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A Lava-Jato em 5 atos
Investigação de corrupção na Petrobras ainda está no começo, mas nenhuma outra foi tão longe
POR ALEXANDRE RODRIGUES / FÁBIO VASCONCELLOS
15/03/2015 7:00 / ATUALIZADO 15/03/2015 11:00
O escândalo desencadeado pela Operação Lava-Jato, que domina o noticiário há um ano, já é a maior ação de combate à corrupção realizada no país. Não só pelos desvios de R$ 2,1 bilhões da Petrobras identificados até agora ou pela duração das diligências iniciadas em março de 2014, mas pelas repercussões na política e na economia provocadas pela desarticulação de uma organização criminosa no coração da maior estatal brasileira. As revelações parecem ainda só o começo, mas nunca uma apuração desse tipo foi tão longe. Pela primeira vez, corruptos dividem celas com os corruptores. Três anos depois do histórico julgamento do mensalão, a Lava-Jato apresenta um desafio ainda maior à Justiça. Entenda o que essa investigação complexa significou até agora e o que está em jogo num dos momentos mais delicados vividos pelo Brasil.
1A ORIGEM
O CRIME DO OUTRO LADO DO BALCÃO
Ilustração de Cavalcante - O Globo
Nas primeiras horas do dia 14 de novembro do ano passado, policiais federais chegaram ao edifício de alto padrão onde mora o ex-diretor de Serviços da PetrobrasRenato Duque, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Era apenas uma das equipes que somavam 300 agentes em várias cidades na sétima fase da Operação Lava-Jato, a investigação que mobiliza o país há um ano com a revelação dos detalhes do esquema de corrupção que drenava recursos da maior empresa do país. Ao ouvir a identificação do delegado, Duque correu para o telefone antes mesmo de abrir a porta. Perguntou atônito para o advogado do outro lado da linha:
— O que é isso, cara? Que país é esse?
Em poucas horas, aquele que foi por quase uma década um dos homens mais influentes da indústria bilionária do petróleo no Brasil se juntaria a outros 17 presos igualmente proeminentes: altos executivos das maiores construtoras do país. Embora a força-tarefa integrada pelo Ministério Público e a Polícia Federal do Paraná já contasse sete meses, somente naquele dia de novembro, que seria apelidado pelos agentes federais como o do “juízo final”, o alcance inédito da Lava-Jato ficaria claro. Pela primeira vez uma investigação de corrupção vai tão longe do outro lado do balcão: o dos corruptores. É a maior apuração desse tipo já realizada no Brasil, o país que Duque já não reconhecia ao ser preso.
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Em um ano, 64 pessoas foram presas, entre elas três ex-diretores da Petrobras e mais de uma dezena de executivos de gigantes da engenharia do país. Também foram cumpridos 55 mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é levada por ordem da Justiça para prestar depoimento) e mais de 200 de busca e apreensão. Nas contas do Ministério Público Federal, foram abertos 330 procedimentos que têm sob investigação neste momento quase 500 pessoas. O trabalho já resultou em 19 denúncias criminais levadas à Justiça contra 87 acusados de corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outros crimes contra o sistema financeiro. Seis denúncias já viraram ações penais por ordem do juiz federal Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelas decisões do caso. As primeiras condenações não devem tardar.
A Petrobras não era o alvo original da Lava-Jato. Surgiu no radar dos investigadores muito depois de o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf, órgão do Ministério da Fazenda responsável por identificar movimentações atípicas) ter identificado operações da ordem de R$ 10 bilhões de quatro dos maiores doleiros do país. Era o ponto de partida da Lava-Jato, que ganhou esse nome em referência a uma rede de postos de combustíveis usada por um grande esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas operado pelos doleiros. O balcão de negócios ilícitos atendia a diferentes tipos de criminosos, até traficantes de drogas. Os responsáveis pelos desvios na Petrobras eram apenas alguns dos clientes da lavanderia.
