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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
CIÊNCIAS NEUROLÓGICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 
 
0800 283 8380 
 
www.portalprominas .com.br 
 
 
 
2
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................ ......................................................... 3 
UNIDADE 2 – FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO ......... ................................... 9 
UNIDADE 3 – BASES ESTRUTURAIS DO SISTEMA NERVOSO .. ........................ 15 
3.1 MENINGES ......................................................................................................... 18 
3.2 MEDULA ESPINHAL .............................................................................................. 18 
3.3 TECIDO NERVOSO .............................................................................................. 19 
3.4 OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS ............................................................................... 20 
3.5 O TRONCO ENCEFÁLICO ...................................................................................... 21 
3.6 O CEREBELO ...................................................................................................... 22 
UNIDADE 4 – OS NEURÔNIOS ............................................................................... 24 
4.1 ESTRUTURA DO NEURÔNIO .................................................................................. 26 
4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS NEURÔNIOS ......................................................................... 27 
4.3 AS SINAPSES - TRANSMISSÃO DO IMPULSO NERVOSO ENTRE CÉLULAS ..................... 29 
UNIDADE 5 - ESPECIALIZAÇÃO E FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS ...................... 31 
UNIDADE 6 – A PLASTICIDADE CEREBRAL/NEURAL E A MEMÓ RIA ............... 36 
6.1 PLASTICIDADE NEURAL ........................................................................................ 36 
6.1.1 Desenvolvimento ....................................................................................... 36 
6.1.2 Aprendizagem ........................................................................................... 36 
6.1.3 Após lesão neural...................................................................................... 38 
6.2 MEMÓRIA ........................................................................................................... 40 
6.2.1 Memória de Longo Prazo ou de Longa Duração ....................................... 41 
6.2.2 Memória de Curto Prazo ou de Curta Duração ......................................... 42 
6.2.3 Perda de Memória ..................................................................................... 42 
6.2.4 Déficit de memória .................................................................................... 44 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 
 
 
 
3
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
Ao longo das últimas décadas, os cientistas, mais especificamente aqueles 
que lidam com as neurociências, têm se debruçados sobre estudos que levem a 
compreender o cérebro e sua impressionante capacidade de receber e filtrar 
informações. 
Neurologia é a especialidade da Medicina que estuda as doenças estruturais 
do Sistema Nervoso Central (composto pelo encéfalo e pela medula espinhal) e do 
Sistema Nervoso Periférico (composto pelos nervos e músculos), bem como de seus 
envoltórios (que são as meninges). 
Doença estrutural significa que há uma lesão identificável em três níveis: 
1. Genético-molecular (mutação do material genético DNA); 
2. Bioquímico (alteração de uma proteína ou enzima responsável pelas reações 
químicas que mantêm as funções dos tecidos, órgãos ou sistemas); ou, 
3. Tecidual (alteração da natureza histológica ou morfológica própria de cada 
tecido, órgão ou sistema). 
Em outras palavras, existe uma alteração neuroanatômica ou 
neurofisiológica que produz manifestações clínicas, as quais devem ser 
interpretadas, portanto, a base do raciocínio da Neurologia Clínica é exatamente o 
exercício de associação dos sintomas e sinais neurológicos apresentados pelo 
paciente (diagnóstico sindrômico) com o tipo de função alterada e com a estrutura 
anatômica a ela associada (diagnóstico anatômico ou topográfico) (REED, 2004). 
Dentre as doenças tratadas pela Neurologia temos: 
� Dores de cabeça (cefaleia); 
� Epilepsia; 
� Distúrbio do sono; 
� Mielopatias; 
� Neuropatias; 
� Doenças vasculares encefálicas; 
� Doenças neuro-degenerativas; 
� Neuro-infecções (meningite, por exemplo). 
 
 
4
 
A Neurologia de maneira geral e as neurociências novas em muito podem 
contribuir para o avanço da inclusão social. Abaixo temos algumas definições 
importantes para compreendermos, ao longo do curso, o desenvolvimento cognitivo 
do ser humano: 
a)Neurociência trata do desenvolvimento químico, estrutural e funcional, 
patológico do sistema nervoso. As pesquisas científicas começaram no início do 
século XIX. Nessa ocasião, os fisiologistas Fristsch e Hitzig relataram que a 
estimulação elétrica de áreas específicas do córtex cerebral de um animal evocava 
movimentos, e os médicos Broca e Wernicke confirmaram, separadamente, por 
necropsia, danos cerebrais localizados em pessoas que tiveram déficits de 
linguagem após algum acidente. 
Em 1890, Cajal, neuroanatomista1, estabeleceu que cada célula nervosa é 
única, distinta e individual. O cientista Sherrington, estudando reações, relatou que 
as células nervosas (neurônios) respondem a estímulos e são conectadas por 
sinapses. 
Em 1970, desenvolveram-se novas técnicas e produção de imagens, 
produzindo com clareza o encéfalo e a medula espinhal em vida, fornecendo 
informações fisiológicas e patológicas nunca antes disponíveis. Dentre as técnicas, 
existem a tomografia computadorizada axial (TCA), a tomografia por emissão de 
pósitrons (PCT) e a ressonância magnética (RM). 
b)Neurociência molecular investiga a química e a física envolvida na função 
neural. Estuda os íons e suas trocas necessárias para que uma célula nervosa 
conduza informações de uma parte do sistema nervoso para a outra. Reduzindo ao 
nível mais fundamental, a sensação, o movimento, a compreensão, o planejamento, 
o relacionamento, a fala e muitas outras funções humanas que dependem de 
alterações químicas e físicas. 
c)Neurociência celular considera as distinções entre os tipos de células no 
sistema nervoso e como funciona cada tipo respectivamente. As investigações com 
os neurônios recebem e transmitem informações, e os papéis das células não 
neurais do sistema nervoso são questões ao nível celular. 
 
1 Os neuroanatomistas estudam a estrutura do sistema nervoso, em nível microscópico e 
macroscópico, dissecando o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura. 
 
 
5
 
d)Neurociência de sistemas tem a finalidade de investigar grupos de 
neurônios que executam uma função comum, por meio de circuitos e conexões. 
Como exemplo, têm-se posição e movimento do sistema musculoesquelético para o 
SNC, e o sistema motor, que controla os movimentos. 
e)Neurociência comportamental estuda a interação entre os sistemas que 
influenciam o comportamento, o controle postural, a influência relativa de sensações 
visuais, vestibulares e proprioceptivas no equilíbrio em diferentes condições. 
f)Neurociência cognitiva atua nos estudos do pensamento, da 
aprendizagem, da memória, do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças 
entre memória para eventos específicos e para a execução de habilidades motoras. 
g)A neurofisiologia estuda as funções do sistema nervoso, utilizando 
eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de áreas 
maiores do cérebro. Muitas vezes o neurofisiologista separa as conexões nervosas 
para avaliar seus resultados. 
h)A neuropsicologia estuda as relações entreas funções neurais e 
psicológicas. Para estes especialistas a pergunta chave é: qual área específica do 
cérebro controla ou media as funções psicológicas? Utilizam como método o estudo 
do comportamento ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes 
específicas do cérebro. 
De acordo com os estudos das neurociências, os processos de 
aprendizagem modelam o cérebro através das sinapses produzidas nos/pelos 
neurônios como será visto adiante. 
Eles dissolvem conexões pouco utilizadas ou fortalecem as ativas de uso 
frequente. [...] Até idade avançada, sinapses serão fortalecidas ou enfraquecidas por 
novos estímulos, experiências, pensamentos e ações, o que [...] possibilita aprender 
durante toda a vida (FRIEDRICH; PREISS, 2006, p. 52-53). Sendo assim, ensinar é 
estimular a produção de sinapses, tornar possíveis estímulos intelectuais que 
acionem o cérebro e favoreçam a aprendizagem. 
O caminho que faremos nesta apostila tem como objetivo fornecer as bases 
do conhecimento científico para compreendermos o mecanismo de aprender, uma 
 
 
6
 
vez que o cérebro e o sistema nervoso central são os organizadores dos nossos 
comportamentos. 
Ao prefaciar o livro de Marta Relvas (2010) intitulado “Neurociência e 
Educação”, Luiza Elena L. Ribeiro do Valle foi muito feliz ao dizer que o 
conhecimento é o caminho que pode conduzir cada um ao despertar para o mundo 
exterior a partir da compreensão das próprias características e é assim que 
podemos realizar ideais e projetos. A realização pessoal que se atinge na profissão 
depende de uma busca continuada dos conhecimentos que aperfeiçoam o “fazer” e 
engrandecem o “ser”. Quando as soluções e dúvidas se tornam acessíveis por meio 
de uma linguagem compreensível que traduz o conhecimento e a aplicação dele, 
desfaz-se o abismo entre o professor e o aluno, pontuando com a aceitação, em 
lugar das críticas, dando espaço para um relacionamento mais verdadeiro e para o 
desenvolvimento de potencialidades. 
Existem princípios da neurociência que estabelecem as relações entre como 
o cérebro aprende e as estratégias que podem ser criadas em sala de aula, a saber: 
� Aprendizagem, memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo 
processo de aprendizagem. A aprendizagem sendo atividade social, os 
alunos precisam de oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranquilo 
encoraja o estudante a expor seus sentimentos e ideias; 
� O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como 
resultado da experiência. Aulas práticas/exercícios físicos com envolvimento 
ativo dos participantes fazem associações entre experiências prévias com o 
entendimento atual; 
� O cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis) para certos tipos de 
aprendizagem, que não se esgotam mesmo na idade adulta. Assim fazem-se 
ajuste de expectativas e padrões de desempenho às características etárias 
específicas dos alunos, usando de unidades temáticas integradoras; 
� O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogênese), mas maior 
densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender. 
Os estudantes precisam sentir-se “detentores” das atividades e temas que 
são relevantes para suas vidas. Atividades pré-selecionadas com 
 
 
7
 
possibilidade de escolha das tarefas aumentam a responsabilidade do aluno 
no seu aprendizado; 
� Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no 
transcurso de nova experiência de aprendizagem. Valem as situações que 
reflitam o contexto da vida real, de forma que a informação nova se “ancore” 
na compreensão anterior; 
� O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e gerar padrões 
quando testa hipóteses. Deve-se promover situações em que se aceite 
tentativas e aproximações ao gerar hipóteses e apresentação de evidências. 
Pode-se fazer uso de resolução de “casos” e simulações; 
� O cérebro responde, devido a herança primitiva, às gravuras, imagens e 
símbolos. Vale propiciar ocasiões para alunos expressarem conhecimento 
através das artes visuais, música e dramatizações (BARTOSZECK; 
BARTOSZECK, 2009). 
Os pesquisadores acima acreditam que mesmo usando rotineiramente tais 
estratégias, as quais atuam nas transformações neurobiológicas que produzem a 
aprendizagem e fixação do conhecimento na estrutura cognitiva da mente, os 
professores em geral desconhecem como o cérebro e o sistema nervoso funcionam 
como um todo na esfera educacional, daí a importância em conhecer mais 
profundamente o seu funcionamento. 
Guerra, Pereira e Lopes (2004, p. 1) já haviam identificado tal 
desconhecimento e necessidade ao inferirem que 
 
educar é promover a aquisição de novos comportamentos. As estratégias 
pedagógicas utilizadas pelo educador no processo ensino-aprendizagem 
são estímulos que levam à reorganização do sistema nervoso em 
desenvolvimento, o que produz as mudanças comportamentais. O educador 
está cotidianamente atuando nas transformações neurobiológicas cerebrais 
que levam à aprendizagem. No entanto, desconhece como o cérebro 
funciona. 
 
Aos que buscam especializar-se em Neuropsicopedagogia, desejamos 
concomitantemente muito estudo, aprofundamento nos conteúdos que se seguem e 
a crença de que cada ser é único, especial e merecedor de nossa atenção. 
 
