Docente da graduação da UCSal. Marcelo Couto Dias Licenciado em Ciências Sociais (UFBA), mestre em Família na Sociedade Contemporânea (UCSal). Co-autor do livro Família no debate cultural e político contemporâneo. Docente da graduação e pós-graduação da UCSal. 12 Seção 1 Universidade: origem e finalidade As primeiras universidades Poucas pessoas discordariam se disséssemos que o sistema universitário está entre as principais contribuições intelectuais da civilização ocidental para o mundo. Porém, se perguntarmos a um estudante universitário o período em que surgiram as primeiras universidades é muito provável que ele não saiba responder. Foi por volta do século XII, em plena Idade Média, que as primeiras universidades surgiram na Europa (Paris, Bolonha, Cambridge e Oxford). Elas “tiveram os seus primórdios nas escolas das catedrais e nas posteriores reuniões informais de professores e alunos” (WOODS JR, 2008, p. 46). Diferentemente daquilo que em geral se aprende, a Igreja Católica 13 está diretamente ligada ao desenvolvimento do sistema universitário. Como afirma o historiador Lowrie Daly no livro The Medieval University, ela era “a única instituição na Europa que manifestava um interesse consistente pela preservação e cultivo do saber” (apud WOODS JR., 2008, p. 46). Outro fato curioso a respeito das primeiras universidades é que, neste período, muitos dos seus estudantes vinham de famílias de poucas posses, eram bastante jovens e procuravam se preparar para uma profissão (WOODS JR., 2008). Em geral, as universidades medievais possuíam um núcleo de textos obrigatório, currículos acadêmicos bem definidos e conferiam diplomas e títulos. O historiador Thomas Woods Jr. (2008) lembra que o título de “mestre”, concedido por uma universidade, permitia a passagem do estudante para o grêmio dos docentes. Do ponto de vista curricular, a universidade medieval começava com “um ciclo básico composto pelo ensino das sete artes liberais, divididas em dois blocos: o trivium (Gramática, Retórica e Dialética) e o quadrivium (Aritmética, Geometria, Astronomia e Música)” (ALMEIDA FILHO, 2008). Em seguida, os estudos prosseguiam com o direito civil e canônico, a filosofia natural, a medicina ou a teologia (WOODS JR., 2008). Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 14 Observando um pouco as características da vida acadêmica nas primeiras universidades é interessante notar que já ali podemos encontrar uma forte interação entre o ensino e a pesquisa. Para obter o seu diploma, além de assistir às aulas e ler os textos clássicos, o aluno precisava investigar um problema de pesquisa e defender uma tese. Só depois desse processo é que ele recebia o título de bacharel. SAIBA MAIS A vida acadêmica nas primeiras universidades “O graduando ou artista (isto é, o estudante das artes liberais), assistia a conferências, participava dos debates que eventualmente se 15 organizavamnas aulas e assistia aos que eram entabulados por outros. As preleções versavam geralmente sobre textos importantes, muitas vezes dos clássicos da Antiguidade. Além dos comentários sobre esses textos, os professores passaram a incluir gradualmente uma série de questões que deviam ser resolvidas pelo recurso ao pensamento lógico. Com o tempo, a análise dessas questões substituiu basicamente os comentários de textos. Esta foi a origem do método escolástico de argumentação por meio da discussão de argumentos contrapostos, tal como a encontramos na Summa theologiae de São Tomás de Aquino. O mestre designava alunos para defenderem aspectos contrários de uma questão. Quando acabava a interação entre as partes, cabia ao professor “definir” ou resolver a questão. Para obter o diploma de bacharel em Artes, o aluno devia resolver satisfatoriamente uma questão perante os examinadores, depois de provar, naturalmente, que possuía a preparação adequada e que estava apto para ser avaliado. Essa ênfase na argumentação meticulosa, na exploração de um “caso” (um exemplo) pela discussão de cada um dos seus aspectos com argumentos racionais, soa como o oposto daquilo que se costuma associar a vida intelectual do homem medieval. Mas era assim que funcionava o processo para a obtenção de um diploma. Uma vez que o examinando dirimia satisfatoriamente a questão, era-lhe conferido o diploma de bacharel em Artes. O processo levava normalmente quatro ou cinco anos. Chegado a este ponto, o estudante podia simplesmente dar por terminada a sua formação, como faz hoje em dia a maior parte dos bacharéis, e sair em busca de um trabalho remunerado (até mesmo como professor nalguma das escolas menores da Europa), ou decidir continuar os seus estudos e obter um diploma de pós-graduação, o que lhe conferiria o título de mestre e o direito de lecionar em uma universidade.” WOODS JR., Thomas E. A Igreja e a universidade. In: ______. Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental. Trad. Élcio Carillo. São Paulo: Quadrante, 2008. 16 Esse espírito de pesquisa talvez seja a grande marca da universidade, o seu DNA, e aquilo que nos permite identificar aquelas instituições de maior destaque. Seria difícil enumerar todos os benefícios em termos de desenvolvimento científico que este espírito investigativo gerou para a civilização. O historiador Eduard Grant, em seu livro God and reason in the middle ages, afirma: Em síntese, aqueles elementos que identificamos como a essência das primeiras universidades, a ênfase posta na razão (entendida como capacidade de conhecer a realidade segundo a totalidade dos seus fatores) e o espírito de pesquisa, devem ser a marca registrada de toda instituição que queira receber este nome. A esse compromisso são chamados todos os que estão numa universidade: “O que foi que tornou possível à civilização ocidental desenvolver a ciência e as ciências sociais de um modo que nenhuma outra civilização havia conseguido até então? Estou convencido de que a resposta está no penetrante e profundamente arraigado espírito de pesquisa que teve início na Idade Média como consequência natural da ênfase posta na razão. Com exceção das verdades reveladas, a razão era entronizada nas universidades medievais com árbitro decisivo para a maior parte dos debates e controvérsias intelectuais. Os estudantes, imersos em um ambiente universitário, consideravam muito natural empregar a razão para pesquisar as áreas do conhecimento que não haviam sido exploradas anteriormente, assim como discutir possibilidades que antes não haviam sido consideradas seriamente” (apud WOODS JR., 2008, p. 62). Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 17 tanto aqueles que têm nela o seu ofício, como também os que iniciam o seu percurso acadêmico. A universidade: lugar de ensino, pesquisa e extensão Não resta dúvida acerca da forte ligação entre universidade e formação profissional. Sabemos que uma das tarefas da universidade hoje é preparar profissionais e técnicos para usarem o conhecimento adquirido na solução dos diferentes problemas da sociedade. Porém, seria um equívoco a redução da tarefa do ensino superior à simples preparação de profissionais e técnicos executores do conhecimento. Faz parte da missão da universidade estimular nos seus estudantes a capacidade de pensar acerca dos mais diversos âmbitos da realidade. Só assim ele poderá ser, além de um executor do conhecimento produzido por outros, um sujeito apto a produzir e refletir sobre os conhecimentos das diversas áreas. Além disso, se a universidade, como via de formação profissional, implica a aprendizagem de um conjunto de conhecimentos e domínios metodológico-técnicos, ela não pode deixar de oferecer aos estudantes universitários os meios para refletirem acerca das condições histórico-sociais nas quais esse exercício profissional ocorrerá (MARTINS, 2012). Se a universidade é viva quando, dentro dela, a pesquisa intenciona compreender aspectos da realidade e a argumentação racional busca apresentar aquilo que os indivíduos encontram em seus exercícios de investigação, é possível, então, que a universidade perca a sua vitalidade quando estes elementos (racionalidade e Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 18 argumentação racional) perdem a sua essência ou razão de existir dentro dos espaços acadêmicos. Verificam-se na história das universidades momentos de crise ou tensão nos quais a proposta inicial, de um espaço para formação plena e humana dos estudantes, é perdida ou corrompida. Em alguns momentos, as universidades apresentam-se como espaços de capacitação técnica para determinadas profissões, sem preocupação, por exemplo, com a prática da pesquisa e a capacitação científica. Em outros momentos, docentes e alunos apegaram-se ao discurso, transformando a universidade em espaços de debates onde as palavras e conceitos não apresentavam correlação verdadeira com os problemas reais dos indivíduos e da sociedade. Os riscos que se correm são a de uma redução da proposta acadêmica a um simples discurso ou a um processo de aquisição de determinada técnica dentro da qual não se faz um