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l '(" > ' \ \_ \.. l i \ SUMARIO ········ !ntrodu~ao Anteprojeto de Lei para a concilia~ao, julgamento e execu~iio das infra\oes penais de menor potencial ofensivo ·~··· .L11;;1.'--;;r-,.._,~,_-, -- ,.. - ~-~·- -~~mbro de 199:> ·~ COMENTARIOS CAPITULO I - Disposi<;oes Gerais . CAPITULO III - Dos Juizados Especiais Crimmais . Disposi~Oes Ger3.is 9 25 35 59 M 64 Se<;iio I Se<;ao II Se~ao III Se<;iio IV Se~ao V Seqiio VI Da CompetenciDc e dos Atos Processuais ... 72 CAPITCLO IV Da Fase Preliminar Do ProcedimGnto Sum:.ufssimo ............ . Da Execuqao Das Despesas Processuais . Disposiqoes Finais .. 87 137 169 175 1 ~-/ f D;snos~ '6C" t:ln·\;-~ Com'm~ -- L, · '-lt ,_ '"'"'--'-'-" .lU.o~ ...... ···~· no INTRODU<;:A.O I - OS TRABALHOS DE ELABORA<;:AO 1. Os antecedentes Ha muito tempo o jurista brasileiro preocupa-se com um processo penal de melhor qualidade, propondo altera96es ao vetusto c6digo de 1940, com o intuito de alcan9ar urn ''processo de resultados", ou seja urn processo que disponha de instrumentos adequados a tutela de todos os direitos, com o objetivo de assegurar praticamente a utilidade das decis6es. Trata-se do tema da efetividade do processo, em que se poem em destaque a instrumentalidade do sistema processual em rela9ao ao direito material e aos valores sociais e politicos da na<;:ao. Por outro !ado, a ideia de que o Estado possa e deva perseguir penalmente toda e qualguer infra9ao, sem admitir-se, em hip6tese alguma, certa dose de disponibilidade da a9ao penal publica, havia mostrado, com toda evidencia, sua falacia e hipocrisia. Paralelamente, havia-se percebido que a solu9ao das controversias penais em certas infra96es, principalmente quando de pequena monta, poderia ser atingida pelo metodo consensual. Outro dado a ser levado em coma consistia nas vantagens do procedimento oral, quando praticado em sua verdadeira essencia: a concentra<;ao, a imedia<;ao, a identidade ffsica do juiz conduzem a melhor aprecia<;ao das provas e a forma<;ao de urn convencimento efetivameme baseado no material probat6rio colhido e nas argumen- ta<;6es das panes. Percebeu-se tambem que a celeridade acompanha a oralidade, Jevando a desburocratiza<;iio e simplificaqao da justi<;a. Tambem avan<;ava a icteia da participaqao popular na adminis- tra<;iio da justi<;a, em respeito ao princfpio democnitico do envolvi- mento do corpo social na solu<;ao das !ides, que tambem serve para quebrar o sistema fechado e piramidal da administra<;iio da justi9a exclusivamente feita pelos 6rgiios estatais. Ao !ado disso. vinha-se sedimentando a tendencia rumo a revitaliza9iio das vias conciliativas, pela possibilidade nelas inerente JUIZADOS ESPECIA!S CRIMINAlS 14 integrantes do Grupo de Trabalho que apresentou o Anteprojeto, ora transformado em lei, ao Deputado Michel Temer. Trata-se de Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhaes Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes. Acresce-se aos mencionados autores o juiz Luiz Fl<ivio Gomes, penalista e estudioso dos aspectos penais da justi9a consensual, sobre a qual ja tern livro publicado. Os comentarios, que resultaram de trabalho conjunto, pretendem constituir ferramenta para todos os operadores do direito e para os estudantes, tendo objetivos eminentemente praticos, sem descurar, porem, o necessario rigor cientffico. II - A LEI 9.099 DE 26.09.95 5. 0 impacto da lei no sistema processual-penal Em sua aparente simplicidade, a Lei 9.099/95 significa uma verdadeira revolugao no sistema processual-penal brasileiro. Abrindo- se as tendencias apontadas no infcio desta introdugao, a lei nao se contentou em importar solugoes de outros ordenamentos mas - conquanto por eles inspirado - cunhou urn sistema proprio de justi<;a penal consensual que nao encontra paralelo no direito comparado. Assim, a aplica<;ao imediata de pena nao privativa da liberdade, antes mesmo do oferecimento da acusa<;iio, nao so rompe o sistema tradicional do nulla poena sine judicio, como ate possibilita a aplicagao da pena sem antes discutir a questao da culpabilidade. A aceita9ao da proposta do Ministerio Publico nao significa reconhecimento da culpabilidade penal, como, de resto, tampouco implica reconhecimento da responsabilidade civil. E nenhuma inconstitucionalidade ba nessa corajosa inova9ao do legislador brasileiro, pois e a propria Constitui<;ao que possibilita a transa<;iio penal para as infra<;iies penais de menor potencial ofensivo, deixando o legislador federal livre para impor-lhe parametros. A suspensao condicional do processo s6 de Ionge lembra o sistema de probation porquanto, extinta a punibilidade ap6s o perfodo de prova, inexiste para o acusado qualquer registro do ocorrido, como se o fato simplesmente nao tivesse acontecido. A atuagao de conciliadores leigos na transagao penal - e, se as leis estaduais assim quiserem, a intervengao do juiz leigo com alguma fungao jurisdicional - e outra inova<;iio brasileira possibilitada 15 INTRODU<;AO pela experiencia vencedora da participa<;ao popular nas pequenas causas cfveis. A preocupa9ao com a vftima e postura que se reflete em toda a lei, que se ocupa da transa<;ao civil da reparagao dos danos na suspensao condicional do processo. No campo penal, a transa9ao civil homologada pelo juiz em grande parte dos casos configura causa extintiva da punibilidade, o que representa outra inovaqao do nosso sistema. A exigencia de representaqao para a a<;ao penal relativa aos crimes de lesoes corporais !eves e de lesoes culposas e outra medida despenalizadora, aplicavel a todos os casos em andamento, porquanto a representagao e condi<;ao da aqao penal, cuja presen<;a ha de ser aferida no momento do julgamento. 0 rito sumarfssimo introduzido pela lei prestigia a verdadeira oralidade, com todos seus corolarios. E o julgamento dos recursos por turma constitufda de jufzes de primeiro grau, que tao bern tern funcionado nas pequenas causas cfveis, e outro elemento de desbu- rocratiza9ao e simplificaqao. Mas, entre todas essas inovagoes, e oportuno dar enfase especial ao modelo consensual introduzido pela lei e a suas medidas despenalizadoras. 6. 0 novo modelo - consensual - de Justic;a criminal 0 modelo polftico-criminal brasileiro, particularrnente de 1990 para ca (e dizer, desde que foi editada a Lei dos Crimes Hediondos), caracteriza-se inequivocamente pela tendencia "paleorepressiva". Suas notas marcantes sao: endurecimento das penas, corte de direitos e garantias fundamentais, tipificagoes novas e agravamento da execu<;iio penal.' 0 colossal incremento da criminalidade, derivado sobretudo do modelo socio-econ6mico injusto, vern gerando uma forte demanda de "polfticas criminais duras". E o Poder Polftico brasileiro vinha correspondendo a essa demanda: primeiro foi a lei dos crimes hediondos, depois a lei de combate ao crime organizado. Agora ja I. V. a crftica a esse direito promocional, simb6lico e emocional feita por Damasio E. de Jesus, no Boletim-IBCCrim 33, p. 3; cf. ainda Luiz Flavio Gomes, Crime Organizado, escrito junto com Raul Cervini, RT, SP, 1995, p. 26 e ss. '\_-.' ) ) ) ) ) ) ) -) . ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) "' JUIZADOS ESPECIAl$ CRIMINAlS 16 se fala numa lei dos crimes de especial gravidade (v, Bolerim- IBCCrim 33), Foi com extraordinaria surpresa, dentro deste contexto de hard control, cuja eficacia, de resto, vern sendo largamente contestada, que recebemos a Lei 9,099/95 (Projeto Temer, Jobim e Abi-Ackel), que disp6e sobre a cria~iio dos Juizados Especiais Cfveis e Criminais, Cuida-se de lei sumamente relevante,porque visa testar urn novo modelo (paradigma) de Justip criminal, fundado no consenso, Veja- mos suas diretrizes basicas. Todas as contraven~oes e crimes cuja pena maxima niio exceda a urn ano (ressalvados, quanto aos ultimos, os casos de procedimemus especiais) serao (quando criados) da competencia dos JUizados crimi- nais. Se o autor do fato se submete a "pena" proposta pelo Ministerio Publico (nunca pode ser pena privativa de liberdade). encerra-se o caso imediatamente sem a necessidade da colheita de provas (art. 76). A aplica~ao consensual da pena nao gera reincidencia nem amecedentes criminais. Convem esclarecer, desde logo, que a Lei, no ambito do Juizado Criminal, ao !ado de favorecer a "concilia~Jo'', reservou pouco espa~o para a tao falada "barganha penal". No que concerne a transa~ao que leva a aplica~ao imediata da pena, nao estamos pr6ximos ncm do guilty plea (declarar-se culpado) nem do plea bargaining (que permite amplo acordo entre acusador e acusado sobre os fatos, a qualificaq5.o jurfdica e a pena). 0 Ministerio Publico, nos termos do an. 76. continua vinculado ao princfpio da legalidade processual (obrigatoriedade), mas sua "proposta", presentes os requisitos legais, somente pode versar sobre uma pena alternativa (restritiva ou multa), nunca sobre privativa de liberdade. Como se percebe, ele disp('ie sobrc a sanqJo penal original, mas nJ.o pode deixar de agir dentro Jos parJ.metros alter~ natives. A isso dci-se o nome de princfpio da discricionariedade regulada2 ou regrada. 0 Poder Politico (Legislativo e Executivo,!. danc!o uma reviravo!ta na sua classica polftica criminal fundada na "cren~a .. Jissuas6ria cb pena severa (deterrance), corajosa e auspicio;;arnent~. esc.i disposto a testar uma nova via reativa ao ddito de peque~1ct c mCdia grJ\·icbJe. pondo em pdtica urn dos mais avanqados prog:·~u!l~ts de ··dcspenc:J iz~lt;Ju ·· do mundo. 