 
8
 
Ressaltamos também que embora a escrita acadêmica tenha como 
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um 
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados 
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, 
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, 
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma 
redação original. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir 
para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 
 
 
9
 
UNIDADE 2 – FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO 
 
O estudo da evolução humana que também podemos chamar de filogênese 
nos leva a compreender melhor a adaptação sensório-motora dos seres vivos e, por 
consequência, dos sujeitos aprendentes, pois mesmo os mais primitivos dos 
humanos tiveram de se ajustar continuamente ao meio ambiente, que também é 
mutável, para sobreviverem enquanto indivíduo e ainda como espécie (RELVAS, 
2009). 
Para Sarnat (1981 apud RIBAS, 2006), do ponto de vista anatômico, há três 
maneiras básicas de se estudar o sistema nervoso central (SNC). A primeira 
consiste em estudar a simples disposição espacial das suas estruturas já 
desenvolvidas, campo de estudo denominado neuroanatomia; a segunda, em 
estudar o seu desenvolvimento ontogenético; e a terceira, em estudar o seu 
desenvolvimento filogenético – ocorrido ao longo da chamada evolução das 
espécies, o que é feito principalmente através da paleontologia e da anatomia 
comparada. 
Ribas (2006) analisa que para a discussão de considerações de ordem 
anatômica pertinentes a questões comportamentais, paralelamente às relevantes 
contribuições experimentais em animais e às observações clínicas em seres 
humanos, a análise dos conhecimentos existentes sobre a evolução filogenética das 
estruturas nervosas é particularmente útil, uma vez que ela nos possibilita fazer 
especulações sobre o aparecimento, o desenvolvimento e o embricamento dessas 
estruturas e as possíveis características e comportamentos dos seus respectivos 
elementos evolutivos. 
Ao propiciar uma visão progressiva das complexidades nervosa e 
comportamental ao longo da evolução, a análise filogenética também acarreta, a 
cada passo, questionamentos sobre a própria conceituação de termos como 
consciência e psiquismo, entre outros, principalmente por propiciar especulações 
sobre os possíveis paralelos comportamentais existentes entre as diferentesespécies e o próprio ser humano (RIBAS, 2006). 
Em relação ao processo evolutivo, é importante lembrar que este diz 
respeito a mudanças que ocorreram por força de fatores, principalmente ambientais, 
que influenciaram todos os seres vivos, e não através de simples adições terminais 
 
 
10
 
de novas estruturas. Os processos evolutivos têm como principais denominadores 
comuns a adaptação, a expansão da diversidade e o aumento da complexidade. 
Ao longo de milhões de anos, o SNC dos vertebrados se desenvolveu até 
atingir a complexidade do SNC humano, e é particularmente interessante e intrigante 
como o desenvolvimento embrionário e fetal do SNC humano refaz grosseiramente 
este mesmo curso (HAECKE; GOULD, 1977 apud RIBAS, 2006). 
As maiores dificuldades dos estudos filogenéticos evidentemente se devem 
à escassez de informações sobre os elementos já extintos, ao longo tempo 
necessário para observação de quaisquer mudanças evolutivas naturais ou 
experimentais e à veracidade das inferências sugeridas pelos estudos de anatomia 
comparada. O desenvolvimento de técnicas de sequenciamento do DNA 
seguramente propiciará avanços neste campo, dadas as suas possibilidades de 
comparar genomas de diferentes espécies e mesmo de espécies extintas (RIBAS, 
2006). 
As figuras abaixo nos mostram: A) a evolução filogenética no homem em 
comparação a outros animais; B) a evolução embriológica e fetal do SNC no ser 
humano 
 
 
 
 
 
 
11
 
 
 
Fonte: Ribas (2006, p. 334) 
 
São condições fundamentais para que o indivíduo se adapte ao meio 
ambiente: a irritabilidade, a condutibilidade e a contratilidad e. 
Por meio da irritabilidade ou sensibilidade, a célula detecta as modificações 
do meio ambiente. Essa sensibilidade celular causada por um estímulo é conduzida 
à outra parte da célula pela condutibilidade, possibilitando uma resposta a esse 
estímulo. Essa resposta pode ser o encurtamento da célula pela propriedade 
chamada contratilidade que é uma reação que normalmente acontece no sentido de 
fugir a um estímulo nocivo ou para se aproximar de um estímulo agradável 
(mecanismo de defesa, por meio da motricidade). 
Em seres ainda mais complexos (por exemplo, metazoários), as células 
musculares responsáveis pela contratilidade foram ficando na parte mais interior do 
animal. Na superfície, ficaram as células sensórias responsáveis pela identificação 
do estímulo. Essa distância entre as células sensórias e as musculares foi 
compensada pela especialização de células exclusivas para permitir a 
condutibilidade da informação colhida na superfície, levando-as até o interior do ser, 
para que houvesse uma resposta, que pode ser de repulsão ou de aproximação, 
 
 
12
 
dependendo do teor do estímulo. Esses neurônios são células nervosas 
responsáveis por motricidade e sensibilidade do corpo. 
A evolução filogenética providenciou para que essas células especializadas 
em conduzir sinais se agrupassem e formassem um sistema nervoso central. Esse 
sistema de comando conta com neurônios sensitivos ou aferentes, que são 
responsáveis pela coleta de informações oriundas do meio ambiente. Essas 
informações ou sinais são enviados ao centro de comando formado pelo sistema 
nervoso central para que este elabore e retorne uma determinada reação ou 
resposta. Essa resposta é possível graças aos neurônios eferentes ou motores, 
podendo denominar-se motricidade voluntária. 
As respostas podem ser elaboradas e retomadas a partir de qualquer ponto 
do sistema nervoso central, como encéfalo, medula oblonga, tronco encefálico, etc. 
Os reflexos patelares, observados no joelho do homem quando se bate com um 
martelete nessa região, o que provoca o estiramento involuntário da perna para 
frente, é um exemplo de reação a partir da medula oblonga, denominando-se de 
motricidade involuntária. 
Um terceiro tipo de neurônio trouxe um considerável aumento do número de 
sinapses, o que aumentou consideravelmente a complexidade do sistema nervoso. 
Esse neurônio foi denominado de neurônio de associação. Ele associa os diversos 
tipos de informações e elabora as respostas a serem dadas ao estímulo. Seria o 
rudimento da inteligência, capaz de elaborar a compreensão, o raciocínio, a 
linguagem, ainda que primitiva, porém diferenciada dos outros seres vivos. 
O crescimento do número de neurônios de associação aconteceu de forma 
agrupada e em uma das extremidades dos seres vivos, o que seria mais tarde a sua 
cabeça. Durante os deslocamentos, os animais percebiam mais rapidamente as 
mudanças do meio por intermédio desses neurônios agrupados nessa extremidade 
e podiam elaborar respostas mais rápidas, livrando-se de perigos, para encontrar 
alimento, para perpetuar a espécie ou para se manter nos territórios e sobreviver. 
Essa extremidade especializou-se em explorar ambientes e, por isso, foi 
aparelhada com boca, olhos, ouvidos, pele e nariz, enfim, todos os órgãos dos 
sentidos. Em virtude da sua importância, esse agrupamento de neurônios foi 
protegido por um crânio e deu ao homem a capacidade de elaborar tarefas mais 
 
 
13
 
finas, como um simples movimento de pegar o garfo e levá-lo à boca ou segurar um 
lápis e realizar um registro no papel. 
O crescimento gradual do encéfalo observado na escala filogenética atinge 
seu maior grau de complexidade no ser humano. 
Os neurônios de associação situados no encéfalo foram os responsáveis 
pelo surgimento das funções psíquicas superiores. Chegava, assim, ao ápice da 
evolução do sistema nervoso. Daí em diante, o homem foi capaz de sentir, pensar, 
relacionar-se afetiva e emocionalmente, utilizando a motricidade corporal (os 
músculos voluntários e involuntários e as vísceras) como canal de expressão dos 
sentidos (RELVAS, 2009). 
Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que ela tem partes 
situadas dentro do cérebro, da coluna vertebral e outras distribuídas por todo corpo. 
As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central (SNC), e as 
últimas, de sistema nervoso periférico (SNP). 
É no sistema nervoso central que está a grande maioria das células, seus 
prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No sistema nervoso periférico, 
estão relativamente poucas células, mas há um grande número de prolongamentos 
chamados fibras nervosas, agrupadas em filetes alongados chamados nervos. 
É possível dizer que a evolução do sistema nervoso central (SNC) dos 
animais vertebrados se deu na direção do aumento de complexidade, com um 
gradativo e marcante aumento do tamanho cerebral, resultado de um crescente 
número de neurônios e do surgimento progressivo de novas estruturas cerebrais 
(particularmente o córtex cerebral) e de sua expansão. 
O caminho de evolução do SNC percorrido pelo seres humanos se deu em 
direção à crescente intercomunicação entre neurônios, levando ao desenvolvimento 
de novas estruturas neuronais, que nos possibilitam uma mais rica percepção 
consciente do mundo em que vivemos e uma mais efetiva adaptação a diferentes 
ambientes. O processo evolutivo levou (até pela complexidade de suas dimensões e 
potencialidades) à separação de funções entre os nossos hemisférios corticais, 
criando-nos, de um lado, um “cérebro” cognitivo, racional e analítico e, de outro, um 
“cérebro” intuitivo, afetivo e emocional. 
 
 
14
 
Da existência destes dois modos operacionais surge-nos, se soubermos 
integrá-los harmoniosamente, a potencialidade de um processo de consciência 
bastante ampliado e de uma vida mais plena, criativa e amorosa. 
É preciso também notar que o processo de interação entre os neurônios não 
é fixo, mesmo após o nosso desenvolvimento e maturação iniciais. Ao contrário, 
dada a plasticidade entre as conexões sinápticas e à ação variável de substâncias 
transmissoras e moduladoras, o cérebro deve ser entendido como um conjunto de 
sistemas funcionais altamente dinâmicos com amplas potencialidades dereajuste e 
até de recuperação. 
Finalmente é preciso considerar que o homem não é um organismo 
acabado. Seu cérebro continua em constante evolução biológica adequando-se 
sempre a novas circunstâncias, e em busca do equilíbrio (SCHMIDEK; CANTOS, 
2008). 
 
 
15
 
UNIDADE 3 – BASES ESTRUTURAIS DO SISTEMA 
NERVOSO 
 
Dentre os sistemas que compõem o organismo humano, neste estudo, o 
nosso maior interesse está no sistema nervoso, composto pelo sistema nervoso 
central - SNC (encéfalo e medula) e sistema nervoso periférico - SNP. 
São funções essenciais do sistema nervoso: 
• Ajustar o organismo ao ambiente; 
• Perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as 
condições reinantes dentro do próprio corpo; 
• Elaborar respostas que adaptem a essas condições; 
• Função sensorial, integrativa e motora. 
 
O sistema nervoso é um tecido originário de um folheto embrionário 
denominado como ectoderme, mais precisamente de uma área diferenciada deste 
folheto embrionário, a placa neural. Inicialmente, a placa neural contém cerca de 125 
mil células, que vão dar origem a um sistema que é composto por aproximadamente 
100 bilhões de neurônios no futuro. 
A placa neural, aproximadamente na 3ª semana de gestação, se fecha, 
formando um tubo longitudinal (tubo neural) que na sua região rostral ou anterior, 
sofre uma dilatação que dará origem a uma parte fundamental do Sistema Nervoso 
Central, o Encéfalo. Nos pontos de encontro ou fechamento das extremidades da 
placa neural, no recém formado tubo neural, forma-se a crista neural que dá origem 
a componentes que a neuro-anatomia nomina como elementos periféricos e 
componentes celulares gliais. 
 
