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2017 Políticas Educacionais Prof.ª Mônica Maria Baruffi Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof.ª Mônica Maria Baruffi Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 379 B295p Baruffi; Mônica Maria Políticas educacionais / Mônica Maria Baruffi: UNIASSELVI, 2017. 200 p. : il. ISBN 978-85-515-0054-5 1.Educação e Estado – Políticas Públicas. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III aPrEsEntação Caros acadêmicos! A educação brasileira passa por diversas mudanças, as quais são importantes em sua estruturação. Assim, é necessário o estudo e reflexão à luz das políticas governamentais. Neste caderno de estudos, você, acadêmico, visualizará e reconhecerá as mudanças ocorridas até o momento na educação brasileira, a partir da Lei nº 9.394/96, juntamente com a Constituição Federal, ambas importantes no processo político deste país. Essas mudanças marcaram e ainda marcam o cenário federal, estadual e municipal, influenciando nos programas e nas políticas públicas, principalmente na educação, nosso foco neste caderno de estudos. Veremos também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de maneira dialógica, observando seus artigos e sua funcionalidade. Na primeira unidade, trataremos das Políticas Públicas na Educação, com a Constituição Federal e sua influência na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, reconheceremos o histórico da LDB e sua influência na estrutura educacional em todas as esferas governamentais. Na segunda unidade trazemos a você, a comunicação existente entre globalização e as políticas públicas, falaremos sobre as instituições formadoras do sistema educacional brasileiro, e a organização e gestão escolar coletiva. Na terceira unidade, tratamos da identidade da escola, a organização e gestão frente às políticas públicas, identificaremos as competências do professor na escola e da equipe gestora, reconheceremos as áreas de atuação dos membros da escola e os instrumentos da estruturação política educacional nas escolas. Este caderno tem a finalidade de auxiliar a você, acadêmico, em sua formação e discutir as temáticas referentes às políticas públicas na área educacional. Acreditamos que você poderá reconhecer a importância das políticas educacionais através desta leitura, que para sua formação é essencial! Ótimo estudo! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! UNI Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII sumário UNIDADE 1 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO ...................................................... 1 TÓPICO 1 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO .......................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS? ............................................................................................ 3 2.1 COMO SE FAZ POLÍTICAS PÚBLICAS? .................................................................................... 7 2.2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A EDUCAÇÃO ..................................................................... 11 3 LIGAÇÃO ENTRE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO ......................................................................................................................................... 30 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 34 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 36 TÓPICO 2 – A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 ................................. 39 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 39 2 COMO SITUAR-SE SOBRE A LDB ................................................................................................. 39 3 A LDB E SUA ESTRUTURAÇÃO ..................................................................................................... 44 4 BREVE ANÁLISE DOS TÍTULOS DA LDB ................................................................................... 45 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 69 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 71 TÓPICO 3 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, SUA ORGANIZAÇÃO E RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS ..................................................................................... 73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 73 2 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – HISTÓRICO ............................................................... 73 3 O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (2011 – 2020) ............................................................... 77 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 81 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 82 UNIDADE 2 – POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS .............. 83 TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS .................. 85 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................85 2 A GLOBALIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS ................................................................................................................................ 85 3 NOVAS REALIDADES SOCIAIS E AS REFORMAS EDUCATIVAS NO BRASIL .............. 91 4 REVOLUÇÃO INFORMACIONAL ................................................................................................. 94 5 NÍVEIS E MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E ENSINO .......................................................... 99 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 125 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 126 TÓPICO 2 – AS INSTITUIÇÕES FORMADORAS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO .................................................................................................................... 129 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 129 VIII 2 PROGRAMAS DO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO ......................................................................................................................................... 129 3 OS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO NACIONAL ................................................................ 132 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 136 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 137 TÓPICO 3 – A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR COLETIVA ........................................ 139 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 139 2 CONCEITUANDO ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ....................................................................... 139 3 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PÚBLICA ................................................................................... 141 4 OBJETIVOS DA ESCOLA E AS PRÁTICAS DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ................... 143 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 146 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 147 UNIDADE 3 – A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS .............. 149 TÓPICO 1 – A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS .................. 151 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 151 2 A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR: LUGAR DE APRENDIZAGEM ............................................. 151 2.1 PAPEL DO GESTOR ESCOLAR ................................................................................................... 153 2.2 PAPEL DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA ......................................................................... 155 2.3 PAPEL DO PEDAGOGO ............................................................................................................... 156 2.4 PAPEL DO ALUNO ........................................................................................................................ 157 2.5 COLABORADORES ....................................................................................................................... 157 3 A GESTÃO PARTICIPATIVA E A CULTURA ORGANIZACIONAL NA ESCOLA ............. 158 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 162 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 163 TÓPICO 2 – A APRENDIZAGEM E AS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E DA GESTÃO ESCOLAR ............................................................................................. 165 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 165 2 AS FUNÇÕES ESSENCIAIS NO SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO E DE GESTÃO ESCOLAR .............................................................................................................................................. 165 3 ORGANIZAÇÃO E DESEMPENHO DO CURRÍCULO ............................................................. 170 4 A FORMAÇÃO CONTINUADA ...................................................................................................... 171 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 175 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 176 TÓPICO 3 – A GESTÃO PARTICIPATIVA CONTINUANDO A CONSTRUÇÃO E PLANEJAMENTO DE UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA ....................................... 179 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 179 2 OS MECANISMOS DA ESTRUTURAÇÃO POLÍTICA EDUCACIONAL NA ESCOLA .... 179 2.1 CONSELHOS ESCOLARES ........................................................................................................... 180 2.2 GRÊMIOS ESTUDANTIS ............................................................................................................... 180 2.3 APPs – ASSOCIAÇÃO DE PAIS E PROFESSORES .................................................................... 181 2.4 A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL DA ESCOLA E DA APRENDIZAGEM ......................... 182 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 184 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 191 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 192 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 195 1 UNIDADE 1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • conhecer aspectos relacionados ao conceito de políticas públicas e sua fun- cionalidade; • entender o que é a Constituição Federal e sua influência na Lei de Diretri- zes e Bases da Educação; • reconhecer o histórico da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação; • conhecer o envolvimento entre a LDB e as esferas federal, estadual e mu- nicipal; • entender a LDB e sua organização com as políticas públicas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada tópico você encontrará atividades que o ajudarão a refletir e fixar os conteúdos abordados. TÓPICO 1 – AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO TÓPICO 2 – A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 TÓPICO 3 – A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, SUA ORGANIZAÇÃO E RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS Assista ao vídeo desta unidade. 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, estamos iniciando o Caderno de Estudos de Políticas Educacionais e queremos, neste tópico, apresentara você, alguns conceitos relacionados às políticas públicas e qual o seu envolvimento com a educação. Assim, a Constituição Federal também fará parte deste estudo, além de nossa carta magna na educação, a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Afinal, que ligação tem as políticas públicas, a Constituição Federal e a LDB para o trabalho desenvolvido na esfera educacional? É significativa a interação entre elas e cabe a nós, acadêmicos e futuros profissionais da educação, compreendermos esta ligação, a qual determina o bom funcionamento ou não dos projetos desenvolvidos pelas esferas federais, estaduais e municipais. Cabe ressaltar, prezado acadêmico, que você está sendo convidado a analisar, refletir, questionar e construir novas ideias a partir dos conhecimentos que serão apresentados a você a partir deste momento. Vamos à leitura! 2 O QUE SÃO POLÍTICAS PÚBLICAS? Acadêmico, se você fosse perguntado sobre o que são políticas públicas, qual seria sua resposta? Acreditamos que, inicialmente, você pararia e refletiria sobre o tema. É algo natural do ser humano, que ao ser questionado, por alguns segundos ou minutos pare e reflita sobre o que foi perguntado. A esta pergunta pensamos que sua resposta possa estar relacionada a uma visão prática do dia a dia, mas como? Existem outras formas de visualizarmos as políticas públicas? Vejamos! As políticas públicas possuem sua história e conceitos, conforme o Manual de Políticas Públicas: conceitos e práticas do Sebrae, coordenado por Caldas (2008, p. 5): UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 4 A função que o Estado desempenha em nossa sociedade sofreu inúmeras transformações ao passar do tempo. No século XVIII e XIX, seu principal objetivo era a segurança pública e a defesa externa em caso de ataque inimigo. Entretanto, com o aprofundamento e expansão da democracia, as responsabilidades do Estado se diversificaram. Atualmente, é comum se afirmar que a função do Estado é promover o bem-estar da sociedade. Para tanto, ele necessita desenvolver uma série de ações e atuar diretamente em diferentes áreas, tais como saúde, educação, meio ambiente. Assim, observa-se que o Estado passou e passa por transformações, as quais são acompanhadas por toda a sociedade. Se antes a preocupação encontrava- se direcionada à defesa do território, hoje, além da defesa do território nacional, as preocupações voltam-se também para as áreas da saúde, segurança pública, educação, meio ambiente. Mesmo que saibamos da fragilidade em muitas dessas áreas, o Estado necessita voltar a se organizar e buscar soluções para a fortificação delas, pois a população necessita dessas ações. Desta forma, falar em políticas públicas para alguns é o mesmo que ser utópico, pois elas não surtem efeitos desejáveis. Sim, vivemos uma realidade delicada e repleta de problemas, os quais precisam ser passados a limpo. Mesmo que muitos não acreditem, já se deixaram levar pelo descrédito da política, mesmo assim são necessários movimentos que reformulem todo o sistema em que o Estado se encontra, para assim determinarmos as ações e os programas para a melhoria e estabilidade das áreas de segurança pública, saúde, educação, dentre outras. E como afirma Oscar Wilde em uma de suas célebres frases e utilizada por Mário Luiz Neves de Azevedo (2008, p. 9) na apresentação do livro Políticas Públicas Contemporâneas: “Isto é utópico? Um mapa-múndi que não inclua a Utopia não é digno de consulta”. Neste caderno, a utopia em sua mais elevada significação será utilizada e levará você, acadêmico, a refletir sobre como, por que e para que são utilizadas as políticas públicas e como essas influenciam em nosso cotidiano. Ainda conforme Azevedo (2008, p. 18), “escrever sobre Políticas Públicas é tratar, essencialmente, sobre projetos em construção que dependem da visão de mundo dos seus promotores”. Afinal, o que são essas políticas públicas? Vamos buscar respostas em nosso dia a dia. Em cada momento de nossa vida, em nosso cotidiano, estamos envoltos por regras que determinam nossa maneira de agir, pensar, conviver e determinam o processo de construção econômica, política e social de um país, de nossas vidas e da sociedade num todo. Em muitos momentos estas políticas passam despercebidas, mas elas encontram-se dentro da história da humanidade. Podemos relatar também TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 5 forte influência na Grécia Antiga, onde a palavra política tem seu berço, onde filósofos como Aristóteles e Platão foram os precursores desta ciência. Cabe, aqui, perguntarmos: política é uma ciência? Sim, a política é uma ciência, a qual “determina quais são as ciências necessárias nas cidades, quais as que cada cidadão deve aprender” (ABBAGNANO, 2000, p. 773). Perante o apresentado na citação, podemos perceber que as políticas são as regras de organização e de convivência necessárias para que uma cidade, um estado e país consigam se desenvolver e viver em harmonia, sendo os governantes os responsáveis pelos caminhos a serem traçados para a melhoria da qualidade de vida da população envolvida. Ao buscarmos respostas referentes ao que é Política Pública, encontramos diversas definições que nos remetem à organização, a estudos voltados às ações a serem empregadas para o bem-estar da sociedade. Como afirma Santos (2012, p. 5): “Políticas públicas são ações geradas na esfera do Estado e que têm como objetivo atingir a sociedade como um todo ou partes dela”. Cabe ressaltar que as políticas públicas são também de nossa responsabilidade, enquanto cidadãos, que buscam melhoria de vida. As políticas públicas terão eficácia, a partir do momento que os cidadãos compreendam como ocorre a criação dessas políticas (ações, programas) nas esferas federais, estaduais e principalmente nas que estão bem próximas de cada um de nós, e que estão sendo desenvolvidas, as municipais. Estas ações também ocorrem dentro e fora de nossas residências, e somos nós, também responsáveis pela sua aplicabilidade, transparência e eficácia. Como? Eu responsável por políticas públicas? Isso não compete somente aos governantes? Sim, compete a eles, mas também a cada cidadão, que possui a responsabilidade de cobrar e de fazer cumprir as leis através de ações. Fica claro que a política, segundo Santos (2012, p. 2), “[...] sempre está ligada ao exercício do poder em sociedade, seja em nível individual, quando se trata das ações de comando, seja em nível coletivo, quando um grupo (ou toda sociedade) exerce o controle das relações de poder em uma sociedade”. De acordo com o mesmo autor, podemos perceber que, independentemente do nível, seja individual ou coletivo, a política está presente e vem acompanhada de outra palavra, que é o poder. O poder é algo que se encontra impregnado dentro de todas as áreas de estruturação profissional ou política. Este poder pode ser compreendido como algo positivo ou negativo. Positivo no sentido de ser compreendido como um processo de transformação de uma sociedade, voltada às bem feitorias, à visão de uma sociedade em que todos possuam seus direitos e seus deveres. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 6 No aspecto negativo, pode levar o detentor do poder a tornar-se um dominador, sem a preocupação com a qualidade de vida da população. Conforme Santos (2012, p. 2), o termo poder é “capacidade ou propriedade de obrigar alguém a fazer alguma coisa”. O autor ainda expõe que: “Nesse sentido, é importante ressaltar que o poder (em suas mais variadas manifestações) pode ser exercido mediante o uso da coação e/ou da persuasão. Em matéria de política, ambas as opções são tidas como válidas, tudo depende de quem exerce o poder e de como opta por exercê-lo” (SANTOS, 2012, p. 2). Diante do exposto, observa-se que a política possui váriaspossibilidades, dentre elas nos deparamos com as que nos levam a construir uma sociedade com direitos e deveres bem estruturados, ou a que nos leva a termos uma sociedade totalmente desestruturada e mantida como refém de suas ações. Frente a isso, as políticas públicas são as ações que determinam como, por que e para que servirão. E elas, conforme Marinho (2006, p. 1), são de “responsabilidade do Estado, com base em organismos políticos e entidades da sociedade civil, se estabelece um processo de tomada de decisões que resultam nas normatizações do país, ou seja, nossa Legislação”. Assim, as políticas públicas retratam não só questões acerca da economia, mas do envolvimento de diversos segmentos, contendo condições e possibilidades de desenvolver mecanismos que auxiliem no crescimento e qualidade de vida da população. Cabe ressaltar que as políticas públicas recebem diversas definições, Souza (2006, p. 26) as define como: O campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, ‘colocar o governo em ação’ e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real. Assim, podemos definir políticas públicas como as ações que os governantes utilizam para realizar um governo voltado à melhoria da qualidade de vida da população, da economia, da educação, da segurança pública, enfim, dando ao seu país, estado ou município possibilidades de crescimento. Tendo essas ações e programas voltados a esses segmentos, pode-se perceber que todos, independentemente de nível econômico, terão possibilidades de crescimento e de manutenção da qualidade de vida. Agora surge outra pergunta: como são elaborados os programas, como se faz as políticas públicas? Vamos elucidar essas dúvidas! TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 7 2.1 COMO SE FAZ POLÍTICAS PÚBLICAS? Seguindo o raciocínio, observamos que as políticas públicas são então as ações, programas desenvolvidos pelos governantes, as quais são prioridade. [...] as Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. É certo que as ações que os dirigentes públicos (os governantes ou os tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade, ou seja, o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade (CALDAS, 2008, p. 5). Independentemente das participações ou não da sociedade nas ações que envolvem a melhoria do bem-estar da sociedade, enquanto cidadãos necessitamos nos manter atentos e participativos nas ações que os governantes desenvolvem em nosso país, estado e município. Alguns poderão estar incomodados com a apresentação da última parte da citação de Caldas (2008, p. 5): “o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade”. Por que isso ocorre? O autor explica: Isto ocorre porque a sociedade não consegue se expressar de forma integral. Ela faz solicitações (pedidos ou demandas) para os seus representantes (deputados, senadores e vereadores) e estes mobilizam os membros do Poder Executivo, que também foram eleitos (tais como prefeitos, governadores e inclusive o próprio Presidente da República) para que atendam às demandas da população. As demandas da sociedade são apresentadas aos dirigentes públicos por meio de grupos organizados, no que se denomina de Sociedade Civil Organizada (SCO), a qual inclui, conforme apontado acima, sindicatos, entidades de representação empresarial, associação de moradores, associações patronais e ONGs em geral (CALDAS, 2008, p. 5-6). Dessa forma, nós, cidadãos, necessitamos nos organizar em nossa rua, através de associação de bairros, para assim ir em busca de soluções para os problemas que envolvem nossa comunidade. Sabemos das dificuldades financeiras que as instituições governamentais passam, principalmente as municipais, são inúmeras. [...] os recursos para atender a todas as demandas da sociedade e seus diversos grupos (a SCO) são limitados ou escas sos. Como consequência, os bens e serviços públicos desejados pelos diversos indivíduos se transformam em motivo de disputa. Assim, para aumentar as possibilidades de êxito na competição, indivíduos que têm os mesmos objetivos tendem a se unir, formando grupos. Observe, acadêmico, que as palavras de Caldas nos remetem à ideia de competição, embate na possibilidade de busca de resultados que deem à população melhores condições de vida. Ainda ressalta Caldas (2008, p. 6) com relação à questão do embate: UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 8 Não se deve imaginar que os conflitos e as disputas na socieda de sejam algo necessariamente ruim ou negativo. Os conflitos e as disputas servem como estímulos a mudanças e melhorias na sociedade, se ocorrerem dentro dos limites da lei e desde que não coloquem em risco as instituições. Com isso, podemos determinar que a organização da sociedade civil precisa estar presente na formulação das ações que auxiliem na melhoria de todos os setores que envolvem a sociedade. Já sabemos que as políticas públicas são desenvolvidas a partir do interesse dos governantes e recebidas as ideias da sociedade organizada. Outro fator a ser observado na elaboração das políticas públicas é que nem sempre as ações desenvolvidas ou solicitadas pela sociedade civil organizada são atendidas, e a sociedade necessita buscar ajuda ou apoio em outros grupos organizados para que suas reivindicações sejam aceitas. Em outro momento, pode ocorrer um embate, conforme apresentado anteriormente por Caldas (2008), e isso não deve ser visto como um momento de revolta, mas de busca de soluções. Estes embates ocorrem devido ao que nos apresenta Caldas (2008, p. 6), quando diz que: “as sociedades contemporâneas se caracterizam por sua diver- sidade, tanto em termos de idade, religião, etnia, língua, renda, profissão, como de ideias, valores, interesses e aspirações” e acabam também tendo sua maneira de pensar e agir com relação a determinadas situações. Para alguns, ações como a melhoria da pracinha do bairro não é condizente com os seus interesses e preferem que as melhorias sejam realizadas em outros setores. Para que não ocorram embates mais fervorosos é preciso o diálogo e a organização. Quem são os atores que criam essas Políticas Públicas? Qual é a logística desse processo? No processo de discussão, criação e execução das Políticas Públi cas, encontramos basicamente dois tipos de atores: os ‘estatais’ (oriundos do Governo ou do Estado) e os ‘privados’ (oriundos da Sociedade Civil). Os atores estatais são aqueles que exercem fun ções públicas no Estado, tendo sido eleitos pela sociedade para um cargo por tempo determinado (os políticos), ou atuando de forma permanente, como os servidores públicos (que operam a burocracia) (CALDAS, 2008, p. 8). Cada um desses atores possui uma função determinada. Os atores estatais (os políticos) buscam no período das campanhas políticas apresentar programas e ações que poderão vir a ser desenvolvidas, sendo que as Políticas Públicas são definidas pelo poder legislativo. Entretanto, as propostas das Políticas Públicas partem do Poder Executivo, e é esse Poder que efetivamente as coloca em prática. Cabe aos servidores públicos (a burocracia) oferecer as informa- ções necessárias ao processo de tomada de decisão dos políticos, bem como operacionalizar as Políticas Públicas definidas. Em princípio, a burocracia é politicamente neutra,mas frequente mente age de acordo com interesses pessoais, ajudando ou difi cultando as ações governamentais. Assim, o funcionalismo público compõe um elemento essencial para o bom desempenho das diretrizes adotadas pelo governo (CALDAS, 2008, p. 8). TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 9 Os atores privados (sociedade civil) são os que não possuem ligação direta com o setor administrativo do Estado. São eles: • A imprensa. • Os centros de pesquisa. • Os grupos de pressão, os grupos de interesse e os lobbies. • As Associações da Sociedade Civil Organizada (SCO). • As entidades de representação empresarial. • Os sindicatos patronais. • Os sindicatos de trabalhadores. • Outras entidades representativas da Sociedade Civil Organiza da (SCO) (CALDAS, 2008, p. 9). Além dos que foram apresentados acima, existem outros atores, como os que fazem parte da área do turismo, da cultura, que também são da área privada e podem fazer parte desse processo. Com o que foi apresentado até o momento, sabemos quem são os atores do processo. Cabe agora determinarmos os caminhos, os estágios ou fases que são necessários seguir para a formulação até a execução das Políticas Públicas. As Políticas Públicas possuem seus estágios, os quais assim se apresentam, segundo Caldas (2008, p. 7): • Primeira fase – Formação da Agenda (Seleção das Priori dades). • Segunda fase – Formulação de Políticas (Apresentação de Soluções ou Alternativas). • Terceira fase – Processo de Tomada de Decisão (Escolha das Ações). • Quarta fase – Implementação (ou Execução das Ações). • Quinta fase – Avaliação. Cabe ressaltar que estas fases possuem uma ligação, elas estão somente apresentadas separadamente para melhor compreensão do processo. Com relação às fases, vamos identificá-las uma a uma e assim você, acadêmico, compreenderá melhor esse processo de criação de novas Políticas Públicas. Segundo Caldas (2008), a primeira fase, determinada como Formação da Agenda, busca organizar e detectar quais são os problemas existentes na sociedade e determinar os valores necessários para a sua elaboração. Caldas (2008, p. 10-11) defende que “tal processo envolve a emergência, o reconhecimento e a definição das questões que serão tratadas e, como consequência, quais serão deixadas de lado”. Na segunda fase, temos a Formulação de Políticas, onde ocorre a seleção das prioridades, verifica-se quais são as que necessitam ser aceitas ou não. A partir do momento em que uma situação é vista como proble ma e, por isso, se insere na Agenda Governamental, é necessário definir as linhas de ação que serão adotadas para solucioná-lo. Este processo, no entanto, não ocorre de maneira pacífica, uma vez que geralmente alguns grupos considerarão determinadas formas UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 10 de ação favorável a eles, enquanto outros a considerarão prejudicial, iniciando-se assim um embate político. Esse é o momento em que deve ser definido qual é o objetivo da política, quais serão os programas desenvolvidos e as metas al mejadas, o que significa a rejeição de várias propostas de ação. Certamente essa escolha, além de se preocupar com o posicio namento dos grupos sociais, necessita ser feita ouvindo o corpo técnico da administração pública, inclusive no que se refere aos recursos – materiais, econômicos, técnicos, pessoais, dentre ou tros – disponíveis (CALDAS, 2008, p. 11). Cabe observar que nesta fase é importante uma relação de dialogicidade com todos os setores envolvidos, pois sabendo ouvir as partes envolvidas, no caso os segmentos administrativos e econômicos, conseguir-se-á determinar se estas ações são ou não possíveis de serem levadas adiante. “Outra análise importante se refere aos riscos que cada alternativa traz, desenvolvendo uma forma de compará- las e de medir qual é mais eficaz e eficiente para aten der ao objetivo e aos interesses sociais” (CALDAS, 2008, p. 13). Já na terceira fase temos o Processo de Tomada de Decisões, em que os governantes junto às Políticas Públicas tomam decisões. Segundo Caldas (2008, p. 13): [...] a fase de tomada de decisões pode ser de finida como o momento onde se escolhe alternativas de ação/intervenção em resposta aos problemas definidos na Agenda. É o momento onde se define, por exemplo, os recursos e o prazo temporal de ação da política. As escolhas feitas nesse momento são expressas em leis, decretos, normas, resoluções, dentre ou tros atos da administração pública. Outro passo importante, nessa fase, é se definir como se dará o processo de tomada de decisões, ou seja, qual o procedimento que se deve seguir antes de decidir algo. Primeiramente, de verá se decidir quem participará do processo, se este será aberto ou fechado. Quando Caldas trata da participação ou não no processo de tomada de decisões, ele está apresentando a possibilidade dos governantes de abrirem espaço para a sociedade civil participar ou não. Se for uma participação aberta, os governantes necessitam determinar se haverá consulta dos favorecidos. No caso de se prever tal tipo de consulta (como, por exemplo, no Orçamento Participa tivo), é necessário estabelecer se a decisão será ou não tomada por votação, as regras em torno da mesma, o número de graus (direta ou indireta) que envolverá a consulta que será feita aos eleitores etc. Essa definição é fundamental pelo fato de que dife- rentes formas de decisão podem apresentar diferentes controla dores da Agenda e resultar em decisões diferentes (CALDAS, 2008, p. 14). Na quarta fase temos a Implementação, na qual as ações serão realizadas, é o momento de colocar o projeto em ação. Para isso o setor administrativo passa a executar o projeto. Cabe salientar que durante o processo de execução do projeto podem ocorrer mudanças drásticas, dependendo da postura do poder administrativo. TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 11 E por último, temos a fase de Avaliação, a qual deve estar em permanente ação, desde o primeiro momento do estágio ou fases da elaboração das Políticas Públicas. A avaliação, em sua estrutura, mostra aos gestores quais as ações que foram bem desenvolvidas e as que deixaram lacunas. Dessa forma, a avaliação acaba sendo uma ferramenta de aprendizado e dando aos administradores respostas das ações ali empregadas. De maneira geral, o processo de avaliação de uma política leva em conta seus impactos e as funções cumpridas pela política. Além disso, busca determinar sua relevância, analisar a efici ência, eficácia e sustentabilidade das ações desenvolvidas, bem como servir como um meio de aprendizado para os atores públicos (CALDAS, 2008, p. 19). Diante do exposto, podemos perceber que as Políticas Públicas serão realmente determinantes e eficazes se ocorrer uma boa administração política. Segundo Caldas (2008, p. 19), ela será uma boa política se cumprir as seguintes funções: • Promover e melhorar os níveis de cooperação entre os atores envolvidos. • Constituir-se num programa factível, isto é, implementável. • Reduzir a incerteza sobre as consequências das escolhas feitas. • Evitar o deslocamento da solução de um problema político por meio da transferência ou adiamento para outra arena, momen to ou grupo. • Ampliar as opções políticas futuras e não presumir valores do minantes e interesses futuros nem predizer a evolução dos conhecimentos. Uma boa política deveria evitar fechar possí veis alternativas de ação. Você deve estar se perguntando: para que eu necessito saber sobre estas questões? A partir do momento que você inicia um processo de reconhecimento das ações que são desenvolvidas e elaboradas pelo sistema governamental, seja ele a nível federal, estadual ou municipal, você poderá compreender e dar sua parcela de participação no processo de construçãode novas ações e programas, principalmente no que diz respeito às áreas que são de maior importância para você, sua comunidade e com relação a sua vida profissional. Frente ao exposto, vamos seguir nosso caminho, pois, depois de reconhecermos o que são as Políticas Públicas, sua função e sua elaboração, passaremos a tratar de outro documento em que também foi necessária a participação dos vários segmentos da sociedade civil organizada para sua elaboração. Estamos falando da Constituição Federal. 