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APOSTILA TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA

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Disciplina 
Tópicos de Literatura PortuguesaTópicos de Literatura PortuguesaTópicos de Literatura PortuguesaTópicos de Literatura Portuguesa 
 
 
Coordenador da Disciplina 
Prof.Prof.Prof.Prof. José Carlos Siqueira de SouzJosé Carlos Siqueira de SouzJosé Carlos Siqueira de SouzJosé Carlos Siqueira de Souzaaaa 
 
 
 
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, 
transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. 
 
Créditos desta disciplina 
 
Realização 
 
 
Autor 
 
Prof. José Carlos Siqueira de Souza 
 
 
 
SumárioSumárioSumárioSumário 
 
Aula 01: Grandes temas da Literatura Portuguesa - Inês de Castro: 1ª parte ................................... 01 
 Tópico 01: O tema de Inês ..................................................................................................................... 01 
 Tópico 02: Inês de Castro pelos cronistas .............................................................................................. 06 
 Tópico 03: Dicas de Estudo e Atividades Complementares .................................................................. 11 
 
Aula 02: Grandes temas da Literatura Portuguesa - Inês de Castro: 2ª parte ................................... 16 
 Tópico 01: Inês de Castro na epopeia classicista ................................................................................... 16 
 Tópico 02: Inês de Castro no Arcadismo ............................................................................................... 18 
 Tópico 03: Inês de Castro em nossos dias .............................................................................................. 20 
 
Aula 03: Grandes temas da Literatura Portuguesa - O infante D. Sebastião: 1ª parte ...................... 23 
 Tópico 01: As profecias que antecedem o mito ..................................................................................... 23 
 Tópico 02: O mito .................................................................................................................................. 26 
 Tópico 03: O Quinto Império e a deposição de D. Sebastião ................................................................ 28 
 Tópico 04: O sentido do mito na cultura portuguesa ............................................................................. 32 
 
Aula 04: Grandes temas da Literatura Portuguesa - O infante D. Sebastião: 2ª parte ...................... 34 
 Tópico 01: Alcácer-Quibir ..................................................................................................................... 34 
 Tópico 02: A lógica do sebastianismo ................................................................................................... 37 
 Tópico 03: A Mensagem sebastianista de Fernando Pessoa .................................................................. 40 
 Tópico 04: A estrutura de Mensagem .................................................................................................... 42 
 Tópico 05: O sebastianismo na contemporaneidade .............................................................................. 48 
 
Aula 05: Grandes temas da Literatura Portuguesa – Anticlericalismo: 1ª parte ............................... 52 
 Tópico 01: O anticlericalismo ................................................................................................................ 52 
 Tópico 02: O anticlericalismo em Portugal ............................................................................................ 56 
 Tópico 03: O anticlericalismo na literatura portuguesa: os primórdios ................................................. 59 
 Tópico 04: O anticlericalismo de Gil Vicente ........................................................................................ 63 
 
Aula 06: Grandes temas da Literatura Portuguesa – Anticlericalismo: 2ª parte ............................... 66 
 Tópico 01: O anticlericalismo radical de Eça de Queirós ...................................................................... 66 
 Tópico 02: O anticlericalismo contemporâneo de Saramago ................................................................. 72 
 
 
 
