Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
60 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 Unidade II 5 PRINCIPAIS CONCEITOS ECONÔMICOS: dA TEORIA à PRáTICA 5.1 Conceitos gerais Consideremos, genericamente, o campo de observação da Ciência Econômica: ela estuda as atividades econômicas que envolvem o emprego de moeda e a troca entre indivíduos, empresas e governo. Observa o comportamento das empresas que produzem de modo eficiente, reduzindo custos para obter lucros. Aborda, ainda, o comportamento do consumidor, tendo em vista os preços, a renda de que dispõe e a oferta de bens e serviços. De tudo o que foi visto até o momento, podemos proceder a uma conceituação do que vem a ser economia. Para tanto, será utilizada a contribuição do economista Paul Samuelson: Economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias ao longo do tempo e distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos da sociedade. Ela analisa os custos e os benefícios da melhoria das configurações de alocação de recursos (SAMUELSON, 1979, p. 3). Com tal conceito, pode parecer difícil analisar como as questões econômicas se relacionam como nosso dia a dia. Parece-nos ser mais fácil empreender uma análise que tome, a nós, indivíduos, como base. O ponto de partida é pensar na renda que obtemos com nosso trabalho. Trabalhamos e participamos de alguma atividade produtiva e, desse trabalho, recebemos nossa renda que será distribuída entre todas nossas necessidades de consumo. Nosso orçamento particular é composto por renda que é recebida do trabalho e gasta nas mais diversas modalidades de consumo, como pagamento de contas de luz, água, telefone, alimentação, moradia, transporte, lazer, vestuário etc. Após alocar a renda entre todas essas categorias de despesa, ainda pode ter sobrado uma parcela a ser utilizada em consumo para consumo futuro, ou seja, poupança. A todo momento inserimos novas categorias de gastos em nossa cesta de consumo. O que se entende por cesta de consumo? Todos os gastos que um indivíduo efetua para manutenção da vida: vestuário, alimentação, moradia, transporte, saúde, educação e demais gastos. Assim, para cada indivíduo conseguir efetuar todos os seus pagamentos, cada parcela de renda deve ser destinada para cada uma das categorias de gasto. Esse simples raciocínio ilustra o conceito dado por Samuelson, ou seja, a economia estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados. 61 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Nesse exemplo bastante simples – que vale também para a nossa realidade e a de mais uma grande quantidade de brasileiros –, o emprego de recursos escassos é ilustrado por nossa renda, e os usos alternativos, pela nossa cesta de consumo ou por tudo aquilo em que gastamos nossa renda. O mesmo raciocínio pode ser estendido ao caso de uma família que também precisa ser mantida: vestir-se, alimentar-se, morar, locomover-se. Toda família tem uma cesta de consumo que deve ser atendida por meio de uma renda, a renda familiar. Dessa forma, a renda familiar deve ser repartida entre todas as categorias de gastos da família. Cada entrada de dinheiro será chamada de renda; cada saída de dinheiro - quer dizer, os pagamentos efetuados pela família - será denominada despesa. É possível perceber que estamos tratando do orçamento familiar. Se transferirmos a ilustração para uma empresa, a relação se modifica? Não. O que fazem as empresas? Via de regra, produzem mercadorias ou prestam serviços que dão atendimento às necessidades de consumo da sociedade. Para Ferguson (1983), vários livros-textos conceituam produção como a criação de utilidades, em que utilidade significa a capacidade de um bem ou serviço satisfazer a uma necessidade humana. Tendo por princípio que as empresas são agentes maximizadores de resultados, a Teoria da Firma, teoria que estuda as empresas, procura responder como as empresas combinam a utilização dos fatores de produção necessários à criação de coisas úteis e o quanto gastam para produzir bens e serviços. Diante disso, pode-se pensar apenas no caso de uma empresa comercial, comprando mercadorias produzidas por outras empresas e vendendo diretamente aos consumidores, ou ainda em uma prestadora de algum serviço. Quando uma empresa produz certa mercadoria – aparelhos eletrônicos, por exemplo – ela necessita de meios de produção, bens necessários à execução de sua atividade produtiva, e eles devem ser comprados por nossa empresa hipotética. Nesse caso, para poder produzir aparelhos eletrônicos, essa empresa precisa adquirir todos os componentes necessários, além de contratar pessoas para trabalhar diretamente na fabricação. Não só contratação de pessoas para essa função, mas todos os funcionários necessários para a empresa poder pôr em prática sua operação. Além disso, necessita de assistência contábil e jurídica, quando preferir serviços terceirizados. Voltemos à produção. Quando essa empresa adquire os meios de produção, ela tem um custo com a produção, composto pelo preço de cada uma das mercadorias que adquire e as quantidades das mercadorias adquiridas. Portanto, ela tem um custo de produção, uma despesa com sua produção. Mas é certo que as empresas produzem mercadorias para serem vendidas ou prestam serviços para outras pessoas, ou outras empresas. Ao vender o que produz, recebe em troca certa quantia de dinheiro. A essa quantidade de dinheiro daremos o nome de receita de vendas, que nada mais é do que a multiplicação de duas variáveis: o preço da mercadoria e a quantidade de mercadorias vendidas. Então, quando mencionamos as receitas e as despesas empresariais, estamos falando do orçamento empresarial. Percebe-se, então, que estamos tratando de trocas em que as empresas produzem e trocam sua produção por recursos monetários que serão novamente aplicados na produção de mais mercadorias, e assim por diante. Por outro lado, temos as pessoas que trabalham para as empresas, trocando sua força 62 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 de trabalho pelo recebimento de salário também na forma monetária, cujo destino é o consumo de mais mercadorias ou o pagamento de serviços tomados. Conforme Jorge e Moreira (1990, p. 27): [...] qualquer que seja a forma de organização da atividade econômica de uma comunidade, [...] seus objetivos são muito semelhantes: busca-se otimizar a satisfação do indivíduo, de um lado, e, de outro, maximizar a eficiência produtiva. Inicialmente, procuramos conceituar o que vem a ser economia. Agora, estenderemos tal conceituação ao âmbito de uma economia de mercado. Por que economia de mercado? Devido ao evento das trocas. Economia de mercado é, conforme Jorge e Moreira (1990, p. 29), aquele espaço em que: [...] impera a propriedade privada dos bens de produção, ao lado de decisões sobre o que e quanto produzir, fundamentadas no mercado e nos preços. As atividades econômicas são, portanto, dirigidas e controladas unicamente por empresas privadas, que competem entre si. Daí a alcunha de ‘economia de mercado’, porque o mercado éo habitat natural das empresas. Os mesmos exemplos efetuados para o indivíduo, para a família e para a empresa podem ser estendidos às dimensões de qualquer governo, que em qualquer sociedade tem direitos e obrigações. Por obrigações do governo, temos que ele deve prover bens públicos à sociedade, como energia, transporte e saneamento básico. Deve construir escolas, estradas, hospitais, pagar aposentadorias e pensões, além de uma série de obrigações sobre as quais não nos estenderemos neste momento. Ainda, o governo legisla a respeito de questões trabalhistas ou contratuais e também arrecada recursos da população na forma de impostos. Portanto, o governo, por meio de sua arrecadação, aufere uma receita. Para prover bens públicos à sociedade, esse governo também tem custos com tal provisão, ou seja, ele gasta e tem despesa com sua atividade. Tratamos, então, do orçamento do governo, orçamento do setor público, representado por suas receitas e despesas. Da mesma forma que um indivíduo procura organizar da melhor maneira possível seu orçamento particular, as famílias também o fazem, assim como as empresas. Com o governo não será diferente: ele procurará alocar da melhor forma seus recursos disponíveis, diante da grande quantidade de itens de gasto que tem à sua frente. Salvo algumas exceções, não podemos afirmar que nossa família tradicional adquire tudo aquilo de que tem vontade. O mesmo ocorre com as empresas e com os governos. Por que não podemos afirmar isso? Pelo simples fato da escassez. Qual escassez? A escassez de recursos necessários para a aquisição de todas as mercadorias disponíveis ao consumo. Assim, o estudo da escassez é considerado como o problema econômico fundamental. 