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MATERIAL DIDÁTICO CIÊNCIAS NEUROLÓGICAS CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 0800 283 8380 www.portalprominas .com.br 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................ ......................................................... 3 UNIDADE 2 – FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO ......... ................................... 9 UNIDADE 3 – BASES ESTRUTURAIS DO SISTEMA NERVOSO .. ........................ 15 3.1 MENINGES ......................................................................................................... 18 3.2 MEDULA ESPINHAL .............................................................................................. 18 3.3 TECIDO NERVOSO .............................................................................................. 19 3.4 OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS ............................................................................... 20 3.5 O TRONCO ENCEFÁLICO ...................................................................................... 21 3.6 O CEREBELO ...................................................................................................... 22 UNIDADE 4 – OS NEURÔNIOS ............................................................................... 24 4.1 ESTRUTURA DO NEURÔNIO .................................................................................. 26 4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS NEURÔNIOS ......................................................................... 27 4.3 AS SINAPSES - TRANSMISSÃO DO IMPULSO NERVOSO ENTRE CÉLULAS ..................... 29 UNIDADE 5 - ESPECIALIZAÇÃO E FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS ...................... 31 UNIDADE 6 – A PLASTICIDADE CEREBRAL/NEURAL E A MEMÓ RIA ............... 36 6.1 PLASTICIDADE NEURAL ........................................................................................ 36 6.1.1 Desenvolvimento ....................................................................................... 36 6.1.2 Aprendizagem ........................................................................................... 36 6.1.3 Após lesão neural...................................................................................... 38 6.2 MEMÓRIA ........................................................................................................... 40 6.2.1 Memória de Longo Prazo ou de Longa Duração ....................................... 41 6.2.2 Memória de Curto Prazo ou de Curta Duração ......................................... 42 6.2.3 Perda de Memória ..................................................................................... 42 6.2.4 Déficit de memória .................................................................................... 44 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 3 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Ao longo das últimas décadas, os cientistas, mais especificamente aqueles que lidam com as neurociências, têm se debruçados sobre estudos que levem a compreender o cérebro e sua impressionante capacidade de receber e filtrar informações. Neurologia é a especialidade da Medicina que estuda as doenças estruturais do Sistema Nervoso Central (composto pelo encéfalo e pela medula espinhal) e do Sistema Nervoso Periférico (composto pelos nervos e músculos), bem como de seus envoltórios (que são as meninges). Doença estrutural significa que há uma lesão identificável em três níveis: 1. Genético-molecular (mutação do material genético DNA); 2. Bioquímico (alteração de uma proteína ou enzima responsável pelas reações químicas que mantêm as funções dos tecidos, órgãos ou sistemas); ou, 3. Tecidual (alteração da natureza histológica ou morfológica própria de cada tecido, órgão ou sistema). Em outras palavras, existe uma alteração neuroanatômica ou neurofisiológica que produz manifestações clínicas, as quais devem ser interpretadas, portanto, a base do raciocínio da Neurologia Clínica é exatamente o exercício de associação dos sintomas e sinais neurológicos apresentados pelo paciente (diagnóstico sindrômico) com o tipo de função alterada e com a estrutura anatômica a ela associada (diagnóstico anatômico ou topográfico) (REED, 2004). Dentre as doenças tratadas pela Neurologia temos: � Dores de cabeça (cefaleia); � Epilepsia; � Distúrbio do sono; � Mielopatias; � Neuropatias; � Doenças vasculares encefálicas; � Doenças neuro-degenerativas; � Neuro-infecções (meningite, por exemplo). 4 A Neurologia de maneira geral e as neurociências novas em muito podem contribuir para o avanço da inclusão social. Abaixo temos algumas definições importantes para compreendermos, ao longo do curso, o desenvolvimento cognitivo do ser humano: a)Neurociência trata do desenvolvimento químico, estrutural e funcional, patológico do sistema nervoso. As pesquisas científicas começaram no início do século XIX. Nessa ocasião, os fisiologistas Fristsch e Hitzig relataram que a estimulação elétrica de áreas específicas do córtex cerebral de um animal evocava movimentos, e os médicos Broca e Wernicke confirmaram, separadamente, por necropsia, danos cerebrais localizados em pessoas que tiveram déficits de linguagem após algum acidente. Em 1890, Cajal, neuroanatomista1, estabeleceu que cada célula nervosa é única, distinta e individual. O cientista Sherrington, estudando reações, relatou que as células nervosas (neurônios) respondem a estímulos e são conectadas por sinapses. Em 1970, desenvolveram-se novas técnicas e produção de imagens, produzindo com clareza o encéfalo e a medula espinhal em vida, fornecendo informações fisiológicas e patológicas nunca antes disponíveis. Dentre as técnicas, existem a tomografia computadorizada axial (TCA), a tomografia por emissão de pósitrons (PCT) e a ressonância magnética (RM). b)Neurociência molecular investiga a química e a física envolvida na função neural. Estuda os íons e suas trocas necessárias para que uma célula nervosa conduza informações de uma parte do sistema nervoso para a outra. Reduzindo ao nível mais fundamental, a sensação, o movimento, a compreensão, o planejamento, o relacionamento, a fala e muitas outras funções humanas que dependem de alterações químicas e físicas. c)Neurociência celular considera as distinções entre os tipos de células no sistema nervoso e como funciona cada tipo respectivamente. As investigações com os neurônios recebem e transmitem informações, e os papéis das células não neurais do sistema nervoso são questões ao nível celular. 1 Os neuroanatomistas estudam a estrutura do sistema nervoso, em nível microscópico e macroscópico, dissecando o cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura. 5 d)Neurociência de sistemas tem a finalidade de investigar grupos de neurônios que executam uma função comum, por meio de circuitos e conexões. Como exemplo, têm-se posição e movimento do sistema musculoesquelético para o SNC, e o sistema motor, que controla os movimentos. e)Neurociência comportamental estuda a interação entre os sistemas que influenciam o comportamento, o controle postural, a influência relativa de sensações visuais, vestibulares e proprioceptivas no equilíbrio em diferentes condições. f)Neurociência cognitiva atua nos estudos do pensamento, da aprendizagem, da memória, do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças entre memória para eventos específicos e para a execução de habilidades motoras. g)A neurofisiologia estuda as funções do sistema nervoso, utilizando eletrodos para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de áreas maiores do cérebro. Muitas vezes o neurofisiologista separa as conexões nervosas para avaliar seus resultados. h)A neuropsicologia estuda as relações entreas funções neurais e psicológicas. Para estes especialistas a pergunta chave é: qual área específica do cérebro controla ou media as funções psicológicas? Utilizam como método o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas que acompanham lesões em partes específicas do cérebro. De acordo com os estudos das neurociências, os processos de aprendizagem modelam o cérebro através das sinapses produzidas nos/pelos neurônios como será visto adiante. Eles dissolvem conexões pouco utilizadas ou fortalecem as ativas de uso frequente. [...] Até idade avançada, sinapses serão fortalecidas ou enfraquecidas por novos estímulos, experiências, pensamentos e ações, o que [...] possibilita aprender durante toda a vida (FRIEDRICH; PREISS, 2006, p. 52-53). Sendo assim, ensinar é estimular a produção de sinapses, tornar possíveis estímulos intelectuais que acionem o cérebro e favoreçam a aprendizagem. O caminho que faremos nesta apostila tem como objetivo fornecer as bases do conhecimento científico para compreendermos o mecanismo de aprender, uma 6 vez que o cérebro e o sistema nervoso central são os organizadores dos nossos comportamentos. Ao prefaciar o livro de Marta Relvas (2010) intitulado “Neurociência e Educação”, Luiza Elena L. Ribeiro do Valle foi muito feliz ao dizer que o conhecimento é o caminho que pode conduzir cada um ao despertar para o mundo exterior a partir da compreensão das próprias características e é assim que podemos realizar ideais e projetos. A realização pessoal que se atinge na profissão depende de uma busca continuada dos conhecimentos que aperfeiçoam o “fazer” e engrandecem o “ser”. Quando as soluções e dúvidas se tornam acessíveis por meio de uma linguagem compreensível que traduz o conhecimento e a aplicação dele, desfaz-se o abismo entre o professor e o aluno, pontuando com a aceitação, em lugar das críticas, dando espaço para um relacionamento mais verdadeiro e para o desenvolvimento de potencialidades. Existem princípios da neurociência que estabelecem as relações entre como o cérebro aprende e as estratégias que podem ser criadas em sala de aula, a saber: � Aprendizagem, memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de aprendizagem. A aprendizagem sendo atividade social, os alunos precisam de oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranquilo encoraja o estudante a expor seus sentimentos e ideias; � O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como resultado da experiência. Aulas práticas/exercícios físicos com envolvimento ativo dos participantes fazem associações entre experiências prévias com o entendimento atual; � O cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis) para certos tipos de aprendizagem, que não se esgotam mesmo na idade adulta. Assim fazem-se ajuste de expectativas e padrões de desempenho às características etárias específicas dos alunos, usando de unidades temáticas integradoras; � O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogênese), mas maior densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender. Os estudantes precisam sentir-se “detentores” das atividades e temas que são relevantes para suas vidas. Atividades pré-selecionadas com 7 possibilidade de escolha das tarefas aumentam a responsabilidade do aluno no seu aprendizado; � Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso de nova experiência de aprendizagem. Valem as situações que reflitam o contexto da vida real, de forma que a informação nova se “ancore” na compreensão anterior; � O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e gerar padrões quando testa hipóteses. Deve-se promover situações em que se aceite tentativas e aproximações ao gerar hipóteses e apresentação de evidências. Pode-se fazer uso de resolução de “casos” e simulações; � O cérebro responde, devido a herança primitiva, às gravuras, imagens e símbolos. Vale propiciar ocasiões para alunos expressarem conhecimento através das artes visuais, música e dramatizações (BARTOSZECK; BARTOSZECK, 2009). Os pesquisadores acima acreditam que mesmo usando rotineiramente tais estratégias, as quais atuam nas transformações neurobiológicas que produzem a aprendizagem e fixação do conhecimento na estrutura cognitiva da mente, os professores em geral desconhecem como o cérebro e o sistema nervoso funcionam como um todo na esfera educacional, daí a importância em conhecer mais profundamente o seu funcionamento. Guerra, Pereira e Lopes (2004, p. 1) já haviam identificado tal desconhecimento e necessidade ao inferirem que educar é promover a aquisição de novos comportamentos. As estratégias pedagógicas utilizadas pelo educador no processo ensino-aprendizagem são estímulos que levam à reorganização do sistema nervoso em desenvolvimento, o que produz as mudanças comportamentais. O educador está cotidianamente atuando nas transformações neurobiológicas cerebrais que levam à aprendizagem. No entanto, desconhece como o cérebro funciona. Aos que buscam especializar-se em Neuropsicopedagogia, desejamos concomitantemente muito estudo, aprofundamento nos conteúdos que se seguem e a crença de que cada ser é único, especial e merecedor de nossa atenção. 