 
TÓPICO 01: O TEMA DE INÊS
Na Europa, durante o século XVI, uma importante e poderosa parcela 
das casas reais e de aristocratas governantes descendia de uma rainha 
portuguesa. Netos e bisnetos dessa mulher ocupavam tronos, dirigindo 
impérios e principados. Um grande cronista e poeta da época, o português 
Garcia de Resende (1470-1536), chegou mesmo a dedicar um poema a essa 
insigne linhagem:
Mas uma tão importante genealogia aristocrática não deveria ser vista 
como surpreendente durante o século de ouro de Portugal, momento das 
grandes navegações e descobertas, pois o país ibérico nesse período era uma 
potência dentro do continente. Além do mais, os casamentos entre as mais 
diversas e distantes casas reais era algo por demais corriqueiro, servindo de 
instrumento da política internacional e do jogo do poder. Acontece que essa 
monarca portuguesa tinha algumas peculiaridades capazes de comover 
poetas e historiadores, e transformar sua descendência num verdadeiro 
milagre dinástico.
Para começar, ela não era portuguesa, mas sim da Galícia, uma região ao 
norte de Portugal, subordinada à Espanha. Em segundo lugar, sua origem 
era controversa, pois nascera filha bastarda (concebida fora do casamento) 
de um importante aristocrata galego. Terceiro, morrera muito jovem, aos 
trinta anos, brutalmente executada (degolada), após a sentença de um 
tribunal movido por intrigas palacianas. E, por fim, e mais incrível, fora 
declarada rainha depois de morta, alguns anos após a sua execução.
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 01: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 1ª PARTE
1
Eis aí, em linhas muito sumárias, a trágica vida de Dona Inês de Castro, 
que “depois de morta foi rainha”, nas palavras de Luís de Camões. Mas isso 
não é tudo, por trás do que já foi relatado há também uma história de amor 
que marcou a literatura e as artes de Portugal e toda a Europa. Uma história 
que desempenhou um importante papel na modelagem do espírito 
português, de sua identidade nacional, num processo em que ao fato 
histórico foram sendo agregados detalhes, situações e desdobramentos 
criados por artistas e pela imaginação popular, constituindo assim um mito 
que acabou maior e mais interessante que a personagem histórica 
propriamente dita. Para entender esse processo, devemos conhecer a história 
e a formação do mito de Inês de Castro. 
A HISTÓRIA
Inês de Castro nasceu na Galícia, como já foi dito, entre 1320 e 1325, filha natural 
de Pedro Fernandes de Castro, um alto funcionário do trono espanhol e também de 
ascendência bastarda (como se vê, era algo recorrente na aristocracia da época).
Apesar da bastardia, Inês cresceu no seio de uma família nobre e rica, e na 
juventude tornou-se dama de companhia de sua prima, D. Constança Manuel, uma 
nobre espanhola de uma importante família. Tão importante, que Constança 
simplesmente tornou-se a esposa do príncipe herdeiro português, D. Pedro. E aqui entra 
um personagem fundamental desta história.
O infante D. Pedro, filho de Afonso IV, um notável monarca dos primórdios da 
história portuguesa, ao conhecer a dama de companhia de sua esposa, a bela Inês, 
apaixonou-se perdidamente por ela. O príncipe, como era de se esperar, foi 
correspondido pela nobre galega, e tornaram-se amantes. O relacionamento amoroso 
deles era tão intenso e aberto que provocou a desaprovação da corte. Quando Constança 
concebeu seu primeiro filho com D. Pedro,convidou Inês para ser madrinha, pois pelas 
leis canônicas a relação carnal entre pais e madrinhas era considerada incestuosa. 
Parece que a artimanha não funcionou muito bem, já que o rei Afonso decidiu expulsar 
Inês da corte e exilá-la num castelo próximo da fronteira com a Espanha.
Mesmo separados, Pedro e Inês continuaram se comunicando e mantiveram aceso 
o forte sentimento que os ligava. Foi quando uma fatalidade permitiu o retorno de Inês 
e a continuação de seu affair com o príncipe: ao ter seu terceiro filho (e futuro rei 
português, após Pedro), Constança morreu. Viúvo, o herdeiro do trono de Portugal 
sentiu-se livre para manter Inês a seu lado, até com a possibilidade de torná-la sua 
esposa.
No entanto, o rei, os fidalgos da corte e a opinião pública da época não pensavam 
da mesma forma. A fim de evitar conflitos, Pedro levou Inês para Coimbra, onde fixou 
residência num belo palacete, o Paço de Santa Clara, construído pela avó de Pedro, a 
Rainha Santa — uma decisão que foi considerada como uma provocação! O escândalo 
que a situação causava era crescente, com a desaprovação tanto da nobreza quanto do 
povo em geral.
No entanto, essa febre de moralidade e bons costumes que se abatera sobre o país 
tinha uma fundo político inconfessável. Inês, mesmo sendo filha ilegítima, pertencia a 
uma família poderosa na Espanha, os Castros, e seus irmãos haviam também 
conquistado o afeto e a confiança de D. Pedro. Afirma-se que tais irmãos teriam 
convencido Pedro a se casar com Inês e, em razão do pai da moça ser de linhagem real 
espanhola, exigir o trono da Espanha, unificando assim os dois países.
A ideia repugnava o rei Afonso e a maioria da nobreza, que viam em semelhantes 
conluios a possibilidade de Portugal submergir dentro da Espanha, perdendo sua 
autonomia e identidade. Os espanhóis construíam na época uma poderoso reino, de 
grande força militar e sentimento de unidade. Não seria Portugal a anexar a Espanha, e 
sim o contrário.
O rei, procurando afastar o filho de Inês e, por tabela, de seus insidiosos irmãos, 
tenta convencê-lo a se casar de novo com uma aristocrata de família real, mas a tática 
não funciona. O esperto Pedro se esquiva da sugestão, alegando que permanecia 
enlutado e não havia ainda esquecido a “amada” Constança. Era o que dizia o príncipe.
Em meio a esse embate, nossa Inês teve nada menos que quatro filhinhos com D. 
Pedro. O primeiro morreu ainda pequeno, mas os outros cresciam muito saudáveis. Já o 
legítimo herdeiro do trono lusitano, o infante Fernando, cujo nascimento levará à morte 
2
Constança, mostrava-se doentio e frágil, trazendo grandes incertezas sobre seu futuro e 
o do país, principalmente para o avô Afonso.
Tudo isso somado, fez com que o rei, influenciado por conselheiros da corte, 
decidisse cortar o mal pela raiz. Durante a ausência de D. Pedro, que saíra para caçar — 
um de seus hobbies favoritos —, o rei promove um julgamento sumário em Montemor-
o-Velho, vila próxima a Coimbra, e sentencia Inês à morte por traição. A execução é 
realizada imediatamente, e a bela Inês, por volta dos trinta anos, com três filhos ainda 
crianças, é barbaramente degolada em 7 de janeiro de 1355.
É claro que o príncipe reagiu com violência àquele crime bárbaro e covarde. Ele 
rompe com o rei, seu pai, e inicia uma verdadeira guerra civil. As hostilidades se 
prolongam por dois anos, cessando apenas graças à intervenção e diplomacia da rainha 
Beatriz de Castela, mãe de Pedro. Apesar de ter um bom motivo para a guerra, na 
verdade se considera que a morte de Inês tenha sido apenas um pretexto para o 
confronto com o rei Afonso. E, de fato, o acordo obtido pela mediação da rainha mãe 
concedeu poderes a Pedro que o tornaram na prática o verdadeiro governante do país.
No fim das contas, tal acordo não foi levado a cabo, pois, logo em seguida ao pacto, 
o rei Afonso IV morria, a 28 de maio de 1357, com certeza muito preocupado com o 
destino de Portugal, do filho e de seu neto.
A história não para aí. Depois de coroado, D. Pedro I determina a punição dos 
nobres que haviam aconselhado o falecido rei a executar Inês. Pero Coelho, Álvaro 
Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, reconhecidamente responsáveis pela morte de Inês, 
não ficaram esperando para ver o que aconteceria e fugiram para a Espanha. O nosso 
bom Pedro não teve dúvidas: arquitetou com o monarca espanhol uma troca de 
desafetos e conseguiu que os fidalgos portugueses lhe fossem entregues. No entanto, só 
Pero Coelho e Álvaro Gonçalves foram presos, pois o mais esperto, Diogo Lopes, 
conseguiu escapar dos captores espanhóis, se disfarçando em mendigo e fugindo para a 
França.
A punição dos dois conselheiros foi de uma crueldade sem precedentes. Em 1361, 
depois de torturados para que delatassem outros participantes da execução de Inês, os 
dois tiveram o coração arrancado ainda em vida: Pero Coelho através do peito, e Álvaro 
Gonçalves pelas costas — o rei não “acreditava” que tivesse coração quem pudesse ter 
participado daquele odioso crime. 
Por fim, o gentil rei Pedro I fez uma revelação bombástica à corte: ele havia se 
casado oficialmente com D. Inês de Castro. Ou seja, uma das grandes preocupações de 
seu pai, motivo inclusive de ter optado pela morte de Inês, havia acontecido em segredo, 
lá na região de Coimbra. É verdade que Pedro não se lembrava nem do mês em que isso 
acontecera, mas ele mandou chamar o bispo da Guarda, na época deão do mesmo local, 
e mais um de seus criados para comprovarem a história. O bispo confirmou que havia 
ministrado a cerimônia, e o criado, que presenciou o casamento. Mas por uma dessas 
comuns amnésias coletivas, nenhum dos dois lembrava também quando fora... De 
qualquer forma, era uma reparação que o novo rei fazia a ultrajada D. Inês e a prova de 
um amor que nem a morte nem o tempo conseguiam apagar.