5.1.1 Problema econômico fundamental Da leitura efetuada do livro de Samuelson (1979), vê-se que a ciência econômica procura estudar e responder a um grande problema: o da escassez de recursos comparado à enorme quantidade de 63 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia mercadorias que cada indivíduo deve consumir. Dessa forma, dá-se um conflito entre necessidades ilimitadas de consumo e recursos disponíveis limitados. Quais são os recursos ou fatores de produção necessários e que a sociedade utiliza para efetuar a produção de bens e serviços? Os recursos produtivos, também denominados fatores de produção, são representados pela terra, pelo trabalho, pelo capital, pela tecnologia e, por fim, mas não menos importante, pela capacidade empresarial. • O fator de produção terra é representado pelas terras destinadas à agricultura e pecuária, ou seja, terras cultiváveis, florestas, minas e outros produtos provenientes da utilização do solo. O trabalho é representado pela mão de obra humana empregada na produção de mercadorias ou na prestação de serviços. • O capital financeiro, ou seja, o dinheiro necessário para dar impulso a qualquer empreendimento industrial, comercial ou de qualquer outro tipo, representa o capital enquanto fator de produção necessário. Também consideramos como capital as máquinas, os equipamentos e as instalações. Assim, o capital assume duas formas: inicialmente a forma monetária e depois a forma física. • Por tecnologia, entendem-se as máquinas e os equipamentos necessários à produção das mais diversas mercadorias. Também chamamos de tecnologia as técnicas de produção utilizadas pelas empresas, ou seja, o know-how relativo à técnica de produção e ao conhecimento científico. • Finalizando as considerações acerca dos fatores de produção, a capacidade empresarial é representada pelas habilidades, competências e ações empresariais necessárias, quer dizer, os frutos do empreendedorismo dos empresários ou daquelas pessoas disponíveis a empreender um novo investimento ou aptas a abrir uma empresa. Observação Repare que todos os fatores listados são utilizados na produção de bens e serviços. Portanto, todo e qualquer tipo de produção depende, em maior ou menor grau, de cada fator. Cada um dos fatores de produção – quando empregados na produção de qualquer mercadoria – deve receber alguma remuneração. Assim, para Nogami e Passos (2003): • à remuneração do fator de produção terra damos o nome de aluguel. • à remuneração do fator de produção trabalho chamaremos salário. • o capital recebe sua remuneração sob a forma de juros. • a tecnologia utilizada na produção de mercadorias recebe a remuneração em forma de direito à propriedade (royalties). • a capacidade empresarial recebe lucros na forma de remuneração. 64 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 Os fatores de produção utilizados na economia são remunerados e a essa remuneração, vista como um todo, damos o nome mais amplo de renda. Portanto, temos que a renda é gerada no fluxo da produção, e o consumo será gerado pelo fluxo de gastos da renda. A renda é gerada a partir do emprego de fatores de produção, e os recebedores da renda efetuam sua devolução por meio do consumo de mercadorias. Assim, é possível perceber a existência de um fluxo entre a renda e a produção. Lembrete Recorde-se de que a questão econômica fundamental reside no problema da produção e da distribuição da produção. Essa é uma investigação bastante importante na ciência econômica. 5.1.2 O fluxo circular da renda e do produto Lembrando também que, para as empresas venderem sua produção, é necessária a existência de consumidores capazes de comprá-la, isso somente será possível se eles tiverem recursos suficientes, aos quais já denominamos como renda. Vejamos então na Figura 7 o modelo esquemático do fluxo circular da renda que representa o funcionamento de uma economia de mercado: Modelo do fluxo circular da renda e do produto Gastos ($) (=PIB) Receitas ($) (=PIB) Bens e serviços comprados Bens e serviços vendidos Terra, capital, trabalho e empreendedorismo Insumos a produção Fluxo de bens e serviços Fluxo de dinheiro Mercado de produtos Famílias Empresas Mercado de fatores de produção Renda ($) (=PIB) Salários, aluguéis, juros e lucros ($) (=PIB) Figura 7 – Fluxo circular de renda. 65 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Esse fluxo circular de renda, ainda que de maneira bastante simplificada, representa o funcionamento de uma economia de mercado. Para Hubbard e O’Brien (2010, p. 106), esse modelo: [...] deixa de fora o importante papel do governo na compra de bens das empresas e na realização de pagamentos, como os de seguridade social ou seguro-desemprego, para as famílias. A figura também deixa de fora o papel exercido pelos bancos, pelos mercados de ações e de títulos de dívida e por outras partes do sistema financeiro, que é o de ajudar o fluxo de fundos dos credores para os mutuários. A figura também não mostra que alguns bens e serviços comprados são produzidos em países estrangeiros e que alguns bens e serviços produzidos por empresas domésticas são vendidos para famílias estrangeiras. Outra observação que se faz acerca do modelo é que ele pressupõe uma economia entre dois setores, ou seja, considerando somente o relacionamento de empresas e famílias. Essa é uma simplificação que deve ser levada em consideração, já que, conforme afirmaSchwarz (2009, p. 41): A economia deve ser vista como um sistema aberto, embutido na sociedade e no ambiente natural, que depende, para seu funcionamento e evolução, da existência não só de um quadro organizacional, como de fluxos permanentes de materiais, de energia e de informação: matérias-primas, combustíveis fósseis, água, ar etc. são por ela capturados, depois transformados em bens e serviços aptos a satisfazerem as necessidades humanas e, por fim, devolvidos à origem na forma de resíduos sólidos, líquidos e gasosos19. Voltando ao nosso modelo simplificado, temos que as empresas são representadas por todos os produtores ou vendedores de mercadorias, e as famílias representam os consumidores. Como consomem os bens e serviços que são destinados pelas empresas, as famílias também destinam algo a estas últimas. Nesse caso, elas geram as receitas das empresas, que representam as formas de pagamento dos bens e serviços que são efetuados pelas famílias. Para que as empresas produzam bens e serviços que serão destinados às famílias, necessitam empregar fatores de produção. Elas precisam, então, adquirir terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial, recursos esses que são providos pelas famílias. Estas destinam fatores de produção às empresas e, como estas precisam remunerar a utilização desses fatores de produção, também há a contrapartida: as empresas fazem a remuneração dos fatores de produção que foram destinados às famílias. O total dessa remuneração é denominado renda. Esquematizando: Empresas destinam bens e serviços para o consumo das famílias →→ Famílias geram receitas para as empresas, provenientes do consumo de bens e serviços → Famílias destinam fatores de 19 Disponível em: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-7444200900030000 4&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 14 dez. 2011. 66 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 produção às empresas → Empresas geram receitas para as famílias, provenientes da utilização de fatores de produção. Observação Se você conseguir entender o funcionamento do fluxo circular da renda, saberá como funciona, de forma genérica, a economia de qualquer país. Voltemos ao fluxo circular da renda anteriormente apresentado: na linha interna dele há o destino de bens e serviços das empresas para as famílias, ao mesmo tempo em que existe também o destino de fatores de produção das famílias para as empresas. A essa linha interna chamaremos fluxo real ou fluxo de bens e serviços, conforme ali indicado. Na linha externa há a geração de receitas, por parte das famílias para as empresas, ao mesmo tempo em que há a geração, por parte das empresas, de rendas para as famílias. Esses movimentos são chamados de fluxo monetário ou, simplificadamente, fluxo de dinheiro. Percebemos, então, que o fluxo monetário complementa o fluxo real, sendo válido também o contrário. Nesse fluxo circular da renda, apresentamos o relacionamento monetário e real entre empresas e famílias, considerando as empresas como produtoras e/ou vendedoras e as famílias como consumidoras. Contudo temos que pensar também de outra forma. As empresas, para produzirem suas mercadorias, necessitam, muitas vezes, adquirir bens intermediários ou de capital de outras empresas. Portanto, as empresas, além de serem vendedoras, também são compradoras, empreendendo então um relacionamento entre os fluxos monetários e reais entre elas mesmas. Às famílias, vale outro raciocínio, pois elas também destinam fatores de produção a outras famílias, empreendendo relação tanto monetária quanto real entre si. No fluxo circular da renda, portanto, temos relacionamento empresa-família, empresa-empresa, família-empresa e família- família. No relacionamento empresa-família, as empresas utilizam os fatores de produção das famílias e as remuneram por isso. No relacionamento família-empresa, as famílias utilizam os bens e serviços que são produzidos pelas empresas e as remuneram por isso. No relacionamento empresa-empresa, as empresas adquirem bens e serviços de outras empresas, gerando receitas umas às outras. Por fim, no relacionamento família-família, elas adquirem e destinam seus fatores de produção umas às outras, ensejando fluxos real e monetário entre esses agentes econômicos. Passemos, então, a analisar as formas de organização da sociedade econômica ou, então, a forma em que as sociedades se organizam para poder cumprir o fluxo circular da renda. Já temos, portanto, condições de afirmar que a renda de uma sociedade é limitada diante da quantidade de categorias de consumo que ela enfrenta. Ademais, as empresas sempre procuram criar mercadorias novas, que chamem a atenção de novos consumidores, criando novos hábitos de consumo ou produzindo, de forma diferente, antigas mercadorias. 