8 Ressaltamos também que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 9 UNIDADE 2 – FILOGÊNESE DO SISTEMA NERVOSO O estudo da evolução humana que também podemos chamar de filogênese nos leva a compreender melhor a adaptação sensório-motora dos seres vivos e, por consequência, dos sujeitos aprendentes, pois mesmo os mais primitivos dos humanos tiveram de se ajustar continuamente ao meio ambiente, que também é mutável, para sobreviverem enquanto indivíduo e ainda como espécie (RELVAS, 2009). Para Sarnat (1981 apud RIBAS, 2006), do ponto de vista anatômico, há três maneiras básicas de se estudar o sistema nervoso central (SNC). A primeira consiste em estudar a simples disposição espacial das suas estruturas já desenvolvidas, campo de estudo denominado neuroanatomia; a segunda, em estudar o seu desenvolvimento ontogenético; e a terceira, em estudar o seu desenvolvimento filogenético – ocorrido ao longo da chamada evolução das espécies, o que é feito principalmente através da paleontologia e da anatomia comparada. Ribas (2006) analisa que para a discussão de considerações de ordem anatômica pertinentes a questões comportamentais, paralelamente às relevantes contribuições experimentais em animais e às observações clínicas em seres humanos, a análise dos conhecimentos existentes sobre a evolução filogenética das estruturas nervosas é particularmente útil, uma vez que ela nos possibilita fazer especulações sobre o aparecimento, o desenvolvimento e o embricamento dessas estruturas e as possíveis características e comportamentos dos seus respectivos elementos evolutivos. Ao propiciar uma visão progressiva das complexidades nervosa e comportamental ao longo da evolução, a análise filogenética também acarreta, a cada passo, questionamentos sobre a própria conceituação de termos como consciência e psiquismo, entre outros, principalmente por propiciar especulações sobre os possíveis paralelos comportamentais existentes entre as diferentesespécies e o próprio ser humano (RIBAS, 2006). Em relação ao processo evolutivo, é importante lembrar que este diz respeito a mudanças que ocorreram por força de fatores, principalmente ambientais, que influenciaram todos os seres vivos, e não através de simples adições terminais 10 de novas estruturas. Os processos evolutivos têm como principais denominadores comuns a adaptação, a expansão da diversidade e o aumento da complexidade. Ao longo de milhões de anos, o SNC dos vertebrados se desenvolveu até atingir a complexidade do SNC humano, e é particularmente interessante e intrigante como o desenvolvimento embrionário e fetal do SNC humano refaz grosseiramente este mesmo curso (HAECKE; GOULD, 1977 apud RIBAS, 2006). As maiores dificuldades dos estudos filogenéticos evidentemente se devem à escassez de informações sobre os elementos já extintos, ao longo tempo necessário para observação de quaisquer mudanças evolutivas naturais ou experimentais e à veracidade das inferências sugeridas pelos estudos de anatomia comparada. O desenvolvimento de técnicas de sequenciamento do DNA seguramente propiciará avanços neste campo, dadas as suas possibilidades de comparar genomas de diferentes espécies e mesmo de espécies extintas (RIBAS, 2006). As figuras abaixo nos mostram: A) a evolução filogenética no homem em comparação a outros animais; B) a evolução embriológica e fetal do SNC no ser humano 11 Fonte: Ribas (2006, p. 334) São condições fundamentais para que o indivíduo se adapte ao meio ambiente: a irritabilidade, a condutibilidade e a contratilidad e. Por meio da irritabilidade ou sensibilidade, a célula detecta as modificações do meio ambiente. Essa sensibilidade celular causada por um estímulo é conduzida à outra parte da célula pela condutibilidade, possibilitando uma resposta a esse estímulo. Essa resposta pode ser o encurtamento da célula pela propriedade chamada contratilidade que é uma reação que normalmente acontece no sentido de fugir a um estímulo nocivo ou para se aproximar de um estímulo agradável (mecanismo de defesa, por meio da motricidade). Em seres ainda mais complexos (por exemplo, metazoários), as células musculares responsáveis pela contratilidade foram ficando na parte mais interior do animal. Na superfície, ficaram as células sensórias responsáveis pela identificação do estímulo. Essa distância entre as células sensórias e as musculares foi compensada pela especialização de células exclusivas para permitir a condutibilidade da informação colhida na superfície, levando-as até o interior do ser, para que houvesse uma resposta, que pode ser de repulsão ou de aproximação, 12 dependendo do teor do estímulo. Esses neurônios são células nervosas responsáveis por motricidade e sensibilidade do corpo. A evolução filogenética providenciou para que essas células especializadas em conduzir sinais se agrupassem e formassem um sistema nervoso central. Esse sistema de comando conta com neurônios sensitivos ou aferentes, que são responsáveis pela coleta de informações oriundas do meio ambiente. Essas informações ou sinais são enviados ao centro de comando formado pelo sistema nervoso central para que este elabore e retorne uma determinada reação ou resposta. Essa resposta é possível graças aos neurônios eferentes ou motores, podendo denominar-se motricidade voluntária. As respostas podem ser elaboradas e retomadas a partir de qualquer ponto do sistema nervoso central, como encéfalo, medula oblonga, tronco encefálico, etc. Os reflexos patelares, observados no joelho do homem quando se bate com um martelete nessa região, o que provoca o estiramento involuntário da perna para frente, é um exemplo de reação a partir da medula oblonga, denominando-se de motricidade involuntária. Um terceiro tipo de neurônio trouxe um considerável aumento do número de sinapses, o que aumentou consideravelmente a complexidade do sistema nervoso. Esse neurônio foi denominado de neurônio de associação. Ele associa os diversos tipos de informações e elabora as respostas a serem dadas ao estímulo. Seria o rudimento da inteligência, capaz de elaborar a compreensão, o raciocínio, a linguagem, ainda que primitiva, porém diferenciada dos outros seres vivos. O crescimento do número de neurônios de associação aconteceu de forma agrupada e em uma das extremidades dos seres vivos, o que seria mais tarde a sua cabeça. Durante os deslocamentos, os animais percebiam mais rapidamente as mudanças do meio por intermédio desses neurônios agrupados nessa extremidade e podiam elaborar respostas mais rápidas, livrando-se de perigos, para encontrar alimento, para perpetuar a espécie ou para se manter nos territórios e sobreviver. Essa extremidade especializou-se em explorar ambientes e, por isso, foi aparelhada com boca, olhos, ouvidos, pele e nariz, enfim, todos os órgãos dos sentidos. Em virtude da sua importância, esse agrupamento de neurônios foi protegido por um crânio e deu ao homem a capacidade de elaborar tarefas mais 13 finas, como um simples movimento de pegar o garfo e levá-lo à boca ou segurar um lápis e realizar um registro no papel. O crescimento gradual do encéfalo observado na escala filogenética atinge seu maior grau de complexidade no ser humano. Os neurônios de associação situados no encéfalo foram os responsáveis pelo surgimento das funções psíquicas superiores. Chegava, assim, ao ápice da evolução do sistema nervoso. Daí em diante, o homem foi capaz de sentir, pensar, relacionar-se afetiva e emocionalmente, utilizando a motricidade corporal (os músculos voluntários e involuntários e as vísceras) como canal de expressão dos sentidos (RELVAS, 2009). Observando a estrutura do sistema nervoso, percebemos que ela tem partes situadas dentro do cérebro, da coluna vertebral e outras distribuídas por todo corpo. As primeiras recebem o nome coletivo de sistema nervoso central (SNC), e as últimas, de sistema nervoso periférico (SNP). É no sistema nervoso central que está a grande maioria das células, seus prolongamentos e os contatos que fazem entre si. No sistema nervoso periférico, estão relativamente poucas células, mas há um grande número de prolongamentos chamados fibras nervosas, agrupadas em filetes alongados chamados nervos. É possível dizer que a evolução do sistema nervoso central (SNC) dos animais vertebrados se deu na direção do aumento de complexidade, com um gradativo e marcante aumento do tamanho cerebral, resultado de um crescente número de neurônios e do surgimento progressivo de novas estruturas cerebrais (particularmente o córtex cerebral) e de sua expansão. O caminho de evolução do SNC percorrido pelo seres humanos se deu em direção à crescente intercomunicação entre neurônios, levando ao desenvolvimento de novas estruturas neuronais, que nos possibilitam uma mais rica percepção consciente do mundo em que vivemos e uma mais efetiva adaptação a diferentes ambientes. O processo evolutivo levou (até pela complexidade de suas dimensões e potencialidades) à separação de funções entre os nossos hemisférios corticais, criando-nos, de um lado, um “cérebro” cognitivo, racional e analítico e, de outro, um “cérebro” intuitivo, afetivo e emocional. 14 Da existência destes dois modos operacionais surge-nos, se soubermos integrá-los harmoniosamente, a potencialidade de um processo de consciência bastante ampliado e de uma vida mais plena, criativa e amorosa. É preciso também notar que o processo de interação entre os neurônios não é fixo, mesmo após o nosso desenvolvimento e maturação iniciais. Ao contrário, dada a plasticidade entre as conexões sinápticas e à ação variável de substâncias transmissoras e moduladoras, o cérebro deve ser entendido como um conjunto de sistemas funcionais altamente dinâmicos com amplas potencialidades dereajuste e até de recuperação. Finalmente é preciso considerar que o homem não é um organismo acabado. Seu cérebro continua em constante evolução biológica adequando-se sempre a novas circunstâncias, e em busca do equilíbrio (SCHMIDEK; CANTOS, 2008). 