O Sistema Nervoso pode ser classificado de várias formas, sendo a 
classificação mais comum aquela que o divide em: 
 
 
16
 
a) sistema nervoso central (SNC), aquele que está contido no interior do 
chamado “estojo axial” (canal vertebral e crânio), ou seja, o encéfalo e a medula 
espinhal; 
b) sistema nervoso periférico (SNP), aquele que é encontrado fora deste 
estojo ósseo, que se relaciona com o esqueleto apendicular, sendo os nervos 
(axônios) e gânglios (formações de corpos neuronais ganglionares dispersas em 
regiões do corpo ou mesmo dispostas ao longo da coluna vertebral, como os 
gânglios sensitivos). 
No entanto, também podemos dividir o sistema nervoso funcionalmente em 
somático ou de vida de relação, que lembra o sistema nervoso que atua em todas as 
relações que são percebidas por nossa consciência; e, em visceral ou vegetativo, 
aquele interage de forma inconsciente, no controle e na percepção do meio interno e 
vísceras. Tanto o somático quanto o vegetativo, possuem componentes aferentes 
(sensitivos) e eferentes (motores) (DIAS; SCHNEIDER, 2006). 
 
“Organograma do Sistema Nervoso” 
 
 
O SNC (sistema nervoso central) recebe, analisa e integra informações. É o 
local onde ocorre a tomada de decisões e o envio de ordens. O SNP (sistema 
nervoso periférico) carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema 
nervoso central e do sistema nervoso central para os órgãos efetores (músculos e 
glândulas). O SNC divide-se em encéfalo e medula. O encéfalo corresponde ao 
telencéfalo (hemisférios cerebrais), diencéfalo (tálamo e hipotálamo), cerebelo, e 
 
 
17
 
tronco cefálico (que se divide em: bulbo, situado caudalmente; mesencéfalo, situado 
cranialmente; e, ponte, situada entre ambos). 
Os órgãos do SNC são protegidos por estruturas esqueléticas (caixa 
craniana, protegendo o encéfalo; e coluna vertebral, protegendo a medula - também 
denominada raque) e por membranas denominadas meninges, situadas sob a 
proteção esquelética: dura-máter (a externa), aracnóide (a do meio) e pia-máter (a 
interna). Entre as meninges aracnóide e pia-máter há um espaço preenchido por um 
líquido denominado líquido cefalorraquidiano ou líquor. 
O Sistema Nervoso Central (encéfalo e medula espinhal) está contido em 
um estojo ósseo denominado estojo axial. Este estojo é constituído pelo crânio, que 
abriga o encéfalo e a coluna vertebral, formada por vértebras nos segmentos 
cervical, torácica (ou dorsal) e lombar que contém em sua luz (no canal vertebral ou 
forame vertebral) a medula espinhal, que se entende somente até a primeira 
vértebra lombar. Já na região lombo-sacral o canal vertebral abriga a cauda equina e 
o filum terminale. 
Ilustração do SNC: 
 
A palavra córtex vem do latim para “casca”. Isto porque o córtex é a camada 
mais externa do cérebro. A espessura do córtex cerebral varia de 2 a 6 mm. O lado 
esquerdo e direito do córtex cerebral são ligados por um feixe grosso de fibras 
 
 
18
 
nervosas chamado de corpo caloso. Os lobos são as principais divisões físicas do 
córtex cerebral. O lobo frontal é responsável pelo planejamento consciente e pelo 
controle motor. O lobo temporal tem centros importantes de memória e audição. O 
lobo parietal lida com os sentidos corporal e espacial. o lobo occipital direciona a 
visão. 
 
3.1 Meninges 
O sistema nervoso central é protegido por três envoltórios formados por 
tecido conjuntivo, denominados, como meninges, sendo estas, na ordem do interior 
para o exterior: 
1. Piamáter (Acolada mais intimamente ao sistema nervoso, é impossível de ser 
totalmente removida sem remover consigo o próprio tecido nervoso); 
2. Aracnóide (Situada entre a Pia e Duramáter, é provida de trabéculas que 
permite a circulação do líquor); 
3. Duramáter (Trata-se do envoltório mais externo e mais forte, que em conjunto 
com a Aracnóide é denominada como paquimeninge); 
=>O conjunto, piamáter e aracnóide é denominado leptomeninge. 
 
3.2 Medula espinhal 
Etimologicamente, medula significa miolo e indica tudo o que está dentro. A 
medula espinhal é assim denominada por estar dentro do canal espinhal ou 
vertebral. A medula é uma massa de tecido nervoso alongada e cilindróide, situada 
dentro do canal vertebral, sem ocupá-lo completamente e ligeiramente achatada 
ântero-posteriormente. Tem calibre não uniforme por possuir duas dilatações, as 
intumescências cervical e lombar, de onde partem maior número de nervos através 
dos plexos braquial e lombossacral, para inervar os membros superiores e inferiores, 
respectivamente. 
Seu comprimento médio é de 42 cm na mulher adulta e de 45 cm no homem 
adulto. Sua massa total corresponde a apenas 2% do Sistema Nervoso Central 
humano, contudo inerva áreas motoras e sensoriais de todo o corpo, exceto as 
áreas inervadas pelos nervos cranianos. Na sua extremidade rostral, é contínua com 
 
 
19
 
o tronco cerebral (bulbo) aproximadamente ao nível do forame magno do osso 
occipital. Termina ao nível do disco intervertebral entre a primeira e a segunda 
vértebra lombares. A medula termina afilando-se e forma o cone medular que 
continua com o filamento terminal-delgado, filamento meníngeo composto da pia-
máter e fibras gliais. Algumas estruturas são de extrema importância na fixação da 
medula, como o ligamento coccígeo que se fixa no cóccix, a própria ligação com o 
bulbo, os ligamentos denticulados, a emergência dos nervos espinhais e a 
continuidade da dura-máter com o epineuro que envolve os nervos. 
A medula espinhal recebe impulsos sensoriais de receptores e envia 
impulsos motores a efetuadores tanto somáticos quanto viscerais. Ela pode atuar em 
reflexos dependente ou independentemente do encéfalo. Este órgão é a parte mais 
simples do Sistema Nervoso Central, tanto ontogenético (embriológico) quanto 
filogeneticamente (evolutivamente). 
Daí o fato de a maioria das conexões encefálicas com o Sistema Nervoso 
Periférico ocorrer via medula. 
 
3.3 Tecido Nervoso 
No SNC, existem as chamadas substâncias cinzenta e branca. A substância 
cinzenta é formada pelos corpos dos neurônios e a branca por seus 
prolongamentos. Com exceção do bulbo e da medula, a substância cinzenta ocorre 
mais externamente e a substância brancamais internamente. 
A unidade funcional e estrutural do sistema nervoso é o neurônio ou célula 
nervosa. São os neurônios que fazem a ligação entre as células receptoras dos 
diversos órgãos sensoriais e as células efetoras, nomeadamente músculos e 
glândulas. Os neurônios são células muito especializadas que apresentam um ou 
mais prolongamentos, ao longo dos quais se desloca um sinal elétrico. 
Podem ser classificados, com base no sentido em que conduzem impulsos 
relativamente ao sistema nervoso central, em: neurônios sensoriais ou aferentes – 
os que transmitem impulsos do exterior para o sistema nervoso central; neurônios 
motores ou eferentes – os que transmitem impulsos do sistema nervoso central para 
o exterior; neurônios de conexão – os que conduzem impulsos entre os outros dois 
tipos de neurônios. 
 
 
20
 
O Tecido Nervoso é composto basicamente por dois tipos celulares: 
a) os neurônios, que são a unidade fundamental do tecido nervoso, cuja função é 
receber, processar e enviar informações; estes, após o nascimento geralmente não 
se dividem, os que morrem, seja naturalmente ou por efeitos de toxinas ou 
traumatismos, jamais serão substituídos; 
b) células gliais (neuróglia) que são as células que ocupam os espaços entre os 
neurônios, com função de sustentação, revestimento, modulação da atividade 
neuronal e defesa; diferente dos neurônios, essas células mantém a capacidade de 
mitose. Os neurônios são compostos basicamente por três estruturas: corpo celular, 
dendritos e axônio. 
 
3.4 Os hemisférios cerebrais 
O telencéfalo compreende os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, 
e uma pequena linha mediana situada na porção anterior do III ventrículo. 
Os dois hemisférios cerebrais são incompletamente separados pela fissura 
longitudinal do cérebro, cujo o assoalho é formado por uma larga faixa de fibras 
comissurais, denominada corpo caloso, principal meio de união entre os dois 
hemisférios. Os hemisférios possuem cavidades, os ventrículos laterais direito e 
esquerdo, que se comunicam com o III ventrículo pelos forames interventriculares. 
Cada hemisfério possui três polos: frontal, occipital e temporal; e três faces: 
súpero-lateral (convexa); medial (plana); e inferior ou base do cérebro (irregular), 
repousando anteriormente nos andares anterior e médio da base do crânio e 
posteriormente na tenda do cerebelo. 
 
 Telencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo Metencéfalo Mieloencéfalo 
 
 
21
 
O Diencéfalo (tálamo e hipotálamo): 
Todas as mensagens sensoriais, com exceção das provenientes dos 
receptores do olfato, passam pelo tálamo antes de atingir o córtex cerebral. Esta é 
uma região de substância cinzenta localizada entre o tronco encefálico e o cérebro. 
O tálamo atua como estação retransmissora de impulsos nervosos para o córtex 
cerebral. Ele é responsável pela condução dos impulsos às regiões apropriadas do 
cérebro onde eles devem ser processados. O tálamo também está relacionado com 
alterações no comportamento emocional; que decorre, não só da própria atividade, 
mas também de conexões com outras estruturas do sistema límbico (que regula as 
emoções). 
O hipotálamo, também constituído por substância cinzenta, é o principal 
centro integrador das atividades dos órgãos viscerais, sendo um dos principais 
responsáveis pela homeostase corporal. Ele faz ligação entre o sistema nervoso e o 
sistema endócrino, atuando na ativação de diversas glândulas endócrinas. É o 
hipotálamo que controla a temperatura corporal, regula o apetite e o balanço de 
água no corpo, o sono e está envolvido na emoção e no comportamento sexual. 
Tem amplas conexões com as demais áreas do prosencéfalo e com o mesencéfalo. 
Aceita-se que o hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. 
Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, 
enquanto que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e à 
tendência ao riso (gargalhada) incontrolável. De um modo geral, contudo, a 
participação do hipotálamo é menor na gênese (“criação”) do que na expressão 
(manifestações sintomáticas) dos estados emocionais. 
 
3.5 O tronco encefálico 
O tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se 
ventralmente ao cerebelo. Possui três funções gerais: 
(1) recebe informações sensitivas de estruturas cranianas e controla os 
músculos da cabeça; 
(2) contém circuitos nervosos que transmitem informações da medula 
espinhal até outras regiões encefálicas e, em direção contrária, do encéfalo para a 
medula espinhal (lado esquerdo do cérebro controla os movimentos do lado direito 
 
 
22
 
do corpo; lado direito de cérebro controla os movimentos do lado esquerdo do 
corpo); 
(3) regula a atenção, função esta que é mediada pela formação reticular 
(agregação mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes, 
separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco 
encefálico). Além destas 3 funções gerais, as várias divisões do tronco encefálico 
desempenham funções motoras e sensitivas específicas. 
Na constituição do tronco encefálico entram corpos de neurônios que se 
agrupam em núcleos e fibras nervosas, que, por sua vez, se agrupam em feixes 
denominados tractos, fascículos ou lemniscos. Estes elementos da estrutura interna 
do tronco encefálico podem estar relacionados com relevos ou depressões de sua 
superfície. Muitos dos núcleos do tronco encefálico recebem ou emitem fibras 
nervosas que entram na constituição dos nervos cranianos. Dos 12 pares de nervos 
cranianos, 10 fazem conexão no tronco encefálico. 
 