2. Essa e a denomina~tfio dada por Adn P~ilcgrini Grin~·:v:::. ;\',rus tendencias do Direito Processua!. f,xe:·i>-~ l'niv,~t·-;lc:S.na. R:\; de Ja:1t:iro. RJ. 1990. p. 403. 17 INTRODU<;AO Ai<'m de exigir representa~ao nas les6es !eves e culposas (an. 88). em tndos os crimes cuja pena mfnima niio execeda a um ano ser'\ a!nda poss(vel a "suspensao condicional do processo", que representa uma das maiores revolu~oes no processo penal brasileiro nos Cdt!mos cinqlienta anos. Quando, ab initio, tendo em vista tratar- se Je prim:irio, bons antecedentes. boa personalidade, boa conduta social etc., j~l se vislumbra que haver<:i possibilidade de concessiio rutura do '"sursis'' (suspensao da execu~ilo da pena ja aplicada). permite-se, desde que haja aceita<;ao do acusado e seu defensor. a suspensao do processo, mediante condiy6es, iniciando-se pronto.mente o periodo de prova, de no minimo dois anos, sem se discutir a culpabilidade. Em troca dessa conjf;rmidade processual, o sistema legal oferece a niio realiza~Jo do interrogat6rio e tampouco haver:i colheita de provas (audiencias). sentenp, rol de culpados, reincidencia, maus anteceden- tes etc. E se as condi~oes da suspensiio. dentre elas esta evidentemente a repara~ao dos danos a vltima, sao inteirameme cumpridas e nova infra<;ao niio vern a ser cometida, a punibilidade resultar:i extinta. E como se aquele fa to nunca ti vesse ocorrido na vida do imputado. A suspensao do processo, reivindicada ha anos pela doutrina nacional. principalmente por Weber Martins Batista, que dela cuidou pela .prime!ra vcz entre n6s de modo sistemarizado.3 tern por base o princfpio da discricionariedade (o Ministerio Publico podeni dispor- poder-dever. evidentemente - da a~ao penal) e sua finalidade suprema e a de evitar nao s6 a estigmatizu~ITo decorrente da senten~a condenat6ria (o que ocorre na probation). senao sobretudo a derivada do proorio processo !que ji e uma tonura). E · imli:)cutivelmcme a via mais promissoru da tiTo esperada desburocratiza~do da Just~~a Criminal (grande parte do movimento forense crirninal poded. ser reduzido). ao mesmo tempo em que permite a pronw resposta esrutal ao dclito, a irnediata tse bem que na medida dt) possfvc]') rcpara~Jo dos danos a vftima, o fim das prescri96es {essa nJt) cc:Tc dL!r:.tr:t.c J. suspens:lo. .. a re.';socfa!i::.ardo do autor du fatos. ). \: \\:";i;\';r \Lm.:ns B~ttlstJ.. Direiru P.~~:c;l e Df:·r.:iro Proc<?ssu~.d Pend. ·r::r ~,..:. R.f. p. 1:~9::: :).~ .. v. aint~~l AJ<l P. G;-;r;D\'~r. f\iot-\~S tendJncic; c:r. r: J. )_ c: ~-: R.::::~.-: c\. D\m:. Best'S r:: drernc:ic:a.'i· para o siscema de pet;c; S.;..-:_ll'.;t S? '(:", F· 5: c ss.: Luiz Fi:i.v~o ();)frles. ··Dir~iw Pencil '.\ffnir::1,;: lin~:::.rn::.:r~t<.Y-; ;_!,;.::; -o~::.ts n:ct:.s·· ern R,;~·i:stci do Con.seiho iVacion.a{ de Pohtica Cri:nind! p,-" :c': .·i,>,.,:. \t:ni:;t~rio da Justi<;~L v. l. n. 5, jnn.-jun./95. p. 71 e ss. -=~'"""=~~~-·""\~""""""""""""""'"'~',...,'""'"'""'""·"''~•·"'"•"~····-~"~'''"'"'~ '""'"'"~·"~"~-~-·~-----~--~--., ........ '"'"'"~- .. ,,,_,~·~·- ·-·-- '"""- ... ,.,_ "'-----· JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 18 sua nao-reincidencia, uma fenomenal economia de papeis, horas de trabalbo etc .. Alem de tudo, e institute que sera aplicado· imediatameme por todos os juizes (nao s6 os do juizado criminal), nao requer absolu- tamente nenhuma estrutura nova e permitira gue a Justi9a criminal finalmente conte com tempo disponivel para cuidar com maior aten~ao da criminalidade grave, reduzindo-se sua escandalosa impunidade. A Lei 9.099/95, de 26.09.95, como se percebe, inovou profun- damente em nosso ordenamento jurfdico-penal. Cumprindo determi- na~ii.o constitucional (CF, art. 98, I), o legislador esta disposto a por em pn\tica urn novo modelo de Justi('a Criminal. E uma verdadeira revolu9ao Uuridica e de mentalidade) porque quebra a int1exibilidade do classico princfpio da obrigatoriedade da a9ilo penal. Doravante temos que aprender a conviver tambem com o principia da discri- cionariedade (regrada) na a9ao penal publica. Abre-se no campo penal urn certo espa9o para o consenso. Ao !ado do cLissico princfpio da verdade material, agora temos que admitir tambem a verdade consensuada. A preocupa9ao central, doravante, ja nao deve ser s6 a decisao (formalista) do caso, senao a busca de solu(:iio para o conflito. A vitima, finalmente, come9a a ser redescoberta porque o novo sistema se preocupou precipuamente com a repara9ao dos danos. Em se tratando de infra96es penais da competencia dos juizados criminais, de a9ao privada ou publica condicionada, a composi(ao_civil chega ao extremo de extinguir a punibilidade (art. 74, paragrafo unico). Em sintese, estao lan9adas as bases de urn novo paradigma de Justi9a criminal: os operadores do direito (juizes, promotores, advo- gados etc.), para alem da necessidade de se prepararem para a correta aplica('iio da lei, devem tambem estar preparados para o desempenho de urn novo papel: o de propulsores da concilia<;:ilo no ambito penal, sob a inspira9ao dos princfpios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade (arts. 2. 0 e 62). 7. As quatro medidas despenalizadoras da Lei 9.099/95 A Lei 9.099/95 nao cuidou de nenhuma descriminaliza<;:ao, isto e, nao retirou o carater ilfcito de nenhuma infra9ao penal. Mas disciplinou, isso sim, quadro medidas despenalizadoras (medidas penais ou processuais alternativas que procuram evitar a pena de prisiio): !.') nas infra<;:6es de menor potencial ofensivo de iniciativa 19 INTRODU<;:i\.0 privada ou publica condicionada, havendo composi<;:ao civil, resulta extinta a punibilidade (art. 74, § unico); 2.') nao havendo composi9ao civil ou tratando-se de a<;:ao publica incondicionada, a lei preve a aplicaqao imediata de pena alternativa (restritiva ou multa) (art. 76); 3.') as lesoes corporais culposas ou !eves passarn a requerer repre- senta9iiO(art. 88); 4.') os crimes cuja pena minima nao seja superior a urn ano permitem a suspensao condicional do processo (art. 89). 0 que b3 de comum, pelo menos no que tange a tres desses institutos despenalizadores, e o consenso (a conciliaqao ). No gue pertine a descarcerizaqii.o (que consiste em evitar a prisao cautelar) impoe-se a Jeitura do artigo 69, § tinico, que diz: "Ao autor do fato gue, ap6s a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, nao se imponi prisii.o em t1agrante, nem se exigini fian9a". Com as medidas despenalizadoras e descarcerizadora menciona- das, o Direito Penal brasileiro come9a a adotar as tendencias mundiais atuais' 0 reconhecimento da natureza hibrida das quatro medidas despenalizadoras acima enfocadas e extraordinariamente relevante para a boa aplica9ilo da lex nova. Tres delas sao de natureza processual e penal ao mesmo tempo. Sao elas: a transa9ao do art. 76, a representa9ao do art. 88 e a suspensao condicional do processo do art. 89. Sao institutos que, em primeiro Iugar, produzem efeitos imediatos dentro da fase preliminar ou do processo (nisso reside o aspecto processual). De outro !ado, todos contam com reflexos na pretensao punitiva estatal (aqui esta a face penal). Feita a transa9ao em torno da aplicagii.o imediata de pena alternativa (art. 76), resulta afastada a pretensao punitiva estatal original (pena de prisao ou multa integral). No que pertine a representaqao. basta lembrar que a renuncia ou a decadencia levam a extin9ilo da punibilidade. Por fim, quanto a suspensao do processo, passado o periodo de prova sem revogagao, desaparece a possibilidade de san9ilo penal. 4. Cf. Damasio E. de Jesus em Folha de S. Paulo de 01.07.95, p. 3- 2, bern como suas conclus6es (que aparecerao em breve na Revista Brasileira de Ciencias Criminais) a respeito do 9.° Congresso das Na<;6es Unidas sobre Preven<;ao do Crime e Tratamento do Delinqiiente, ao qual compareceu como Delegado brasileiro. ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ::1 ' '~ ! I JUIZADOS ESPECL\IS CRIMINAlS 20 Uma das medidas despenalizadoras (composiqJo civil exrimi,·a da punibilidade penal, art. 74), como se ve, e de natureza civil e penal ao mesmo tempo. 8. Aplicac;ao imediata Reconhecer e enfatizar a natureza inclusive (ou predominantemen- te) penal das medidas despenalizadoras trataJa;; e relevante pelo seguinte: todas sao mais beneficas, comparando-se com o sistema penut atualmente vigente. Estamos diante de novatio legis favoniveL De acordo com a imagem do legislador, em todos os crimes '~ conrra- ven~6es descritos na Lei 9.099/95, ja nilo se faz nccessJria a rear;Jo estatal (penal) classica, quase sempre consistente na imposir;ao Je uma pena de prisiio. De outro !ado, a obrigatoriedade da a<;clo penal ja nao e tao implacaveL Numa hipotese (art. 74) ela ficani impedida. em ourra nao sera intentada (art. 76) e numa terceira podeni haver disposi.;;ao (art. 89). Para o infrator (que tenha cometido infraqao que entre no chamado espac;o de consenso), e muito melhor o novo sistema juridico. Isso significa que todos os novas institutos de caniter penal devem ser aplicados imediatamente apos a vigencia da leL No que diz respeito aos artigos 88 e 89 nao existe nenhuma duvida. E as hipoteses dos artigos 74, paragrafo unico, e 76" Embora projetadas para terern incidencia nos juizados especiais criminais, podem e devem ser aplicadas imediatamente por qualguer juizo, sobretudo o comum. Dito de outra forma: mesmo enquanto nao criados os juizados especiais criminais, ainda assim, os institutos penais do seu espectro de abrangencia terao incidencia imediata e serJo aplicados por gualquer juizo. 