67 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Veja que ainda estamos tratando do problema econômico fundamental, representado pelo dilema entre recursos limitados e necessidades de consumo ilimitadas. Tal dilema reside em como administrar os recursos escassos de forma a atender às necessidades ilimitadas. Quer dizer, estamos perguntando como responder às seguintes questões: • O que e quanto produzir? • Como produzir? • Para quem produzir? Essas três perguntas básicas, que, à primeira vista, são bastante simples, remetem-nos às noções de recursos escassos e necessidades ilimitadas. Então, podemos dizer que o problema econômico fundamental origina-se da escassez de recursos, objeto de investigação da ciência econômica. Vejamos. Se as empresas precisam produzir mercadorias como uma forma de remunerar o capital que é investido – e isso passa pela venda das mercadorias produzidas –, e se os consumidores precisam, dada sua renda escassa ou limitada, alocar de forma eficiente as suas categorias de despesas, então resta às empresas produzirem mercadorias que são procuradas. Todos os recursos necessários para a produção são escassos, assim como o são os recursos que as famílias têm para dar conta de todas as suas necessidades. Isso significa que a sociedade, como um todo, deve ser capaz de organizar um sistema que assegure a produção de bens e serviços suficientes para a sua sobrevivência. Mais: a sociedade deve ser capaz de ordenar os frutos de sua produção para permitir não só a continuidade da produção, mas também a distribuição do resultado da produção de forma equitativa entre todos os seus membros. Como a procura por recursos para a produção significa a distribuição dos próprios frutos da produção, a tarefa é monumental. Assim, a resolução dos problemas relacionados à produção e à distribuição da produção é traduzida no problema econômico fundamental, que gera as três questões anteriormente apresentadas: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? O que e quanto produzir? Para Nogami e Passos (2003), a questão referente ao que e quanto produzir diz respeito a quais mercadorias devem ser produzidas pelas empresas de um país e em que quantidades. Responder a esse questionamento significa conhecer o tipo de mercadoria que é procurada por uma coletividade e as quantidades dessa mercadoria que são (ou serão) consumidas. É mais importante produzir alimentos ou investir em produção energética? Como produzir? A questão referente a como produzir diz respeito à mobilização de esforços, ou seja, a qual técnica de produção utilizar na produção de determinadasmercadorias. Responder a esse questionamento significa conhecer as tecnologias disponíveis: cada mercadoria possui uma técnica de produção diferenciada das demais. Umas necessitam de maior quantidade de matéria-prima; outras, de maior quantidade de máquinas e equipamentos; outras demandam grande quantidade de mão de obra em seu processo de produção. Imaginemos, por exemplo, a diferença entre os processos de produção de automóveis e daquele pão francês que compramos na padaria mais próxima de nossa casa. Devem ser diferentes. São diferentes. Um utiliza grande quantidade de robô e tecnologia, enquanto o outro é mais intensivo na utilização de mão de obra, trabalho. Afinal, quanto usar de cada recurso disponível, de forma a obter o máximo, evitar desperdícios e ter garantida a sustentabilidade da produção? Deve- 68 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 se preferir usar mão de obra intensiva ou é preferível usar máquinas para aumentar a produtividade (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004)? Para quem produzir? A questão referente a para quem produzir diz respeito às opções políticas que, necessariamente, devem ser feitas. A quem priorizar? A qual segmento da sociedade devemos atender? De todas as demandas feitas por uma sociedade, qual deve ser prioritária e qual deve ser postergada? Quem precisa de mais serviços de saúde: a população dos centros urbanos ou a da periferia? Devemos construir escolas de primeiro ou de segundo grau? Quais são, afinal, as necessidades mais prioritárias e a quem devemos atender primeiro? Dessa forma, o como produzir diz respeito à alocação de esforços: não basta que homens e mulheres sejam postos a trabalhar, eles devem trabalhar nos lugares certos a fim de produzir os bens e serviços de que a sociedade necessita. Assim, além de assegurarem uma quantidade suficientemente grande de esforço social, as instituições econômicas da sociedade devem garantir uma alocação viável desse esforço social. Portanto, a pergunta referente a para quem produzir diz respeito à distribuição do produto (NOGAMI; PASSOS, 2003). Nem sempre a sociedade obtém êxito na alocação adequada de seus esforços. Ela pode produzir carros a mais ou a menos ou dedicar suas necessidades/energias à produção de artigos de luxo, enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de alimentos. Esses fracassos podem afetar o problema da produção de modo tão sério quanto o fracasso em mobilizar uma quantidade adequada de esforços, pois uma sociedade viável deve produzir não apenas bens, mas os bens certos. Não somente deve produzir, mas produzir da maneira correta. Não só atender às necessidades, mas atender àquelas mais urgentes e socialmente prioritárias. O ato de produzir, em si e por si mesmo, não responde aos requisitos para a sobrevivência. Além disso, a sociedade deve distribuir esses bens para que o processo de produção possa ter continuidade. Em outras palavras, se uma sociedade quiser assegurar seu constante reaproveitamento material, deverá distribuir sua produção de modo a manter não só a capacidade, mas também a disposição de se continuar trabalhando. Observação Como continuar produzindo, e cada vez mais, se os estoques de recursos naturais são finitos? Essa se torna uma questão fundamental em economia, e da sua resposta dependemos para traçar as curvas de fronteiras de possibilidades de produção. Vejamos: as necessidades dos indivíduos são renovadas a cada momento e, por isso, ilimitadas. No entanto, os recursos pertencentes a um sistema econômico são escassos, limitados. Portanto, é necessário escolher para ter as respostas àquelas três perguntas básicas: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Nosso problema é de escolha em função da escassez. De acordo com Wessels (2002, p. 11), escassez “significa que não podemos satisfazer todos os nossos desejos. Ela nos obriga a escolher quais necessidades iremos satisfazer e quais não. Mas como fazemos essa escolha?”. 