Dessa forma, Inês era oficialmente declarada rainha e seus filhos, legitimados, 
podendo inclusive aspirar ao trono, caso o frágil infante Fernando por algum motivo 
faltasse ao país. Seria possível pensar que tal reparação estava na lógica da vingança que 
o rei já havia desencadeado com o flagelo dos conselheiros: de certo modo, Portugal 
como um todo estaria pagando pela mesquinha desaprovação ao romance do príncipe e 
sua amante galega, bem como pelo alívio coletivo sentido com a sua morte. Mas pode-se 
acrescentar a essa satisfação pessoal alguns objetivos políticos. Os descendentes de Inês 
poderiam no futuro se arrogar ao trono espanhol, quem sabe realizando a temida união 
dos dois países.
O casamento foi então postumamente oficializado, e o rei mandou confeccionar 
dois magníficos túmulos no mosteiro de Alcobaça. No primeiro foram depositados os 
restos mortais de Inês, enquanto que o segundo aguardaria o corpo de Pedro. Assim, a 
eternidade uniria os dois amantes que as convenções sociais, as intrigas cortesãs e a 
fúria paterna haviam se esforçado tanto para manter separados em vida. Não se pode 
esquecer também que a magnificência desses túmulos serviria ainda como símbolo 
oficial do casamento deles, um conveniente testemunho da legitimidade de seu 
matrimônio e de seus descendentes.
O translado do corpo de Inês foi feito com toda a pompa e circunstância devidas a 
uma rainha. Por todo o trajeto de Coimbra (onde a dama fora primeiro sepultada) a 
Alcobaça, a nobreza, o clero e o povo saudaram o féretro como se fosse a uma monarca 
viva, e as cerimônias fúnebres passaram à memória dos portugueses em virtude de sua 
suntuosidade e grandeza.
E lá se encontram eles ainda, símbolos de um amor capaz de derrotar a própria 
morte, ou ao menos de o tentar, oriundos de uma época cuja distância temporal a 
3
O MITO
A história que acabamos de narrar tembase em documentos e relatos 
históricos, mas diversos de seus detalhes são difíceis de serem comprovados 
com toda a exatidão. Queremos dizer com isso que mesmo o fato histórico 
está contaminado de incertezas, fruto da deficiente documentação, dos 
métodos pouco confiáveis dos registros e crônicas, além do que muitas das 
possíveis fontes para esses eventos se perderam no decorrer do tempo.
Dona Inês de Castro [1]
No fundo, a própria História se encontra algo mitificada — um processo 
normal em qualquer cultura e que abre margem para que o mito se fortaleça 
e expanda. No caso de Pedro e Inês, logo depois de suas mortes, o imaginário 
popular foi acrescentando detalhes maravilhosos aos acontecimentos. Em 
Coimbra passou-se a acreditar que Inês fora morta em sua própria casa, o 
famoso Paço de Santa Clara. Junto a esse palácio havia jardins, bosques e 
duas fontes, numa destas, depois chamada de fonte das Lágrimas, existem 
raríssimas algas vermelhas, que a imaginação do povo relaciona com o 
sangue derramado da bela Inês. A outra fonte, “dos Amores”, teve seu nome 
dado por Camões num trecho de Os lusíadas dedicado a Inês de Castro:
E, por memória eterna, em fonte pura 
As lágrimas choradas transformaram. 
O nome lhe puseram, que inda dura, 
Dos amores de Inês, que ali passaram. (III, 135)
E aqui entram em cena os poetas e artistas que, ao se apropriarem da 
história, foram recriando os fatos, dando ênfase a alguns aspectos e 
obscurecendo outros. Eles fizeram com que a memória desse sublime amor 
não fosse perdida, mas também provocaram novos sentidos e funções que os 
fatos em si não possuíam. Fernando Pessoa sintetiza de forma perfeita esse 
processo de mitificação:
Assim a lenda se escorre 
A entrar na realidade, 
E a fecundá-la decorre. 
Em baixo, a vida, metade 
De nada, morre. (“Ulysses”, in Mensagem)
Nesses versos, Pessoa está se referindo ao mito de fundação de Lisboa, 
atribuída ao herói grego Ulisses, que teria construído a cidade durante sua 
viagem de retorno da guerra de Tróia. Mas a ideia serve para qualquer mito: 
um valor ou sentimento fundamental à realidade humana é fecundado pela 
lenda, que passa a valer mais do que a própria realidade histórica. Tratando-
se do mito de Inês de Castro, pode-se dizer que um dos valores que está 
sendo fecundado é a ideia de superação da morte pela força do amor. Mas 
não só isso.
transforma num cenário de contos de fada: Em um reino distante, havia um rei, um 
valente príncipe e uma linda princesa...
4
Há também a ideia da saudade, que faz com que o passado não morra, 
ou que se mantenha pulsante e decisivo no presente e no futuro. Seria esse 
intenso sentimento que levara D. Pedro a sua vingança tão cruel e à 
construção dos túmulos majestosos, capazes de vencer o tempo e perdurar 
no futuro. Presente e futuro determinados por um passado que a saudade 
sustenta e dá poder. A saudade portuguesa.
Para dar um exemplo da ação dos poetas nesse sentido, vejamos a 
famosa cena da coroação da rainha morta. 
Coroação póstuma de Inês de Castro [2]
Com base no dado histórico do cortejo fúnebre do cadáver de Inês para 
Alcobaça — uma das formas encontradas por D. Pedro para declarar Inês 
rainha depois de morta —, diversos escritores desenvolveram a fantástica 
cena em que o corpo morto de Inês era assentado sobre o trono português e 
uma cerimônia de coroamento tinha lugar. Em seguida, para escárnio da 
nobreza e do clero presentes, estes teriam sido obrigados a beijar a mão da 
rainha morta. A força imagética e tétrica dessa cena é inquestionável. Eis aí 
uma amostra do esforço humano em vencer a morte e negar as fronteiras 
entre o passado e o presente, um tema mitológico.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/03/8-_Rai
nha_D._In%C3%AAs_-_A_Morta.jpg/220px-8-_Rainha_D._In%C3%
AAs_-_A_Morta.jpg
2. http://4.bp.blogspot.com/_iPnZRxqd6SA/SyaM6VWWaLI/AAAAAAAA
ABs/vIax6eMivQ0/w1200-h630-p-k-no-nu/historia_05.jpg
3. http://www.denso-wave.com/en/
Responsável: Professor José Carlos Siqueira de Souza
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
5
TÓPICO 02: INÊS DE CASTRO PELOS CRONISTAS
VERSÃO TEXTUAL
Os primeiros relatos do drama de Inês de Castro foram feitos por 
cronistas. Seria valioso entender esse tipo de escritor que participa 
tanto da literatura quanto da historiografia, e que no caso português 
tem ainda um pé na Idade Média e outro na Moderna. 
Os historiadores da língua portuguesa datam o início de nosso idioma 
no século XII, sendo que os primeiros textos em português que sobreviveram 
até nossos dias são poemas. Na prosa, os primeiros escritos em português 
são os sempre citados romances de cavalaria e as crônicas. Estas últimas 
apresentam um duplo interesse: são documentos históricos — importantes 
fontes primárias para o conhecimento do passado — e verdadeiros ensaios de 
estilo e expressão na língua lusitana. A crônica dessa época pode então ser 
definida como o relato cronológico da vida de reis e nobres, de fatos 
relevantes desses personagens, descrição de batalhas, de eventos 
diplomáticos etc.
Em Portugal, uma das primeiras crônicas foi redigida ou organizada 
pelo conde D. Pedro Afonso (1287-1354). Ele era filho do conhecido rei D. 
Dinis, o rei trovador, e, puxando ao pai, foi também poeta e responsável por 
uma crônica intitulada O livro do conde D. Pedro, que, entre outras coisas, 
conta a história do mundo, começando por Adão e Eva e chegando à 
reconquista da Espanha pelos cristãos.
Já a história de Inês é registrada pela primeira vez através da pena de 
Fernão Lopes (1380-1460). A importância da obra e das atividades 
intelectuais desenvolvidas por esse homem pode ser medida pelo fato de que 
a história da literatura portuguesa define como data do início do Humanismo 
em Portugal a sua nomeação como guarda-mor da Torre do Tombo (uma 
espécie de bibliotecário chefe da documentação oficial do país). 
PARADA OBRIGATÓRIA
O Humanismo é a corrente cultural e literária que, em terras 
portuguesas, vai de 1418 a 1527, substituindo a era do Trovadorismo. O 
próprio nome já denuncia que o foco dessa corrente de pensamento é o 
homem, visto agora como centro do universo, dotado de faculdades que o 
diferencia no mundo animal, principalmente, a razão, e o elevam à posição 
de ser supremo da Natureza e seu virtual senhor. 
Fernão Lopes é considerado o “pai da História” em Portugal. Ele já pode 
ser considerado “moderno” por haver promovido uma historiografia baseada 
em documentos e não mais fundamentada na tradição oral. O que não o 
impede de imprimir em seus relatos uma forte carga dramática e de intenso 
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 01: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 1ª PARTE
6
Crônica de D. Pedro I [1]
dinamismo narrativo. Em seus textos surge o povo em suas multifacetadas 
manifestações, chegando mesmo ao protagonismo em algumas ocasiões. Seu 
estilo é bastante coloquial e direto, em que por vezes o narrador chega 
mesmo a dialogar com o leitor.
Boa parte da produção de Fernão Lopes se perdeu, havendo sobrevivido 
entre outras obras a Crônica d’el-rei D. Pedro I, na qual se registram 
algumas das passagens da história de D. Inês de Castro. Um dos trechos mais 
impactantes relata o suplício e a execução de dois dos conselheiros que 
participaram da morte de Inês:
A Portugal foram trazidos Alvaro Gonçalves e 
Pero Coelho, e chegaram a Santarem, onde el-rei era. 
El-rei, com prazer de sua vinda, porém mal magoado 