2.2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A EDUCAÇÃO A Constituição Federal é a carta magna de um Estado Democrático, nela estão contidas todas as leis que regem o sistema governamental. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 12 Conforme Machado e Cunha (2016, p. 23), “a Constituição de um Estado Democrático é a cartilha na qual os cidadãos apreendem os fundamentos e a proteção de seus direitos, a disciplina da atuação e dos limites do Poder Estatal e a função social da comunidade”. Nosso país, o Brasil, possui sua Constituição, por ser um Estado Democrático, e nessa constituição estão elencados todos os segmentos que formam a estrutura governamental. A Constituição Brasileira foi promulgada em 5 de outubro de 1988 “fruto da convocação da Assembleia Nacional Constituinte pela Emenda nº 26, de 17.11.1985, e de sua posterior aprovação por essa mesma Assembleia (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 23). No que diz respeito a sua organização, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estava assim composta em sua composição original, conforme Machado e Cunha (2016, p. 23): [...] com 245 artigos em suas Disposições Permanentes (note-se que inúmeros artigos são compostos de vários incisos, parágrafos e alíneas, tais como os arts. 5º, 271, 22, 24, 155, entre outros) e 70 artigos em suas Disposições Transitórias (também com incisos e parágrafos, a exemplo dos arts. 27 e 47). Observa-se que a Constituição Brasileira possui, após seus 21 anos de existência, uma nova roupagem, sendo que: [...] foram aprovadas 62 emendas constitucionais, além de seis emendas de revisão. [...] Enfim, a Constituição em vigor conta agora com 250 artigos na Parte Permanente (alguns artigos ainda acrescidos ao texto com numeração sequencial alfabética – 103-A, 146-A etc.) e 97 artigos no Ato das Disposições Transitórias (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 24). Outro fator importante a ser ressaltado nesta etapa da construção da Constituição Federal são os princípios fundamentais, que cada cidadão brasileiro deve saber e que são a base da Constituição. O vocábulo princípio, do latim principium, traz à mente a noção genérica de início, começo, origem ou causa. Em sentido jurídico, princípio é norma que expressa os valores mais altos da sociedade, de tal forma que, integrado na ordem Constitucional, passa a orientar todas as demais normas e regras do ordenamento jurídico que ela baliza (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 3). Ainda conforme Machado e Cunha (2016, p. 3), “os princípios são os fundamentos com base nos quais serão previstas as regras que tem por finalidade fazê-los efetivos em determinada ordem de disciplina”. Assim, deverão ser seguidas as regras, sob “pena de, não o fazendo, ser considerada inconstitucional, justificando sua exclusão do ordenamento jurídico” (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 3). Caro acadêmico, podemos observar com estes parágrafos iniciais que estamos diante de um documento no qual se estabelece a identidade de um TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 13 Estado Democrático, que deve ser seguido, conseguindo assim manter a ordem e o progresso de um país. AUTOATIVIDADE Vamos realizar uma parada para reflexão. Você, acadêmico, em algum momento buscou informações sobre como é nossa Constituição? Deixe sua observação nessas poucas linhas. Se a reposta for afirmativa ou se for negativa, deixe sua justificativa. ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Após este momento de reflexão, e de nos percebermos como cidadãos conscientes de nossos direitos e deveres, para assim podermos realizar as cobranças de mudança em nosso país, em todas as suas esferas, vamos continuar nossos estudos caminhando dentro desse documento maior – que é a Constituição – e verificar que em seus títulos há um que será nosso foco, que é o Título VIII, que se refere à Ordem Social. Neste título encontramos oito capítulos, sendo eles dispostos na seguinte ordem: QUADRO 1 – DISPOSIÇÕES DO TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL CAPÍTULO DA ORDEM SOCIAL ARTIGOS Capítulo I Disposições Gerais Art. 193 Capítulo II Da Segurança Social, composto pelas Seções I, II, III e IV Arts. 194 a 204 Capítulo III Da Educação, da Cultura e do Desporto. Composto por: Seção I – Da Educação Seção II – Da Cultura Seção III – Do Desporto Arts. 205 a 217 Arts. 205 a 214 Arts. 215 a 216 Art. 217 Capítulo IV Da Ciência, Tecnologia e Inovação Arts. 218 a 219 UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 14 Capítulo V Da Comunicação Social Art. 220 a 224 Capítulo VI Do Meio Ambiente Art. 225 Capítulo VII Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso Arts. 226 a 230 Capítulo VIII Dos Índios Arts. 231 a 232 FONTE: Organizado pela autora Observando o quadro acima, destacamos o Capítulo III, no qual está exposto na Seção I, o que diz respeito à Educação, nos artigos 205 a 214. Daremos maior ênfase a esta seção, pois é a que se relaciona ao nosso trabalho, com nossas vivências enquanto profissionais da educação. Você, acadêmico de licenciatura, que está buscando construir sua vida profissional, ou que já esteja nesta área e busca novos conhecimentos, é de suma importância perceber-se integrado nestes artigos que serão apresentados nesta unidade. Quando tratamos da Constituição Federal nos deparamos com a Educação, ponto crucial no desenvolvimento de um país. Se buscamos ordem e progresso necessitamos de uma educação que esteja voltada à melhoria da qualidade de vida de seus confederados. Assim, iniciamos com o Artigo 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988). Observa-se, neste artigo, dois dos grandes princípios da Constituição, que são: o direito e o dever. O direito, inicialmente, à educação para todos. Conforme Machado e Cunha (2016, p. 1081): Assim, podemos afirmar que foi atribuído a todo indivíduo brasileiro uma prerrogativa legal de exigir do Estado e da família esse direito. Ousamos afirmar ainda, que esse direito está incorporado ao patrimônio do indivíduo, sem possibilidade de reversão, por força da lei. Desse modo, todos podem exigir do Estado e da família o referido direito, porque o legislador incumbiu-lhes tal dever, ou seja, tal obrigação refere-se à regra imposta por lei. Resumindo: o legislador constituinte incumbiu ao Estado e à família o dever de prestar educação a todos. Caberá ao Estado a complementação da educação recebida em casa pelas pessoas. Cabe ressaltar que a família também é responsável diretamente pela educação das crianças, sendo ela uma parceira do Estado nesse processo. No entanto, observam-se ainda muitas lacunas referentes a essa situação, poisao referir-se ao dever da família na educação dos filhos, estes em muitos momentos transferem essa responsabilidade somente às escolas (Estado), tornando fragilizado o processo de ensino-aprendizagem. TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 15 Mesmo diante de algumas lacunas, a Constituição Federal foi e é um documento que apresentou e apresenta grandes avanços na área educacional “e a partir daí novas leis surgem para regulamentar os artigos constitucionais e estabelecer diretrizes para a educação do Brasil” (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1081). Como exemplo, podemos citar a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394, de 20.12.1996) e a Lei nº 10.172, que aprovou o PNE – Plano Nacional de Educação, documentos que trataremos com mais proximidade nas próximas páginas e unidades. Ainda tratando das questões relacionadas ao ensino e dever deste pelo Estado e família, vejamos o artigo 206 da Constituição (BRASIL, 1988): Artigo 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade; VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) Ressalta-se, neste artigo, caro acadêmico, que a garantia do ensino, a qualidade, a igualdade quanto ao acesso e permanência na escola, a liberdade de aprender, o pluralismo de ideias, gratuidade do ensino público, a gestão e valorização dos profissionais da educação estão garantidos nesses princípios. No que diz respeito à igualdade, Machado e Cunha (2016, p. 1082) afirmam que: A igualdade – um dos fundamentos básicos inerentes à própria noção de República (art., 1º da CF) e, portanto, do estado democrático de Direito, pois não é possível falar em dignidade da pessoa humana sem o respeito à igualdade e à liberdade – tratada neste inciso, vem a ser a relação de paridade, ou uniformidade, a relação de igualdade entre todas as pessoas para que possam usufruir as mesmas condições de ensino. Afinal, quando os homens se propuseram a formar uma república, fizeram-na desde que sob um Estado que outorgasse a si mesmo, por intermédio de uma Constituição, instituições que respeitassem a igualdade, vista como postulado básico à própria formação do regime republicano. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 16 CF – Constituição Federal No que diz respeito à “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber” (BRASIL, 1988), podemos observar que todos possuem o direito e a liberdade de fazer o quiserem. A palavra liberdade, em sentido amplo, vem a ser a ausência de constrangimento alheio, ou seja, é livre o homem que faz aquilo que quer e não o que o outrem determine que faça. O homem, segundo esse princípio, não deve sofrer nenhum tipo de constrangimento social quando estiver aprendendo, ensinando, pesquisando e divulgando o seu pensamento, sua arte e o seu saber (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1083). É importante ressaltar que o princípio da liberdade está relacionado ao princípio da legalidade, estabelecido no inciso II do art. 5º da CF (BRASIL, 1988): Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direto à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [...] Cabe ressaltar que a liberdade aqui apregoada se trata de perceber que cabe ao cidadão ser livre de realizar ou não determinadas ações sem ser coagido em qualquer situação. Esta situação nos remete à posição do professor em sala de aula, ao ensinar é preciso que ele tenha liberdade de pensamento: [...] para desenvolver modelos pedagógicos os quais se adaptem às necessidades de seus alunos, ou, até mesmo, ter liberdade para reconhecer que muitas vezes ensinar é levar o aluno a aprender por si só, como é o caso do professor orientador, ou maiêutico, para relembrarmos Sócrates (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1083). Ainda cabe ressaltar que o professor possui a responsabilidade de buscar o conhecimento e instigar a pesquisa, conseguindo assim o aprimoramento dos trabalhos desenvolvidos na escola com os alunos. Transformando as aulas em momentos de criatividade, descoberta e de instigar a curiosidade do aluno. Para tanto o professor necessita ter vontade e competência pedagógica. Com relação ao pluralismo de ideias, de concepções pedagógicas e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino (BRASIL, 1988), podemos compreender que vivemos rodeados por diversas maneiras de ver, NOTA TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 17 ouvir, pensar, dando possibilidades infinitas de construirmos e conhecermos novas culturas e elaborarmos novos pensamentos. O respeito às diferenças nos leva a compreender que a educação não pode ser vista de maneira homogênea, dentro de uma sala de aula estão presentes diversas culturas, ninguém é igual a ninguém. E aí é que reside a beleza da construção do ensino. Conforme este inciso, que trata do pluralismo de ideias, Machado e Cunha (2016, p. 1084) afirmam que: Os seres que formam o mundo são diversos, individuais, diferentes, múltiplos, heterogêneos e, assim sendo, jamais poderão ser considerados dentro de uma realidade absoluta. As pessoas pensam de maneiras diferentes. O ensino não pode ser pautado em ideias homogêneas, em concepções pedagógicas únicas e absolutas, pois estaríamos diante de um empobrecimento cultural e intelectual. Ademais, ao professor é preciso liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar seu pensamento para que lhe seja possível a criação de estratégias pedagógicas as quais se amoldem às necessidades dos alunos. Acreditamos que você, acadêmico, tenha percebido que a presença da liberdade leva tanto as instituições públicas como privadas a construir dentro das escolas o respeito às ideias do outro e a noção também de igualdade. Assim, conseguimos construir os valores de democracia social que são representados pelo pluralismo de ideias e pelas concepções pedagógicas (MACHADO; CUNHA, 2016). No inciso IV do art. 206, que trata da gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, podemos compreender que o Estado está proibido de realizar qualquer cobrança de valores relacionados à oferta da educação escolar básica. Ressaltamos que a escola pública é uma instituição que todo e qualquer indivíduo poderá se matricular independentemente de classe social, religião ou raça. Estas instituições são mantidas pelo Poder Público “por intermédio da gestão de recursos públicos” (MACHADO; CUNHA, 2016,p. 1084). As escolas públicas são escolas pagas com os impostos cobrados da população, mas não são privadas, isto é, não visam ao lucro, mas a atender uma demanda social. O direito ao ensino público e gratuito não foi afastado daqueles que podem pagar pela prestação de serviços educacionais, pois se de outra forma ocorresse seria discriminação, mas aqueles que podem pagar pelo ensino têm recebido uma educação de melhor qualidade, já que o Estado tem se afastado de sua obrigação de empreender ações capazes de ampliar tanto o oferecimento como a qualidade da educação escolar, nos termos constitucionalmente estabelecidos (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1084-1085). Caro acadêmico, vamos tratar agora de outro inciso de relevante significado a cada um de nós, estamos falando do inciso V, que trata “da valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas” (BRASIL, 1988). Conforme consta na Constituição Federal, este inciso foi modificado na data de 19 de dezembro de 2006, através da Emenda Constitucional nº 53. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 18 Esta nova redação, dentre outras já ocorridas, “demonstra que o legislador não sabe como valorizar o profissional do ensino” (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1085). A nova redação do inciso substitui a expressão ‘profissionais do ensino’ por ‘profissionais da educação’, que possui um sentido mais amplo, já que não só trata do magistério, mas de todos os profissionais de educação escolar pública. O novo texto também prevê que a valorização se aplica aos profissionais do ensino privado, mesmo que as garantias especificadas não os alcancem. Além disso, pela leitura do inciso sob comento, todos esses profissionais deverão contar com remuneração condigna aos objetivos de sua profissão, bem como condições adequadas de trabalho (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1085). Ressalta-se, ainda, que cada estado da federação possui sua legislação relativa aos profissionais do magistério, mas que devem ser respeitadas todas as leis previstas na Constituição Federal. No que tange ao inciso VI, que trata da “gestão democrática do ensino público, na forma da lei” (BRASIL, 1988), este inciso tem o objetivo de demonstrar a cada cidadão que o conceito de democracia implica “um processo de convivência social em que o poder emana do povo e é por ele exercido direta ou indiretamente em seu próprio proveito” (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1085). O princípio democrático é aquele que assegura aos cidadãos o pleno direito de participação nas tomadas de decisão, e essas noções devem ser difundidas no ensino público e permear o cotidiano dos educandos. A adoção desse princípio pode significar a introdução de eleições diretas para reitores e todas as demais autoridades universitárias, assim como a participação paritária de estudantes, funcionários e professores em órgãos colegiados, configurando a participação de todos na questão educacional (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1085). Cabe ressaltar ainda que, conforme apresentado anteriormente, cada estado, em sua organização, pode apresentar em sua proposta curricular elementos que configurem a possibilidade de existirem eleições diretas para diretor das unidades escolares, dando assim, maior abertura democrática no espaço escolar. Continuando nosso estudo, chegamos ao inciso VIII, que trata do “piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal” (BRASIL, 1988). Este inciso também foi acrescentado pela Ementa Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006. Este inciso tem o intuito de diminuir as desigualdades salariais dos profissionais da educação existentes entre os estados da federação. Conforme Machado e Cunha (2016, p. 1086), “este novo inciso, em verdade, quer assegurar o caráter nacional do piso salarial dos profissionais da educação. Tal previsão, que pelo caráter peremptório do texto, revela ser um princípio e demonstra uma conquista dos profissionais da educação”. TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 19 Chegamos ao parágrafo único do art. 206, no qual “a lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” (BRASIL, 1988). Este parágrafo foi acrescentado pela Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006, e conforme Machado e Cunha (2016, p. 1087), “este parágrafo deve ser regulamentado por lei federal e prevê as categorias de trabalhadores profissionais que atuam na educação básica e a definição dos valores de seus pisos salariais e de seus respectivos planos de carreira”. Quando tratamos dos planos de carreira, é necessário compreender que eles “são um instrumento de gestão que objetiva o desenvolvimento dos profissionais da educação das instituições de ensino vinculadas ao MEC – são fundamentais para que a atividade educacional não se torne apenas um ganho avulso ou uma tarefa ocasional” (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1087). Ainda tratando da Seção I, vamos nos ater ao artigo 207, que assim trata: “Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-pedagógica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão aos princípios de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988). Neste artigo apresentam-se questões relativas à autonomia, palavra que denota a liberdade de trabalho em todos os âmbitos universitários. Cabe aqui uma ressalva, antes da Constituição de 1988, as universidades, em nosso país: [...] surgiram por iniciativa do poder do Estado e por muito tempo estiveram sob sua ingerência, principalmente durante a Ditadura Militar de 1964 ao início dos anos 1970, para atender objetivos estratégicos dos militares, o que nos faz concluir que as universidades eram muito mais estatais que públicas, já que nesse período houve um êxodo de profissionais do ensino por razões de perseguição política, principalmente dos que quiseram manter autonomia de sua cátedra (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1087). Mesmo depois desse caminho percorrido pelas universidades, após a Ditadura Militar, com a Constituição de 1988 se definiu a autonomia universitária, mas as universidades continuam compondo-se como uma extensão administrativa do poder estatal “posto que a natureza pública dos seus serviços exige alguma forma de controle e avaliação por parte do Estado e da sociedade mesmo que isso não signifique ingerência” (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1087). No que tange à autonomia didático-científica, administrativa e patrimonial, Machado e Cunha (2016, p. 1087, grifos do original) afirmam que: A autonomia didático-pedagógica de que trata o artigo vem a ser a liberdade que as universidades devem ter de definir currículos; abrir e fechar cursos, tanto de graduação como de pós-graduação e de extensão; e definir suas linhas prioritárias e mecanismos de financiamento da UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 20 pesquisa, de acordo com as regras internas. Portanto, diz respeito à possibilidade de as universidades conduzirem sem restrições as atividades de ensino e aprendizado. Quanto à autonomia administrativa, as universidades poderão se organizar internamente, da maneira que melhor lhes convier, com estatutos próprios e, também, organização de planos de carreira para o magistério público nas universidades federais (art. 206, V, da CF), enfim, trata-se da possibilidade de autogovernar-se. Já em relação à autonomia de gestão financeira e patrimonial, refere- se à dotação orçamentária e à plena liberdade de remanejamento de recursos. A autonomia patrimonial está vinculadaà ideia de constituição de patrimônio próprio, liberdade para obtenção de rendas de vários tipos e utilização de tais recursos da forma que convier às universidades. O encaminhamento da autonomia universitária deve se dar com base na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, já que esses três itens se complementam. Diante do exposto, podemos determinar que as universidades, mesmo possuindo sua autonomia, devem se manter ligadas ao MEC – Ministério da Educação, e à Constituição Federal, como também à LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a qual será estudada na próxima unidade. Mesmo possuindo autonomia, toda e qualquer autarquia pública necessita do controle e da avaliação de seus serviços, da sociedade e do Estado. Dá-se, ainda, às universidades o direito de admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei, apresentado no parágrafo 1º, o qual foi acrescentado pela Ementa Constitucional nº 11, de 30 de abril de 1996. Neste parágrafo ainda se encontra atrelado o parágrafo 2º que prevê também a pesquisa científica e tecnológica federais (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 1088). Caro acadêmico, você talvez venha a se questionar: para que eu preciso saber destes artigos, parágrafos e incisos? Independentemente de sua licenciatura, necessita sim ter o conhecimento das leis, as quais regem nosso trabalho e vida profissional. Nada é demais. E saber das leis demonstra que estamos cada vez mais preparados para caminhar neste espaço chamado educação. Passaremos a tratar do artigo 208, onde se encontram os deveres que o Estado possui com a educação escolar pública. Dedicaremos uma atenção especial a este artigo, pois trata de questões relativas à obrigatoriedade e gratuidade da educação básica. Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 21 V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (BRASIL, 1988). Observa-se que nesse artigo se encontra o conteúdo relativo aos deveres do Estado para com a população brasileira, que é de prestar educação escolar pública de qualidade e gratuita. Quando tratamos da educação básica estamos nos referindo ao nível de ensino que abrange os primeiros anos de educação formal, que corresponde ao direito de todos os brasileiros à formação comum necessária ao exercício de cidadania e a sua qualificação para o trabalho e a continuidade de seus estudos. Outro fator a ser ressaltado é que para existir este movimento possuímos dois documentos principais que abarcam a educação básica, que são: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394 de 20.12.1996, e o Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, ambos regidos pela Constituição da República Federativa do Brasil. Conforme Abrão (2016, p. 1089): De acordo com a Classificação Internacional Normatizadora da Educação (International Standard Classification of Education – Isced), a educação básica inclui: (1) a educação primária, ou seja, o primeiro estágio da educação básica, correspondente à aprendizagem básica da leitura, da escrita e das operações matemáticas simples; e (2) o ensino secundário inferior, isto é, o segundo estágio do processo de escolarização, correspondente à consolidação da leitura e da escrita e às aprendizagens básicas na área da língua materna, história e compreensão do meio social e natural envolvente. No que diz respeito a questões relativas ao sistema educativo brasileiro e de países em desenvolvimento, Abrão (2016, p. 1089) apresenta que: “Alguns sistemas educativos, em particular os de países em desenvolvimento, incluem na educação básica a educação pré-escolar e os programas de ensino de segunda oportunidade destinada à alfabetização de adultos”. Neste caso encontramos a EJA (Educação de Jovens e Adultos), programa que auxilia na alfabetização de jovens e adultos em nosso país. Podemos ainda dizer que o Plano Nacional de Educação – PNE desenvolvido no Brasil, contempla como educação básica a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Abrão (2016, p. 1089) ressalta que: [...] a educação Infantil compreende a faixa etária de 0 a 6 anos, porém, em nosso país há tratamento diferenciado entre as faixas etárias de 0 a 3 anos e de 4 a 6 anos para a pré-escola; além disso as creches deverão adotar objetivos educacionais, transformando-se em instituições de educação, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais emanadas do Conselho Nacional de Educação. Essa determinação segue a melhor pedagogia, pois é nessa idade, precisamente, que os estímulos educativos UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 22 têm maior poder de influência sobre a formação da personalidade e o desenvolvimento da criança. Trata-se de um tempo que não pode ser descurado ou mal orientado. Frente ao exposto, podemos perceber que para o PNE, este tema é sua “menina dos olhos”, pois a formação da criança ocorre desde os primeiros momentos de sua vida, e quando entra na educação formal, os profissionais da educação devem organizar-se determinando objetivos que auxiliem no desenvolvimento global da criança, possibilitando uma sequência educativa de qualidade. É importante saber, caro acadêmico, que a Emenda Constitucional nº 59/2009 estabeleceu em relação à educação básica duas diretrizes, assim apresentadas por Abrão (2016, p. 1089): “ [...] é dever do Estado prestá-la; e é obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”. Cabe ressaltar que os estrangeiros, como os brasileiros, possuem o direito à gratuidade na educação básica, que estejam na idade própria (7 a 14 anos). Os pais ou responsáveis pelas crianças poderão exigir isso do Estado, pois a educação básica é obrigatória, independente também da idade. No que diz respeito ao inciso II, que trata da progressiva universalização do ensino médio gratuito, podemos determinar que este dá a possibilidade de continuidade dos estudos de maneira gratuita aos adolescentes. Conforme Abrão (2016, p. 1090): [...] atendendo o princípio estabelecido no art. 206, I, do texto Maior, o qual prevê ‘a igualdade de condições ao acesso e permanência na escola’. Entretanto, estabeleceu o constituinte com tal inciso que o Estado não deve ficar inerte em relação ao prosseguimento do ensino dos educandos [...] e deverá construir escolas e oferecer condições necessárias para atender o maior número possível de educandos no ensino médio, sempre considerando a realidade de cada ente federado. Já no inciso III, se apresenta como dever do Estado o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988). Ressaltamos que mesmo possuindo todos estes direitos com as leis, cabe ao estado dar condições tanto pedagógicas como físicas para que os profissionais da educação e as crianças a serem atendidas possuam condiçõesdignas de trabalho e de permanência nos espaços escolares. Independentemente de ser escola pública ou privada, a educação precisa ser desenvolvida e as crianças muito bem recebidas, conseguindo assim, avanços educacionais. Conforme a Constituição, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Conselho Nacional de Educação por meio do parecer CNE/CEB nº 17/2001 e da Resolução CNE/CEB nº 2/2001, ditou aos sistemas de ensino, seja ele privado ou público, a responsabilidade de matricular todas as crianças com necessidades educacionais especiais. TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 23 Em seu art. 5º, essa Resolução prescreveu o conteúdo da expressão ‘educando com necessidades educacionais especiais’, como sendo os alunos que, durante o processo educacional apresentarem: I – dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquele não vinculado a uma causa orgânica específica; b) aqueles relacionados a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização de linguagens e códigos aplicáveis; III – altas habilidades/ superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (ABRÃO, 2016, p. 1091). O educando possui o direito de se matricular e frequentar a escola, independentemente de ser pública ou privada, e sempre lembrando da necessidade de a escola possuir uma estrutura adequada para o receber, e perceber que independentemente de seu problema, é importante a sua permanência e convívio saudável na escola. Cabe ressaltar que o entendimento, com relação ao “educando com necessidades educacionais especiais”, como se apresenta no art. 5º, trata não só dos educandos com dificuldades físicas ou intelectuais elevadas, mas sim, de todos que de uma maneira ou outra possuem alguma dificuldade educativa de compreensão ou socialização. O inciso IV trata da garantia de educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade, observamos que ocorreu uma nova redação, ficando assim, apresentada nas palavras de Abrão (2016, p. 1091): O texto deste inciso, alterado pela EC n. 53/2006, incorpora a educação infantil como dever do Estado brasileiro. A prescrição sob comentário, em verdade, adéqua seu texto da Lei n. 11.274/2006 – que alterou alguns dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação -, já que inclui as crianças de seis anos de idade no ensino fundamental obrigatório com duração de nove anos. EC – Emenda Constitucional Com relação a esse inciso, podemos perceber que as crianças que completam seis anos no ano letivo deverão ser matriculadas no Ensino Fundamental, dando continuidade ao processo educacional voltado à alfabetização e letramento. NOTA UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 24 FIGURA 1 – ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO FONTE: Disponível em: <http://neuropsicopedagogianasaladeaula. blogspot.com.br/2012/04/o-processo-de-alfabetizacao-na-historia. html>. Acesso em: 19 set. 2016. Caro acadêmico, ao tratarmos do assunto alfabetização e letramento, indagamos: o que é alfabetização e letramento? São sinônimos? Vamos refletir sobre isso, pois é de extrema importância buscarmos esse entendimento. Quando falamos em alfabetização e letramento, estamos tratando do que nos é apresentado no PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. FIGURA 2 – CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/CamilaRibeiro35/alfabetizaao-e- letramento-pnaic>. Acesso em: 25 jul. 2016. Podemos perceber que o alfabetizar e letrar se confundem, estão interligados, de acordo com Magda Soares (1998, p. 47): “Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas são inseparáveis, ao contrário, o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo alfabetizado e letrado”. TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 25 O slide da figura anterior e os demais que o compõe, são de Camila Ribeiro, pedagoga da Prefeitura Municipal de Araucária, e se encontram na íntegra no link: <http:// pt.slideshare.net/CamilaRibeiro35/alfabetizaao-e-letramento-pnaic>. Acesso em: 25 jul. 2016. Com este entendimento sobre alfabetização e letramento, podemos perceber que todo educando necessita dos profissionais da educação comprometidos e que o Estado dê a estes profissionais condições de aprimoramento e entendimento. No que diz respeito ao inciso “V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”; e ao inciso “VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando” (BRASIL, 1988); observamos que a cada indivíduo é dado o direito de participar ou acessar a universidade, a pesquisa, que muito se fala na atualidade, como uma das necessidades mais presentes na esfera educacional e das criações artísticas. Conforme Abrão (2016, p. 1091-1092): “[...] tal direito será conferido àqueles que demonstram capacidade de acordo com os mecanismos de aferição que lhes forem impostos”. Já o inciso VI, apresentado acima, denota que o Estado tem o dever de criar ações que atendam à igualdade de condições para o acesso e permanência do educando na escola, “oferecendo a ele o ensino noturno regular adequado as suas condições, já que, normalmente, os cursos noturnos são procurados por pessoas com mais idade, as quais trabalham durante o dia e necessitam estudar à noite” (ABRÃO, 2016, p. 1092). E, por último, o inciso VII, que trata do “atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. Este inciso trata do que anteriormente comentamos, de nada adianta mantermos os educandos em sala de aula, lhes dando o direito à matrícula, gratuidade do ensino, se não lhes são dadas condições físicas e pedagógicas para tanto. Como assim? Da seguinte forma, conforme nos prescreve Abrão (2016, p. 1092): Esse preceito constitucional é de suma importância, pois não basta garantir o direito ao ensino público gratuito, porque por si só ele não se efetiva. São necessários programas suplementares para que seja possível manter um estudante na escola. Diante da miserabilidade de parcela significativa da população brasileira, os programas de oferta de material escolar, transporte, saúde e alimentação não podem se dissociar do direito à educação, porque se de outra forma ocorresse, este último não se realizaria. DICAS UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 26 A autora ainda nos apresenta de maneira bem clara: Um aluno com fome não consegue assimilar as lições de seu professor, sem saúde, não consegue estudar, sem transporte não chega à escola e sem material não acompanha a lição. Desse modo, para que o ensino seja ministrado, não basta o princípio da igualdade de condições ao acesso e permanência na escola, o Estado deverá ser chamado a dar condições concretas e efetivas para viabilizar esse princípio. Para tanto, o constituinte atribui ao estado o dever de promover ações, e, todas as etapas da educação básica, para garantir de forma suplementar o material didático-escolar, o transporte, a alimentação e a assistência à saúde dos educandos. Mas deixemos bem claro que a atuação do Estado, por meio de programas para promoção dessas ações, é suplementar, pois deverá atingir somente os educandos que não tenham condições de se autossustentar (ABRÃO, 2016, p. 1092). Nas próximas unidades trataremos dos programas que o Estado promove para auxiliar no desenvolvimento emelhoria da vida educacional dos educandos. Caro acadêmico, parece um pouco cansativo este processo de estudo, mas saiba que é necessário para sua formação, enquanto profissional da educação. Desta forma, vamos dar continuidade, agora apresentando outro artigo. “Art. 209 – O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições” (BRASIL, 1988): I – cumprimento das normas gerais da educação nacional: as escolas privadas poderão exercer o ensino, mas deverão seguir as regras previstas nos documentos oficiais como a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o PNE – Plano Nacional de Educação, dentre outros documentos relacionados à educação. II – autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público: quanto ao direito de abertura de escolas privadas, cabe e é dado o direito ao Poder Público de sancionar, liberar, autorizar a abertura destas instituições privadas e verificar se elas atendem ao que é prerrogativa de melhoria na qualidade educacional dos educandos. Cabe também ao Poder Público realizar avaliações, em que ele “poderá revogar a autorização caso verifique que atitudes contrárias ao interesse social, como ensino de baixa qualidade e preços de mensalidades extorsivos, estão sendo praticados” (ABRÃO, 2016, p. 1095). O artigo 210, trata de uma temática de extrema importância, que assim se apresenta: “Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais” (BRASIL, 1988). Este artigo demonstra um respeito e cuidado com relação ao pluralismo cultural. Conforme Abrão (2016, p. 1095), “o pluralismo representa hoje uma necessidade, pois a história nos mostrou a tragicidade das tentativas de uniformização e hegemonização culturais, raciais, ideológicas, religiosas etc.”. TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 27 Cabe ressaltar ainda que na formulação deste artigo se observa o cuidado e abertura para considerar o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, pois a escola é um espaço de democracia, a qual de forma alguma poderá deixar de respeitar as diferenças culturais aí existentes e reconhecer as diferenças regionais e sociais existentes neste nosso imenso país. FIGURA 3 – PLURALISMO CULTURAL FONTE: Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/ estrategias-ensino/a-diversidade-cultural-brasileira-sala-aula.htm>. Acesso em: 19 set. 2016. Segundo Abrão (2016, p. 1095), “[...] constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Entendemos que a escola é um ambiente próprio para a efetividade e o respeito a esses preceitos”. Continuando, sobre os artigos relativos à educação, apresentamos o “Art. 211 – A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino” (BRASIL, 1988). Observe, acadêmico, que este artigo trata da competência de cada membro federado no sistema educacional. Ao falar sobre competência é necessário esclarecer que o Brasil é um Estado Federal e o constituinte, no art. 1º, configurou sua formação da seguinte maneira: União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios. As características essenciais de um Estado federal são: os Estados-membros possuem autonomia para autogovernar-se, há uma descentralização legislativa, administrativa e política e esses Estados participam do governo central por meio de seus representantes no Congresso Nacional. A proposta do constituinte de 1988 foi pela UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 28 tentativa da maior descentralização de decisões, fortalecendo os Estados e os Municípios. Desse modo ficou a União com a elaboração de normas gerais, sempre levando em consideração a realidade local (ABRÃO, 2016, p. 1097). Desta forma, o artigo 211, como declara Abrão (2016, p. 1097), “[...] deve ser interpretado em consonância com o disposto no art. 23 da Carta Magna, que prevê a fixação de normas para cooperação entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com vistas ao equilíbrio do desenvolvimento e ao bem-estar em âmbito nacional”. Com isso podemos perceber que a pluralidade cultural e regional é respeitada no desenvolvimento e construção de uma estrutura organizacional adequada à realidade local. Assim, à União fica a responsabilidade de auxiliar financeiramente, organizar o sistema federal de ensino, buscar meios para a obtenção de ensino de qualidade através de seus programas e de uma Base Nacional de Ensino. Aos municípios fica a priorização do ensino fundamental e da educação infantil com qualidade. Esta temática será melhor desenvolvida nas próximas unidades deste caderno. Já os Estados e o Distrito Federal priorizarão o ensino fundamental e médio. O Artigo 212 traz as questões relativas ao financeiro, ficando assim sua leitura: “A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino” (BRASIL, 1988). Ao tratarmos deste artigo, podemos nos ater ao que ocorre em nossos estados e municípios. Como profissional da educação e como cidadão, podemos observar se os recursos públicos estão sendo realmente aplicados na esfera educacional. Cabe a cada membro formador da sociedade buscar informações relativas a esta aplicação, pois é de extrema necessidade ter as condições necessárias para o funcionamento e desenvolvimento dos trabalhos pedagógicos na escola. É importante observar que esta matéria está regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Vejamos o artigo 213: Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei que: I – comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II – assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades. Parágrafo 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 29 para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. Parágrafo 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por instituições de educação profissional e tecnológica poderão receber apoio financeiro do Poder Público (BRASIL, 1988, grifo nosso). Os dois parágrafos tratam de ações relativas ao financeiro. No parágrafo primeiro, cabe ao Poder Público realizar investimentos prioritariamente em sua rede de ensino, mas poderá conceder bolsas de estudo para os ensinos fundamental e médio aos alunos que comprovarem falta de recursos. O parágrafo segundo trata de uma regra não obrigatória, pois o Poder Público poderá apoiar ações relativas a atividades universitárias de pesquisa, de extensão e de estímulo e fomento à inovação. Tudo isso dependerá de verbas orçamentárias. Por último, trataremos do artigo 214, que busca estabelecer o plano nacional de educação, o qual será melhor analisado nas próximas unidades. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regimede colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I – erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar; III – melhoria da qualidade de ensino; IV – formação para o trabalho; V – promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto (BRASIL, 1988, grifo nosso). Com estes dados podemos perceber que o Plano Nacional de Educação tem como base buscar solucionar e, se assim não for possível, diminuir as diferenças e o pessimismo existente com as questões educacionais. É determinante que todos os profissionais da educação tenham conhecimento deste documento, participem de sua elaboração, que ocorre a cada dez anos, e verifiquem se os objetivos já propostos foram ou estão sendo conquistados. Participar é uma das palavras-chave para cada um de nós, profissionais da educação. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 30 AUTOATIVIDADE Caro acadêmico! Frente ao exposto, nos artigos relativos à Educação, vamos retomar o artigo 212, que fala sobre a aplicação de percentuais na educação fundamental, no que diz respeito ao município. Relativo a isso, você, enquanto cidadão e profissional da educação, que está em busca de novos conhecimentos, busca saber se realmente é realizada essa aplicação de recursos na esfera educacional de seu município ou estado? Você acha necessário esse acompanhamento? Daremos continuidade a nossos estudos e trataremos de outro fator que é determinante no processo de legislar. Até o momento, nos deparamos com o que são as Políticas Públicas e a influência da Constituição Federal na Educação com a apresentação dos artigos 205 até o 214, que tratam diretamente das questões educacionais. Formular leis que tragam propostas flexíveis e auxiliem na estruturação de todos os níveis de ensino de um país, como o Brasil, não é algo tão fácil, mas observa-se que os documentos criados, pautados na ética, na ordem e no desenvolvimento educacional, retratam que muito já se caminhou e muito ainda é necessário construir com a educação nacional. Por isso, trataremos agora de algo significativo e que nos faz pensar. 3 LIGAÇÃO ENTRE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO Como vimos, a Constituição Federal é a Carta Magna de nosso país, e é a partir deste documento que nós, da educação, necessitamos buscar alimento para a construção de outro documento que podemos considerar a Carta Magna da Educação brasileira. Estamos falando da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, documento este que pode ser considerado a “bússola da educação escolar”, conforme apresentado no prefácio do livro LDB fácil, pela professora Maria do Socorro Santos Uchoa Carneiro (CARNEIRO, 2015, p. 17). Podemos determinar que a Constituição Federal foi e é a raiz de sustentação de todo o programa educacional de nosso país. A Constituição Federal delineia a forma democrática de governo. A Constituição é o fundamento do direito à medida que, de seu cumprimento, deriva o exercício da autonomia legítima e consentida. Não menos importante é compreender que, ao institucionalizar a soberania popular, o texto constitucional traduz o estado da cultura política da nação (CARNEIRO, 2015). Enquanto que na TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 31 educação, as constituições brasileiras construíram através de caminhadas árduas, uma aproximação entre “direitos políticos e direitos sociais” (CARNEIRO, 2015, p. 38). Para tanto, conforme Carneiro (2015, p. 38), “a inclusão da Educação como direito fundamental de todo cidadão contribuiu para sinalizar na perspectiva da construção de uma escola de padrão básico, vazada em um modelo organizacional de objetivos convergentes, logo estruturado à luz de marcos normativos comuns”. Observa-se que para chegar ao patamar em que nos encontramos na atualidade a caminhada foi árdua e passamos por diversos momentos históricos, na construção de várias constituições brasileiras. Assim, podemos determinar de forma resumida as constituições que já tivemos em nosso país. Estas constituições foram oito, assim apresentadas, conforme Carneiro (2015, p. 39): A primeira Constituição do país data de 1824. De então até agora, o Brasil teve oito constituições, a saber: a de 1824, a de 1891, a de 1934, a de 1937, a de 1946, a de 1967, a de 1969 e a de 1988. Destas, apenas as de 1891, 1934, 1946 e 1988 foram votadas por representantes populares com delegação constituinte. A última dessas Constituições, a de 1988, contou com uma robusta participação da comunidade nacional, mediante a mobilização de amplos segmentos da sociedade civil. Culminância deste movimento cívico foram os atos públicos que cimentaram a criação do Plenário Nacional Pró-Participação Nacional Popular na Constituinte. Neste cenário, a defesa da escola pública e de uma educação de qualidade ganhou relevância ímpar no conjunto da sociedade brasileira [...]. Diante deste cenário, vamos apresentar a você, acadêmico, um quadro resumido das constituições que já tivemos em nosso país e qual a ligação de cada uma com a educação. Fique atento às situações e interesses envolvendo cada momento histórico da construção das constituições! QUADRO 2 – CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS CONSTITUIÇÃO/ANO FATOS DETERMINANTES Constituição Imperial/1824 Ato Institucional/1834 Incorporou a iniciativa de implantação de colégios e universidades ao conjunto de direitos civis e políticos, além de fixar a gratuidade do ensino primário. O processo gerencial ficou aos cuidados da Coroa e, quatro anos mais tarde, instalam-se as Câmaras Municipais que ficam com a responsabilidade de inspecionar as escolas primárias. A declaração do Ato Institucional criou as Assembleias Legislativas Provinciais, cabendo-lhes a atribuição de legislar sobre instrução pública. Ocorre aqui a elitização do ensino, pois a maioria das escolas secundárias abrigava-se em mãos de particulares, o que por si só representava uma elitização da escola, dado que somente famílias de posse poderiam custear os estudos de seus filhos. A escola que se queria buscava a tradição da educação aristocrática, totalmente voltada para os frequentadores da corte e, portanto, para os destinatários do Ensino Superior, em detrimento dos demais níveis de ensino. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 32 Constituição Republicana/1891 Trouxe mudanças significativas na educação. Ao Congresso Nacional foi atribuída a prerrogativa legal exclusiva de legislar sobre o ensino superior. Ainda poderia criar escolas secundárias e superiores nos estados, além de responder pela instrução secundária do Distrito Federal. Aos Estados cabia legislar sobre o ensino primário e secundário, implantar e manter escolas primárias, secundárias e superiores. Nestes dois últimos casos, o Governo Federal poderia, igualmente, atuar. Constituição/1934 Coube à União federal a tarefa de fixar as diretrizes e bases da educação nacional. Criou, também, o Conselho Nacional de Educação, e os estados e o Distrito Federal ganharam autonomia para organizar seus sistemas de ensino e, ainda, instalar Conselhos Estaduais de Educação com idênticas funções das do Conselho Nacional, evidentemente, dentro do âmbito de suas jurisdições. A União recebeu a tarefa de institucionalizar e elaborar o Plano Nacional de Educação, com dois eixos fundamentais: organização do ensino nos diferentes níveis e áreas especializadas e a realização de ação supletiva com os estados, seja subsidiando comestudos e avaliações técnicas, seja aportando recursos financeiros complementares. Constituição/1946 No clima de afirmação democrática que invadiu o mundo no ambiente do pós-guerra, buscou-se um eixo representado por um conjunto de valores transcendentais que tinham, na liberdade, na defesa da dignidade humana e na solidariedade internacional, os dormentes de sustentação. Proclamava a educação como um direito de todos. Nesta Carta de 1946, prescreveu uma organização equilibrada do sistema educacional brasileiro, mediante um formato administrativo e pedagógico descentralizado, sem que a União abdicasse da responsabilidade de apresentar as linhas mestras de organização da educação nacional. Neste documento há muito das ideias e do espírito do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932. Foi a partir desta percepção que o Ministro da Educação de então, Clemente Mariani, oficializou comissão de educadores para propor uma reforma geral da educação nacional. Aqui, a origem da Lei 4.024/61, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nossa primeira LDB, somente aprovada pelo Congresso Nacional depois de uma longa gestação de 11 anos. Ainda neste momento, o Ministério da Educação e Cultura passa a exercer as atribuições de Poder Público Federal em matéria de Educação. Constituição/1967 Foi pautada sob a inspiração da ideologia da segurança nacional, o ensino particular recebeu amplo apoio e fortalecimento. Ocorreu a ampliação da obrigatoriedade de ensino fundamental de sete até 14 anos, aparentemente grande conquista, pois conflitava com outro preceito que permitia o trabalho de crianças com 12 anos. Nisto, contrastava com a Carta de 1946 que estabelecia os 14 anos de idade como idade mínima para o trabalho de menores. Retirava- se a obrigatoriedade de percentuais do orçamento destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino. TÓPICO 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 33 Constituição/1969 Preservou-se todos os ângulos da constituição anterior. Os recursos orçamentários vinculados ao ensino ficaram restritos aos municípios que se obrigavam a aplicar, pelo menos, 20% da receita tributária no ensino médio. O lado mais obscurantista deste texto foi relativo às atividades docentes. A escola passou a ser palco de vigilância permanente dos agentes políticos do Estado. Neste período, editaram-se vários Atos Institucionais que eram acionados, com muita frequência, contra a liberdade docente. Constituição/1988 Esta constituição significou a reconquista da cidadania sem medo. Nela, a educação ganhou lugar de altíssima relevância. O país inteiro despertou para esta causa comum. As emendas populares calçaram a ideia de educação como direto de todos (direito social) e, portanto, deveria ser universal, gratuita, democrática, comunitária e de elevado padrão de qualidade. Em síntese, transformadora da realidade. Aqui as universidades passaram a gozar de autonomia didático-científica administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e a obedecer ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. FONTE: Carneiro (2015, p. 29-33) Observe, acadêmico, que a caminhada de nossa Constituição e da educação brasileira foi pautada por momentos históricos e fez com que pudéssemos determinar as necessidades do momento e das muitas mudanças que ainda estamos buscando dentro da Educação. Essa busca vem de encontro às necessidades, valores, desejos e anseios da população, que hoje participa ativamente de forma democrática das atividades e propostas apresentadas. Nossa LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – está inserida em nossa Carta Magna, a Constituição Federal. Por este motivo o interesse e a necessidade de reconhecermos este documento como de extrema importância em nossas vidas profissionais. Tanto a Constituição como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação estão inseridas em nosso cotidiano. 34 Neste tópico, você aprendeu que: • Em muitos momentos as políticas públicas nos passam despercebidas, mas elas encontram-se dentro da história da humanidade. Podemos relatar também forte influência na Grécia Antiga, onde a palavra política tem seu berço, onde filósofos como Aristóteles e Platão foram os precursores desta ciência. • “Políticas Públicas são ações geradas na esfera do Estado e que têm como objetivo atingir a sociedade como um todo ou partes dela” (SANTOS, 2014, p. 5). • As políticas públicas terão eficácia a partir do momento que os cidadãos compreenderem como ocorre a criação dessas políticas (ações, programas) nas esferas federais, estaduais e, principalmente, nas que estão bem próximas de cada um de nós, e que estão sendo desenvolvidas – as municipais. Estas ações também ocorrem dentro e fora de nossas residências, e somos nós também responsáveis pela sua aplicabilidade, transparência e eficácia. • As Políticas Públicas são de “responsabilidade do Estado, com base em organismos políticos e entidades da sociedade civil se estabelece um processo de tomada de decisões que derivam nas normatizações do país, ou seja, nossa Legislação” (MARINHO, 2014, p. 1). • As políticas públicas retratam não só questões acerca da economia, mas do envolvimento de diversos segmentos, contendo condições e possibilidades de desenvolver mecanismos que auxiliem no crescimento e qualidade de vida da população. • “A Constituição de um Estado Democrático é a cartilha na qual os cidadãos apreendem os fundamentos e a proteção de seus direitos, a disciplina da atuação e dos limites do Poder Estatal e a função social da comunidade” (MACHADO; CUNHA, 2016, p. 23). • No artigo 206 da Constituição Federal, ressalta-se a garantia do ensino, a qualidade, a igualdade quanto ao acesso e permanência na escola, a liberdade de aprender, o pluralismo de ideias, gratuidade do ensino público, a gestão e valorização dos profissionais da educação (BRASIL, 1988). • As universidades gozam de autonomia didático-pedagógica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão aos princípios de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (BRASIL, 1988). RESUMO DO TÓPICO 1 35 • Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (BRASIL, 1988). 36 1 Ao detectarmos problemas sociais, os governantes e a sociedade civil organizada buscam encontrar meios, as chamadas Políticas Públicas para o desenvolvimento de programas e ações que diminuam a situação encontrada. Desta forma, analise as sentenças: I – Políticas Públicas são utilizadas somente no que diz respeito às questões econômicas de um país em desenvolvimento. II – Políticas Públicas são ações que envolvem diversos segmentos da sociedade e auxiliam na qualidade de vida da população e aplicada pelos governantes. III – Políticas Públicas são movimentos relativos a partidos políticos que compreendem sua posição de promotores da verdade. IV – Políticas Públicas são ações que envolvem tanto a economia de um país com o envolvimentoda sociedade organizada e aplicada pelos governantes. Assim, assinale a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V b) ( ) V – V – F – F c) ( ) F – V – F – F d) ( ) V – F – F – V e) ( ) F – V – V – F 2 (ENADE, 2011) Com o advento da República, a discussão sobre a questão educacional torna-se pauta significativa nas esferas dos Poderes Executivo e Legislativo, tanto no âmbito Federal quanto no Estadual. Já na Primeira República, a expansão da demanda social se propaga com o movimento da escola novista; no período getulista, encontram-se as reformas de Francisco Campos e Gustavo Capanema; no momento de crítica e balanço do pós-1946, ocorre a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1961. É somente com a Constituição de 1988, no entanto, que os brasileiros têm assegurada a educação de forma universal, como um direito de todos, tendo em vista o pleno desenvolvimento da pessoa no que se refere a sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O artigo 208 do texto constitucional prevê como dever do Estado a oferta da educação tanto a crianças como àqueles que não tiveram acesso ao ensino em idade própria à escolarização cabida. Nesse contexto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. A relação entre educação e cidadania se estabelece na busca da universalização da educação como uma das condições necessárias para a consolidação da democracia no Brasil. PORQUE AUTOATIVIDADE 37 Por meio da atuação de seus representantes nos Poderes Executivos e Legislativo, no decorrer do século XX, passou a ser garantido no Brasil o direito de acesso à educação, inclusive aos jovens e adultos que já estavam fora da idade escolar. FONTE: Disponível em: <http://www.usjt.br/uploads/lacce/letras/userfiles/files/PDF/ENADE- PROVA.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2016. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. a) ( ) As duas são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. b) ( ) As duas são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. c) ( ) A primeira é uma proposição verdadeira, e a segunda, falsa. d) ( ) A primeira é uma proposição falsa, e a segunda, verdadeira. e) ( ) Tanto a primeira quanto a segunda asserção são proposições falsas. 3 Cada país possui suas leis, as quais regem o sistema governamental. Em nosso país possuímos a Constituição que é reconhecida como a carta magna de um país democrático. Dessa forma, podemos definir a palavra Constituição como: I – Modelo que determina aos cidadãos reconhecerem os fundamentos e proteção de seus direitos e deveres. II – Documento que determina os deveres que cada cidadão deverá seguir em toda sua vida sem poder criticar sobre as leis. III – Documento que determina ao cidadão reconhecer o que cabe à Família e ao Estado e a função social da comunidade. IV – Modelo que demonstra as leis determinantes para que o país possa seguir um caminho de maneira democrática e pacífica. Agora, assinale a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V – V b) ( ) F – V – V – F c) ( ) F – F – V – F d) ( ) V – F – V – F e) ( ) F – V – F – F Assista ao vídeo de resolução da questão 1 38 39 TÓPICO 2 A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Após a leitura do Tópico 1, podemos dar continuidade a nossos estudos, pois estamos aptos a compreender como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi elaborada e de onde partiu sua fundamentação. Veremos também, neste Tópico 2, a relação que a LDB possui com o Sistema Educacional, suas mediações e a necessidade de sua presença neste sistema. Cabe ressaltar que serão tratadas temáticas voltadas à organização da LDB nas esferas Federal, Estadual e Municipal, chegando à instituição escolar. Esta caminhada retrata o que você, acadêmico, busca em sua formação profissional, o conhecimento, o reconhecimento e a capacidade de utilização destes documentos em sua construção profissional e pessoal. Então, vamos continuar nosso processo de construção e, por que não dizer, de reconstrução do conhecimento relativo às leis que regem a Educação brasileira! 2 COMO SITUAR-SE SOBRE A LDB Inicialmente, vamos nos reportar ao quadro que foi apresentado a você referente às constituições no que diz respeito à educação (Quadro 2). Nesse quadro visualizamos que o caminho foi construído a partir de diversos interesses, incialmente voltados à corte imperial, logo depois, passados longos anos e o Brasil ter sofrido diversos fatos históricos, buscou levar a educação a todos como um direito através da elaboração de leis que pudessem abarcar essas necessidades. Devemos ter bem claro, caro acadêmico, que este movimento, que ainda ocorre e se faz necessário, não foi fácil, pois todo movimento relacionado à construção de novas regras leva, em muitos momentos, ao embate, em que a maneira de pensar de um não condiz com a forma de pensar do outro, criando inúmeras possibilidades de conflitos que devem ser ao final levados a um denominador comum. Como afirma Carneiro (2015, p. 27), “as disposições normativas do país no campo educacional são heterogêneas e nem sempre harmônicas e congruentes”. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 40 Congruente; congruência: Harmonia duma coisa com o fim a que se destina; coerência (FERREIRA, 2001, p.186). Assim, podemos determinar que a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – está inserida, como relatado anteriormente, na Constituição Federal. Conforme Carneiro (2015, p. 27): A Lei da Educação deve trazer certeza e ordem de um lado e, de outro, deve ser mediadora entre imposições da estabilidade e as exigências da evolução social. Mas deve, sobretudo, ser um roteiro seguro de conceitos, caminhos, condutas e conclusões sob a inspiração da constituição. Observe que a LDB também possui sua caminhada histórica, e vamos nos ater a ela neste momento. A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi a Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, foi difícil sua elaboração, pois foi deixada correr de maneira frouxa, sem acompanhamento de perto. Como afirma Carneiro (2015, p. 35-36): Entre a chegada do texto à Câmara Federal, em outubro de 1948, e o início dos debates sobre o texto, em maio de 1957, decorreram oito anos e meio. Daí, até a aprovação, em 20 de dezembro de 1961, mais quatro anos e sete meses! Ou seja, entre encaminhamento, as discussões e a aprovação do texto, passaram-se treze anos. Observa-se que neste caminho, muitos foram os embates, chegando o texto a ser aprovado no ano de 1961, um marco histórico para a Educação Brasileira, pois os eixos principais deste documento relatavam: i) Dos Fins da Educação ii) Do Direito à Educação iii) Da Liberdade de Ensino iv) Da Administração do Ensino v) Dos Sistemas de Ensino vi) Da Educação de Grau Primário vii) Da Assistência Social escolar viii) Dos Recursos para a Educação (CARNEIRO, 2015, p. 36). Com estes eixos, podemos perceber que a Educação Brasileira passa a ter um movimento linear em sua estruturação. Após este movimento, já no ano de 1971, surge a nossa segunda Lei de Diretrizes e Bases, a Lei 5.692/71, a qual recebeu o nome oficial de Lei da Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus, conforme Carneiro (2015, p. 36), caracterizada com uma gestação lenta e que também foi vista como um processo atípico, “em função NOTA TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 41 do contexto político em que foi gestada: período de governo discricionário com as liberdades civis estranguladas”. A terceira LDB foi a Lei 9.394/1996. Esta lei também teve sua construção complicada, pois possui em sua base a passagem de vários governos e,conforme Carneiro (2015, p. 37), “[...] marcados por fortes contradições ideológicas, sua tramitação foi longa, conflitiva, intensa, detalhista e ambientada em contextos de correlações de forças ora emancipatórias, ora paralisantes”. O início da construção deste novo documento aconteceu em 1988, mas perpassou por três governos, a saber: José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Diante deste quadro, muitos anos foram necessários para sua construção e desconstrução, pois com as mudanças de governo, mudavam-se as formas de compreender as políticas públicas envolvendo a educação. A discussão e tramitação da Lei 9.394/1996 no Congresso Nacional prolongaram-se, [...], pois passou por várias relatorias, teve vários substitutivos, ziguezagueou da Câmara para o Senado e vice-versa em ritmo de fluxo legislativo variado, submetida a movimentações burocráticas e de técnica legislativa que traduziam, com esforços ora explícitos, ora camuflados, um percurso tortuoso de conflitos ideológicos e de interesses contraditórios (CARNEIRO, 2015, p. 38). Observa-se que os interesses aqui envolvidos estavam voltados para uma “visão agudamente desigual dos mecanismos de controle social, a partir dos espaços de governo e das escalas de comando dos protagonistas e atores do palco educacional, sobretudo daqueles posicionados na ponta do sistema: a escola” (CARNEIRO, 2015, p. 38). Com isso, a construção desta nova Lei foi determinante no que diz respeito à busca do diálogo, pois “há de se reconhecer que o tempo ensinou o que ainda não se aprendera com o tempo: a estratégia das Conciliações abertas, na feliz expressão do sociólogo e deputado federal Florestan Fernandes” (CARNEIRO, 2015, p. 38). Diante do exposto, podemos determinar que todos os embates ficaram focados diretamente em três blocos apresentados pelo professor Moaci Alves Carneiro, integrante da equipe que auxiliou na elaboração do texto final da LDB. Ficaram assim elencados: UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 42 QUADRO 3 – ETAPAS DE ESTUDO DA FORMAÇÃO DA LDB 9.394/96 BLOCO UM • O direito à educação e o dever de educar. • Definição de educação e respectivos fins, princípios, níveis escolares e focos. • Público e privado na oferta de educação. • Formas de organização da educação escolar e, sobretudo, da educação básica. • Níveis e distribuição de responsabilidades entre União, estados, DF e municípios. • Financiamento da educação. • Funcionalidades e limites do ensino privado. • Formação de professores e extensão do conceito de trabalhadores da educação para todos os “atores escolares”. • Gestão democrática da escola. BLOCO DOIS • Educação escolar: compreensão, organização e oferta. • Diretrizes e Parâmetros Curriculares para a educação básica. • Componentes estruturantes da universidade, funções e sistemas de articulação. • Modalidades de articulação entre os vários níveis de ensino. • Estrutura e Funcionamento dos Sistemas de Ensino. • Saberes formais e não formais dentro dos currículos em operação. • Educação escolar para a diversidade e manejos de políticas educacionais para a inclusão social. • Organização das modalidades de ensino, com destaque para a Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e Educação Indígena. BLOCO TRÊS • Oferta de educação escolar e regime de colaboração. • Formas de organização, estrutura e funcionamento de todos os níveis e modalidades de ensino. • “Refaces” da Educação Superior, novas tipologias de curso e indissociabilidade das funções de ensino, pesquisa e extensão. • Educação Profissional e Mercado de Trabalho. • Reestruturação do esquema de cursos de formação de professores. • Reposicionamento do estado em relação à rede Federal de Instituições de Ensino Técnico. • Criação de Universidades especializadas por campo de saber. • Credenciamento de instituições de Educação a Distância. • Sistema Nacional de Avaliação. FONTE: CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil: Leitura crítica e compreensiva artigo a artigo (2015, p. 39-40). TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 43 Com o que foi apresentado acima, podemos destacar que os avanços ocorreram e estamos colhendo na atualidade alguns destes frutos. A Lei 9.394 é aprovada pelo plenário do Senado Federal em 8 de fevereiro de 1996, conforme Carneiro (2015 p. 41-42), “[...] retornando, em sucessivo, à Câmara dos Deputados. Ali, o Substitutivo originário do Senado recebe outro relator, incorpora emendas e é, afinal, aprovado sem vetos, assumindo a forma da Lei 9.394/1996”. A Lei 9.934/96 pode ser encontrada em sua escola ou no site do Ministério da Educação: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12907:legislacoes& catid=70:legislacoes>, consulte. Carneiro (2015, p. 42) afirma que ao texto atualizado da LDB, atribui- se quatro comprovações referentes à educação e sua aplicabilidade, assim apresentadas por ele: I. A educação é um campo estratégico de lutas políticas entre forças de permanência e forças da mudança. Para as primeiras, a educação é um ‘produto’, para as segundas um ‘processo’. II. O ambiente político que hospedou as longas, detalhadas, conflitivas e contraditórias agendas de debate político, no âmbito do processo de elaboração da atual LDB, foi marcado por esforços continuados de desqualificar o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública na LDB e, ainda, de elidir o esforço do Bloco Parlamentar em Defesa da Educação Pública, formado e consolidado ao longo da Constituinte. III. A inversão dos mecanismos de controle político, com a prevalência da vontade onipotente do Executivo sobre o Legislativo, deslocou os focos relacionais entre Educação/Estado/Sociedade/Economia/Cultura. IV. A mobilização da sociedade civil organizada constitui empuxe fundamental para remover tentativas de descaminhos do estado e de desvios do Poder Político. No caso em tela, os veementes protestos de entidades e atores do campo educacional, as manifestações dirigidas ao Parlamento Nacional e ao MEC, os encontros locais, regionais e nacionais – com destaque para o I Congresso Nacional em Defesa da Escola Pública (julho/agosto de 1996, em Belo Horizonte, reunindo mais de cinco mil participantes) e, ainda, o trabalho incansável e vigilante do Fórum junto ao Congresso Nacional, com o apoio da imprensa, foram fatores decisivos para assegurar o caminho de avanços desejados. Pode-se dizer que este conjunto de forças e iniciativas de mobilização política contribuiu significativamente para conter o alargamento de deformações no texto em curso legislativo e, assim, para desenhar um campo normativo-educacional mais consentâneo com a realidade democrática do país. DICAS UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 44 Estas comprovações denotam que a caminhada para termos hoje a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96 não foi algo fácil, ocorreram forças que sentiam a necessidade de determinar o que, como e qual leitura deveria ser feita sobre este documento. Em relação aos blocos apresentados anteriormente, podemos determinar que esta LDB trouxe avanços significativos em vários momentos de sua escrita. Os avanços estão apresentados na defesa da escola pública, na defesa ao profissional da educação, na maneira como o Estado organiza e oferece a Educação Superior, dentre outros. Com isso, podemos determinar que a LDB é e está em constante transformação. Caro acadêmico, para alguns, o que vimos até o momento pode ser determinado como algo dispensável, mas não o é, pois estes movimentos históricos vivenciados na construção tanto da Constituição como da Lei de Diretrizes e Bases devem ser vistos como “radiografias vivas dos antagonismos da sociedade brasileira e, sobretudo, como expressões de significaçõesdo passado e de matéria- prima para ressignificações no futuro, dentro de uma visão reinterpretada de novas possibilidades do Brasil como sociedade democrática” (CARNEIRO, 2015, p. 43). Com isso podemos determinar que se necessita a cada momento redescobrir o que há de essencial dentro dos meios políticos e sociais, para assim reconstruirmos nossa história e modificar, se necessário, os caminhos na fortificação de leis mais flexíveis para a melhor condução da Educação no Brasil. 3 A LDB E SUA ESTRUTURAÇÃO Caro acadêmico, diante do exposto até o momento, podemos determinar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação também possui uma estruturação, e possui, conforme Santos (2012 p. 30), “um status diferenciado”. Esse status caracteriza a LDB como “a maior de todas as políticas públicas regulatórias, pois sua estrutura define as relações, os acordos e os conflitos que podem se desenrolar no âmbito da educação brasileira” (SANTOS, 2012, p. 30). Ao tratarmos da estruturação da LDB, nos deparamos com um documento que passou e passa por modificações nos artigos, sendo estes modificados por diversos motivos. Quanto à estruturação do documento, podemos assim determiná-la: possui nove títulos, 92 artigos, além de cinco capítulos, tendo o capítulo II cinco seções. Assim apresenta-se: Título I – Da educação Título II – Dos princípios e fins da educação nacional Título III – Do direito à educação e do dever de educar Título IV – Da organização da educação nacional TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 45 Título V – Dos níveis e das modalidades de educação e ensino Capítulo I – Da composição dos níveis escolares Capítulo II – Da Educação Básica Seção I – Das disposições gerais Seção II – Da Educação Infantil Seção III – Do Ensino Fundamental Seção IV – Do Ensino Médio Seção IV-A – Da educação profissional técnica de nível médio Seção V – Da educação de jovens e adultos Capítulo III – Da educação profissional e tecnológica Capítulo IV – Da educação superior Capítulo V – Da educação especial Título VI – Dos profissionais da educação Título VII – Dos recursos financeiros Título VIII – Das disposições gerais Título IX – Das disposições transitórias Com esta exposição podemos compreender o que antes Carneiro (2015) nos apresentou em suas considerações sobre a construção da LDB. Possuímos um documento com largas possibilidades de mudanças sociais e políticas públicas que auxiliam na caminhada política educacional brasileira. Tanto a Constituição Federal como a LDB estão interligadas, dando, assim, condições de mesclar sua estruturação e alinhamentos. Para que você tenha maiores conhecimentos sobre a LDB na íntegra, solicitamos que busque nas páginas do Portal do Ministério da Educação esse documento, ou no link <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. 4 BREVE ANÁLISE DOS TÍTULOS DA LDB Faremos, agora, em algumas páginas a análise de cada título da LDB, para sua melhor compreensão e análise: Título I Da Educação Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (BRASIL, 1996, grifo do original). Podemos observar que este artigo não trata somente da educação formal, mas da que ocorre também fora das universidades e das escolas (informal), como nos espaços da família, no trabalho, nas organizações sociais, nas associações, nos sindicatos, entre outros. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 46 Ainda neste artigo, no § 2º, quando trata da vinculação ao mundo do trabalho e a prática social, a educação passa a ser vista através de quatro conceitos estruturantes, assim apresentados por Carneiro (2015, p. 52, grifos do original): a) Prática social: atividade socialmente produzida, ao mesmo tempo, produtora de existência social. Significa, também, soma de processos históricos determinados pelas ações humanas. b) Mundo do trabalho: ambiente de construção de sobrevivência, mas também de transformação social. c) Movimentos sociais: esforços organizados de construção de espaços alternativos de organização coletiva com vistas à emancipação das coletividades. d) Manifestações culturais: expressões da cultura enquanto conceito antropológico. Reporta o mundo que o homem cria através de sua intervenção sobre a natureza, ou seja, através de seu trabalho. Neste sentido, não há cultura superior a outra, há, isto sim, culturas diferentes. Estes conceitos retratam o que nós, educadores, das mais diversas áreas necessitamos saber, e distinguir o que significa o mundo do trabalho de mercado do trabalho. De acordo com Carneiro (2015, p. 52), o mundo do trabalho é “o campo por excelência da realização humana e da construção coletiva da cidadania com qualidade de vida”. Com relação ao mercado de trabalho, o mesmo autor afirma que: “é lugar da empregabilidade, dos pontos fixos de ocupação e, portanto, da profissionalidade. E embora diferentes, estes conceitos se completam em uma visão unificadora de desenvolvimento e formação”. Ainda em relação a este parágrafo, podemos determinar que a escola é o espaço que assegura a entrada do sujeito na vida intelectual, o auxiliando na construção de seus conhecimentos de forma sistematizada, conforme Carneiro (2015, p. 53): [...] ela abre os caminhos de todos e de cada um para uma relação criativa com o saber produzido pelo ser humano trabalhador. Ora se é verdade que o sujeito aprendente apropria-se de uma parte do patrimônio cultural humano, é também verdade que a conexão entre sujeito e saber – entre educação escolar e vida – se dá pelo trabalho. Por isso, pode-se dizer, em um certo sentido, que o primeiro princípio do saber é o trabalho, fonte de prática social. Título II Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, grifo do original). Observamos que a Constituição Federal possui escrita similar ao apresentado no Artigo 2º. Encontramos, nesse artigo, as responsabilidades relativas ao Estado e às famílias no que se refere à Educação. TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 47 Ao Estado cabe se organizar ou se balizar de maneira legal frente à educação, observando o que segue na Constituição Federal nos artigos 208 a 214 já apresentados anteriormente. Além do que apresenta a LDB (Lei 9.349/96) e o Estatuto da Criança e do Adolescente, Capítulo IV (Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer) (Lei 8.069/90) (CARNEIRO, 2015). Quanto à finalidade da educação, ela se apresenta em três momentos, sendo eles: a obtenção do pleno desenvolvimento do educando, dando ao indivíduo dentro de sua aprendizagem um desenvolvimento suave e progressivo. Preparação para o exercício da cidadania: desenvolver o conceito de cidadania de maneira global, observando que esta construção é gradativa, necessita de observância. Qualificação para o trabalho: a escola necessita se organizar de maneira a repassar ao educando uma relação educação-trabalho, voltada para tornar o trabalho altamente produtivo e que o conhecimento construído possa auxiliar no desenvolvimento do educando. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; XII - consideração com a diversidade étnico-racial (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) (BRASIL, 1996). Nesse artigo temos 12 princípios, os quais devem nortear o ensino brasileiro. Sabemos que muitos desses princípios ainda estão em construção no que diz respeito a sua prática diária, mas denotam avanços ocorridos em nossa sociedade e na implementação dos direitos e garantias de qualidade e valorização dos profissionais da educação escolar, desenvolvimento de concepções pedagógicas e sua aceitação, além das questões relativas à diversidade étnico-racial. Título III Do Direito à Educação e do Dever de Educar Este título é formado por quatro artigos, art. 4º, 5º, 6º e 7º que tratam dos deveres e responsabilidades do Estado e da sociedade civil, no que tange à educação escolar. Podemos perceber que o artigo 4º sofreu mudanças através da Lei 12.796/2013, que amplia os níveis de educação escolar básica como gratuita e obrigatória, sendo assim delineados: Educação Infantil da Pré-escola, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 48 Você, acadêmico, já deve ter observado em sua escola, ou com seus familiares que possuem crianças em idade escolar, a mudança ocorrida no que diz respeito a matrículas. A partir de agora, os pais devem matricular seus filhos na Educação Infantil, a partir dos 4 anos, levando-os para a pré-escola. Cabe ressaltar que esta mudança ocorreu pelo fato de que anteriormente aos pais era obrigatória a matrícula a partir dos seis anos, sendo que a única forma de educação obrigatória era o Ensino Fundamental. Assim, a Pré-escola integra a Educação Infantil, a qual representa a primeira etapa da Educação Básica. Conforme Carneiro (2015, p. 92): “A Educação Infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos de idade, com foco em quatro dimensões: A – desenvolvimento físico; B – desenvolvimento psicológico; C – desenvolvimento intelectual e D – desenvolvimento social”. Com relação ao Ensino Fundamental, pode-se afirmar que é uma sequência do que já foi iniciado na Educação Infantil, dando ênfase em: seu desenvolvimento da capacidade de aprendizagem; aprofundamento no processo de alfabetização; compreendimento nas esferas cultural, social, natural, educacional, político e econômico, aproximando-se também das tecnologias, das artes, da cultura e dos valores em que a sociedade se fundamenta. Observa-se, também, a necessidade do fortalecimento dos vínculos familiares, a observância em relação à solidariedade humana (CARNEIRO, 2015, p. 97). Esta etapa da Educação Fundamental possui duração de nove anos obrigatórios e gratuitos. Assim organizados: Anos Iniciais (formado por cinco anos); Anos Finais (formado por quatro anos). O Ensino Médio passou por diversas mudanças, você, acadêmico, pode observar no Portal do MEC as diversas alterações, sendo que na atualidade este nível de ensino passa a ser como “oferta obrigatória universal e gratuita” (CARNEIRO, 2015, p. 103). Com esta dita universalização do Ensino Médio gratuito, ele passa a aliar três níveis de alcance. São eles, conforme Carneiro (2015, p. 103, grifos do original): Social, porque eleva o padrão de escolaridade do cidadão brasileiro, aprimorando os níveis de compreensão política em geral; cultural, porque ressitua as pessoas no contexto das diversas linguagens atuais, ampliando as chances de multiplicar os espaços dialógicos e interacionistas e, por fim, econômico, porque qualifica o trabalhador, ensejando uma relação profissional mais adequada com as transformações produtivas e com a TECNOCIÊNCIA. Cabe salientar que a organização do Ensino Médio tem como foco, conforme o art. 26, da Res. nº 04/2010-CNE, apresentado por Carneiro (2015, p. 105): a) A consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos assimilados no Ensino Fundamental. b) A preparação básica para a cidadania e o trabalho. TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 49 c) O desenvolvimento do aluno como pessoa humana. d) A formação ética e estética do aluno associada ao desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. e) A compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos da produção contemporânea. f) A aquisição de competências e habilidades para continuar aprendendo ao longo da vida. Cabe aqui uma reflexão: frente a estas finalidades podemos nos ater ao que realmente está sendo realizado em nossas escolas. Em sua visão, o Ensino Médio possui estas ações ou fins em nosso cotidiano pedagógico? Estamos realizando estes movimentos para chegarmos a estes fins? Cabe ressaltar, também, a presença do “III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino; [...]” (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (BRASIL, 2013). Este atendimento educacional especializado necessita de uma organização, a qual assim pode ser determinada, conforme Carneiro (2015, p. 122): i) Matrícula dos alunos preferencialmente nas escolas regulares e nas classes comuns; ii) Professores devidamente capacitados e especializados; iii) Flexibilizações e adaptações curriculares com foco no significado prático e instrumental dos conteúdos essenciais; iv) Metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados; v) Processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais; vi) Projeto pedagógico permeável à diferença e à diversidade; vii) Serviços de apoio pedagógico especializado para complementação ou suplementação curricular, utilizando equipamentos e materiais específicos; viii) Rede de apoio interinstitucional que envolva equipes multidisciplinares a serem acionadas sempre que necessário para o sucesso do aluno em seu processo de aprendizagem. Caro acadêmico, você poderá se perguntar: como ocorre esta educação inclusiva, qual sua fundamentação? O fundamento da educação inclusiva, segundo a Declaração de Salamanca, é: “[...] que todas as crianças, sempre que possível, devem aprender juntas, independentemente de suas dificuldades e diferenças. A inclusão educativa é um movimento da sociedade planetária com três décadas de história, enraizada no respeito intransigente aos direitos humanos” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1994, p. 1). Ouve-se muito falar em educação inclusiva, assim, salientamos que o Brasil é um país que buscou alinhar seus parâmetros de conduta que implicam em ações e atitudes de todos os profissionais, sejam da esfera Federal, Estadual ou Municipal, incluindo os profissionais das escolas. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 50 • Aprender é uma ação humana em cuja centralidade está o aluno. • Adaptar o conteúdo escolar é ação do próprio aluno no âmbito do processo de autorregulação. • Modular a assimilação dos conhecimentos é processo dependente das limitações e possibilidades do aluno. • Reconhecer e valorizar as diferenças é o primeiro passo para a escola comum recriar suas práticas pedagógicas. • Trabalharcom uma gama variada de atividades é o grande desafio do professor da educação especial. • Aferir programas no campo da aprendizagem e, não, conferir quantidade de conteúdos programáticos aprendidos, é a forma adequada de proceder à avaliação dos alunos com deficiência. Com relação aos sujeitos da Educação Especial, a LDB possui seu olhar para o atendimento educacional especializado a três grupos, que são: os alunos com deficiência, os alunos com transtornos globais do desenvolvimento e os alunos com altas habilidades. Estas questões estudaremos com maior profundidade em cadernos como o de LIBRAS. Dando sequência aos estudos, vamos ao próximo título. Título IV Da Organização da Educação Nacional Este título vai do art. 8º ao 20, que trata da organização da educação nacional, apresentando as competências de cada nível da federação, sendo eles: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Ressalta-se que neste momento da organização da educação nacional todos os segmentos devem buscar um trabalho de colaboração que auxilie na aplicação das políticas públicas. Cada esfera possui suas responsabilidades, assim aferidas na LDB – Lei 9.349 (BRASIL, 1996, grifo do original): Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento) I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Territórios; III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva; IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 51 ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; IV - A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos para identificação, cadastramento e atendimento, na educação básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação; VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino; VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação; VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de ensino; IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino. (Vide Lei nº 10.870, de 2004) § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei. § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a União terá acesso a todos os dados e informações necessários de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais. § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham instituições de educação superior. Tomamos a liberdade de apresentar na íntegra este documento, pois denota a importância de sabermos qual a responsabilidade de cada esfera federativa no que diz respeito à Educação. Observamos no Artigo 9º, que compete à União, a sistematização e análise dos dados oriundos de todas as redes de ensino. Caro acadêmico, você já ouviu falar sobre o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior)? Pois bem, trataremos deles mais adiante, mas podemos dizer que eles são mecanismos que a União utiliza para a sistematização e análise de dados educacionais. Os artigos a seguir tratam da incumbência dos Estados, Distrito Federal e Municípios (BRASIL, 1996). Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios; IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino; UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 52 V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.061, de 2009). VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003). Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados e aos Municípios. Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; II - exercer ação redistributiva em relação as suas escolas; III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino. VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003). Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica. Conforme Santos (2012, p. 36), “também vale destacar que a redação da LDB aponta claramente para uma integração entre os sistemas de ensino municipal e estadual, coisa que ainda está muito longe de acontecer”. Observe, acadêmico, que tanto estados como municípios possuem autonomia de baixar normas complementares, desde que estas não arranhem os princípios gerais apresentados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Já o Artigo 12 tem como funcionalidade apresentar as atribuições dos estabelecimentos de ensino (BRASIL, 1996): Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedadecom a escola; VII - informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009) TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 53 VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (Incluído pela Lei nº 10.287, de 2001). Percebemos quais são as incumbências do estabelecimento educacional em relação ao seu funcionamento. Cabendo observância no cumprimento das horas-aula, dos dias letivos. Observa-se, também, a presença da sociedade civil no que diz respeito ao número elevado de faltas do educando, tendo a escola a responsabilidade de acionar o Conselho Tutelar. Podemos, ainda, ousar em dizer que todo o artigo busca a gestão compartilhada, sendo a responsabilidade participada entre Estado, escola e a sociedade civil. Cabe ressaltar também as incumbências do profissional da educação, que estão assim alinhadas na LDB: Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. Observamos nesse artigo que os profissionais da educação são chamados a se posicionar como profissionais da educação, e não como meros coadjuvantes do sistema educacional. Sabemos das lacunas existentes dentro do sistema educacional, principalmente no que tange à valorização do professor, mas necessitamos buscar meios para que este quadro se modifique. Para isso, necessitamos fazer o que você está realizando agora, a busca do conhecimento das leis, de nossos deveres e de nossos direitos neste processo. Visto isso, vamos utilizar as palavras de Santos (2012, p. 38), que se refere aos demais artigos deste título IV: No que alude aos sistemas de ensino, os arts. 14 e 15 atribuem-lhes a responsabilidade de promover a gestão democrática do público, além de assegurar autonomia administrativa e pedagógica às unidades que os compõem. Os arts. 16, 17 e 18 definem a área de abrangência de cada sistema de ensino. A esse respeito, cabe observar que, curiosamente, as instituições de educação infantil mantidas pela iniciativa privada integram os sistemas municipais de ensino, ainda que sua autonomia didático-administrativa e financeira seja preservada. Já os arts. 19 e 20 regulamentam as definições de instituição pública (art.19) e privada (art.20) de ensino. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 54 Partiremos agora para o título que se refere aos níveis e modalidades de Educação e Ensino. Título V Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino Capítulo I Da Composição dos Níveis Escolares “Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior” (BRASIL, 1996). Na sua estrutura educacional, a educação escolar possui esta organização: • Creche: três anos de duração. Destinado às crianças de 0 a 3 anos. • Pré-escola: dois anos de duração. Para crianças de 4 a 5 anos. • Ensino Fundamental: nove anos de duração. Para crianças de 6 a 14 anos. • Ensino Médio: mínimo de três anos de duração. Destinado a alunos de 15 a 17 anos (CARNEIRO, 2015, p. 142). De acordo com Carneiro (2015, p. 142): Quando as etapas e fases de aprendizagem circulam fora da previsão de idades regulares, assumem configurações diversas, de ensino não regular, voltada para o perfil de alunos que fogem à norma, como é o caso, entre outros, de estudantes com atraso de matrícula e/ou no percurso escolar, de jovens e adultos sem escolarização ou com esta incompleta. Para estas outras situações, há previsão na LDB (art. 24, Inc. V, alínea b e art. 37 e 38), e, desdobramento, na Res. CNE/CEB 4/2010, art. 21, parágrafo único). Do artigo 22 ao 60 vamos mostrar quais as habilidades que o profissional da educação deve possuir. O título V é o mais extenso, e que possui elevado número de ações, que enquanto profissional da educação ou futuro profissional da educação, necessita estar atento. Assim, podemos apresentar sua composição: Capítulo II – da Educação Básica. Que se subdivide em: Seção I – Das Disposições Gerais (art. 22 ao art. 28). Seção II – Da Educação Infantil (art. 29 ao art. 31). Seção III – Do Ensino Fundamental (art. 32 ao art. 34) Seção IV – Do Ensino Médio, incluindo a seção IV-a – Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio (art. 35 ao art. 36 –D). Seção V – Da Educação de Jovens e Adultos (art. 37 e 38). O Capítulo I já referimos anteriormente, definindo assim os níveis de ensino, suas funcionalidades, sua hierarquização, a qual se apresenta também na Constituição Federal. TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 55 Sabemos que há muito ainda para ser desenvolvido e discutido frente à Educação Básica, para chegar à universalização da Educação. Universalização: tornar comum (FERREIRA, 2001, p. 736). Já o Capítulo II, traz a Educação Básica como foco, trazendo a ideia de que a Educação Básica não está somente focada na preparação para o Ensino Superior, mas sim, sendo vista como etapa fundamental na formação humana de cada cidadão. Abarca também a Educação Infantil até o Ensino Médio, define as regras referentes ao Ensino Religioso e a estruturação do Ensino Médio. Os elementos aqui apresentados “encontram-se na LDB de maneira ampla e flexível [...] resta às escolas e aos sistemas de ensino a tarefa de definir o que seria ‘humano’, para só então utilizar a educação básica como modelo de formação humana” (SANTOS, 2012, p. 41). No que diz respeito à ideia de cidadania, ainda nos apresenta Santos (2012, p. 41): [...] embora a educação básica seja concebida como elemento indispensável para a formação da cidadania, se não houver uma definição de cidadania, um conceito como esse cai no vazio das definições, carecendo da clareza necessária para expressar uma diretriz de formação humana, tal como a pretendida nessa visão de educação básica. Ainda em relação às regras referentes ao ensino religioso, que se apresentam no art. 33 da LDB, encontramos muitas controvérsias. Conforme Santos (2012, p. 42): Essa controvérsia é enfrentada na LDB da seguinte maneira: o ensino religioso deve ser oferecido obrigatoriamente nas escolas, mas sua matrícula é facultativa ao aluno. Para evitar problemas relativos aos proselitismos e/ou à intolerância religiosa, a saída tentada, no âmbito da LDB, foi de que o conteúdo dessa matéria fosse definido a partir de associações civis (nos sistemas de ensino), composta por representantes das diversas confissões e denominações religiosas. Aparentemente, isso garantiria uma solução democrática no que compete às decisões tomadas pelos representantes dos credos, na escolha de conteúdo do ensino religioso, mas, na realidade, isso trouxe – e continua trazendo – tanta controvérsia que, na prática, essa é uma questão indefinida. No que diz respeito ao Ensino Médio, e como já vimosanteriormente, a LDB expõe que o tempo de duração desse ensino é de três anos, compondo assim a etapa final da educação básica. Vejamos o art. 36, no que tange ao currículo (BRASIL, 1996): I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação NOTA UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 56 da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes; III - será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da instituição. IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.684, de 2008) No que diz respeito à seção IV-A, encontramos a Educação Profissional Técnica de Nível Médio (art. 35 ao art. 36-D). Estes artigos retratam como será desenvolvida esta educação profissional técnica (BRASIL, 1996): I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008). Com relação à titulação, a LDB assim determina para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio: Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissional técnica de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação superior. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e subsequente, quando estruturados e organizados em etapas com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados de qualificação para o trabalho após a conclusão, com aproveitamento de cada etapa que caracterize uma qualificação para o trabalho (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) (BRASIL, 1996). E por último, na Seção V – Da Educação de Jovens e Adultos, em seu artigo 37 diz que: “Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria” (BRASIL, 1996). TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 57 Com este artigo podemos determinar que grande parte das matrículas do EJA se encontram na rede pública, e o EJA tem a função de viabilizar e estimular o acesso destes educandos à educação de qualidade e mediante ações integradoras. Outro fator a ser observado diz respeito ao art. 38, relativo à avaliação destes indivíduos. Que assim prescreve: Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames. No que cabe ao Capítulo III – Da Educação Profissional e Tecnológica, esta possui quatro artigos (art. 39 ao art. 42), que trazem em sua fundamentação os conceitos de educação profissional e de tecnologia, além da articulação com a educação regular. O Capítulo IV – Da Educação Superior, compõem-se de 15 artigos (art. 43 ao 57). A educação superior é vista como o “segmento que fecha o arco da composição da educação formal e da oferta de ensino institucional sequenciado, de acordo com a legislação educacional do país” (CARNEIRO, 2015, p. 500). Nesse capítulo, o ensino superior se desdobra em cursos e programas, presentes no Artigo 44, sendo estes estruturados com o ensino, pesquisa e extensão. Já os Artigos 45 e 46 trazem a quem compete a docência desse ensino, além das questões relativas à autorização e reconhecimento dos cursos. Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização. Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação. § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento. § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo responsável por sua manutenção acompanhará o processo de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários, para a superação das deficiências. O Artigo 47 trata do ano letivo, na educação superior, sendo necessária a carga horária mínima de duzentos dias de trabalho acadêmico efetivo, sendo excluído UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 58 o tempo reservado aos exames finais, quando forem oferecidos. Trata ainda este artigo de questões relativas ao oferecimento de cursos de qualidade tanto no período diurno como noturno. Elenca-se também a obrigatoriedade da frequência de alunos e professores às aulas como mecanismo de controle institucional. No Artigo 48, dispõe-se sobre os diplomas de curso superior reconhecido. Estes quando registrados, terão validade nacional como comprovação da formação recebida pelo acadêmico. Algo importante a ser ressaltado é o que se apresenta a seguir: § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições não universitárias serão registrados em universidades indicadas pelo Conselho Nacional de Educação. § 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação. § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e em nível equivalente ou superior. O § 1º traz uma inovação, conforme trata Carneiro (2015, p. 565): O § 1º inova ao permitir que diplomas expedidos por universidades sejam por elas próprias registrados. Neste caso, as universidades devem estar autorizadas a funcionar e devem estar reconhecidas legalmente. Legislação recente permite que qualquer universidade – pública ou privada – possa registrar diplomas de IES não universitárias.Por outro lado, permite igualmente que os centros universitários registrem seus próprios diplomas. IES – Instituições de Educação Superior Com relação ao Artigo 49, ele trata da aceitação de transferência de alunos regulares para cursos afins, existindo vagas para tal processo. No Artigo 50, observam-se as questões relativas à abertura de matrículas quando houver ocorrência de vagas, mediante processo seletivo prévio conforme a lei. O Artigo 51 delibera sobre os critérios e normas de admissão dos acadêmicos, sendo estas instituições legalmente credenciadas. Vejamos o que diz o Artigo 52: NOTA TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 59 Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional; II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral. Conforme Carneiro (2015, p. 573), “a missão essencial da universidade é produzir e disseminar conhecimento, via formação profissional avançada, em diferentes áreas do saber”. Por este motivo recebem a denominação de instituições pluridisciplinares. No que diz respeito à formação dos profissionais, a universidade busca professores especializados em suas variadas áreas, trabalhando assim com o conhecimento articulado assegurando, “quanto possível, o domínio e o cultivo do saber humano” (CARNEIRO, 2015, p. 573). Quando se lê pluridisciplinar estamos nos remetendo a uma visão que quebra a fragmentação imposta no conhecimento curricular. Conforme Carneiro (2015, p. 574), “a universidade pluridisciplinar é um laboratório de formação e não de conformação”. Assim, existe movimento, transformação. E para que as instituições sejam pluridisciplinares é necessário que elas organizem o conhecimento sob eixos estruturantes que envolvem: i) a estrutura de diversas áreas do conhecimento; ii) o vínculo entre domínio do conhecimento e o respectivo processo de aquisição; iii) identificação do conteúdo globalizante de cada subárea do conhecimento (cursos), incluindo o saber específico e as metodologias que vão diminuir a trajetória a ser palmilhada para a assimilação deste saber; iv) a captação da estrutura das disciplinas [...]. (CARNEIRO, 2015, p. 574). Ainda conforme Carneiro (2015, p. 575), “é necessário compreendermos que a espinha dorsal da organização do ensino na universidade é a construção da unidade do conhecimento por via da multiplicidade dos saberes”. Os Artigos 53 e 54 trazem em evidência à palavra autonomia, assegurando às universidades suas atribuições para o funcionamento e andamento dos trabalhos educativos, observando sua organização no âmbito de contratação de profissionais, no seu funcionamento, contando com um estatuto jurídico especial. O Artigo 55 trata das questões relativas ao Orçamento Geral, que compete à União sua seguridade, junto às instituições superiores mantidas por ela. O Artigo 56 assim se apresenta: Art. 56 As instituições públicas de educação superior obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade institucional, local e regional. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 60 Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha de dirigentes. Com relação a este artigo, podemos verificar que a gestão democrática é vista como matéria de definição constitucional, conforme o art. 206, inc. VI. Observa-se que esta gestão deve ser apresentada nos documentos que legislam cada sistema e juntamente aos regulamentos de cada instituição. O Artigo 57 trata das questões relativas às horas que o professor deverá realizar na instituição pública de educação superior, sendo esta carga mínima de oito horas semanais de aulas. “O Capítulo V – que trata da Educação Especial, possui em sua formação três artigos (art. 58 ao 60), que determinam a regulamentação, da definição conceitual da educação especial enquanto modalidade de ensino presente em todos os níveis” (SANTOS, 2012, p. 39). Nesses artigos temos presente o que consta na Constituição Federal de 1988, que define as formas de organização, estruturação, preferencialmente na rede regular de ensino. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, então encontramos o desejo de uma sociedade inclusiva. Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (BRASIL, 1996). Quem são os “educandos portadores de necessidades especiais?”. Conforme Carneiro (2015, p. 610-611), assim fica delineado: • Aluno com deficiência mental. • Aluno com deficiência auditiva. • Aluno com deficiência visual. • Aluno com deficiência múltipla. • Aluno com deficiência motora. • Aluno com condutas típicas. • Aluno com Síndrome de Down. • Aluno com autismo. • Aluno com déficit de atenção/hiperatividade. • Aluno com transtornos do pensamento e da linguagem. • Aluno com transtorno de personalidade. • Aluno com dificuldade de aprendizagem. • Aluno superdotado. • Aluno em classes hospitalares, em centros de reabilitação ou convalescência, em domicílio. • Alunos oriundos de contextos culturais minoritários (indígenas, ciganos). • Alunos com problemas de autoconceito. • Alunos submetidos a níveis agudos de privação cultural. TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 61 O autor ainda trata de outros registros crescentes na sociedade de alunos especiais relativos a situações de risco e de trabalho forçado, privando a vida dos educandos como: • Alunos filhos de pais separados. • Alunos filhos de pais alcoólatras. • Alunos sem pais. • Alunos filhos de pais desempregados. • Alunos filhos de pais encarcerados. • Alunos dependentes de drogas. • Alunos com problemas de subnutrição. • Alunos/meninos de rua. • Alunos que vivem em situação de risco. • Alunos cujos pais vivem em trânsito/filhos de famílias circenses, de caminhoneiros, boias-frias, agricultores em terra, de famílias ciganas etc. (CARNEIRO, 2015, p. 45). Frente ao exposto, podemos determinar que os educandos que necessitam de atendimento educacional especializado precisam estar em uma escola que seja flexível e possua uma equipe multidisciplinar capaz de realizar este apoio aos professores que se comprometem com o ensino, favorecendo um ambiente em que a aprendizagem seja voltada às políticas inclusivas. Essa temática será mais aprofundada no Caderno de Estudos de Educação Inclusiva. Já o Artigo 59 trata das questões relativas aos educandos que possuam transtornos globais do desenvolvimento e as altas habilidades ou superdotação, apresentando-lhes currículo, métodos e recursos educativos para atender suas necessidades. A escola deverá possuir professores com especialização em nível superior, bem como os professores regentes serem capacitados para a integração destes educandos. Trata-se, também, do acesso igualitário aos programas sociais. O Artigo 60 trata das questões relativas aos órgãos normativos dos sistemas de ensino referentes à educação especial na esfera privada “sem fins lucrativos, especializadas,e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo poder público” (BRASIL, 1996). Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (BRASIL, 1996). ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 62 De acordo com Carneiro (2015, p. 640): A Educação Especial no Brasil desenvolveu-se, primeiramente, em instituições privadas sem fins lucrativos. Só depois, mercê de grandes pressões sociais, o Estado passou a se ocupar do assunto. Neste sentido, não se pode esquecer da grande contribuição que instituições como as Apaes, Pestalozzi, Febiex e tantas outras ofereceram e continuam a oferecer para o desenvolvimento da Educação Especial no Brasil. Cabe ressaltar ainda que com a colaboração da sociedade, como confere a Constituição Federal, em seu Artigo 205, a lei reconhece que se necessita de órgãos normatizadores junto ao sistema de ensino, para definirem critérios de caracterização institucional e pedagógico, para que as instituições que tratam da educação especial recebam o apoio técnico e financeiro do Poder Público. Título VI Dos Profissionais da Educação Este título IV é composto por seis artigos, art. 61 a 67. Estes artigos buscam definir quem são os profissionais da educação. Também é tratado de sua formação profissional (BRASIL, 1996). Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009). Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) Os Artigos 61, 62, 63, 64 e 65 retratam a preocupação deste profissional da educação, que são os professores que “ministram o ensino, e os demais, que apoiam todo o processo de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento do aluno, TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 63 além dos vários caminhos de formação. Já o Art. 66 fixa a diferenciação existente com relação à preparação para o magistério superior” (CARNEIRO, 2015, p. 644). Cabe ressaltar aqui a presença da formação continuada, apresentada no Artigo 62 em seus incisos. Além do Artigo 67, que institui a valorização dos profissionais da educação. Esta temática será apresentada na próxima unidade deste caderno. Título VII Dos Recursos Financeiros Esse título é formado por nove artigos, os quais vão do art. 68 ao 77, dando ênfase aos recursos destinados à educação. Vamos a eles: o Artigo 68 se refere a quais são os recursos públicos a serem investidos na educação e sua origem. No Artigo 69 trata-se da fixação dos percentuais a serem aplicados na educação. Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na manutenção e desenvolvimento do ensino público. Conforme Santos (2012, p. 49), a fixação destes investimentos em educação em percentuais fixados acaba por impedir dois problemas, a dizer: “a. A desvalorização financeira dos recursos alocados para esse fim. b. O descompromisso dos entes federativos com suas atribuições constitucionais, no que tange ao financiamento da educação pública”. No Artigo 70 apresentam-se as definições sobre a finalidade das verbas e manutenção da Educação. O artigo 71 trata de complementar o que foi apresentado no artigo anterior. Já os Artigos 72 e 73 se referem à divulgação publicamente dos valores aplicados anualmente no desenvolvimento e manutenção do ensino, bem como as regras para a prestação das contas das operações financeiras concretizadas. O Artigo 74 trata da fixação de um valor mínimo para cada aluno da rede de ensino, sendo este valor repassado pela União, de forma colaborativa com os Estados, Distrito Federal e Municípios, assegurando assim um ensino de qualidade. Este cálculo será realizado ao final de cada ano letivo pela União e será repassado observando as questões relativas às variações regionais no custo dos produtos e nas variadas modalidades de ensino. UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 64 Artigo 75: “A ação supletiva e redistributiva da União e dos Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade de ensino” (BRASIL, 1996). Observa-se que neste artigo se busca reduzir as desigualdades regionais relativas à educação nacional. O Artigo 76 complementa o artigo anterior, dando a entender que existirá um regime de colaboração entre Estados, Municípios e a União no que tange à educação. Já o Artigo 77 trata da regulação das transferências de recursos públicos para instituições que tratam da educação, como escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas que possuam comprovação de finalidade não lucrativa além da prestação de contas ao poder público. Título VIII Das Disposições Gerais Neste título estão apresentados os artigos 78 a 86, que tratam sobre a regulação específica relativa a questões que abarcam desde a educação indígena, educação de jovens e adultos (EJA), chegando à educação a distância. O artigo 78, aborda a educação indígena: “Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas [...]” (BRASIL, 1996). Este artigo da LDB vem com o conceito de multiculturalismo, com o objetivo de assim poder trabalhar com conteúdos ligados às culturas indígenas, respeitando sua língua e sua cultura. O Artigo 79 trata de questões relativas à competência da União em subsidiar os sistemas de ensino que promovam a educação intercultural, também apresentada nos PCN, onde desenvolve o tema transversal da pluralidade cultural. No Artigo 79-B, inclui-se a Lei 10.639/03, que cria nos calendários escolares a data relativa ao Dia da Consciência Negra, sendo ela dia 21 de novembro. [...] deve ser registrado, no entanto, que a noção de interculturalismo presente nesse documento não obedeceà acepção própria da palavra, pois não enfatiza a relação entre as diversas culturas e etnias, mas pensa nelas como identidades estanques – negro, branco, indígena – e, alguns dos conteúdos culturais relativos a esses grupos são incluídos de modo pontual (SANTOS, 2012, p. 52). No Artigo 80 nos deparamos com a responsabilidade dos sistemas de ensino relativos à Educação a Distância. Isso nos interessa muito, caro acadêmico, pois você está realizando seus estudos numa instituição de ensino a distância. TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 65 Conforme Carneiro (2015, p. 784), “o artigo 80 determina que o Poder Público vai não apenas incentivar o desenvolvimento de programas de Educação a Distância, mas também programas de educação continuada, dentro do entendimento de que a educação não é um produto, é um processo e, portanto, nunca se termina de aprender”. O autor continua seu pensamento dizendo que: Neste horizonte, sinaliza o CNE/CEB, na Res. 04/2010, ao definir as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica que: ‘[...] a organização curricular deve levar em conta as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e saberes dos estudantes’ (CARNEIRO, 2015, p. 784). Com isso afirmamos que a Educação a Distância (EAD) se utiliza de espaços virtuais para multiplicar as possibilidades de aprendizagem, conforme Carneiro (2015, p. 785). Para que exista esta multiplicação de saberes necessitamos das TICs – Tecnologias de Informação e Comunicação. Os programas de Educação a Distância possuem e preveem a obrigatoriedade de momentos presenciais em: “avaliações de estudantes; estágios obrigatórios, quando previstos na legislação pertinente; defesa de trabalhos de conclusão de curso, quando previstos na legislação pertinente; atividades relacionadas a laboratórios de ensino, quando for o caso” (CARNEIRO, 2015, p. 776). Estes programas de Educação a Distância possuem os mesmos rigores da lei para seu funcionamento, e os níveis de qualidade dos cursos e programas oferecidos também possuem o mesmo peso. Observe, acadêmico, que o educando desta modalidade de ensino, como você, possui uma maior responsabilidade, cabe a cada aluno três características, pontuadas por Carneiro (2015, p. 777): a) É autodiretivo, portanto, responsável pela agenda de estudos independentes; b) é possuidor de experiência e, por isso, seletivo no conteúdo da aprendizagem; e, por fim, c) é operativo, o que o ajuda no curso dos conhecimentos práticos, ou seja, daqueles conhecimentos que respondem e correspondem a suas necessidades imediatas. Por este motivo, acadêmico, a importância de você participar dos fóruns, enquetes, realizar a leitura das trilhas, ler seu Caderno de Estudos, buscar maiores informações através das tecnologias oferecidas por sua instituição de ensino, as quais são muitas e na maior parte das vezes são deixadas de lado. Vamos utilizá- las para melhor desempenho de nossos trabalhos. As instituições na modalidade a distância também podem, através da Portaria Normativa nº 2/2007, realizar a abertura de polos, claro que com as respectivas regulamentações, como se apresenta nesta portaria. Cabe ressaltar que o papel do professor, neste ambiente de interatividade aberta condiz com as palavras de Carneiro (2015, p. 785) assim apresentadas: “o UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 66 papel do professor agrega responsabilidades adicionais à medida que o aluno tende a substituir a passividade tradicional por interações e interlocuções permanentes em torno de sua autoformação, tendo como consequência a construção continuada do processo de autonomia e de postura crítica”. Já no Artigo 81, a LDB faz uma quebra, estimulando a radicalidade do pensamento pedagógico e da prática escolar, deixando de lado aquele modelo pronto, dando ao aluno a possibilidade de construção de seus conteúdos, tendo ele a responsabilidade de autorreger-se. O Artigo 82 trata de questões relativas às normas de realização do estágio, aprovada em agosto de 2008 pelo Congresso Nacional, e sancionada pelo Presidente da República. Sabemos que os estágios são parte integrante do projeto pedagógico do curso “integrando, portanto, o itinerário formativo do aluno, seu foco bipolar: desenvolvimento de competências no campo da atividade profissional projetada e contextualização do currículo mediante a integração teoria/prática” (CARNEIRO, 2015, p. 788). Cabe ressaltar, acadêmico, que a partir do sexto módulo você realizará seus estágios. Observe que eles são de extrema importância, dando a você a possibilidade de vislumbrar e colocar à prova todos os ensinamentos já construídos e apreender novos. Veja que os estágios possuem hoje uma elasticidade, pois temos na atualidade dois tipos, que são: o estágio obrigatório e o não obrigatório, também conhecido como estágio remunerado. O estágio obrigatório consta no projeto do curso das instituições de ensino e das respectivas diretrizes curriculares e o cumprimento de seus acordos legais, sendo isso imprescindível para a obtenção do diploma e consequentemente para seu registro profissional. Já o estágio não obrigatório, também conhecido como estágio remunerado, é uma atividade opcional, acrescida “à carga horária regular obrigatória ou, ainda, assume o caráter de uma atividade de formação complementar remunerada” (CARNEIRO, 2015, p. 788). O Artigo 83 trata do ensino militar, que continua sendo realizado e mantido por legislação específica. O Artigo 84 se refere aos discentes da educação superior, que poderão ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa por suas instituições, exercendo funções de monitoria. Esta monitoria, conforme Carneiro (2015, p. 794): [...] é uma atividade desenvolvida na educação superior com quatro objetivos assim definidos: i) estimular o aluno a um permanente alto nível de estudo; ii) gerar um relacionamento pedagógico elevado e produtivo entre alunos e professores; iii) auxiliar o professor no TÓPICO 2 | A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO DE 1996 67 desenvolvimento de atividades didático-pedagógicas; iv) suscitar, no aluno, o interesse pela carreira docente. Já o Artigo 85 estabelece que: Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação própria poderá exigir a abertura de concurso público de provas e títulos para cargo de docente de instituição pública de ensino que estiver sendo ocupado por professor não concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Este artigo traz à tona questões relativas ao compadrio, permanecendo no cargo sem que tenha feito ou participado de concurso público. Compadrio: relações entre compadres; proteção excessiva ou injusta (FERREIRA, 2001, p. 176). O Artigo 86 trata do estabelecimento de vínculo entre as IES com o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. Título IX Das Disposições Transitórias Este título é composto por seis artigos que vão do art. 87 ao art. 92. Conforme Santos (2012, p. 54), “nele estão definidas ações legais com abrangência futura, e a partir dele, é possível perceber que a atual LDB revoga todas as Leis de Diretrizes e Bases anteriores”. O Artigo 87 institui a Década da Educação, que se inicia em 1997, onde se passa a realizar diversas políticas que fomentam a melhoria da educação em nosso país. A LDB instituiu a Década da Educação ao iniciar-se um ano após a publicação da lei. A ideia era importante porque recolocava, mais uma vez, a necessidade de se criarem mecanismos favoráveis à atenção dos poderes públicos e da sociedade para a questão da educação. A experiência tem mostrado que somente ações de rotinasão incapazes de levar a sociedade brasileira a ultrapassagem de índices educacionais desfavoráveis, mesmo quando comparamos o Brasil com alguns países da América Latina (CARNEIRO, 2015, p. 798). Com estas palavras, podemos parar para refletir um pouco: será que foi conquistada a educação universal para nossa população, conforme apresentado em artigos anteriores? Como fechamento deste título da LDB, citamos Carneiro (2015, p. 799), o qual diz que: NOTA UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 68 A ideia não passou de uma utopia jamais realizada, exatamente porque em educação, antes de marcar o curso dos processos, é necessário demarcar os recursos para os procedimentos. [...]. Em 2015, exibi-los, ainda, uma enorme população analfabeta: 9% da população brasileira! Isto sem esquecer nosso altíssimo percentual de analfabetos funcionais. Caro acadêmico, talvez você esteja se sentindo cansado com essa leitura, mas é necessária para que nos sintamos instigados a modificar o quadro que se apresenta na nossa realidade educacional. Assim, faça a autoatividade para verificar se conseguiu adquirir mais conhecimentos relativos à Lei de Diretrizes e Bases da Educação. 69 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação está inserida na Constituição Federal. • A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi a Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, foi difícil sua elaboração, pois foi deixada correr de maneira frouxa, sem acompanhamento de perto. • No ano de 1971 surge a nossa segunda Lei de Diretrizes e Bases, a Lei nº 5.692/71, a qual recebeu o nome oficial de Lei da Reforma do Ensino de 1° e 2º Graus. • A terceira LDB foi a Lei nº 9.394/1996. • A LDB é vista como “a maior de todas as políticas públicas regulatórias, pois sua estrutura define as relações, os acordos e os conflitos que podem se desenrolar no âmbito da educação brasileira” (SANTOS, 2012, p. 30). • Da Educação: Art. 1º “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (BRASIL, 1996). • Deveres do Estado: este título é formado por quatro artigos, art. 4º, 5º, 6º e 7º, que tratam dos deveres e responsabilidades do Estado e da sociedade civil no que tange à educação escolar. • Organização da Educação Nacional: este título vai do art. 8º ao art. 20, que trata da organização da educação nacional, apresentando as competências de cada nível da federação, sendo eles: União, Estados, Distrito Federal e municípios. Ressalta-se que neste momento da organização da educação nacional todos os segmentos, União, Estados e Municípios devem buscar um trabalho de colaboração que auxilie na aplicação das políticas públicas. • Dos Profissionais da Educação: este título IV é composto por seis artigos, art. 61 a 67. Esses artigos buscam definir quem são os profissionais da educação. Também é tratado de sua formação profissional. • Dos Recursos Financeiros: esse título é formado por nove artigos, os quais vão do art. 68 ao 77, dando ênfase aos recursos destinados à educação. 70 • Das Disposições Gerais: neste título estão apresentados os artigos 78 a 86, que tratam sobre a regulação específica relativa a questões que abarcam desde a educação indígena, educação de jovens e adultos (EJA) chegando à educação a distância. • O Título IX – Das Disposições Transitórias é composto por seis artigos que vão do art. 87 ao art. 92. Conforme Santos (2012, p. 54), “nele estão definidas ações legais com abrangência futura, e a partir dele é possível perceber que a atual LDB revoga todas as Leis de Diretrizes e Bases anteriores”. • Das Disposições Transitórias: o Artigo 87 institui a Década da Educação que se inicia em 1997, onde se passa a realizar diversas políticas que fomentam a melhoria da educação em nosso país. 71 1 (ENADE, 2014) A Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013, alterou a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Uma das alterações tornou obrigatória a Educação Básica para a população com idade entre 4 e 17 anos de idade. Essa alteração decorre da Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009, a qual garante que a medida deverá ser implantada progressivamente até 2016. Diante disso, são necessárias ações, no interior da escola, que levem os profissionais à compreensão mais aprofundada do teor desses dispositivos legais, de modo que a implementação dessa política esteja articulada à melhoria da qualidade da educação pública. Com relação às novas demandas da Educação Básica, avalie as afirmações a seguir: I. A Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade compreende as etapas de pré-escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio devem ter base nacional comum e parte diversificada. II. A Educação Básica compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. A Educação Infantil de 4 a 5 anos de idade é obrigatória para o acesso ao Ensino Fundamental. III. A Educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos de idade, contemplando os aspectos físico, psicológico, intelectual e social. IV. É dever dos pais efetivar, na escola, a matrícula da criança com 4 anos de idade, cabendo à escola realizar o acompanhamento e o registro do desenvolvimento das crianças. É correto o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) II e III, apenas. c) ( ) II e IV, apenas. d) ( ) I, III e IV, apenas. e) ( ) I, II, III e IV. 2 (ENADE, 2011) Na Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória em todos os níveis e modalidades de ensino. De acordo com os pressupostos da inclusão escolar expressos na referida Política, avalie as afirmações a seguir. AUTOATIVIDADE 72 I. A inclusão educacional expressa um paradigma fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis. II. A educação inclusiva prevê o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares. III. O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. IV. O movimento mundial pela inclusão educacional é uma carta de intenções que prevê, a partir da próxima década, ações políticas de atendimento educacional especializado, que deve ocorrer em salas de aula diferenciadas, na mesma escola. É correto apenas o que se afirma em: a) ( ) I e III. b) ( ) I e IV. c) ( ) II e IV. d) ( ) I, II, e III. e) ( ) II, III e IV. Assista ao vídeo de resolução da questão 2 73 TÓPICO 3 A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, SUA ORGANIZAÇÃO E RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Após a análise da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, podemos determinar que esta abarca todas as ações e políticas públicas educacionais que são necessárias ao desenvolvimento e à busca de uma educação universal. Com isso, passaremos agora a tratar dos documentos que abarcam as metas e estratégias para auxiliar no desenvolvimento destas ações. Enquanto profissionais da educação necessitamos estar cientes das dificuldades, mas também das diversas possibilidades de desenvolvimento das políticas públicasapresentadas pelo governo federal, estadual e municipal. Para tanto, falaremos sobre a busca pela qualidade na educação brasileira, através do PNE – Plano Nacional de Educação, com um breve histórico, o que se avançou e o que será necessário para a aplicabilidade deste plano para a nova década (2011-2020). 