As diligências chegaram à Petrobras por causa de um deslize no relacionamento do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa com o doleiro Alberto Youssef, um dos principais alvos da investigação. Depois de uma parceria discreta de quase uma década, eles materializaram o elo num automóvel Land Rover, avaliado em R$ 250 mil, que cintilava na garagem do ex-diretor em seu nome pago pelo doleiro. A partir daí, os investigadores puxaram o fio do novelo.
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Youssef era um velho conhecido da Justiça. Investigado num caso de evasão de divisas do Banco Banestado, em 2003, teve a pena perdoada ao firmar um termo de delação premiada. Em vez de abandonar a atividade ilegal, como previa o acordo, ele ampliou sua atuação criminosa. Durante quase uma década, operou, sem chamar a atenção, para o cartel de empreiteiras que superfaturava contratos na Petrobras com a conivência de executivos alçados à cúpula da estatal no início do governo Lula.
No dia 17 de março de 2014, a ação inaugural da Operação Lava-Jato mobilizou 400 agentes federais em seis estados e no Distrito Federal para prender 24 pessoas, entre elas Youssef. Três dias depois, Costa também seria preso enquanto suas filhas, sócias de empresas de fachada usadas no esquema, tentavam destruir provas. Começava então a longa estadia do ex-diretor da estatal na carceragem da PF, em Curitiba, que só seria transformada em prisão domiciliar após um acordo de delação premiada com a Justiça. Ele se tornaria o personagem central da trama ao dar aos investigadores o caminho para aprofundar a apuração dos crimes na Petrobras. 
2O MÉTODO
A PRECISÃO COMO REGRA
Ilustração de Cavalcante - O Globo
Após a façanha de levar à prisão pela primeira vez três ex-diretores da Petrobrás, a Força-Tarefa da Lava-Jato logo se voltou para os corruptores. Tirou das sombras a rede de operadores que intermediava as propinas e chegou aos mandantes, deixando a caçada aos políticos que se beneficiaram do esquema para uma etapa seguinte. A estratégia da força-tarefa, liderada pelo procurador da República Deltan Dallagnol, foi combinar agilidade e precisão nos pedidos de prisão preventiva que foram atendidos pelo juiz Sérgio Moro. As decisões do magistrado, por sua vez, foram reconhecidas como consistentes até mesmo pelos advogados dos acusados, algumas das estrelas da advocacia criminal no Brasil.
Para manter as rédeas do caso, com o surgimento de nomes de políticos na investigação, Sérgio Moro remeteu os trechos das investigações que citavam autoridades e os remeteu para o Supremo Tribunal Federal (STF), tribunal responsável por inquéritos e ações de pessoas com foro privilegiado. Sua orientação para que os depoentes se limitassem a citar autoridades nas audiências de primeira instância foi muito criticada. O magistrado, no entanto, não costuma deixar lacunas jurídicas para advogados experientes em busca de erros que possam levar à anulação dos processos, como aconteceu nas operações Satiagraha e Castelo de Areia.
Poucos presos tiveram sucesso em recursos para deixar a cadeiae responder ao processo em liberdade. Uma das raras exceções foi o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, libertado por ordem do STF. Paulo Roberto Costa só conquistou a prisão domiciliar após fechar o acordo de delação premiada. As prisões são o principal elemento do debate pautado pela defesa dos acusados: os investigados que aceitaram colaborar com a Justiça o fizeram por estarem fragilizados em razão do longo confinamento? O instrumento só deve ser aplicado a partir do desejo voluntário do acusado, argumentam os advogados. Há quem fale em tortura psicológica para tentar invalidar os depoimentos.