0 primeiro fundamento dessa inevitavel conclusao esta no cbssico princfpio do favor rei. 0 que favorece o n!u deve incidir desde logo. 0 segundo fundamemo e de natureza constitucion~:!: :.J.:l norrnas definidoras de direitos e garanrins fundamentnis conta:n com ~·tpiiC<.l\ClO imediata, nos terrnos do art. 5. 0 , § 1. 0 , da Constitui~Jo Fedet~t!. Tilda norma despenalizadora, em Ultima an~Uise. naJa n~ais ~ ,~~:,: u desdobramento legislativo do direito fundamental d~t !nGi- vidual. Logo, passa a reger a situa<;:Zio jurfdica cnr'lxaclc: pmnt:t:r:erH~. 0 terceiro fundamento consiste no seguim~: n~lo 0 por i":_llu Je uma lei estaduai que ira discip!inar aspectos pruct:dirnenuis e d;; organizaq;lo judici6.ria que varnos negar apiicaqcio a uma lei feder~d 21 l:'iTRODl'<;:AO vigente. A Lei 9.(J99/Sl5 entrar~l em vigor integralmente em 26.1 i.95: na;tes dela teran eflcdcia irnedima (aS penais. sobretudo), enquanto . . ' outras (procedimentai:-;. organizacionais etc.) dependerilo de lei estadual futur:l. Pode-se falur. desrarte, ern efickia irnedlata e efic~icia diferida. conforrne a natureza da norma. 9. Aplica~ao retroativa Toda lei penal nova benefica nao s6 tern inciue~:cia imediata. como tambem deve retroagir para alcanqar os f~ttos ocorrldos antes da sua vig0ncia. Convem nllu eSLlUecer que mesrno dcpui:-> de i 9~8 o princ!pio Ja retroatividade penal ben~ficu contimwu cum sroru . .,- constitucional (art. 5. 0 , inc. XL"!. Logo. nenbuma lei infracon.stimcionJ.i pode restringir seu alcmce. Os limitt:s dessa retroati,·!Jade. corn(~ veremos, est5.o na prOpria natureza da norma J ter lncid2ncia. i\las o legislador ordin~lrio jJ. nJo pot.ie. de acordo corn .sua. vontade, reduzir o alcance do direito fundamentaL Com a maestri~l de sempre, Alberto Silva Franco5 ensina: '' Como todo e quaiquer prir.cfpio constitucionaL a retroatividade penal bene£fica n~lo tern efeitu meramenre proclamat6ria nem e regra de conot:lt;Jo programitica: e imperativa. porque dctada de card.ter jur{dico-pl)sivitivo. Sob esta i_'>tic:.L niio seria admissfvet nenhum dispositivo !ega! que pudessc contrari~l la ou restringi-la ... a retroatividade penal benetka. enqu::tnto princfp~o constitucionnl, nao pode ser limirada pela lei e e dotaJa de efic:icict imediata", 0 que acaba de ser proclamado vale parJ. as quatro hip6le;les despena!izadoras (arts. 7-+. parJgrztfo Unico, 76. ~8 e 80). Os quat:-~~ instituros (exatamc:nte porque pos:)uern romh,fm c::.:rc~ter penal"\ devcr:1 ser apEcados inc\J.~i-.;e a tndus os L:r.os ocorrl.J,,,s ::n:~.-cs dt} vigtnci.~·, da !ei. que se Uad em "26.!1.95. \Lt.'i hJ urn 1in:ite r:<J.tur~ll: O) ('a::;y. j<l julgados definiti\·~tm·.:::I~ ~~ diLt.T. cern tr:ln:--,irn cr:1 jtd,\pJuJ n~l11 ser:J.o, obvi:.lrnt~nte. :·:;::;:~u::c:ude:;;. E:stamu:--; dla~ k~ :...:·::: in:;tit~tln" f:l"\'\,::.:::·;~!J.:-> nL~ li '.:c ex1gem. dJ.rament~. pnJc~ssn perul ::1t: -.:unhcc tt~cn:n ~:-:~ c:::-~n uu r~:. in~inl:n~~i~l r..k .s\:t :nic:;!\..:\··. Sr.: p [">~,_:.--, ··;~:iia t-r;~::~ :--Cf ;-·..; tU. t n'.cL ~ei !10\"J. pL::·~ETlt::!t,: f"":c;:(J:c~~ ,~· ;;;u u.ican..;:1r :~t incius1. '~ a t..:11i;::.t J ·1~>; t.::r:~·:u:- .'";,; .... ; ~-~ (' 5. C<Jdi'(O Pend c Su<: Jn,·emr ... ·tur .. .Io .furis;.11 udt.'nc d. 1995. p. J."7 C SS. RT. SF. 5." c~~-- (,~:::!Or:!~"':~-~':;.,t'ii.'j(,:;::'E}p,:;o_iv .•. -.~-,4i.Qi3l"'.S.t\e<wJJt!,ZlSWi4W:tt=z;c w:;m , l ~Yii&@&Z:W.<m,;;;: . .w.:w;m::&w.==-.w,;;z;: Z 4 '""""'' ;;;;w w• ·= "m;""'"""""'-------·---------- JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 22 2. 0 do CP), mas jamais. quem ja tivesse cumprido a san9iio fixada. Do mesmo modo, urn instituto processual novo (mesmo que benefico) s6 pode incidir sobre processo nao encerrado. 10. Competencia para aplica<;ao Enquanto nilo criados formalmente os juizados especiais criminais (v. comentarios ao art. 93), os jufzos comuns (assim como os especiais) aplicarao normalmente os quatro institutos penais beneficos da lex nova.No que diz respeito a representa<;iio e a suspensiio do processo, niio M discussiio. Controversia pode existir quanto a composi9iio civil e a transa9ao penal para aplica9ao imediata de pena alternativa. Nossa posi9iio, e muito clara: podem e devem ser aplicados pelo jufzo comum (estadual ou federal) em virtude da natureza penal benefica. Podem e devem ser aplicados tambem pela Justi9a Militar e Eleitoral. Depois de criados os juizados, e evidente que havera divisao de competencia. Eles cuidariio das infra96es penais de menor potencial ofensivo e aplicarao obviamente tarnbem todos os processos despenalizadores acima retratados. A lesiio corporal culposa configura urn born exemplo para ilustrar o que acaba de ser afirmado: por for<;a do art. 88 mister se faz a representa9iio do ofendido ou de seu representante legal. Na fase pre- processual, tenta-se a composi9ao civil (art. 74). Sendo positiva, esta extinta a punibilidade (art. 74, paragrafo unico). Niio havendo com- posi9iio civil, o Ministerio Publico podera propor a transa9iio penal (art. 76). Nao aceita essa transa<;ao, oferecera o Ministerio Publico, desde que tenha havido representa<;iio, denuncia oral (art. 77). Neste instante e possivel a propositura da suspensiio condicional do processo (art. 89). 11. Uma nova mentalidade 0 legislador soube romper os esquemas classicos do direito criminal e do processo penal, adotando corajosamente solu96es pro- fundamente inovadoras. Cabe agora aos operadores do direito conscientizar-se do signi- ficado e da importancia da nova lei, aplicando-a com mentalidade renovada. 0 juiz, em primeiro Iugar, devera compenetrar-se de suas novas fun96es, adequando-se a elas. 0 Ministerio Publico aderira a justi9a 23 INTRODU<;AO consensual, agindo dentro da lei e apresentando, sempre que possivel, suas propostas de transa<;ao penal, disposto a discuti-las com o juiz, os conciliadores e a parte contraria. 0 advogado, cioso dos direitos de defesa, orientara seu assistido da melhor forma possivel, alertando para as conseqtiencias da transa<;iio, mas sempre com espirito aberto a vontade manifestada pelo autor do fato. As autoridades policiais colaborariio com os Juizados encaminhando-lhes imediatamente os termos de ocorrencia e agendando data para a audiencia de concilia9ao. A vitima e seu defensor deverao perceber que M alternativas a pena privativa da liberdade, igualmente satisfat6rias para ela. Os concili- adores, necessariamente imbufdos de espirito publico, deverao perceber a relevancia social de seu oficio. E, se as leis estaduais introduzirem o juiz leigo, este deveni atuar como multiplicador da capacidade de trabalho do juiz togado, igualmente cioso da fun<;iio que !he for atribufda. Os tribunais deverao cuidar da implanta<;ao de urn verdadeiro sistema de Juizados Especiais, dotando-os com os instrumentos ma- teriais e pessoais necessaries a seu efetivo funcionamento. Nesse papel de renova9ao de mentalidades, muito terao a fazer as Escolas da Magistratura, do Ministerio Publico, da Advocacia. Muito se devera fazer, no seio das institui96es de ensino superior, para a prepara<;iio dos novos operadores juridicos. E muito ainda restan\ a fazer em termos de informa9ao e conscientiza9ao da popula9ao com relal(ao a uma justi9a penal consensual mais n\pida, mais efetiva, mais democratica, mais pacificadora. Somente assim, devidamente aplicada em seus generosos prop6- sitos, a Lei 9.099/95 podera representar urn verdadeiro marco na modemiza<;iio da justi<;a penal, sem correr o risco de transformar-se em mais uma decep<;iio para o povo brasileiro e em uma indesejavel perda para o Poder Judiciario. ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) 1, I I i P, ~ ' 1' ), } l ] ~ ANTEPROJETO DE LEI PARA A CONCILIA<;AO, JULGAMENTO E EXECU<;AO DAS INFRA<;OES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO* 1 Exposi~lio de motivos li * 1. A Constitui<;ilo Brasileira de 1988, no art. 98. caput e inciso ~ I, determina que "A Uniao, no Distrito Federal e nos Territ6rios, e I os Estados criarao Juizados especiais, providos por juizes togados, ou ! togados e leigos, competentes para a conciliaqao, o julgamento e a i execw;ao de( ... ) infra<;5es periais de menor potencial ofensivo, mediante ' os procedimentos oral e sumarissimo, permitidos, nas hip6teses pre- vistas em lei, a transa<;ao e o julgamento de recursos por turmas de juizes de primeiro grau." , 2. Para dar cumprimento a norma constitucional, e necessaria, l antes de mais nada, a promulgaqao de lei federal, porquanto s6 a Uniao i cabe legislar em materia penal (art. 22, I, Const.), e e induvidosamente de natureza material a regra que permitira a transa<;iio e que regulan\ seus efeitos no campo penal. Em segundo Iugar, a Undio continua detendo a competencia privativa para as normas processuais (art. 22, i I), exce<;ao feita apenas as de procedimento, que silo da competencia concorrente da Uniao e dos Estados (art. 24, XI). De qualquer forma, ainda que se entendesse que as infra<;oes penais de menor potencial ofensivo, reguladas no art. 98, I, Const., sao as mesmas pequenas causas a que se refere o art. 24, X, a atribui~ilo constitucioml da comperencia concorrente a Uni5.o, tanto para a.s normas concorrentes a Uniao, tanto para as normas processuais como procedimentais. autorizaria, e recomendaria mesmn, que a lei fcder:.1! estabelecesse as normas gerais de processo e de procedimento para conciliac;.:ao, julgamento e execuc:io clas referidas infrac6es, > > * Apresentado a Ciimara dos Deputados, como Projeto de Lc:i 1.480/ 89, pelo Deputado Michel