porque Diogo Lopes fugira, os saiu fóra a receber, e, 
sanha cruel, sem piedade os fez por sua mão metter a 
tormento, querendo que lhe confessassem quaes 
foramna morte de Dona Ignez culpados, e que era 
que seu padre tratava contra elle, quando andavam 
desavindos por azo da morte d'ella. E nenhum d'elles 
respondeu a taes perguntas cousa que a el-rei 
prouvesse.
E el-rei, com queixume, dizem que deu um açoute 
no rosto a Pero Coelho, e elle se soltou então contra 
el-rei em deshonestas e feias palavras, chamando-lhe 
traidor, á fé perjuro, algoz e carniceiro dos homens. E 
el-rei, dizendo que lhe trouxessem cebola, vinagre, e 
azeite para o coelho, enfadou-se d'elles, e mandou-os 
matar.
A maneira de sua morte, sendo dita pelo miudo, 
seria mui estranha e crua de contar, cá mandou tirar o 
coração pelos peitos a Pero Coelho, e a Alvaro 
Gonçalves pelas espaduas. E quaes palavras houve e 
aquelle que lh'o tirava, que tal officio havia pouco em 
costume, seria bem dorida cousa de ouvir. Emfim, 
mandou-os queimar. E tudo feito ante os paços onde 
elle pousava, de guisa que comendo olhava quanto 
mandava fazer. (Capítulo XXXI.)
Mantivemos a ortografia da edição de 1895. Há nesse registro um jogo 
entre um ambiente de tortura e uma situação doméstica. Lopes intercala um 
pedido banal de temperos feito pelo rei em meio a tormentos, injúrias e 
muita dor, brincando com a palavra coelho, que tanto é a carne que come o 
rei, quanto é o nome do torturado, Pero Coelho. Com isso ele prepara o 
desfecho da cena, revelando que a execução foi apreciada pelo monarca 
durante sua refeição, como num piquenique se acompanha um jogo ou uma 
brincadeira. O cronista enfatiza assim o grau de crueldade e desprezo pela 
vida humana demonstrado por D. Pedro. É importante notar ainda que a 
7
forma de execução dos dois conselheiros não é atestada pelo cronista, ou 
seja, não havia documentos que comprovasse essa informação, sendo 
portanto algo que foi transmitido por via oral: “dita pelo miudo”. 
Posteriormente, a tradição ainda acrescentou que o rei mordeu um dos 
corações arrancados, numa espécie de antropofagia à moda europeia.
O “TEATRO” DO JULGAMENTO DE INÊS
O primeiro texto puramente literário em que comparece o drama de 
Inês e Pedro é de autoria de Garcia de Resende (1470-1536), Trovas à morte 
de Inês de Castro, do qual citamos um trecho logo no início deste capítulo. 
Nesse poema se destaca a súplica que Inês teria feito ao rei Afonso IV para 
que poupasse a sua vida e, assim, a orfandade de seus filhos. O rei se 
sensibiliza com as lágrimas da mulher, mas, incitado por um de seus oficiais, 
acaba permitindo a execução de Inês.
Aqui já nos encontramos num momento de transição entre o 
Humanismo, de que Fernão Lopes foi o grande nome na crônica, e o 
Classicismo (1527-1580). O poeta e cronista Resende ainda é catalogado 
pelos estudos literários no Humanismo, mas sua obra já preparava as 
condições para o surgimento dos escritores classicistas. O cancioneiro geral, 
onde foram publicadas as Trovas, é uma coletânea da produção poética do 
Humanismo e, portanto, uma síntese da literatura do período.
VERSÃO TEXTUAL
O Classicismo propriamente não foi um rompimento com o 
Humanismo, mas sim uma espécie de radicalização. A fim de se livrar 
definitivamente dos princípios e do pensamento medievais, os artistas 
da nova escola vão retomar os valores clássicos, ou seja, a estética e as 
formas artísticas da Antiguidade, especificamente da Grécia e Roma 
clássicas.
No teatro, a tragédia de concepção greco-romana dominará por 
completo as produções dramatúrgicas. E um dos principais nomes 
portugueses desse gênero será Antônio Ferreira (1528-1569), cuja obra-
prima, por sinal, leva o nome de Castro. Segundo a estudiosa Maria L. 
Machado de Sousa, essa peça é a primeira tragédia europeia com tema 
“moderno”, ou seja, na qual os personagens não são nem deuses nem heróis 
da Antiguidade, mas sim figuras históricas recentes (cf. Sousa 1984:12). 
Ferreira é ainda avaliado por críticos como António Saraiva e Óscar 
Lopes como o mais íntegro representante da escola Clássica em seu país 
(2005:255), havendo por isso realizado com essa tragédia uma brilhante 
integração entre um tema moderno e a estética clássica. Sem dúvida, o 
dramaturgo português retomou a ideia da defesa de Inês na Trovas de 
Garcia de Resende e ampliou-a no quarto ato de sua peça na forma de um 
julgamento, onde comparecem ainda dois dos conselheiros reais no papel de 
promotores.
8
Na tragédia clássica, o Destino tem papel central, pois determina o fim 
dos personagens independente de suas vontades e de seus esforços em 
impedir tal sina — esforços que fatalmente só os conduzem ainda com mais 
firmeza para a sua destruição (um bom exemplo seria Édipo rei, de Sófocles). 
No caso de Castro, o Destino é encarnado pelas razões de Estado, suficientes 
para condenar alguém inocente e obliterar a consciência dos juízes.
A bela Inês questiona o rei Afonso IV, no papel de juiz, sobre seu crime:
CASTRO: Ouve minha razão, minha inocência. / 
Culpa é, senhor, guardar amor constante / A quem mo 
tem? se por amor me matas, / Que farás ao inimigo? 
amei teu filho, / Não o matei. Amor amor merece; / 
Estas são minhas culpas: estas queres / Com morte 
castigar? Em que a mereço? (Ato IV, cena I.) [...]
CASTRO [ainda se dirigindo ao rei]: Dou tua 
consciência em minha prova. / Se os olhos de teu filho 
se enganaram / Com o que viram em mim, que culpa 
tenho? / Paguei-lhe aquele amor com outro amor, / 
Fraqueza costumada em todo estado. / Se contra Deus 
pequei, contra ti não. (Ib.)
A infeliz mulher ainda acrescenta que a injustiça não seria apenas contra 
ela, mas atingiria também o filho do rei, que ama Inês, e seus netos, que 
cresceriam órfãos. O rei juiz nesse momento cede às súplicas e se retira de 
cena convencido da injustiça que seria a morte de Inês. Mas na cena 
seguinte, a sós com dois conselheiros, é confrontado com as razões de 
Estado:
PACHECO: ... não te esqueças / Da tenção tão 
fundada, que te trouxe. 
REI: Não pôde o meu espírito consentir / Em crueza 
tamanha. 
PACHECO: Mor crueza. / Fazes agora ao Reino: agora 
fazes / [...] A que vieste? / A pôr em mor perigo teu 
estado? [...] 
REI: Não vejo culpa, que mereça pena. 
PACHECO: Inda hoje a viste, quem ta esconde agora? 
REI: Mais quero perdoar, que ser injusto. 
COELHO: Injusto é quem perdoa a pena justa. 
REI: Peque antes nesse extremo, que em crueza. 
COELHO: Não se consente o Rei pecar em nada. 
REI: Sou homem. 
COELHO: Porém Rei. 
REI: O Rei perdoa. 
PACHECO: Nem sempre perdoar é piedade. 
REI: Eu vejo üa inocente, mãe de uns filhos / De meu 
filho, que mato juntamente. 
9
COELHO: Mas dás vida a teu filho, salvas-lhe a 
alma, / Pacificas teu Reino: a ti seguras. / Restituis-
nos honra, paz, descanso. / Destróis a traidores; 
cortas quanto / Sobre ti, e teu neto se tecia... (Ato IV, 
cena II.)
O rei, pela segunda vez, sucumbe aos argumentos dos acusadores. E 
agora, para evitar novo confronto com Inês, ele dá a sentença definitiva (na 
verdade, transfere aos outros a decisão):
REI: Eu não mando, nem veto. Deus o julgue. / 
Vós outros o fazei, se vos parece / Justiça, assim 
matar quem não tem culpa. (Ib.)
Os conselheiros aceitam a incumbência e matam a pobre Inês. 
Na peça de Ferreira, o rei enfrenta um terrível dilema: ser um juiz 
imparcial e impessoal, julgar única e exclusivamente a verdade do crime, ou 
um chefe de Estado, responsável pelo bem geral e o futuro da nação. Ele cede 
à lógica das razões de Estado, esse Destino implacável, mas carrega, apesar 
disso, sua responsabilidade na decisão, uma situação que já indica traços de 
modernidade se instaurando no modelo clássico.
LEITURA COMPLEMENTAR
Para conhecer mais sobre a história, leiaos textos que seguem:
Reis, Rainhas e Presidentes de Portugal – D. Pedro I [2]
Reis, Rainhas e Presidentes de Portugal – D. Afonso IV [3]
Patrimônio Cultural [4]
Inês de Castro [5]
FONTES DAS IMAGENS
1. http://3.bp.blogspot.com/__Wug66SGncY/SbsCmfbcvNI/AAAAAAAAA
K4/TcE5_giojaQ/s400/Cr%C3%B3nica+de+D.+Pedro.jpg
2. http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/pedro1.html
3. http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/afonso4.html
4. http://www.patrimoniocultural.pt/en/
5. http://www.ciberjob.org/mujeres/historia/ines/
6. http://www.denso-wave.com/en/
Responsável: Professor José Carlos Siqueira de Souza
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
10
TÓPICO 03: DICAS DE ESTUDO E ATIVIDADES COMPLEMENTARES
DICAS DE ESTUDO
Para que o estudante possa completar as informações sobre a 
apropriação da história de Inês de Castro pela literatura e outras artes, 
sugerimos as seguintes obras:
SOBRE A LITERATURA PORTUGUESA
SOUSA, Maria Leonor Machado de. Inês de Castro na literatura 
portuguesa. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1984.
SOBRE A LITERATURA EUROPEIA
SOUSA, Maria Leonor Machado de. Inês de Castro: Um tema 
português na Europa. Lisboa: Edições 70, 1987.
ATIVIDADES COMPLEMENTARES
A seguir sugerimos uma lista de atividades que proporcionará um 
aprofundamento sobre o tema: 
Questão 1: Por trás da execução de Inês de Castro, pode-se detectar 
várias possíveis “razões de Estado” que teriam levado o rei Afonso IV a se 
decidir pela morte da dama galega. Comente as principais.