OS PERSONAGENS DA FORÇA-TAREFA
Procurador Geral da RepúblicaFoto: Jorge William / Agência O Globo
Juiz Federal Sergio Fernando MoroFoto: Marcos Tristão / Agência O Globo
Procurador Deltan Martinazzo DallagnolFoto: Giuliano Gomes / Agência O Globo
Procurador Andrey BorgesFoto: Agência O Globo
Procurador Rodrigo TellesFoto: Agência O Globo
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Moro e os procuradores têm se mostrado preparados para suportar a pressão. Aos 42 anos, avesso aos holofotes, o juiz virou a face mais visível de uma nova geração altamente preparada no Judiciário, da qual também faz parte Deltan Dallagnol, 34 anos. Um dos mais jovens a ingressar no Ministério Público, aos 22 anos, ele já está entre os procuradores mais experientes em crimes financeiros. Essa também virou a especialidade de Moro, que seguiu a proposta dos procuradores de abrir vários processos em vez de um só para dar agilidade aos trabalhos. A rapidez com que produzem peças sobre um esquema de corrupção tão emaranhado impressiona. Além disso, introduziram um novo paradigma: a maior transparência possível dos autos, inclusive com a divulgação dos depoimentos gravados em vídeo, insiprados na Operação Mãos Limpas, que desbaratou parte da máfia italiana na década de 90.
Sempre que fala sobre o sucesso da operação, o procurador Deltan Dallagnol admite que os resultados não seriam possíveis sem o instrumento das delações premiadas. Confirmados os últimos pedidos, a Lava-Jato já terá contado pelo menos 15 acordos de colaboração. Em 2012, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi o único delator do escândalo do mensalão, mas não tinha um acordo formal de benefícios. O operador daquele esquema, Marcos Valério, recusou a oferta de delação e terminou condenado a 40 anos de prisão, muito mais do que os políticos sentenciados, estes já nas ruas. O desfecho de Valério certamente pesou na adesão recorde de delatores na Lava-Jato.
ESPECIALISTA APONTA INOVAÇÕES JURÍDICAS NA INVESTIGAÇÃO
Obter o benefício da delação dos responsáveis pela Lava-Jato, porém, não é fácil. Os investigados precisam demonstrar que realmente têm informações que possam levar a "peixes mais graúdos", como dizem os procuradores, ou desvendar novos casos de corrupção, além de recuperar dinheiro público. A discussão sobre a devolução do patrimônio acumulado com o crime é minuciosa, chega até a automóveis de passeio. Qualquer mentira ou omissão pode levar o réu a perder as vantagens, pouco depois de produzir prova contra si. Depois do aval dos procuradores, o acordo segue para a homologação de Sérgio Moro, que também precisa ser convencido de que vale a pena perdoar o criminoso em troca de suas informações.
Nas delações que mencionam autoridades com foro privilegiado, a palavra final foi do ministro Teori Zavascki, relator do caso no STF. As informações não são provas em si, mas o ponto de partida para o aprofundamento das investigações em busca de comprovação dos depoimentos e da recuperação de recursos expatriados, como os que os procuradores foram buscar na Suíça. Foi partindo dessa premissa que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, preferiu pedir ao STF a abertura de inquérito contra os políticos citados na delação, em vez de oferecer denúncias. Nas petições, ele dividiu o esquema de corrupção na Petrobras em quatro núcleos, um a mais do que foi feito no mensalão. O econômico envolve as empresas do cartel que corrompiam altos executivos da Petrobras, do núcleo administrativo. As propinas eram viabilizadas pelos lobistas do núcleo operacional, alimentando o grupo político, que indicava os executivos da Petrobras em troca de dinheiro para campanhas.
3AS DELAÇÕES
O PAÍS CONHECE O CLUBE DE EMPREITEIRAS
Ilustração de Cavalcante - O Globo
A queda em sequência de peças de dominó começa quando o primeiro da fila desaba sobre o seu vizinho. É um efeito físico. A proximidade e o peso são suficientes para desestabilizar as peças subsequentes. Nada fica de pé. A imagem ilustra bem o impacto das delações premiadas da Lava-Jato. Sob o risco de terem de responder sozinhos às acusações feitas pelos procuradores federais, 15 pessoas, entre elas, ex-diretores da Petrobras, executivos de empreiteiras, além de outros personagens, decidiram contar tudo que sabiam do esquema em troca de possíveis reduções de pena. A cada novo depoimento, uma ou mais peças foram envolvidas no caso, revelando para o Brasil as entranhas de como bilhões de reais saíram de contratos superfaturados da Petrobras para abastecer contas pessoais aqui e no exterior. Embora exista desde os ano 90, as delações premiadas só foram institucionalizadas em 2013, após a sanção da Lei de Organizações Criminosas. Foi graças a esse instrumento legal que a Justiça conseguiu identificar os detalhes do pagamento de propinas e como funcionava o chamado “clube das empreiteiras”.