15 UNIDADE 3 – BASES ESTRUTURAIS DO SISTEMA NERVOSO Dentre os sistemas que compõem o organismo humano, neste estudo, o nosso maior interesse está no sistema nervoso, composto pelo sistema nervoso central - SNC (encéfalo e medula) e sistema nervoso periférico - SNP. São funções essenciais do sistema nervoso: • Ajustar o organismo ao ambiente; • Perceber e identificar as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do próprio corpo; • Elaborar respostas que adaptem a essas condições; • Função sensorial, integrativa e motora. O sistema nervoso é um tecido originário de um folheto embrionário denominado como ectoderme, mais precisamente de uma área diferenciada deste folheto embrionário, a placa neural. Inicialmente, a placa neural contém cerca de 125 mil células, que vão dar origem a um sistema que é composto por aproximadamente 100 bilhões de neurônios no futuro. A placa neural, aproximadamente na 3ª semana de gestação, se fecha, formando um tubo longitudinal (tubo neural) que na sua região rostral ou anterior, sofre uma dilatação que dará origem a uma parte fundamental do Sistema Nervoso Central, o Encéfalo. Nos pontos de encontro ou fechamento das extremidades da placa neural, no recém formado tubo neural, forma-se a crista neural que dá origem a componentes que a neuro-anatomia nomina como elementos periféricos e componentes celulares gliais. O Sistema Nervoso pode ser classificado de várias formas, sendo a classificação mais comum aquela que o divide em: 16 a) sistema nervoso central (SNC), aquele que está contido no interior do chamado “estojo axial” (canal vertebral e crânio), ou seja, o encéfalo e a medula espinhal; b) sistema nervoso periférico (SNP), aquele que é encontrado fora deste estojo ósseo, que se relaciona com o esqueleto apendicular, sendo os nervos (axônios) e gânglios (formações de corpos neuronais ganglionares dispersas em regiões do corpo ou mesmo dispostas ao longo da coluna vertebral, como os gânglios sensitivos). No entanto, também podemos dividir o sistema nervoso funcionalmente em somático ou de vida de relação, que lembra o sistema nervoso que atua em todas as relações que são percebidas por nossa consciência; e, em visceral ou vegetativo, aquele interage de forma inconsciente, no controle e na percepção do meio interno e vísceras. Tanto o somático quanto o vegetativo, possuem componentes aferentes (sensitivos) e eferentes (motores) (DIAS; SCHNEIDER, 2006). “Organograma do Sistema Nervoso” O SNC (sistema nervoso central) recebe, analisa e integra informações. É o local onde ocorre a tomada de decisões e o envio de ordens. O SNP (sistema nervoso periférico) carrega informações dos órgãos sensoriais para o sistema nervoso central e do sistema nervoso central para os órgãos efetores (músculos e glândulas). O SNC divide-se em encéfalo e medula. O encéfalo corresponde ao telencéfalo (hemisférios cerebrais), diencéfalo (tálamo e hipotálamo), cerebelo, e 17 tronco cefálico (que se divide em: bulbo, situado caudalmente; mesencéfalo, situado cranialmente; e, ponte, situada entre ambos). Os órgãos do SNC são protegidos por estruturas esqueléticas (caixa craniana, protegendo o encéfalo; e coluna vertebral, protegendo a medula - também denominada raque) e por membranas denominadas meninges, situadas sob a proteção esquelética: dura-máter (a externa), aracnóide (a do meio) e pia-máter (a interna). Entre as meninges aracnóide e pia-máter há um espaço preenchido por um líquido denominado líquido cefalorraquidiano ou líquor. O Sistema Nervoso Central (encéfalo e medula espinhal) está contido em um estojo ósseo denominado estojo axial. Este estojo é constituído pelo crânio, que abriga o encéfalo e a coluna vertebral, formada por vértebras nos segmentos cervical, torácica (ou dorsal) e lombar que contém em sua luz (no canal vertebral ou forame vertebral) a medula espinhal, que se entende somente até a primeira vértebra lombar. Já na região lombo-sacral o canal vertebral abriga a cauda equina e o filum terminale. Ilustração do SNC: A palavra córtex vem do latim para “casca”. Isto porque o córtex é a camada mais externa do cérebro. A espessura do córtex cerebral varia de 2 a 6 mm. O lado esquerdo e direito do córtex cerebral são ligados por um feixe grosso de fibras 18 nervosas chamado de corpo caloso. Os lobos são as principais divisões físicas do córtex cerebral. O lobo frontal é responsável pelo planejamento consciente e pelo controle motor. O lobo temporal tem centros importantes de memória e audição. O lobo parietal lida com os sentidos corporal e espacial. o lobo occipital direciona a visão. 3.1 Meninges O sistema nervoso central é protegido por três envoltórios formados por tecido conjuntivo, denominados, como meninges, sendo estas, na ordem do interior para o exterior: 1. Piamáter (Acolada mais intimamente ao sistema nervoso, é impossível de ser totalmente removida sem remover consigo o próprio tecido nervoso); 2. Aracnóide (Situada entre a Pia e Duramáter, é provida de trabéculas que permite a circulação do líquor); 3. Duramáter (Trata-se do envoltório mais externo e mais forte, que em conjunto com a Aracnóide é denominada como paquimeninge); =>O conjunto, piamáter e aracnóide é denominado leptomeninge. 3.2 Medula espinhal Etimologicamente, medula significa miolo e indica tudo o que está dentro. A medula espinhal é assim denominada por estar dentro do canal espinhal ou vertebral. A medula é uma massa de tecido nervoso alongada e cilindróide, situada dentro do canal vertebral, sem ocupá-lo completamente e ligeiramente achatada ântero-posteriormente. Tem calibre não uniforme por possuir duas dilatações, as intumescências cervical e lombar, de onde partem maior número de nervos através dos plexos braquial e lombossacral, para inervar os membros superiores e inferiores, respectivamente. Seu comprimento médio é de 42 cm na mulher adulta e de 45 cm no homem adulto. Sua massa total corresponde a apenas 2% do Sistema Nervoso Central humano, contudo inerva áreas motoras e sensoriais de todo o corpo, exceto as áreas inervadas pelos nervos cranianos. Na sua extremidade rostral, é contínua com 19 o tronco cerebral (bulbo) aproximadamente ao nível do forame magno do osso occipital. Termina ao nível do disco intervertebral entre a primeira e a segunda vértebra lombares. A medula termina afilando-se e forma o cone medular que continua com o filamento terminal-delgado, filamento meníngeo composto da pia- máter e fibras gliais. Algumas estruturas são de extrema importância na fixação da medula, como o ligamento coccígeo que se fixa no cóccix, a própria ligação com o bulbo, os ligamentos denticulados, a emergência dos nervos espinhais e a continuidade da dura-máter com o epineuro que envolve os nervos. A medula espinhal recebe impulsos sensoriais de receptores e envia impulsos motores a efetuadores tanto somáticos quanto viscerais. Ela pode atuar em reflexos dependente ou independentemente do encéfalo. Este órgão é a parte mais simples do Sistema Nervoso Central, tanto ontogenético (embriológico) quanto filogeneticamente (evolutivamente). Daí o fato de a maioria das conexões encefálicas com o Sistema Nervoso Periférico ocorrer via medula. 3.3 Tecido Nervoso No SNC, existem as chamadas substâncias cinzenta e branca. A substância cinzenta é formada pelos corpos dos neurônios e a branca por seus prolongamentos. Com exceção do bulbo e da medula, a substância cinzenta ocorre mais externamente e a substância brancamais internamente. A unidade funcional e estrutural do sistema nervoso é o neurônio ou célula nervosa. São os neurônios que fazem a ligação entre as células receptoras dos diversos órgãos sensoriais e as células efetoras, nomeadamente músculos e glândulas. Os neurônios são células muito especializadas que apresentam um ou mais prolongamentos, ao longo dos quais se desloca um sinal elétrico. Podem ser classificados, com base no sentido em que conduzem impulsos relativamente ao sistema nervoso central, em: neurônios sensoriais ou aferentes – os que transmitem impulsos do exterior para o sistema nervoso central; neurônios motores ou eferentes – os que transmitem impulsos do sistema nervoso central para o exterior; neurônios de conexão – os que conduzem impulsos entre os outros dois tipos de neurônios. 20 O Tecido Nervoso é composto basicamente por dois tipos celulares: a) os neurônios, que são a unidade fundamental do tecido nervoso, cuja função é receber, processar e enviar informações; estes, após o nascimento geralmente não se dividem, os que morrem, seja naturalmente ou por efeitos de toxinas ou traumatismos, jamais serão substituídos; b) células gliais (neuróglia) que são as células que ocupam os espaços entre os neurônios, com função de sustentação, revestimento, modulação da atividade neuronal e defesa; diferente dos neurônios, essas células mantém a capacidade de mitose. Os neurônios são compostos basicamente por três estruturas: corpo celular, dendritos e axônio. 3.4 Os hemisférios cerebrais O telencéfalo compreende os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, e uma pequena linha mediana situada na porção anterior do III ventrículo. Os dois hemisférios cerebrais são incompletamente separados pela fissura longitudinal do cérebro, cujo o assoalho é formado por uma larga faixa de fibras comissurais, denominada corpo caloso, principal meio de união entre os dois hemisférios. Os hemisférios possuem cavidades, os ventrículos laterais direito e esquerdo, que se comunicam com o III ventrículo pelos forames interventriculares. Cada hemisfério possui três polos: frontal, occipital e temporal; e três faces: súpero-lateral (convexa); medial (plana); e inferior ou base do cérebro (irregular), repousando anteriormente nos andares anterior e médio da base do crânio e posteriormente na tenda do cerebelo. Telencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo Metencéfalo Mieloencéfalo 21 O Diencéfalo (tálamo e hipotálamo): Todas as mensagens sensoriais, com exceção das provenientes dos receptores do olfato, passam pelo tálamo antes de atingir o córtex cerebral. Esta é uma região de substância cinzenta localizada entre o tronco encefálico e o cérebro. O tálamo atua como estação retransmissora de impulsos nervosos para o córtex cerebral. Ele é responsável pela condução dos impulsos às regiões apropriadas do cérebro onde eles devem ser processados. O tálamo também está relacionado com alterações no comportamento emocional; que decorre, não só da própria atividade, mas também de conexões com outras estruturas do sistema límbico (que regula as emoções). O hipotálamo, também constituído por substância cinzenta, é o principal centro integrador das atividades dos órgãos viscerais, sendo um dos principais responsáveis pela homeostase corporal. Ele faz ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, atuando na ativação de diversas glândulas endócrinas. É o hipotálamo que controla a temperatura corporal, regula o apetite e o balanço de água no corpo, o sono e está envolvido na emoção e no comportamento sexual. Tem amplas conexões com as demais áreas do prosencéfalo e com o mesencéfalo. Aceita-se que o hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções. Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva, enquanto que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e à tendência ao riso (gargalhada) incontrolável. De um modo geral, contudo, a participação do hipotálamo é menor na gênese (“criação”) do que na expressão (manifestações sintomáticas) dos estados emocionais. 3.5 O tronco encefálico O tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se ventralmente ao cerebelo. Possui três funções gerais: (1) recebe informações sensitivas de estruturas cranianas e controla os músculos da cabeça; (2) contém circuitos nervosos que transmitem informações da medula espinhal até outras regiões encefálicas e, em direção contrária, do encéfalo para a medula espinhal (lado esquerdo do cérebro controla os movimentos do lado direito 22 do corpo; lado direito de cérebro controla os movimentos do lado esquerdo do corpo); (3) regula a atenção, função esta que é mediada pela formação reticular (agregação mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do tronco encefálico). Além destas 3 funções gerais, as várias divisões do tronco encefálico desempenham funções motoras e sensitivas específicas. Na constituição do tronco encefálico entram corpos de neurônios que se agrupam em núcleos e fibras nervosas, que, por sua vez, se agrupam em feixes denominados tractos, fascículos ou lemniscos. Estes elementos da estrutura interna do tronco encefálico podem estar relacionados com relevos ou depressões de sua superfície. Muitos dos núcleos do tronco encefálico recebem ou emitem fibras nervosas que entram na constituição dos nervos cranianos. Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fazem conexão no tronco encefálico. 3.6 O cerebelo Situado atrás do cérebro está o cerebelo, que é primariamente um centro para o controle dos movimentos iniciados pelo córtex motor (possui extensivas conexões com o cérebro e a medula espinhal). Como o cérebro, também está dividido em dois hemisférios. Porém, ao contrário dos hemisférios cerebrais, o lado esquerdo do cerebelo está relacionado com os movimentos do lado esquerdo do corpo, enquanto o lado direito, com os movimentos do lado direito do corpo. O cerebelo recebe informações do córtex motor e dos gânglios basais de todos os estímulos enviados aos músculos. A partir das informações do córtex motor sobre os movimentos musculares que pretende executar e de informações proprioceptivas que recebe diretamente do corpo (articulações, músculos, áreas de pressão do corpo, aparelho vestibular e olhos), avalia o movimento realmente executado. Após a comparação entre desempenho e aquilo que se teve em vista realizar, estímulos corretivos são enviados de volta ao córtex para que o desempenho real seja igual ao pretendido. Dessa forma, o cerebelo relaciona-se com os ajustes dos movimentos, equilíbrio, postura e tônus muscular. Quadro resumo das funções dos componentes do sistema nervoso 23 Córtex Cerebral • Pensamento • Movimento voluntário • Linguagem • Julgamento • Percepção Cerebelo • Movimento • Equilíbrio • Postura • Tônus muscular Tronco encefálico • Respiração • Ritmo dos batimentos cardíacos • Pressão Arterial Mesencéfalo • Visão • Audição • Movimento dos Olhos • Movimento do corpo Tálamo • Integração Sensorial • Integração Motora Sistema límbico • Comportamento Emocional • Memória • Aprendizado • Emoções • Vida vegetativa (digestão, circulação, excreção etc.). 24 UNIDADE 4 – OS NEURÔNIOS Segundo Pimentel e Santos (2008), a vida humana depende de informações e os neurônios têm uma função primordial no processo de recebimento de todas as informações que vão ao cérebro. É através da rede neural que toda a consciência de informações e níveis de conhecimentos são formados. Esta célula nervosa, o neurônio, tem a capacidade tanto de receber quanto de responder a mensagens que chegam ao cérebro.Os neurônios são portadores de sinais carregados de informações e significados, estes sinais trafegam a mensagem por todo o sistema neuronal do corpo humano. Isto é realizado graças aos nervos motores que conduzem seus sinais a centenas de quilômetros por hora. Estas mensagens são codificadas em padrões flexíveis que são transmitidos por sinais, visões, sons, movimentos, etc. (McCRONE, 2002). A capacidade dos neurônios de transmitir informações é conferida pelos seus prolongamentos: o axônio e os dendritos. Estes últimos recebem as informações provenientes de células nervosas e os axônios se encarregam de conduzir tais informações através de impulsos nervosos e repassá-los a outras células. Nos vertebrados, a maioria dos axônios é revestida por uma substância esbranquiçada chamada bainha de mielina. É esta substância a responsável pela velocidade com que os impulsos nervosos (informações) serão conduzidos. (COSENZA, 2004). Este processo de mielinização ocorre nos primeiros meses e anos de vida do indivíduo e, portanto, quanto mais mielinizados forem os axônios, mais rapidamente acontecem a recepção e a resposta das mensagens percebidas no entorno, sendo assim, mais rapidamente acontece a aprendizagem (PIMENTEL; SANTOS, 2008). No cérebro, cada neurônio está conectado a vários milhares de vizinhos, esta conexão é chamada de sinapse e podem ser elétricas e químicas. O formato do neurônio e o padrão das conexões é o que vai determinar o nível da informação. Estas informações, mesmo que superficiais, dão uma ideia da importância dos bilhões de neurônios e de trilhões de conexões sinápticas no processo de aprendizagem. 25 Segundo Schmidek (2005), do ponto de vista evolutivo nós, seres humanos, herdamos dos nossos ancestrais os neurônios, que praticamente não mudaram ao longo de toda a evolução. Há bilhões de anos eles permanecem com o mesmo aspecto geral e têm o mesmo mecanismo básico de funcionamento, sendo em essência os mesmos neurônios em um rato, em um jacaré ou em um peixe e até mesmo em um invertebrado. Aliás, foi a partir de um certo tipo de neurônio que ocorrem em moluscos (os chamados “neurônios de axônio gigantes”, encontrados em lulas e polvos) que se descobriram muitas das propriedades funcionais das nossas células nervosas (SCHMIDEK, 2005). O grande segredo que faz nosso sistema nervoso tão diferente de outro organismo vivo é basicamente o enorme número de neurônios que compõem o nosso cérebro e o incrível número de interligações que essas células fazem (SCHMIDEK; CANTOS, 2008). O cérebro humano é proporcionalmente o maior e o mais pesado entre todos os animais e a formação completa do mesmo, dentro dos limites de normalidade, vai desde meados da terceira semana de gestação quando se inicia a formação da placa neural embrionária, para só se completar por volta do quinto ano de vida, com a plena mielinização dos neurônios corticais. Para que os axônios de muitos tipos de neurônios consigam transmitir mensagens com rapidez e precisão, eles precisam estar maduro. Isto acontece quando o mesmo é envolvido por uma camada especial de gordura e proteína (a mielina), que atua como isolante elétrico e facilita a transmissão do impulso nervoso. Assim, a maturação das células cerebrais, faz com movimentos complexos, os níveis de coordenação e controle motor fino só sejam alcançados após o término da formação da mielina (KOLB; WHISHAW, 2002). Mas o que são neurônios? São básica e essencialmente as células nervosas que estabelecem conexões entre si de tal maneira que apenas um neurônio pode transmitir a outros os estímulos recebidos do ambiente, gerando uma reação em cadeia. 26 4.1 Estrutura do neurônio Sua estrutura é e composta por três partes distintas: corpo celular, dentritos e axônios. Estrutura básica de um neurônio Fonte: Ferneda (2006, p. 25) Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no sistema nervoso central e também em pequenas estruturas globosas espalhadas pelo corpo, os gânglios nervosos. Os dentritos e o axônio, genericamente chamados fibras nervosas, estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares dos neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares. O Corpo Celular ou Pericário contém núcleo e citoplasma, onde estão contidos ribossomas, retículo endoplasmático granular e agranular e aparelho de Golgi. Centro metabólico do neurônio, este tem como função sintetizar todas as proteínas neuronais e realizar a maioria dos processos de degradação e renovação de constituintes celulares. Do corpo celular partem prolongamentos: dendritos (que assim como o pericário, recebem estímulos) e axônios. Os Dendritos geralmente são curtos, possuem os mesmos constituintes citoplasmáticos do pericário. Traduzem os estímulos recebidos em alterações do potencial de repouso da membrana, que envolvem entrada e saída de determinados íons, causando pequenas despolarizações (excitatória) ou hiperpolarizações 27 (inibitória). Os potenciais gerados nos dendritos se propagam em direção ao corpo e, neste, em direção ao cone de implantação do axônio. O Axônio é um prolongamento longo e fino, que pode medir de milímetros a mais de um metro, originado do corpo ou de um dendrito principal, a partir de uma região denominada cone de implantação. Possui membrana plasmática (axolema) e citoplasma (axoplasma). O axônio é capaz de gerar alteração de potencial de membrana (despolarização de grande amplitude) denominada potencial de ação ou impulso nervoso, e conduzi-lo até a terminação axônica, local onde ocorre a comunicação com outros axônios ou células efetuadoras. O local onde é gerado o impulso é chamado zona de gatilho. Esta especialização de membrana é devido à presença de canais de sódio e potássio, que ficam fechados no potencial de repouso, mas que se abrem quando despolarizações os atingem. 4.2 Classificação dos neurônios Os neurônios são classificados em: • Multipolares – possuem vários dendritos e um axônio; conduzem potenciais graduáveis ao pericário, e este em direção à zona de gatilho, onde é gerado o potencial de ação; • Bipolares – possuem um dendrito e um axônio; • Pseudo-unipolares – corpos celulares localizados em gânglios sensitivos, de onde parte apenas um prolongamento que logo se divide em dois ramos, o periférico (que se dirige à periferia, formando terminações nervosas sensitivas) e o central (que se dirige ao sistema nervoso central, estabelecendo contato com outros neurônios). 28 Como os axônios não possuem ribossomas, toda a proteína necessária à manutenção destes deriva do pericário (fluxo anterógrado), e para que haja a renovação dos componentes das terminações é necessário um fluxo oposto, em direção ao corpo (fluxo retrógrado). Esse fluxo de substâncias e organelas através do axoplasma é denominado fluxo axoplasmático. Os neurônios muitas vezes funcionam como células excitáveis, ou seja, comunicam entre si ou com células efetuadoras (células musculares e secretoras) usando basicamente uma linguagem elétrica, as alterações do potencial de membrana. A membrana celular separa o meio intracelular, onde predominam íons com cargas negativas e certa quantidade do íon potássio (K+), do meio extracelular, onde predominam cargas positivas, Sódio (Na+), Cálcio (Ca+) e certa quantidade do íon Cloro (Cl-). Essa diferença de cargas entre o meio interno e o meio externo estabelecem um potencial elétrico de membrana, que em geral nos neurônios, quando em repouso, é de aproximadamente -70mv. Na membrana, estão presentes canais iônicos seletivos, que se abrem ou fecham, permitindo a passagem de íons de acordo com o gradiente de concentração. A despolarização e a repolarização de um neurônio ocorrem devido as modificações na permeabilidade da membrana plasmática. Em um primeiro instante,abrem-se “portas de passagem” de Na+, permitindo a entrada de grande quantidade desses íons na célula. Com isso, aumenta a quantidade relativa de carga positiva na região interna na membrana, provocando sua despolarização. Em seguida abrem-se as “portas de passagem” de K+, permitindo a saída de grande quantidade desses 29 íons. Com isso, o interior da membrana volta a ficar com excesso de cargas negativas (repolarização). A despolarização em uma região da membrana dura apenas cerca de 1,5 milésimo de segundo (ms). O estímulo provoca, assim, uma onda de despolarizações e repolarizações que se propaga ao longo da membrana plasmática do neurônio. Essa onda de propagação é o impulso nervoso, que se propaga em um único sentido na fibra nervosa. Dentritos sempre conduzem o impulso em direção ao corpo celular, por isso diz que o impulso nervoso no dentrito é celulípeto. O axônio por sua vez, conduz o impulso em direção às suas extremidades, isto é, para longe do corpo celular; por isso diz-se que o impulso nervoso no axônio é celulífugo. A velocidade de propagação do impulso nervoso na membrana de um neurônio varia entre 10cm/s e 1m/s. A propagação rápida dos impulsos nervosos é garantida pela presença da bainha de mielina que recobre as fibras nervosas. A bainha de mielina é constituída por camadas concêntricas de membranas plasmáticas de células da glia, principalmente células de Schwann. Entre as células gliais que envolvem o axônio existem pequenos espaços, os nódulos de Ranvier, onde a membrana do neurônio fica exposta. Nas fibras nervosas mielinizadas, o impulso nervoso, em vez de se propagar continuamente pela membrana do neurônio, pula diretamente de um nódulo de Ranvier para o outro. Nesses neurônios mielinizados, a velocidade de propagação do impulso pode atingir velocidades da ordem de 200m/s (ou 720km/h ). 