3.6 O cerebelo 
Situado atrás do cérebro está o cerebelo, que é primariamente um centro 
para o controle dos movimentos iniciados pelo córtex motor (possui extensivas 
conexões com o cérebro e a medula espinhal). Como o cérebro, também está 
dividido em dois hemisférios. Porém, ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado 
esquerdo do cerebelo está relacionado com os movimentos do lado esquerdo do 
corpo, enquanto o lado direito, com os movimentos do lado direito do corpo. 
O cerebelo recebe informações do córtex motor e dos gânglios basais de 
todos os estímulos enviados aos músculos. A partir das informações do córtex motor 
sobre os movimentos musculares que pretende executar e de informações 
proprioceptivas que recebe diretamente do corpo (articulações, músculos, áreas de 
pressão do corpo, aparelho vestibular e olhos), avalia o movimento realmente 
executado. Após a comparação entre desempenho e aquilo que se teve em vista 
realizar, estímulos corretivos são enviados de volta ao córtex para que o 
desempenho real seja igual ao pretendido. Dessa forma, o cerebelo relaciona-se 
com os ajustes dos movimentos, equilíbrio, postura e tônus muscular. 
Quadro resumo das funções dos componentes do sistema nervoso 
 
 
23
 
 
Córtex Cerebral 
• Pensamento 
• Movimento voluntário 
• Linguagem 
• Julgamento 
• Percepção 
Cerebelo 
• Movimento 
• Equilíbrio 
• Postura 
• Tônus muscular 
Tronco encefálico 
• Respiração 
• Ritmo dos batimentos cardíacos 
• Pressão Arterial 
Mesencéfalo 
• Visão 
• Audição 
• Movimento dos Olhos 
• Movimento do corpo 
Tálamo 
• Integração Sensorial 
• Integração Motora 
Sistema límbico 
• Comportamento Emocional 
• Memória 
• Aprendizado 
• Emoções 
• Vida vegetativa (digestão, 
circulação, excreção etc.). 
 
 
 
24
 
UNIDADE 4 – OS NEURÔNIOS 
 
Segundo Pimentel e Santos (2008), a vida humana depende de informações 
e os neurônios têm uma função primordial no processo de recebimento de todas as 
informações que vão ao cérebro. É através da rede neural que toda a consciência de 
informações e níveis de conhecimentos são formados. Esta célula nervosa, o 
neurônio, tem a capacidade tanto de receber quanto de responder a mensagens que 
chegam ao cérebro.Os neurônios são portadores de sinais carregados de informações e 
significados, estes sinais trafegam a mensagem por todo o sistema neuronal do 
corpo humano. Isto é realizado graças aos nervos motores que conduzem seus 
sinais a centenas de quilômetros por hora. Estas mensagens são codificadas em 
padrões flexíveis que são transmitidos por sinais, visões, sons, movimentos, etc. 
(McCRONE, 2002). 
A capacidade dos neurônios de transmitir informações é conferida pelos 
seus prolongamentos: o axônio e os dendritos. Estes últimos recebem as 
informações provenientes de células nervosas e os axônios se encarregam de 
conduzir tais informações através de impulsos nervosos e repassá-los a outras 
células. Nos vertebrados, a maioria dos axônios é revestida por uma substância 
esbranquiçada chamada bainha de mielina. É esta substância a responsável pela 
velocidade com que os impulsos nervosos (informações) serão conduzidos. 
(COSENZA, 2004). 
Este processo de mielinização ocorre nos primeiros meses e anos de vida 
do indivíduo e, portanto, quanto mais mielinizados forem os axônios, mais 
rapidamente acontecem a recepção e a resposta das mensagens percebidas no 
entorno, sendo assim, mais rapidamente acontece a aprendizagem (PIMENTEL; 
SANTOS, 2008). 
No cérebro, cada neurônio está conectado a vários milhares de vizinhos, 
esta conexão é chamada de sinapse e podem ser elétricas e químicas. O formato do 
neurônio e o padrão das conexões é o que vai determinar o nível da informação. 
Estas informações, mesmo que superficiais, dão uma ideia da importância dos 
bilhões de neurônios e de trilhões de conexões sinápticas no processo de 
aprendizagem. 
 
 
25
 
Segundo Schmidek (2005), do ponto de vista evolutivo nós, seres humanos, 
herdamos dos nossos ancestrais os neurônios, que praticamente não mudaram ao 
longo de toda a evolução. Há bilhões de anos eles permanecem com o mesmo 
aspecto geral e têm o mesmo mecanismo básico de funcionamento, sendo em 
essência os mesmos neurônios em um rato, em um jacaré ou em um peixe e até 
mesmo em um invertebrado. 
Aliás, foi a partir de um certo tipo de neurônio que ocorrem em moluscos (os 
chamados “neurônios de axônio gigantes”, encontrados em lulas e polvos) que se 
descobriram muitas das propriedades funcionais das nossas células nervosas 
(SCHMIDEK, 2005). 
O grande segredo que faz nosso sistema nervoso tão diferente de outro 
organismo vivo é basicamente o enorme número de neurônios que compõem o 
nosso cérebro e o incrível número de interligações que essas células fazem 
(SCHMIDEK; CANTOS, 2008). 
O cérebro humano é proporcionalmente o maior e o mais pesado entre todos 
os animais e a formação completa do mesmo, dentro dos limites de normalidade, vai 
desde meados da terceira semana de gestação quando se inicia a formação da 
placa neural embrionária, para só se completar por volta do quinto ano de vida, com 
a plena mielinização dos neurônios corticais. Para que os axônios de muitos tipos de 
neurônios consigam transmitir mensagens com rapidez e precisão, eles precisam 
estar maduro. Isto acontece quando o mesmo é envolvido por uma camada especial 
de gordura e proteína (a mielina), que atua como isolante elétrico e facilita a 
transmissão do impulso nervoso. Assim, a maturação das células cerebrais, faz com 
movimentos complexos, os níveis de coordenação e controle motor fino só sejam 
alcançados após o término da formação da mielina (KOLB; WHISHAW, 2002). 
Mas o que são neurônios? 
São básica e essencialmente as células nervosas que estabelecem 
conexões entre si de tal maneira que apenas um neurônio pode transmitir a outros 
os estímulos recebidos do ambiente, gerando uma reação em cadeia. 
 
 
26
 
4.1 Estrutura do neurônio 
Sua estrutura é e composta por três partes distintas: corpo celular, dentritos 
e axônios. 
Estrutura básica de um neurônio 
 
Fonte: Ferneda (2006, p. 25) 
 
Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no sistema nervoso 
central e também em pequenas estruturas globosas espalhadas pelo corpo, os 
gânglios nervosos. Os dentritos e o axônio, genericamente chamados fibras 
nervosas, estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares dos 
neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares. 
O Corpo Celular ou Pericário contém núcleo e citoplasma, onde estão 
contidos ribossomas, retículo endoplasmático granular e agranular e aparelho de 
Golgi. Centro metabólico do neurônio, este tem como função sintetizar todas as 
proteínas neuronais e realizar a maioria dos processos de degradação e renovação 
de constituintes celulares. Do corpo celular partem prolongamentos: dendritos (que 
assim como o pericário, recebem estímulos) e axônios. 
Os Dendritos geralmente são curtos, possuem os mesmos constituintes 
citoplasmáticos do pericário. Traduzem os estímulos recebidos em alterações do 
potencial de repouso da membrana, que envolvem entrada e saída de determinados 
íons, causando pequenas despolarizações (excitatória) ou hiperpolarizações 
 
 
27
 
(inibitória). Os potenciais gerados nos dendritos se propagam em direção ao corpo 
e, neste, em direção ao cone de implantação do axônio. 
O Axônio é um prolongamento longo e fino, que pode medir de milímetros a 
mais de um metro, originado do corpo ou de um dendrito principal, a partir de uma 
região denominada cone de implantação. Possui membrana plasmática (axolema) e 
citoplasma (axoplasma). O axônio é capaz de gerar alteração de potencial de 
membrana (despolarização de grande amplitude) denominada potencial de ação ou 
impulso nervoso, e conduzi-lo até a terminação axônica, local onde ocorre a 
comunicação com outros axônios ou células efetuadoras. O local onde é gerado o 
impulso é chamado zona de gatilho. Esta especialização de membrana é devido à 
presença de canais de sódio e potássio, que ficam fechados no potencial de 
repouso, mas que se abrem quando despolarizações os atingem. 
 
4.2 Classificação dos neurônios 
Os neurônios são classificados em: 
• Multipolares – possuem vários dendritos e um axônio; conduzem potenciais 
graduáveis ao pericário, e este em direção à zona de gatilho, onde é gerado o 
potencial de ação; 
• Bipolares – possuem um dendrito e um axônio; 
• Pseudo-unipolares – corpos celulares localizados em gânglios sensitivos, de 
onde parte apenas um prolongamento que logo se divide em dois ramos, o 
periférico (que se dirige à periferia, formando terminações nervosas 
sensitivas) e o central (que se dirige ao sistema nervoso central, 
estabelecendo contato com outros neurônios). 
 
 
28
 
 
Como os axônios não possuem ribossomas, toda a proteína necessária à 
manutenção destes deriva do pericário (fluxo anterógrado), e para que haja a 
renovação dos componentes das terminações é necessário um fluxo oposto, em 
direção ao corpo (fluxo retrógrado). Esse fluxo de substâncias e organelas através 
do axoplasma é denominado fluxo axoplasmático. 
Os neurônios muitas vezes funcionam como células excitáveis, ou seja, 
comunicam entre si ou com células efetuadoras (células musculares e secretoras) 
usando basicamente uma linguagem elétrica, as alterações do potencial de 
membrana. A membrana celular separa o meio intracelular, onde predominam íons 
com cargas negativas e certa quantidade do íon potássio (K+), do meio extracelular, 
onde predominam cargas positivas, Sódio (Na+), Cálcio (Ca+) e certa quantidade do 
íon Cloro (Cl-). 
Essa diferença de cargas entre o meio interno e o meio externo estabelecem 
um potencial elétrico de membrana, que em geral nos neurônios, quando em 
repouso, é de aproximadamente -70mv. Na membrana, estão presentes canais 
iônicos seletivos, que se abrem ou fecham, permitindo a passagem de íons de 
acordo com o gradiente de concentração. 
A despolarização e a repolarização de um neurônio ocorrem devido as 
modificações na permeabilidade da membrana plasmática. Em um primeiro instante,abrem-se “portas de passagem” de Na+, permitindo a entrada de grande quantidade 
desses íons na célula. Com isso, aumenta a quantidade relativa de carga positiva na 
região interna na membrana, provocando sua despolarização. Em seguida abrem-se 
as “portas de passagem” de K+, permitindo a saída de grande quantidade desses 
 
 
29
 
íons. Com isso, o interior da membrana volta a ficar com excesso de cargas 
negativas (repolarização). A despolarização em uma região da membrana dura 
apenas cerca de 1,5 milésimo de segundo (ms). 
O estímulo provoca, assim, uma onda de despolarizações e repolarizações 
que se propaga ao longo da membrana plasmática do neurônio. Essa onda de 
propagação é o impulso nervoso, que se propaga em um único sentido na fibra 
nervosa. Dentritos sempre conduzem o impulso em direção ao corpo celular, por 
isso diz que o impulso nervoso no dentrito é celulípeto. O axônio por sua vez, 
conduz o impulso em direção às suas extremidades, isto é, para longe do corpo 
celular; por isso diz-se que o impulso nervoso no axônio é celulífugo. 
A velocidade de propagação do impulso nervoso na membrana de um 
neurônio varia entre 10cm/s e 1m/s. A propagação rápida dos impulsos nervosos é 
garantida pela presença da bainha de mielina que recobre as fibras nervosas. A 
bainha de mielina é constituída por camadas concêntricas de membranas 
plasmáticas de células da glia, principalmente células de Schwann. Entre as células 
gliais que envolvem o axônio existem pequenos espaços, os nódulos de Ranvier, 
onde a membrana do neurônio fica exposta. 
Nas fibras nervosas mielinizadas, o impulso nervoso, em vez de se propagar 
continuamente pela membrana do neurônio, pula diretamente de um nódulo de 
Ranvier para o outro. Nesses neurônios mielinizados, a velocidade de propagação 
do impulso pode atingir velocidades da ordem de 200m/s (ou 720km/h ). 
 