Questão 2: De que forma, o mito de Inês de Castro ajudou a construir a 
identidade portuguesa?


Questão 3: Além da grande qualidade artística do episódio de Inês de 
Castro em Os lusíadas, de Camões, qual o papel que seus versos exerceram 
na literatura portuguesa e na cultura ocidental?


TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 01: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 1ª PARTE
11
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Questão 01
A influência dos irmãos de D. Inês na corte de Lisboa era vista com 
receios pelo rei e nobreza: eles estariam convencendo D. Pedro a se casar 
com ela para assim pleitear o trono espanhol. Além do visível risco de 
Portugal ser anexado àquele país, tal objetivo punha em risco a vida do 
legítimo herdeiro do trono, D. Fernando, filho legal de D. Pedro com D. 
Constança.
Questão 02
Sob a ótica tradicional, a saudade despertada pelo intenso amor que D. 
Pedro nutria por Inês, capaz de manter vivo esse afeto mesmo depois da 
morte da amante e provocar cruéis vinganças, acabou se constituindo 
numa marca do espírito português. O saudosismo passou a ser uma 
constante na cultura lusitana, alimentado pelas sucessivas obras literárias e 
artísticas que retomaram o tema de Pedro e Inês. Já nas obras 
contemporâneas, o mito tem sido revisto e, como no caso da escritora 
Agustina Bessa-Luís, ele teria contribuído, por meio da imagem alienada e 
submissa de Inês, com a manutenção de uma sociedade patriarcal e 
machista.
Questão 03
Camões criou um padrão lírico para esse tema que repercutiu nas 
gerações seguintes em Portugal, como as composições de Bocage acerca de 
Inês podem confirmar. Em termos internacionais, o épico camoniano 
contribuiu para a divulgação da história de Inês, sendo esse episódio um 
dos trechos da epopeia mais traduzidos e publicados individualmente. 
1. Sobre Inês de Castro, aquela que “depois de morta foi rainha”, é 
correto afirmar que sua origem era:
 a. Galega. 
 b. Portuguesa. 
c. Espanhola. 
d. Leonesa.
2. Fernão Lopes é considerado o “pai da História” em Portugal por ser 
um dos primeiros cronistas a se preocupar com a confirmação dos fatos 
através da análise e registro de documentos. Uma de suas principais obras se 
intitula:
 a. Crônica de el-rei D. Pedro I.
 b. Cancioneiro Geral.
 c. História de Portugal.
 d. Livro do conde D. Pedro.
12
3. A respeito do Classicismo em Portugal é correto afirmar:
I. Não representou uma ruptura com o Humanismo, escola à qual se 
seguiu, mas sim uma radicalização de alguns de seus princípios;
II. No teatro, abandonou os padrões dramatúrgicos estabelecidos na 
Grécia e Roma antigas.
III. Uma das mais importantes peças do período é Castro, de António 
Ferreira.
 a. I e III estão certas.
 b. I e II estão certas.
 c. Apenas II está certa.
 d. Apenas I está certa.
4. Sobre o episódio de Inês de Castro, que se encontra no Canto III d’Os 
lusíadas, de Camões, é correto se dizer que:
 a. O autor usa recursos líricos que depois repercutiriam nos poetas 
seguintes.
 b. Camões não repete ideias e motivos que já haviam sido utilizados 
em Garcia de Resende e António Ferreira.
 c. O episódio não teve muita importância para a fama e divulgação 
internacional d’Os lusíadas.
 d. Camões baseou-se em gêneros e poéticas medievais para compor Os 
lusíadas.
5. A respeito de Bocage podemos afirmar que:
I. Foi um poeta árcade,
II. Foi influenciado pelo episódio camoniano de Inês de Castro ao 
escrever sua Cantata para essa personagem.
III. Enfatizou os aspectos dramáticos do julgamento de Inês em sua 
Cantata.
 a. As respostas I e II estão corretas.
 b. Apenas a resposta I está correta.
 c. Apenas a resposta III está correta.
 d. As respostas II e III estão corretas.
6. A partir do final do século XIX, o tema de Inês de Castro:
 a. Continuou presente na literatura portuguesa, que passou a buscar 
aspectos e perspectivas inusitadas.
13
 b. Os poetas e escritores em geral continuaram a ser influenciados 
principalmente por Camões.
 c. O tema foi abandonado pelos autores portugueses, mostrando o 
esgotamento das possibilidades literárias dessa história.
 d. Os escritores passaram a enfatizar ainda mais os elementos da 
responsabilidade do Amor pela morte Inês (Camões) e a dramaticidade de 
seu julgamento (António Ferreira).
7. No romance de Agustina Bessa-Luís, Adivinhas de Pedro e Inês:
 a. As lacunas da história de Inês, em vez de impedir uma avaliação 
definitiva sobre o episódio, dão ao leitor a possibilidade de criticar sua 
cultura e recriar o mito da bela Inês.
 b. O narrador procura preencher as dúvidas sobre o caso de Inês com 
uma sólida investigação histórica.
 c. O romance procura validar o mito tradicional de Inês, sem se 
importar com sua verdade histórica.
 d. O narrador, influenciado por Camões, resgata a imagem de Inês 
desenvolvida pela literatura anterior.
8. No conto “Teorema” de Herberto Helder, o personagem principal e 
narrador é:
 a. Pero Coelho, um dos assassinos de Inês.
 b. Inês de Castro no momento de sua execução.
 c. O “esposo” de Inês, D. Pedro I.
 d. O rei Afonso IV durante o julgamento de Inês.
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REFERÊNCIAS
BESSA-LUÍS, A. Adivinhas de Pedro e Inês. Lisboa: Guimarães, 1983.
BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Antologia poética. Lisboa: Ed. 
Verbo, 1972.
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
FERREIRA, António. Castro. In SOARES, Nair de Nazaré Castro. 
Introdução à leitura da Castro de António Ferreira: estudo, texto 
integral e notas. Coimbra: Livraria Almedina, 1996 
14
GOBBI, Márcia Valéria Zamboni. “Até o fim do mundo”: Inês de Castro 
e a saudade do impossível. In Anais do XI Encontro Regional da 
Abralic (2007). Disponível em: 
http://www.abralic.org.br/enc2007/anais/20/447.pdf. Acesso em 20 
de outubro de 2008.
HELDER, H. Teorema. In: ______. Os passos em volta. 5ª. ed. 
Lisboa: Assírio e Alvim, 1975.
PESSOA, Fernando.Mensagem. São Paulo: Companhia das Letras, 
2000.
RESENDE, Garcia. Cancioneiro Geral. 4 vols. Lisboa: Imprensa 
Nacional – Casa da Moeda, vol. IV, 1990-1993.
SARAIVA, António José e LOPES, Óscar. História da Literatura 
Portuguesa. Porto, Porto Editora, 2005.
SENA, J. de. Estudos de História e de Cultura. Lisboa: Ocidente, 1963. 
v. I.
SOUSA, Maria Leonor Machado de. Inês de Castro na literatura 
portuguesa. Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1984.
________. Inês de Castro: Um tema português na Europa. Lisboa: 
Edições 70, 1987.
________. Pedro I de Portugal e Inês de Castro. In: CENTENO, Y.K. 
(Coord.) Portugal: mitos revisitados. Lisboa: Salamandra, 1993.
TORRES FILHO, Rubens Rodrigues. Inês de Castro e a doutrina-da-
ciência. Folhetim, 12 de junho de 1987, p. B-8/9. Suplemento do jornal 
Folha de São Paulo. 
FONTES DAS IMAGENS
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Responsável: Professor José Carlos Siqueira de Souza
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TÓPICO 01: INÊS DE CASTRO NA EPOPEIA CLASSICISTA
VERSÃO TEXTUAL
Ainda no Classicismo, mas agora no gênero epopeia (poema 
longo, narrativo, em que se relatam os feitos de um herói de uma 
determinada coletividade), vamos encontrar, em meados século XVI, 
Luís Vaz de Camões (1524/25-1579/80) compondo Os lusíadas. Ele 
insere o episódio de Inês de Castro no Canto III de seu poema épico.
Conforme lemos ali, durante a travessia rumo à Índia, a armada de 
Vasco da Gama chega a Melinde (cidade que hoje pertence ao Quênia, na 
África), cujo rei solicita ao almirante que conte a história de Portugal. Nos 
cantos III, IV e V, o Gama narra a história das duas primeiras dinastias 
portuguesas, chegando até o início da viagem. O relato de Inês ocupa 
dezessete estrofes do terceiro canto, nas quais a rainha depois de morta é 
apresentada como vítima da inexorabilidade do Amor.
Tu só, tu, puro Amor, com força crua, 
Que os corações humanos tanto obriga, 
Deste causa à molesta morte sua, 
Como se fora pérfida inimiga. 
Se dizem, fero Amor, que a sede tua 
Nem com lágrimas tristes se mitiga, 
É porque queres, áspero e tirano, 
Tuas aras banhar em sangue humano. (III, 119)
A ideia da responsabilidade do Amor pela morte de Inês já se encontrava 
em Garcia de Resende e António Ferreira (“Já morreu Dona Inês, matou-a 
Amor”, Ato IV, cena II). Em Camões, ele é apresentado como o deus Amor 
(Eros, na tradição grega), um senhor “áspero e tirano”, cuja força escraviza 
os corações. Ele não se satisfaz apenas com as lágrimas dos amantes, 
também deseja seu sangue como oferenda em seus altares. 
No entanto, a grande contribuição de Camões ao mito de Inês foi a 
criação de um contexto lírico no qual a história passaria então a ser contada. 
Até ali, peças e poemas se concentravam na narrativa dos eventos e nos 
discursos de defesa e acusação. O bardo português vai dar formas e cores ao 
ambiente (Coimbra), antropomorfizar a Natureza, trazer perfumes e 
múltiplas sensações aos episódios e conclamar figurantes a sofrer e chorar 
pelos amores de Inês e Pedro:
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 02: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 2ª PARTE
16
Nos saüdosos campos do Mondego, 
De teus fermosos olhos nunca enxuto, 
Aos montes ensinando e às ervinhas 
O nome que no peito escrito tinhas. 
(III, 120)
Assi como a bonina, que cortada 
Antes do tempo foi, cândida e bela, 
Sendo das mãos lacivas maltratada 
Da minina que a trouxe na capela, 
O cheiro traz perdido e a cor murchada: 
Tal está, morta, a pálida donzela, 
Secas do rosto as rosas e perdida 
A branca e viva cor, co a doce vida. (III, 134)
As filhas do Mondego a morte escura 
Longo tempo chorando memoraram, 
E, por memória eterna, em fonte pura 
As lágrimas choradas transformaram. 
(III, 135)
Esse episódio forma com outras passagens do poema um conjunto de 
versos dedicados aos infortúnios do amor. Muitos comentaristas consideram 
que tal obsessão sobre o assunto revela um viés autobiográfico de Camões, 
cuja vida fora atribulada por diversas paixões frustradas, uma característica 
que traz assim maior encanto e curiosidade à epopeia camoniana.
OLHANDO DE PERTO
Talvez seja o momento de se comentar que a história de Inês de 
Castro não se restringe ao repertório literário português. O mito de Pedro 
e Inês, na verdade, foi incorporado pela Europa e também pelas Américas. 
Para ficarmos apenas em alguns nomes mais conhecidos, citemos: Victor 
Hugo, Ezra Pound e o poeta brasileiro, nosso contemporâneo, Ivan 
Junqueira. Há ainda peças de balé e uma importante composição 
operística de Carl Maria von Weber, além de outras óperas de diversos 
autores. 
Parte do interesse demonstrado por esses países e seus artistas em 
relação à infausta Inês se deve ao Canto III de Os lusíadas. O trecho 
camoniano da história de Inês é um dos mais apreciados e traduzidos por 
todo o mundo.
Para se ter uma ideia da difusão e do interesse suscitado por esse 
episódio, podemos citar a tradução feita dele para o alemão por Johann 