necessário encadeamento com nenhum outro conhecimento humano, com as necessidades da época e com as exigências elementares de cada estudante em particular. Estes riscos são vivenciados tanto pela Universidade enquanto instituição, quanto pelos seus membros: professores e estudantes. Para que a tarefa de compreender a realidade seja cumprida, sem dúvida uma primeira etapa é aquela de transmitir o conhecimento acumulado em cada área de pesquisa, colocando o estudante universitário em contato com o produto da ciência, com as teorias e tecnologias. A aula aparece aqui como um espaço fundamental para a aprendizagem. Essa é a primeira dimensão da universidade: o ensino. Lígia Martins (2012, p. 5) lembra que Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 19 Se o ensino permite ao estudante universitário entrar em contato com o conhecimento produzido pela ciência é a pesquisa que irá apresentá-lo a um outro horizonte: aquele do desenvolvimento e da revisão crítica desse mesmo conhecimento. Gerhardt e Souza (2009, p. 12) afirmam que “só se inicia uma pesquisa se existir uma pergunta, uma dúvida para a qual se quer buscar a resposta. Pesquisar, portanto, é buscar ou procurar resposta para alguma coisa”. As mesmas autoras continuam explicando que “as razões que levam à realização de uma pesquisa científica podem ser agrupadas em razões intelectuais (desejo de conhecer pela própria satisfação de conhecer) e razões práticas (desejo de conhecer com vistas a fazer algo de maneira mais eficaz)” (GERHARDT & SOUZA, 2009, p. 12). Outro esclarecimento interessante acercada pesquisa é dado por Saviani (apud MARTINS, 2012, p. 6) ao definir a pesquisa como “uma incursão no desconhecido que só se define por confronto com o conhecido; assim sendo, sem o domínio do conhecido não é possível incursionar no desconhecido”. Portanto, fica claro que ensino e pesquisa são realidades inter-relacionadas. Não teremos pesquisas relevantes caso não exista um ensino sólido e abrangente. nesses processos, o professor desempenha o papel insubstituível de ensinar, conduzindo os alunos em assimilações cada vez mais complexas do acervo científico-cultural e metodológico-técnico necessários aos domínios da realidade da qual faz parte como ser social e sobre a qual irá intervir. Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 20 Mas nessa altura podemos nos perguntar: de onde surgem as perguntas que estão na origem das pesquisas? Sem dúvida é da vivência da realidade por parte do pesquisador que nascem os problemas mais interessantes de serem pesquisados. Assim, nos deparamos com a última destas dimensões da universidade: a extensão. Se é na realidade que encontramos os problemas que alimentam nossas pesquisas é para a realidade que devem retornar os resultados delas. É nesse contexto que podemos entender o objetivo de “reafirmar a extensão universitária como processo acadêmico definido e efetivado em função das exigências da realidade, indispensável na formação do aluno, na qualificação do professor e no intercâmbio com a sociedade” (FORPROEX, 2012). Assim, podemos dizer que uma formação superior sólida constitui-se como uma síntese desses três processos: a transmissão/ aquisição do conhecimento (ensino), a produção/desenvolvimento de novos saberes e a revisão dos existentes (pesquisa) e a promoção do diálogo entre estes conhecimentos e as exigências das pessoas e da sociedade (extensão). Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 21 SAIBA MAIS Para nos ajudar a entender a relação entre ensino e pesquisa Tullo Vigevani (2001) nos oferece dois exemplos bastante ilustrativos: “É conhecida a lenda segundo a qual Galileu fez suas descobertas, no início do século XVII, sobre o movimento dos corpos depois de observar a oscilação de um lustre na Catedral de Pisa. No entanto, se não fosse professor de matemática na universidade da mesma cidade, dificilmente poderia provar cientificamente a correção de suas idéias. Assim como Newton, no final do mesmo século, teria desenvolvido a teoria da gravidade depois de observar a queda de uma maçã de uma árvore. Se não tivesse estudado em Cambridge provavelmente não teria adquirido a metodologia necessária para sistematizar as leis da gravidade.” VIGEVANI, Tullo. Pensar a crise na universidade para além das questões conjunturais. In: LOUREIRO, I; DEL-MSSO, M. C. (Orgs). Tempos de greve na universidade pública. Marília: UNESP Marília publicações, 2001. Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 22 A universidade e os desafios atuais Retornar à origem e à essência desta instituição pode nos ajudar a entender o papel das universidades e, consequentemente, dos universitários, no que diz respeito ao enfrentamento dos desafios que o atual momento histórico nos apresenta. A fidelidade a esta atitude crítica, investigativa e ética, por parte dos sujeitos que vivem e fazem a universidade, certamente representa uma esperança para as sociedades contemporâneas. Ao expressar a sua visão sobre o papel da Universidade Católica do Salvador, por ocasião da sua posse como Grão-Chanceler desta instituição, Dom Murilo Krieger afirma que o motivo da existência de uma universidade é o desejo, que todo ser humano traz consigo, de conhecer a verdade. Assim, a sua missão deve ser “a procura contínua da verdade, a conservação e a comunicação do saber para o bem da sociedade” (KRIEGER, 2011, p. 44). Relembrando grandes desafios atuais, como a promoção da dignidade humana, da justiça, da paz, a proteção da natureza, a busca de uma nova ordem política e econômica, Dom Murilo Krieger afirma que “quem nos pode ajudar nesse trabalho são aqueles homens e mulheres que estudam, pesquisam e vivem inquietos, procurando resposta para os desafios de cada época” (KRIEGER, 2011, p. 45). Nessa mesma perspectiva segue Dom Giancarlo Petrini (2010), professor da UCSal, ao refletir sobre a “A identidade da Universidade Católica e sua contribuição à vida acadêmica e social”, durante o Colóquio “O lugar da Universidade Católica no contexto atual”, que aconteceu na PUC-SP em 2010. Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 23 Encontramo-nos, no início do século XXI, diante de possibilidades jamais vistas de desenvolvimento, quer pelos avanços da ciência e da tecnologia, quer pelo aprimoramento dos recursos humanos, graças ao crescimento do ensino e da pesquisa no Brasil, especialmente em nível de pós-graduação, quer pela possibilidade de uso de recursos naturais antes desconhecidos ou considerados fora do alcance das nossas possibilidades. Estas oportunidades acendem a esperança de superar a pobreza, reduzir as desigualdades e de colocar o Brasil no contexto das grandes potências. Elas nos atribuem novas e maiores responsabilidades para podermos orientar o processo de desenvolvimento para a justiça e a paz, quer no Brasil, quer no contexto da convivência entre diferentes povos. Ao mesmo tempo, não podemos ignorar graves problemas, alguns de âmbito global e outros próprios da nossa realidade brasileira, que lançam desafios inéditos à inteligência humana. A racionalidade moderna, desde a construção da máquina a vapor até o mapeamento do genoma humano, de um lado realiza conquistas deslumbrantes, que parecem concretizar nova etapa da história, vitoriosa sobre limites da natureza e sobre deficiências humanas. De outro lado, especialmente ao longo do século XX, emergem guerras de alcance mundial, experiências totalitárias e regimes ditatoriais, violação dos direitos humanos, desastre ecológico de dimensões planetárias, produção de armas de Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 24 grande poder destrutivo, extensão do comércio de armas e de drogas, além de outros problemas que são compreendidos como sintomas da crise da razão de matriz iluminista e positivista. O desenvolvimento da ciência moderna e a organização social que dele resulta caracterizam-se por um mal- estar bastante difuso . Com efeito, realizou-se um grande desenvolvimento nos domínios das ciências e da técnica, mas o esforço para dominar a natureza e a história acabou conduzindo a razão a servir o poder. Tendo abandonado as exigências elementares como ponto de referência para a sua atividade, restou à razão colocar-se a serviço do poder e do mercado. Alguns pensam que a sociedade moderna entra em crise por um excesso de racionalidade, que tornaria árida a convivência social, devendo-se dar mais espaço ao sentimento para equilibrar a situação. Pelo contrário, a sociedade moderna entra em crise por uma carência da razão, usada segundo o paradigma iluminista/ positivista, que não é mais capaz de dar conta de todos os fatores da realidade, de orientar suas conquistas para responder às exigências humanas. O objetivo do nosso encontro é compreender, diante dessa realidade, que será aprofundada em seguida, que contribuição a Universidade Católica pode dar à sociedade e à cultura, contribuição própria, específica e original que a universidade pode oferecer, tendo em vista sua história e suas peculiaridades que já a colocaram em lugar de destaque em momentos decisivos de nossa história. Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 25 [...] Essas contribuições das universidades foram possíveis graças aum método de usar a razão que não se impunha limites, com efeito, ela podia pensar, para além dos seus limites naturais, o fundamento e o significado de toda a realidade, a origem e a meta última da aventura humana. A razão podia avançar segundo o rigor do método que lhe é próprio, até o limiar do mistério, estabelecendo uma ponte entre a realidade observada e a profundidade de seus significados, acolhendo a revelação como modo de potencializar a razão, dando prosseguimento à sua busca da verdade em direção àquelas realidades que ela não poderia desvendar. [...] Contribuições significativas para uma nova ciência e uma nova cultura só podem florescer como fruto de uma reflexão crítica e sistemática sobre uma nova maneira de viver os diversos aspectos da existência quotidiana e de conviver com os outros. A Universidade pode ser o lugar onde o desafio de despertar a própria humanidade pode ser aceito, para levar a sério as exigências mais profundas do coração que percebemos como desejos (de verdade, liberdade, justiça, realização humana, amar e ser amado). É o lugar onde também se pode começar a usar a razão com audácia, tudo comparando com essas exigências, em busca daquilo que mais corresponde ao nosso coração. É o lugar onde é possível construir com liberdade cada dia e cada hora segundo o ideal de paz e de bem comum que podemos compartilhar. PETRINI, Giancarlo. Mudanças sociais e mudanças familiares. In: PETRINI, G., CAVALCANTI, V. Família sociedade e subjetividade. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 33-34. Alguns autores consideram ainda válidos os ideais da primeira modernidade, outros entendem que se trata de uma etapa histórica já concluída. Para ter uma primeira aproximação do tema ver: TOURAINE, Alaine. Crítica da Modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994. HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1992. SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela Mão de Alice. O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez Ed., 1999. ROUANET, Sergio Paulo. Mal-Estar na Modernidade. São Paulo: Companhia das Letras: 1993. IANNI, Octávio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992. CONNOR, Steven. Cultura Pós-Moderna. Introdução às teorias do contemporâneo. São Paulo: Loyola, 1993. ZYGMUNT, Bauman. Mal-Estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. KAPLAN, E. Ann. O Mal-Estar no Pós-Modernismo. Teorias, práticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. TAYLOR, Charles. Il disagiodellamodernitá. Roma-Bari: Laterza, 2ª Ed. 2002. PETRINI, João Carlos. Pós-Modernidade e Família. Um itinerário de compreensão. Bauru: EDUSC, 2003. PETRINI, João Carlos. Pós-Modernidade e Família. Um itinerário de compreensão. Bauru: EDUSC, 2003. Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 26 O início do percurso acadêmico nos oferece a oportunidade de colocar entre os nossos objetivos, além do aprendizado de uma profissão e a obtenção de um diploma, o cultivo das atitudes indicadas pelos verbos observar, analisar, problematizar, pesquisar, refletir, pensar... Assim, os anos passados na universidade se tornarão uma grande aventura. EM SÍNTESE As universidades surgem por volta do século XII na Europa no contexto de um interesse consistente pela preservação e cultivo do saber. As suas principais características são: a ênfase posta na razão (entendida como capacidade de conhecer a realidade segundo a totalidade dos seus fatores) e o espírito de pesquisa. Inúmeros são os benefícios, em termos de desenvolvimento científico, que este espírito investigativo gerou para a civilização. Além de preparar profissionais e técnicos para usarem o conhecimento adquirido na solução dos diferentes problemas da sociedade, faz parte da missão da universidade estimular nos seus estudantes a capacidade de pensar a realidade, tornando-os sujeitos da produção do conhecimento empenhados no enfrentamento dos desafios da sociedade. Assim, uma formação superior sólida constitui-se como uma síntese de três processos: a transmissão/aquisição do conhecimento (ensino), a produção/ desenvolvimento de novos saberes e a revisão dos existentes (pesquisa) e a promoção do diálogo entre estes conhecimentos e as exigências das pessoas e da sociedade (extensão). A solução dos mais variados problemas das sociedades exige a contribuição do trabalho daqueles homens e mulheres que estudam, pesquisam e vivem inquietos, procurando resposta para os desafios de cada época. Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 27 Enfim, a missão da universidade deve ser a procura contínua da verdade, a conservação e a comunicação do saber para o bem da sociedade. LEITURA COMPLEMENTAR PETRINI, Giancarlo. A identidade da Universidade Católica e sua contribuição à vida acadêmica e social. Disponível em: <http://www. pucsp.br/fecultura/Nova%20pasta/13_a_identidade.pdf> REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, Naomar de. Universidade nova no Brasil. In: SANTOS, Boaventura de S.; ALMEIDA FILHO, Naomar de. A universidade no século XXI: para uma universidade nova. Coimbra: 2008. FORPROEX – Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades públicas brasileiras. Política Nacional de Extensão Universitária. Manaus: 2012. KRIEGER, Murilo S. R. Posse como Grão-Chanceler na Universidade Católica do Salvador. In: ______. Posso entrar? Início do pastoreio de Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 28 Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ na Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Salvador: UCSal, 2011. MARTINS, Lígia Márcia. Ensino-pesquisa-extensão como fundamento metodológico da construção do conhecimento na universidade. São Paulo: Unesp, 2012. Disponível em: <http://www.umcpos.com.br/ centraldoaluno/arquivos/07_03_2014_218/2_-ensino_pesquisa_ extensao.pdf > Acesso em: 20/11/2014. PETRINI, Giancarlo. A identidade da Universidade Católica e sua contribuição à vida acadêmica e social. In: VALENTINI, Vando; RIBEIRO NETO, Francisco Borba; ALVES, José Antônio de Souza (Orgs.). A missão e a identidade da Universidade Católica no mundo atual. São Paulo: EDUC; Núcleo de Fé e Cultura da PUC-SP, 2010. WOODS JR. Thomas E. A Igreja e a universidade. In: ______. Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental. Trad. Élcio Carillo. São Paulo: Quadrante, 2008. GERHARDT, Tatiana Engel; SOUZA, Aline Corrêa de. Aspectos teóricos e conceituais. In: GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (Orgs). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. Unidade 1 > Seção 1 > Universidade: origem e finalidade 29 Seção 2 A Universidade Católica do Salvador Breve Histórico A Universidade Católica do Salvador (UCSal), mantida pela Associação Universitária e Cultural da Bahia, é uma instituição educacional de direito privado, sem fins lucrativos, criada e reconhecida em 1961, como Universidade Livre Equiparada, sendo a segunda Universidade instalada no Estado. A UCSal surgiu em decorrência da preocupação da Igreja Católica com a formação de uma cultura universitária a serviço do desenvolvimento Figura 1: Brasão da UCSal 30 social e econômico da sociedade, inspirada no ideário cristão e num momento em que se travava, no Brasil, a grande polêmica a respeito da Reforma Universitária. A Instituição foi implantada pela justaposição de escolas profissionais, seguindo a tônica dos processos de implantação de universidades no Brasil, sendo estruturada a partir da incorporação e agregação de Escolas e Faculdades existentes na cidade de Salvador4. A sua expansão ocorreu, basicamente, por intermédio do ensino de graduação, da extensão universitária e dos cursos de especialização, como a grande maioria das universidades brasileiras. Dessa forma, os cursos oferecidos pela Instituição, tanto noâmbito da Graduação como da Pós-Graduação, expressam uma concepção coerente com a sua Missão, Vocação e Princípios, uma vez que atendem as necessidades surgidas no seio da sociedade, identificadas a partir dos trabalhos extensionistas e transformadas em programações acadêmico-pedagógicas expressas nos currículos dos cursos e nas ações diretas junto às comunidades. Figura 2: Vista aérea do campus da Lapa 4Escola de Serviço Social (1944), Faculdade Católica de Direito (1956), Faculdade Católica de Filosofia (1952), Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública (1953) e Faculdade de Ciências Econômicas (1960). Estas duas últimas unidades desligaram-se posteriormente da Católica. Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 31 A UCSal desenvolve atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão, próprias de uma Universidade, distribuídas por 05 campi (Palma, Lapa, Garibaldi, Federação e Pituaçu) e procura desenvolver essas atividades de forma conjunta, envolvendo a comunidade – as unidades acadêmicas e administrativas, as entidades representativas do corpo docente (Aducsal), discente (DCE, DA, e CA) e dos funcionários (Assucsal), além dos Conselhos Institucionais: Conselho Universitário (Consun), Conselho de Ensino e Pesquisa (Consep). Mais recentemente, a UCSal verticalizou o seu Projeto Pedagógico na direção da Pós-Graduação Stricto Sensu, criando as bases efetivas para o desenvolvimento acadêmico-científico, por meio da instalação de núcleos temáticos e de programas de apoio à pesquisa, assim como, da implantação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Inicialmente, foram oferecidos cursos de Mestrado Interinstitucional. Em seguida, foram instalados os cursos promovidos pela própria Universidade: o Programa de Pós-graduação em Família na Sociedade Contemporânea (mestrado e doutorado), o Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania e Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social e o Mestrado Profissional em Planejamento Ambiental. Em março de 2009, a UCSal foi avaliada pela Comissão de Avaliação Externa do MEC/INEP, para fins de Renovação de Recredenciamento da Universidade, conforme estabelecido pela legislação vigente. Em Parecer Final a Comissão de Avaliadores foi favorável ao Recredenciamento da Universidade por 10 anos. Ao longo de sua existência e de contínuas realizações, conquistou a credibilidade do alunado, contribuindo para formar mais de 50.000 profissionais das diversas áreas do saber, sempre em conformidade com os princípios que norteiam sua atuação: caráter comunitário e filantrópico, Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 32 revelando forte compromisso social; autonomia universitária; gestão participativa; e, indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão. Missão A UCSal ressalta como valor fundamental a dimensão comunitária que dá sentido à sua missão como universidade e como uma universidade católica, destacando o compromisso com a busca da verdade e com o significado humanístico da vida universitária, ficando assim definida a sua missão: “Contribuir para a transformação da sociedade formando profissionais cidadãos, críticos e comprometidos com solução dos problemas e desafios da realidade social, privilegiando as dimensões ética, social e humana, a inclusão e a produção de conhecimentos científico-tecnológicos.” Graduação BACHARELADO E LICENCIATURA Os cursos de graduação oferecidos pela Católica buscam proporcionar oportunidades para o estudante “aprender a aprender”, construir conhecimentos a partir da reflexão e da crítica para o desenvolvimento do domínio do saber. O Projeto Pedagógico da UCSal está focado nos valores humanos, na relação com a sociedade e com visão mais completa sobre o mundo do trabalho, preparando o aluno para o exercício Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 33 de uma profissão e para intervir na sociedade, interpretando os acontecimentos e apresentando soluções para as questões sociais. A UCSal busca também desenvolver o compromisso com o social, incorporando no seu Projeto Pedagógico o espírito investigativo, para que o aluno seja capaz de integrar a teoria com a prática. Atualmente são oferecidos, entre licenciatura e bacharelado, os seguintes cursos: Teologia, Pedagogia, Direito, Música, Letras, Comunicação, Filosofia, Geografia, História, Serviço Social, Ciências Contábeis, Administração, Enfermagem, Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Ciências Biológicas, Biomedicina, Matemática, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Engenharia Química, Engenharia Mecânica e Engenharia de Software. GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA Os cursos nesta modalidade têm duração média de dois anos e, pela sua conclusão com aproveitamento, é conferido um diploma de Figura 3: Centro de ensino II - campus Pituaçu Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 34 graduação e atribuído o título de tecnólogo, oferecendo a oportunidade àqueles que desejam se inserir mais rapidamente no mercado de trabalho ou aprimorar suas qualificações técnico-profissionais. Conforme o Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia do MEC, os tecnólogos são “profissionais de nível superior com formação para a produção e a inovação científico-tecnológica e para a gestão de processos de produção de bens e serviços”. Por ser uma formação de nível superior, o egresso dos cursos de Graduação Tecnológica está habilitado a cursar pós-graduação - MBA, Mestrado ou Doutorado. Atualmente a UCSal oferece os seguintes cursos de graduação tecnológica: Gastronomia; Logística; Rede de Computadores; Análise e Desenvolvimento de Sistemas; e Gestão de Recursos Humanos. SAIBA MAIS Para conhecer melhor os cursos de graduação oferecidos pela UCSal e as atividades por eles desenvolvidas acesse: www.ucsal.br/graduacao Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 35 Pós-graduação A UCSal é uma Universidade que dispõe de muitas possibilidades para quem deseja continuar estudando depois da graduação. Os seus egressos podem realizar duas formas de forte investimento no incremento de sua formação continuada, tão exigida hoje pela sociedade: I. Nas especializações, chamadas de Lato Sensu, valorizadas pelo mercado de trabalho como diferenciais que os profissionais universitários formados possuem em seus currículos. Muitas empresas e órgãos de governo, inclusive, possuem uma política diferenciada de salário para os graduados que têm especialização e II. No Stricto Sensu, mestrados e doutorados. Para estimular o seu egresso a continuar a investir na sua formação, a UCSal oferece aos mesmos mais de 32 cursos nas áreas de: Direito, Saúde, Educação e Sociedade, Negócios e Exatas. E mais: a Universidade oferece descontos nas mensalidades para os estudantes que se formaram na UCSal, como forma de viabilizar ao nosso estudante a realização de seu Plano de Carreira. Figura 4: Biblioteca do campus da Garibaldi Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 36 Mas para aqueles que quiserem, de fato, se tornar mestres e doutores, a UCSal oferece 110 vagas anuais de formação. Aqui temos 3 Programas de Pós Graduação com 6 Cursos de Mestrado e Doutorado: Família na sociedade contemporânea, que em 2014 fez 10 anos de existência, já formou 200 pesquisadores de alto nível que estão no mercado com performance profissional, reconhecimento e recompensas salariais diferenciadas. São advogados, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, historiadores, teólogos, pedagogos etc, que topam aprofundar, em 2 anos para o mestrado e 4 para o doutorado, investigações que compreendam a família. Com professores/pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, osestudantes são estimulados a enfrentarem as questões de direito de família, saúde da família, psicologia, filosofia, história e sociologia da família etc. Esse Programa é o único de Universidade particular com nota 5 na CAPES/Câmara Interdisciplinar. Políticas sociais e cidadania. O Programa já formou quase 100 mestres e se dedica a compreender as políticas públicas e sociais vinculando-as ao debate da conquista da cidadania em um país carente de formação de gente especializada nessa área para atuar nos órgãos de governo e em instituições que intervêm diretamente na ordem social. Educação, saúde, segurança, sistema de organização familiar são os seus temas prioritários, e os professores vinculados ao Programa se dedicam a familiarizar os pesquisadores a manejar técnicas, conceitos, métodos de compreensão e intervenção da realidade social de nosso país. Planejamento Territorial e ambiental. Com quase 70 mestres e doutores formados, este Programa se especializou em pensar e atuar de forma planejada no espaço urbano, nos meios públicos Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 37 de transporte em cidades complexas, no uso ordenado do solo das cidades, na circulação, nas questões de demografia e de história das cidades. Por isso atrai gente do direito, do meio ambiente, da biologia, da arquitetura e do urbanismo, da geografia, da história, da saúde, etc. Os profissionais que aqui trabalham são nomes relevantes do panorama internacional da área. O interessante é que o aluno de graduação tem várias formas de contato com este mundo especializado dos mestrados e doutorados: pode ser através das aulas de professores que atuam no Stricto Sensu (eles ensinam certas disciplinas obrigatórias e de tópicos especiais nos vários cursos de graduação); podem vir assistir defesas de mestrado e de doutorado, sempre divulgadas no Portal da UCSal, obtendo o certificado de ATIVIDADES COMPLEMENTARES para ver, concretamente, como os estudantes demonstram ter realizado suas investigações; podem ser monitores desses professores que atuam na graduação, sendo certificados para isso; podem participar como voluntários dos Grupos de Pesquisa que TODOS os doutores dos mestrados e doutorados possuem; podem ser pesquisadores juniores voluntários, ou bolsistas do PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica). Vale dizer que, no Programa Ciências sem fronteiras, um dos requisitos para que os estudantes tenham acesso é realizar Iniciação Científica. É um mundo extraordinário que você merece conhecer. Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 38 Uma Universidade Comunitária é isso aí: propõe formação de nível avançado em mestrados e doutorados, atenta às demandas sociais e em sincronia com os cursos de graduação que possui. Tudo isso porque a Universidade Católica se preocupa em formar de verdade. Você pode fazer parte desse time. A casa é sua. Traga sua inteligência e sua energia positiva para fortalecer toda essa sinergia que constrói uma universidade inteiramente nova. Figura 5: Pátio do campus da Federação SAIBA MAIS No site da pós-graduação você poderá encontrar mais informações sobre as atividades desenvolvidas pela UCSal neste âmbito. Acesse: www.ucsal.br/pos-graduacao 39 PESQUISA No processo de institucionalização da pesquisa, ao lado dos princípios éticos inerentes ao desenvolvimento das atividades, a UCSal assume referências básicas que se consolidam como concepção pedagógica para a produção de conhecimento científico: indissociabilidade; autonomia institucional; multirreferencialidade e interdisciplinaridade; articulação institucional. Duas referências se constituem indicadores para definição das áreas de pesquisa a serem institucionalizadas: o comprometimento da ciência com a sociedade e o tratamento interdisciplinar das questões de pesquisa, por se considerar possível, com essa abordagem, compreender de maneira mais inteira os problemas estudados, superando a disciplinaridade do conhecimento e requerendo interrelação entre as Unidades de Ensino. Figura 6: Estudantes da graduação realizando experimentos em laboratório Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 40 SEMANA DE MOBILIZAÇÃO CIENTÍFICA A Semana de Mobilização Científica – SEMOC é uma atividade promovida anualmente pela Universidade Católica do Salvador, organizada e executada democraticamente pelos diversos segmentos que compõem a comunidade acadêmica (professores, alunos e funcionários). Integrando a programação regular de atividades do calendário acadêmico da UCSal, a série SEMOC tem gerado importantes desdobramentos para o fortalecimento da ambiência acadêmica, com repercussões na produção e socialização da pesquisa científica, no intercâmbio de atividades culturais e na articulação intercampi e interinstitucional de docentes, discentes, funcionários e pesquisadores em torno das temáticas selecionadas. A sucessão de temáticas centrais da série SEMOC demonstra um encadeamento lógico e tradutor do mérito privilegiado pela Universidade Católica do Salvador, circunscrito nas preocupações explícitas com as questões sociais e com princípios basilares de cunho universal, articulando-se, dessa forma, com a proposta pedagógica institucional, como também evidencia a tendência de colocar no centro dos debates temas de ampla abrangência, objetivando acolher a multiplicidade de áreas do conhecimento que integram o portfólio acadêmico da UCSal. Em 2014 a XVII SEMOC incluiu dentre os seus principais objetivos: a) contribuir para a difusão e o fortalecimento da diversidade científica no país; b) articular iniciativas de produção do conhecimento nos diversos cursos de graduação e pós-graduação da UCSal; c) promover o intercâmbio científico e cultural entre as Universidades e Centros de Pesquisa do país; d) contribuir para a reflexão sobre o papel da academia na resolução dos desafios que atormentam o cotidiano dos centros urbanos. Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 41 Extensão A UCSal concebe a Extensão como uma prática acadêmica que promove a ação transformadora entre a universidade e a sociedade, desenvolvida de forma articulada com o ensino e a pesquisa. Neste sentido, constitui-se em espaço privilegiado de produção do conhecimento, de aprendizado mútuo e de intervenção, com vistas ao atendimento das demandas sociais. Ao aproximar conhecimento acadêmico e senso comum, universidade e sociedade tornam-se parceiras no processo de ensino e aprendizagem, contribuindo para a formação de jovens empenhados na busca de respostas para os desafios do mundo contemporâneo. O Núcleo de Extensão e Ação Comunitária (NEAC) é o órgão responsável pela coordenação, fomento, articulação e acompanhamento das atividades de Extensão. Tem como atribuição atuar junto às Coordenações de Curso e a outros setores da estrutura acadêmica na implementação de programas, projetos, cursos e serviços voltados para o atendimento de demandas tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa. Além das empresas juniores e dos cursos de curta e média duração, a Extensão da UCSal desenvolve uma série de projetos e ações comunitárias, como: PROGRAMA ECONOMIA DOS SETORES POPULARES / INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES O Programa desenvolve ações de acompanhamento e assessoria a empreendimentos econômicos populares, visando fortalecer as condições necessárias à viabilidade e sustentabilidade dos empreendimentos da Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 42 economia popular solidária. Com ênfase na dimensão do ensino, o “Curso de Extensão em Viabilidade e Sustentabilidade de Empreendimentos Econômicos Populares” tem por objetivocapacitar agentes multiplicadores para utilizar e desenvolver conhecimentos, instrumentos e práticas adequados à sustentabilidade dos empreendimentos econômicos solidários. Em 2009, com o apoio da FINEP e da FAPESB, foi estruturada a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP UCSal), com a finalidade de ampliar o alcance das ações do Programa. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - PREAM Este Programa tem como objetivo promover ações educativas voltadas para disseminar conhecimentos e sensibilizar as pessoas para a importância da participação de cada um na promoção da qualidade ambiental do meio em que vive, buscando consolidar uma postura inspirada na sustentabilidade. As atividades propostas configuram um processo educativo fundamentado na concepção de educação ambiental como uma modalidade de intervenção no mundo, que contribui para formar o cidadão crítico, consciente e proativo. Neste sentido, estimula-se a divulgação do Programa na comunidade acadêmica, especialmente junto aos alunos do Curso de Ciências Biológicas, desenvolvendo as seguintes ações: Projeto de Educação Continuada; Projeto Coleta Seletiva; Projeto Agentes Ambientais; e Projeto Sala Verde. UNIDADE DE ASSISTÊNCIA EM FISIOTERAPIA - UNAFISIO A Unidade de Assistência em Fisioterapia (UNAFISIO), vinculada ao Curso de Fisioterapia da UCSal, é um espaço onde se exercita Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 43 a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão numa perspectiva interdisciplinar, possibilitando a aquisição de habilidades necessárias à realização da práxis dos estudantes do curso de Fisioterapia e Serviço Social. Tem como missão promover a saúde com qualidade e dignidade, através de parceria solidária entre universidade e comunidade. A UNAFISIO presta assistência fisioterapêutica nas disfunções ortopédicas, traumatológicas, reumatológicas, neurológicas e uroginecológicas, buscando integrar sua prática com a elevação da autoestima dos usuários, através de: inclusão social, reconstrução da identidade e autoimagem, aprendizado sobre como lidar com o preconceito, promoção do equilíbrio emocional. CENTRO DE ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO ANIMAL - ECOA O Centro de Ecologia e Conservação Animal (ECOA) desenvolve programas de monitoramento de comunidades animais e vegetais em Figura 7: Atendimento na UNAFISIO Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 44 várias regiões do Estado da Bahia e possui convênios com instituições públicas e privadas, com o objetivo de fortalecer a formação de seus pesquisadores e repassar o conhecimento produzido e os resultados alcançados às comunidades científicas e à sociedade. NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – NPJ Criado em 1999, o NPJ funciona como um importante organismo jurídico e é um campo experimental que possibilita ao estudante da UCSal exercitar sua prática profissional, colocando-o em contato com situações concretas, que se expressam por intermédio da população assistida, requerente de serviços que perpassam a prestação de assistência jurídica gratuita, orientação de ações judiciais e realização de encaminhamentos no âmbito da relação com a sociedade. LABORATÓRIO DE ESTUDOS EM MEIO AMBIENTE – LEMA O Laboratório de Estudos em Meio Ambiente (LEMA) constitui- se em um espaço de pesquisa e extensão universitária, visando auxiliar em investigações relacionadas ao ensino de graduação e pós-graduação. Está equipado para desenvolver análises biológicas, químicas, geoquímicas, microbiológicas, bioquímicas, moleculares e toxicológicas. Atualmente, desenvolve pesquisas no campo da Biotecnologia, relacionadas à microbiologia ambiental, micropropagação de plantas, fisiologia de sementes, expressão gênica, cristalização de proteínas e oligonucleutídeos, dentre outros. LABORATÓRIO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO REITOR EUGÊNIO VEIGA - LEV Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 45 O Laboratório de Conservação e Restauração Reitor Eugênio Veiga (LEV) tem como objetivo dar tratamento ao acervo do arquivo permanente da Cúria Metropolitana de Salvador. Trata-se de uma intervenção em conservação, restauração e tratamento arquivístico da documentação permanente da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, envolvendo atividades de ensino, pesquisa e extensão que propiciam a capacitação teórica e prática de professores, alunos e pesquisadores, sob a responsabilidade de professores dos cursos de História e Teologia da UCSal e vinculada à ACOPAMEC. SAIBA MAIS Para obter mais informações acerca das atividades de extensão desenvolvidas pela UCSal (cursos, projetos, ações comunitárias, empresa júnior etc.) você poderá acessar o site: www.ucsal.br/extensao REFERÊNCIAS UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR. Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI 2011-2015. Salvador, 2011. Portal institucional da UCSAL. Disponível em: <www.ucsal.br> Acesso em: 26/11/2014. Unidade 1 > Seção 2 > A Universidade Católica do Salvador 46 Seção 3 O percurso de estudo na Universidade Uma das novidades do ensino superior é o fato de exigir do estudante uma maior autonomia em relação aos seus estudos. À medida que avança na sua formação o universitário tende a se tornar mais responsável pelo próprio percurso acadêmico, determinando inclusive os temas de estudo, o referencial teórico, os métodos de pesquisa etc. Por isso, para iniciarmos bem a vida acadêmica precisamos refletir um pouco sobre o caminho a percorrer para que o nosso estudo seja proveitoso. Para ajudar nessa reflexão a terceira seção de Iniciação à vida universitária apresentará o texto Método de estudo: uma questão pessoal, de Leonardo Lugaresi. 47 Método de estudo: uma questão pessoal Leonardo Lugaresi • 1. Acolher a realidade A universidade e o estudo fazem parte da nossa realidade. São um dado de fato, existem. Ora, diante da realidade, nós só temos uma alternativa: ou estamos passivos diante dela ou a acolhemos (que a realidade possa ser negada é somente uma ilusão perigosa). Estar passivos diante da realidade, no caso do estudo universitário, significa entender e praticar o estudo como uma espécie de mecanismo de transferência de alguns conteúdos de um lugar para outro. A maneira com a qual muitas vezes estudamos na universidade parece muito com a transferência de um conjunto de objetos de um espaço, o espaço gráfico do livro, para um outro espaço, o da mente do estudante, onde esses objetos transitam, para, no devido tempo, serem transferidos para um novo espaço gráfico de uma tarefa. A maior parte se perde na “terra de ninguém” daquilo que nós uma vez aprendemos e agora não lembramos mais. Nesse tipo de movimento, a mente e o coração da pessoa são implicados muito superficialmente. É como encher uma banheira de água: depois que nós destampamos a saída, a banheira fica úmida por um tempo e depois não fica resto algum de água. É evidente que estamos exagerando, mas não estamos muito longe da verdade. “Acolher” a realidade significa “assumi-la”, comprometer- se, envolver-se com ela, deixá-la entrar e, sobretudo, deixar que ela modifique o nosso espaço interior (uma coisa depositada num quarto não modifica o quarto, mas uma semente plantada no Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 48 chão o modifica). É esta a necessária passividade que está no início de cada atividade verdadeira, é este interesse que torna cada atividade nossa, inclusive o estudo, autenticamente humana. A realidade nos interessa, tem a ver conosco, toca-nos no fundo. • 2. Interesse A primeira, fundamental (e talvez única) questão é, então, se a realidade nos interessa. A primeira palavra sobre a qual meditar, para aprender a estudar, é a palavra interesse. Olhe que nãolhes falo, em primeira instância, de técnicas, de macetes, de métodos particulares para tornar o estudo eficaz. Para isso existem manuais, alguns até bons, mas nós temos que nos lembrar que “as verdades mais preciosas não são aquelas que se descobrem por último; mas as verdades mais preciosas são os métodos” (Nietzsche). Se ficarmos em Figura 1: Eugène Burnand, Os discípulos Pedro e João correndo ao sepulcro na manhã do Ressurreição, 1898. Paris, Musée d’Orsay Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 49 uma posição verdadeira e perseverarmos no trabalho, os métodos, nós vamos descobri-los e iremos segui-los sozinhos. O ponto é que não parece nada óbvio que a realidade nos interesse. Quando criança era diferente, mas agora... A falta de apetite diante da vida é uma característica das nossas gerações; basta pensar em como respondemos banalmente às perguntas, muitas vezes colocadas banalmente, do tipo: “Como vai?”, “O que você fez hoje?”, “O que te aconteceu na sala de aula?” etc.; o nosso formulário de conversa cotidiana é espelho de uma alarmante indiferença diante da possibilidade de que a vida seja cheia de evento. Assim, desabituados ao interesse pela realidade, nós ficamos espantados quando acontece algo grande. Mas se não nos interessa (no sentido forte do termo, não naquele que normalmente usamos), com podemos pensar em estudar? É perfeitamente inútil que eu pense em estudar, mas é também inútil que eu pense em viver. Então, perguntemo-nos (e é o primeiro “exercício” que proponho): · o que nos interessa? · que relação existe, ou pode existir, entre aquilo que me interessa e a circunstância, aquilo que tenho que estudar na universidade? • 3. Amizade, escolha, perseverança Mas nós estamos aqui para nos ajudar e, então, além destas duas perguntas, que requerem um trabalho pessoal e contínuo, no tempo, para chegar a uma resposta qualquer, vamos nos fazer uma terceira pergunta à qual procuraremos responder juntos: como se faz para suscitar e deixar vivo um interesse para com a realidade? Como Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 50 se faz para retomar continuamente a vontade de conhecer e, então, de estudar? • 3.1. A nossa amizade O primeiro e mais poderoso meio é a nossa amizade, com a condição que seja verdadeira e, então, que queira investir toda a vida. Poderá parecer estranho que eu indique, como primeiro elemento de um bom método de estudo, a nossa amizade, com efeito, esta é uma sugestão que vocês não vão encontrar nos manuais. Mas a amizade é o paradigma do interesse pela realidade. Estando aqui todos juntos, é quase impossível que estejamos todos adormecidos, obtusos, mecânicos em perceber os estímulos que nos vêm da realidade. Deve haver alguém acordado e apaixonado, e talvez agora esteja escutando com inteligência estas perguntas, mil ideias... Tem sempre pelo menos um que está mais aberto do que os outros, talvez aberto para um aspecto só do real. O ponto é que ele acorde os outros e diga “olhe aqui, veja lá como é importante esta coisa, preste atenção para a outra...”. Depois, quando acontecer dele ficar adormecido (porque a vigilância para nós é cansativa, e não somos capazes de ficar atentos por muito tempo), vem um outro para chamar a atenção dele. Esta me parece a imagem mais bela possível da amizade como relacionamento educativo e de ficar juntos na universidade como companhia (as primeiras escolas universitárias da Idade Média eram chamadas de comitivae – companhia – e é um nome belíssimo, que procuramos retomar). Acordar de novo a mente e o coração do discípulo para o relacionamento com a realidade, ativar a inteligência e a afetividade do discípulo através do ensinamento (isto é, através dos “sinais”) é a missão fascinante e difícil do mestre. Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 51 Estão em amizade conosco, neste sentido, também certos autores, certos livros, às vezes uma música, um filme que nós assistimos... Podemos ser ajudados a aprender por todas as coisas. Regra prática: não segure nada para você: doe tudo aquilo que descobrir. Se existe uma coisa, mesmo pequena, que te marcou e por um instante te devolve interesse e vida, comunique-a e proponha-a para os outros. Neste esforço de você também ser mestre, vai aprender a aprender. • 3.2. Escolha Naquilo que acabo de dizer tem o início da segunda indicação do método: escolher, isto é, “diligere”, amar algo. A gente ama só aquilo que a gente escolhe. Para aprender a amar (e por isso também a estudar) é preciso escolher. A ideia de um amor genericamente voltado para toda humanidade é uma armadilha. Como diz uma personagem de Dostoievsky: “Eu amo a humanidade, e fico maravilhado comigo mesmo: quanto mais amo a humanidade em geral, tanto menos amo os homens em particular, isto é, tomados separadamente como indivíduos... Para os homens talvez eu teria subido na cruz, se isso 52 tivesse sido necessário, mas por enquanto não estou em condições de habitar com ninguém por dois dias no mesmo quarto”. Mas escolher não significa buscar de forma pirracenta algo que pode resolver o nosso caso; escolher quer dizer reconhecer aquele ponto no qual a vida nos pergunta. Regra prática: comece pelo ponto que lhe interessa, que lhe marcou, que talvez lhe tenha irritado. Não se descuide dele, mesmo que lhe pareça pequeno e secundário; procure não deixar aquele início de interesse que a vida lhe oferece. A grande tentação, na vida moral e intelectual, é aquela de passar por cima das intuições mais verdadeiras com o pretexto de não ter tempo, que temos mil coisas para fazer (e, verdadeiramente, também nisso a organização da universidade de hoje, com a sua obsessão pela quantidade, não ajuda muito). Se nós fizermos assim, o nosso horizonte, antes ou depois, se alarga, e começa-se a dar o passo para aquilo que nos interessa para aquilo que antes não nos interessava: não é uma coisa forçada, porque na realidade somos capazes de segurar tudo e é impossível se ocupar seriamente de algo e não perceber os mil laços que unem essas coisas com o resto da criação. Qual é a meta desse caminho? Tornarmo-nos Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 53 homens aos quais interessa tudo: pessoas que talvez possam sofrer – porque diante deste desejo as possibilidades humanas são infinitas – mas certamente pessoas que nunca ficam entediadas. A vida, assim, sempre tem gosto. Este “dilectio” (escolher) além de ser um critério para cultivar um interesse, torna-se uma estratégia de aproximação da matéria do estudo. Também na universidade, a apresentação dos assuntos nunca deveria ser extensiva – isto é, preocupada em alcançar uma presumida universalidade e, por isso, inevitavelmente, chata e uniforme, como uma carta geográfica – mas na tensão a evidenciar os nervos, os nós, os pontos vitais, os relevos e as depressões, como num material plástico: este esqueleto pode ser completado depois, adquirindo-se pacientemente noções e dados. • 3.3. Perseverar Terceira conclusão: perseverar. Isto é, confiar, ter paciência e estar dispostos a pagar um preço. Tem que se acreditar que um certo empenho, uma certa fadiga, um certo tempo gasto seguindo a palavra de quem guia, é necessário para que nasça em nós o gosto por aquilo que estamos fazendo. Quase nada daquilo que é verdadeiramente importante é imediatamente “gostoso”: o que fica por fora nem imagina os prazeres que certas coisas dão àquele que está seriamente empenhado na experiência daquelas coisas. Isto vale para as coisas pequenas (por exemplo, penso no rico leque de sensações e pensamentos de um filatélico diante daquilo que, para mim, é só um pedacinho de papel que tenho que pregar num envelope), mas muito maisvale para as coisas grandes. Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 54 Porém, nós precisamos pelo menos ter a direção do nosso empenho. É o problema da consciência do sentido da nossa fadiga: eu posso estudar “diligentemente” (isto é, com “dilectio”) o solfejo enquanto estou apaixonado pela música. Regra prática: perguntar sempre por que são feitas as coisas. A famosa pergunta “de que me adianta estudar o latim” é, por um lado, mal colocada porque não se trata somente de um problema de utilidade prática, “isso serve e aquilo não serve”. Por outro lado, é justa na sua gênese como pergunta sobre o sentido de uma matéria. Atenção, porém: é preciso também ter a humildade para aceitar e tomar como hipótese de trabalho uma resposta que na hora não nos convence ou não entendemos. Talvez se possa tornar a colocar a questão um pouco depois, se a verificação não nos satisfaz. • 4. Maravilha e Pergunta Que tipo de inteligência da realidade gera em nós o interesse, quando ele está bem rico? • 4.1. Capacidade de se maravilhar. Antes de mais nada, a capacidade de se maravilhar. “Maravilhar- se” pelas coisas significa vê-las verdadeiramente. Vê-las como pela primeira vez, no milagre da existência delas e da forma que lhes é própria: as coisas existem e são assim, ao passo que poderiam não existir ou existir de uma forma completamente diferente. Somente no reconhecimento desta “evidência” existe um verdadeiro e fecundo conhecimento. Permitam-me uma lembrança pessoal. Quando minha mulher estava grávida do nosso primeiro filho acompanhei-a para Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 55 fazer a primeira ultrassonografia. A um certo ponto apareceu na tela do aparelho o perfil do rosto de uma criança, com uma expressão que – eu juraria – era já aquela que ele tem agora. Bem, naquele momento de forte emoção eu media a distância que separa um tipo de conhecimento do outro: eu já sabia antes que a criança estava ali, acreditava na existência dela e já lhe queria bem, mas não era a mesma coisa. Somente naquele momento a reconhecia. Não sei como dizer melhor e confio na intuição de vocês; aquele conhecimento tinha um peso completamente diferente. Este olhar que contempla e conhece “seriamente” as coisas é a mais alta imitação que o homem pode fazer do olhar criador de Deus (“E Deus viu que cada coisa era boa”). Os artistas e, às vezes, os filósofos, possuem este olhar, e justamente por isso nós os chamamos de “poetas”, isto é, criadores, embora seja uma analogia pálida do Criador. Mas este olhar, sob o qual nada é óbvio, pode ser também o nosso e então na nossa expressão – mesmo que não nos seja dado Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 56 alcançar a perfeição da forma – os nossos pensamentos e as nossas palavras terão uma pureza de acento que não pode deixar de ser percebida. Não se trata de uma retórica bem articulada: quem fala daquilo que “conhece” verdadeiramente tem um acento inconfundível de verdade nas suas palavras, embora sejam simples e modestas: “fique com a realidade, as palavras vão chegar” (Catão). • 4.2. Capacidade de fazer perguntas O segundo aspecto é a capacidade de colocar perguntas. O maravilhar-se do qual estamos falando não é inércia, não é o assombro de quem está boquiaberto e depois sacode os ombros e retoma o Figura 2: Platão e Aristóteles ou A filosofia, de Luca della Robbia Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 57 caminho de sempre: a admiração gera um movimento cuja primeira forma é a pergunta. Cada qual formula a pergunta como pode, no início talvez seja só um balbuciar, poderá parecer uma divagação que não tem nada a ver, mas é um passo que educa e aproxima da verdade. E por que acontece assim? Talvez seja porque a realidade que vem ao encontro do nosso olhar sempre excede a nossa medida. A realidade contém sempre um início que ultrapassa a nossa espera e a nossa reação e nos convida a ir além. Volto ainda para uma experiência pessoal: lembro-me que há uns quinze anos estava num acampamento em Macunhaga, aos pés do Monte Rosa. De lá, a vista do Monte Rosa é uma coisa estupenda. Depois dos primeiros cinco ou seis dias de neblina e de nevoeiro que fechavam a montanha como uma capa, o céu se abriu e chegou um dia muito límpido. Eu tinha saído sozinho e, deitado num prado, olhava para aquele espetáculo, procurando beber dele até o fundo, quase para me tornar uma coisa só com aquilo que meus olhos viam. O que eu me lembro distintamente depois de quinze anos, é de uma sensação de sutil e persistente dor que acompanhava aquela contemplação e a tornava cheia de melancolia: eu sentia que, por mais que olhasse não podia só olhar, eu sentia que entre a duração Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 58 do monte e da geleira e a minha havia uma desproporção, sentia os meus olhos de cego tão inferiores à necessidade... Quantas perguntas coloquei naquele me maravilhar! Aqui também a regra prática é simples, quase pleonástica: perguntar sempre. Certamente não é um convite para provocar a qualquer custo perguntas artificiosas ou forçadas, mas para não deixar de expressar nenhuma pergunta. Nenhuma pergunta sincera é desprezível: lembrem, além do mais, que um professor inteligente sabe avaliar não somente as respostas que vocês sabem dar às suas perguntas, mas também as perguntas que vocês sabem colocar. • 5. Um percurso em cinco palavras Aquilo que nós estamos dizendo até agora identifica, mesmo que sumariamente, uma posição do intelecto e do coração. Se existe esta disposição intelectual e moral, já o dissemos no começo, o método entendido como técnica cada um faz sozinho. Todavia, acrescentando as regras práticas que nós sugerimos, podemos indicar um possível percurso cognitivo para ser levado em conta na nossa atividade de estudo, e que poderíamos sintetizar com os cinco verbos seguintes: • 5.1. Recolher Todo conhecimento sai da observação da realidade e da coleta (reparem, esta coleta implica por si uma escolha: confira com o que falamos acima) dos elementos que ela nos fornece. Aqui é necessário introduzir uma breve observação sobre a escrita. Escrever é uma atividade absolutamente necessária para qualquer tipo de estudo (necessária, mas não suficiente). Infelizmente neste caso também a escola não nos acostumou bem, com uma rígida divisão entre