4.3 As sinapses - transmissão do impulso nervoso en tre células Um impulso é transmitido de uma célula a outra através das sinapses (do grego synapsis, ação de juntar). A sinapse é uma região de contato muito próximo entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície de outras células. Estas células podem ser tanto outros neurônios como células sensoriais, musculares ou glandulares. As terminações de um axônio podem estabelecer muitas sinapses simultâneas. Na maioria das sinapses nervosas, as membranas das células que fazem sinapses estão muito próximas, mas não se tocam. Há um pequeno espaço entre as membranas celulares (o espaço sináptico ou fenda sináptica). 30 Quando os impulsos nervosos atingem as extremidades do axônio da célula pré-sináptica, ocorre liberação, nos espaços sinápticos, de substâncias químicas denominadas neurotransmissores ou mediadores químicos, que tem a capacidade de se combinar com receptores presentes na membrana das célula pós-sináptica, desencadeando o impulso nervoso. Esse tipo de sinapse, por envolver a participação de mediadores químicos, é chamado sinapse química. Os cientistas já identificaram mais de dez substâncias que atuam como neurotransmissores, como a acetilcolina, a adrenalina (ou epinefrina), a noradrenalina (ou norepinefrina), a dopamina e a serotonina. Sinapses Neuromusculares – a ligação entre as terminações axônicas e as células musculares é chamada sinapse neuromuscular e nela ocorre liberação da substância neurotransmissora acetilcolina que estimula a contração muscular. Sinapses Elétricas – em alguns tipos de neurônios, o potencial de ação se propaga diretamente do neurônio pré-sináptico para o pós-sináptico, sem intermediação de neurotransmissores. As sinapses elétricas ocorrem no sistema nervoso central, atuando na sincronização de certos movimentos rápidos. 31 UNIDADE 5 - ESPECIALIZAÇÃO E FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS Apesar do nosso cérebro ser divido em dois hemisférios, não existe relação de dominância entre eles, pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando-se dos milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e se encarregam de pô-los em constante interação. O conceito de especialização hemisférica se confunde com o de lateralidade (algumas funções são representadas em apenas um dos lados, outras no dois) e de assimetria (um hemisfério não é igual ao outro). Segundo Lent (2002), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não trabalhe, ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é também responsável pela realização mental de cálculos matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais e no reconhecimento de faces, especialmente quando se trata de aspectos gerais. O hemisfério esquerdo participa também do reconhecimento de faces, mas sua especialidade é descobrir precisamente quem é o dono de cada face. Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar categorias gerais de objetos e seres vivos, mas é o esquerdo que detecta as categorias específicas. O hemisfério direito é melhor na detecção de relações espaciais, particularmente as relações métricas, quantificáveis, aquelas que são úteis para o nosso deslocamento no mundo. O hemisfério esquerdo não deixa de participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações espaciais categoriais qualitativas. Finalmente, o hemisfério esquerdo produz movimentos mais precisos da mão e da perna direitas do que o hemisfério direito é capaz de fazer com a mão e a perna esquerda (na maioria das pessoas). O conceito de dominância hemisférica surgiu para explicar a relação entre a atividade dos dois hemisférios, no sentido de que determinadas funções linguísticas exercidas predominantemente pelo hemisfério esquerdo exerceriam uma dominância sobre as funções do hemisfério direito. Entretanto, estudos mais 32 recentes mostraram que os dois hemisférios não interagem através do domínio de um sobre o outro, mas sim através da especialização de certas funções, ou seja, um dos hemisférios é encarregado por um grupo de funções, enquanto o segundo encarrega-se de outras. O que é importante ressaltar é que ambos trabalham em conjunto. Esse novo conceito é chamado de especialização hemisférica. Pesquisas têm mostrado que o conceito de especialização hemisférica é fundamental no entendimento do processamento de informações. Essas evidências indicam que raramente a especialização hemisférica significa exclusividade funcional. Por exemplo: o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito não participe também dessa função. Resumindo, estudos revelaram que o hemisfério direito percebe e comanda funções globais, categoriais, enquanto o esquerdo se encarrega das funções mais específicas relacionadas com a linguagem. Fonte: Lent (2004, p. 645) Sendo mais específico em termo da localização dos hemisférios no cérebro, evidências têm indicado que o aspecto ventral do córtex posterior parietal (VCPP) está associado ao processamento de informações auditórias, especialmente no que 33 se refere ao processamento da linguagem. Entretanto, o processamento de informações visuo-espaciais parece ser mais limitado à porção dorsal do córtex posterior parietal (DCPP). Em suma, o direito do DCPP é mais ativado durante atividades não verbais e espaciais e o esquerdo do VCPP é mais ativado durante atividades verbais, ou seja, a alça fonológica é associada ao funcionamento do hemisfério esquerdo e o esboço visuo-espacial do hemisfério direito. CARACTERÍSTICAS DE CADA HEMISFÉRIO HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO Verbal: usa palavras para nomear, descrever e definir;Não verbal: percepção das coisas com uma relação mínima com palavras; Analítico: decifra as coisas de maneira sequencial e por partes; Sintético: unir coisas para formar totalidades; Utiliza um símbolo que está no lugar de outra coisa. Por exemplo o sinal + representa a soma; Relaciona as coisas tais como estão nesse momento; Abstrato: extrai uma porção pequena de informação e a utiliza para representar a totalidade do assunto; Analógico: encontra um símil entre diferentes ordens; compreensão das relações metefóficas; Temporal: se mantém uma noção de tempo, uma sequência dos fatos. Fazer uma coisa e logo outra, etc.; Atemporal: sem sentido de tempo; Racional: extrai conclusões baseadas na razão e nos dados; Não racional: não requer uma base de informações e fatos reais; aceita a suspensão do juízo; Digital: utiliza números; Espacial: ver as coisas relacionadas a outras e como as partes se unem para formar um todo; Lógico: extrai conclusões baseadas na ordem lógica. Por exemplo: um teorema matemático ou uma argumentação; Intuitivo: realiza saltos de reconhecimento, em geral sob padrões incompletos, intuições, sentimentos e imagens visuais; Linear: pensar em termos vinculados a ideias, um pensamento que segue o outro e que em geral convergem em uma conclusão. Holístico: perceber ao mesmo tempo, concebendo padrões gerais e as estruturas que muitas vezes levam a conclusões divergentes. 34 HABILIDADES ASSOCIADAS À ESPECIALIZAÇÃO DE CADA HEM ISFÉRIO HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO Escrita à mão -- Símbolos Relações espaciais Linguagem Figuras e padrões Leitura Computação matemática Fonética Sensibilidade a cores Localização de fatos e detalhes Canto e música Conversação e recitação Expressão artística Seguimento de instruções Criatividade Escuta Visualização Associação auditiva Sentimentos e emoções MANEIRAS DE CONSCIÊNCIA DE CADA HEMISFÉRIO HEMISFÉRIO ESQUERDO HEMISFÉRIO DIREITO Lógico Intuitivo Sequencial Azaroso Linear Holístico Simbólico Concreto Baseado na realidade Orientado à fantasia Verbal Não verbal Temporal Atemporal Abstrato Analógico Uma vez que as últimas pesquisas têm demonstrado que a aprendizagem é melhor, mais agradável e duradoura quando estão envolvidos os dois hemisférios, 35 para o professor e/ou especialista que irá trabalhar com a Neuropsicopedagogia ficam algumas sugestões. Ao pensar em Artes não pense e planeje somente uma aula de Artes, pense nas invasões inglesas, na geografia do Uruguai, em tabelas de multiplicar, no corpo humano, nos tempos verbais, enfim, utilize da interdisciplinaridade e enriqueça as aulas. É preciso levar os alunos a desenvolverem todo seu potencial e isto passa necessariamente por trabalhar intuição, razão, emoção, imaginação, percepção, enfim, desenvolver as capacidades analíticas e verbais. 36 UNIDADE 6 – A PLASTICIDADE CEREBRAL/NEURAL E A MEMÓRIA 6.1 Plasticidade neural A plasticidade neural refere-se à capacidade que o SNC possui em modificar algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às alterações do ambiente. Na presença de lesões, o SNC utiliza-se desta capacidade na tentativa de recuperar funções perdidas e/ou, principalmente, fortalecer funções similares relacionadas às originais (OLIVEIRA, SALINA; ANNUNCIATO, 2000). A plasticidade do SNC ocorre, classicamente, em três estágios: desenvolvimento, aprendizagem e após processos lesionais. 6.1.1 Desenvolvimento Na embriogênese, tem-se a diferenciação celular, em que células indiferenciadas, por expressão genética, passam a ser neurônios. Após a proliferação, migram para os locais adequados e fazem conexões entre si (ANNUNCIATO; SILVA, 1995). Os neurônios dispõem de uma capacidade intrínseca sobre sua posição em relação a outros neurônios, e seus axônios alcançam seus destinos graças aos marcadores de natureza molecular e à quimiotaxia. A secreção de substâncias neurotróficas, neste caso, os fatores de crescimento ajudam o axônio na busca de seu alvo (LINDEN, 1993). A maturação do SNC inicia-se no período embrionário e só termina na vida extra-uterina. Portanto, sofre influências dos fatores genéticos, do microambiente fetal e, também, do ambiente externo, sendo este último de grande relevância para seu adequado desenvolvimento. 6.1.2 Aprendizagem Este processo pode ocorrer a qualquer momento da vida de um indivíduo, seja criança, adulto ou idoso, propiciando o aprendizado de algo novo e modificando o comportamento de acordo com o que foi aprendido. A aprendizagem requer a 37 aquisição de conhecimentos, a capacidade de guardar e integrar esta aquisição (MANSUR; RADONOVIC, 1998) para posteriormente ser recrutada quando necessário. A reabilitação física, entre outros fatores, tem por objetivo favorecer o aprendizado ou reaprendizado motor, que é um processo neurobiológico pelo qual os organismos modificam temporária ou definitivamente suas respostas motoras, melhorando seu desempenho, como resultado da prática (PIEMONTE; SÁ, 1998). Durante o processo de aprendizagem, há modificações nas estruturas e funcionamento das células neurais e de suas conexões, ou seja, o aprendizado promove modificações plásticas, como crescimento de novas terminações e botões sinápticos, crescimento de espículas dendríticas, aumento das áreas sinápticas funcionais (KLEIM; BALLARD; GRRENOUGH; 1997 apud OLIVEIRA, SALINA; ANNUNCIATO, 2000), estreitamento da fenda sináptica, mudanças de conformação de proteínas receptoras, incremento de neurotransmissores. A prática ou a experiência promovem, também, modificações na representação do mapa cortical (ARNSTEIN, 1997 apud OLIVEIRA, SALINA; ANNUNCIATO, 2000). Pascual-Leone et al. (1995 apud OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2000) demonstraram que a aquisição de uma nova habilidade motora, neste caso, tocar piano, reorganizava o mapa cortical, aumentando a área relacionada aos músculos flexores e extensores dos dedos. Em um estudo com leitores de Braille, verificaram que o dedo indicador utilizado para a leitura tem maior representação cortical que o dedo contralateral. Jueptner et al (1997) e Grafton et al (1998 apud OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2000), por sua vez, encarregaram-se de mapear as áreas do SNC que são ativadas durante o processo de aprendizagem motora, em que eram realizados movimentos com as mãos, e verificaram que várias regiões agem em conjunto, como o córtex motor primário, o córtex pré-motor, a área motora suplementar, a área somatossensorial, os núcleos da base, entre outras. 