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Roberto Senise Lisboa Direito do Consumidor Sumário 03 CAPÍTUL O 3 \u2013 Como promover a defesa civil dos consumidores nos contratos? ....................05 Introdução .................................................................................................................... 05 3.1 Contrato de adesão e sua interpretação .....................................................................05 3.2 Cláusulas abusivas ...................................................................................................09 3.3 A defesa individual dos consumidores ........................................................................15 3.4 A defesa coletiva dos consumidores ...........................................................................18 3.4.1 Competência .................................................................................................. 20 3.4.2 Litispendência e T utela provisória ......................................................................20 3.4.3 P edidos definitivos ...........................................................................................20 3.4.4 Sentença ........................................................................................................ 21 3.4.5 Coisa julgada .................................................................................................22 3.4.6 Liquidação e execução .....................................................................................22 Síntese ..........................................................................................................................24 Referências Bibliográficas ................................................................................................ 25 Capítulo 3 05 Introdução O contrato é uma das três categorias fundamentais de toda ciência jurídica (as outras duas são a família e a propriedade). Além disso, é a principal categoria estudada pela teoria do negócio jurídico, como acordo que cria, modifica e extingue os direitos. Como o Direito do Consumidor possui princípios que lhe são próprios e os distinguem dos de - mais ramos do direito objetivo, é necessário estudar o regime jurídico contratual das relações de consumo, a fim de compreender com ocorre a proteção do destinatário final de produtos e servi - ços. Afinal, o princípio da vulnerabilidade do consumidor perante a atividade de fornecimento de produtos e serviços no mercado é presunção absoluta, não admitindo prova em sentido contrário (presunção iure et iure ). T rata-se, portanto, de um estudo extremamente amplo, que não se exaure em alguns semestres de curso, ampliando- se pela vida profissional. No entanto, é indispensável saber , fundamental - mente, como se dão as regras contratuais de consumo. P or isso, este capítulo possibilitará res - postas às seguintes indagações: o que é contrato de adesão e quais são as suas modalidades? Há regras interpretativas a serem seguidas pelo profissional do Direito, tratando- se de contrato de adesão? O que se entende por cláusula abusiva em um contrato de consumo? Quais cláusu - las são consideradas abusivas pelo legislador e quais são as sanções civis previstas pelo Código de P roteção e Defesa do Consumidor? Ao final dos seus estudos, você estará apto para entender esses questionamentos. V amos em frente! 3.1 Contrato de adesão e sua interpretação O Código de P roteção e Defesa do Consumidor apresenta um microssistema normativo dos contratos de proteção ao consumidor , principalmente por ser considerado vulnerável ao atuar no mercado de consumo. Embora o art. 54 estabeleça as diretrizes sobre o contrato de adesão, ele não fixa a noção exata acerca do tema, limitando- se a proferir que se entende por contrato de adesão aquele cujo con - teúdo é autorizado pelo ente administrativo competente, ou o que é elaborado unilateralmente por uma das partes. Contudo, há, na realidade, quatro modalidades de contrato de adesão: \u2022 o contrato padronizado , cujo conteúdo é elaborado antecipadamente pelo fornecedor , limitando- se o consumidor a aderir ou não aos seus termos; \u2022 o contrato formulário , cujo conteúdo é elaborado antecipadamente por terceiro, cabendo ao consumidor aderir ou não os termos, os quais são apresentados pelo fornecedor; Como promover a defesa civil dos consumidores nos contratos? 06 Laureate- International Universities Direito do Consumidor \u2022 o contrato homologado pela administração pública , cujo conteúdo é previamente analisado pela administração pública, ainda que por meio de suas agências reguladoras (por exemplo, o contrato de plano de saúde é submetido à apreciação da Agência Nacional de Saúde Suplementar; \u2022 o contrato necessário , cujo conteúdo é elaborado por terceiro e pressuposto de eficácia do contrato que o fornecedor deseja celebrar com o consumidor (por exemplo, o contrato de seguro obrigatório é necessário para que a empresa de ônibus intermunicipal possa celebrar o contrato de transporte de pessoa e bagagem com o consumidor). P ara os fins de interpretação do contrato de adesão, o Código de P roteção e Defesa do Consu - midor traça os princípios que lhe são peculiares, dos quais são considerados representativos da evolução do pensamento jurídico, já que modificaram os princípios clássicos utilizados. F igura 