Temer. JU!ZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 26 27 ANfEPROJETO DE LEI Ap6s a edi9ao da lei federal, competira aos Estados, no uso de sua competencia constitucional, nao apenas criar os Juizados Especiais, mediante regras de organiza9ao judiciaria, como ainda suplementar a legislagao federal por intermedio de normas mais especfficas de procedimento, que atendam as suas peculiaridades, bem como de processo, se se entender que a regra do att. 98, I, ha de ser conjugada com a do art. 24, X. Seja como for, o Anteprojeto de lei federal que ora se apresenta, a par de normas penais materiais, estabelece normas gerais quer para o procedimento, quer para o processo. Deve-se ressaltar que, na falta de lei federal, a competencia legislativa dos Estados poderia - embora inconvenientemente - ser plena para as normas de procedimento e, eventualmente, de processo (art. 24, X e XI, e § 3.0 , Const.), mas nao teria o condao de suprir a inexistencia da norma federal em materia de transagao e de seus efeitos civis e penais, bem como em outros aspectos correlates inseridos no presente Anteprojeto, como, v.g., a ampliagao dos casos de ar;ao penal condicionada a representar;ao, a suspensao condicional do processo e outros. E, de qualquer modo, em materia nova e delicada como esta, e mais que oportuno que a lei federal, observada a autonomia dos Estados, trace as regras gerais que deverao reger processo e procedimento renovados. 3. A norma constitucional que determina a criagao de Juizados Especiais para as denominadas injrar;oes penais de menor potencial ofensivo, com as caracterfsticas fundamentais que indica, obedece a imperiosa necessidade de o sistema processual penal brasileiro abrir- se as posir;oes e tendencias contemporaneas, que exigem sejam os procedimentos adequados a concreta efetivar;ao da norma penal. E se insere no rico filao que advoga a manutengao, como regra gera!, dos princfpios da obrigatoriedade e da indisponibilidade da agao penal publica, abrindo, porem, espago a denominada discricionariedade ' regulada, contida pela lei e submetida a controle jurisdicional. Com efeito, a ideiade que o Estado possa e deva perseguir penalmente, sem excer;ao, toda e qualquer infragao, sem admitir-se, ! em hip6tese alguma, certa dose de discricionariedade ou disponibili- [ dade da agiio penal publica, mostrou, com toda evidencia, sua falacia r e hiprocrisia. Na pnitica, operam diversos criterios de seler;ao infor- I mais, e politicamente ca6ticos, inclusive entre os 6rgaos da persecur;ao ! penal e judiciais. Nao se desconhece que, em e!evadfssima porcen-~ tagem de certos crimes de agao penal publica, a polfcia niio instaura o inquerito e o MP e o juiz atuam de modo a que se atinja a prescrir;ao. Nem se ignora que a vftima - com que o Estado ate agora pouco se preocupou - est:i cada vez mais interessada na rep,aragao dos danos e cada vez menos na aplicayao da sangao penal. E por essa razao que atuam os mecanismos informais da sociedade, sendo nao s6 conveniente, como necessaria, que a lei introduza criterios que permitam conduzir a selegiio dos casos de maneira racional e obedecendo a determinadas escolhas polfticas. Por outro !ado, o procedimento oral tem demonstrado todas as vantagens onde aplicado em sua verdadeira essencia. A concentragiio, a imediagao, a identidade fisica do juiz conduzem a melhor aprecia91io das provas e a formagiio de um convencimento que realmente !eve em conta todo o material probat6rio e argumentative produzido pelas partes. A celeridade acompanha a oralidade, pela desburocratiza9iio e simplificagao da Justiga. Ademais, um procedimento sumarfssimo, que nao sacrifique as garantias processuais das partes e da jurisdigao, e o que melhor se coaduna com causas de menor complexidade. Daf a razao de ser da norma constitucional, que haveria de ser aplaudida e apoiada, ainda que nao fosse coercitiva para os Estados, o Distrito Federal e os Territ6rios, como o e. 4. Adiantando-se a promulgar;iio da nova Constituir;ao, os Emi- nentes Jufzes paulistas Pedro Luiz Ricardo Gagliardi e Marco Antonio Marques da Silva ofereceram a Associagao Paulista de Magistrados minuta de anteprojeto de lei federal, de sua autoria, disciplinando a materia. Para examina-lo, o DD. Presidente do E. Tribunal de Al9ada Criminal de Sao Paulo, Dr. Manoel Veiga de Carvalho, constituiu Grupo de Trabalho formado pelos Jufzes Antonio Carlos Viana Santos, Manoel Carlos Vieira de Moraes, Paulo Costa Manso, Ricardo Antunes Andreucci e Rubens Gongalves. Foi convidada para integrar o Grupo a Dra, Ada Pellegrini Grinover, Professora Titular de Processo Penal da Faculdade de Direito da Universidade de Sao Paulo que, por sua vez, se valeu da colaborar;ao dos Mestres Antonio Magalhaes Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes, Professores Assistentes da mesma Faculdade. Ap6s diversas reuni6es, decidiu o Grupo de Trabalho elaborar substitutive, sem embargo da reconhecida importancia do Anteprojeto Gagliardi e Marques da Silva, mola propulsora para estudos que levassem ao tratamento adequado de assunto de tamanha relevfincia. Referido substitutive, adaptado ao texto definitivo da Constitui9ao de 1988, foi submetido a debate publico na Seccional de Sao Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil, em dezembro de 1988. Ali, o trabalho ) ) ) ) ) ) ) ) ) I ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 28 129 ANTEPROJETO DE LEI foi aprimorado merce das sugest6es, ja incorporadas ao novo texto, de eminentes representantes de todas as categorias juridicus, tais como advogados, juizes, membros do Ministerio Publico, delegados de Policia, Procuradores do Estado no exercicio das fun<;6es de Defensores Publicos, Professores, estudantes de direito e interessados em geral. 5. Para chegar ao resultado final, ora apresentado, partiu-se da analise do tratamento dispensado a materia no direito comparado e em projetos brasileiros, a fim de verificar ate que ponto poderia deles valer-se para uma legislac;ao moderna, mas adequada a nossa realidade. No direito comparado, foram descartadas as soluc;oes dos sistemas que adotam o principio da oportunidade da ac;ao penal, como o norte- americana, com o plea bargaining, o frances (art. 4. ', CPP), o alemao (art. 153, CPP) e outros, dentre os quais nao se olvidaram, por sua atualidade e ubicac;ao, o Projeto argentino de C6digo de Processo Penal federal e o Projeto de C6digu de Processo Penal-Tipo para a America Latina.' Sendo da nossa tradi<;ao os princfpios da obrigatoriedade e da indisponibilidade da ac;ao penal publica, preferiu-se utilizar como primeiro parametro as legislac;oes mais modernas que, embora guar- dando fidelidade aos rnencionados criterios, adotam a denominada discricionariedade controlada com rela<;ilo a delitos de menor gravi- dade. Ou seja, a Lei italiana 689, de 24 de novembro de 1981, intitulada "Modificac;oes ao sistema penal. Descriminaliza<;ao",' e o C6digo de Processo Penal portugues, de 17 de fevereiro de 1987, bern como o recentfssimo C6digo de Processo Penal da Italia. 0 art. 77 e segs. da lei italiana de I 981 preve que o juiz, nos casos em que forem aplicaveis penas alternativas, a pedido do acusado I. 0 Projeto argentino de CPP federal, apresentado ao Congresso Nacional em fins de 1987, abre espa<;o maior ao principia da oportunidade, acompanhando o mode1o da Alemanha Federal; e preve, no art, 371 e ss,, urn procedimento abreviado para as infrat;6es cuja pena nao supere a dois anos de pena detentiva, podendo o acusado submeter~se voluntariamente a pena requerida em concreto pelo MP. Nesre caso, a at;ao civil deved necessariamente ser proposta perante o julzo cfvel, configuranJo exceg5o ao sistema de cumulagao facultativa das ac;Oes previstas no referido Projeto. ldentica disciplina e adotada pe1o C6digo de Processo Penal-Tipo para a America Latina, apresentado em 1988, no art. 37! e ss. 2. E oporruno lembrar a tendencia a discricionariedalle controlada no sistema italino e as posi<;Oes legislativas e jurisprudenciais nesse sentido, numa interpreta<;ao mais elastica do art. 112 da Constitui<;ao italiana, que expres- samente imp6e ao MP a obrigatoriedade do exercfcio da a<;ao penal. · e ap6s parecer fa von\ vel do MP, aplique a san<;ao, declarando em via de consequencia "extinta a infra<;iio penal", com o registro da pena para o efeito unico de impedir urn segundo beneffcio. 0 novo C6digo de Processo Penal italiano, prornulgado em 1988 para viger a partir do ano em curso, nos arts. 439 e segs. e 556,3 man tern, em observancia ao disposto no n. 45 da Iegge de/ega n. 81, de 16 de fevereiro de 1987, o instituto da Lei 689/81, com algumas alterac6es que o ampliam; o teto para a proposta de acordo, formulada ~ por q~alquer das partes e aceita pela outra, e a pena detenriva de ate ~ dois anos; deixa-se claro que a imposi<;iio da pena nao surte efeitos I. civis e, conquanto equiparada a uma senrenc;a condenat6ria, nao de vera constar de certidoes nem impedira a concessao de "sursis" sucessivos, i nao comportando, igualrnente, condena<;iio nas custas processuais. Da- 1 se enfase, finalmente, a atividade conciliativa na hip6tese de ac;ao publica condicionada a representa<;ao (art. 557). 