38 6.1.3 Após lesão neural A lesão promove no SNC vários eventos que ocorrem, simultaneamente, no local da lesão e distante dele. Em um primeiro momento, as células traumatizadas liberam seus aminoácidos e seus neurotransmissores, os quais, em alta concentração, tornam os neurônios mais excitados e mais vulneráveis à lesão. Neurônios muito excitados podem liberar o neurotransmissor glutamato, o qual alterará o equilíbrio do íon cálcio e induzirá seu influxo para o interior das células nervosas, ativando várias enzimas que são tóxicas e levam os neurônios à morte. Esse processo é chamado de excitotoxicidade (SILVA, 1995). Ocorre, também, a ruptura de vasos sanguíneos e/ou isquemia cerebral, diminuindo os níveis de oxigênio e glicose, que são essenciais para a sobrevivência de todas as células (OLIVEIRA; SALINA; ANNUNCIATO, 2000) A falta de glicose gera insuficiência da célula nervosa em manter seu gradiente transmembrânico, permitindo a entrada de mais cálcio para dentro da célula, ocorrendo um efeito cascata (RAFFINI, 1999). De acordo com o grau do dano cerebral, o estímulo nocivo pode levar as células nervosas à necrose, havendo ruptura da membrana celular, fazendo com que as células liberem seu material intracitoplasmáticoe, então, lesem o tecido vizinho; ou pode ativar um processo genético denominado apoptose, em que a célula nervosa mantém sua membrana plasmática, portanto, não liberando seu material intracelular, não havendo liberação de substâncias com atividade próinflamatória e, assim, não agredindo outras células (LINDEN, 1996; VEGA; ROMANO SILVA, 1999). A apoptose é desencadeada na presença de certos estímulos nocivos, principalmente pela toxicidade do glutamato, por estresse oxidativo e alteração na homeostase do cálcio. A lesão promove, então, três situações distintas: (a) uma em que o corpo celular do neurônio foi atingido e ocorre a morte do neurônio, sendo, neste caso, o processo irreversível; (b) o corpo celular está íntegro e seu axônio está lesado; ou, (c) o neurônio se encontra em um estágio de excitação diminuído (SILVA, 1995). 39 Os mecanismos de reparação e reorganização do SNC começam a surgir imediatamente após a lesão e podem perdurar por meses e até anos (SILVA, 2000). São eles: a) Recuperação da eficácia sináptica – Este processo consiste em fornecer ao tecido nervoso um ambiente mais favorável à recuperação. Assim, nesta fase, a recuperação é feita por drogas neuroprotetoras (RAFFINI, 1999), que visam a uma melhor oferta do nível de oxigenação e glicose, à redução sanguínea local e do edema (VILLAR, 1997); b) Potencialização sináptica – Este processo consiste em manter as sinapses mais efetivas, por meio do desvio dos neurotransmissores para outros pontos de contatos que não foram lesados; c) Supersensibilidade de denervação – Em caso de denervação, a célula pós-sináptica deixa de receber o controle químico da célula présináptica (RIBEIRO- SOBRINHO, 1995); para manter seu adequado funcionamento, então, a célula promove o surgimento de novos receptores de membrana pós-sináptica; d) Recrutamento de sinapses silentes – No nosso organismo, em situações fisiológicas, existem algumas sinapses que, morfologicamente, estão presentes, mas que, funcionalmente, estão inativas. Essas sinapses são ativadas ou recrutadas quando um estímulo importante às células nervosas é prejudicado. No caso de lesão das fibras principais de uma determinada função, outras fibras que estavam dormentes poderão ser ativadas; e) Brotamentos – Este fenômeno consiste na formação de novos brotos de axônio, oriundos de neurônios lesados ou não-lesados. O brotamento pode ser regenerativo: ocorre em axônios lesados e constitui a formação de novos brotos provenientes do segmento proximal, pois o coto distal, geralmente, é rapidamente degenerado. O crescimento desses brotos e a formação de uma nova sinapse constituem sinaptogênese regenerativa. O brotamento pode ser colateral: ocorre em axônios não lesionados, em resposta a um estímulo que não faz parte do processo normal de desenvolvimento. Este brotamento promove uma sinaptogênese reativa (ANNUNCIATO, 1994; OLIVEIRA, SALINA; ANNUNCIATO, 2000). 40 6.2 Memória A capacidade do ser humano de lembrar ou não de situações, fatos, acontecimentos é mais um dos campos de estudo das neurociências. O termo memória tem sua origem etimológica no latim e significa a faculdade de reter e/ou readquirir ideias, imagens, expressões e conhecimento. É o registro de experiências e fatos vividos e observados, podendo ser resgatados quando preciso. Isso faz com que a memória seja a base para aprendizagem, pois, com as experiências que possuímos armazenadas na memória, temos a oportunidade e a habilidade de mudar o nosso comportamento, ou seja, a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos, e a memória é a fixação ou a retenção desses conhecimentos adquiridos. Para se construir a memória, passamos por um processo de assimilação. E é por meio desse processo que enviamos as informações para a memória de curta ou de longa duração. Neste momento, o hipocampo é ativado. O hipocampo ajuda a selecionar onde os aspectos importantes para fatos, eventos serão armazenados e está envolvido também com o reconhecimento de novidades e com as relações espaciais, tais como: o reconhecimento de uma rota rodoviária. É ele que filtra os dados, usa e joga fora informações de curto prazo e se encarrega de enviar outras para diferentes partes do córtex cerebral. Essas informações se envolvem em uma verdadeira “sopa química” que passa a provocar “intercâmbio” entre os neurônios. Nesta fase, o hipocampo, descansa e quem passa a trabalhar é o lobo frontal. O lobo frontal funciona como um “coordenador geral” de todas as memórias e é responsável pela guarda das informações, bem como de classificá-las de acordo com seus diferentes tipos. Nessa área cerebral, as diferentes memórias se completam dando origem ao raciocínio. É o lobo frontal que acessamos quando “vasculhamos” nossa memória à procura de informações guardadas no córtex. Essa parte do cérebro é extremamente complexa e, por isso, bastante sensível. A idade, a depressão, o estresse e, também, a sobrecarga de informações afetam a nossa memória. O volume de informações sobrecarrega o lobo frontal, que, em muitos momentos, nos “desligam” ou geram aqueles “brancos” que tantas vezes nos desesperam. 41 A memória não está localizada em uma estrutura isolada no cérebro: ela é um fenômeno biológico e psicológico, envolvendo uma aliança de sistemas cerebrais que funcionam juntos. O processo de memorização é complexo, envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos interligados de neurônios. As células nervosas ou os neurônios, quando são ativadas, liberam hormônios ou neurotransmissores que atingem outras células nervosas por meio de ligações denominadas sinapses. Podemos entender perfeitamente que quanto mais conexões, mais memória! Os fatos antigos naturalmente têm mais tempo de se fixar em nosso banco de dados e é daí sua melhor fixação, o que não ocorre com fatos recentes, que têm pouco tempo para se fixarem e ainda podem ter sua capacidade de fixação alterada por razões relacionadas a variações de estado emocional ou a problemas de ordem física. Cada célula cerebral (ou neurônio) contribui para o comportamento e para a atividade mental, conduzindo ou deixando de conduzir impulsos. Todos os processos da memória são explicados em termos destas descargas. As alterações decorrentes da aprendizagem e da memória são chamadas plasticidade, como vimos no início desta unidade. Quando a célula é ativada, desencadeia-se a liberação de substâncias químicas nas sinapses, chamadas neurotransmissores, tornando-as mais efetivas, com melhor capacidade de armazenagem da informação no interior da célula. Assim, neurônios “exercitados” possuem um número maior de ramificações (dendritos) se comunicando com dendritos de outros neurônios, quando estimulados. Para que as memórias sejam criadas, é preciso que as células nervosas formem novas interconexões e novas moléculas de proteínas, carregando as informações “impressas” no interior da célula. 6.2.1 Memória de Longo Prazo ou de Longa Duração A memória de longo prazo armazena as informações por um longo período, mas a capacidade de armazenamento é limitada. Pode ser dividida em Declarativa e 42 Não declarativa. A primeira é a memória para fatos e eventos, reúne tudo que podemos evocar por meio de palavras. A segunda é aquela para procedimentos e habilidades. � Pode ser de Procedimentos quando se referir às habilidades e aos hábitos, como, por exemplo, dirigir e nadar. � Pode ser de Dicas quando for evocada, resgatada por meio de dicas, como acontece quando ouvimos sons ou sentimos algum odor que nos lembram de uma situação há tempos vivida. � Será Associativa quando nos fizer associar um determinado comportamento a um fato. Um bom exemplo é quando salivamos ao ver um prato apetitoso e lembrarmos o quanto é saborosa aquela comida e, naturalmente, nosso organismoresponde a essa lembrança. E, finalmente, a memória poderá ser Não Associativa quando for resgatada por meio de estímulos repetitivos. Ocorre, por exemplo, quando ouvimos o latido de um cão pequeno. Esse tipo de latido não nos causará medo porque saberemos relacioná-lo com o de um animal que não ofereça perigo. 6.2.2 Memória de Curto Prazo ou de Curta Duração A memória de curto prazo não forma “arquivos”. Nela, guardamos informações que serão utilizadas dentro de pouco tempo. Logo após sua utilização, esquecemos os dados nela armazenados. Exemplo: Local onde estacionou o carro; o conteúdo decorado para uma prova. envolver eventos datados, isto é, relacionados ao tempo. E, será, Semântica quando envolver o significado das palavras ou quando envolver conceitos atemporais (NETTO, 2006). 6.2.3 Perda de Memória A perda de memória pode estar associada a determinadas doenças neurológicas, a distúrbios psicológicos, a problemas metabólicos e, também, a certas intoxicações. A forma mais frequente de perda de memória é conhecida popularmente como “esclerose” ou demência. 43 A demência mais comum é a doença de Alzheimer que se caracteriza por perda acentuada de memória acompanhada de graves manifestações psicológicas, como, por exemplo, a alienação. Estados psicológicos alterados como o estresse, a ansiedade e a depressão podem também alterar a memória. A falta de vitamina B1 (tiamina) e o alcoolismo levam à perda de memória para fatos recentes e, com frequência, estão associados a problemas de marcha e confusão mental. Doenças da tireoide, geralmente, acompanham-se de comprometimento de memória. O uso de medicação tranquilizante (“calmantes”) por tempo prolongado provoca a diminuição da memória e favorece também a depressão, o que leva a uma situação que pode se confundir com a demência. A vida sedentária, com excesso de preocupações e insatisfações, bem como a dieta deficiente, favorecem a perda de memória. Contrariamente ao esquecimento comum ocorrido normalmente no dia-a-dia de nossas vidas, existem algumas doenças e injúrias no cérebro que causam séria perda de memória e, também, interferem com a capacidade de aprender. A esta instabilidade, dá-se o nome de Amnésia (NETTO, 2006). Fatores que podem causar perda total ou parcial da memória: • Concussão; • Alcoolismo crônico; • Drogas e medicamentos; • Tumor cerebral; • Encefalite. Entretanto, a contínua atividade intelectual, como leitura, exercícios de memória, palavras cruzadas e jogo de xadrez, auxilia a manutenção da memória. O estilo de vida ativa com atividade física realizada regularmente e uma dieta saudável são pontos importantes para a manutenção da memória. 