69 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Um instrumento que pode nos auxiliar é representado pela curva de possibilidade de produção (CPP), visto abaixo: E A B D C café milho Figura 8 - Curva de possibilidade de produção Vamos supor, inicialmente, que num sistema econômico exista somente a produção de duas mercadorias: café e milho. As quantidades de café estão representadas no eixo vertical, e as quantidades de milho, no eixo horizontal. Portanto: Y = toneladas de café X = toneladas de milho Essa CPP, também chamada de curva de transformação, mostra as quantidades máximas que podem ser produzidas das duas mercadorias em um sistema econômico, dadas as combinações ótimas entre os seus fatores de produção disponíveis. Dito de outra forma, ao simplificarmos demasiadamente a realidade, estamos supondo que, para a produção de café e de milho, será necessária a utilização de quantidades de fatores de produção e que, nesse caso, todos os recursos disponíveis na economia estarão sendo usados na produção dessas duas mercadorias. Estamos afirmando que todas as quantidades disponíveis de terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial foram destinadas à produção das máximas quantidades de cada uma dessas mercadorias, em atendimento às necessidades de consumo da população. Vejamos o que representa cada um dos pontos marcados. Os pontos A, B e C são as combinações possíveis (e máximas) de produção das duas mercadorias. O ponto B mostra que há produção das duas mercadorias, tanto de café quanto de milho, e o ponto C indica que há produção das duas mercadorias, mas que a produção de uma só pode aumentar em detrimento da produção da outra. A origem dos dois eixos mostra que não há qualquer produção nem de café nem de milho. Dessa forma, se houvesse um ponto situado na origem, ele representaria o total desemprego de recursos. Já o ponto D mostra a capacidade ociosa da economia, pois seria como se por ele passasse uma CPP imaginária, ou seja, um ponto para dentro daquela CPP que representa as quantidades máximas que 70 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 essa economia pode produzir diante da disponibilidade total de fatores de produção. O ponto D indica que há fatores de produção disponíveis que não estão sendo utilizados. Por fim, temos o ponto E, posicionado à direita na CPP. Ele seria alcançado em uma situação de longo prazo, quando fossem aumentadas as quantidades de fatores de produção disponíveis na economia. O ponto E demonstra que houve um deslocamento das possibilidades de produção da economia no sentido de um aumento simultâneo nas quantidades produzidas das duas mercadorias. Vejamos outro exemplo numérico: Pontos Toneladas de milho Toneladas de café A 0 14 B 1 12 C 2 10 D 3 7 E 4 0 Tabela 2 - Possibilidades alternativas de produção de café e milho. A tabela mostra que podemos produzir tanto milho quanto café. Caminhando entre os pontos marcados, teremos que, no ponto A, enquanto essa economia hipotética produz catorze toneladas de café, nenhuma produção de milho é possível, pois todos os fatores de produção (terra, capital, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial) foram empregados para a produção do primeiro. No pontoB, temos uma diminuição na quantidade produzida de café para ocorrer um aumento na quantidade produzida de milho. Nesse caso, a produção de café foi diminuída em duas toneladas para que fosse aumentada uma tonelada na produção de milho. Em C, temos a produção de duas toneladas de milho e dez toneladas de café. Ao passarmos a economia para o ponto D, temos uma nova combinação da produção dessas duas mercadorias. Agora, são três toneladas de milho para a produção de sete toneladas de café. Finalmente, em E, teremos quatro toneladas de milho para nenhuma produção de café, situação contrária à do ponto A, ou seja, em E todos os fatores de produção foram destinados à produção de milho e nenhum para café. Ao olharmos novamente para a tabela anterior, percebemos que, à medida que aumentamos a produção de uma das mercadorias, necessariamente diminuímos a da outra. O que isso quer dizer? Conforme aumentamos a produção de café, deixamos de utilizar fatores para a produção de milho e, portanto, uma menor quantidade de milho deve ser produzida. Dito de outra forma, quando aumentamos a produção de café, mostramos que uma maior quantidade de fatores de produção foram empregados na produção deste e, assim, restam poucos fatores disponíveis à produção de milho. Logo, a produção deste diminui. Ainda sobre a tabela, podemos perceber que, na passagem de A para o ponto B, aumentamos em uma unidade a produção de milho, porém diminuímos em duas toneladas a produção de café. Algo parecido acontece quando a economia passa do ponto B para o ponto C. Agora, para produzir duas 71 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia toneladas de milho, torna-se necessário diminuir em mais duas unidades a produção de café, passando então de uma produção de doze para dez. Continuando a observar os dados da tabela, percebemos que a passagem do ponto C para o ponto D requer sacrificar ainda mais a produção de café para que a produção de milho aumente. A relação agora é que, para poder produzir três toneladas de milho, é necessário diminuir em três toneladas a produção de café. Em E, anula-se a produção de café e todos os fatores de produção disponíveis na economia são destinados à produção de milho. Da CP e da tabela apresentada, chegamos a mais um importante conceito em economia: o de custo de oportunidade. Observação De acordo com Wessels (2002, p. 11), “o custo de qualquer recurso (incluindo dinheiro, tempo, energia e bens) é o valor que os economistas chamam de custo de oportunidade: o valor mais alto daquilo que os mesmos recursos poderiam ter se fossem produzidos em outro lugar”. Assim, o conceito de custo de oportunidade diz respeito às quantidades de uma mercadoria que deixam de ser produzidas para que sejam produzidas maiores quantidades de outra mercadoria. O custo de oportunidade pode ser entendido também como uma taxa de sacrifício: para satisfazer às necessidades de consumo da sociedade por uma maior quantidade de determinada mercadoria, devemos sacrificar essa mesma sociedade com a menor produção de alguma outra mercadoria. Podemos dizer que, quando aumentamos em uma unidade a produção de milho, ou seja, quando passamos a economia do ponto A para o B, sacrificamos a sociedade em duas toneladas de café. Há, portanto, um custo de oportunidade de duas toneladas de café para a produção de uma tonelada de milho. Quando essa economia avança do ponto C para o D, o custo de oportunidade de se produzir milho aumenta. Passa agora a ser de três toneladas de café, ou seja, foram aumentadas as taxas de sacrifício em trocar a produção de café pela de milho. Ainda para Wessels (2002, p. 11): [...] devido à escassez, não podemos fazer tudo o que queremos nem podemos resolver todos os nossos problemas. Em outras palavras, estamos diante de compensações ou, no jargão econômico, de trade-offs. Podemos fazer alguma coisa, mas não outras. O custo de oportunidade é uma medida daquilo que poderia ter sido feito de outra maneira. Ele nos orienta na realização das compensações corretas. 72 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 Podemos ainda conceituar o custo de oportunidade como o que deixamos de produzir de uma mercadoria para que seja aumentada a quantidade produzida de alguma outra. A pergunta que você deve estar se fazendo agora é: como calcular o custo de oportunidade da degradação ambiental? Assim, reencontramos o foco da investigação econômica dirigido ao estudo das instituições humanas dedicadas à produção e distribuição de riqueza. É disso que se ocupa a ciência econômica. Por meio de suas teorias, ela conjuga ideias e definições do objeto a ser investigado, estabelece as condições em que cada uma dessas teorias se sustenta para, a partir de argumentos, dar respostas sobre o comportamento dos objetos de investigação, ou seja, para construir hipóteses sobre o funcionamento da realidade concreta. Lembrete Retomemos, então, o teor do conceito de Samuelson (1979, p. 3): a economia, como ciência, estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados, seja na esfera da produção de bens ou na prestação de serviços. Falta entendermos, finalmente, como todas as relações econômicas são organizadas. Assim, passamos a tratar dos sistemas econômicos. 6 SISTEMAS ECONÔMICOS Estabeleceremos aqui duas formas de organização da atividade econômica: uma descentralizada, predominante nas economias ocidentais, e uma centralizada, personificada no caso cubano (um dos últimos exemplos de economias centralizadas que temos à disposição). A forma descentralizada, também chamada de economia de mercado, reúne três elementos principais: livre iniciativa, presença do Estado e elementos de uma economia capitalista. Vamos examinar detidamente cada um desses elementos. No caso da livre iniciativa, nenhum agente econômico – empresas como produtoras ou vendedoras de mercadorias ou famílias como fornecedoras de fatores de produção e consumidores de mercadorias –, preocupa-se em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preços. Ocupa-se, isso sim, em resolver, isoladamente, seus próprios negócios e sobreviver apenas no ambiente concorrencial imposto pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos finais como na dos fatores de produção. É um jogo econômico, baseado em sinais dados por preços formados nos diversos mercados. Trata- se, no fundo, de um agir egoísta que, no conjunto, resolve inconscientemente os problemas básicos da coletividade. Há uma espécie de mão invisível agindo sobre os mercados, operando como um coordenador das atividades econômicas e sociais. 