0 sistema portugues do C6digo Penal de 1987, nos arts. 392 e segs., preve que, nos casos de multa ou de pena detentiva nao superior j a seis meses, o MP requeira ao tribunal a aplica<;ao da pena de multa ) ou da pena alternativa, funcionando ao mesmo tempo, se for o caso, I como representanre da vftima, para formular o pedido de indeniza<;ao j civil.4 Aceita a proposta, a homologa<;ao judicial equivale a uma 1 condena<;ao. Nao aceita, o MP nao fica vinculado a proposta para a i instaurac;ao do procedimento sumarfssimo que se segue. ~ No sistema brasileiro, analisou-se o art. 84 do Anteprojeto Jose I! Frederico Marques, que previa a proposta,pelo MP, do pagamento f de multa que. aceita pelo acusado, levaria a extin<;ao da punibilidade, por peremp<;ao. E se apreciou o art. 205, II, do Substitutivo do Projeto de CPP, aprovado pela Camara dos Deputados e em tramita<;ao no Senado, segundo o qual o processo se extinguiria sem julgamento do merito quando o acusado primario, em sua resposra, aquiescesse no pagamento de multa a ser fixada pelo juiz (art. 207, IL do Projeto). Em nenhum dos reierido projetos se soluciona o problema das consequencias. penais e civis. da aceitaqao e imposi<;ao de multa, muito embora no segundo o '·encerrarnento do processo sem julgamento do mtriw" pare:;a indicar a austncia de outros efeitos que nfio os • 1 • • Jme(.;~<ltarnenrc.' ckcorrentes da sans:ilo tmposta. 3. 0 primciro dispositive diz respeitO ao procedimento ordinaria e o segundo ao de competencia do pretor. 4. Contempla o sistema e possibilidade de a ac;ao civil ser deduzida em separado pe!a vftima, no jufzo cfveL - JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 30 6. Nao se olvidou a experiencia brasileira dos Juizados Especiais de Pequenas Causas civis, que tantos beneffcios vern prestando a denominada "Justi('a menor" e nos quais tantas esperan('a se depositam para a agilizagao e desburocratiza(:ao da Justi(:a5 Nem se deixaram de !ado os excelentes resultados colhidos pelos Juizados ou Conselhos Informais de Conciliayao, em que se pOde constatar o aporte positivo dos conciliadores para o exercfcio de fungao que nao tern natureza jurisdicional e que por isso mesmo convem fique separado e afeta a pessoas distintas do juiz togado, que se limita a supervisionar a atividade conciliativa. 7. Dos elementos supra-indicados, enriquecidos pelas contribuiy5es de tantos interessados, resultou o presente Anteprojeto, cujas linhas fundamentais podem assim ser resurnidas: a) Prindpios Gerais. Os criterios e princfpios do processo das pequenas causas penais - ora!idade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade - sao explicitados nas Disposi9i'ies Gerais do Anteprojeto, que coloca como objetivos da lei a reparayao dos danos sofridos pela vftima e a ap!ica9ao de pena nao privativa de liberdade. b) Competencia. Considera o Anteprojeto injra9i'ies penais de menor potencial ofensivo, para efeito de competencia dos juizados Especiais, as contraveny5es penais e os crimes a que a lei comine pena maxima nao superior a urn ano, excetuando-se os casos para os quais estejam previstos procedimentos especiais, que dificilmente se coadunariam com o ora criado. Conseqtientemente, fica retirado da abrangencia do projeto, ao menos por ora, alem das infraqoes acima referidas, o homicfdo culposo. Note-se, porem, que nada impede que os Estados, no uso da competencia constitucional concorrente para legislarem sobre procedimento (art. 24, XI, Const.), determinem a aplicaqao do rito sumarfssimo do Anteprojeto a outros crimes, exc!ufda apenas a proposta de acordo que, como se viu, e privativa da lei federal.' c) Fase Preliminar. Destina-se a tentativa de conciliaqao, englo- bando a transaqao no campo civil e a proposta do MP para aplicaqao 5. Por isso, o Anteprojeto tomou como modelo alguns dispositivos da Lei 7.244, de 07.1l.l984. 6. V. supra, n. 2. 31 AN1EPROJETO DE LEI de pena restritiva de direitos ou multa, no campo penal. Sao os seguintes os principais aspectos da fase preliminar: c.l) Audiencia preliminar. Sem necessidade de pericia, bastando o encaminhamento pela autoridade policial que tomar conhecimento do fato, o MP, o acusado e a vftima, com seus advogados (constitufdos ou publicos, integrando estes as defensorias que funcionarao junto aos Juizados), comparecem perante o juiz ou conciliadores do Juizado para a audiencia preliminar. Discutida infonnalmente a questao, abre-se a possibilidade de acordo -civil e de proposta penal. Se houver transaqao para a repara('iio dos danos, sua homologagao pelo proprio juiz penal caracteriza titulo executivo que, descumprido, dara margem a execu9iio for(:ada no jufzo civel; e, em se tratando de aqao penal de iniciativa privada ou de aqao penal publica condicionada a representa('ao, o acordo homologado acarreta renuncia ao direito de queixa ou repre- senta('ilo. Com ou sem transaqao civil, passa-se a possfvel proposta de aplicaqao de pena restritiva de direitos ou multa, rigorosamente contida nos limites da lei e devidamente especificada pela acusa9ilo. Aceita, pelo acusado e seu defensor, a proposta do MP, a pena e aplicada pelo juiz. 7 c.2) Efeitos da imediata aplica~ao da pena. A sanqao tern natureza penal, mas sem reflexos na reincidencia, sendo registrada para o fim unico de impedir novamente o mesmo beneficia, pelo prazo de cinco anos, e nao devendo constar de certidoes. Nao havera condenaqao em custas. Nao tendo ocorrido composiqao dos danos, nenhum efeito civil decorrera da aplica9ao da pena, cabendo a vitima buscar as vias civeis para a satisfaqao da pretensao ressarcit6ria. c.3) Execu9fio da pena. Tratando-se exclusivamente de pena de multa, seu valor sera recolhido il. Secretaria do proprio Juizado. Frustado o pagamento, a pena de multa e convertida em pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. c.4) Extin9fio da punibilidade. Uma vez paga a multa, ou cumprida a pena, o juiz declara extinta a punibilidade. d) Procedimento Sumarfssimo. Nao ocorrendo a imediata aplica- 91iO da pena restritiva de direitos ou multa, o MP formula oralmente 7. A lei nao deve preocupar-se com a natureza da proposta do MP, cabendo ao direito cientffico equipan\-la, ou nllo, a denuncia, na interpreta<;llo do principia nulla poena sine judicio - ao qual, entretanto, o pr6prio art. 98, I, Const., abriria excevao, ao admitir a conciliaqao e transa<;llo em materia penal. ) ) ) ) J ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) JUIZADOS ESPECIA!S CRIMINAlS 32 a denuncia, se niio houver ·necessidade de diligencias imprescindfveis, ficando clara a dispensa do inquerito policial. Se a complexidade ou circunstancias do caso nao permitirem a formula9iio de denuncia, o MP podeni requerer o encaminhamento das pe9as ao jufzo comum. Normas correlatas cuidam do oferecimento da queixa. Antes do recebimento da dendncia ou queixa, abre-se a defesa a oportunidade de responder a acusa9ao. Recebida a denuncia ou queixa, o juiz designa audiencia de instru9ao e julgamento, a qual deverao comparecer as partes e as testemunhas e, se possfvel, o ofendido e o responsavel civil. A defesa tecnica e indispensavel. Abre-se, agora, nova tentativa de acordo civil e de formula9iio de proposta de aplica9ii0 de pena restritiva de direitos ou multa pelo MP, se na fase preliminar nao se tiver dado esta possibilidade. Os princfpios da audiencia sao de autentica oralidade, com os corolarios de continuidade, concentra91io, imedia9ao e identidade ffsica do juiz. Com re!a91io as provas, inverteu-se a ordem de produ9ao, deixando o interrogat6rio para momento posterior a oitiva de teste- munhas, com o que fica enfatizada sua natureza de meio de defesa. Embora altamente aconselhavel e recomendavel, nao pareceu conve- niente impor o registro eletronico das provas orais, cuja obrigatoriedade tern constitufdo serio 6bice a implanta9iio dos JEPCs civis; ate porque a presen9a e fiscaliza9ao efetivas das partes sao suficientes para garantir que o essencial conste do resumo dos fatos relevantes ocorridos na audiencia. Do termo de audiencia tamb6m constani a senten9a. e) Recursos. 0 Anteprojeto preve embargos de declara9iio e apela9ao, que podeni ser julgada por colegiado de primeiro grau, em consonancia com a previsao constitucional. A apela9ao e cabfvel seja no tocante a aplica9ao imediata da pena, seja no que tange asenten9a final e, ainda, contra a decisao de nao recebimento da dentlncia ou queixa. Mas a homologa9ao da transa9ao civil e irrecorrfvel. Niio se excluiu a revisao criminal. f) Execw;iio. Ver supra, alfnea c.3. g) Disposi9oes Finais. De grande releviincia sao as disposi96es finais do Anteprojeto, refletindo a tendencia universal no sentiJo da ampliac;ao dos casos de disponibilidade da a9ao penal, por intermedio de tecnicas diversas. I I , . ~- 1 ~~'-' 33 ANTEPROJETO DE LEI Assim, em primeiro Iugar, alarga-se a gama dos crimes de a~;ao penal publica condicionada a representa9ao, estendendo-se as lesoes corporais de natureza !eve (art. 129, caput, do C6d. Penal) e as culposas (art. 129, § 6.0 , do C6d. Penal).' Na audiencia preliminar, nao havendo transa9iio (a qual importa em renuncia a representa9ao ), a vftima podeni representar verbalmente, seguindo-se a oportunidade de propos- ta de aplica9ao de pena restritiva de direitos ou multa pelo MP, conforme acima descrito. Em segundo Iugar, o Anteprojeto introduz o instituto da suspensiio condicional do processo, mesmo para os crimes por ele nao abrangidos, em que a pena minima cominada for igual ou inferior a urn ano. Ou seja, na hip6tese de reu primario e de pena mfnima que comportaria afinal a concessao de sursis, o MP, ao oferecer a dentlncia, podera propor ao juiz competente a suspensao condicional do processo, submetendo-se o acusado, ao concordar com a medida, as condi96es fixadas pelo juiz nos termos dos dispostivos retores da suspensao condicional da pena. 0 sistema da probation, tradicional nos ordena- mentos de commom law, ganha espac;o nas modernas legisla96es processuais dos paises de civil law, como se ve do C6digo de Processo Penal portugues (art. 281 ), do Projeto argentino de 1988 de C6digo de Processo Penal federal (art. 231), do Projeto de C6digo de Processo Penal-Modelo para a America Latina, tambem de 1988 (art. 231 ). E vern sendo reiteradamente defendido entre n6s, com excelentes raz5es, desde 1981.9 Ademais, o instituto insere-se perfeitamente na filosofia que informa o Anteprojeto, consistente na desburocratiza9ao e ace- lera9ao da Justic;a penal, e no filao da discricionalidade regulada, no mesmo consagrada, tudo em decorrencia do texto constitucional. 