4.3 As sinapses - transmissão do impulso nervoso en tre células 
Um impulso é transmitido de uma célula a outra através das sinapses (do 
grego synapsis, ação de juntar). A sinapse é uma região de contato muito próximo 
entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície de outras células. 
Estas células podem ser tanto outros neurônios como células sensoriais, musculares 
ou glandulares. As terminações de um axônio podem estabelecer muitas sinapses 
simultâneas. 
Na maioria das sinapses nervosas, as membranas das células que fazem 
sinapses estão muito próximas, mas não se tocam. Há um pequeno espaço entre as 
membranas celulares (o espaço sináptico ou fenda sináptica). 
 
 
30
 
Quando os impulsos nervosos atingem as extremidades do axônio da célula 
pré-sináptica, ocorre liberação, nos espaços sinápticos, de substâncias químicas 
denominadas neurotransmissores ou mediadores químicos, que tem a capacidade 
de se combinar com receptores presentes na membrana das célula pós-sináptica, 
desencadeando o impulso nervoso. Esse tipo de sinapse, por envolver a 
participação de mediadores químicos, é chamado sinapse química. 
Os cientistas já identificaram mais de dez substâncias que atuam como 
neurotransmissores, como a acetilcolina, a adrenalina (ou epinefrina), a 
noradrenalina (ou norepinefrina), a dopamina e a serotonina. 
Sinapses Neuromusculares – a ligação entre as terminações axônicas e as 
células musculares é chamada sinapse neuromuscular e nela ocorre liberação da 
substância neurotransmissora acetilcolina que estimula a contração muscular. 
Sinapses Elétricas – em alguns tipos de neurônios, o potencial de ação se 
propaga diretamente do neurônio pré-sináptico para o pós-sináptico, sem 
intermediação de neurotransmissores. As sinapses elétricas ocorrem no sistema 
nervoso central, atuando na sincronização de certos movimentos rápidos. 
 
 
31
 
UNIDADE 5 - ESPECIALIZAÇÃO E FUNÇÃO DOS 
HEMISFÉRIOS 
 
Apesar do nosso cérebro ser divido em dois hemisférios, não existe relação 
de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando-se 
dos milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se 
encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização 
hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas 
em apenas um dos lados, outras no dois) e de assimetria (um hemisfério não é igual 
ao outro). 
Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% 
dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao 
contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas 
essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é também 
responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da 
escrita e pela compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério direito é melhor 
na percepção de sons musicais e no reconhecimento de faces, especialmente 
quando se trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo participa também do 
reconhecimento de faces, mas sua especialidade é descobrir precisamente quem é 
o dono de cada face. 
Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar 
categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que detecta as 
categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção de relações 
espaciais, particularmente as relações métricas, quantificáveis, aquelas que são 
úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de 
participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações espaciais 
categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz movimentos mais 
precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério direito é capaz de fazer 
com a mão e a perna esquerda (na maioria das pessoas). 
O conceito de dominância hemisférica surgiu para explicar a relação entre a 
atividade dos dois hemisférios, no sentido de que determinadas funções linguísticas 
exercidas predominantemente pelo hemisfério esquerdo exerceriam uma 
dominância sobre as funções do hemisfério direito. Entretanto, estudos mais 
 
 
32
 
recentes mostraram que os dois hemisférios não interagem através do domínio de 
um sobre o outro, mas sim através da especialização de certas funções, ou seja, um 
dos hemisférios é encarregado por um grupo de funções, enquanto o segundo 
encarrega-se de outras. O que é importante ressaltar é que ambos trabalham em 
conjunto. Esse novo conceito é chamado de especialização hemisférica. 
Pesquisas têm mostrado que o conceito de especialização hemisférica é 
fundamental no entendimento do processamento de informações. Essas evidências 
indicam que raramente a especialização hemisférica significa exclusividade 
funcional. Por exemplo: o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos 
seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não participe também dessa 
função. 
Resumindo, estudos revelaram que o hemisfério direito percebe e comanda 
funções globais, categoriais, enquanto o esquerdo se encarrega das funções mais 
específicas relacionadas com a linguagem. 
 
 
Fonte: Lent (2004, p. 645) 
 
Sendo mais específico em termo da localização dos hemisférios no cérebro, 
evidências têm indicado que o aspecto ventral do córtex posterior parietal (VCPP) 
está associado ao processamento de informações auditórias, especialmente no que 
 
 
33
 
se refere ao processamento da linguagem. Entretanto, o processamento de 
informações visuo-espaciais parece ser mais limitado à porção dorsal do córtex 
posterior parietal (DCPP). Em suma, o direito do DCPP é mais ativado durante 
atividades não verbais e espaciais e o esquerdo do VCPP é mais ativado durante 
atividades verbais, ou seja, a alça fonológica é associada ao funcionamento do 
hemisfério esquerdo e o esboço visuo-espacial do hemisfério direito. 
CARACTERÍSTICAS DE CADA HEMISFÉRIO 
HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO 
Verbal: usa palavras para nomear, 
descrever e definir;Não verbal: percepção das coisas com 
uma relação mínima com palavras; 
Analítico: decifra as coisas de maneira 
sequencial e por partes; 
Sintético: unir coisas para formar 
totalidades; 
Utiliza um símbolo que está no lugar de 
outra coisa. Por exemplo o sinal + 
representa a soma; 
Relaciona as coisas tais como estão 
nesse momento; 
Abstrato: extrai uma porção pequena de 
informação e a utiliza para representar a 
totalidade do assunto; 
Analógico: encontra um símil entre 
diferentes ordens; compreensão das 
relações metefóficas; 
Temporal: se mantém uma noção de 
tempo, uma sequência dos fatos. Fazer 
uma coisa e logo outra, etc.; 
Atemporal: sem sentido de tempo; 
Racional: extrai conclusões baseadas 
na razão e nos dados; 
Não racional: não requer uma base de 
informações e fatos reais; aceita a 
suspensão do juízo; 
Digital: utiliza números; Espacial: ver as coisas relacionadas a 
outras e como as partes se unem para 
formar um todo; 
Lógico: extrai conclusões baseadas na 
ordem lógica. Por exemplo: um teorema 
matemático ou uma argumentação; 
Intuitivo: realiza saltos de 
reconhecimento, em geral sob padrões 
incompletos, intuições, sentimentos e 
imagens visuais; 
Linear: pensar em termos vinculados a 
ideias, um pensamento que segue o 
outro e que em geral convergem em 
uma conclusão. 
Holístico: perceber ao mesmo tempo, 
concebendo padrões gerais e as 
estruturas que muitas vezes levam a 
conclusões divergentes. 
 
 
34
 
HABILIDADES ASSOCIADAS À ESPECIALIZAÇÃO DE CADA HEM ISFÉRIO 
HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO 
Escrita à mão -- 
Símbolos Relações espaciais 
Linguagem Figuras e padrões 
Leitura Computação matemática 
Fonética Sensibilidade a cores 
Localização de fatos e detalhes Canto e música 
Conversação e recitação Expressão artística 
Seguimento de instruções Criatividade 
Escuta Visualização 
Associação auditiva Sentimentos e emoções 
MANEIRAS DE CONSCIÊNCIA DE CADA HEMISFÉRIO 
HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO 
Lógico Intuitivo 
Sequencial Azaroso 
Linear Holístico 
Simbólico Concreto 
Baseado na realidade Orientado à fantasia 
Verbal Não verbal 
Temporal Atemporal 
Abstrato Analógico 
 
Uma vez que as últimas pesquisas têm demonstrado que a aprendizagem é 
melhor, mais agradável e duradoura quando estão envolvidos os dois hemisférios, 
 
 
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para o professor e/ou especialista que irá trabalhar com a Neuropsicopedagogia 
ficam algumas sugestões. 
Ao pensar em Artes não pense e planeje somente uma aula de Artes, pense 
nas invasões inglesas, na geografia do Uruguai, em tabelas de multiplicar, no corpo 
humano, nos tempos verbais, enfim, utilize da interdisciplinaridade e enriqueça as 
aulas. 
É preciso levar os alunos a desenvolverem todo seu potencial e isto passa 
necessariamente por trabalhar intuição, razão, emoção, imaginação, percepção, 
enfim, desenvolver as capacidades analíticas e verbais. 
 
 
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UNIDADE 6 – A PLASTICIDADE CEREBRAL/NEURAL E A 
MEMÓRIA 
 
6.1 Plasticidade neural 
A plasticidade neural refere-se à capacidade que o SNC possui em modificar 
algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às alterações 
do ambiente. Na presença de lesões, o SNC utiliza-se desta capacidade na tentativa 
de recuperar funções perdidas e/ou, principalmente, fortalecer funções similares 
relacionadas às originais (OLIVEIRA, SALINA; ANNUNCIATO, 2000). 
A plasticidade do SNC ocorre, classicamente, em três estágios: 
desenvolvimento, aprendizagem e após processos lesionais. 
 
6.1.1 Desenvolvimento 
Na embriogênese, tem-se a diferenciação celular, em que células 
indiferenciadas, por expressão genética, passam a ser neurônios. Após a 
proliferação, migram para os locais adequados e fazem conexões entre si 
(ANNUNCIATO; SILVA, 1995). 
Os neurônios dispõem de uma capacidade intrínseca sobre sua posição em 
relação a outros neurônios, e seus axônios alcançam seus destinos graças aos 
marcadores de natureza molecular e à quimiotaxia. A secreção de substâncias 
neurotróficas, neste caso, os fatores de crescimento ajudam o axônio na busca de 
seu alvo (LINDEN, 1993). A maturação do SNC inicia-se no período embrionário e 
só termina na vida extra-uterina. 
Portanto, sofre influências dos fatores genéticos, do microambiente fetal e, 
também, do ambiente externo, sendo este último de grande relevância para seu 
adequado desenvolvimento. 
 
6.1.2 Aprendizagem 
Este processo pode ocorrer a qualquer momento da vida de um indivíduo, 
seja criança, adulto ou idoso, propiciando o aprendizado de algo novo e modificando 
o comportamento de acordo com o que foi aprendido. A aprendizagem requer a 
 
 
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aquisição de conhecimentos, a capacidade de guardar e integrar esta aquisição 
(MANSUR; RADONOVIC, 1998) para posteriormente ser recrutada quando 
necessário. 
A reabilitação física, entre outros fatores, tem por objetivo favorecer o 
aprendizado ou reaprendizado motor, que é um processo neurobiológico pelo qual 
os organismos modificam temporária ou definitivamente suas respostas motoras, 
melhorando seu desempenho, como resultado da prática (PIEMONTE; SÁ, 1998). 
Durante o processo de aprendizagem, há modificações nas estruturas e 
funcionamento das células neurais e de suas conexões, ou seja, o aprendizado 
promove modificações plásticas, como crescimento de novas terminações e botões 
sinápticos, crescimento de espículas dendríticas, aumento das áreas sinápticas 
funcionais (KLEIM; BALLARD; GRRENOUGH; 1997 apud OLIVEIRA, SALINA; 
ANNUNCIATO, 2000), estreitamento da fenda sináptica, mudanças de conformação 
de proteínas receptoras, incremento de neurotransmissores. 
A prática ou a experiência promovem, também, modificações na 
representação do mapa cortical (ARNSTEIN, 1997 apud OLIVEIRA, SALINA; 
ANNUNCIATO, 2000). 
Pascual-Leone et al. (1995 apud OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2000) 
demonstraram que a aquisição de uma nova habilidade motora, neste caso, tocar 
piano, reorganizava o mapa cortical, aumentando a área relacionada aos músculos 
flexores e extensores dos dedos. Em um estudo com leitores de Braille, verificaram 
que o dedo indicador utilizado para a leitura tem maior representação cortical que o 
dedo contralateral. 
Jueptner et al (1997) e Grafton et al (1998 apud OLIVEIRA; SALINA; 
ANNUNCIATO, 2000), por sua vez, encarregaram-se de mapear as áreas do SNC 
que são ativadas durante o processo de aprendizagem motora, em que eram 
realizados movimentos com as mãos, e verificaram que várias regiões agem em 
conjunto, como o córtex motor primário, o córtex pré-motor, a área motora 
suplementar, a área somatossensorial, os núcleos da base, entre outras. 
 