44 A diminuição da memória que ocorre na terceira idade, na maioria das vezes, é absolutamente benigna, mas, frequentemente, por falta de melhor informação, angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como um fato normal. Semelhante ao que ocorre com exercícios musculares realizados para se manter a boa forma física, a atividade cerebral também deve ser realizada com frequência, sempre procurando estimular nossos principais sentidos: olfato, paladar, tato, visão e audição, bem como nossa memória e inteligência(NETTO, 2006). O declínio de nossas funções mentais que ocorre com a idade se deve, em grande parte, à falta de atividade mental que, com frequência, segue paralelamente ao envelhecimento. É sabido claramente que o declínio mental que ocorre com a idade pode ser evitado. Estimular as nossas percepções, nossa memória (recente e antiga), noções espaciais, habilidades lógicas e verbais, etc. por meio de exercícios cerebrais auxiliam a manter a memória ativa que pode e deve ser feita diariamente, durante as atividades normais, como o caminhar, durante as refeições ou mesmo durante os fazeres do cotidiano (NETTO, 2006). 6.2.4 Déficit de memória A memória de trabalho (MT) refere-se à habilidade temporária de manter e manipular informações que o indivíduo precisa para mantê-la gravada. A MT é um sistema da memória explícita e declarativa, pelo fato da mesma requerer participação ativa e consciente. A MT possui três componentes básicos que processa informações: 1) fonológicas (alça fonológica); 2) visuo-espaciais (esboço visuo-espacial); e, 3) um sistema que controla a atenção e é responsável pela coordenação de diferentes funções cognitivas (executivo central). A alça fonológica é responsável pelo processamento do material linguístico e, portanto, concorre para o aprendizado de novas palavras. Consiste de dois subcomponentes: o armazenador fonológico, que retém a informação linguística, e a alça articulatória, que é responsável pela reverberação subvocal – renovação da 45 representação fonológica que vai se perdendo no armazenador fonológico (LOBO; ACRANI; ÁVILA, 2008). O componente de estocagem está presente mesmo em crianças muito jovens, ao passo que o outro processo emerge a partir dos sete anos. Na alça fonológica, a informação auditiva (input auditivo) é armazenada no sistema de estocagem fonológica de curto prazo seguindo duas prováveis rotas: ao buffer de output fonológico (programação da fala) ou ao processo de reverberação (a partir do qual a informação retorna ao sistema de armazenamento). A memória de trabalho fonológica pode ser avaliada por meio da repetição de pseudopalavras, mais ou menos extensas, e com maior ou menor similaridade com palavras do idioma em questão (SANTOS; BUENO, 2003). A memória de trabalho, por meio da alça fonológica, interage com o conhecimento de longo prazo. Desta forma, acredita-se que características individuais possam influenciar o processo de aprendizado de novas informações e novas palavras. Outras variáveis como o tipo do estímulo linguístico, sua extensão ou proximidade com palavras reais, conhecimento prévio dessas palavras mais ou menos próximas, bem como a forma de apresentação do estímulo, também podem influenciar esse desempenho (PURVES et al, 2005; KESSLER, 1997). Enfim, habilidades de memória de trabalho assumem papel importante no desenvolvimento da fala e linguagem, fato comprovado em diversos estudos envolvendo tarefas de memória fonológica de trabalho. O déficit na MT pode ser associado a um dos componentes acima citados. Problemas na alça fonológica ou no esboço visuo-espacial pode gerar problemas de aprendizados geralmente observados durante o desenvolvimento da criança. Esses déficits de aprendizado, sem a presença de retardo mental, podem variar entre: déficits na leitura, na escrita e na área de cálculos. Quando o componente executivo central é afetado, desorganizações cognitivas mais sérias ocorrem. Geralmente, são observadas em casos de retardo mental e esquizofrenia, problemas de déficit de atenção, habilidade de raciocinar e capacidade de manter e manipular informações de atividades abstratas (NETTO, 2006). 46 Um déficit da memória de trabalho (MT) pode ser apresentado de várias maneiras, entre elas as mais comuns são: a inabilidade de concentrar-se e prestar atenção. O déficit também pode ser apresentado através da dificuldade de realizar uma nova atividade que tenha per si vários passos de instruções para que seja realizada (NETTO, 2006). O déficit na MT pode também parecer um déficit na memória episódica. Neste caso, avaliações neurológicas e neuropsicológicas podem mostrar o declínio na consolidação de informações. Entretanto, para que informações sejam transferidas para a memória episódica ela tem que ser retida primeiramente na MT. A memória episódica tem uma referência temporal e é uma memória de fatos sequenciados. Ela é um subtipo da memória explícita ou declarativa que pode ser descrita através de palavras (BUDSON; PRICE, 2005). Uma doença como Alzheimer pode prejudicar mais do que um sistema de memória. Pesquisasnessa área são necessárias para ampliar o entendimento sobre tipos de memória. Esse conhecimento é muito importante para que os profissionais possam aprimorar tanto na área de diagnóstico quanto na de tratamentos de déficits da memória (NETTO, 2006). Sobre os problemas de memória relacionados aos déficits de linguagem, leitura e compreensão, é verdade que podemos ler e reler algo o quanto desejarmos e o quanto for necessário, no entanto, isso não pode ser feito através da linguagem falada. O distúrbio Específico da Linguagem (DEL) é um transtorno associado ao desenvolvimento da linguagem quando na ausência de qualquer outro transtorno. Esse distúrbio não inclui criança com deficiência físicas ou mentais, tais como, surdez, problemas emocionais ou depravação severa do meio ambiente. No entanto, DEL refere-se a crianças com inteligência não verbal normal, e com déficit na linguagem expressiva e/ou receptiva. Resultados indicam que, crianças com DEL têm uma capacidade reduzida na alça fonológica da memória de trabalho (MT). Elas não apresentam nenhum problema na descriminação perceptual do estímulo auditório, mas têm grande, dificuldade em repetir três e quatro sílabas sem sentido quando comparadas com 47 um grupo de controle. Esses resultados sugerem que DEL ocorre devido ao pobre processamento ou retenção de informação fonológica na MT (NETTO, 2006). Tem sido também constatado na literatura que crianças com problemas de leitura e compreensão, demonstram déficits na alça fonológica. No entanto, o esboço visuo-espacial encontra-se intacto e o executivo central não apresenta qualquer problema (LENT, 2004; NETTO, 2006). Assume-se que a criança que tem dificuldade de leitura apresenta uma deficiência na habilidade de processamento fonológico. Isso pode dificultar a compreensão da escrita. De acordo com essa perspectiva, observa-se que, quando ocorre um desenvolvimento na capacidade do processamento fonológico da criança, o problema de leitura começa a desaparecer (GATHERCOLE et al, 2005). Distúrbio da aprendizagem em matemática também pode ser derivado do funcionamento deficiente da MT. Os componentes da MT têm um papel crucial no cálculo e na solução de problemas aritméticos. Por exemplo, crianças com problema de aprendizado na área da matemática, quando comparados com crianças da mesma idade, têm dificuldade em realizar várias outras atividades que necessitam da MT (WILSON; SWANSON, 2001). De acordo com resultados como esse, parece que a representação visuo- espacial de informação numérica e os aspectos fonológicos necessário para decompor e entender um problema de matemática pode ser a causa do mau desempenho entre crianças com déficits de aprendizado de matemática (WILSON; SWANSON, 2001). No entanto, problemas no componente executivo central também podem ter uma importante contribuição nos déficits de aprendizado em matemática. A falta de coordenação em várias atividades relacionadas com a contagem e a solução de problemas aritméticos envolvendo palavras, pode ser uma das consequências de déficit no componente executivo central da MT. Por exemplo, tem sido observado que indivíduos com baixo desempenho em atividades matemáticas, apresentam uma capacidade reduzida no processamento de informações do componente executivo central da MT (ASCRAFT; KIRK, 2001). Sobre as condições genéticas e suas relações com o déficits na alça fonológica, Baddeley; Gathercole; Papagno (1998 apud Netto, 2006) diz o seguinte: 48 Déficits na MT têm sido associados com problemas mais severos nas capacidades cognitivas. Parece claro que certas condições genéticas que levam aos distúrbios do desenvolvimento cognitivo podem estar associadas a déficits específicos da MT. Por exemplo, déficits na memória fonológica é uma característica da Síndrome de Down. Também tem sido mostrado que crianças com síndrome de Prader-Willi, uma desordem genética caracterizada pelo atraso no desenvolvimento da linguagem, tem relativamente intacto o componente executivo central e o esboço visuo- espacial, mas apresenta déficit na alça fonológica da MT, talvez esteja relacionado com a capacidade de retenção fonológica. Essas descobertas são consistentes com o fato de que a alça fonológica tem um papel fundamental no desenvolvimento geral na área da linguagem, especialmente na aquisição do vocabulário. O começo de um novo tempo... Inclusão escolar, diversidade, igualdade, respeito às diferenças são cenários atuais que revelam uma relação íntima entre educação e saúde, mediados pela neurociência. Vimos que a neurociência é uma ciência recente que estuda o sistema nervoso central, bem como sua complexidade, através de bases científicas, dialogando também com a educação, através de uma nova subárea, a neurodidática ou neuroeducação. Este ramo novo da ciência estuda educação e cérebro, entendendo este último como um órgão “social”, passível de ser modificado pela prática pedagógica (RELVAS, 2009). Conceituamos também, lá na introdução, outros ramos da ciência que buscam persistente e paulatinamente conhecer os mistérios e o funcionamento do cérebro, da memória, e, dentre outros objetivos, contribuir para a educação no processo de aprendizagem. Enfim, são várias as disciplinas que contribuem para o avanço do conhecimento e segundo a OCDE (2002), a neurociência cognitiva é a mais recentemente estabelecida, e provavelmente a mais importante. Técnicas como neuroimagem, incluindo tanto a Ressonância Magnética da Imagem funcional (IRMf) e Tomografia de Emissão Pósitron (PET), juntamente com a Simulação Magnética Transcraniana (TMS) e a Estretroscopia Infravermelha 49 Próxima (NIRS), estão permitindo os cientistas compreenderem mais claramente os trabalhos do cérebro e a natureza da mente. Em particular, tais técnicas podem começar a iluminar velhas questões sobre o aprendizado humano e sugerir caminhos pelos quais a provisão educacional e a prática do ensino podem melhor ajudar os aprendizes jovens e adultos (OCDE-2002). Estas poderosas ferramentas de imagem funcional do cérebro aliadas à integração de diversas disciplinas que investigam a aprendizagem humana e desenvolvimento a fim de reunir educação, biologia e ciência cognitiva, terão forte impacto na profissão da educação. Não há dúvidas de que os professores devem começar imediatamente a explorar quais as formas mais indicadas de responder a toda essa revolução que dominará o cenário educacional neste novo milênio (SANTOS, 2011). Guerra (2004) ressalta com propriedade que a promoção de estratégias pedagógicas realizadas com o objetivo de atuarem no sistema nervoso, deveria requerer o conhecimento de como funciona este cérebro, objeto de estudo da neurobiologia. A educação, portanto, teria que ter como uma das áreas fundamentais para o seu desenvolvimento, tais conhecimentos, afinal o cérebro é o órgão principal da aprendizagem. Hoje sabemos que o sucesso do indivíduo está ligado ao bom desempenho escolar, por isso, um número cada vez maior de crianças são atendidas por neuropediatras, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e, mais recentemente, neuropsicopedagogos (SANTOS, 2011). Relvas (2010) afirma que termos como “distúrbios, dificuldades, transtornos, discapacidades, problemas”, são encontrados na literatura e, muitas vezes, são empregados de forma inadequada, porque a presença de uma dificuldade de aprendizagem não implica necessariamente um transtorno. Uma dificuldade pode ser transitória, não ligada a uma alteração funcional do sistema nervoso, como por exemplo, uma inadequação pedagógica, um problema emocional da criança, enfim, dificuldades que a criança passa em algum momento de sua vida, passível de ser superado. A expressão transtorno de aprendizagem deve ser reservada para dificuldades primárias ou específicas, que se deve a alteraçõesdo sistema nervoso central. 