10 h) Disposir;oes Transit6rias. Normas de direito intertemporal cuidam dos casos em andamento, inclusive quanta as novas hip6teses de ac;ao penal condicionada. 8. Nos termos, alias, do que dispunha o C6digo Penal de 1969 e do que vern inscrito no Projeto de Parte Especial do C6digo Penal. 9. Ver, especialmente, a posi<;ao do Desembargador e Professor Titular de Processo Penal da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Weber Martins Batista, em "Suspensao condicional do processo", in Estudos de direito prvcessual em homenagem a Jose Frederico Marques, Sao Paulo. Ed. Saraiva, 1982, p. 315/330, republicauo em Direito penal e processual penal, Rio, Forense, 1987. p. l39/l56). 10. Nao foi outra a tecnica da Lei das Pequenas Causas Civis, que nas Disposi<;Oes Finais incluiu dispositivos de abrangencia maior, para projetar seus princfpios e criterios na Justi<;a ordinaria (arts. 55 e 56). JUIZADOS ESPEC!AIS CRIMINAlS 34 Os Estados, Distrito Federal e Territories tern o prazo de seis meses para criarem e instalarem os Juizados Especiais. Preve-se, contudo, que, enquanto nao instalados os Juizados, as atribui96es destes sejam exercidas pelos 6rgaos judiciarios existentes. Por ultimo, pareceu conveniente estabelecer o prazo de vacatio legis de sessenta dias, bern como expressamente revogar a Lei 4.611, de 2 de abril de 1965. 8. Sao estes, em apertada sfntese, os aspectos principais do Anteprojeto, cuja filosofia se insere no filao que busca dar efetividad~; a norma penal, ao mesmo tempo em que pri vilegia os interesses da vftima, sem descurar jamais das garantias do devido processo legal. E as palavras de apoio e de aplauso que seu debate tem provocado nos mais diversificados setores jurfdicos e sociais" indicam que a transforma<;ao do Anteprojeto em lei podeni significar considen\vel passo para o resgate da credibilidade da Justi<;a penal. Sao Paulo, janeiro de 1989. ADA PELLEGRINI GRINOVER ANTONIO MAGALHAES GOMES FILHO ANTONIO SCARANCE FERNANDES ANTONIO CARLOS VIANA SANTOS MANOEL CARLOS VIEIRA DE MORAES PAULO COSTA MANSO RICARDO ANTUNES ANDREUCCI RuBENS GoN<;:ALVES II. Como pontos altos do anteprojeto, tern sido salientados, por personalidades presentes ao debate mencionado no n. 7 supra, o combate a impunidade, a celeridade e economia processuais, a preocupa<;ao com a vftima e com as garantias do acusado, a moraliza<;ao da polfcia e sua prote9ao contra a suspeita da pratica de atos de corrup9ao, a amplia9ao do campo de trabalho do advogado, a correta canali.za<;ao dos recursos (neste sentido, dentre outros, o Presidente da Associa<;ao Paulista dos Delegados de Polfcia, Dr. Abrahao Kfouri Filho ). LEI 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995 DispOe sabre as Juizados Especiais Civeis e Criminais e dd outras provid§ncias. 0 Presideote da Republica: fa<;o saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Capitulo I DISPOSI<;:OES GERAIS Art. 1.0 Os Juizados Especiais Cfveis e Crirninais, 6rgaos da Justi<;a Ordinaria, serao criados pela Uniao, no Distrito Federal e nos Territ6rios, e pelos Estados, para concilia<;ao, processo, julgamento e execu9ao, nas causas de sua competencia. Art. 2,0 0 processo orientar-se-a pelos criterios da oralidade, simpli- cidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possfvel, a concilia<;iio ou a transa<;iio. Capitulo II DOS JUIZADOS ESPECIAIS CIVEIS Se91io I Da Competencia Art. 3." 0 Juizado Especial Cfvel tern competencia para concilia9ao, processo e julgamento das causas civeis de menor complexidade, assim .consideradas: I - as causas cujo valor nao exceda a quarenta ve:i:es o salario mfnimo; II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do C6digo de Processo Civil; ~~ I : 1' ,JI l i I !i !I ]J ) ) ) I ) I ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) I ) I ( ) I ) ) ) ) ) ) ) ~ i ' I \ JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 36 III - a a~ao de despejo para uso propno; IV - as a96es possess6rias sobre bens im6veis de valor nao excedente ao fixado no inciso I deste artigo. § !.° Compete ao Juizado Especial promover a execu9ao: I - dos seus julgados; II - dos tftulos executivos extrajudiciais, no valor de ate quarenta vezes o salario mfnimo, observado o disposto no § 1.0 do art. 8.0 desta Lei. § 2.0 Ficam exclufdas da competencia do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Publica, e tambem as relativas a acidentes de trabalho, a resfduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial. § 3.0 A op~ao pelo procedimento previsto nesta lei importara renuncia ao cn!dito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hip6tese de concilia9lio. Art. 4.0 E competente, para as causas previstas nesta lei, o Juizado do foro: I - do domicflio do reu ou, a criteria do autor, do local onde aquele exer~a atividades profissionais ou economicas ou mantenha estabelecimento, filial, agencia, sucursal ou escrit6rio; II - do lugar onde a obriga\_:iio deva ser satisfeita; III - do domicflio do autor ou do local do ato ou fato, nas a96es para a repara\_:liO de dano de qualquer natureza. Paragrafo unico. Em qualquer hip6tese, podeni a a9iio ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo. Se9ao II Do Juiz, dos Conciliadores e dos Jufzes Leigos Art. 5.0 0 Juiz dirigira o processocom liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para apreci<i-las e para dar especial valor as regras de experiencia comum ou tecnica, Art. 6.• 0 Juiz adotara em cada caso a decisao que reputar mais justa e equil.nime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigencias do bern co mum. 37 LEI 9.099/95 Art. 7." Os conciliadores e Jufzes leigos silo auxiliares da Justi~;a, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bachan~is em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiencia. Paragrafo unico. Os Jufzes leigos ficarao impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas fun9oes. Se~;ao III Das Partes Art. 8." Nao poderao ser partes, no processo instituido por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurfdicas de direito publico, as empresas publicas da Uniao, a massa falida e o insolvente civil. § r.o Somente as pessoas fisicas capazes serao admiridas a propor a~ao perante o Juizado Especial, exclufdos os cessionarios de direito de pessoas juridicas. § 2. 0 0 maior de dezoito anos podeni ser au tor, independentemente de assistencia, inclusive para fins de conciliaqao. Art. 9." Nas causas de valor ate vinte salarios mfnimos, as partes comparecerao pessoalmeme, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistencia e obrigat6ria; § 1.• Sendo facultativa a assistencia, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o reu for pessoa juridica ou firma individual, tera a ourra parte, se quiser, assistencia judiciaria prestada por 6rgao instituido junto ao Juizado Especial, na forma da lei local. § 2. 0 0 Juiz alertara as partes da conveniencia do patrocfnio por advogado, quando a causa o recomendar. § 3. 0 0 mandato ao advogado podera ser verbal, salvo quanro aos poderes especiais. § 4. 0 0 reu, sendo pessoa jurfdica ou titular de firma individual. podera ser representado por preposto credenciado. Art. 10. Nao se admitira, no processo, qualquer forma de intervenqao de terceiro nem de assistencia. Admitir-se-a o litiscons6rcio. Art. 11. 0 Ministerio Publico intervira nos casas previstos em lei. JU!ZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 38 Se~ao IV Dos A tos Processuais Art. 12. Os atos processuais serao publicos e poderao realizar-se em honirio notumo, conforme dispuserem as normas de organiza<;:ao judiciaria. Art. 13. Os atos processuais serao vali dos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os criterios -· · indicados no art. 2." desta Lei. § 1." Nao se pronunciara qualquer nu!idade sem que tenha havido prejufzo. § 2.0 A pn\tica de atos processuais em outras comarcas podeni ser solicitada por qualquer meio id6neo de comunica<;:ao. § 3.0 Apenas os atos considerados essenciais serao registrados resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os demais atos poderao ser gravados em fita magnetica ou equivalente, que sera inutilizada ap6s o trilnsito em julgado da decisao. § 4.0 As normas locais disporao sobre a conservaqao das pe<;:as do processo e demais documentos que o instruem. Sec;;ao V Do Pedido Art. 14. 0 processo instaurar-se-a com a apresenta<;:ao do pedido, escrito ou oral, a Secretaria do J uizado. : • · § 1.0 Do pedido constarao, de forma simples e em linguagem c acessfvel: I - o nome, a qualifica<;:ilo e o endere<;:o das partes; II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; III - o objeto e seu valor. § 2.0 E lfcito formular pedido generico quando nao for possfvel determinar, desde logo, a extensao da obriga<;:ao. § 3.0 0 pedido oral sera reduzido a escrito pela Secretaria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formularios impressos. 