Gottlieb Fichte, destacado filósofo do Iluminismo. Para poder ler Os lusíadas
no original, Fichte aprendeu português e, a partir daí, procedeu a uma 
preciosa tradução dessa parte do poema de Camões, respeitando tanto a 
métrica quanto o esquema rímico do original.
FONTES DAS IMAGENS
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TÓPICO 02: INÊS DE CASTRO NO ARCADISMO
O modelo camoniano continuou servindo de inspiração nos séculos 
seguintes em Portugal. Durante o Arcadismo, de 1756 a 1825, isso foi ainda 
mais sentido, pois essa foi uma corrente literária que recuperou muitos dos 
princípios do Classicismo — princípios esses contrariados ou abolidos 
durante o Barroco (1580-1756). 
VERSÃO TEXTUAL
O poeta mais significativo do Arcadismo português foi Manuel 
Maria de Barbosa du Bocage, uma figura que até mesmo em sua 
biografia procurou imitar a vida de Camões. Não seria surpresa, 
portanto, se Bocage tivesse dedicado algumas de suas composições ao 
mito de Inês de Castro, como de fato aconteceu.
Sobre esse tema, a composição mais importante do poeta árcade é 
Cantata à morte de Inês de Castro. A forma “cantata” se divide em duas 
partes: 
um longo recitativo em que se narra um episódio solene ou galante, 
e uma ária, um poema mais curto e ritmado, adequado para ser cantado. 
Logo na abertura do poema, Bocage presta sua homenagem a Camões, 
colocando como epígrafe exatamente dois versos d’Os lusíadas: “As filhas do 
Mondego a morte escura / Longo tempo chorando memoraram” (IIII, 135). 
A citação tem também uma função estrutural, pois a ária no fim da cantata 
seria os lamentos entoados pelas “filhas do Mondego” (neste caso, as ninfas 
saídas do rio que cruza Coimbra e corre próximo ao Paço de Santa Clara, 
onde morava Inês):
Toldam-se os 
ares, 
Murcham-se as 
flores: 
Morrei, amores, 
Que Inês morreu. 
Mísero esposo, 
Desata o pranto, 
Que o teu 
encanto 
Já não é teu. 
Sua alma pura 
Nos céus se 
encerra: 
Triste da terra 
Porque a 
perdeu! 
Contra a cruel 
Raiva ferina, 
Face divina 
Não lhe valeu. 
Tem roto o 
seio 
Tesouro 
oculto; 
Bárbaro 
insulto 
Se lhe atreveu. 
De dor e 
espanto 
No carro de 
ouro 
O Númen 
louro 
Desfaleceu. 
Aves sinistras 
Aqui piaram, 
Lobos uivaram, 
O chão tremeu. 
Toldam-se os 
ares, 
Murcham-se as 
flores: 
Morrei, amores, 
Que Inês morreu. 
In Rimas.
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 02: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 2ª PARTE
18
Dom PedroI e Dona Inês de Castro
No poema de Bocage fica patente a intenção do autor em ampliar o 
aspecto lírico, inflacionando o que Camões já havia feito em sua epopeia. Por 
isso, na cantata desaparece o julgamento de Inês, sua defesa, os apelos pelos 
filhos pequenos, ou seja, as características dramáticas que os poetas iniciais 
haviam privilegiado. Aqui, Bocage está interessado na interioridade da bela 
Inês, em seus sonhos, nos seus profundos anseios e sentimentos. Os algozes 
surgem de súbito no recitativo, despertando a mulher de seu devaneio, e em 
completa mudez cumprem sua macabra tarefa: “Vós, brutos assassinos, / No 
peito lhe enterrais os ímpios ferros. / Cai nas sombras da morte / A vítima de 
amor, lavada em sangue”.
OLHANDO DE PERTO
D. Pedro também não comparece como personagem no poema. Ele 
apenas é lembrado em seus versos pela amante e pelas ninfas. Por isso, 
sua dor e consequente vingança também estão ausentes. Inês impera 
sozinha e soberana na cantata, e todos os figurantes servem apenas para 
indicar sua centralidade. 
Dessa forma, Bocage faz de Inês uma alegoria do Amor (o sentimento 
ideal), cuja existência na terra transfigura a existência humana, mas cuja 
própria existência está sempre sob a ameaça do ódio e da violência dos que 
representam os interesses materiais e mundanos.
FONTES DAS IMAGENS
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TÓPICO 03: INÊS DE CASTRO EM NOSSOS DIAS
VERSÃO TEXTUAL
Até o século XIX, o amor desmedido, a injustiça flagrante, a 
saudade sem tréguas, o coroamento depois da morte, a perenidade do 
amor, o anseio pela eternidade etc. foram se revezando entre as 
ênfases que as diversas produções e escolas literárias dedicaram à 
história da rainha depois de morta. Mas, no final dos oitocentos, 
outros aspectos passaram a ser focalizados e facetas inesperadas 
surgiram de dentro de uma história que se suporia haver esgotado 
todas as possibilidades de surpreender.
Já havíamos dito no começo deste estudo que a formação do mito de 
Inês de Castro de certa forma lastreou a construção da identidade 
portuguesa, da autoimagem e personalidade da nacionalidade lusitana. 
Nesse sentido, o mito inesiano como que deu corpo e forma à “saudade 
portuguesa” e gerou atributos a tal sentimento identitário: esforço de vencer 
a morte, almejar a eternidade, entre outros. A partir das vanguardas do início 
dos novecentos, vamos assistir alguns artistas procurando desconstruir o 
mito de Inês, para de alguma maneira tocar, analisar e, quem sabe, 
questionar o núcleo da imagem do ser português.
OBSERVAÇÃO
Um dos exemplos mais bem realizados dessa possível desconstrução 
está no romance Adivinhas de Pedro e Inês (1983), da escritora 
portuguesa Agustina Bessa-Luís, nascida em 1922 e ainda viva. Trata-se de 
um dos talentos literários mais profícuos de Portugal. Sua produção 
literária, que inclui romances, peças teatrais, ensaios e biografias, 
demonstra uma instigante preocupação com aspectos históricos e sociais 
da cultura de seu país.
O pai de D.Pedro, manda executá-la, 
mesmo diante de seu belíssimo pedido 
de clemência, junto a seus filhos, 
netos de D. Afonso. Inês foi morta por 
degolamento.
Nas Adivinhas, um narrador de estatuto bem peculiar para um romance 
realiza uma espécie de inquérito sobre a “verdade histórica” do episódio real 
de Inês de Castro. Como tal verdade se encontra vedada ao conhecimento 
objetivo, tanto pela falta de documentação e testemunhos fiéis, quanto pela 
desconfiança sobre métodos e critérios da História enquanto disciplina 
científica, a narrativa vai tentando preencher as lacunas e inconsistências do 
relato conhecido, formulando assim uma outra possibilidade de configuração 
da própria história.
Narrador e leitor se unem num empreendimento ao mesmo tempo 
crítico e criativo, procurando extrair das brechas da história e do 
questionamento do mito produzido pela literatura anterior uma outra 
história, talvez um novo mito, capaz de representar mais adequadamente a 
sociedade presente. 
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 02: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - INÊS DE CASTRO: 2ª PARTE
20
É assim que do livro de Bessa-Luís surge uma outra imagem de Inês: 
não mais a indefesa amante, alienada das demandas políticas e intrigas 
palacianas, mas uma mulher arrojada, cuja ambição pelo poder pôs em 
xeque o status quo português: 
Era preciso destruí-la e, se possível, substituí-la 
pelo mito. (...) Ao exaltar o amor de Pedro e Inês 
nesse quadro romântico da obra tumular de Alcobaça, 
dá-se-lhe uma satisfação simbólica, tornando-o assim 
inofensivo para a sociedade. (Bessa-Luís 1983:158)
Dessa forma, historiografia oficial e o mito primevo estariam 
mancomunados no mesmo sentido de reduzir a personagem real de Inês à de 
uma moça gentil e indefesa, apontando assim para o papel social que as 
mulheres portuguesas deveriam aceitar e imitar na patriarcal sociedade 
lusitana. Quanta diferença, não?
O túmulo de D. Inês de Castro assenta 
em seis suportes cujas figurações 
remetem para seres híbridos de rostos 
humanos e corpos de animais. [1]
A figura jacente de D. Inês de Castro 
apresenta-se coroada e amparam-lhe 
a cabeça e o manto quatro anjos 
acompanhados de dois anjos 
turiferários.
Vinte anos antes da publicação de Adivinhas, o escritor Herberto Helder 
lançava um livro de contos intitulado Os passos em volta (1963). Nele, o 
conto “Teorema” retomava nossa conhecida história sob um prisma ainda 
mais inusitado. Herberto Helder, nascido em Funchal, Ilha da Madeira, em 
1930, é um dos mais celebrados poetas vivos em Portugal. Dono de uma 
escrita hermética e ao mesmo tempo desafiadora, em “Teorema”, o 
personagem central e narrador é Pero Coelho, um dos assassinos de Inês. A 
ação decorre durante a sua execução, que assume os aspectos de uma missa 
negra. Quando o rei Pedro I devora o coração do condenado, este passa a 
existir dentro do monarca: “Irei crescendo na minha morte, irei crescendo 
dentro do rei que comeu o meu coração” (Helder 1975:121).
Na verdade, ao contrário da descrição feita pela tradição, não há ódio 
entre os dois, e seus atos parecem constituir um ritual religioso. O próprio 
executado assim explica a fantástica situação em que se encontrava:
Fui condenado por ser um dos assassinos da sua 
amante favorita, D. Inês. Alguém quis defender-me, 
dizendo que eu era um patriota. Que desejava salvar o 
Reino da influência espanhola. Tolice. Não me 
interessa o Reino. Matei-a para salvar o amor do rei. 
D. Pedro sabe-o. (Helder 1975:117-8).
A lógica de Pero Coelho é implacável, caso ele não tivesse cometido 
aquele horrendo assassinato, todos os envolvidos seriam inevitavelmente 
esquecidos e o sublime amor de Pedro e Inês da mesma forma submergiria 
no silêncio. Do modo como aconteceu, os participantes daquela tragédia 
seriam imortalizados e, através da literatura, suas vidas poderiam ser 
oferecidas a cada era como alimento eucarístico: “O povo só terá de receber-
nos como alimento, de geração em geração” (ib., p. 121), da mesma forma 
como a que Pedro comia o coração do narrador/assassino.
21
No fim das contas, a verdadeira heroína da história é a poesia, sendo que 
os desfechos trágicos ou desditosos são apenas motivações para que a 
palavra poética possa exercer o seu papel de eternizar tudo aquilo que toca. 
O fato é que Inês de Castro hoje designa um volumoso conjunto de 
textos que trata das temáticas do amor, da morte, da saudade, da identidade 
portuguesa, do mito, da mulher, entre outros, contando com grandes nomesda literatura portuguesa e de outras literaturas e artes que têm como 
referência a tradição europeia. Fica, portanto, o convite àqueles que se 
sensibilizaram com o episódio da que foi rainha depois de morta, e com as 
possibilidades críticas que sua releitura ou reescritura ainda permite, que 
leiam na íntegra os textos que foram analisados e procurem os outros muitos 
autores que se aventuram nesse tema.
LEITURA COMPLEMENTAR
No último capítulo da Chronica de el-rei D. Pedro I, Fernão Lopes 
descreve a cerimônia de translado dos restos mortais de Inês de Castro e o 
fim do reinado de rei D. Pedro.
Clique para ler o Relato de Fernão Lopes (Visite a aula online para 
realizar download deste arquivo.)
REFERÊNCIAS
BESSA-LUÍS, A. Adivinhas de Pedro e Inês. Lisboa: Guimarães, 1983.
BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Antologia poética. Lisboa: Ed. Verbo, 1972.
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