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa foi o primeiro a optar pela deleção premiada, e seu depoimento foi importante porque apontou o envolvimento direto de 28 políticos no esquema, além da participação de empresários e operadores. Paulo Roberto assinou o acordo no dia 27 de agosto. A partir daí, numa série de quase 80 encontros com os procuradores, o ex-diretor contou, por exemplo, ter recebido da Odebrecht, no exterior, US$ 23 milhões, e mais US$ 1,5 milhão para não atrapalhar a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006. Depois de Paulo Roberto, foi a vez do doleiro Alberto Youssef adereir à delação.
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INFOGRÁFICO: A distribuição dos contratos desde 2000
Paulo Robero Costa e Youssef explicaram em detalhes como funcionava o esquema de propinas. As empreiteiras se associavam e decidiam a lista de participantes e o vencedor de cada licitação, que ocorria como um jogo de cartas marcadas. Por meio desse mecanismo, os contratos eram superfaturados, em média, em 20%. Entre 2% e3% desse valor eram destinados ao pagamento de comissões aos responsáveis por cinco diretorias. O ex-diretor acusou o PT de comandar o esquema em três diretorias (Serviços, Exploração e Produção e Gás e Energia), abocanhando sozinho as comissões. Na Diretoria de Abastecimento, segundo o delator, o PT ficava com 2% e o PP e o PMDB dividiam o 1% restante. Já a Diretoria internacional era comandada pelo PMDB.
As propinas chegavam aos partidos por meio de operadores financeiros. Para receber o dinheiro das construtoras, Alberto Youssef, um dos principais intermediários, usava empresas de fachada. Funcionava assim, segundo o Ministério Público: o dinheiro saía do cofre das fornecedoras da Petrobras legalmente, com nota fiscal e contratos de serviços nunca prestados; o doleiro dividia a propina, e os políticos recebiam sua parte em dinheiro vivo.
As delações ajudaram a rastrear o papel das empresas acusadas de corromper funcionários e políticos. Dois executivos da Camargo Corrêa - o presidente Dalton dos Santos Avancini e o vice-presidente Eduardo Leite - foram os últimos a fechar acordos de colaboração. Em acordo anterior, os executivos Augusto Mendonça Neto e Julio Camargo, da empresa Toyo Setal revelaram que as empresas que participavam do esquema formavam um "clube das empreiteiras". O "clube", apelidodado pelos próprios integrantes, tinha coordenador, reuniões periódicas e até uma divisão interna, onde apenas as gigantes (Camargo Corrêa, UTC, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez) eram "VIPs". Segundo os depoimentos, o grupo tinha poder sobre os demais integrantes do cartel e agia de forma conjunta "até o limite da persistência" para fazer valer suas vontades.
O ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco - Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Outra delação importante foi a do ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco. Ele contou aos procuradores - e repetiu na CPI da Petrobras, ao vivo e a cores - que o pagamento de propina na companhia era “endêmico” e “institucionalizado” e que PT pode recebido até US$ 200 milhões, segundo estimativa baseada no que ele, Barusco, recebeu. O ex-gerente disse que começou a receber propina em 1997, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, por "iniciativa pessoal". A partir de 2003, primeiro ano do governo Lula, segundo ele, a corrupção se disseminou e passou a envolver chefes de outros departamentos. Barusco revelou que, junto com seu antigo chefe, o ex-diretor de Serviços e Engenharia Renato Duque, recebeu pagamentos relativos a mais de 60 contratos firmados pela estatal. Para assinar o acordo de delação, o ex-diretor se comprometeu a devolver US$ 97 milhões que recebeu do esquema de corrupção no exterior, dinheiro que, de forma inédita, já está de posse da Justiça brasileira.