1 \u2013 O aderente simplesmente se submete aos termos do contrato de adesão, sem poderes maiores de negociar o seu conteúdo F onte: Mmaxer , Shutterstock. A interpretação contratual deve ser interpretação integral, observando- se o sentido dado a todo o negócio jurídico. Assim, não cabe a interpretação restrita somente a alguma cláusula de re - dação obscura ou duvidosa, pois o alcance do conteúdo do negócio jurídico deve ser analisado pelo intérprete dentro do contexto no qual o contrato foi celebrado. A Lei n. 8.078, de 1990, fixa vários princípios, ainda que de forma implícita, dos quais cabe lembrar: \u2022 a boa-fé objetiva , analisando- se a conduta do agente para a satisfação dos interesses próprios, porém sempre olhando para a satisfação dos interesses da outra parte. Ou seja, cumprindo tanto as regras expressas no contrato quanto as normas implícitas de conduta indispensáveis para que os interesses do outro possam ser satisfeitos; \u2022 a vulnerabilidade do consumidor na relação contratual, perante a atividade de fornecimento de produtos e serviços no mercado de consumo; \u2022 o princípio da conservação do contrato de consumo , mesmo se houver abusividade de uma de suas cláusulas, devendo apenas ela deixar de ter validade; 07 \u2022 a elaboração de condições gerais dos contratos de consumo, coibindo-se a inserção de cláusulas abusivas e a prática abusiva do fornecedor; \u2022 o equilíbrio jurídico e da equação econômico -financeira do contrato, devendo haver a correspondência obrigacional, o que pode ser readquirido, no caso de desequilíbrio superveniente, mediante a revisão judicial do contrato, que é direito básico do consumidor (BRASIL, Lei n. 8.078/90); \u2022 a vedação de obrigação manifestamente e xcessiva ou onerosa a uma das partes, sob pena de revisão do contrato; \u2022 a reparação integral pelos danos contratuais patrimoniais e morais (responsabilidade ex contractu ), apenas admitindo a limitação da indenização quando o consumidor for pessoa jurídica, devendo, nesse caso, o julgador fundamentar os motivos para que a fixação da indenização parcial; \u2022 a execução específica da obrigação assumida, no caso de inadimplemento (o que representa sensível evolução, se comparado com o direito clássico, que impossibilita a execução específica da obrigação de fazer e prevê a resolução do negócio, com indenização por perdas e danos). Observando- se os princípios indicados, deve -se analisar , ainda que brevemente, algumas regras contratuais de consumo. É possível a celebração de cláusula em separado , isto é, a fixação de dispositivo contratual cujo conteúdo é fixado em conjunto, pelo fornecedor e pelo consumidor , na qual se dê por expresso a manifestação do consumidor . Esse fato não desnatura o contrato padronizado, quer tenha sido elaborado unilateralmente pela parte (contrato padronizado em sentido estrito) ou efetivado por terceiro (contrato formulário) (BRASIL, Lei n. 8.078/90). Como o equilíbrio econômico-financeiro das relações de consumo deve prevalecer , por ser um princípio estatuído pela P olítica Nacional das Relações de Consumo, as mesmas oportunidades de desfazimento do vínculo jurídico de consumo devem ser outorgadas ao fornecedor e ao con - sumidor , a fim de que o contrato de adesão possa cumprir a sua finalidade social. F igura 2 \u2013 A maioria absoluta dos contratos de consumo possui seu conteúdo predisposto pelo fornecedor F onte: Shutterstock. 08 Laureate- International Universities Direito do Consumidor A compreensão do consumidor , aferida casuisticamente com base no princípio do homem médio ( standard jurídico), deve ser facilitada por diversos mecanismos, como: \u2022 racional disposição das cláusulas no instrumento negocial; \u2022 redação das cláusulas em língua portuguesa; \u2022 admissibilidade restrita da utilização de expressões técnicas ou de palavras de língua estrangeira, desde que socialmente consagradas; \u2022 prestação de informações relevantes sobre o produto ou serviço ao consumidor; \u2022 conhecimento de que o consumidor terá, ao adquirir o produto ou serviço, garantias legais e contratuais acerca de sua eficiência ou adequação; \u2022 acompanhamento obrigatório do manual de instruções e do termo de garantia com o produto ou serviço. O consumidor deverá, ainda, ser advertido pelo fornecedor sobre o manuseio e eventuais efeitos do uso indevido do produto ou serviço contratado. Além disso, todas as cláusulas contratuais são consideradas, por princípio, úteis. É a intangibilidade do contrato de massa , relativizada apenas diante de norma jurídica de ordem pública ou de interesse social, que se demonstra com ele parcial ou integralmente incom - patível. Não cabe o afastamento da incidência de determinada cláusula, a não ser que ela seja contrária ao sistema legal de consumo em vigor , ou seja, totalmente inconciliável com outras cláusulas do próprio contrato. A cláusula individualmente negociada entre fornecedor e consumidor é válida, embora não se encontre prevista nos demais contratos de adesão. É cláusula em separado , válida e eficaz, desde que não se caracterize como prejudicial aos aderentes do contrato de mesmo conteúdo, caso em que haverá tratamento desigual e iníquo com os demais por parte do predisponente. F igura 3 \u2013 A relação contratual envolve riscos para a obtenção do retorno esperado, tanto pelo fornecedor quanto pelo consumidor F onte: create jobs 51, Shutterstock. 