39 LEI 9.099/95 Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3.0 desta Lei poderao ser altemativos ou cumulados; nesta ultima hip6tese, desde que conexos e a soma nao ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo. Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de distribuic;;ao e autuac;;ao, a Secretaria do J uizado design ani a sessao de concilia<;:ao, a realizar-se no prazo de quinze dias. Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes, instaurar-se-a, desde logo, a sessao de concilia<;:ao, dispensados o registro previo de pedido e a citac;;ao. Panlgrafo unico. Havendo pedidos contrapostos, podera ser dis- pensada a contestac;;ao formal e ambos serao apreciados na mesma senten<;:a. Sec;;ao VI Das Citac;;oes e Intimac;;oes Art. 18. A cita<;:ao far-se-a: I - por correspondencia, com aviso de recebimento em mao pr6pria; II - tratando-se de pessoa jurfdica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recep<;:ao, que sera obrigatoriamente iden- tificado; Ill - sendo necessario, por oficial de justi<;:a, independentemente de mandado ou carta precat6ria. § 1.0 A cita9lio contera c6pia do pedido inicial, dia e hora para comparecimento do citando e advertencia de que, niio comparecendo este, considerar-se-ao verdadeiras as alega<;:oes iniciais, e sera proferido julgamento, de plano. § 2. o Nao se fani citac;;ao por edital. § 3.0 0 comparecimento espontaneo suprira a falta ou nulidade da cita9ao. Art. 19. As intima<;:oes serao feitas na forma prevista para cit3\(ao, ou por qualquer outro meio idoneo de comunica9iio. § 1." Dos atos praticados na audiencia, considerar-se-ao desde cientes as partes. 1,1 ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 40 § 2. 0 As partes comunicariio ao JUIZO as mudan<;as de endere<;o ocorridas no curso do processo, r~putando-se eficazes as intima<;6es enviadas ao local anteriormente indicado, na ausencia da comunica<;iio. Sec;ao VII Da Revelia Art. 20. Niio comparecendo o demandado a sessao de conciliac;ao ou a audiencia de instrugao e julgamento, reputar-se-ao verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contnirio resultar da convic<;iio do Juiz. Sec;ao VII Da Conciliac;iio e do Jufzo Arbitral Art. 21. Aberta a sessao, o Juiz togado ou leigo esclareceni as partes presentes sabre as vantagens da concilia<;iio, mostrando-lhes os riscos e as conseqtiencias do litigio, especialmente quanta ao disposto no § 3.0 do art. 3.0 desta Lei. Art. 22. A concilia<;iio sera conduzida pelo Juiz togado ou leigo por conciliador sob sua orientagao. Paragrafo unico. Obtida a concilia<;iio, esta sera reduzida a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante senten<;a com eficacia de titulo executivo. Art. 23. Nao comparecendo o demandado, o Juiz togado proferini sentenga. Art. 24. Nao obtida a conciliagao, as partes poderiio optar, de comum acordo, pelo juizo arbitral, na forma prevista nesta Lei. § 1.0 0 juizo arbitral considerar-se-a instaurado, independente- mente de termo de compromisso, com a escolha do arbitro pelas partes. Se este niio estiver presente, o Juiz convoca-lo-a e designara, de imediato, a data para a audiencia de instru<;ao. § 2.0 0 arbitro sera escolhido dentre os juizes leigos. Art. 25. 0 arbitro conduzini o processo com os mesmos criterios do Juiz, na forma dos arts. 5.0 e 6.0 desta lei, podendo decidir por eqilidade. 41 LEI 9.099/95 Art. 26. Ao termino da instruc;ao, ou nos cinco dias subseqilentes, 0 arbitro apresentan\ 0 laudo ao Juiz togado para homologa<;ilo por senten<;a irrecorrfvel. Sec;ao IX Da Instruc;ao e J ulgamento Art. 27. Nao institufdo o JlllZO arbitral, proceder-se-a imediatamente a audiencia de instruc;iio e julgamento, desde que nao resulte prejuizo para a defesa. Panigrafo unico. Nao sendo passive! a sua realizac;iio imediata, sera a audiencia designada paraurn dos quinzes dias subseqlienres, cientes, desde iogo, as partes e tesremunhas eventualmente presentes. Art. 28. Na audiencia de instrw;ao e julgamento serao ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a senten<;a. Art. 29. Serao decididos de plano todos os incidentes que possam interferir no regular prosseguimento da audiencia. As demais questoes serao decididas na senten<;a. Paragrafo unico. Sabre OS documentos apresentados por uma das partes, manifestar-se-a imediatamente a parte contraria, sem interrup- <;ao da audiencia. Sec;ao X Da Resposta do Reu Art. 30. A contesta<;ao, que sera oral ou escrita, conteri toda materia de defesa, exceto argUi<;iio de suspei<;ao ou impedimenta do Juiz, que se processani na forma da legisla~<lo ern vigor. Art. 31. Nao se admitir,\ a reconven~;Jo. E lfcito ao reu, na contesta<;ao, formular pedido em seu favor, nos limites do art. 3.0 desta Lei. descle que fundado nos mesmos fatos que constituem objeto da comroversia. Paragrafo unico. 0 autor poder:i responder ao pedido do reu na propria audiencia ou requerer a designa~;ao da nova data, que seni desde logo fixada, cientes todos os presentes. ~ JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 42 Se~ao XI Das Provas Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legitimos, ainda que nao especificados em lei, sao habeis para provar a veracidade dos fatos a!egados pelas partes. Art. 33. Todas as provas serao produzidas na audiencia de instruqao e julgamento, ainda que nao requeridas previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelat6rias. Art. 34. As testemunhas, ate o maximo de tres para cada parte, comparecerao a audiencia de instruqao e julgamento levadas pela parte que as tenha arrolado, independentemente de intimaqao, ou mediante esta, se assim for requerido. § 1. 0 0 requerimento para intimaqao das testemunhas sen\ apresentado a Secretaria no minimo cinco dias antes da audiencia de instruqao e julgamento. § 2. o Nao comparecendo a testemunha intimada, o Juiz podera determinar sua imediata condu9ao, valendo-se, se necessario, do concurso da forqa publica. Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz podeni inquirir tecnicos de sua confian9a, permitida as partes a apresentaqao de parecer tecnico. Paragrafo unico. No curso da audiencia, podeni o Juiz, de offcio ou a requerimento das partes, realizar inspe9ao em pessoas ou coisas, ou determinar que o fa9a pessoa de sua confianqa, que !he relatara informalmente o verificado. Art. 36. A prova oral nao sen\ reduzida a escrito, devendo a senten9a referir, no essencial, os informes trazidos nos depoimentos. Art. 37. A instruqao poden\ ser dirigida por Juiz leigo, sob a supervisao de Juiz togado. Se~ao XII Da Senten9a Art. 38. A senten9a mencionani os elementos de convic9ao do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiencia, dispensado o relat6rio. 43 LEI 9.099/95 Panigrafo unico. Nao se admitini senten~;a condenat6ria por quantia iliquida, ainda que generico o pedido. Art. 39. E ineficaz a senten9a condenat6ria na parte que exceder a al9ada estabelecida nesta Lei. Art. 40. 0 Juiz leigo que tiver dirigido a instru9ii0 proferira sua decisao e imediatamente a submetera ao Juiz togado, que podera homologa- la, proferir outra em substitui91io ou, antes de se manifestar, determinar a realiza91io de atos probat6rios indispensaveis. Art. 41. Da senten9a, excetuada a homologat6ria de conciliayao ou laudo arbitral, cabera recurso para o proprio Juizado. § 1.0 0 recurso sera julgado por uma turma composta por tres Juizes togados, em exercicio no primeiro grau de jurisdi(:iio, reunidos na sede do J uizado. § 2.0 No recurso, as partes serao obrigatoriamente representadas por advogado. Art. 42. 0 recurso sera interposto no prazo de dez dias, contados da ciencia da senten9a, por peti9ao escrita, da qual constarao as raz6es e o pedido do recorrente. § l.o 0 preparo sera feito, independentemente de intima9ao, nas quarenta e oito horas seguintes a interposiqao, sob pena de desen;ao. § 2.0 Ap6s o preparo, a Secretaria intimara o recorrido para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias. Art. 43. 0 recurso tera somente efeito devolutive, podendo o Juiz dar-lhe efeito suspensive, para evitar dano irreparavel para a parte. Art. 44. As partes poderao requerer a transcriqao da grava9ao da fita magnetica a que alude o § 3.0 do art. 13 desta Lei, correndo por conta do requerente as despesas respectivas. Art. 45. As partes serao intimadas da data da sessao de julgamento. Art. 46. 0 julgamento em segunda instancia constara apenas da ata, com a indica91io suficiente do processo, fundamentas:ao sucinta e parte dispositiva. Se a sentenqa for confirmada pelos pr6prios fundamentos, ~ sumula do julgamento servira de ac6rdao. 47. (VETADO) ~I ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) \ ) ) ) ) ) ) ) ) ) JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS 44 Se~iio XIII Dos Embargos de Declara~iio Art. 48. Caberao embargos de declara~ao quando, na senten~a ou ac6rdao, houver obscuridade, contradi<;ao, omissao ou ddvida. Panigrafo ilnico. Os erros materiais podem ser corrigidos de offcio. Art. 49. Os embargos de declara~ao serao interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciencia da decisao. Art. 50. Quando interpostos contra senten9a, os embargos de decla- ra<;iio suspenderao o prazo para recurso. Se~iio XIV Da Extin~iio do Processo sem J ulgamento do Merito Art. 51. Extingue-se o processo, a!em dos casos previstos em lei: I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiencias do processo; II - quando inadmissfvel o procediment0 institufdo por esta Lei ou seu prosseguimento, ap6s a concilia<;ao; III - quando for reconhecida a incompetencia territorial; IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos previstos no art. 8.0 desta Lei; V - quando, falecido o autor, a habilita<;ao depender de senten~a ou nao se der no prazo de trinta dias; VI - quando, falecido o reu, o autor nao promover a cita~ao dos sucessores no prazo de trinta dias da ciencia do fato. § 1.0 A extin~ao do processo independera, em qualquer hip6tese, da previa intima<;ao pessoal das partes. § 2. 