73 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia A ação conjunta dos indivíduos e das empresas permite que centenas de milhares de mercadorias sejam produzidas como um fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direção central. A livre iniciativa ajuda a responder ao problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? O que e quanto produzir é decidido pela procura dos consumidores no mercado, ou seja, são os consumidores quem dão sinais de mercado às empresas do que elas precisam produzir.Assim, o agente principal nesse processo é o consumidor, pois sua atuação determinará quais produtos serão produzidos. Já a questão de como produzir é determinada pela concorrência entre os produtores e pelo emprego do método de fabricação mais eficiente ou mais barato, em que o produtor mais eficiente derrotará o produtor mais ineficiente. Por fim, a questão para quem produzir será respondida pela oferta e demanda no mercado de fatores de produção, ou seja, pelo montante de renda individual. Voltemos ao fluxo circular da renda anteriormente apresentado. A livre iniciativa opera conforme demonstrado pelo fluxo, ou seja, as famílias dão sinais de mercado às empresas do que elas necessitam consumir e, portanto, sinalizam o que elas devem produzir. Para tanto, as empresas também dão sinais de mercado de que é necessário empregar fatores de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial) e em quais quantidades. Dos sinais de mercado, do que produzir e do quanto empregar de fatores de produção, temos a determinação dos preços das mercadorias e dos fatores de produção. Portanto, a livre iniciativa também pode ser chamada de sistema de preços, ou seja, o fluxo circular da renda (ou o sistema de preços) coordena as decisões de milhões de unidades econômicas. Então, além de o fluxo circular da renda demonstrar os fluxos monetário e real, também evidencia a existência de um mercado de bens e de fatores. Sempre que as empresas destinam bens e serviços às famílias, estamos trabalhando com um mercado de bens, em que serão estabelecidos os preços das mercadorias transacionadas, bem como suas quantidades. E, sempre que as famílias destinam fatores de produção às empresas, estamos trabalhando com um mercado de fatores de produção, no qual são estabelecidos os preços de tais fatores, bem como as quantidades utilizadas pelas empresas. O sistema de preços determina preços e quantidade de equilíbrio, pois os consumidores estabelecem os preços máximos que desejam pagar pelo consumo das mercadorias, ao passo que os produtores estabelecem os preços mínimos que desejam remunerar pela utilização dos fatores de produção. Qual o papel do Estado nesse modelo? No que diz respeito à presença, dadas as imperfeições apresentadas pelo sistema de preços da livre iniciativa, ele surge para regulamentar essas atividades. Com relação aos elementos de uma economia capitalista, esse sistema caracteriza-se por uma organização econômica baseada na propriedade privada dos meios de produção, isto é, dos bens de 74 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 produção ou de capital. Reunir elementos de uma economia capitalista significa aglutinar os elementos que compõem o capitalismo, sistema de capital que se valoriza, que são os seguintes: • capital; • propriedade privada dos meios de produção, dada a existência do capitalista; • divisão do trabalho por meio da especialização do trabalho e da mecanização da produção; • existência da moeda. Revisando o que foi apresentado anteriormente, podemos dizer que vivemos numa sociedade baseada nas trocas, as quais se dão por meio do mercado. Nessa sociedade, o agente busca individualmente solucionar o seu problema econômico por meio das trocas. Para isso, ele racionalmente dá em troca à sociedade – no mercado – o que detém, recebendo em troca – também no mercado – o que necessita e não detém. Ou seja, nessa sociedade, para Smith (1983, p. 50): [...] não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não à sua humanidade, mas à sua autoestima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles. Portanto, nessa sociedade, de forma anárquica – afinal, cada agente cuida de si –, emerge o bem-estar coletivo. Uma vez que cada um cuida de si, vemos que a competição é um fator inerente e determinante numa economia de mercado: todos os agentes se movimentam pelo interesse próprio, fazendo escolhas racionais no intuito de obter mais poder de mercado que os demais agentes e, com isso, minimizar as suas restrições na busca da maximização do seu benefício individual. Quanto à segunda forma de organização da atividade econômica, ou seja, a forma centralizada, quem responde ou decide o problema econômico fundamental –, o que será produzido e quanto, como será produzido e para quem será produzido – é um órgão planejador central. O princípio que norteia essas decisões é o socialista, que prevê que cada um deve contribuir/consumir de acordo com sua capacidade e seu trabalho. A pergunta a ser respondida, agora, é: qual o tipo de sistema da maior parte das economias nos dias de hoje? Dizemos que elas são mistas e que combinam características das economias de mercado e das centralizadas. Para Hubbard e O’Brien (2010, p. 66): [...] uma economia mista ainda é, primordialmente, uma economia de mercado, com a maioria das decisões econômicas sendo resultantes da interação entre compradores e vendedores em mercados, mas em uma economia mista, o governo desempenha um papel significativo na alocação dos recursos. 75 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Finalizando, um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e econômica pela qual está organizada uma sociedade. É um particular sistema de organização da produção, distribuição e consumo de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de vida e bem-estar. Nas economias capitalistas – economia de mercado –, os três problemas básicos – o que e quanto, como e para quem –, são determinados pelos sistemas de preços, ou seja, pela economia de mercado, regida pelas forças de mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos meios de produção. Lembrete Na economia brasileira de nosso tempo, prevalece a economia mista, ou economia de mercado, como organizadora das atividades econômicas. Se falamos da participação do Estado na economia, é importante entendermos como se dá tal participação e quais seus objetivos. 7 POLíTICA ECONÔMICA Entende-se por política econômica a forma com que o governo interfere na economia e na vida dos agentes econômicos. Cada governo, para alcançar seus objetivos, deve ter em mente seu plano. Portanto, a política econômica é adotada em função do planejamento e dos objetivos de cada governo. Tratamos, então, da macroeconomia, que procura estudar, entender e explicar a economia em seu agregado, em seu todo. A preocupação principal da macroeconomia concentra-se na geração de renda em um país, bem como em sua distribuição. Salários, preços, juros, câmbio, renda, comércio, impostos e gastos governamentais, moeda são temas recorrentes na abordagem macroeconômica, além da preocupação com os objetivos do governo, que podem ser resumidos em crescimento e desenvolvimento econômico, estabilidade nos níveis de preços, emprego e distribuição de renda. Para que os objetivos governamentais sejam atingidos, cada governo se utiliza da política econômica, que pode ser do tipo expansionista ou contracionista. Entende-se por política econômica expansionista aquela que dá condições de crescimento de renda, emprego e produção. São medidas adotadas pelo governo que favorecem o crescimento econômico de forma a aumentar as condições de produção, distribuição e consumoda produção. Quanto mais um país produz e consome sua produção, mais esse país pode gerar emprego, ou seja, quanto maior a quantidade de mercadorias que são produzidas em um país, maior quantidade de meios de produção foram utilizados, a exemplo de bens de capital, matéria-prima e mão de obra. Quanto maior o volume de mão de obra utilizada na produção de mercadorias, maior a quantidade de renda, na forma de salários e outras remunerações que são gerados e, dessa forma, maior quantidade de renda pode ser deslocada para aquisição da produção, impulsionando ainda mais produção. Trata- se, então, de um ciclo ascendente em que mais produção gera mais renda e mais renda gera mais produção. 76 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 De modo contrário, políticas contracionistas ou restritivas são utilizadas quando o governo percebe a necessidade de frear o crescimento da renda, da produção e/ou do consumo. Assim, medidas que desfavorecem produção e emprego são adotadas. Mas quais são os tipos de política econômica que podem ser adotados por cada governo para que possa atingir seus objetivos? 7.1 Política monetária Para tratarmos da política monetária, interessante seria tecermos algumas considerações acerca da moeda. 