 
 
38
 
6.1.3 Após lesão neural 
A lesão promove no SNC vários eventos que ocorrem, simultaneamente, no 
local da lesão e distante dele. Em um primeiro momento, as células traumatizadas 
liberam seus aminoácidos e seus neurotransmissores, os quais, em alta 
concentração, tornam os neurônios mais excitados e mais vulneráveis à lesão. 
Neurônios muito excitados podem liberar o neurotransmissor glutamato, o qual 
alterará o equilíbrio do íon cálcio e induzirá seu influxo para o interior das células 
nervosas, ativando várias enzimas que são tóxicas e levam os neurônios à morte. 
Esse processo é chamado de excitotoxicidade (SILVA, 1995). Ocorre, também, a 
ruptura de vasos sanguíneos e/ou isquemia cerebral, diminuindo os níveis de 
oxigênio e glicose, que são essenciais para a sobrevivência de todas as células 
(OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2000) 
A falta de glicose gera insuficiência da célula nervosa em manter seu 
gradiente transmembrânico, permitindo a entrada de mais cálcio para dentro da 
célula, ocorrendo um efeito cascata (RAFFINI, 1999). 
De acordo com o grau do dano cerebral, o estímulo nocivo pode levar as 
células nervosas à necrose, havendo ruptura da membrana celular, fazendo com 
que as células liberem seu material intracitoplasmáticoe, então, lesem o tecido 
vizinho; ou pode ativar um processo genético denominado apoptose, em que a 
célula nervosa mantém sua membrana plasmática, portanto, não liberando seu 
material intracelular, não havendo liberação de substâncias com atividade 
próinflamatória e, assim, não agredindo outras células (LINDEN, 1996; VEGA; 
ROMANO SILVA, 1999). 
A apoptose é desencadeada na presença de certos estímulos nocivos, 
principalmente pela toxicidade do glutamato, por estresse oxidativo e alteração na 
homeostase do cálcio. 
A lesão promove, então, três situações distintas: (a) uma em que o corpo 
celular do neurônio foi atingido e ocorre a morte do neurônio, sendo, neste caso, o 
processo irreversível; (b) o corpo celular está íntegro e seu axônio está lesado; ou, 
(c) o neurônio se encontra em um estágio de excitação diminuído (SILVA, 1995). 
 
 
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Os mecanismos de reparação e reorganização do SNC começam a surgir 
imediatamente após a lesão e podem perdurar por meses e até anos (SILVA, 2000). 
São eles: 
a) Recuperação da eficácia sináptica – Este processo consiste em fornecer 
ao tecido nervoso um ambiente mais favorável à recuperação. Assim, nesta fase, a 
recuperação é feita por drogas neuroprotetoras (RAFFINI, 1999), que visam a uma 
melhor oferta do nível de oxigenação e glicose, à redução sanguínea local e do 
edema (VILLAR, 1997); 
b) Potencialização sináptica – Este processo consiste em manter as 
sinapses mais efetivas, por meio do desvio dos neurotransmissores para outros 
pontos de contatos que não foram lesados; 
c) Supersensibilidade de denervação – Em caso de denervação, a célula 
pós-sináptica deixa de receber o controle químico da célula présináptica (RIBEIRO-
SOBRINHO, 1995); para manter seu adequado funcionamento, então, a célula 
promove o surgimento de novos receptores de membrana pós-sináptica; 
d) Recrutamento de sinapses silentes – No nosso organismo, em situações 
fisiológicas, existem algumas sinapses que, morfologicamente, estão presentes, mas 
que, funcionalmente, estão inativas. Essas sinapses são ativadas ou recrutadas 
quando um estímulo importante às células nervosas é prejudicado. No caso de lesão 
das fibras principais de uma determinada função, outras fibras que estavam 
dormentes poderão ser ativadas; 
e) Brotamentos – Este fenômeno consiste na formação de novos brotos de 
axônio, oriundos de neurônios lesados ou não-lesados. O brotamento pode ser 
regenerativo: ocorre em axônios lesados e constitui a formação de novos brotos 
provenientes do segmento proximal, pois o coto distal, geralmente, é rapidamente 
degenerado. O crescimento desses brotos e a formação de uma nova sinapse 
constituem sinaptogênese regenerativa. O brotamento pode ser colateral: ocorre em 
axônios não lesionados, em resposta a um estímulo que não faz parte do processo 
normal de desenvolvimento. Este brotamento promove uma sinaptogênese reativa 
(ANNUNCIATO, 1994; OLIVEIRA, SALINA; ANNUNCIATO, 2000). 
 
 
 
40
 
6.2 Memória 
A capacidade do ser humano de lembrar ou não de situações, fatos, 
acontecimentos é mais um dos campos de estudo das neurociências. O termo 
memória tem sua origem etimológica no latim e significa a faculdade de reter e/ou 
readquirir ideias, imagens, expressões e conhecimento. 
É o registro de experiências e fatos vividos e observados, podendo ser 
resgatados quando preciso. Isso faz com que a memória seja a base para 
aprendizagem, pois, com as experiências que possuímos armazenadas na memória, 
temos a oportunidade e a habilidade de mudar o nosso comportamento, ou seja, a 
aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos, e a memória é a fixação ou a 
retenção desses conhecimentos adquiridos. 
Para se construir a memória, passamos por um processo de assimilação. E 
é por meio desse processo que enviamos as informações para a memória de curta 
ou de longa duração. Neste momento, o hipocampo é ativado. O hipocampo ajuda a 
selecionar onde os aspectos importantes para fatos, eventos serão armazenados e 
está envolvido também com o reconhecimento de novidades e com as relações 
espaciais, tais como: o reconhecimento de uma rota rodoviária. É ele que filtra os 
dados, usa e joga fora informações de curto prazo e se encarrega de enviar outras 
para diferentes partes do córtex cerebral. Essas informações se envolvem em uma 
verdadeira “sopa química” que passa a provocar “intercâmbio” entre os neurônios. 
Nesta fase, o hipocampo, descansa e quem passa a trabalhar é o lobo frontal. 
O lobo frontal funciona como um “coordenador geral” de todas as memórias 
e é responsável pela guarda das informações, bem como de classificá-las de acordo 
com seus diferentes tipos. Nessa área cerebral, as diferentes memórias se 
completam dando origem ao raciocínio. 
É o lobo frontal que acessamos quando “vasculhamos” nossa memória à 
procura de informações guardadas no córtex. Essa parte do cérebro é 
extremamente complexa e, por isso, bastante sensível. A idade, a depressão, o 
estresse e, também, a sobrecarga de informações afetam a nossa memória. O 
volume de informações sobrecarrega o lobo frontal, que, em muitos momentos, nos 
“desligam” ou geram aqueles “brancos” que tantas vezes nos desesperam. 
 
 
41
 
A memória não está localizada em uma estrutura isolada no cérebro: ela é 
um fenômeno biológico e psicológico, envolvendo uma aliança de sistemas cerebrais 
que funcionam juntos. 
O processo de memorização é complexo, envolvendo sofisticadas reações 
químicas e circuitos interligados de neurônios. As células nervosas ou os neurônios, 
quando são ativadas, liberam hormônios ou neurotransmissores que atingem outras 
células nervosas por meio de ligações denominadas sinapses. 
Podemos entender perfeitamente que quanto mais conexões, mais memória! 
Os fatos antigos naturalmente têm mais tempo de se fixar em nosso banco 
de dados e é daí sua melhor fixação, o que não ocorre com fatos recentes, que têm 
pouco tempo para se fixarem e ainda podem ter sua capacidade de fixação alterada 
por razões relacionadas a variações de estado emocional ou a problemas de ordem 
física. 
Cada célula cerebral (ou neurônio) contribui para o comportamento e para a 
atividade mental, conduzindo ou deixando de conduzir impulsos. Todos os 
processos da memória são explicados em termos destas descargas. 
As alterações decorrentes da aprendizagem e da memória são chamadas 
plasticidade, como vimos no início desta unidade. 
Quando a célula é ativada, desencadeia-se a liberação de substâncias 
químicas nas sinapses, chamadas neurotransmissores, tornando-as mais efetivas, 
com melhor capacidade de armazenagem da informação no interior da célula. 
Assim, neurônios “exercitados” possuem um número maior de ramificações 
(dendritos) se comunicando com dendritos de outros neurônios, quando 
estimulados. 
Para que as memórias sejam criadas, é preciso que as células nervosas 
formem novas interconexões e novas moléculas de proteínas, carregando as 
informações “impressas” no interior da célula. 
 
6.2.1 Memória de Longo Prazo ou de Longa Duração 
A memória de longo prazo armazena as informações por um longo período, 
mas a capacidade de armazenamento é limitada. Pode ser dividida em Declarativa e 
 
 
42
 
Não declarativa. A primeira é a memória para fatos e eventos, reúne tudo que 
podemos evocar por meio de palavras. A segunda é aquela para procedimentos e 
habilidades. 
� Pode ser de Procedimentos quando se referir às habilidades e aos hábitos, 
como, por exemplo, dirigir e nadar. 
� Pode ser de Dicas quando for evocada, resgatada por meio de dicas, como 
acontece quando ouvimos sons ou sentimos algum odor que nos lembram de 
uma situação há tempos vivida. 
� Será Associativa quando nos fizer associar um determinado comportamento a 
um fato. Um bom exemplo é quando salivamos ao ver um prato apetitoso e 
lembrarmos o quanto é saborosa aquela comida e, naturalmente, nosso 
organismoresponde a essa lembrança. 
E, finalmente, a memória poderá ser Não Associativa quando for resgatada 
por meio de estímulos repetitivos. Ocorre, por exemplo, quando ouvimos o latido de 
um cão pequeno. Esse tipo de latido não nos causará medo porque saberemos 
relacioná-lo com o de um animal que não ofereça perigo. 
 
6.2.2 Memória de Curto Prazo ou de Curta Duração 
A memória de curto prazo não forma “arquivos”. Nela, guardamos 
informações que serão utilizadas dentro de pouco tempo. Logo após sua utilização, 
esquecemos os dados nela armazenados. 
Exemplo: Local onde estacionou o carro; o conteúdo decorado para uma 
prova. envolver eventos datados, isto é, relacionados ao tempo. E, será, Semântica 
quando envolver o significado das palavras ou quando envolver conceitos 
atemporais (NETTO, 2006). 
 
6.2.3 Perda de Memória 
A perda de memória pode estar associada a determinadas doenças 
neurológicas, a distúrbios psicológicos, a problemas metabólicos e, também, a 
certas intoxicações. A forma mais frequente de perda de memória é conhecida 
popularmente como “esclerose” ou demência. 
 
 
43
 
A demência mais comum é a doença de Alzheimer que se caracteriza por 
perda acentuada de memória acompanhada de graves manifestações psicológicas, 
como, por exemplo, a alienação. 
Estados psicológicos alterados como o estresse, a ansiedade e a depressão 
podem também alterar a memória. 
A falta de vitamina B1 (tiamina) e o alcoolismo levam à perda de memória 
para fatos recentes e, com frequência, estão associados a problemas de marcha e 
confusão mental. 
Doenças da tireoide, geralmente, acompanham-se de comprometimento de 
memória. 
O uso de medicação tranquilizante (“calmantes”) por tempo prolongado 
provoca a diminuição da memória e favorece também a depressão, o que leva a 
uma situação que pode se confundir com a demência. 
A vida sedentária, com excesso de preocupações e insatisfações, bem como 
a dieta deficiente, favorecem a perda de memória. 
Contrariamente ao esquecimento comum ocorrido normalmente no dia-a-dia 
de nossas vidas, existem algumas doenças e injúrias no cérebro que causam séria 
perda de memória e, também, interferem com a capacidade de aprender. A esta 
instabilidade, dá-se o nome de Amnésia (NETTO, 2006). 
Fatores que podem causar perda total ou parcial da memória: 
• Concussão; 
• Alcoolismo crônico; 
• Drogas e medicamentos; 
• Tumor cerebral; 
• Encefalite. 
Entretanto, a contínua atividade intelectual, como leitura, exercícios de 
memória, palavras cruzadas e jogo de xadrez, auxilia a manutenção da memória. 
O estilo de vida ativa com atividade física realizada regularmente e uma 
dieta saudável são pontos importantes para a manutenção da memória. 
 