FERREIRA, António. Castro. In SOARES, Nair de Nazaré Castro. Introdução à leitura da Castro de António Ferreira: 
estudo, texto integral e notas. Coimbra: Livraria Almedina, 1996 
HELDER, H. Teorema. In: ______. Os passos em volta. 5ª. ed. Lisboa: Assírio e Alvim, 1975.
LOPES, Fernão. Chronica de el-rei D. Pedro I. Lisboa: Typ. do «Commercio de Portugal», 1895. Texto digitalizado 
disponível no Projeto Gutemberg, http://www.gutenberg.org [2].
RESENDE, Garcia. Cancioneiro Geral. 4 vols. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, vol. IV, 1990-1993.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://2.bp.blogspot.com/-DXpuw7PAF5o/VA21Y2D92QI/AAAAAAAA
CvA/a8ByGUuk_E0/s1600/alcobaca_sepulcro_dom_pedro.jpg
2. http://www.gutenberg.org
3. http://www.denso-wave.com/en/
Responsável: Professor José Carlos Siqueira de Souza
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22
TÓPICO 01: AS PROFECIAS QUE ANTECEDEM O MITO
ESTROFE 70
Portugal tem a bandeira 
Com cinco Quinas no meio, 
E segundo vejo, e creio, 
Este é a cabeceira, 
E porá sua cimeira, 
Que em Calvário lhe foi dada, 
E será Rei de manada 
Que vem de longa carreira. 
Com uma vela na mão, caminhando cabisbaixo, Antônio Gonçalves 
Annes Bandarra é mais um que compõe uma imensa fila de homens e 
mulheres com velas na mão, considerados infiéis pela Santa Igreja. Estamos 
em 23 de outubro de 1541, em Lisboa, em meio a um auto-de-fé promovida 
pela Inquisição. Muitos dos que ali estão serão queimados vivos em 
fogueiras. Caso admitam sua culpa e peçam perdão, poderão ter o privilégio 
de serem asfixiados pelos carrascos antes do fogo ser aceso. Bandarra, 
felizmente, só precisa carregar sua vela e acompanhar todo o auto-de-fé, pois 
sua culpa foi considerada amena. Escrevera algumas trovas de teor 
messiânico que envolviam lugares sagrados para a Santa Igreja e isso, 
segunda aquela instituição, comprometia sua fidelidade à fé cristã.
Terminado o auto, Bandarra voltou para Trancoso, sua aldeia de origem, 
e retomou sua atividade de sapateiro. Alguns anos depois, em 1545 ou em 
1556, não se sabe ao certo, morreu. Suas trovas, no entanto, permanecem 
vivas até hoje e cumpriram um papel na história de Portugal certamente 
jamais imaginado pelo sapateiro de Trancoso. 
VERSÃO TEXTUAL
Em seus versos, Bandarra profetizava a vinda de um rei que 
ganharia a simpatia de todos os outros reis, uma vez que estes ficariam 
felizes em fazerem dele seu Imperador. Sua missão seria a de expulsar 
definitivamente o mouro das terras cristãs. 
Leia abaixo as estrofes 70, 71, 72 e 75 de suas trovas.
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 03: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - O INFANTE D. SEBASTIÃO: 1ª PARTE
23
ESTROFE 71
Este Rei tem tal nobreza, 
Qual eu nunca vi em Rei: 
Este guarda bem a lei 
Da justiça, e da grandeza. 
Senhoreia Sua alteza 
Todos os portos, e viagens, 
Porque é Rei das passagens 
Do mar, e sua riqueza 
ESTROFE 72
Este Rei tão excelente, 
De quem tomei minha teima, 
Não é de casa Goleima, 
Mas de Reis primo e parente. 
Vem de mui alta semente 
De todos quatro costados. 
De Levante até ao Poente. 
Todos Reis de primos grados. 
ESTROFE 75
[...]
Já o Leão é experto 
Mui alerto. 
Já acordou, anda caminho. 
Tirará cedo do ninho 
O porco, é mui certo. 
Fugirá para o Deserto. 
Do Leão, o seu bramido 
Demonstra que vai ferido 
Desse bom Rei Encoberto.
As trovas ainda profetizam que o novo monarca conquistará toda a 
África. A designação de Rei Encoberto se faz porque a sua identidade ainda 
precisa ser revelada, o que transforma as trovas numa espécie de esfinge, de 
charada que é preciso decifrar para se saber quem seria, de fato, o rei 
vindouro. 
Mas podemos nos perguntar de onde Bandarra tirou tais profecias. Ele 
mesmo nos responde nas duas últimas trovas do Sonho Terceiro: 
Muitos podem responder 
e dizer: 
Com que prova o sapateiro 
fazer isto verdadeiro, 
ou como isto pode ser? 
24
Logo quero responder, 
sem me deter: 
“Se lerdes as profecias 
de Daniel e Jeremias, 
por Esdras o podeis ver”.
Portanto, toda sua profecia está fundamentada nas escrituras, o que 
dava grande credibilidade aos seus escritos, uma vez que naquela altura a 
Igreja tinha grande força em todos os níveis junto aos reinos.
A credibilidade das escrituras foi, por sinal, o que colocou Bandarra, 
como vimos, de vela na mão num auto-de-fé, pois o sapateiro em algum 
nível aventurou-se onde não devia, já que interpretar tais textos era tarefa 
exclusiva dos sacerdotes, segundo a Igreja de Roma. 
O fato é que as profecias de Bandarra serão retomadas sistematicamente 
no decorrer da história literária de Portugal e se ligarão de modo indelével à 
figura de D. Sebastião, gerando o mito sebastianista. 
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.denso-wave.com/en/
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TÓPICO 02: O MITO
VERSÃO TEXTUAL
O rei D. Sebastião (1554-1578) foi o último rei da dinastia de Avis-
Beja. Sua história é relativamente simples. Único filho de D. João 
Manuel, que morrera antes mesmo do filho nascer, tornou-se rei com 
apenas três anos de idade, tendo sua avó e um tio assumido o trono 
enquanto ele era ainda uma criança. Cresceu com o estigma de ser o 
único a poder perpetuar a sua dinastia e, em função disso, ganhou o 
codinome de O Desejado. 
Os reis que antecederam seu pai, D. Manuel e D. João III, portanto seu 
avô e bisavô, tinham reinado no momento áureo dos descobrimentos, 
quando Vasco da Gama desvendou o caminho marítimo para as Índias, 
quando os portugueses chegaram ao Brasil, quando chegaram até a China e o 
Japão. Enfim, os seus antepassados diretos tinham vivido reinados de glória 
e de fartura. Quando aos 14 anos de idade, em 1568, D. Sebastião finalmente 
assumiu o trono, a situação política e econômica de Portugal não era mais a 
mesma. O comércio marítimo com a África e com o Oriente já começava a 
sofrer com o constante ataque de piratas e com uma incipiente concorrência 
de outras nações europeias, como a Espanha, a Inglaterra e a França, que 
também investiam pesado nas técnicas de navegações. 
D. Sebastião [1]
D. Sebastião, de sua parte, era muito ligado à Igreja de Roma. Sob a 
influência de seu aio Aleixo de Meneses e de seu mestre, o padre Luis 
Gonçalves da Câmara, incorporou o espírito da Contrarreforma que grassava 
após o Concílio de Trento. Via nos hereges o maior mal para o mundo cristão 
e, portanto, para progresso do reino português. Tinha como principal projeto 
político o combate aos mouros, em especial àqueles que se encontravam no 
Norte da África, do outro lado do mar Mediterrâneo. 
Nesse momento, os portuguesesmantinham algumas possessões na 
costa africana, como Ceuta, conquistada em 1415, ou Tanger, tomada em 
1471, mas tinham perdido, entre outras, Alcácer Ceguer em 1549, Arzila em 
1550, e perderiam Mazagão em 1569. É bom lembrar que o combate aos 
muçulmanos na África não tinha só motivação religiosa, já que estava ligado 
também aos avanços turcos e árabes no oceano Índico, que colocavam em 
causa a presença portuguesa na Índia. Garantir as posições na costa norte 
africana era uma forma de compensar as possíveis perdas no Índico.
D. Sebastião concebeu uma grande expedição que em 1578 enfrentou os 
exércitos muçulmanos em Marrocos, mais especificamente em Alcácer-
Quibir, sofrendo estrondosa derrota. Nessa batalha, morreu o jovem rei D. 
Sebastião aos 24 anos de idade. Seu tio, o Cardeal Henrique de Évora, 
assumiu o trono, mas não pôde permanecer no posto e, na lógica do processo 
sucessório, a coroa foi entregue ao rei da Espanha, D. Filipe II, e Portugal, 
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 03: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - O INFANTE D. SEBASTIÃO: 1ª PARTE
26
portanto, perdia sua autonomia de Estado e passava a fazer parte do reino 
espanhol. Tal situação perdurou até 1640, quando a partir de um golpe de 
Estado, os portugueses conseguiram reaver sua autonomia e colocar no trono 
uma nova dinastia, a dos Braganças, na figura de D. João IV, duque de 
Bragança.
CURIOSIDADE
D. Sebastião foi, portanto, o último rei antes da perda, por 60 anos, da 
autonomia de Portugal para a Espanha. Segundo a tradição, seu corpo não 
foi encontrado depois da batalha de Alcacer-Quibir, o que passou a ser 
motivo de especulação popular. Hoje qualquer um pode visitar seu túmulo 
no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, mas muitos ainda dizem que o 
corpo ali sepultado não é o de D. Sebastião. Porém, o que interessa saber é 
que, nos anos que se seguiram à sua morte, surgiram boatos de que ele não 
tinha morrido de fato e que voltaria para restabelecer a autonomia 
portuguesa. 
É desse modo que a história do suposto desaparecimento desse rei se 
agrega às profecias que Bandarra fizera anos antes. D. Sebastião passa a ser o 
rei de que falava Bandarra, isto é, o Encoberto, aquele que viria para salvar a 
pátria portuguesa do jugo espanhol, que passava o ocupar o lugar do mouro 
dos textos de Bandarra. 
Além do codinome de Desejado, agora D. Sebastião também passava a 
ser considerado o Encoberto.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6c/Sebasti%C3%
A3o_de_Portugal%2C_c._1571-1574_-_Crist%C3%B3v%C3%
A3o_de_Morais.png
2. http://www.denso-wave.com/en/
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TÓPICO 03: O QUINTO IMPÉRIO E A DEPOSIÇÃO DE D. SEBASTIÃO
Após 60 anos de perda de autonomia, momento que ficou conhecido 
como período Filipino — em razão dos reis da Espanha nesses anos ter 
sempre o mesmo nome Filipe —, Portugal retoma sua identidade pátria na 
figura de João IV, que irá reinar de 1640 até sua morte, em 1656. 
VERSÃO TEXTUAL
Sua primeira atitude foi reorganizar as forças militares e reforçar 
as fronteiras, além de atuar diplomaticamente no intuito de se fazer 
reconhecer junto às cortes da Europa. Também procurou negociar 
acordos financeiros e militares, e retomar as rédeas dos espaços 
coloniais na Ásia, África e América. Ao lado do esforço de recolocar em 
suas mãos o destino do reino, cumpria a tarefa de se fazer legitimar no 
plano das cortes. 
Nesse esforço, muitos daqueles que o apoiaram passaram a ver em sua 
figura o novo Encoberto, depondo D. Sebastião desse trono simbólico. 
D. João IV [1]
É nesse contexto messiânico que, após a morte de D. João IV, será 
esperada sua ressurreição. Na obra do padre Antônio Vieira intitulada De 
Profecia e Inquisição, na parte II das Profecias, subintitulada “Esperanças de 
Portugal, QUINTO IMPÉRIO DO MUNDO, primeira e segunda vida de El-
Rei D. João o quarto. Escritas por GONSALIANES BANDARRA, e 
comentadas pelo Padre Antônio Vieira da Companhia de Jesus, e remetidas 
pelo dito ao Bispo do Japão, o Padre André Fernandes”, assim se diz:
Leiam os curiosos todas as profecias do Bandarra, 
assim as que contêm os sucessos já passados, como as 
que prometem os futuros, e em todas elas não acharão 
diferença individuante, sinal ou qualidade pessoal 
alguma de monarca profetizado, mais que estas que 