7.1.1 Moeda Inicialmente, vamos refletir sobre o que vem a ser moeda. Ela é um artigo utilizado para efetuar trocas. Dá-se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo designa moedas metálicas e papel moeda, as cédulas que utilizamos. Vamos pensar um pouco. A moeda tem valor? Você, por acaso, já encontrou alguém nas ruas de sua cidade vendendo moedas, vendendo dinheiro? Possivelmente não. Por qual motivo? Antes da resposta, reflita mais um pouco! Qual o valor de uma cédula, nota, de R$ 20,00? Quanto vale uma nota de R$ 100,00? Qual o valor de uma moeda metálica de R$ 1,00? Parece estranho dizer, mas, nas economias modernas, as notas, bem como as moedas, não têm qualquer valor. Representam valor!!! Representar valor significa ter poder aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 representa um poder de compra de cinquenta unidades monetárias. Uma cédula de R$ 10,00 representa um poder de compra de dez unidades monetárias e assim por diante. Esse deve ser o motivo pelo qual não encontramos pessoas nas ruas vendendo moedas, pois qualquer pessoa não aceitaria vender uma nota de R$ 100,00 por um valor mais baixo do que ela vale e também ninguém aceitaria pagar mais do que esse valor pela nota. Podemos pensar que a moeda é uma mercadoria, mas não qualquer uma. Uma mercadoria específica, que reúne a propriedade de ser trocada por qualquer outra mercadoria. Basta ter em mãos cédulas ou moedas metálicas para poder trocar por qualquer artigo que represente exatamente as unidades monetárias incorporadas na moeda. Se tivermos em mãos R$ 80,00, podemos adquirir qualquer mercadoria que tenha um preço idêntico ou menor do que esse valor e que esteja disponível para venda, obviamente. A especial característica que a moeda reúne é a de ser aceita em qualquer situação. Veja um exemplo: seria muito difícil, numa economia moderna, adquirir mercadorias pagando ou trocando por outras mercadorias como à época do escambo. Caso você queira um sapato novo, você não conseguirá trocar no mercado pelo seu trabalho direto. Haveria a necessidade de dupla coincidência de desejos: o seu desejo em ter os sapatos e o do vendedor em utilizar sua força de trabalho. Agora, de posse da moeda, tudo fica mais fácil. Se o vendedor coloca à venda os sapatos que você deseja, basta que você tenha poder de compra, representado pela moeda, e os compre, pagando em moeda. Pronto. Efetuamos uma troca indireta. Moeda por mercadoria, no caso do comprador e mercadoria por moeda, no caso do vendedor. 77 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Observação Se a moeda, então, pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções. Devido ao desenvolvimento da divisão do trabalho que especializou pessoas e empresas enquanto produtores de mercadorias, nas economias modernas há um volume absurdamente grande de mercadorias à disposição da sociedade. Ainda mais, com a divisão do trabalho: os agentes econômicos tornaram-se cada vez mais interdependentes, cada um depende do trabalho do outro ou depende, para seu bem- estar, da produção do outro. Dessa forma, um volume grandioso de trocas indiretas é realizado e, nesse aspecto, a moeda desempenha uma de suas principais funções: ser intermediária de trocas (meio de trocas). A função intermediária de trocas ou, se preferir, meio de troca ou ainda meio de pagamento, permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem depender da coincidência de desejos. Além de servir como intermediária de trocas, a moeda exerce ainda outras duas funções básicas: servir como unidade de conta e também como reserva de valor. A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, a função unidade de conta aparece no valor do salário ali grafado: x unidades monetárias. Num contrato de prestação de serviços, também desempenha sua função unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado, mediante o serviço prestado. Está ainda representada nos preços dos produtos. Uma camisa, por exemplo, que está à disposição numa vitrine de uma loja qualquer. Lá está, possivelmente numa etiqueta, a indicação do valor daquele produto. Tantas unidades monetárias. Lá está, portanto, a moeda exercendo sua função de unidade de conta. Outro nome que pode ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta. A moeda de conta que aparece ou nos contratos ou nos preços dos produtos determina qual o montante de moeda corrente necessário para aquela troca. Uma última função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor. De posse de unidades monetárias, e dada a existência de mercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. Em economias com estabilidade monetária (sem inflação), a moeda consegue exercer tal função, de poder reservar ou preservar seu valor ao longo do tempo. Em períodos de inflação elevada, a erosão dos ativos monetários será uma consequência. Para que a moeda desempenhe suas funções, algumas características particulares devem ser reunidas. Dentre elas estão as econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que para manter moeda seu custo é zero e que transportar moeda também tem custo zero. As outras características da moeda, as físicas, dizem que a moeda deve ser divisível, durável, que apresente dificuldade em falsificação, que exista 78 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 manuseabilidade e que também seja favorecida sua transportabilidade. Somente reunindo características físicas e econômicas a moeda consegue exercer suas funções de intermediária de trocas, unidade de conta e reserva de valor. É necessário efetuar um passeio pela história e conhecer as diversas formas que a moeda assumiu ao longo dos tempos.Desde a antiguidade, os povos utilizam-na para efetuar trocas de mercadorias. Inicialmente, as trocas eram efetuadas de forma direta, pois o homem vivia em pequenas comunidades, nas mais primitivas culturas, em que a economia funcionava à base de escambo. Esse sistema exigia a coincidência de desejos, pois apenas produtos encontravam-se disponíveis para trocas. Conforme Otto Nogami e Carlos Passos, no livro Princípios de economia (2003, p. 446): [...] imaginem um indivíduo que tenha maçãs e queira castanhas. Seria uma coincidência fora do comum encontrar um outro indivíduo que tivesse gostos exatamente opostos, ansioso por vender castanhas e comprar maçãs. Ainda que aconteça o fora do comum, não há garantia de que os desejos das duas partes, no que se refere às quantidades e aos termos de troca exatos, coincidam. Da mesma forma, a menos que um alfaiate faminto encontre um fazendeiro nu que tenha alimentos e o desejo de ter um par de calças, nenhum dos dois pode realizar o negócio. Observação Percebe-se, então, que, com o desenvolvimento da divisão do trabalho e a maior especialização na produção de mercadorias, a prática rudimentar de escambo é dificultada. Nos primórdios, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família e se utilizava da vegetação e da caça disponíveis na região em que habitava. Esses recursos eram os únicos com os quais contava para a sua subsistência. Imagine um agricultor de cenouras, por exemplo. Se ele produz cenouras, o produto de seu trabalho são cenouras. Só que, não só de cenouras vive tal agricultor e sua família. Dependem da produção alheia para sobreviver. Dependem, portanto, da troca de seu excedente pelo excedente de produção de outra pessoa. Suponha que tal agricultor de cenouras precise adquirir carne para sua alimentação. O que ele tem para trocar são cenouras, precisará portanto encontrar no mercado algum produtor que venda carnes e que deseje cenouras em troca. Fácil, não? Não, não é fácil! E o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? Parece realmente não ser fácil. Assim, as sociedades se empenharam para desenvolver um sistema em que um equivalente geral fosse aceito como meio de trocas, iniciando, assim, um sistema de trocas indiretas que passou a ser intermediado por algum bem que representasse aceitação e curso geral. Estamos tratando da Era Mercadoria Moeda ou, simplesmente, Moedas Mercadorias. Foram utilizadas como moedas mercadorias o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos e o sal, dentre outros produtos. 79 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Lembrete Para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, ela deve apresentar as características de durabilidade, divisibilidade e homogeneidade, bem como facilidade no manuseio e transporte, características que não eram reunidas em alguns dos exemplos anteriormente citados, apesar de as moedas-mercadorias terem facilitado um pouco a vida dos agentes. Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando a Era da Moeda Metálica ou do Metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram parte desse período o cobre, o bronze e o ferro. O ouro, em barra, tem um valor incorporado. O mesmo ocorre com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam seu valor ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guardá-las para serem utilizadas em trocas de mercadorias no melhor momento. Apesar de mais se assemelharem às funções e características da moeda, são também mercadorias que, para serem trocadas por outras, dependem da dupla coincidência de desejos. Novamente: e o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? Parece que o ouro e a prata também não foram as melhores alternativas para a moeda, daí que a sociedade caminha para outra forma alternativa: a Era da Moeda-Papel. Conforme Otto Nogami e Carlos Passos (2003, p. 451): a moeda representativa ou moeda-papel veio eliminar, portanto, as dificuldades que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas regiões europeias, facilitando a efetivação de suas operações comerciais e de crédito, especialmente entre as cidades italianas e a região de Frandes. A sua origem está na solução encontrada para que os comerciantes pudessem realizar os seus empreendimentos comerciais. Em vez de partirem carregando a moeda metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como ‘Casas de Custódia’, e onde os comerciantes depositavam as suas moedas metálicas, ou quaisquer outros valores, sob garantia. Tal modalidade de moeda, um papel, um certificado de depósito, desempenhava boa função. Tinha nele incorporado um valor representativo, inicialmente com lastro de 100% e garantia de aceitação, vez que representava ali uma determinada quantidade de valor. Dessa modalidade, a sociedade avança para outro tipo de moeda: A Moeda Fiduciária ou Papel-Moeda. Moeda Fiduciária, de fidúcia, garantia. Para Lopes e Rossetti (2002, p. 33): a experiência de custódia e da conversibilidade mostrou que o lastro metálico integral (de 100%) em relação aos certificados em circulação não era necessário para a operacionalização desse novo sistema monetário. Essa constatação decorreu da percepção de que a reconversão da moeda-papel 80 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao mesmo tempo. Além disso, enquanto uns solicitavam a reconversão, outros ensejavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades de ouro e prata para depósito. Vamos entender melhor isso! As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde alguns agentes depositavam barras de ouro e suas peças de prata e, em troca, recebiam um papel representando aquele valor. Quilos de ouro x preço do ouro = valor do ouro. Valor do ouro depositado = num papel escrito o quanto vale. De posse de tal documento, papel-moeda, exerciam suas trocas comerciais. O recebedor de tal documento possuía agora o direito de ir até a casa de custódia e resgatar o valor ali identificado. Tal reconversão nem sempre era necessária, de forma que grande quantidade de ouro permanecia depositada em tais casas e os “guardiões dos metais preciosos” podiam começar a emitir papéis não mais lastreados (Lopes e Rossetti, 2002, p. 33). Inaugurou-se, então, um período em que a emissão de papel-moeda seria exercida por particulares até que o governo chamasse para si tal responsabilidade. Da modalidade de moeda fiduciária (papel-moeda) até a modalidade da moeda bancária, manual ou escritural, como conhecemos na atualidade, foi questão de tempo. Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar as formas que assume numa economia moderna como a de nossos tempos. Assim, podemos dizer que o montante de moeda que temos a nossa disposição, os meios de pagamento (MP) dividem-se em papel-moeda em poder do público (PMPP) e os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto: MP = PMPP + DVbc Ademais, podemos considerar ser PMPP moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc moeda escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas-correntes). Para que PMPP seja efetivamenteutilizado pela coletividade, o Banco Central, na qualidade de autoridade monetária, precisa emitir moeda, PME, ou seja, Papel Moeda Emitido. Mas nem todo PME converte-se em PMPP, pois o próprio Banco Central retém parte desses recursos. Portanto: Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central (retenção) Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume monetário que o Banco Central injetou. Parte desses recursos os bancos comerciais retêm em encaixe técnico. Assim: Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central – encaixe técnico bancário. Vimos então que a moeda manual é criada pela autoridade monetária e chega às mãos da coletividade via bancos comerciais. Estes últimos são responsáveis pela expansividade dos meios de pagamento pela criação de moeda escritural pelos bancos comerciais a partir do recebimento de 81 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia depósitos à vista. Por meio de uma operação contábil, dá-se a criação de meios de pagamento e tal atividade aparece no balancete do Banco Comercial no qual, a título de exemplo, no lado do passivo são registrados valores de depósitos recebidos, e no lado do ativo são registrados todos os empréstimos concedidos a partir dos recursos recebidos pelos depósitos à vista. 7.1.2 De volta à política monetária Agora temos condições de tratar das questões relacionadas à política monetária. Entende-se por política monetária toda ação tomada pelo Banco Central com relação ao padrão monetário de um país. O Banco Central, considerada autoridade monetária em qualquer país, além de demais funções, tem a função de preservar o valor da moeda ao longo do tempo. É responsável pelo controle direto da liquidez no sistema econômico de determinado país. Para o Banco Central desempenhar suas funções, alguns instrumentos de política monetária podem ser adotados. São eles: - emissão de moeda; - administração da taxa de juros; - coeficiente de recolhimento compulsório; - operação de redesconto; - operação de open market; - seleção do crédito. Saiba mais Entre as principais atribuições de competência do Banco Central do Brasil no Sistema Monetário e Financeiro Nacional, podemos destacar: • fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessárias, as penalidades previstas em lei. Essas penalidades podem ir desde uma simples advertência aos administradores até a intervenção para saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição; • conceder autorização às instituições financeiras, no que se refere ao funcionamento, instalação ou transferências de suas sedes, e aos pedidos de fusão e incorporação; • executar a emissão de moeda e controlar a liquidez do mercado, bem como efetuar as operações de compra e venda de títulos públicos e federais. 82 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 Informações adicionais podem ser adquiridas no site do Banco Central do Brasil: <http://www.bcb.gov.br>. Você encontrará uma infinidade de informações acerca da Instituição, sobre o sistema de metas para inflação, dados estatísticos sobre economia e finanças bem como sobre câmbio e capitais internacionais. Há ainda todo um histórico sobre as moedas brasileiras. Vale a pena consultar. Vejamos as características de cada um dos instrumentos de política monetária. A emissão monetária é a forma primária de controle monetário por parte do governo, pois expande e contrai o volume de moeda disponível na economia de acordo com seus objetivos. Com isso, é possível controlar a liquidez da economia e, por consequência, o multiplicador bancário – capacidade dos bancos comerciais expandirem meios de pagamento -, também é controlado. Entende-se por recolhimento compulsório a reserva legal determinada pelo Banco Central. Trata-se da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos devem manter em caixa ou junto ao Banco Central. Para que entenda melhor: eles são obrigados por lei a repassar ao Banco Central uma parte dos depósitos à vista que a coletividade efetua junto aos bancos comerciais. Assim, o Banco Central regula a liberdade de os bancos comerciais negociarem todo o volume de dinheiro que têm à sua disposição. Assim, o Banco Central exercita sua função de banqueiro dos bancos e salvaguarda os direitos dos correntistas. Da mesma forma que os bancos comerciais são obrigados a repassar parte de seus saldos monetários captados por meio dos depósitos à vista, podem, quando necessário e atendendo a certas exigências, solicitar auxílio ao Banco Central. Para tanto, utilizam-se da operação de redesconto. Com esse instrumento de política monetária, o Banco Central tem o objetivo de auxiliar instituições financeiras em dificuldades monetárias. Tal instrumento é acionado por bancos comerciais que já recorreram ao mercado interbancário, na tentativa de cobrir seus saldos deficitários, e não obtiveram sucesso por motivo justificado. Assim, a última opção seria pedir ajuda, ou cobertura monetária, junto ao Banco Central. Neste aspecto, o Banco Central desempenha outro papel que é o de ser emprestador de última instância. Motivo: quando um banco comercial recorre ao Banco Central para cobrir possível déficit de caixa, faz com que o Banco Central intensifique sua fiscalização naquele banco. O Banco Central emprestará os recursos necessários, mas a taxas de juros punitivas. Outro instrumento de política monetária é a operação de open market ou, se preferir, operação de mercado aberto. É com esse instrumento que o Banco Central efetua leilões de venda e compra de títulos públicos, ou seja, arrecada recursos com a sociedade para efetuar gastos ou simplesmente diminuir liquidez, ou recompra dos títulos vendidos anteriormente. 