09 Não se pode olvidar que a cláusula geral da boa-fé se encontra implícita em todos os disposi - tivos negociais de consumo, decorrendo daí os elementos norteadores concernentes ao direito à informação dos contraentes, bem como a lealdade recíproca, a segurança, a assistência e a cooperação, colaborando uma parte com a outra e vice-versa. O contrato deverá ser analisado sempre de forma mais favorável ao consumidor , interpretan - do- se os dispositivos ambíguos e contraditórios contra o predisponente (interpretação contra stipulatorem ). P ara melhor compreender o tema da interpretação do contrato de consumo e sua importância para os profissionais do Direito, vale tirar um tempinho para ler o artigo elaborado pelo ex -Ministro do Superior T ribunal de Justiça, Doutor José Augusto Del - gado, intitulado \u201cInterpretação dos contratos regulados pelo Código de proteção ao consumidor \u201d, disponível no link : .stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index. php/informativo/article/download/307/271). VOCÊ QUER LER? No entanto, é importante observar subsidiariamente à real intenção dos contraentes, que pre - valecerá sobre o conteúdo literal da avença, uma vez que a linguagem exprimida nem sempre conseguirá significar o verdadeiro interesse do consumidor . 3.2 Cláusulas abusivas P ara os fins do microssistema de proteção e defesa do consumidor , considera- se cláusula abusiva todo dispositivo previsto em contrato que viola a boa-fé objetiva ou algum dos demais princípios da P olítica Nacional das Relações de Consumo. A sanção civil para a cláusula abusiva é a nulidade absoluta , já que viola a ordem pública e o interesse social, os quais fundamentam a própria existência da Lei n. 8.078/90. T ratando- se de cláusula que viola a ordem pública e o interesse social, sua nulidade absoluta poderá ser arguida por qualquer pessoa \u2014 não apenas o consumidor contratante que se sentir prejudicado \u2014, bem como pelo Ministério Público. É corrente, ainda, o entendimento segundo o qual o próprio juiz de direito examinará uma causa sobre algum contrato de consumo, podendo desconstituir uma cláusula abusiva, ainda que não tenha sido o pedido do autor (seria o caso de desconstituição ex officio ). Os efeitos da sentença judicial que desconstitui uma cláusula abusiva são ex tunc , ou seja, retro - agem à data da constituição do vínculo contratual, para os fins da supressão daquele dispositivo inválido desde então. Seria como se aquela determinada cláusula nunca tivesse existido. É imprescindível observar , ainda, que a nulidade de uma cláusula contratual não invalida o con - trato de consumo todo, cabendo ao intérprete verificar o alcance e a viabilidade de se proceder à revisão judicial do contrato. Isso decorre do fato de que todo negócio jurídico deve ser , na medida do possível, preservado. É o princípio da conservação do contrato de consumo. P ortanto, a nulidade de uma cláusula não significa, por si só, a nulidade do contrato por inteiro. 10 Laureate- International Universities Direito do Consumidor Caberá ao intérprete identificar a existência de abusividade na cláusula. P ara isso, ele deverá se nortear por uma das seguintes hipóteses gerais de presunção de abusividade : \u2022 a cláusula ofende aos princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; \u2022 a cláusula restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, ameaçando o seu objeto; \u2022 a cláusula é excessivamente onerosa para o consumidor , considerando- se a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias do caso. No entanto, quais são as cláusulas abusivas elencadas pelo Código de P roteção e Defesa do Consumidor? Em rol não taxativo, podemos citar algumas de forma mais detalhada. A cláusula que reduz ou suprime garantia legal favorável ao consumidor é quando o forne - cedor tem o dever de prestar as garantias legalmente asseguradas ao consumidor , impedindo- se que este venha a ser constrangido a aderir a contrato que o exonere parcial ou integralmente das mesmas. A garantia legal é obrigatória e inderrogável, independentemente do termo expresso. Além disso, juntamente com o termo de garantia, o consumidor tem o direito de receber do fornecedor o manual de instrução em língua portuguesa, com linguagem didática e ilustrações, para compre - ensão do manuseio do produto adquirido. O fornecedor poderá assumir outros deveres colaterais decorrentes da avença, como atrativo para captação de clientela, convencendo o consumidor a adquirir o seu produto ou serviço. Nes - se caso, o consumidor deverá ser esclarecido sobre a real extensão e os limites de tais garantias contratuais. Se o fornecedor conceder garantia de caráter alternativo, por exemplo, o consumidor poderá optar por aquela que lhe for mais favorável. P odemos citar a revisão gratuita do motor em um veículo, em que o consumidor se beneficia da última hipótese cujo vencimento é verificado (tem - po de uso ou quilometragem rodada), até mesmo, porque a garantia contratual é complementar à garantia legal. F igura 4 \u2013 O consórcio de veículos automotores possui regra sobre cláusula penal compensatória para o consumidor desistente ou inadimplente F onte: Rob Wilson, Shutterstock.

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