 
44
 
A diminuição da memória que ocorre na terceira idade, na maioria das 
vezes, é absolutamente benigna, mas, frequentemente, por falta de melhor 
informação, angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como um fato normal. 
Semelhante ao que ocorre com exercícios musculares realizados para se 
manter a boa forma física, a atividade cerebral também deve ser realizada com 
frequência, sempre procurando estimular nossos principais sentidos: olfato, paladar, 
tato, visão e audição, bem como nossa memória e inteligência(NETTO, 2006). 
O declínio de nossas funções mentais que ocorre com a idade se deve, em 
grande parte, à falta de atividade mental que, com frequência, segue paralelamente 
ao envelhecimento. É sabido claramente que o declínio mental que ocorre com a 
idade pode ser evitado. 
Estimular as nossas percepções, nossa memória (recente e antiga), noções 
espaciais, habilidades lógicas e verbais, etc. por meio de exercícios cerebrais 
auxiliam a manter a memória ativa que pode e deve ser feita diariamente, durante as 
atividades normais, como o caminhar, durante as refeições ou mesmo durante os 
fazeres do cotidiano (NETTO, 2006). 
 
6.2.4 Déficit de memória 
A memória de trabalho (MT) refere-se à habilidade temporária de manter e 
manipular informações que o indivíduo precisa para mantê-la gravada. A MT é um 
sistema da memória explícita e declarativa, pelo fato da mesma requerer 
participação ativa e consciente. 
A MT possui três componentes básicos que processa informações: 
1) fonológicas (alça fonológica); 
2) visuo-espaciais (esboço visuo-espacial); e, 
3) um sistema que controla a atenção e é responsável pela coordenação de 
diferentes funções cognitivas (executivo central). 
A alça fonológica é responsável pelo processamento do material linguístico 
e, portanto, concorre para o aprendizado de novas palavras. Consiste de dois 
subcomponentes: o armazenador fonológico, que retém a informação linguística, e a 
alça articulatória, que é responsável pela reverberação subvocal – renovação da 
 
 
45
 
representação fonológica que vai se perdendo no armazenador fonológico (LOBO; 
ACRANI; ÁVILA, 2008). 
O componente de estocagem está presente mesmo em crianças muito 
jovens, ao passo que o outro processo emerge a partir dos sete anos. Na alça 
fonológica, a informação auditiva (input auditivo) é armazenada no sistema de 
estocagem fonológica de curto prazo seguindo duas prováveis rotas: ao buffer de 
output fonológico (programação da fala) ou ao processo de reverberação (a partir do 
qual a informação retorna ao sistema de armazenamento). 
A memória de trabalho fonológica pode ser avaliada por meio da repetição 
de pseudopalavras, mais ou menos extensas, e com maior ou menor similaridade 
com palavras do idioma em questão (SANTOS; BUENO, 2003). A memória de 
trabalho, por meio da alça fonológica, interage com o conhecimento de longo prazo. 
Desta forma, acredita-se que características individuais possam influenciar o 
processo de aprendizado de novas informações e novas palavras. Outras variáveis 
como o tipo do estímulo linguístico, sua extensão ou proximidade com palavras 
reais, conhecimento prévio dessas palavras mais ou menos próximas, bem como a 
forma de apresentação do estímulo, também podem influenciar esse desempenho 
(PURVES et al, 2005; KESSLER, 1997). 
Enfim, habilidades de memória de trabalho assumem papel importante no 
desenvolvimento da fala e linguagem, fato comprovado em diversos estudos 
envolvendo tarefas de memória fonológica de trabalho. 
O déficit na MT pode ser associado a um dos componentes acima citados. 
Problemas na alça fonológica ou no esboço visuo-espacial pode gerar problemas de 
aprendizados geralmente observados durante o desenvolvimento da criança. Esses 
déficits de aprendizado, sem a presença de retardo mental, podem variar entre: 
déficits na leitura, na escrita e na área de cálculos. 
Quando o componente executivo central é afetado, desorganizações 
cognitivas mais sérias ocorrem. Geralmente, são observadas em casos de retardo 
mental e esquizofrenia, problemas de déficit de atenção, habilidade de raciocinar e 
capacidade de manter e manipular informações de atividades abstratas (NETTO, 
2006). 
 
 
46
 
Um déficit da memória de trabalho (MT) pode ser apresentado de várias 
maneiras, entre elas as mais comuns são: a inabilidade de concentrar-se e prestar 
atenção. O déficit também pode ser apresentado através da dificuldade de realizar 
uma nova atividade que tenha per si vários passos de instruções para que seja 
realizada (NETTO, 2006). 
O déficit na MT pode também parecer um déficit na memória episódica. 
Neste caso, avaliações neurológicas e neuropsicológicas podem mostrar o declínio 
na consolidação de informações. Entretanto, para que informações sejam 
transferidas para a memória episódica ela tem que ser retida primeiramente na MT. 
A memória episódica tem uma referência temporal e é uma memória de fatos 
sequenciados. Ela é um subtipo da memória explícita ou declarativa que pode ser 
descrita através de palavras (BUDSON; PRICE, 2005). 
Uma doença como Alzheimer pode prejudicar mais do que um sistema de 
memória. Pesquisasnessa área são necessárias para ampliar o entendimento sobre 
tipos de memória. Esse conhecimento é muito importante para que os profissionais 
possam aprimorar tanto na área de diagnóstico quanto na de tratamentos de déficits 
da memória (NETTO, 2006). 
Sobre os problemas de memória relacionados aos déficits de linguagem, 
leitura e compreensão, é verdade que podemos ler e reler algo o quanto desejarmos 
e o quanto for necessário, no entanto, isso não pode ser feito através da linguagem 
falada. 
O distúrbio Específico da Linguagem (DEL) é um transtorno associado ao 
desenvolvimento da linguagem quando na ausência de qualquer outro transtorno. 
Esse distúrbio não inclui criança com deficiência físicas ou mentais, tais como, 
surdez, problemas emocionais ou depravação severa do meio ambiente. No entanto, 
DEL refere-se a crianças com inteligência não verbal normal, e com déficit na 
linguagem expressiva e/ou receptiva. 
Resultados indicam que, crianças com DEL têm uma capacidade reduzida 
na alça fonológica da memória de trabalho (MT). Elas não apresentam nenhum 
problema na descriminação perceptual do estímulo auditório, mas têm grande, 
dificuldade em repetir três e quatro sílabas sem sentido quando comparadas com 
 
 
47
 
um grupo de controle. Esses resultados sugerem que DEL ocorre devido ao pobre 
processamento ou retenção de informação fonológica na MT (NETTO, 2006). 
Tem sido também constatado na literatura que crianças com problemas de 
leitura e compreensão, demonstram déficits na alça fonológica. No entanto, o 
esboço visuo-espacial encontra-se intacto e o executivo central não apresenta 
qualquer problema (LENT, 2004; NETTO, 2006). 
Assume-se que a criança que tem dificuldade de leitura apresenta uma 
deficiência na habilidade de processamento fonológico. Isso pode dificultar a 
compreensão da escrita. De acordo com essa perspectiva, observa-se que, quando 
ocorre um desenvolvimento na capacidade do processamento fonológico da criança, 
o problema de leitura começa a desaparecer (GATHERCOLE et al, 2005). 
Distúrbio da aprendizagem em matemática também pode ser derivado do 
funcionamento deficiente da MT. Os componentes da MT têm um papel crucial no 
cálculo e na solução de problemas aritméticos. Por exemplo, crianças com problema 
de aprendizado na área da matemática, quando comparados com crianças da 
mesma idade, têm dificuldade em realizar várias outras atividades que necessitam 
da MT (WILSON; SWANSON, 2001). 
De acordo com resultados como esse, parece que a representação visuo-
espacial de informação numérica e os aspectos fonológicos necessário para 
decompor e entender um problema de matemática pode ser a causa do mau 
desempenho entre crianças com déficits de aprendizado de matemática (WILSON; 
SWANSON, 2001). 
No entanto, problemas no componente executivo central também podem ter 
uma importante contribuição nos déficits de aprendizado em matemática. A falta de 
coordenação em várias atividades relacionadas com a contagem e a solução de 
problemas aritméticos envolvendo palavras, pode ser uma das consequências de 
déficit no componente executivo central da MT. Por exemplo, tem sido observado 
que indivíduos com baixo desempenho em atividades matemáticas, apresentam 
uma capacidade reduzida no processamento de informações do componente 
executivo central da MT (ASCRAFT; KIRK, 2001). 
Sobre as condições genéticas e suas relações com o déficits na alça 
fonológica, Baddeley; Gathercole; Papagno (1998 apud Netto, 2006) diz o seguinte: 
 
 
48
 
 
Déficits na MT têm sido associados com problemas mais severos nas 
capacidades cognitivas. Parece claro que certas condições genéticas que 
levam aos distúrbios do desenvolvimento cognitivo podem estar associadas 
a déficits específicos da MT. Por exemplo, déficits na memória fonológica é 
uma característica da Síndrome de Down. Também tem sido mostrado que 
crianças com síndrome de Prader-Willi, uma desordem genética 
caracterizada pelo atraso no desenvolvimento da linguagem, tem 
relativamente intacto o componente executivo central e o esboço visuo-
espacial, mas apresenta déficit na alça fonológica da MT, talvez esteja 
relacionado com a capacidade de retenção fonológica. 
 
Essas descobertas são consistentes com o fato de que a alça fonológica tem 
um papel fundamental no desenvolvimento geral na área da linguagem, 
especialmente na aquisição do vocabulário. 
 
O começo de um novo tempo... 
Inclusão escolar, diversidade, igualdade, respeito às diferenças são cenários 
atuais que revelam uma relação íntima entre educação e saúde, mediados pela 
neurociência. 
Vimos que a neurociência é uma ciência recente que estuda o sistema 
nervoso central, bem como sua complexidade, através de bases científicas, 
dialogando também com a educação, através de uma nova subárea, a neurodidática 
ou neuroeducação. Este ramo novo da ciência estuda educação e cérebro, 
entendendo este último como um órgão “social”, passível de ser modificado pela 
prática pedagógica (RELVAS, 2009). 
Conceituamos também, lá na introdução, outros ramos da ciência que 
buscam persistente e paulatinamente conhecer os mistérios e o funcionamento do 
cérebro, da memória, e, dentre outros objetivos, contribuir para a educação no 
processo de aprendizagem. 
Enfim, são várias as disciplinas que contribuem para o avanço do 
conhecimento e segundo a OCDE (2002), a neurociência cognitiva é a mais 
recentemente estabelecida, e provavelmente a mais importante. 
Técnicas como neuroimagem, incluindo tanto a Ressonância Magnética da 
Imagem funcional (IRMf) e Tomografia de Emissão Pósitron (PET), juntamente com 
a Simulação Magnética Transcraniana (TMS) e a Estretroscopia Infravermelha 
 
 
49
 
Próxima (NIRS), estão permitindo os cientistas compreenderem mais claramente os 
trabalhos do cérebro e a natureza da mente. Em particular, tais técnicas podem 
começar a iluminar velhas questões sobre o aprendizado humano e sugerir 
caminhos pelos quais a provisão educacional e a prática do ensino podem melhor 
ajudar os aprendizes jovens e adultos (OCDE-2002). 
Estas poderosas ferramentas de imagem funcional do cérebro aliadas à 
integração de diversas disciplinas que investigam a aprendizagem humana e 
desenvolvimento a fim de reunir educação, biologia e ciência cognitiva, terão forte 
impacto na profissão da educação. 
Não há dúvidas de que os professores devem começar imediatamente a 
explorar quais as formas mais indicadas de responder a toda essa revolução que 
dominará o cenário educacional neste novo milênio (SANTOS, 2011). 
Guerra (2004) ressalta com propriedade que a promoção de estratégias 
pedagógicas realizadas com o objetivo de atuarem no sistema nervoso, deveria 
requerer o conhecimento de como funciona este cérebro, objeto de estudo da 
neurobiologia. A educação, portanto, teria que ter como uma das áreas 
fundamentais para o seu desenvolvimento, tais conhecimentos, afinal o cérebro é o 
órgão principal da aprendizagem. 
Hoje sabemos que o sucesso do indivíduo está ligado ao bom desempenho 
escolar, por isso, um número cada vez maior de crianças são atendidas por 
neuropediatras, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e, mais recentemente, 
neuropsicopedagogos (SANTOS, 2011). 
Relvas (2010) afirma que termos como “distúrbios, dificuldades, transtornos, 
discapacidades, problemas”, são encontrados na literatura e, muitas vezes, são 
empregados de forma inadequada, porque a presença de uma dificuldade de 
aprendizagem não implica necessariamente um transtorno. 
Uma dificuldade pode ser transitória, não ligada a uma alteração funcional 
do sistema nervoso, como por exemplo, uma inadequação pedagógica, um 
problema emocional da criança, enfim, dificuldades que a criança passa em algum 
momento de sua vida, passível de ser superado. A expressão transtorno de 
aprendizagem deve ser reservada para dificuldades primárias ou específicas, que se 
deve a alteraçõesdo sistema nervoso central. 
 