83 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia Se admitirmos um open market de venda, significa que o Banco Central está vendendo títulos públicos, colocando-os à disposição para a aplicação por parte da sociedade e, dessa forma, retirando moeda de circulação. Esse é um exemplo de política monetária contracionista. De outra forma, será expansionista quando for utilizado um open market de compra. Assim, o Banco Central devolve os recursos tomados emprestados anteriormente. No Brasil atual, o principal instrumento de política monetária utilizado é a administração da taxa de juros. Podemos entender por juros o custo da moeda, do dinheiro. Agentes superavitários de moeda, que têm poupança ou qualquer outra aplicação financeira, recebem juros por deixar seu dinheiro à disposição para uso de outrem. De forma contrária, agentes deficitários de moeda pagam juros quando necessitam de recursos que são de outrem. O juro é uma variável muito importante na economia e, por essa razão, um dos mais importantes instrumentos de política monetária. São trabalhados como taxa de juros. Toda vez que essa taxa sobe, investimentos industriais produtivos são freados, desencorajados, pois, um empresário que toma junto a um banco certa quantia de dinheiro para investir na produção deve levar em consideração o quanto pagará pela tomada de empréstimo e o quanto receberá de lucros pelo investimento produtivo efetuado.Assim, dada uma taxa de juros mais elevada num tempo qualquer, o custo do dinheiro fica também mais elevado. O mesmo ocorrerá com o custo do crédito. Diante uma taxa de juros mais elevada, o crédito ao consumidor também sobe, pois as sociedades de crédito cobrarão um preço mais elevado pelo montante de dinheiro que emprestarão. Resultado: diminuição dos investimentos na produção, conforme o caso do nosso empresário, e também diminuição do consumo por parte de nosso cidadão tomador de crédito. Quando os empresários não investem na produção, e consumidores não adquirem produtos, resulta em queda de produção de mercadorias, do emprego e da geração de renda. A economia entra, então, num processo recessivo, contracionista. Saiba mais Voltamos a sugerir o acesso ao site do Banco Central do Brasil para você poder obter mais informações acerca do uso da política monetária. Procure pelas Atas de Reunião do COPOM – Comitê de Política Monetária. Nelas, você poderá perceber de que forma a política monetária está sendo conduzida no Brasil. Acesse: <http://www.bcb.gov.br>. 7.1.3 Política fiscal A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o orçamento do setor público. Ela define o quanto o governo irá arrecadar e o quanto poderá gastar. O Estado adquire receita via impostos, tributos e taxas, pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os serviços providos pelo governo. 84 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 A arrecadação governamental, chamada de receita do governo, é feita via produção, circulação e consumo de mercadoria, além de movimentações financeiras, renda, entre outros. Entre os principais geradores de renda do governo, citamos como exemplo e de forma genérica: • Receitas provenientes da produção e circulação de mercadorias: - circulação de mercadorias: ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços); - produção industrial: IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). • Receitas provenientes da geração e apropriação da renda: - geração de renda: IR (Imposto de Renda). • Receitas provenientes da propriedade, da acumulação de capital e das relações internacionais: - sobre a propriedade: IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano); - sobre herança: IH (Imposto sobre Herança); - sobre operações financeiras: IOF (Imposto sobre Operações Financeiras); - sobre relações internacionais: II (Imposto sobre Importações). O governo realiza gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela iniciativa privada. Entre estes gastos, estão: • a máquina do governo: manutenção dos serviços básicos e administrativos; • os investimentos: construção de escolas, hospitais, rodovias, entre outros; • a transferência de renda: programas que visam a auxiliar a população de baixa renda. Uma política fiscal é expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando diminui a carga tributária sobre a sociedade, ou seja, quando repassa maior volume de recursos monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume de dinheiro, diminuindo sua arrecadação. Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados: • o descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às receitas e, dessa forma, o governo não consegue formar poupança; • o aumento da inflação, vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, aumentado o consumo e os preços dos produtos; • a redução na credibilidade externa devido ao descontrole orçamentário; 85 Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 PrincíPios Gerais da economia • a redução dos investimentos empresariais, pois o governo assume a liderança de aumentar a demanda agregada via gastos governamentais e produção; • a redução do desemprego por ativar a atividade econômica. E, no caso de uma política fiscal contracionista, as consequências, dentre outras, são: • o equilíbrio nas contas do governo ou o que podemos chamar de superávit orçamentário; • o aumento da credibilidade no exterior devido à austeridade; • a elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança administrativa; • a diminuição das transferências governamentais com relação à sociedade. O governo necessita da política fiscal para poder prover a sociedade de bens públicos. Os bens públicos são aqueles cujo consumo/uso é indivisível. Em outras palavras, o seu consumo por parte de um indivíduo ou de um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Ou seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos mesmo que, eventualmente, alguns mais do que outros. São exemplos de bens públicos bens tangíveis as ruas ou a iluminação pública, e bens intangíveis, a justiça, a segurança pública e a defesa nacional. Ainda: para poder arcar com as funções alocativa, distributiva e estabilizadora, o governo precisa gerar recursos. Como vimos, dentre as diversas fontes de receita, a principal é a arrecadação tributária. A fim de aproximar um sistema tributário do “ideal”, é importante que alguns aspectos principais sejam observados. Um dos princípios da tributação, chamado princípio dos benefícios, diz que as pessoas deveriam pagar os impostos com base nos benefícios que recebem dos serviços do governo. Esse princípio tenta tornar os bens públicos semelhantes aos bens privados, para chegar, por aproximação, ao valor dos bens para o agente que os adquire. Por sua vez, o princípio da capacidade de pagamento versa que os impostos deveriam ser cobrados de acordo com a possibilidade que o agente tem de suportar o imposto. Tal princípio leva a duas noções de equidade: a equidade horizontal que diz que contribuintes com capacidades de pagamento similares devem pagar a mesma quantia; a equidade vertical que afirma que contribuintes com maior capacidade de pagar impostos devem pagar mais impostos. Certamente, a equidade vertical atenderia ao princípio da progressividade. Outro princípio, o da neutralidade, requer que o sistema tributário não provoque uma distorção da alocação de recursos e que, dessa forma, não prejudique a eficiência do sistema. O sistema tributário brasileiro está longe de representar um “Ótimo de Pareto”, ou seja, está longe da eficiência administrativa e da justiça social. Devido à multiplicidade de impostos e alíquotas e à incidência sobre insumos, o efeito final do sistema brasileiro de impostos indiretos sobre os preços 86 Unidade II Re vi sã o: E la in e - Di ag ra m aç ão : L éo - 1 9/ 12 /1 1 - 2a R ev isã o: C ris tin a – Co rr eç ão : V er ôn ic a – 22 /1 2/ 11 também não é muito transparente. Com relação à tributação direta e indireta, algumas considerações devem ser feitas: Impostos indiretos são aqueles cobrados de produtores com relação à produção, venda, compra ou uso de bens e serviços. Frequentemente, impostos indiretos são arrecadados em vários estágios do processo de produção e venda, de forma que seus efeitos sobre os preços pagos pelo consumidor final na cadeia de transações não são claros. O efeito final sobre os preços, diante da tributação indireta, depende não apenas da medida em que os impostos são transferidos para a frente em cada estágio de produção, mas também da estrutura
Compartilhar