50 No sistema nervoso central ocorrem modificações funcionais e de condutas, que dependem dos contingentes genéticos de cada um, associados ao ambiente onde está inserido, sendo este responsável pelo aporte sensitivo-sensorial, que vem por meio da substância reticular ativada pelo sistema límbico, que contribui com os aspectos afetivo-emocionais da aprendizagem. Relvas (2010) descreve, passo a passo, o caminho desses estímulos, relatando aspectos importantes e desconhecidos totalmente pelos professores, dentre eles: � O córtex cerebral, nas áreas do lobo temporal, recebe, integra e organiza as percepções auditivas; � As áreas do lobo occipital, recebem, integram e organizam as percepções visuais; � As áreas temporais e occipital se ligam às áreas motoras do lobo frontal, situadas na terceira circunvolução frontal, responsável pela articulação das palavras. A circunvolução frontal ascendente é responsável pela expressão da escrita (grafia); � A área parieto-temporoccipital é responsável pela integração gnósica, e as áreas pré-frontais, pela integração práxica, desde que essas funções sejam moduladas pelo afeto e pelas condições cognitivas de cada um. Segundo a mesma autora, essa complexa rede de funções sensitivo-motora, motora-práxica, controlada pelo afeto e pela cognição, deve ser associada à função do cerebelo na coordenação, não só das funções perceptivas e motoras, mas também das funções cognitivas do ato de aprender. As alterações funcionais e neuroquímicas envolvidas produzem modificações mais ou menos permanentes no sistema nervoso central, isso é aprendizagem. Portanto, o ato de aprender é um ato de plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (experiências). Sendo assim, dificuldades para a aprendizagem seriam resultados de algumas falhas intrínsecas ou extrínsecas desse processo. Para Fonseca (2007), cognição é sinônimo de “ato ou processo de conhecimento” ou algo que é conhecido através dele e funções cognitivas seriam o processo de adquirir algo que é conhecido através dele, ou seja, seriam os processos mentais que nos permitem pensar, raciocinar e resolver problemas. 51 As principais funções cognitivas seriam: atenção, percepção, memória, linguagem e funções executivas. É a partir da relação entre todas estas funções que entendemos a grande maioria dos comportamentos, desde os mais simples até as situações de maior complexidade, exigindo atividades cerebrais mais elaboradas, onde a educação cognitiva torna-se crucial para a escola regular. Assim sendo, aprender envolve a simultaneidade da integridade neurobiológica e a presença de um contexto social facilitador, portanto, o ensino de competências cognitivas ou o seu enriquecimento não deve continuar a ser ignorado pelo sistema de ensino, ora assumindo que tais competências não podem ser ensinadas ou ora assumindo que elas não precisam ser ensinadas. Ambas as assunções estão profundamente erradas: primeiro porque as funções cognitivas de nível superior podem ser melhoradas e treinadas e, segundo, porque não se deve assumir que elas emergem automaticamente por maturação, ou simplesmente por desenvolvimento neuropsicológico (SANTOS, 2011). Segundo Fonseca (2007), desenvolver o potencial de aprendizagem com programas de enriquecimento cognitivo não é uma futilidade, na medida em que o potencial não se desenvolve no vazio, nem apenas por instrução convencional; para que ele se desenvolva é preciso que seja estimulado e treinado intencionalmente. Antes que se perguntem porque voltamos o foco para as funções cognitivas, justificamos que ao longo do curso de Neuropsicopedagogia irão justamente estudar, refletir, analisar as contribuições dos estudos do sistema nervoso para a questão da aprendizagem no ambiente escolar. A escola do futuro deve privilegiar no treino cognitivo não só formas de pensamento analítico, dedutivo, rigoroso, convergente, formal e crítico, como formas de pensamento sintético, indutivo, expansivo, divergente, concreto e criativo, interligando-os de forma harmoniosa. A escola, deve e pode, portanto, ensinar funções cognitivas que estão na base de aprendizagens, simbólicas ou não. Com ensino mediatizado, com prática e treino, as funções ou competências cognitivas de qualquer aluno, seja ele deficiente ou não, podem ser melhoradas, aperfeiçoadas, uma vez que todos possuem um potencial de aprendizagem para se desenvolver de forma mais eficaz do que efetivamente tem feito (SANTOS, 2011). 52 Os dados de inúmeras pesquisas científicas na área de educação cognitiva são extremamente encorajadores, eles ditam e recomendam que mais esforços devem ser conduzidos pela escola nesse sentido; se não tentarmos, o custo e o desperdício do potencial humano podem ser incalculáveis. É falso e displicente supor que as crianças deficientes não dispõem da capacidade de aprendizagem, nelas essa disposição é outra, mais lenta e diferente, mas isso não quer dizer que tal condição esteja extinta ou ausente (FONSECA, 1995). A escola do futuro deve atender as diversidades, aos diferentes estilos de aprendizagem, E nesse sentido, Fonseca, (1997) faz referência a perspectiva da formação do educador para lidar com essa diversidade, não podendo esta formação ser centrada apenas numa visão pedagógica, reducionista, mas deve também contemplar fatores: � neurobiológicos (Organização intrínseca do sistema nervoso, que preside as funções da atenção, percepção e conceituação, deficiências sensoriais, auditivas, visuais e cinestésicas, biologia da linguagem, problemas motores, problemas de comunicação, problemas somáticos, etc.); e, � psicoemocionais (Privação sensorial, interação mãe e filho, padrões perceptivos e adaptativos, desenvolvimento motor, psicomotor, cognitivo, emocional e social, etc.). A partir das relações entre estes fatores, poder-se-á construir uma formação científico-pedagógica dos professores na perspectiva da educação inclusiva. Fonseca (2007) conclui afirmando que a educação cognitiva deve ser um componente prioritário e não acessório da educação, que não pode ser negligenciada ou subutilizada por profissionais da educação inclusiva, não podendo estes profissionais desconhecer as vantagens e os benefícios da intervenção pedagógica neste domínio das Neurociências e práticas pedagógicas inclusivas. Para Cosenza e Guerra (2011), o grande desafio que a educação apresenta às neurociências é a proposição de temas relevantes a serem estudados em aprendizes com cérebros diferentes, como autistas, crianças com dificuldades de aprendizagem, deficiência intelectual, síndrome de Down, superdotação/altas- habilidades, entre outros. Sabemos que hoje prevalece a política da escola inclusiva onde educar na diversidade será o maior desafio do educador contemporâneo. 53 Os estudos e descobertas de estratégias pedagógicas específicas, considerando um funcionamento cerebral distinto, são condições imprescindíveis para tornar a educação inclusiva uma realidade, encarada com responsabilidade, onde professores utilizem conhecimentos pautados em evidências científicas. Conhecer o funcionamento cerebral de nossos aprendizes, sabendo que o processo de aprendizagem é mediado por suas estruturas e funções, é um importante passo afinal o cérebro é o órgão da aprendizagem (COSENZA; GUERRA, 2011). Santos (2011) parte do pressuposto de que aprender é promover a aquisição de novos conhecimentos, modificabilidade cognitiva e comportamental e de que todo esse processo resulta do funcionamento cerebral, portanto, compreender as bases neurobiológicas da aprendizagem torna-se fundamental na formação do professor no século XXI. Os sistemas de ensino devem assegurar a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais e nenhum sistemade ensino poderá impor uma homogeneidade ou normalidade ideal. Educar na diversidade é hoje o grande desafio dos professores que irão lidar em sala de aula, cada vez mais heterogêneas, com alunos com deficiências, transtornos, dificuldades, enfim, modalidades diferentes de aprender (SANTOS, 2011). A atenção à diversidade de capacidades, motivações e interesses dos alunos é um objetivo que os profissionais da educação estão tentando abordar há muitas décadas com maior ou menor sucesso. Mas agora é chegada a hora, a educação inclusiva é lei, nenhuma criança poderá ficar excluída da escola regular. Como ensinar da melhor maneira que esses cérebros possam aprender? Como esses cérebros se organizam, funcionam, quais as limitações e potencialidades desses alunos? Quais as intervenções adequadas para promover a aquisição da leitura e da escrita pautadas em evidências científicas? Tais questionamentos precisam ser respondidos pelos educadores que devem, urgentemente, buscar cursos onde possam conhecer as bases neurobiológicas do processo de aprender, para através desse conhecimento, que não é ofertado em cursos de formação superior, desenvolver melhores estratégias pedagógicas (SANTOS, 2011). 54 O sujeito cerebral que a neurociência nos trouxe como novo conceito nos faz compreender que existe uma biologia, uma anatomia, uma fisiologia naquele cérebro que aprende, que é único na sua singularidade dentro da diversidade de alunos em sala de aula. É preciso conhecer as características individuais dos alunos, quer sejam aqueles com necessidades educacionais especiais, quer sejam os alunos que seguem o fluxo normal, contidas nos princípios humanos que reconhecem sua diversidade, a fim de traçar o melhor atendimento a ser ofertado para que ele possa desenvolver todas as suas capacidades. Sem dúvida, esse conhecimento fará com que os profissionais da educação e da saúde busquem conhecimentos neurobiológicos advindos das neurociências e de suas subáreas a fim de que possam lidar com essa diversidade de alunos em sala de aula construindo com esses conhecimentos, novas competências pedagógicas, promovendo através destas, práticas pedagógicas inclusivas, respeitando as diversidades e a singularidade de nossos aprendizes (SANTOS, 2011). 55 REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BÁSICAS FIORI, Nicole. As neurociências cognitivas . Trad. Sonia M.S. Fuhrmann. Petrópolis: Vozes, 2008. FONSECA, Vítor da. 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