4OS POLÍTICOS
A LISTA DE JANOT
Ilustração de Cavalcante - O Globo
As investigações da Operação Lava-Jato, sobretudo aquelas que vieram após as delações premiadas, levaram os procuradores e a Polícia Federal ao núcleo político do esquema de corrupção. O núcleo seria responsável por indicar e dar apoio aos gerentes da Petrobras em troca de propinas pagas pelas empreiteiras. Os suspeitos são deputados, senadores, ex-ministros, integrantes de partidos e operadores financeiros que trabalhariam sobretudo para PMDB, PT e PP. Mas há também acusações contra políticos do PTB, PSB Solidariedade e PSDB. Os primeiros nomes surgiram depois que o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef decidiram contar como funcionava o desvio de recursos na Petrobras. Mas a lista oficial só foi divulgada no início de março, depois que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao STF os pedidos de abertura de inquéritos contra políticos que têm foro privilegiado.
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INFOGRÁFICO: Veja a lista completa de políticos investigados
Uma segunda lista foi apresentada pela Procuradoria ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) com pedido de abertura de inquérito, dias depois da relação com os deputados e senadores. Nela constam o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, o atual governador,Luiz Fernando Pezão, ambos do PMDB, e o governador do Acre, Tião Viana (PT). Paulo Roberto Costa afirmou em juízo que ajudou a recolher R$ 30 milhões para o caixa-dois da campanha de Cabral e Pezão, seu vice, em 2010. A reunião para acertar o repasse, segundo o delator, ocorreu no primeiro semestre de 2010, num dos palácios do governo do estado. No encontro, estariam Cabral, Pezão e o ex-secretário da Casa Civil, Régis Fichtner. Para o governador do Acre, o ex-diretor da Petrobras disse em depoimento ter repassado R$ 300 mil, também para a campanha eleitoral. Janot incluiu na lista também o senador Fernando Bezerra (PTB-PE). Ele é suspeito de ter recebido dinheiro do esquema da Petrobras para repassar para a campanha de reeleição do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), já falecido. Todos os políticos negam envolvimento no esquema. Mas a Justição já autorizou a abertura dos inquéritos.
POLÍTICOS NA LAVA-JATO
Senador Renan Calheiros (PMDB-AL) Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) Foto: Ailton de Freitas
o ex-ministro Edison LobãoFoto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
A ex-ministra Gleisi HoffmannFoto: André Coelho / OGlobo
Roseana SarneyFoto: Hans Von Manteuffel / Agência O Globo
Bsb - Brasília - 16/07/2013 - PA - Reuniao com o grupo de trabalho que vai elabora a Reforma...Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
Mário NegromonteFoto: André Coelho / Agência O Globo
O senador Humberto Costa, líder do PT na Casa Foto: Ailton de Freitas
O senador Ciro NogueiraFoto: Moreira Mariz / Agência Senado
O Senador Antonio Anastasia (PSDB-MG)Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
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No total, a relação de políticos com pedido de abertura de inquerito é formada por: 22 deputados federais, 13 senadores, 12 ex-deputados, dois governadores, e dois ex-governadores, como Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão. O PP foi o partido com o maior número de suspeitos: 31. O PT tem seis políticos, além do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Ele é investigado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Vacaria, segundo as investigações, seria o operador financeiro do PT e o responsável por repartir o dinheiro da propina com o partido. Assim como no mensalão, a participação de um tesoureiro do partido volta a ser investigada. Num dos inúmeros depoimentos que prestou, Paulo Roberto Costa deu uma explicação simples para explicar o que espera uma empreiteira ao fazer uma doação de campanha.