0 No caso do inciso I deste artigo, quando comprovar que a ausencia decorre de fon;a maior, a parte podeni ser isentada, pelo Juiz, do pagamento das custas. Se<;iio XV Da Execu<;ao Art. 52. A execu<;iio da senten<;a processar-se-a no proprio Juizado, aplicando-se, no que couber, o disposto no Codigo de Processo Civil, com as seguintes altera~6es: 45 LEI 9.099195 I - as senten~as seriio necessariamente lfquidas, contendo a conversao em Bonus do Tesouro Nacional - BTN ou fndice equivalente; II - os calculos de conversao de indices, de hononirios, de juros e de outras parcelas serao efetuados por servidor judicial; III - a intima<;ao da senten~a sen\ feita, sempre que possfvel, na propria audiencia em que for proferida. Nessa intima9iio, o vencido sera instado a cumprir a senten<;a tao logo ocorra seu transito em julgado, e advertido dos efeitos .do seu descumprimento (inciso V); IV - nao cumprida voluntariamente a senten<;a transitada em julgado, e tendo havido solicita~ao do interessado, que poden\ ser verbal, proceder-se-a desde logo a execu~ao, dispensada nova cita~ao; V - nos casos de obriga~ao de entregar, de fazer, ou de niio fazer, o Juiz, na senten~a ou na fase de execu<;iio, cominani multa diaria, arbitrada de acordo com as condi<;iies economicas do devedor, para a hip6teses de inadimplemento. Nao cumprida a obrigaqao, o erector podeni requerer a eleva~ao da multa ou a transforma~ao da condena~ao em perdase danos, que o Juiz de imediato arbitrani, seguindo-se a execu~ao por quantia certa, inclufda a multa vencida de obriga9ao de dar, quando evidenciada a malfcia do devedor na execu~iio do julgado; VI - na obriga~ao de fazer, o Juiz pode determinar o cumpri- mento por outrem, fixado o valor que o devedor deve depositar para as despesas, sob pena de multa diaria; VII - na aliena~ao .for<;ada dos bens, o Juiz podeni autorizar o devedor, o erector ou terceira pessoa id6nea a t;-atar da aliena~ao do bern penhorado, a qual se aperfei~oan\ em jufzo ate a data fixada para a pra<;a ou lei lao. Sen do o pre<;o inferior ao da avalia9iio, as partes serao ouvidas. Se o pagamento nao for a vista, seni oferecida cauqao id6nea, nos casas de aliena~ao de bern m6vel, ou hipotecado o imovel; VIII - e dispensada a publica~ao de editais em jornais, quando se tratar de aliena<;ao de bens de pequeno valor; IX - o devedor podeni oferecer embargos, nos autos da execu~ao, versando sobre: a) falta ou nulidade da citaqao no processo, se ele correu a revelia: b) manifesto excesso de execw;ao; c) erro de calculo; d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obriga<;ao, superveniente a senten~a. JUIZADOS ESPECIAL\ ,_., :.\IINAIS 46 Art. 53. A execu9Gr_ ·_., titulo executivo extrajudicial, no valor de ate quarenta sahirios c-'- :nos, obedeceni ao disposto no C6digo de Processo Civil, cor: , modifica96es introduzidas por esta Lei. § l.o Efetuada ' :.-::nhora, o devedor sera intimado a comparecer a audiencia de conc:::u;0 , quando podeni oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou . •ocbalmente. § 2. 0 Na auditn:.e:, sera buscado o meio mais nipido e eficaz para a solu91io do litfg:·., se possfvel com dispensa da aliena91io judicial, devendo o conciliad•,: propor, entre outras medidas cabiveis, o pagamento do debito , prazo ou a presta91io, a da9ao em pagamento ou a imediata adjudisar;ao do bern penhorado. § 3.o Nao apreser,tados os embargos em audiencia, ou julgados improcedentes, qualquer ctas partes podera requerer ao Juiz a ado9ao de uma das alternati vas do paragrafo anterior. § 4.o Nao encontrado 0 devedor ou inexistindo bens penhoraveis, 0 processo Sera imediatamente extinto, devolvendo-se OS documentOS ao autor. Se9ao XVI Das Despesas Art. 54. 0 acesso ao .I u i zado Especial independera, em primeiro grau de jurisdi91io, do pagamento de custas, taxas ou despesas. Paragrafo unico. 0 preparo do recurso, na forma do § l.o do art. 42 desta Lei, comprcendera todas as despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdi9ao, ressalvada a hip6tese de assistencia judiciaria gratuita. Art. 55. A senten9a de primeiro grau nao condenara o vencido em custas e honorarios de advogado, ressalvados os casos de litigancia de ma-fe. Em segundo grau, 0 recorrente, vencido, pagara as custas e hononirios de advogado, que serao fixados entre dez por cento e vinte por cento do valor da condena9ao ou, nao havendo condena9ao, do valor corrigido da causa. Paragrafo dnico. Na execu9ao nao serao contadas custas, salvo quando: I - reconhecida a litigancia de ma-fe; 47 LEI 9.099/95 II - improcedentes os embargos do devedor; III - tratar-se de execu9ao de senten9a que tenha sido objeto de recurso improvido do devedor. Se9ao XVII Disposi9oes Finais Art. 56. Institufdo o Juizado Especial, serao implantadas as curadorias necessarias e o servi90 de assistencia judiciaria. Art. 57. 0 acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, podera ser homologado, no juizo competente, independentemente de termo, valendo a sentenp como titulo executivo judicial. Paragrafo unico. Valera como titulo extrajudicial o acordo cele- brado pelas partes, por instrumento escrito, referendado pelo 6rgao competente do Ministerio Publico. Art. 58. As normas de organiza9ao judiciaria local poderao estender a concilia9ao prevista nos arts. 22 e 23 a causas nao abrangidas por esta Lei. Art. 59. Nao se admitira a9ao rescis6ria nas causas sujeitas ao procedimento institufdo por esta Lei. Capitulo III DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAlS DISPOSH,::OES GERAIS Art. 60. 0 Juizado Especial Criminal, provido por Jufzes togados ou togados e leigos, tern competencia para a conciliayao, o julgamento e a execu9ao das infra96es penais de menor potencial ofensivo. Art. 61. Consideram-se infra96es penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contraven96es penais e os crimes a que a lei comine pena maxima nao superior a urn ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. Art. 62. 0 processo perante o Juizado Especial orientar-se-a pelos criterios da oralidade, informa!idade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possfvel, a repara9ao dos danos sofridos pela Vftima e a aplica9ao de pena nao privativa de liberdade. ) ) ) ) ;> ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) :1 ) ) ) } I j ) I ) ) ) ) ) ) JUIZADOS ESPEC!AIS CRIMINAlS 48 Se~iio I Da Competencia e dos Atos Processnais Art. 63. A competencia do Juizado sera determinada pelo Iugar em que foi praticada a infraqao penal. Art. 64. Os atos processuais serao publicos e poderao realizar-se em horario noturno e em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organizaqao judiciaria. Art. 65. Os atos processuais serao validos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os criterios indicados no art. 62 desta Lei. § I. 0 Nao se pronunciani qualquer nulidade sem que tenha havido prejuizo. § 2. o A pratica de atos processuais em outras comarcas podera ser solicitada por qualquer meio Mbil de comunicaqao. § 3.0 Serao objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiencia de instruqao e julgamento poderao ser gravados em fita magnetica ou equivalente. Art. 66. A citaqao seni pessoal e far-se-a no proprio Juizado, sempre que possfvel, ou por mandado. Panigrafo unico. Nao encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhara as peqas existentes ao Juizo comum para adoqao do procedimento previsto em lei. Art.67. A intimaqao far-se-a por correspondencia, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurfdica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepqao, que sera obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessaria, por oficial de justiqa, independentemente de mandado ou carta precat6ria, ou ainda por qualquer meio idoneo de comunicaqao. Panigrafo tinico. Dos atos praticados em audiencia considerar-se- ao desde logo cientes as partes, os interessados e defensores. Art. 68. Do ato de intimaqao do autor do fato e do mandado de citaqao do acusado, constara a necessidade de seu comparecimento acompa- nhado de advogado, com a advertencia de que, na sua falta, ser-lhe- a designado defensor publico. LEI 9.099/95 49 Se~iio II Da Fase Preliminar Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrencia lavrara termo circunstanciado e o encaminhan\ imediz,tamente ao Juizado, com o autor do fato e a vftima, providenciando-se as requisiqoes dos exames periciais necessaries. Panigrafo unico. Ao autor do fato que, ap6s a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, nao se impora prisao em flagrante, nem se exigira fianqa. Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vitima, e nao sendo passive! a realizaqao imediata da audiencia preliminar, sera designada data proxima, da qual ambos sairao cientes. Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria providenciani sua intimaqao e, se for o caso, a do responsavel civil, na forma dos arts.
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