provas Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 59 escritas e orais e com o hábito, assimilado pelos estudantes cedo demais, de reservar o exercício da escrita quase exclusivamente para a redação (a redação que se faz na sala de aula ou em casa) e de qualquer forma só para momentos especificamente avaliados pelo professor. Ao invés, é necessário escrever regularmente, todos os dias, como uma fase normal da atividade de estudo. A primeiríssima, elementar forma de escrita é sublinhar e anotar nos livros de texto. Não podem ser nunca operações mecânicas (há quem sublinha tudo, mais por uma espécie de reflexo condicionado ou de tique nervoso do que por um gesto consciente; mas então sublinhar seria a mesma coisa que coçar a cabeça ou colocar os dedos no nariz), mas seletivas, “dirigidas”, pensadas já como o resultado de uma primeira elaboração. A segunda forma elementar de escrita funcional ao estudo é o apontamento. Sobre os apontamentos tomados na sala de aula os estudantes se dividem em dois partidos: há quem tome apontamentos desde o início até o fim da hora e registra tudo, inclusive a tosse e a eventual bobagem falada pelo professor na última aula do dia para acordar a turma que já está desfalecendo. Há outros que pegam a caneta só obrigados com as ameaças mais severas, conservando por todo oresto da aula a imperturbabilidade de um monge budista. De qualquer forma, o apontamento tomado na sala de aula é um momento importantíssimo de aprendizagem, mas tem que constituir a fase terminal de um rapidíssimo, quase instantâneo processo de compreensão e assimilação do quanto foi falado pelo professor e representar já o primeiro grau de formulação pessoal (confira com o que vamos falar daqui a pouco sobre as formulações). Trata-se, então, de uma técnica difícil, que seria preciso ensinar e para a qual é preciso se exercitar. De qualquer forma, é melhor não Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 60 tomar nota de tudo, contudo estar certos de compreender aquilo que conseguimos anotar, mais do que empregar todas as energias para uma impossível corrida atrás do fluxo verbal da aula do professor. Pode ser útil fazer esta proposta: que o professor reserve alguns minutos no finalzinho da aula para a sistematização-integração dos apontamentos tomados durante a explicação. Todavia apontamentos e notas têm que ser tomados também em casa, cada um por sua conta, e deve-se aprender a arquivá-los de modo ordenado e prático. Não é possível agora aprofundar este ponto, entretanto queria frisar que tem que ser recolhidas, e, então, escritas e arquivadas, também observações pessoais, perguntas que esperam resposta, início de reflexões, reações também a alguma coisa extra-escolar, etc. Por tudo isso não podemos absolutamente confiar na memória; ela é fundamental no passo seguinte. • 5.2. Assimilar Significa propriamente “tornar parecido a nós mesmos”, isto é, interiorizar, filtrar através das fibras da humanidade, quase diria Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 61 da nossa carne. A memorização desenvolve aqui um papel essencial, porque consente aquela “inseminação” da palavra ouvida no profundo da nossa alma da qual, com o tempo, pode voltar a aflorar idêntica e diferente ao mesmo tempo, porque já foi feita nossa. As palavras que decoramos vivem dentro de nós, são colocadas no terreno da nossa humanidade interior, e elas vivem “quer vigiemos, quer durmamos”, para brotar no tempo devido. Assim, não se pode estudar verdadeiramente um poeta sem decorar pelo menos um trecho de sua obra; mas poderemos dizer que compreendemos um pensador, se as ideias fundamentais da sua pesquisa não se tornarem para nós familiares também na forma com a qual ele as condensou? E assim poderíamos continuar. É óbvio que, nessa concepção do uso da memória conta muito menos a exatidão fotográfica da reprodução: os antigos, que decoravam muito, quando citavam, muitas vezes eram imprecisos, mudavam as citações, mas isso faz parte da função re-criativa em que a personalidade se forma através da memória. Memória e escrita são, então, complementares e correspondem a funções e necessidades diferentes: trata-se de aprender a usar cada instrumento no modo apropriado e não pedir à memória aquilo que ela não nos pode dar. Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 62 • 5.3. Formular Cada conhecimento, quando é possuído com segurança, assimilado e convenientemente personalizado, pode ser condensado numa fórmula sintética, ou em um conjunto de fórmulas; tende, aliás quase naturalmente, a se recolher numa fórmula compacta e, por assim dizer, lapidada. Não é questão de amor cartesiano pelas ideias claras e distintas: mesmo a incerteza, a perplexidade, o susto diante da complexidade do real, tem uma fórmula própria (ao passo que não a tem a mera confusão mental, aquela “eu sei, mas não sei como dizer”: se você não sabe como dizer quer dizer que você não sabe). Esta capacidade de síntese e de construção formal pode ser considerada como a prova da alcançada maturidade de um pensamento. A ela tem que se tender em cada fase do nosso trabalho, procedendo aos poucos por aproximação e correções sucessivas. Duas regras práticas. A primeira: não considerar com demasiada suficiência aquelas fórmulas específicas que são os dizeres, os lemas, os slogans, os “pensamentos” etc.: repeti-los mecanicamente como substitutivos do esforço intelectual próprio é o máximo da estupidez (é aquela “cultura de pílulas” que se encontra dispensada, hoje também, de muitas “cátedras”, não apenas cátedras universitárias). Estudar bem os provérbios, procurar entender como são feitos, de onde tiram sua força: este é um ótimo exercício. Não saberia indicar um alimento melhor para a inteligência, nesse sentido, do que os pensamentos de Pascal. Segunda: que a pressa, as muitas coisas que a gente tem que fazer, não nos faça deixar de lado o esforço de “procurar as palavras”, de tirá-las mesmo com um trabalho cansativo da nossa mente. Quando vocês elaboram os seus conhecimentos, perguntem- se sempre se sabem formulá-los, eventualmente tentem escrever os Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 63 conhecimentos e depois vejam se é possível dizer melhor (pode-se sempre). Este esforço, com o tempo, será muito bem recompensado: é assim que se aprende a escrever. E aqui, falando de escrita, é preciso fazer uma outra breve digressão. Qual é a característica fundamental da palavra escrita que a diferencia da palavra falada? A palavra falada (a oral, como se diz) tem a ver com o tempo, é uma porção de tempo, e é indissoluvelmente ligada ao sujeito que a pronuncia. Certo, os meios de gravação dilatam este “aqui e agora” na qual o sujeito a pronuncia, mas cada vez que esta palavra é representada é representado o sujeito que a profere. Quando não existe mais o sujeito, não existe mais a palavra. Onde ela está? No espaço mutável da memória de quem a escuta, na qual ela é, variadamente, selecionada, modificada, interpretada, integrada, removida... O que aconteceu com as palavras que eu falei há poucos instantes? A maioria está perdida. Ao passo que a palavra escrita tem a ver com o espaço – aliás, em sentido físico, é uma porção de espaço e permanece no tempo de forma completamente independente do sujeito que a pôs no início. Um texto escrito, se vocês pensam bem, se apresenta antes de mais nada como um espaço organizado de uma certa forma. Teria muito a refletir sobre estas coisas e seria fascinante, mas aqui não é o caso. Vamos nos limitar a ver rapidamente duas ou três consequências práticas que investem diretamente a execução das operações intelectuais das quais estamos falando. 1. O que nós escrevemos torna-se um objeto que está diante de nós. Por isso escrever significa objetivar aquilo que temos dentro e que, antes de ser escrito, faz parte só do sujeito. Assim, por exemplo, Unidade 1 > Seção 3 > O percurso de estudo na Universidade 64 escrevendo dizemos a nós mesmos, tornamo-nos nós em união com os nossos sentimentos e pensamentos, objeto do nosso próprio olhar. Isto, e só isto, permite a análise de si, o confronto, a comparação de si com a realidade. Ninguém pode ver os seus olhos a não ser no espelho. Aqui está a grande possibilidade da escrita de introspecção e de expressão pessoal. 2. A outra consequência diz respeito à maneira de explorar plenamente as características “espaciais” da escrita: trata-se, de fato, de organizar um espaço físico (folha, tela do computador ou aquilo que vocês quiserem) de modo que reproduza de forma melhor, mas, ao mesmo tempo, ordene e esclareça um espaço mental. Explico-me: no espaço da mente, os conceitos coexistem e interagem em uma complexa rede de relacionamentos; ao passo que a oralidade os obriga à linearidade de um sistema que pode emitir um sinal de cada vez. A escrita, então, pode reproduzir (e, insisto, ajudar) o complexo contexto que existe dentro de nossa mente. Então é preciso ter uma atenção extrema para a impostação gráfica, para o “lay-out” da
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