— É uma grande falácia afirmar que existe doação de campanha no Brasil, quando na verdade são verdadeiros empréstimos a serem cobrados posteriormente a juros altos dos beneficiários das contribuições quando no exercício dos cargos — afirmou. — Nenhum candidato no Brasil se elege apenas com o caixa oficial de doações, e os valores declarados de custos de campanha correspondem, em média, a apenas um terço do montante efetivamente gasto, sendo o restante oriundo de recursos ilícitos ou não declarados.
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Além do PP e PT, a lista tem sete pedidos de investigação de políticos do PMDB, entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara,Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O presidente da Câmara é acusado de achacar empresas com a ameaça de requisitar informações de investigações contra elas. Também é apontado como beneficiário de R$ 25 milhões de empresas. O do Senado, de receber pagamentos mensais de uma esquema de corrupção da Transpetro, braço da Petrobras que cuida do transporte de combustíveis. Ambos reagiram acusando o Palácio do Planalto de pressionar Janot para incluí-los na lista, mergulhando governo numa crise política que parece não ter fim. Também atacaram o Ministério Público Federal (MPF), defendendo a abertura de uma CPI para investigar os procuradores.
Entre os nomes da lista constam antigos rivais. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), investigado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, está lá ao lado do senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Em 1992, Lindbergh virou símbolo dos caras-pintadas que pressionavam o Congresso a abrir o processo de impeachment contra Collor. Agora, os dois serão investigados num mesmo escândalo.
Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Fernado Collor de Mello (PTB-AL), antes inimigos, agora acusados de participação no escândalo da Petrobras - Ailton de Freitas / Agência O Globo
Na oposição, o ex-governador de Minas Gerais e atual senador Antônio Anastasia(PSDB-MG)também entrou na lista. Janot validou o depoimento do policial Jayme Alves Filho, o “Careca”, que disse ter entregue R$1 milhão ao tucano na campanha ao governo de Minas, em 2010, a mando de Youssef. O doleiro nega. Anastasia é um dos políticos mais próximos do senador Aécio Neves (PSDB-MG), cujo nome ficou entre os casos em que o procurador pediu arquivamento por falta de provas. Na mesa situação, ficaram Delcídio Amaral (PT-MS) e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Henrique EduardoAlves (PMDB-RN).
O ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP) teve investigação requisitada, mas o pedido foi enviado para a primeira instância já que ele não tem mais a prerrogativa de foro. Paulo Roberto Costa contou que Youssef, a pedido de Palocci, pediu R$ 2 milhões para a campanha de eleição da presidente Dilma Rousseff, em 2010. Embora tenha sido citada em alguns trechos dos depoimentos dos delatores, Dilma não foi incluída na relação de suspeitos do procurador-geral. Janot não encontrou elementos que justificassem um pedido de abertura de inquérito e, além disso, alegou que não poderia investigar a presidente por fatos ocorridos antes do atual mandato.
CIENTISTA POLÍTICA AVALIA CRISE GERADA PELA INVESTIGAÇÃO
A crise política provocada por irregularidades na Petrobras começou ainda antes da Lava-Jato. Em 2013, uma investigação do procurador da República Marinus Marsico apontou prejuízos sofridos pela estatal com a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Dilma deu a palavra final que aprovou o negócio, em 2006, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Na época, ela era ministra da Casa Civil do governo Lula.
A belga Astra Oil, sócia da Petrobras em Pasadena, recorreu a cláusulas do contrato para obrigar a estatal brasileira a comprar dela a outra metade, o que gerou uma disputa judicial. A Petrobras saiu derrotada e com um prejuízo da ordem de US$ 700 milhões, segundo auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria Geral da União (CGU). Dilma botou a culpa em Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional, a quem acusou de ter apresentado o negócio ao conselho num resumo “tecnica e juridicamente falho”, que omitia as cláusulas que levaram ao desfecho desfavorável para a Petrobras. Acabou levando a crise da estatal para o Palácio do Planalto.