aqui fielmente temos referido, as quais todas são tão 
próprias da pessoa D'el-Rei D. João o 4.°, e lhe 
quadram todas tão naturalmente, e sem violência, que 
bem se está vendo que a ele tinha diante dos olhos, e 
não a outro, quem com cores tão vivas, e tão suas o 
retratava. Com que fica evidentemente mostrado e 
demonstrado, que o Senhor Rei D. João o 4.° que está 
na sepultura, é o rei fatal, de que em todas as suas 
profecias fala Bandarra, assim das que já se 
cumpriram, como das que hão de suceder ainda. E 
este mesmo rei está hoje morto e sepultado, e não é 
amor e saudade, senão razão e obrigação do 
entendimento, crer e esperar que há de ressuscitar. 
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 03: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - O INFANTE D. SEBASTIÃO: 1ª PARTE
28
(http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0042-
00939.html#II) 
O que temos aqui é uma claro interpretação das profecias de Bandarra 
não mais associadas a D. Sebastião, mas sim a D. João IV. Vieira será um dos 
grandes defensores da ideia de que seria D. João IV e não D. Sebastião que 
retornaria para instituir o Quinto Império. Este seria o último dos impérios 
na terra antes do juízo final, um império cristão que teria em Portugal seu 
cerne e seu rei na figura de D. João IV. E assim argumenta, no mesmo texto 
acima citado, contra a hipótese de ser D. Sebastião o rei Encoberto: 
E já que falamos ou tocamos nestas velhices que 
tanto duram, só digo a vossa senhoria que o Bandarra 
não falou uma só palavra em El-Rei D. Sebastião, 
antes todas as suas desfazem esta esperança; porque o 
rei que descreve é todo composto de propriedades 
contrárias que implicam totalmente com El-Rei D. 
Sebastião, e senão façamos outra individuação às 
avessas da passada.
El-rei de que tratamos chama-lhe Bandarra, rei 
novo: El-Rei D. Sebastião é rei tão velho que nascido 
de três anos começou a ser rei. Diz Bandarra que o seu 
nome é João. El-Rei D. Sebastião tem outro nome 
muito diferente. Este rei chama-lhe Bandarra infante: 
El-Rei D. Sebastião nunca foi infante, porque nasceu 
príncipe. Este rei diz Bandarra que é bem andante e 
feliz: El-Rei D. Sebastião infelicíssimo, e a causa de 
todas as nossas infelicidades. A este diz Bandarra saia, 
saia: a El-Rei D. Sebastião dizia todo o povo e reino 
não saia, não saia. Este rei diz Bandarra Bandarra 
que não é de casta goleima ou da casa de Áustria: El-
Rei D. Sebastião tinha todo o sangue de Carlos V. Este 
rei diz Bandarra que é só primo e parente de reis: El-
Rei D. Sebastião era neto de reis por seus pais, e de 
imperadores por sua mãe. Este rei diz Bandarra, que 
tem um irmão bom capitão: El-Rei D. Sebastião nem 
teve, e não pode ter irmão; porque nem o Príncipe D. 
João, seu pai, nem a Princesa D. Joana, sua mãe, 
tiveram outro filho. Este diz Bandarra que é das 
terras da comarca: El-Rei D. Sebastião não é da 
comarca, porque nasceu em Lisboa. Este rei diz 
Bandarra que havia de ter guerra com Castela no 
princípio do seu reinado: El-Rei D. Sebastião nunca 
teve guerra com Castela. Este rei diz Bandarra que da 
justiça se preza: El-Rei D. Sebastião prezava-se das 
forças e valentia. Este rei diz Bandarra, que até certo 
tempo lhe não hão de dara mão os pontífices. El-Rei 
D. Sebastião teve grandes favores dos pontífices do 
29
seu tempo Paulo IV, Pios IV e V. Este rei diz Bandarra 
que lhe não achou nenhum senão: El-Rei D. Sebastião 
se não fora a África não nos perdera: veja-se se foi 
grande senão. Finalmente, porque nos não cansemos 
mais em prova de coisa tão clara, tirado somente ser 
El-Rei D. Sebastião semente D'el-Rei D. Fernando, 
nenhuma coisa diz Bandarra em todos os textos dos 
sinais ou qualidades do rei que descreve que possam 
acomodar, nem de muito longe aEl-Rei D. Sebastião. 
(http://alecrim.inf.ufsc.br/bdnupill/arquivos/texto/0042-
00939.html#II) 
Ainda irá concluir notando que os que os sebastianistas chamam 
profecias “são papéis fingidos e modernos, feitos ao som do tempo, e 
desfeitos pelo mesmo tempo, que em tudo tem mostrado o contrário”. D. 
Sebastião é, portanto, deposto do lugar do Encoberto e ali Vieria coloca D. 
João IV. Houve certamente razões históricas para que isso assim se desse. 
Segundo João Francisco Marques, o messianismo atribuído à figura de D. 
João IV não foi uma invenção de Vieira, mas fora recorrente naquele período 
em vários oradores. 
OBSERVAÇÃO
Durante o próprio reinado de D. João IV, sua ação já era tomada de 
forma profética, como se tudo que fizesse já estivesse escrito. Esse rei que 
trouxe de volta a soberania portuguesa sempre esteve envolto numa 
perspectiva histórica de viés utópico, na qual Portugal cumpriria um 
grande destino na cristandade.
Para Marques, a “utopia era, pois, um poderoso motor para impulsionar 
a mística da luta pela consolidação da recuperada autonomia. Na verdade, o 
advento do Quinto Império seria o corolário da guerra contra Castela e do 
reatar da expansão ultramarina de quinhentos”. 
(http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/artigo10551.pdf) 
O fato é que no plano simbólico D. Sebastião é deposto por Vieira, mas 
continuará a ter seus defensores e cultuadores que, especialmente no século 
XIX e XX, irão revitalizar o mito. Poetas como João de Lemos (1819-1890), 
Luis Augusto Palmeirim (1825-1893), Guerra Junqueiro (1850-1823), Luís 
de Magalhães (1859-1935), Antônio Nobre (1867-1900), Afonso Lopes Vieira 
(1878-1946), Teixeira de Pascoaes (1877-1952), Antônio Sardinha (1888-
1825) e o próprio Fernando Pessoa (1888-1835), entre outros, retomarão o 
mito de D. Sebastião, identificando ali um arquétipo privilegiado para 
promover uma espécie de renascimento da cultura e da identidade 
portuguesas. 
Vale notar que também no Brasil o mito de D. Sebastião foi cultivado, 
geralmente ligado a vários movimentos messiânicos ocorridos no país. Ainda 
hoje, muitos escritores portugueses e mesmo brasileiros retomam 
30
literariamente o mito de D. Sebastião em abordagens em geral bastante 
originais.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://www.pedroamaral.com/king25.jpg
2. http://www.denso-wave.com/en/
Responsável: Professor José Carlos Siqueira de Souza
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31
TÓPICO 04: O SENTIDO DO MITO NA CULTURA PORTUGUESA
Como é fácil constatar, o mito sebastianista fundamenta-se numa longa 
tradição que, como vimos, remonta às profecias do sapateiro Bandarra. O 
mito do rei Encoberto é tão forte que pode mesmo ver substituída sua figura 
história central, no caso D. Sebastião, por uma outra que o momento 
histórico exigir, como foi o caso de D. João IV, sem que isso afete a estrutura 
do mito, isto é, a do rei Encoberto, que está escondido, ou desaparecido, ou 
morto, e que retornará, que ressuscitará para instaurar então um império 
definitivo, português e cristão, restaurando o que foi um dia perdido (a 
autonomia, a riqueza, a glória etc.).
VERSÃO TEXTUAL
Esse é um mecanismo que muito tem a ver com a história de 
Portugal, pois, grande e imperialista no século XVI, aquela nação 
perdeu seu lugar de prestígio no cenário europeu e passou a ocupar 
um lugar periférico cultural e economicamente no continente a partir 
dos séculos XVII e XVIII, assim permanecendo até sua inserção no 
que hoje conhecemos como União Europeia. 
Portanto, durante o século XIX e por quase todo o século XX, as elites de 
Portugal estiveram à margem dos grandes acontecimentos do continente, 
sempre se sentindo inferiorizadas em relação àquelas atuantes nos países 
europeus mais proeminentes, como Inglaterra, França e Alemanha. Isso 
alimentou o mito sebastianista, que apostava no fadado retorno da glória 
portuguesa vivida no Renascimento. 
Neste aspecto, o mito cumpriu o importante papel de resolver no 
plano simbólico e artístico aquilo que não tinha solução no plano da 
realidade prática, econômica e social. 
Ao avaliar o mito sebastianista, Antônio Quadros conclui que:
a figura histórica do rei foi sempre um pretexto, 
foi apenas um meio de canalização e projecção não só 
de uma profecia mítica onde se juntaram em partes 
iguais o messianismo hebraico-português, o 
cristianismo messiânico-encarnacionista e os velhos 
arcanos céltico-bretões, como também, e 
cumulativamente, as aspirações nacionais e 
populares, quer a um nível onírico, quer a um nível 
sociopolítico. [...] O Sebastianismo é um dado 
profundo, é um arquétipo, é uma realidade psíquica e 
mítica do nosso povo e da nossa cultura. (Quadros 
2001:24.)
TÓPICOS DE LITERATURA PORTUGUESA
AULA 03: GRANDES TEMAS DA LITERATURA PORTUGUESA - O INFANTE D. SEBASTIÃO: 1ª PARTE
32
LEITURA COMPLEMENTAR
O texto abaixo, de autoria do cordelista Luar do Conselheiro (Aidner 
Mendez Neves) – retirado do site Luar do Conselheiro [1] – vem 
demonstrar como o sebastianismo ainda vive no imaginário da literatura 
de cordel brasileira. Antecedendo o texto, aparece a seguinte nota:
A obra: Nesta obra o autor retrata um assunto polêmico, pedra 
fundamental das revoltas no nordeste O Sebastianismo. Depois de anos 
de pesquisa e muita dificuldade, por conta de ser uma ordem mística e 
secreta, Luar trás à tona sob forma de cordel um pouco desta tradição 
que deu fama a estes sertões.
Clique para ler o texto: O sebastianismo no sertão (Visite a aula online 
para realizar download deste arquivo.)
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Luis de (dir.). Dicionário de historia dos 
descobrimentos portugueses. Lisboa: Caminho, 1994, 2 vol. 
BESSELAAR, Jose van der. “As trovas de Bandarra”. Revista
ICALP, vol. 4, março de 1986, 14-30. 
LOURENÇO, Eduardo. “Psicanálise mítica do destino 
português”. In: O labirinto da saudade. 3.ed. Lisboa: Dom Quixote, 
1988, p.17-64.
MARQUES, João Francisco. "A utopia do Quinto Império em 
Vieira e nos pregadores da Restauração". Etopia: Revista 
Electrónica de Estudos sobre a Utopia, n.º 2 (2004).
OLIVEIRA MARQUES, A. H. de. História de Portugal. Lisboa, Editora 
Palas, 1981, 3 vol.
QUADROS, Antônio. Poesia e filosofia do mito sebastianista. Lisboa: 
Guimarães Editores, 2001 (1ª. ed. de 1982-3).
SARAIVA, Antônio José, LOPES. Oscar. História da literatura 
portuguesa. Porto, Porto Editora, 1979, 6a. Época.
FONTES DAS IMAGENS
1. http://luardoconselheiro.blogspot.com.br/p/cordel.html
2. http://www.denso-wave.com/en/
Responsável: Professor José Carlos Siqueira de Souza
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TÓPICO 01: ALCÁCER-QUIBIR
O dia vinha amanhecendo no acampamento daquele exército 
internacional, que, no entanto era formado em sua maioria por portugueses 
e tinha em seu comando um rei também português. O calor já se fazia sentir 
forte logo nas primeiras horas, prenunciando assim mais um dia escaldante. 
Apesar de ter um dos climas mais quentes da Europa, os portugueses não se 
sentiam à vontade com as temperaturas e umidade africanas — o que dizer 
então dos alemães

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