 
50
 
No sistema nervoso central ocorrem modificações funcionais e de condutas, 
que dependem dos contingentes genéticos de cada um, associados ao ambiente 
onde está inserido, sendo este responsável pelo aporte sensitivo-sensorial, que vem 
por meio da substância reticular ativada pelo sistema límbico, que contribui com os 
aspectos afetivo-emocionais da aprendizagem. Relvas (2010) descreve, passo a 
passo, o caminho desses estímulos, relatando aspectos importantes e 
desconhecidos totalmente pelos professores, dentre eles: 
� O córtex cerebral, nas áreas do lobo temporal, recebe, integra e organiza as 
percepções auditivas; 
� As áreas do lobo occipital, recebem, integram e organizam as percepções 
visuais; 
� As áreas temporais e occipital se ligam às áreas motoras do lobo frontal, 
situadas na terceira circunvolução frontal, responsável pela articulação das 
palavras. A circunvolução frontal ascendente é responsável pela expressão 
da escrita (grafia); 
� A área parieto-temporoccipital é responsável pela integração gnósica, e as 
áreas pré-frontais, pela integração práxica, desde que essas funções sejam 
moduladas pelo afeto e pelas condições cognitivas de cada um. 
Segundo a mesma autora, essa complexa rede de funções sensitivo-motora, 
motora-práxica, controlada pelo afeto e pela cognição, deve ser associada à função 
do cerebelo na coordenação, não só das funções perceptivas e motoras, mas 
também das funções cognitivas do ato de aprender. As alterações funcionais e 
neuroquímicas envolvidas produzem modificações mais ou menos permanentes no 
sistema nervoso central, isso é aprendizagem. Portanto, o ato de aprender é um ato 
de plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos 
(experiências). Sendo assim, dificuldades para a aprendizagem seriam resultados de 
algumas falhas intrínsecas ou extrínsecas desse processo. 
Para Fonseca (2007), cognição é sinônimo de “ato ou processo de 
conhecimento” ou algo que é conhecido através dele e funções cognitivas seriam o 
processo de adquirir algo que é conhecido através dele, ou seja, seriam os 
processos mentais que nos permitem pensar, raciocinar e resolver problemas. 
 
 
51
 
As principais funções cognitivas seriam: atenção, percepção, memória, 
linguagem e funções executivas. É a partir da relação entre todas estas funções que 
entendemos a grande maioria dos comportamentos, desde os mais simples até as 
situações de maior complexidade, exigindo atividades cerebrais mais elaboradas, 
onde a educação cognitiva torna-se crucial para a escola regular. 
Assim sendo, aprender envolve a simultaneidade da integridade 
neurobiológica e a presença de um contexto social facilitador, portanto, o ensino de 
competências cognitivas ou o seu enriquecimento não deve continuar a ser ignorado 
pelo sistema de ensino, ora assumindo que tais competências não podem ser 
ensinadas ou ora assumindo que elas não precisam ser ensinadas. Ambas as 
assunções estão profundamente erradas: primeiro porque as funções cognitivas de 
nível superior podem ser melhoradas e treinadas e, segundo, porque não se deve 
assumir que elas emergem automaticamente por maturação, ou simplesmente por 
desenvolvimento neuropsicológico (SANTOS, 2011). 
Segundo Fonseca (2007), desenvolver o potencial de aprendizagem com 
programas de enriquecimento cognitivo não é uma futilidade, na medida em que o 
potencial não se desenvolve no vazio, nem apenas por instrução convencional; para 
que ele se desenvolva é preciso que seja estimulado e treinado intencionalmente. 
Antes que se perguntem porque voltamos o foco para as funções cognitivas, 
justificamos que ao longo do curso de Neuropsicopedagogia irão justamente 
estudar, refletir, analisar as contribuições dos estudos do sistema nervoso para a 
questão da aprendizagem no ambiente escolar. 
A escola do futuro deve privilegiar no treino cognitivo não só formas de 
pensamento analítico, dedutivo, rigoroso, convergente, formal e crítico, como formas 
de pensamento sintético, indutivo, expansivo, divergente, concreto e criativo, 
interligando-os de forma harmoniosa. 
A escola, deve e pode, portanto, ensinar funções cognitivas que estão na 
base de aprendizagens, simbólicas ou não. Com ensino mediatizado, com prática e 
treino, as funções ou competências cognitivas de qualquer aluno, seja ele deficiente 
ou não, podem ser melhoradas, aperfeiçoadas, uma vez que todos possuem um 
potencial de aprendizagem para se desenvolver de forma mais eficaz do que 
efetivamente tem feito (SANTOS, 2011). 
 
 
52
 
Os dados de inúmeras pesquisas científicas na área de educação cognitiva 
são extremamente encorajadores, eles ditam e recomendam que mais esforços 
devem ser conduzidos pela escola nesse sentido; se não tentarmos, o custo e o 
desperdício do potencial humano podem ser incalculáveis. É falso e displicente 
supor que as crianças deficientes não dispõem da capacidade de aprendizagem, 
nelas essa disposição é outra, mais lenta e diferente, mas isso não quer dizer que tal 
condição esteja extinta ou ausente (FONSECA, 1995). 
A escola do futuro deve atender as diversidades, aos diferentes estilos de 
aprendizagem, E nesse sentido, Fonseca, (1997) faz referência a perspectiva da 
formação do educador para lidar com essa diversidade, não podendo esta formação 
ser centrada apenas numa visão pedagógica, reducionista, mas deve também 
contemplar fatores: 
� neurobiológicos (Organização intrínseca do sistema nervoso, que preside as 
funções da atenção, percepção e conceituação, deficiências sensoriais, 
auditivas, visuais e cinestésicas, biologia da linguagem, problemas motores, 
problemas de comunicação, problemas somáticos, etc.); e, 
� psicoemocionais (Privação sensorial, interação mãe e filho, padrões 
perceptivos e adaptativos, desenvolvimento motor, psicomotor, cognitivo, 
emocional e social, etc.). 
A partir das relações entre estes fatores, poder-se-á construir uma formação 
científico-pedagógica dos professores na perspectiva da educação inclusiva. 
Fonseca (2007) conclui afirmando que a educação cognitiva deve ser um 
componente prioritário e não acessório da educação, que não pode ser 
negligenciada ou subutilizada por profissionais da educação inclusiva, não podendo 
estes profissionais desconhecer as vantagens e os benefícios da intervenção 
pedagógica neste domínio das Neurociências e práticas pedagógicas inclusivas. 
Para Cosenza e Guerra (2011), o grande desafio que a educação apresenta 
às neurociências é a proposição de temas relevantes a serem estudados em 
aprendizes com cérebros diferentes, como autistas, crianças com dificuldades de 
aprendizagem, deficiência intelectual, síndrome de Down, superdotação/altas-
habilidades, entre outros. Sabemos que hoje prevalece a política da escola inclusiva 
onde educar na diversidade será o maior desafio do educador contemporâneo. 
 
 
53
 
Os estudos e descobertas de estratégias pedagógicas específicas, 
considerando um funcionamento cerebral distinto, são condições imprescindíveis 
para tornar a educação inclusiva uma realidade, encarada com responsabilidade, 
onde professores utilizem conhecimentos pautados em evidências científicas. 
Conhecer o funcionamento cerebral de nossos aprendizes, sabendo que o processo 
de aprendizagem é mediado por suas estruturas e funções, é um importante passo 
afinal o cérebro é o órgão da aprendizagem (COSENZA; GUERRA, 2011). 
Santos (2011) parte do pressuposto de que aprender é promover a aquisição 
de novos conhecimentos, modificabilidade cognitiva e comportamental e de que todo 
esse processo resulta do funcionamento cerebral, portanto, compreender as bases 
neurobiológicas da aprendizagem torna-se fundamental na formação do professor 
no século XXI. 
Os sistemas de ensino devem assegurar a inclusão escolar de alunos com 
necessidades educacionais especiais e nenhum sistemade ensino poderá impor 
uma homogeneidade ou normalidade ideal. 
Educar na diversidade é hoje o grande desafio dos professores que irão lidar 
em sala de aula, cada vez mais heterogêneas, com alunos com deficiências, 
transtornos, dificuldades, enfim, modalidades diferentes de aprender (SANTOS, 
2011). 
A atenção à diversidade de capacidades, motivações e interesses dos 
alunos é um objetivo que os profissionais da educação estão tentando abordar há 
muitas décadas com maior ou menor sucesso. Mas agora é chegada a hora, a 
educação inclusiva é lei, nenhuma criança poderá ficar excluída da escola regular. 
Como ensinar da melhor maneira que esses cérebros possam aprender? 
Como esses cérebros se organizam, funcionam, quais as limitações e 
potencialidades desses alunos? Quais as intervenções adequadas para promover a 
aquisição da leitura e da escrita pautadas em evidências científicas? 
Tais questionamentos precisam ser respondidos pelos educadores que 
devem, urgentemente, buscar cursos onde possam conhecer as bases 
neurobiológicas do processo de aprender, para através desse conhecimento, que 
não é ofertado em cursos de formação superior, desenvolver melhores estratégias 
pedagógicas (SANTOS, 2011). 
 
 
54
 
O sujeito cerebral que a neurociência nos trouxe como novo conceito nos faz 
compreender que existe uma biologia, uma anatomia, uma fisiologia naquele cérebro 
que aprende, que é único na sua singularidade dentro da diversidade de alunos em 
sala de aula. 
É preciso conhecer as características individuais dos alunos, quer sejam 
aqueles com necessidades educacionais especiais, quer sejam os alunos que 
seguem o fluxo normal, contidas nos princípios humanos que reconhecem sua 
diversidade, a fim de traçar o melhor atendimento a ser ofertado para que ele possa 
desenvolver todas as suas capacidades. 
Sem dúvida, esse conhecimento fará com que os profissionais da educação 
e da saúde busquem conhecimentos neurobiológicos advindos das neurociências e 
de suas subáreas a fim de que possam lidar com essa diversidade de alunos em 
sala de aula construindo com esses conhecimentos, novas competências 
pedagógicas, promovendo através destas, práticas pedagógicas inclusivas, 
respeitando as diversidades e a singularidade de nossos aprendizes (SANTOS, 
2011). 
 
 
55
 
REFERÊNCIAS 
 
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