Cerveró e o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, esforçaram-se para defender a operação, mas a Lava-Jato logo se encarregaria de reforçar os indícios de corrupção. Em sua delação, Paulo Roberto Costa admitiu ter recebido propina de R$ 1,5 milhão para não atrapalhar a compra de Pasadena, liderada por Cerveró. O ex-diretor internacional nunca admitiu ter participado de qualquer esquema de corrupção no negócio, mas viu surgirem outras acusações contra ele, como o recebimento de comissões por contratos de navios-sondas no exterior. Suspeitos de tentar movimentar bens bloqueados, acabou preso. É o único dos ex-altos executivos da estatal investigados que continua na prisão. Costa assiste aos desdobramentos de sua colaboração em casa, com uma tornozeleira eletrônica. Duque, que nega as acusações, e o ex-gerente executivo de Engenharia, Pedro Barusco, que fez delação premiada, respondem ao processo em liberdade. Uma série de outros ex-executivos da estatal, como o ex-diretor Internacional Jorge Zelada, estão entre os investigados pela Lava-Jato e também por auditorias da CGU, do TCU e da própria Petrobras.
5A PETROBRAS
O PRESENTE E O FUTURO DE UM SÍMBOLO
Ilustração de Cavalcante - O Globo
As revelações do esquema de pagamento de propina para superfaturar contratos na Petrobras aumentaram as desconfianças do mercado em relação à estatal, que no ano passado já vivia dificuldades por causa de decisões do governo. O alto patamar de investimentos fez a Petrobras ampliar o seu endividamento porque a sua geração de caixa foi prejudicada pela política de controle dos preços dos combustíveis. Numa tentativa de diminuir as pressões da inflação em alta, a Petrobras foi impedida de repassar para as bombas dos postos de gasolina as variações do preço internacional do petróleo. Como o país não produz todo o combustível que consome, estima-se que a Petrobras tenha perdido cerca de R$ 60 bilhões nos últimos quatro anos importando combustíveis por mais do que vendia nos postos.
ECONOMISTA ANALISA O PRESENTE E O FUTURO DA PETROBRAS
As perdas da Petrobras provocavam críticas à condução da empresa pela engenheira de carreira Maria das Graças Foster, uma indicação pessoal da presidente Dilma. Isso porque, embora seja considerada uma estatal, a Petrobras tem mais de 700 mil acionistas privados. O governo controla 60% do capital votante, mas os lucros e prejuízos afetam também o patrimônio dos investidores particulares. Se a grita já era grande, as revelações da Lava-Jato destruíram de vez a confiança na empresa.
Ficou claro o que a escalada dos orçamentos bilionários de empreendimentos como a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, estava ligada ao superfaturamento para compensar propinas e a ampliação do lucro das empreiteiras. A Petrobras pagou muito mais por um patrimônio que vale, na realidade, muito menos. O difícil é fazer essa conta. Alvo de investigações dos órgãos reguladores do mercado de capitais no Brasil e nos Estados Unidos (CVM e SEC), a empresa contratou dois escritórios de advocacia para calcular suas perdas patrimoniais. Sem um número até hoje, a PwC, empresa responsável pela auditoria as demonstrações contábeis da empresa, não aceitou assinar o balanço do terceiro trimestre de 2014. Desde então, a Petrobras, uma das maiores empresas de capital aberto do mundo, não tem um balanço auditado. Isso significa que o mercado não tem segurança sobre os indicadores econômicos da empresa.
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O impasse na divulgação do balanço e as revelações quase diárias do esquema de corrupção fizeram a cotação das ações da Petrobras despencar. O valor de mercado da empresa, que era de R$ 310 bilhões em setembro de 2014, chegou a R$ 105 milhões em janeiro deste ano, quando a Petrobras surpreendeu ao divulgar um balanço financeiro não auditado no meio de uma madrugada. Sem uma conclusão sobre o real impacto da corrupção no seu patrimônio, a empresa informou uma estimativa de R$ 88,6 bilhões, referente a 31 ativos superavaliados. Era um cálculo preliminar, que não se restringe ao desviado pela corrupção. Fazem parte da conta fatores conjunturais como câmbio, custo de capital, preço do petróleo e ineficiências no planejamento dos projetos. Não constou do balanço a perda potencial de R$ 4,06 bilhões, baseada na aplicação dos 3% de propina relatados pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa à Justiça.
A divulgação do número contrariou a presidente Dilma e precipitou a queda de Graça Foster e de toda a sua diretoria, numa renúncia coletiva. No entanto, a nomeação do ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine para o lugar dela não fez o mercado recuperar a confiança na Petrobras. A agência de classificação de risco Moody’s tirou o grau de investimento da estatal e a nuvem de incerteza se somou à queda da cotação internacional do petróleo e a alta do dólar, que reduz a sua rentabilidade e o custo de sua dívida.
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Nesse contexto, se as previsões são de que a economia brasileira entrará em recessão este ano, a crise na maior empresa do país contribuirá bastante para isso. Não poderia ser diferente. Maior símbolo do movimento nacionalista pelo monopólio estatal do petróleo que culminou na sua criação, nos anos 50, a Petrobras representa sozinha hoje cerca de 5% do PIB de R$ 5,1 trilhões projetado para o Brasil este ano. A empresa respondia até agora por 12,5% de todos os investimentos no país, mas sua fragilidade financeira e institucional a obrigaram a pisar no freio dos projetos. Anunciou uma redução de 30% nos seus investimentos, que superaram R$ 100 bilhões em 2013.A estimativa é que esse corte leve o PIB a cair até 1,2%. Se forem incluídas as 23 empreiteiras envolvidas na Lava-Jato, e que também enfrentam dificuldades para obter empréstimos, o impacto no PIB sobe para 1,9%. Deverá haver também reflexo nas contas do governo. É que a Petrobras, sozinha, paga R$ 74 bilhões em impostos, valor superior ao ajuste fiscal prometido pelo governo de R$ 65 bilhões para 2015.
Manifestação de operários do Comperj na Ponte Rio Niteroi - Pablo Jacob / Agência O Globo
A pior consequência para o país é o impacto no emprego. Fornecedores e prestadores de serviço da Petrobras começam a demitir diante das incertezas da estatal. Levando-se em consideração as vendas de combustível, exportação de petróleo e os investimentos, o setor de óleo e gás liderado pela Petrobras representa hoje cerca de 5% do emprego industrial no Brasil. Um cálculo do consultor Claudio Frischtak, ex-economista do Banco Mundial, estima que entre uma e duas vagas fechadas hoje no país nos últimos meses se devem à crise da companhia.
Só nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), oito mil operários já foram demitidos desde agosto. Segundo o sindicato da cateogoria, cerca de 2,5 mil foram dispensados sem receber salários atrasados. Eles têm realizado manifestações para que a Petrobras assuma a dívida das empreiteiras. Em fevereiro, cerca de 200 operários interditaram a Ponte Rio-Niterói.
INFOGRÁFICO: Os 60 anos da Petrobras
Apesar da crise, o porte e a complexidade da Petrobras não tiram da empresa o seu potencial extraordinário. Além de poder contar, em última instância, com o socorro do Tesouro, a companhia tem todas as condições de se recuperar. Sua produção diária de 2,5 milhões de barris de petróleo a partir de 134 plataformas espalhadas pela costa brasileira é uma das maiores do mundo. Poucas petroleiras exibem no portifólio reservas provadas que superam 16 bilhões de barris. Esse potencial deve dobrar nos próximos anos com o avanço da exploração do petróleo da camada pré-sal. A Petrobras é a empresa brasileira que mais investe em ciência e tecnologia no Brasil e detém tecnologia de ponta para a exploração em águas profundas. Mérito dos seus 86 mil funcionários, entre os quais seguramente estão alguns dos profissionais mais qualificados do país. Se o governo corrigir os erros e melhorar a gestão da empresa, sempre haverá futuro para a Petrobras.
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