2 PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – HISTÓRICO Acadêmico, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação podemos delinear o interesse em modificar o quadro existente em nosso país, relativo à educação. Esta qualificação educacional perpassa por diversas políticas públicas que devem auxiliar o desenvolvimento e crescimento da qualidade de vida do cidadão brasileiro, desde o início de sua vida educacional até sua vida adulta. Relativo a isso, falaremos de um documento que pauta políticas e metas para dez anos na educação nacional. O Plano Nacional da Educação possui um histórico, e passa a ser visto na primeira LDB, Lei nº 4.024/1961 como “instrumento de distribuição de recursos para os diferentes níveis de ensino” (AZANHA, 1998, p. 110). Sucederam-se vários planos, mas, a maioria não obteve êxito, pois, como observam Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 178): Os planos que sucederam o de 1962 revelaram-se mais tentativas frustradas do que planos efetivos de educação, uma vez que as coordenadas de ação do setor eram obstaculizadas pela falta de UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO 74 integração entre os diferentes ministérios, especialmente em razão do fato de a educação nunca ter sido prioridade governamental, a não ser nos discursos, e da descontinuidade administrativa que tem caracterizado os sucessivos governos. Os autores ainda preconizam que: Vale salientar, todavia, que os planos até então existentes se ligavam aos pressupostos definidos na LDB, diferentemente do ocorrido após a promulgação da Constituição de 1988, que determina a instituição do Plano Nacional de Educação por lei, sendo, portanto, autônomo em relação ao que se estabelece na nova LDB (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 178). Em 1990, início do governo de Fernando Collor, realiza-se a discussão internacional para um plano decenal para os nove países mais populosos do Terceiro Mundo. Este plano foi uma proposta da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação –, à Ciência e à Cultura, pelo Banco Mundial e pela UNICEF – Fundo das Nações Unidas para Infância –, sendo que sua publicação ocorreu em 1993, mas não saiu do papel. O Plano Decenal de Educação para Todos foi apresentado pelo governo brasileiro em Nova Delhi, num encontro promovido pela Unicef e pelo Banco Mundial e que reuniu os nove países mais populosos do Terceiro Mundo – Tailândia, Brasil, México, Índia, Paquistão, Bangladesh, Egito, Nigéria e Indonésia – que, juntos, possuem mais da metade da população mundial. FONTE: Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/plano-decenal-de-educacao-para- todos/>. Acesso em: 30 jul. 2016. Fernando Henrique Cardoso, empossado em 1995, apresentou seu Plano Nacional de Educação “como continuidade do Plano Decenal de 1993 (art. 87, § 1º, da Lei nº 9.394/1996)” (LIBÂNEAO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 179). Este plano foi elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), tendo somente alguns interlocutores. Já em 2001, o PNE – Plano Nacional de Educação – foi aprovado pelo Congresso Nacional, pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, tendo seu encerramento no final do ano de 2010. Observa-se que este foi o primeiro Plano Nacional de Educação “submetido à aprovação do Congresso Nacional, por exigência legal inscrita tanto na Constituição Federal de 1988 (art. 214) como na LDB nº 9.394/1996 (art. 87, § 1º)” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 182). NOTA TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, SUA ORGANIZAÇÃO E RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS 75 Cabe salientar que, conforme apresentado no plano, os municípios, estados e Distrito Federal deveriam elaborar seus planos decenais, onde a sociedade foi convidada para sua elaboração, mas, vê-se que em muitos estados e municípios do país isso não ocorreu. De acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 181): Entre as razões para a elaboração do PNE, figurava a premência de haver um plano de Estado, ou seja, um projeto de educação que tivesse duração e vigência independentes dos governos no poder, garantindo a continuidade das políticas públicas para a educação. O Plano Nacional da Educação (2001-2010) teve quatro objetivos básicos: a) A elevação global do nível de escolaridade da população. b) A melhoria da qualidade de ensino em todos os níveis. c) A redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso à escola pública e à permanência, com sucesso, nela. d) A democratização da gestão de ensino público nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e da participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares e equivalentes (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 183). Caro acadêmico, este Plano Nacional de Educação, como os que já haviam sido elaborados, necessitava de avaliação periódica, mas isso foi algo que não ocorreu de forma eficaz, e essa avaliação deveria ter sido realizada tanto pela sociedade civil organizada como pelo Poder Legislativo, para verificar se as metas propostas estavam sendo alcançadas ou não. Já nos anos 2009 e 2010, viu-se a necessidade de instituir a Conferência Nacional de Educação – Conae, que se constitui em: [...] um espaço democrático de construção de acordos entre atores sociais, que, expressando valores e posições diferenciadas sobre os aspectos culturais, políticos, econômicos, apontam renovadas perspectivas para a organização da educação nacional e para a formulação do Plano Nacional de Educação 2011-2020 (CONAE, 2010a, p. 9) Observa-se que a Conae teve participação direta na formulação também do PNE 2011-2020. O documento final da Conae você pode ver na íntegra no link <http://conae. mec.gov.br/images/stories/pdf/pdf/documetos/documento_final_sl.pdf>. DICAS 76 UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO Entre os anos 2003 e 2006 as Políticas Educacionais empreendidas no primeiro governo Lula apresentaram um programa para a educação intitulado “Uma Escola do Tamanho do Brasil”. Considerando a educação como condição para a cidadania, o governo Lula mostrou-se determinado a reverter o processo de municipalização predatória da escola pública, propondo marco de solidariedade entre os entes federativos para garantir a universalização da educação básica, na perspectiva de elevar a média de escolaridade dos brasileiros e resgatar a qualidade do ensino em todos os níveis (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 188). Assim, a garantia de uma educação como direito passou a ser entendida neste governo através de três diretrizes gerais, sendo elas: a) democratização do acesso e garantia de permanência: b) qualidade social da educação; c) instauração do regime de colaboração e da democratização da gestão (CONAE, 2010b). Várias metas no decorrer do primeiro mandato de Lula foram atingidas, dentre elas a criação do Fundeb – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica. Nos anos de 2007-2010, em seu segundo mandato, o então presidente Lula determina um Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, que foi apresentado pelo então Ministro da Educação Fernando Haddad, em abril de 2007, sendo este um plano de Estado e não de partido ou governo (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 192). Esse plano compõe o Plano Plurianual (PPA) 2008-2011. No PPA, previsto no art. 165 da Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelo Decreto nº 2.829, de 29 de outubro de 1998, são estabelecidas as medidas, gastose objetivos a serem seguidos pelos governos num período de quatro anos. O PPA 2008-2011 foi sancionado pelo presidente da República por meio da Lei nº 11.653 de 7 de abril de 2008 (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 192). Este Plano de Desenvolvimento da Educação foi organizado baseado em quatro eixos de ação, assim determinados: 1. Educação básica; 2. Alfabetização e educação continuada; 3. Ensino profissional e tecnológico e 4. Ensino superior. De acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 195), “o PDE tem de positivo três programas que buscam enfrentar o problema qualitativo da educação básica: o Ideb, a Provinha Brasil e o Piso do Magistério”. Na campanha eleitoral de 2010 para a Presidência da República, foi organizada a Carta-Compromisso Pela Garantia do Direito à Educação de Qualidade, que instituições e entidades, em número de 27, entregaram aos candidatos na intenção de “exigir desses candidatos que afirmassem seu comprometimento com políticas públicas para a educação” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 200). Essa carta possui medidas a serem observadas relativas à inclusão de todas as crianças e adolescentes de 4 a 17 anos na escola; universalização do atendimento TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, SUA ORGANIZAÇÃO E RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS 77 na demanda por creches; superação do analfabetismo; promoção da aprendizagem para crianças, adolescentes, jovens e adultos; alfabetização das crianças até 8 anos, até o ano de 2014; padrões mínimos de qualidade para todas as escolas, reduzindo as desigualdades na educação e a ampliação de matrículas no ensino profissionalizante e superior. Esta carta-compromisso sustenta ainda, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 201), que: [...] o sistema nacional de educação deve ser estruturado sobre três pilares: 1) a elaboração do Plano Nacional de Educação (PNE), que deverá provocar a construção articulada de planos estaduais e municipais de educação; 2) estabelecimento de regime de colaboração legalmente constituído entre os entes federados; 3) a implementação de Lei de responsabilidade Educacional, tal como aprovou a Conae 2010. Após as eleições, já em 2011, toma posse a presidente Dilma Rousseff, a qual diz que daria continuidade ao programa de educação do governo Lula (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012). Assim, dá-se continuidade ao PNE (2011 – 2020), com suas implementações. 3 O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (2011 – 2020) O então Ministro da Educação, Fernando Haddad, no dia 15 de dezembro de 2010, apresentou um projeto de lei em que se encontrava o novo PNE para 2011-2020. Segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 208), “o foco, segundo o ministro, é a valorização do magistério e a qualidade da educação”. Conforme a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, as metas propostas são (BRASIL, 2014): Meta 1: universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 a 5 anos, e ampliar a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos. Meta 2: universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de 6 a 14 anos. Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final da década, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária. Meta 4: universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na própria rede regular de ensino. Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental. 78 UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO Meta 6: oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica. Meta 7: atingir, ao final da década, as seguintes médias nacionais para o IDEB: IDEB 2011 2013 2015 2017 2019 2021 Anos iniciais do ensino fundamental 4,6 4,9 5,2 5,5 5,7 6,0 Anos finais do ensino fundamental 3,9 4,4 4,7 5,0 5,2 5,5 Ensino médio 3,7 3,9 4,3 4,7 5,0 5,2 FONTE: Carneiro (2015) Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo, para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional. Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até o final da década, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional até o final da década. Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. Meta 11: triplicar a matrícula em cursos técnicos de nível médio, assegurando a qualidade da oferta. Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta. Meta 13: elevar a qualidade da educação superior de forma consistente e duradoura pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75% (setenta e cinco por cento), no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% (trinta e cinco por cento) doutores. Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores. Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. Meta 16: formar 50% (cinquenta por cento) dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação. TÓPICO 3 | A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, SUA ORGANIZAÇÃO E RELAÇÃO COM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS 79 Meta 17: atualizar progressivamente o piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica de forma que o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade seja equiparado ao rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente. Meta 18: implantar, no prazo de dois anos, planos de carreira para os profissionais da educação em todos os sistemas de ensino. Meta 19: garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar. Meta 20: ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do produto interno bruto do país. Maiores informações sobre as Metas do PNE 2014-2020 você encontra no link: <http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf>. Caro acadêmico, você poderá pensar: as metas aqui propostas são excelentes, de uma fundamentação ímpar, mas, será que até hoje alguma dessas metas foi cumprida em sua totalidade? Na reunião que ocorreu na Câmara dos Deputados, em Brasília, realizada no dia 7 de junho de 2016, os integrantes da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que é formada por diversas organizações da sociedade, observaram que “nenhuma das 14 metas previstas para 2015 e 2016 no Plano Nacional de Educação (PNE) foi integralmente cumprida”, conforme a repórter Genny Morais, em artigo publicado no site da Câmara dos deputados (MORAIS, 2016). Assim, afirmam que perante a avaliação realizada pelas diversas organizações da sociedade,“o PNE não vem sendo cumprido, principalmente por causa dos cortes no Orçamento do Governo Federal e das crises econômicas e políticas. Todos os participantes da audiência pública concordaram que o que foi proposto até agora ainda não saiu do papel” (MORAIS, 2016). Ainda sobre as metas, os integrantes da Campanha Nacional pelo Direito à Educação afirmam que: Entre as metas não cumpridas até agora, algumas são consideradas mais preocupantes pelos participantes do debate na Comissão de Educação, por impactarem outros objetivos do PNE: - O Sistema Nacional de Educação, que estabelece a cooperação entre União, estados e municípios na hora de pagar a conta; - O Custo Aluno Qualidade, que determina quais são os padrões mínimos de qualidade que todo aluno deve ter acesso e quanto isso custa; DICAS 80 UNIDADE 1 | AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA EDUCAÇÃO - O Plano de Valorização dos Profissionais da Educação, que trata da formação e capacitação dos professores e demais profissionais ligados aos alunos; e - A Lei de Responsabilidade Educacional, que responsabiliza prefeitos quando as metas de qualidade de educação não forem cumpridas. Desses quatro itens, dois estão em debate no Ministério da Educação e outros dois no Congresso Nacional (MORAIS, 2016, s.p.). Frente a estas exposições, podemos determinar que as mudanças seguem a passos lentos, e que sua possibilidade de concretização necessita também de vontade política e que, enquanto sociedade civil organizada, participemos de todos os movimentos que tratem das questões educacionais e demais esferas. Observe o que ocorre nas redes sociais oficiais, busque informações, dialogue com seus colegas, mantenha-se informado. Tudo isso para conseguirmos quiçá, num futuro bem próximo, alcançarmos algumas das metas propostas no Plano que hora temos e no que está sendo construído para o próximo decênio. Vimos nesta unidade muitas informações, que são importantes para sermos profissionais da educação competentes. 81 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O Plano Nacional de Educação possui um histórico, e passa a ser visto na primeira LDB, Lei nº 4.024/1961 como “instrumento de distribuição de recursos para os diferentes níveis de ensino” (AZANHA, 1998, p. 110). • “Os planos que sucederam o de 1962 revelaram-se mais tentativas frustradas do que planos efetivos de educação, uma vez que as coordenadas de ação do setor eram obstaculizadas pela falta de integração entre os diferentes ministérios” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 178). • Em 1990, início do governo de Fernando Collor, realizou-se a discussão internacional para um plano decenal para os nove países mais populosos do Terceiro Mundo, que são: Tailândia, Brasil, México, Índia, Paquistão, Bangladesh, Egito, Nigéria e Indonésia. • Com a posse de Fernando Henrique Cardoso em 1995, foi apresentado o Plano Nacional de Educação “como continuidade do Plano Decenal de 1993 (art. 87, § 1º, da Lei nº 9.394/1996)” (LIBÂNEAO, 2012, p. 179). Este plano foi elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), tendo somente alguns interlocutores. • O Plano Nacional da Educação (2001-2010) teve quatro objetivos básicos: o a elevação global do nível de escolaridade da população; o a melhoria da qualidade de ensino em todos os níveis; o a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso à escola pública e à permanência, com sucesso, nela; o a democratização da gestão de ensino público nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e da participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares e equivalentes. • Entre os anos 2003 e 2006 as Políticas educacionais empreendidas no primeiro governo Lula apresentaram um programa para a educação intitulado “Uma Escola do Tamanho do Brasil”. Assim, a garantia de uma educação como direito, passou a ser entendida neste governo através de três diretrizes gerais, sendo elas: a) democratização do acesso e garantia de permanência; b) qualidade social da educação; c) instauração do regime de colaboração e da democratização da gestão. • O Plano Nacional de Educação possui 20 metas e estratégias, contudo, nenhuma das 14 metas previstas para 2015 e 2016 no Plano Nacional de Educação (PNE) foi integralmente cumprida (MORAIS, 2016). 82 O PNE – Plano Nacional de Educação – inclui 20 metas e estratégias traçadas para o setor no próximo decênio. Entre essas metas, temos a que se refere a universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda a população de 6 a 14 anos. Diante dessa informação, podemos determinar que para chegarmos a esta meta serão necessárias estratégias, como: I. Para alcançar este objetivo é necessário criar novas políticas públicas. II. Deverão ser previstas estas estratégias através de lei. III. A meta será aplicada por todos os membros federados. IV. Realizar metas insistentes no Plano Nacional de Educação. Frente a isso, assinale a afirmativa correta: a) ( ) II, apenas. b) ( ) I, II, III e IV. c) ( ) II e III, apenas. d) ( ) I, II e III, apenas. AUTOATIVIDADE Assista ao vídeo de resolução desta questão 83 UNIDADE 2 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender a influência da globalização nas políticas públicas educacionais; • identificar os programas desenvolvidos pelo Ministério da Educação; • conhecer as instituições formadoras do sistema educacional brasileiro; • reconhecer a organização e gestão escolar coletiva. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada tópico você en- contrará atividades que o ajudarão a refletir e fixar os conteúdos abordados. TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS TÓPICO 2 – AS INSTITUIÇÕES FORMADORAS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO TÓPICO 3 – A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR COLETIVA Assista ao vídeo desta unidade. 84 85 TÓPICO 1 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, nesta unidade, trataremos de questões relativas à revolução informacional, à globalização e à exclusão social ocorrida pela globalização, trataremos ainda da organização das instituições que formam o Sistema Nacional de Educação, o que cada uma possui como responsabilidade. É possível que você se questione sobre qual a necessidade de tratarmos destas temáticas neste caderno. Abordaremos essas temáticas, pois elas estão inseridas na LDB/96, e ela é nossa base de formulação dos anseios e objetivos a alcançar dentro da educação. Acadêmico, muitas vezes estamos tão ligados a nossa rotina diária e não percebemos que estamos atrelados às leis relativas à educação, por isso, a necessidade de verificarmos como, por que e para que determinadas ações que realizamos cotidianamente são necessárias para que se obtenha êxito no trabalho. Obter o conhecimento é essencial para nossa formação e permanência na educação. Então, vamos a mais esta etapa, agora relativa às Políticas Públicas na Educação influenciadas ou não pela globalização. Veremos quais os níveis e modalidades de educação e ensino existentes no sistema brasileiro de educação além dos planos, programas e a organização e gestão escolar coletiva. Será necessário que tipo de gestão escolar na contemporaneidade? Qual sua ideia sobre isso? Vamos ler estas páginas e verificaremos se o que você pensa condiz com a realidade em que vivemos e que buscamos! Boa leitura! 2 A GLOBALIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS Acadêmico, a cada momento de nossasvidas nos deparamos com novas tecnologias, muitas informações, as quais nos chegam de forma rápida e sem UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 86 filtros em muitas situações. Tudo isso vem acompanhado de uma palavra que se ouve muito, a tal da globalização. A globalização é algo que influencia diretamente cada um de nós e muitas vezes nem nos damos conta disso. Num processo de transformações que a sociedade contemporânea passa é natural obtermos intensas e variadas formas de informações, dando a cada indivíduo, como sugerem Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 61), “[...] a ideia de movimentação intensa, ou seja, de que as pessoas estão em meio a um acelerado processo de integração e reestruturação capitalista”. Com isso podemos entender que a globalização existe em todos os espaços, seja econômico, social, político e cultural, dando ênfase ao momento histórico. Assim, a globalização para Sousa (2011, p. 4) é vista como: [...] processo de mundialização, de acordo com o entendimento majoritário dos autores contemporâneos, caracteriza-se pela ampla integração econômica, política, cultural e outros entre as nações. Contudo, a integração nos seus mais variados aspectos se destaca pela economia, podendo ser de diversos tipos, mas nenhuma integração econômica é melhor do que a outra. A escolha do país pelo modelo de integração decorre de seus objetivos e do seu grau de dependência entre as grandes potências. Desta forma, não podemos deixar de nos questionar: como a globalização surgiu? Ela possui uma história? Sim, a globalização possui sua história, a qual pode ser resumida nas palavras de Sousa (2011, p. 2), que assim retrata a globalização: A globalização remonta à origem do homem na Terra, claro que, com outras características e com outros delineamentos. O certo é que, este sistema vem evoluindo de acordo com as necessidades humanas e com as exigências mundiais. O grande avanço deve-se à queda do muro de Berlim, ao fim do socialismo, à expansão do capitalismo e do neoliberalismo, após a Segunda Grande Guerra Mundial e com o avanço da Comunidade Comum Europeia. Frente aos avanços apresentados por Sousa, podemos determinar que o Brasil não escapou deste processo, estamos intimamente inseridos nesta globalização. Mas através de quê? Podemos determinar várias possibilidades, mas nos ateremos ao que diz Sousa (2011, p. 3), quando afirma que a globalização vem associada ao surgimento do estado neoliberal, o qual é originário do início do século XX, na Inglaterra. Frente a isso, podemos determinar que o Brasil possui esta influência do neoliberalismo, pois no governo Fernando Collor, o Estado Neoliberal passou a ser implantado, em meados de 1990, dando a possibilidade às privatizações. TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 87 Neoliberalismo: prática econômica que não aceita a influência do estado na economia, deixando o mercado se autorregular com total liberdade. O lucro é o objetivo de todos nesse sistema (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 99). Começou a ocorrer no Brasil uma grande liberalização comercial, através da diminuição de tarifas, e consequentemente o crescimento das exportações, especialmente de produtos básicos, e ainda, o aumento das importações, exceto para os setores de tecnologia de ponta, porque acreditava-se que era essencial o país investir neste setor (SOUSA, 2011, p. 3). Nosso país, com estas mudanças, passa a receber olhares de países economicamente mais avançados (Primeiro Mundo), como Estados Unidos, Japão e a União Europeia, os quais tem o maior número de ações com o Banco Mundial. Com relação ao Banco Mundial, podemos dizer que ele foi “criado a partir das necessidades advindas após a Segunda Guerra Mundial, quando os países devastados pela guerra sentiram a necessidade de buscar seu crescimento econômico” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 88). O Banco Mundial faz parte da vida dos brasileiros, pois não nos são estranhas as seguintes siglas: “FMI – Fundo Monetário Internacional, o qual permanece presente em nossa vida econômica e o BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, que foram criados pelo Banco Mundial, em 1944, no estado de New Hampshire” (BUENO; FIGUEIREDO, 2012, p. 2), com o objetivo de reconstrução e desenvolvimento dos países do sul. Frente a isso, e passados vários anos, o Banco Mundial possui em seus objetivos um cuidado maior em relação às questões relativas à saúde e educação. E perceberam que a partir da educação poder-se-á diminuir a pobreza e consequentemente a violência. A pobreza tornou-se o elemento principal e foco de ações, e, nesta direção, a melhor forma de reforçar o processo seria estimular a produtividade. Diante da preocupação com a pobreza e das novas condicionalidades traçadas, o Banco Mundial redefiniu as formas de financiamento. Os projetos de empréstimos transformaram-se em multiprojetos que culminaram em programas integrados, dotados de componentes e interações complexas, organizados em áreas setoriais, sendo a educação uma delas (BUENO; FIGUEIREDO, 2012, p. 3-4). Qual a importância do Banco Mundial e a globalização nas questões relativas ao Brasil, principalmente se tratando de educação? Tudo, caro acadêmico! Pelo fato de que diante da economia brasileira, observa-se uma crescente escalada de violência, exclusão social, níveis elevados NOTA UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 88 de analfabetismo, mesmo que se tenha em anos anteriores conseguido alguns avanços, os quais não são suficientes para sua erradicação. Diante destes fatores, os quais são considerados de elevada importância, foram e é necessária a criação de políticas públicas, as quais foram mencionadas na Unidade 1, que denotam o foco e as estratégias a serem alcançadas para dirimirmos esses problemas. Com isso, todos os países, independentemente de sua situação econômica, buscam meios de manter sua qualidade nos setores econômico e social, e os que não as possuem, buscam formas de sanar os problemas através de políticas públicas e de programas que o Banco Mundial possui para auxiliar os países do Terceiro Mundo e em desenvolvimento, no caso do Brasil, por exemplo. As atuais políticas educacionais e organizativas devem ser compreendidas no quadro mais amplo das transformações econômicas, políticas, culturais e geográficas que caracterizam o mundo contemporâneo. Com efeito, as reformas educativas executadas em vários países do mundo europeu e americano, nos últimos vinte anos, coincidem com a recomposição do sistema capitalista mundial, que incentiva um processo de reestruturação global da economia regido pela doutrina neoliberal (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 42). Ainda, de acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 42), “[...] alguns analistas críticos do neoliberalismo identificam três de seus traços distintivos: mudanças nos processos de produção associadas a avanços científicos e tecnológicos, superioridade do livre funcionamento do mercado na regulação da economia e redução do papel do Estado”. Caro acadêmico, observe que essas linhas apresentadas por Libâneo, Oliveira e Toschi nos dão a ideia de que a forma econômica apresentada nos países industrializados trata a educação com políticas de ajuste, as quais são defendidas em âmbito mundial pelo Banco Mundial. As orientações neoliberais: [...] postulam ser o desenvolvimento econômico, alimentado pelo desenvolvimento técnico-científico, o fator de garantia do desenvolvimento social. Trata-se de uma visão economicista e tecnocrática que desconsidera as implicações sociais e humanas do desenvolvimento econômico, gerando problemas sociais (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 43). Dentro dessa visão de Libâneo, Oliveira e Toschi, podemos determinarque os problemas sociais estão elencados como: “desemprego, fome e pobreza, que alargam o contingente de excluídos, ampliando as desigualdades entre países, classes e grupos sociais” (2012, p. 43). Não nos parece familiar essas questões? Com o que já foi apresentado, podemos então determinar que a preocupação com o desenvolvimento técnico-científico passa a ter um novo olhar e retrata bem as questões relativas dos governos em como ver a formação de sua população, seu sistema educacional. TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 89 Com isso, percebemos que a preocupação relativa ao conhecimento – Educação – foca na questão econômica, no aumento da produtividade deste sujeito. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 43), “a reforma dos sistemas educativos torna-se prioridade, especialmente nos países em desenvolvimento, tendo em vista o atendimento das necessidades e exigências geradas pela reorganização produtiva no âmbito das instituições capitalistas mundiais”. Cabe ressaltar que “somente o trabalho braçal já não é suficiente para a manutenção da economia de um país. É preciso fazer com que esses trabalhadores passem a buscar formação para melhorar a produtividade das indústrias, dando condições de crescimento econômico ao país” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 91). Frente ao exposto, podemos determinar que a maneira de visualizar a economia e sua aceleração nos países em desenvolvimento é, perante o Banco Mundial, perceber que: [...] novos tempos requerem nova qualidade educativa, o que implica em mudança nos currículos, na gestão educacional, na avaliação dos sistemas e na profissionalização dos professores. A partir daí, os sistemas e as políticas educacionais de cada país precisam introduzir estratégias como descentralização, reorganização curricular, autonomia das escolas, novas formas de gestão e direção das escolas, novas tarefas e responsabilidades dos professores (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 45). Diante desta exposição, o Banco Mundial passa o recado de que quem desejar crescer economicamente perante os demais países necessitará reestruturar seu sistema educacional. Com isso, a educação brasileira passou a se inserir neste contexto. Podemos relembrar o que já estudamos na Unidade 1, quando tratamos das ações empreendidas no governo Collor, como a participação na Conferência Mundial sobre a Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, promoção do Banco Mundial, com a participação de diversas organizações mundiais. Nesta conferência foram determinados os seguintes objetivos: Art. 1 Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem: cada pessoa – criança, jovem ou adulto – deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. Art. 2 Expandir o enfoque: lutar pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para todos exige mais do que a ratificação do compromisso pela educação básica. É necessário um enfoque abrangente, capaz de ir além dos níveis atuais de recursos, das estruturas institucionais; dos currículos e dos sistemas convencionais de ensino, para construir sobre a base do que há de melhor nas práticas correntes. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 90 Art. 3 Universalizar o acesso à educação e promover a equidade: a educação básica deve ser proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos. Para tanto, é necessário universalizá-la e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades. Art. 4 Concentrar a atenção na aprendizagem: a tradução das oportunidades ampliadas de educação em desenvolvimento efetivo – para o indivíduo ou para a sociedade – dependerá, em última instância, de, em razão dessas mesmas oportunidades, as pessoas aprenderem de fato, ou seja, apreenderem conhecimentos úteis, habilidades de raciocínio, aptidões e valores. Art. 5 Ampliar os meios de e o raio de ação da Educação Básica: a diversidade, a complexidade e o caráter mutável das necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, exigem que se amplie e se redefina continuamente o alcance da educação básica. [...] Art. 6 Propiciar um ambiente adequado à aprendizagem: a aprendizagem não ocorre em situação de isolamento. Portanto, as sociedades devem garantir a todos os educandos assistência em nutrição, cuidados médicos e o apoio físico e emocional essencial para que participem ativamente de sua própria educação e dela se beneficiem. Art. 7 Fortalecer as alianças: as autoridades responsáveis pela educação aos níveis nacional, estadual e municipal têm a obrigação prioritária de proporcionar educação básica para todos. Não se pode, todavia, esperar que elas supram a totalidade dos requisitos humanos, financeiros e organizacionais necessários a esta tarefa. Novas e crescentes articulações e alianças serão necessárias em todos os níveis: entre todos os subsetores e formas de educação, reconhecendo o papel especial dos professores, dos administradores e do pessoal que trabalha em educação; entre os órgãos educacionais e demais órgãos de governo, incluindo os de planejamento, finanças, trabalho, comunicações, e outros setores sociais; entre as organizações governamentais e não governamentais, com o setor privado, com as comunidades locais, com os grupos religiosos, com as famílias. Art. 8 Desenvolver uma política contextualizada de apoio: políticas de apoio nos setores social, cultural e econômico são necessárias à concretização da plena provisão e utilização da educação básica para a promoção individual e social. A educação básica para todos depende de um compromisso político e de uma vontade política, respaldados por medidas fiscais adequadas e ratificados por reformas na política educacional e pelo fortalecimento institucional. [...] Art. 9 Mobilizar os recursos: para que as necessidades básicas de aprendizagem para todos sejam satisfeitas mediante ações de alcance muito mais amplo, será essencial mobilizar atuais e novos recursos financeiros e humanos, públicos, privados ou voluntários. Todos os membros da sociedade têm uma contribuição a dar, lembrando sempre que o tempo, a energia e os recursos dirigidos à educação básica constituem, certamente, o investimento mais importante que se pode fazer no povo e no futuro de um país. [...] Art. 10 Fortalecer a solidariedade internacional: satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem constitui-se uma responsabilidade comum e universal a todos os povos, e implica solidariedade internacional e relações econômicas honestas e equitativas, a fim de corrigir as atuais disparidades econômicas. Todas as nações têm valiosos TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 91 FONTE: UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem. Jomtien,1990. Disponível: <http://unesdoc.unesco.org/ images/0008/000862/086291por.pdf>. Acessado em: 31 jul. 2016. A partir desta Conferência, muda-se a visão de muitos governantes e busca-se a melhoria da educação através de reformas educativas, frente a novas realidades sociais. 3 NOVAS REALIDADES SOCIAIS E AS REFORMAS EDUCATIVAS NO BRASIL Acadêmico, desta Conferência foram retiradas orientações para a elaboração do Plano Decenal de Educação Para Todos (documento elaborado para determinar ações a serem realizadas dentro de um determinado período, no caso, dez anos), sendo este documento produzido “como diretriz educacional do governo Itamar Franco em 1993” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 44). De maneira breve, vamos resumir as ações realizadas a partir desta Conferência, para os demais governantes que sucederam a Collor até a atualidade. No governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 a 1998) foram escolhidasmetas mais pontuais com relação ao Plano Decenal, ficando assim elencadas: descentralização da administração das verbas federais, elaboração do currículo básico nacional, educação a distância, avaliação nacional das escolas, incentivo à formação dos professores, parâmetros de qualidade para o livro didático, entre outras. Nesta gestão houve a elaboração e promulgação da LDB (Lei 9.349/96) e a formulação das diretrizes curriculares, normas e resoluções do Conselho Nacional de Educação (CNE) para o ensino superior (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 44). Em seu segundo mandato (1999-2002), FHC manteve a mesma política educacional que vinha utilizando, incluindo neste a aprovação, pelo “Congresso Nacional, do Plano Nacional de Educação – PNE (2001-2010)” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 45). Acadêmico, você se recorda do que trata o Plano Nacional de Educação? Se não lembrar, busque na Unidade 1 esta definição. conhecimentos e experiências a compartilhar, com vistas à elaboração de políticas e programas educacionais eficazes. [...] UNI UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 92 Dando continuidade, observamos que no governo Lula (2003-2006) foi criado o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Este dado será melhor abordado nas páginas seguintes, dando assim uma compreensão de onde, como e para que é utilizado este fundo e os demais fundos criados pelo governo para auxiliar no desenvolvimento da educação e diminuir as desigualdades relativas às questões educacionais, refletindo nos demais espaços sociais. Em seu segundo mandato (2007-2010), realizou mudanças na educação básica como, aumento de recursos na educação, o Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), o piso salarial dos professores e a aprovação da Emenda Constitucional nº 59. A Emenda Constitucional nº 59, aprovada em 2009 pelo Congresso, prevê a obrigatoriedade do ensino para a população entre 4 e 17 anos e amplia a abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica. Com a mudança na Constituição Federal, o ensino pré-escolar e médio passam a ser obrigatórios. A meta do governo, portanto, é universalizar o acesso. O prazo definido é 2016. FONTE: Disponível em: <http://www.andi.org.br/infancia-e-juventude/legislacao/emenda- constitucional-59>. Acesso em: 31 jul. 2016. No governo de Dilma Rousseff, deu-se continuidade aos programas do governo anterior e buscou-se implementá-los. Observe, caro acadêmico, que estas ações, entre outras, estão interligadas a ações e tendências internacionais, “sobretudo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI)” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 44). No entanto, segundo Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 45-46): As políticas e diretrizes educacionais dos últimos vinte anos, com raras exceções, não têm sido capazes de romper a tensão entre intenções declaradas e medidas efetivas. Por um lado, estabelecem-se políticas educativas que expressam intenções de ampliação da margem de autonomia e de participação das escolas e dos professores, por outro, verifica-se a parcimônia do governo nos investimentos, impedindo a efetivação de medidas cada vez mais necessárias a favor, por exemplo, dos salários, da carreira e da formação do professorado, com a alegação de que o enxugamento do Estado requer redução de despesas e do déficit público, o que acaba imprimindo uma lógica contábil e economicista ao sistema de ensino. Com isso, podemos determinar que perante o mundo, e perante a própria população, nos deparamos com olhares desconfiados e descontentes com relação ao grau deficitário na aplicação das políticas públicas educacionais. Podemos determinar então que, de acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 46), “esse fato deve-se, certamente, às características do modelo econômico adotado, de NOTA TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 93 orientação economicista e tecnocrática, em que as implicações sociais e humanas ficam em segundo plano”. Precisamos então reordenar nossa casa, o Brasil, para assim conseguirmos retornar ao crescimento econômico, para a obtenção de qualidade de vida. E não distante tudo recai sobre a Educação. Este é o caminho, e a nível globalizado, todos pensam desta maneira. A Educação é o caminho para a solução de muitos problemas mundiais e nacionais. Com isso, caro acadêmico, precisamos, enquanto profissionais da educação, reconhecer diversas mudanças que ocorrem a nossa volta e estas recaem sobre nossa maneira de proceder com os nossos alunos e a compreensão das leis e suas estratégias. AUTOATIVIDADE Diante do que já vimos, sobre a globalização, podemos determinar que ela é irreversível ou chegará um momento em que os países, independentes de suas finanças, buscarão um retrocesso? Qual sua opinião? Acadêmico, o que dialogamos até aqui pode não fazer muito sentido, mas observe que nesta perspectiva nosso país está buscando, muitas vezes por caminhos tortuosos, diminuir as desigualdades sociais e estamos diretamente ligados à globalização. Não podemos deixar de compreender que os acontecimentos no mundo afetam diretamente a educação, de várias formas, sendo as principais assim pontuadas por Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 62): a) Exigem novo tipo de trabalhador, mais flexível e polivalente, o que provoca certa valorização da educação formadora de novas habilidades cognitivas e competências sociais e pessoais. b) Levam o capitalismo a estabelecer, para a escola, finalidades mais compatíveis com os interesses do mercado. c) Modificam os objetivos e as prioridades da escola. d) Produzem modificações nos interesses, necessidades e valores escolares. e) Forçam a escola a mudar suas práticas por causa do avanço tecnológico dos meios de comunicação e da introdução da informática. f) Induz em alterações na atitude do professor e no trabalho docente, uma vez que os meios de comunicação e os demais recursos tecnológicos são muito motivadores. Com estas intervenções, no que diz respeito aos acontecimentos que ocorrem no mundo atual, observamos que a escola está também necessitando de reformulação, pois a globalização está aí, adentrando nas salas de aula, em todos os espaços e um exemplo claro são as novas tecnologias, presentes em nossas vidas e na vida de nossos alunos. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 94 4 REVOLUÇÃO INFORMACIONAL Sabendo do conceito de globalização no qual estamos inseridos, podemos compreender que o celular é um dos instrumentos que representam essa globalização na atualidade. São muitos os exemplos, mas tomemo-lo para definir que a revolução da informação está em nós, em apenas um clique e estamos conectados ao mundo. Não é fascinante? FIGURA 4 – REVOLUÇÃO INFORMACIONAL FONTE: Disponível em: <http://nexus.futuro.usp.br/blog/~yria/3058>. Acesso em: 31 jul. 2016. Perante o que possuímos em nossas mãos, e o que visualizamos cotidianamente, estamos vivenciando uma revolução informacional, através da internet, que é a estrela maior dessa revolução, e que nos dá a impressão de vivermos em uma “aldeia global”. Sabemos que na atualidade podemos a qualquer momento receber informações dos mais variados pontos do mundo, as informações circulam de maneira veloz, tendo assim a sensação de estarmos no momento em que ocorreu determinada situação ou fato. Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 77): A internet (a super-rede mundial de computadores) é uma das estrelas principais, desta fase da revolução informacional, pois interliga milhões de computadores, ou melhor, de usuários a um imenso e crescente banco de informações, permitindo-lhes navegar pelo mundo por meio do microcomputador. As informações disponíveis dizem respeito a praticamente todos os temas deinteresse, o que fascina cada vez mais as pessoas. E acrescenta que: Com maior ou menor acesso, no entanto, as novas tecnologias da informação e os diferentes meios de comunicação – por exemplo, o rádio, o jornal, a revista, a televisão, o computador, o telefone, o fax TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 95 e outros – estão presentes nos espaços sociais ou incorporados no cotidiano de vida das pessoas, de maneira a modificar hábitos, costumes e necessidades. Outro exemplo é o que nós estamos vivenciando, caros acadêmicos, são as tecnologias utilizadas para nossos estudos, por exemplo o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), o Da Vinci Talk, onde podemos conversar e tirar dúvidas, os vídeos da disciplina, os objetos de aprendizagem. As informações correm por fibras ópticas, satélites etc., criando assim “redes de informações on-line (comunicação instantânea) que conseguem juntar texto, som e imagem” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 79). Frente a isso, Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 79) nos apresentam características que envolvem ainda a revolução informacional, a saber: • Surgimento de nova linguagem comunicacional, uma vez que circulam e se tornam comuns termos como realidade virtual, ciberespaço, hipermídia, correio eletrônico, Orkut, Facebook, Twitter e outros, expressando as novas realidades e possibilidades informacionais. Já é comum também a utilização de uma linguagem digital, sobretudo entre jovens, para expressar sentimentos e situações de vida. • Os diferentes mecanismos de informação digital (comunicação instantânea), de acesso à informação, de pesquisa e de ligação entre matérias sempre atualizadas e qualificadas. • As novas possibilidades de entretenimento e de educação (TV educativa, educação a distância, vídeos, softwares etc.). • O acúmulo de informações e as infindáveis condições de armazenamento. Observe, acadêmico, que estas características denotam a necessidade de cada indivíduo buscar seus conhecimentos para uma melhoria em sua vida profissional e pessoal, mas também dá a abertura para a exclusão social se estas características não forem bem desenvolvidas. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 81), a globalização é uma palavra que “está na moda”. No entanto, diferentemente da moda passageira, ela parece ter vindo para ficar. Tem sido usada para designar uma gama de fatores econômicos, sociais, políticos e culturais que expressam o espírito e a etapa de desenvolvimento do capitalismo em que o mundo se encontra atualmente. Trata-se, portanto, de palavra de difícil conceituação, em razão da amplitude e complexidade da realidade que tenta definir. Cabe ressaltar que esta revolução informacional está em nosso meio e não sairá dele, pois com a globalização está sendo construída através de materiais, de serviços, saberes e habilidades. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012). E estas construções determinam o nível de desenvolvimento e de monopolização do pensamento. Para tanto, faz-se necessária uma verificação nas informações que circulam no espaço público, pois estas podem, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 80), exercer “um papel de entretenimento e doutrinação das massas”. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 96 E é isso que precisamos cuidar, pois a globalização e tecnologias são de extrema necessidade e possuem muita importância, mas elas podem criar uma cultura de massa empobrecida de conteúdo. A mesma revolução informacional que determina uma evolução pode trazer elementos que tornam o indivíduo mero captador de ideias e assim acaba sendo doutrinado por elas. A informação das novas tecnologias “impõe o desafio de perceber as potencialidades contraditórias e libertadoras da revolução informacional, bem como as condições e estratégias de luta pela democratização da informação no contexto de uma sociedade cada vez mais globalizada” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 81). Como esta revolução informacional pode determinar mudanças na educação? Esta pergunta é pertinente, pois conforme Galvão Filho e Miranda (2012, p. 247), “existe uma tensão entre as possibilidades oferecidas pela tecnologia (elas próprias em mutação constante) e as condições de sua aplicação: o sistema social e educacional e os modos de gestão devem abrir espaço à tecnologia em um determinado nível de desempenho”. Frente ao exposto, podemos determinar que as tecnologias na educação possam auxiliar em uma dimensão maior, várias pessoas em suas várias faixas etárias, organização de novas formas de ensino como a EAD – Educação a Distância –, que determina o local, momento e desejos do educando, a utilização de ricas imagens e de visualizações sobre qualquer temática desenvolvida; o estudo voltado à competência do acadêmico para ir em busca do conhecimento; o fácil acesso às informações, dentre outros fatores que auxiliam o processo ensino-aprendizagem. Observa-se, assim, que esta revolução informacional determina a necessidade de a educação continuar buscando estas estratégias para tornar o sistema de ensino cada vez mais democrático e integrativo. Cabe ressaltar, aqui, o papel do professor nesse processo evolutivo das novas tecnologias. Para tanto, vamos apresentar a você, acadêmico, um recorte do artigo de Renival Vieira de Freitas e Magneide S. Santos Lima. AS NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: DESAFIOS ATUAIS PARA A PRÁTICA DOCENTE [...] As novas tecnologias: desafios e suas implicações no ambiente escolar e na prática docente. A introdução dos recursos tecnológicos no ambiente escolar não se restringe apenas à utilização de determinados equipamentos e produtos. Essa evolução tecnológica e sua chegada e utilização no trabalho docente veio a contribuir na alteração de comportamentos. A utilização desses recursos tecnológicos sem o devido preparo do docente para a sua introdução na prática diária das escolas veio ocorrer um choque TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 97 cultural e uma resistência por parte dos docentes em sua aplicação, ocorrendo assim, o aceleramento da crise de identidade dos professores. Para Esteve (1999 apud ALONSO, 2008, s.p.) “a situação dos professores diante das mudanças que ocorrem na escola é comparável a um grupo de atores que trajam as vestimentas de determinado tempo e que, sem nenhum aviso anterior mudam-lhes os cenários e as falas”. Quando Esteve apresenta essa mudança repentina no cenário desse grupo de atores que precisa mudar toda sua apresentação sem um aviso prévio e sem a devida preparação podemos verificar o que ocorreu na prática diária do professor ao serem introduzidos nas escolas os recursos tecnológicos para serem utilizados pelos docentes antes mesmo do sistema educacional promover curso de aperfeiçoamento profissional para a utilização desses recursos tecnológicos na prática pedagógica. O professor não deixa de ter importância no desenvolvimento do seu papel como mediador da aprendizagem devido à inserção das novas tecnologias no ambiente escolar, mas, ao contrário, pode passar a ser o elemento principal dessa sociedade que utiliza cada vez mais essas novas tecnologias como recurso didático promovendo o enriquecimento da prática educativa, sendo assim, segundo Sacristán (1999, p. 89), “a prática educativa não começa do zero: quem quiser modificá-la tem que apanhar o processo ‘em andamento’. A inovação não é mais do que uma correção da trajetória”. A renovação na prática docente pode ser constatada, não pelo uso puro e simples desses recursos tecnológicos em seu cotidiano, mas, a partir do momento em que esses equipamentos modifiquem de forma significativa o olhar do professor diante de sua prática, suas concepções de educação, seus modelos de ensino-aprendizagem. Para Sacristán (1999, p. 74) “oprofessor é responsável pela modelação da prática, mas esta é a intersecção de diferentes contextos”. Com o aparecimento dos computadores e da internet, e sua inserção no ambiente escolar, tornou-se possível a entrada desses novos recursos tecnológicos na vida escolar, visto que, antes desse aparecimento era inviável a instalação de um computador no ambiente escolar pelo seu tamanho e custo. Segundo Kenski (2008, p. 45), “a maioria das tecnologias é utilizada como auxiliar no processo educativo”. Não só o computador e a internet, como outros recursos que foram introduzidos na prática do docente em sala de aula, movimentaram a educação e provocaram novas mediações entre a abordagem do professor, o entendimento do docente e o conhecimento veiculado. A utilização por parte do professor no trabalho em classe de mídias e ferramentas computacionais contribui para consolidação do processo de ensino-aprendizagem. Esses recursos quando bem utilizados provocam a alteração dos comportamentos de docentes e discentes, contribuindo assim para a ampliação e maior aprofundamento do conteúdo estudado. Segundo Alava (2002, p. 65), “a mudança provocada pelo desenvolvimento da tecnologia educacional altera de forma profunda o modo como o aluno aprende”. Essa mudança só será possível se o educador se apropriar de tais recursos tecnológicos tornando-os significativos e verdadeiramente importantes, entre tantas possibilidades, para modificação da prática pedagógica, promovendo a dinamização do ensino e da aprendizagem, mas não basta a utilização, é necessário saber usar de UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 98 forma pedagogicamente correta a tecnologia escolhida para alcançar o sucesso no ensino-aprendizagem. [...]. Refletindo sobre as práticas docentes Na atualidade, nada garante o bom desempenho da prática docente se os professores não superarem as suas crenças e se dedicarem ao fazer pedagógico que leve o discente a experimentar outro comportamento diante dos objetos de ensino. Essas crenças são adquiridas antes mesmo dessas pessoas se tornarem professores, ainda como alunos. São visões pessoais, emocionais e se articulam como um sistema hierárquico de filtragem sobre o que é verdadeiro no ensino e na aprendizagem. As convicções se fortalecem com o tempo, na medida em que as experiências se cristalizam daquilo que tem bom êxito com frequência. Portanto, o docente, ao assumir a docência, traz consigo elementos, onde cria algo como condição de interferir na sua prática. Bourdieu afirma que “os hábitos são princípios geradores de práticas distintas e distintivas” (BOURDIEU, 2007, p. 22), logo, compreende-se que existe subentendida na docência uma proporção silenciosa da ação pedagógica. Por vez, quando interrogam os professores sobre por que desenvolvem sua prática dessa maneira e, por que, ao enfrentar determinadas situações, agiram desta forma, geralmente a resposta está relacionada às crenças daquele profissional, essa realidade segundo o autor, “constrói o espaço social, essa realidade invisível, que não podemos mostrar nem tocar e que organiza as práticas e as representações dos agentes” (BOURDIEU, 2007, p. 22). Por essa razão é muito difícil modificar o conteúdo da prática pedagógica nos docentes. A reflexão sobre o trabalho desenvolvido em sua prática diária pelos professores possibilita a análise das convicções profissionais dos docentes. Assim, define-se pela prática de ensino a identidade docente, construída pelos objetivos educativos e pela autonomia profissional. Refletindo acerca dessa questão, Sacristán (1999, p. 71) afirma que “[...] a prática educativa não é uma ação que deriva de um conhecimento prévio, como acontece com certas engenharias modernas, mas sim, uma atividade que gera cultura intelectual em paralelo com sua existência [...]”. Nessa ótica, entende que o docente, ao desenvolver sua prática, pensa, reflete sobre seu trabalho e que, ao confrontar com os problemas da sala de aula, busca utilizar-se dos conhecimentos adquiridos, (re) elaborando-os de forma criativa, no enfrentamento dos problemas, que surgem na sala de aula. Segundo Azzi (1999), o professor, na heterogeneidade de seu trabalho, está sempre diante de situações complexas para as quais deve encontrar repostas, e estas repetitivas ou criativas, dependem de sua capacidade e habilidade de leitura da realidade e, também, do contexto, pois pode facilitar e/ou dificultar a sua prática. A prática docente, conforme exposto, se constitui uma fonte de situações complexas, na qual o docente no decorrer de sua jornada diária encontra-se face a face com os problemas e com as dificuldades crescentes dos discentes, referentes à apropriação e produção de conhecimento. No decorrer da prática diária em sala de aula surgem vários problemas que podem levar o docente a refletir acerca do ato pedagógico, fazendo com que esses TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 99 profissionais busquem alternativas para solucionar tais problemas, de modo a responder às exigências que essa prática lhes impõe. Nesse aspecto, Sacristán (1999, p. 79) afirma que “o ofício de quem ensina consiste basicamente na disponibilidade e utilização, em determinadas situações, de esquemas práticos para conduzir a ação”. O autor ressalta que na jornada escolar o professor necessita estar preparado para enfrentar determinadas situações problemáticas, as quais demandam uma tomada de decisões, aguçando o desenvolvimento do pensamento e da ação do docente sobre sua prática. FONTE: Disponível em: <http://dmd2.webfactional.com/media/anais/AS-NOVAS-TECNOLOGIAS- NA-EDUCACAO-DESAFIOS-ATUAIS-PARA-A-PRATICA-DOCENTE.pdf>. Acesso em: 7 ago. 2016. Com a leitura desse artigo podemos determinar que, na educação, a figura do professor, independente do surgimento das novas tecnologias (NTICs), mantém- se presente neste processo e cabe a ele estar aberto a essas novas possibilidades e utilizá-las para o desenvolvimento de seus trabalhos. Com isso, partiremos neste momento ao que o artigo mencionou, que é a forma como a prática educacional passará a ser vista com as novas tecnologias. Essas práticas educativas estão atreladas aos níveis e modalidades de educação e ensino existentes em nosso país. 5 NÍVEIS E MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E ENSINO Com o apresentado anteriormente, percebemos que para existir ou ser inserido no sistema educacional, necessitamos ir ao encontro das leis que determinam o funcionamento de sua estrutura. Para tanto, podemos perceber que o sistema educacional possui em seu núcleo os níveis e modalidades de educação. Para melhor compreensão, vamos determinar o que significa níveis e modalidades. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 361): O termo modalidade da educação diz respeito aos diferentes modos particulares de exercer a educação. Enquanto os níveis de educação se referem aos diferentes graus, categorias de ensino, como infantil, fundamental, médio, superior, a modalidade de educação implica a forma, o modo como tais graus de ensino são desenvolvidos. Com relação às modalidades de educação, nos deparamos com a educação formal, informal e não formal, que de maneira breve será detalhada neste momento, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2011, p. 236-237): • A educação informal, também chamada de não intencional, refere- se às influências do meio humano, social, ecológico, físico e cultural às quais o homem está exposto. • A educação não formal é intencional, ocorre fora da escola, porém é pouco estruturada e sistematizada. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 100 • A educação formal é também intencional e ocorre ou não em instâncias de educação escolar, apresentando objetivos educativos explicitados. É claramente sistemáticae organizada. Precisamos observar que todas as modalidades de educação são importantes, pois elas estão presentes no cotidiano das pessoas e tanto a modalidade informal “que se refere às influências do meio natural e social sobre o homem e interfere em sua relação com o meio social” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 235), quanto a formal, “ que busca ter objetivos explícitos, conteúdos, métodos de ensino, procedimentos didáticos [...]” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 236), são determinantes para alcançarmos os objetivos previstos em lei. Assim, todas as modalidades determinam sua maneira de auxiliar no desenvolvimento da educação e nenhuma deve ser desconsiderada. Frente ao exposto, vamos nos ater aos Artigos 205 e 206 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que busca uma educação que é direito de todos e dever do Estado e da família, além do desenvolvimento pleno do indivíduo, tornando ele apto para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No Artigo 206 da Constituição, encontramos os seguintes princípios para conquistar estes objetivos apresentados anteriormente: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006); VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). A LDB/96, em seu título V, no que se refere aos níveis e modalidades de educação através do Artigo 21, determina que a educação escolar compõe-se de: I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior (BRASIL, 1996). Como podemos perceber, a educação infantil é o início do processo de educação formal, atrelado a esta modalidade temos a educação fundamental, e o ensino médio fechando o período da educação básica. Logo depois temos a educação superior, que é vista como a “etapa terminal do ciclo da educação escolar” (CARNEIRO, 2015, p. 298). TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 101 Com isso, buscaremos determinar as finalidades de cada nível através de alguns artigos elencados na LDB/96 e que tornam possível a execução destes níveis. Nos Artigos 22, 23 e 24, temos as finalidades que a educação básica possui para desenvolver os educandos; também apresentam sua organização que poderá ser em séries anuais, períodos, ciclos, observando a idade dos grupos e sua organização. Ainda no Artigo 24 da LDB/96 apresenta-se a organização do ensino fundamental e médio observando regras como: I – a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; II – a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita: a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas; c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino; III – nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; IV – poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; V – a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; VI – o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação; VII – cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis. Vamos tratar do dispositivo I, que trata da carga horária mínima. Com isso, podemos determinar que a ampliação da carga horária mínima de 720 horas para UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 102 800 horas anuais e de 180 para 200 dias letivos foi um grande avanço para nosso país, pois conforme Carneiro (2015, p. 306), “o Brasil renuncia à incômoda posição de país que, embora signatário do Estatuto Universal dos Direitos Humanos de 1948, exibia um dos mais reduzidos tempos de permanência do aluno na escola”. Ainda conforme Carneiro (2015, p. 306): O ganho é inestimável. [...] se o sistema de ensino houver adotado o Ensino Fundamental de nove anos, o ganho será maior, passando para um acréscimo de 1.440 horas. Ao final do Ensino Médio terá 240 horas adicionais de estudo, o que equivale a dois meses extras de escolaridade. Ao término dos estudos correspondentes ao ciclo da educação básica, o aluno terá tido uma ampliação de carga horária, entre o Fundamental e o Médio, de cerca de 1.640 horas, o equivalente a dois anos adicionais de estudo. Um avanço espetacular da escola básica brasileira. No que diz respeito a essas informações, nos deparamos também com muitas disparidades e necessidade de se avançar não só em relação ao número de horas em que a criança se encontra na escola, mas também na sua qualidade educacional. Para tanto, no dispositivo II, encontramos algo que busca amarrar a quantidade de horas com a qualidade do ensino. Isto através da incumbência dada à escola de “elaborar e executar sua proposta pedagógica”, que se encontra no Artigo 12 da LDB. No dispositivo III, observamos a necessidade inicial de se respeitar o sistema de ensino vigente e a escola pode aqui adotar a promoção por série, sendo que ela deverá ser apresentada no regimento escolar. Conforme Carneiro (2015, p. 307): A lei inova, igualmente, no tocante à questão da promoção. No caso de a escola adotar a promoção por série, poderá ocorrer a promoção por disciplina, assegurada a estrutura sequencial do currículo. Aqui reside a maior dificuldade para operacionalizar a cultura da construção curricular, porque ela própria nunca trabalhou com um projeto pedagógico próprio, portanto, capaz de espelhar sua especificidade. Cabe ressaltar a necessidade de os profissionais da educação buscarem maior diálogoem suas escolas e com relação as suas disciplinas, pois com isso estaremos obtendo um avanço significativo no que diz respeito à construção de uma organização curricular que enalteça os interesses e necessidades dos educandos e dos próprios profissionais da educação. No dispositivo IV, apresenta-se a questão relativa à organização de turmas/ classes com alunos em suas séries distintas, utilizando o critério de adiantamento na matéria. Conforme Carneiro (2015, p. 308), “[...] é uma possibilidade interessante, embora, também de difícil operacionalização”. Isso porque possuímos poucos recursos em todos os níveis, sejam eles materiais e tecnológicos, mas não nos falta a criatividade e a flexibilidade de tentar modificar muitas das coisas que são apresentadas no cotidiano educacional. TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 103 Já o dispositivo V trata da verificação do rendimento escolar que, conforme Carneiro (2015, p. 309), “[...] constitui um dos mais importantes meios para aferir a adequação do projeto político-pedagógico aos contextos individuais e sociais locais e sua decisão de atendimento “às necessidades básicas de aprendizagem dos alunos”. Ao tratarmos da verificação do rendimento escolar é importante observar o que apresenta o Artigo 3º da LDB, que trata da igualdade de condições de acesso e permanência na escola; liberdade de aprender e ensinar etc. Além desse artigo, o Artigo 12 se refere ao cumprimento da função social da escola através de seu Projeto Pedagógico. Não nos esquecendo do Artigo 5º e 205 da Constituição e do Artigo 2º da LDB, que tratam de questões relativas a seu cumprimento total. Naturalmente, os procedimentos de verificação, nos termos da LDB, se voltam para o aluno como individualidade, uma vez que a ideia da educação escolar é possibilitar, a cada um, seu pleno desenvolvimento, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Art. 2º). Tudo isto estará, de alguma forma, radiografado no histórico escolar [...] (CARNEIRO, 2015, p. 309). Cabe ressaltar que os critérios para realização da avaliação perpassam por dois tipos: a qualitativa e a quantitativa. Assim, os critérios apresentados pela lei denotam a necessidade de se adotar procedimentos pedagógicos que possuam integração nos processos avaliativos. Pois, se buscarmos somente uma avaliação quantitativa, estaremos fadados a abandonar o foco da avaliação que é de verificarmos o aluno em sua totalidade, globalmente e não somente através de provas, por exemplo. Outro fator que cabe ser salientado é o processo de aceleração de estudos, que para Carneiro (2015, p. 310) “deve constituir componente inafastável de uma política de correção de fluxo de todos os sistemas de ensino”. Importante ressaltar que, conforme Carneiro (2015, p. 310): [...] o Brasil é campeão na América Latina em alunos que, fora da faixa etária, frequentam a escola fundamental. Esse fenômeno, que chega a percentuais elevadíssimos em toda a matrícula, denomina-se defasagem idade-série e é um dos fatores mais diretamente responsáveis pela baixa qualidade do ensino. O que fazer com esta triste realidade? A cada momento, os profissionais da educação buscam respostas para esta mudança de realidade, muitos são os desafios e um destes desafios encontra-se na implantação de classes de aceleração, como afirma Carneiro (2015, p. 310), mas que não chega a fins eficazes por um dos motivos delineados a seguir: [...] o material usado e todo planejamento para a correção de fluxo no Brasil é ‘concebido’ por grandes agências fornecedoras com a total exclusão dos professores do processo de criação compartilhada. De fato, os docentes entram no processo como meros executores. E os resultados são os que todos conhecemos! Fica mais uma vez comprovado que, UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 104 quando o professor não participa, a escola não se modifica (CARNEIRO, 2015, p. 310). O dispositivo VI trata do controle da frequência, a qual é de extrema importância, pois auxilia no funcionamento adequado da educação escolar e do acompanhamento do processo de construção do processo de aprendizagem do aluno. A frequência é obrigatória em todas as escolas da federação brasileira, independente da diversidade de cada região do país, perfazendo assim a necessidade da realização de 800 horas relativas à carga horária mínima e a 200 dias letivos, já visto anteriormente. Assim, o controle de frequência torna-se obrigatório legalmente, conforme o Artigo 23 e 24 da LDB, e necessário pedagogicamente, sendo submetido a três condições: • “é de responsabilidade da escola; • deve estar disciplinado no regimento escolar; • obedece a normas gerais de cada sistema de ensino” (CARNEIRO, 2015, p. 312). Observamos que a frequência escolar está atrelada à escolarização obrigatória e esta é presencial e necessita da administração dos dias e das horas letivos, realizado através do controle de frequência, a tão conhecida “chamada”. Esta frequência é utilizada não por acaso, mas para que seja realizada a distribuição dos recursos pelo Fundeb, pois conforme o Artigo 9º, da Lei 11.494, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB: “Para os fins da distribuição dos recursos de que trata esta lei serão consideradas exclusivamente as matrículas presenciais efetivas, conforme os dados apurados no censo escolar mais atualizado [...]” (BRASIL, 2007). O Fundeb – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – foi criado em novembro de 1968 e está vinculado ao Ministério da Educação – MEC. A finalidade da autarquia é captar recursos financeiros para projetos educacionais e de assistência ao estudante. A maior parte dos recursos do FNDE provém do salário-educação, com o qual todas as empresas estão sujeitas a contribuir (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 391). O dispositivo VII vem com o intuito de repassar às instituições a responsabilidade de expedir os históricos escolares, o qual é “a radiografia do percurso curricular do aluno e, portanto, de seu itinerário acadêmico” (CARNEIRO, 2015, p. 313). NOTA TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 105 Este documento tem o objetivo de confirmar que o aluno obteve os índices necessários para a obtenção do diploma e que adquiriu os conhecimentos necessários para dar continuidade a sua vida escolar. Além do histórico escolar, a escola também pode entregar ao aluno, quando solicitado, uma declaração (parcial) ou total (que é o caso do diploma), para determinar até que nível o aluno se manteve naquela instituição. De acordo com Carneiro (2015, p. 313): [...] as instituições de ensino têm a magna responsabilidade de registrar e certificar os conhecimentos do aluno, o que constitui um enorme desafio e uma vigilância educativa e burocrática continuada, sob o olhar cuidadoso da direção e o acompanhamento dos professores. Ainda sobre os níveis de ensino, destacamos que a Educação Infantil, como se apresenta no Artigo 29 da LDB/1996, é a primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (BRASIL, 1996). Cabe aqui uma ressalva, e que Carneiro (2015, p. 353) apresenta com propriedade, no que diz respeito à organização da educação infantil relativo à creche e pré-escola: Creche e pré-escola não são depósitos de crianças nem hospedagem- dia, tampouco espaços para as crianças permanecerem algumas horas ao longo do dia, enquanto os pais realizam suas jornadas de trabalho. Pelo contrário, são ambientes apropriados, equipados adequadamente, potencializados noconjunto dos meios disponíveis e, sobretudo, com pessoal docente e de apoio técnico devidamente qualificado, portanto, com formação especializada, para trabalhar com as crianças da faixa etária legal indicada, tendo em vista o seu desenvolvimento integral no entrelaçamento dos aspectos físico, psicológico, social e lúdico-cultural. Diante do exposto e o que é apresentado no Artigo 29, determinamos as funções que o Estado, a família e a comunidade possuem em relação às ações que devem ser desenvolvidas e articuladas por todos na eficácia do desenvolvimento da criança na primeira fase educacional de sua vida. Não sendo somente a escola a responsável por este movimento. Cabe ressaltar o que Carneiro (2015, p. 354) apresenta sobre o porquê da importância destes três elementos para um ensino eficaz na Educação Infantil. Porque estes são os contextos institucionais e sociais à disposição da criança para o seu estruturante desenvolvimento cognitivo. É neles que a criança aprende a pensar e aprende a aprender. É sempre conveniente relembrar que a inteligência se forma a partir do nascimento, mas é, sobretudo na infância que se abrem ‘as janelas de oportunidades’, quando se multiplicam os estímulos e as cadeias de experiências. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 106 Com isso podemos determinar que a Educação Infantil é um direito fundamental da criança e essa educação se apresenta em quatro ações que são essenciais na sua aplicabilidade, sendo elas: condição de desenvolvimento, de formação, integração social e de realização pessoal. Carneiro determina que “ao lado desses aspectos tão essenciais da vida, há também argumentos de natureza econômica e social” (2015, p. 355). Cabe salientar que a Educação Infantil será oferecida para crianças de até cinco anos de idade. De acordo com o Artigo 30 da LDB (BRASIL, 1996), a educação infantil será oferecida em creches para crianças de até três anos de idade, e em pré-escolas para crianças de quatro a cinco anos de idade. Outro fator a ser observado, caro acadêmico, é a necessidade de verificar que muitas das ações desenvolvidas dentro da Educação Infantil ainda se apresentam de maneira deficitária, pois o Ministério da Educação: [...] embora tenha, desde 1974, um setor para tratar deste assunto, na verdade, jamais desenvolveu uma política coerente e sequencial que compatibilize as ideias, corpo técnico para cooperação com os Estados e recursos financeiros. Ou seja, ausente dos orçamentos públicos, a educação pré-escolar jamais ultrapassou o terreno das intenções (CARNEIRO, 2015, p. 355). Diante do exposto, a atual gestão do Ministério da Educação “vem buscando resgatar a educação pré-escolar mediante uma clara definição de políticas e diretrizes para o setor, desdobradas em: i) diretrizes gerais; ii) diretrizes pedagógicas; iii) diretrizes para uma política de Recursos Humanos” (CARNEIRO, 2015, p. 355). Com o passar dos anos, já em 1998, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi apresentado aos profissionais da educação um documento intitulado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, em três volumes (Introdução, Volume I e Volume II). Nesse documento estão expressos: os objetivos, conteúdos, estratégias, formas de avaliação e os princípios que denotam este referencial, que são assim apresentados: • o respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc.; • o direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil; • o acesso das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento, à ética e à estética; • a socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais diversificadas práticas sociais, sem discriminação de espécie alguma; • o atendimento aos cuidados essenciais associados à sobrevivência e ao desenvolvimento de sua identidade (BRASIL, 1998, p. 13). TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 107 Dentro do apresentado podemos delinear que o legislador (governo) está preocupado com o modo que se deve tratar o bebê e o tratamento também dado às crianças “enquanto sujeitos de direto, o que requer instituições funcionando com espaços adequados, equipamentos apropriados e docentes pedagógica e funcionalmente qualificados” (CARNEIRO, 2015, p, 363). No que diz respeito aos referenciais curriculares utilizados pelos profissionais da Educação Infantil na elaboração de seu planejamento, devem ser levadas em consideração três áreas, a saber: a) a do desenvolvimento físico e motor; b) a do desenvolvimento mental; c) a do desenvolvimento socioemocional. As quais são determinantes na LDB, no Artigo 29, definindo a educação infantil como a primeira etapa da educação básica. Ainda com relação à educação infantil, o Artigo 31 da LDB apresenta como ela é organizada, de acordo com as seguintes regras comuns: I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional; III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral; IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas; V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança (BRASIL, 1996). Nesta etapa da Educação Infantil a avaliação tem um âmbito de acompanhamento relativo ao desenvolvimento e de observação, através dos registros, e não da forma como ocorre no Ensino Fundamental. De acordo com Carneiro (2015, p. 366), “esta diferença ajuda a compreender a distância que existe entre ensino e educação, ou, mais precisamente, entre crescer interiormente e ser aprovado exteriormente. Trata-se, portanto, de um processo essencialmente qualitativo”. Necessitamos verificar que há muito que se fazer com relação às questões avaliativas, pois na educação brasileira encontramos muito forte a avaliação dos conteúdos, deixando de se observar uma “avaliação de desenvolvimento evolutivo da aprendizagem” (CARNEIRO, 2015, p. 366). Com isso verificamos a necessidade de termos no quadro da Educação Infantil profissionais da educação qualificados, como também outros profissionais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, dentre outros. Para muitos uma UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 108 utopia, para outros a necessidade urgente de organizarmos nossa educação, a qual é a base de todo o processo educacional brasileiro. No que diz respeito às práticas pedagógicas desenvolvidas neste nível, observa- se que existe um alto grau de complexidade. Conforme Carneiro (2015, p. 366): Neste ciclo escolar, exige-se do professor que tenha clareza sobre os níveis de interseção entre as atividades (procedimentos) vinculado ao campo dos conhecimentos sistematizados, dos saberes metodologizados. Educar é uma gama de processos articulados, vinculados à esfera do saber-ser. Tem, portanto, a ver com conformidades comportamentais, hábitos, relações intersubjetivas e desempenho social. Formar, por fim, é trabalhar competências, objetivando a inserção adequada do sujeito em atividades sociais, laborais e situacionais precisas. Vincula-se ao campo do saber-fazer. Frente a isso, podemos determinar que a formação do profissional que estiver inserido na Educação Infantil éelevada, necessita de muito conhecimento e competência em suas atividades. Para determinar a avaliação na Educação Infantil não podemos fazê- la de forma quantitativa, mas sim observar o desenvolvimento emocional e comportamental, através de dimensões como: “atenção, atitudes reativas e proativas, participação, integração, socialização, adaptação, motivação, tolerância, sentimento do outro, prontidão mental, coordenação de movimentos, nível de linguagem e comunicação, processos de evolução de etapas, dentre outros” (CARNEIRO, 2015, p. 369). Assim, a Educação Infantil, no que tange à avaliação, não está preocupada em medir ou apurar o que o aluno absorveu, mas sim trabalhar o currículo de maneira multidisciplinar, transdisciplinar e interdisciplinar, tudo isso através da ludicidade pedagógica. No que diz respeito ao quadro de horas, deve-se respeitar o que se encontra na LDB, pois a Educação Infantil passa a ter uma organização e um funcionamento submetidos às exigências regulares, com 800 (oitocentas horas mínimas anuais) e no mínimo 200 (duzentos dias letivos). O atendimento às crianças é definido pelo fator etário: crianças de zero a três anos matriculadas em creches, e de quatro a cinco anos na pré-escola. Cabe ressaltar mais uma vez que a creche e a pré-escola não são depósito de crianças, mas um espaço que busca a formação das crianças no eixo cuidar-educar, o que determina atenção individualizada e qualidade nas ações realizadas com a criança, buscando o pleno desenvolvimento da criança. Já na pré-escola, a educação infantil vem com uma outra perspectiva, ancorada é claro nos princípios elencados na Educação Infantil, mas encontra-se nesse segmento a presença do controle de frequência da criança. Nesse segmento a frequência é de sessenta por cento (Artigo 31, inciso IV) (BRASIL, 1996). TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 109 O controle de frequência neste caso ganha enorme importância pelo fato de a pré-escola ter importância ímpar no processo de alfabetização e letramento do aluno. Como etapa imediatamente anterior ao ensino fundamental, a pré-escola é o chão da memória da aprendizagem sistematizada e, portanto, das interconexões ‘institucionalizadas dos alunos, aproximando formação cultural e vivências grupais e sociais dentro do processo de ler lições para estudar, aprender e prestar contas!’ Ou seja, aqui o aluno passa a assumir propriamente a responsabilidade das obrigações escolares e ‘do dever de casa’. A frequência controlada visa precisamente a evitar descontinuidades neste processo ou seu comprometimento por interrupções indevidas (CARNEIRO, 2015, p. 371). E por último, e tão importante quanto os demais aspectos aqui elencados, a expedição de documentos em nível de alunos da Educação Infantil dá-se através de registros de acompanhamento, que retratam as etapas de desenvolvimento da criança. Já o Artigo 32 vem com a responsabilidade de informar que o Ensino Fundamental obrigatório possui a duração de nove anos, de maneira gratuita na escola pública, tendo seu início aos seis anos de idade, e terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante (BRASIL, 1996): I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos. § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino. § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais. § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007). § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como tema transversal nos currículos do ensino fundamental (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011). Observa-se neste artigo a preocupação relativa à permanência da criança na escola, dando a possibilidade de acrescentar mais conhecimentos para as crianças em toda sua vida escolar. Ao realizar este movimento de passar de oito anos para nove anos de escolaridade do Ensino Fundamental, além de ser uma conquista, UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 110 existiram efeitos relativos ao funcionamento da escola. Foram necessárias algumas reordenações relativas à reorganização do calendário de matrículas; modificações no projeto político pedagógico do Ensino Fundamental, trazendo também a inclusão da Educação Infantil neste meio; busca de estudos, análise e avaliações através da participação da sociedade, observando-se questões relativas aos recursos financeiros, materiais e humanos para a funcionalidade deste trabalho; a busca pela participação da família na formação das crianças em todos os níveis; a capacitação dos professores e funcionários através de um trabalho voltado ao pedagógico e que retrate a faixa etária em questão. Através destes mecanismos, busca-se organizar a escola em sua estrutura pedagógica desenvolvendo uma formação comum. Cabe ressaltar, caro acadêmico, que formação básica e formação comum não se tratam de expressões equivalentes, conforme Carneiro (2015, p. 377): [...] formação básica, quando se refere ao Ensino Fundamental e em formação comum quando se refere à educação básica. [...] A ideia de formação comum é bem mais abrangente. Enquanto a formação básica adjunge-se ao Ensino Fundamental, portanto, ao ensino de oferta universalmente obrigatória a todos os cidadãos brasileiros, a ideia de formação comum pervade os três níveis de constituição da educação básica e, desta forma, desentranhando-se dos limites do tempo no Ensino Fundamental (nove anos), busca superar a quantidade pela qualidade educativa. Desta maneira, podemos perceber que formação comum e formação básica são palavras que possuem conceitos diferenciados, mesmo que se complementem. Verificamos aqui a necessidade de abrirmos um parêntese relativo à Base Nacional Comum Curricular, a qual está sendo discutida amplamente em todo o território brasileiro. Caro acadêmico, você deve ter ouvido falar em sua escola, ou mesmo nos meios de comunicação, da realização de ações que busquem articular os componentes curriculares, conforme é apresentado e discutido no Artigo 26, quanto às áreas de conhecimento. A Base Nacional Comum Curricular assim se apresenta quanto às áreas de conhecimento: QUADRO 4 – ÁREAS DE CONHECIMENTO DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR ÁREA DE LINGUAGENS Língua Portuguesa Língua Materna, para populações indígenas Língua Estrangeira Moderna Educação Física Artes TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 111 ÁREA DE MATEMÁTICA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA Ciências Física Química Biologia ÁREADE CIÊNCIAS HUMANAS História Geografia Sociologia Filosofia ÁREA DE ENSINO RELIGIOSO FONTE: Adaptado de Ministério da Educação (2016a) e Carneiro (2015) O que é a BNCC – Base Nacional Comum Curricular? Este conceito encontra-se no próprio documento, na página 25, que assim está delineado: [...] entende-se a Base Nacional Comum Curricular como os conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas e que são gerados nas instituições produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; nos movimentos sociais (Parecer CNE/CEB nº 07/2010, p. 31 apud MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016a, p. 25). Este conceito recai diretamente no que estamos verificando no Artigo 32 da LDB. Com isso, a Base Nacional Comum Curricular não é só mais um documento, mas sim, uma exigência. A Base Nacional Comum Curricular é uma exigência colocada para o sistema educacional brasileiro pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996; 2013), pelas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica (BRASIL, 2009) e pelo Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2014), e deve se constituir como um avanço na construção da qualidade da educação. Para o Ministério da Educação, o que deve nortear um projeto de nação é a formação humana integral e uma educação de qualidade social. Em consonância com seu papel de coordenar a política nacional de Educação Básica, o MEC desencadeou um amplo processo de discussão da Base Nacional Comum Curricular da Educação Básica. A BNCC, cuja finalidade é orientar os sistemas na elaboração de suas propostas curriculares, tem como fundamento o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento, em conformidade com o que preceituam o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Conferência Nacional de Educação (CONAE) (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016a, p. 24). UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 112 A Base Nacional Comum Curricular é um documento que ainda se encontra em discussão e construção, mas que já pode ser visualizado em sua segunda versão no link: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf>. Para um maior aprofundamento, procure ler o documento, pois nele encontram-se inúmeras possibilidades de reflexão e de modificações na maneira de se ver, aprender e desenvolver a Educação Básica. FIGURA 5 – CAPA DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/ search?q=imagem+capa+BNCC+2016>. Acesso em: 20 ago. 2016. Outro ponto a ser ressaltado do Artigo 32 é relativo ao inciso 6º, que trata dos símbolos nacionais e hinos. Esses possuem um valor histórico inestimável e traduzem o sentimento que une a nação e desponta a soberania de nosso país. Na Constituição Federativa do Brasil encontramos determinados como símbolos nacionais oficiais: a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, o Brasão da República e o Selo Nacional (BRASIL, 1988). Cabe ressaltar que a apresentação e utilização desses símbolos são previamente regulamentadas pela Lei nº 5.700, de 1º de setembro de 1971. Já em 2009, a Lei 12.031 passa a tornar obrigatório que as escolas públicas e privadas do Ensino Fundamental executem o Hino Nacional Brasileiro uma vez por semana em suas dependências. IMPORTANT E TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 113 Caro acadêmico, falando em símbolos nacionais, será que sabemos o que é patriotismo, civismo? Será que nossas crianças compreendem a importância destas palavras e dos símbolos? E nós? Sabemos ser patriotas? Para melhor compreensão, vamos buscar em Carneiro (2015, p. 400) estas definições que se entrelaçam. O patriotismo vivenciado em suas diferentes explicações é parte da cidadania. Manifesta-se ele na valorização do país, em suas belezas naturais e riquezas e, também, na reverência aos símbolos nacionais. O civismo, por sua vez, é o respeito aos valores, instituições, práticas políticas e formas de a sociedade organizar-se e funcionar. Por extensão, patriotismo é um forte sentimento de orgulho, amor e devoção à pátria, aos seus símbolos e ao seu patrimônio material e imaterial. A expressão extrema de patriotismo é defender o próprio país em situações de guerra. Com isso, devemos enquanto profissionais da educação e como cidadãos, respeitar os símbolos nacionais e apresentarmos às nossas crianças este respeito à Pátria Mãe, ensinando a elas o cultivo deste sentimento de respeito, amor, tarefa que deve ser compartilhada “pela escola no conjunto de suas atribuições e, particularmente, nas formas de trabalhar o currículo, a partir de datas e comemorações cívicas” (CARNEIRO, 2015, p. 400). Continuando nossa aquisição de conhecimentos, o Artigo 34 vem com a responsabilidade de determinar o número de horas relativas ao efetivo trabalho em sala de aula no Ensino Fundamental, a saber: “A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola” (BRASIL, 1996). Este artigo quando trata da progressividade de ampliação do período de permanência na escola, retrata o desejo de levar a criança do Ensino Fundamental não somente ao desenvolvimento de seu intelecto, mas: [...] também do físico, do cuidado com sua saúde, além do oferecimento de oportunidades para que desfrute e produza arte, conheça e valorize sua história e seu patrimônio cultural, tenha uma atitude responsável diante da natureza, aprenda a respeitar os direitos humanos e os das crianças e adolescentes, seja um cidadão criativo, empreendedor e participante, consciente de suas responsabilidades e direitos, capaz de ajudar o país e a humanidade a se tornarem cada vez mais justos e solidários, a respeitar as diferenças e a promover a convivência pacífica e fraterna entre todos (Disponível em: <http://educacaointegral.mec. gov.br/>. Acesso em: 20 ago. 2016). Cabe salientar que a Educação Integral no Ensino Fundamental é desenvolvida pelo MEC – Ministério da Educação, com os programas: Mais Educação – “sua criação se deu a partir da Portaria Ministerial 17/2007, e regulamentada pelo Decreto nº 7.083/2010” (CARNEIRO, 2015, p. 411). Este programa é ofertado às escolas públicas de ensino fundamental, e consiste no desenvolvimento de atividades de educação integral que expandem o tempo diário de escola para o mínimo de sete horas e que também ampliam as oportunidades educativas dos estudantes. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 114 As atividades de educação integral compreendem estratégias para o acompanhamento pedagógico diário da aprendizagem dos estudantes quanto às linguagens, à matemática, às ciências da natureza, às ciências humanas; bem como quanto ao desenvolvimento de atividades culturais, da cultura digital, artísticas, esportivas, de lazer e da abertura das escolas aos finais de semana (Disponível em: <http://educacaointegral. mec.gov.br/mais-educacao>. Acesso em: 7 dez. 2016). Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) – este programa tem como objetivo: [...] apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio, buscando garantir a formação integral com a inserção de atividades que tornem o currículo mais dinâmico, atendendo às expectativas dos estudantes e às demandas da sociedade contemporânea. Os projetos de redesenho curricular deverão propor atividades integradoras, articulando as dimensões do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução CEB/CNE n. 2, de 30 de janeiro de 2012).As ações propostas devem contemplar as diversas áreas do conhecimento a partir de atividades propostas nos seguintes macrocampos: Acompanhamento Pedagógico (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza); Iniciação Científica e Pesquisa; Leitura e Letramento; Línguas Estrangeiras; Cultura Corporal; Produção e Fruição das Artes; Comunicação, Cultura Digital e uso de Mídias; e Participação Estudantil. Estas ações são incorporadas gradativamente ao currículo, ampliando o tempo na escola, na perspectiva da educação integral e, também, a diversidade de práticas pedagógicas de modo que estas, de fato, qualifiquem os currículos das escolas de Ensino Médio. A adesão ao Programa Ensino Médio Inovador é realizada pelas Secretarias de Educação Estaduais e Distrital que selecionam as escolas de Ensino Médio que participarão do ProEMI e receberão apoio técnico e financeiro para a elaboração e o desenvolvimento de seus projetos de redesenho curricular (Disponível em: <http://educacaointegral.mec. gov.br/proemi>. Acesso em: 20 ago. 2016). Para que esta ideia de escola em tempo integral venha a ser adotada com profundidade e força, são necessárias muitas mudanças estruturais e pedagógicas, as quais já estão escassas na educação realizada nas quatro horas apresentadas na lei. Para tanto, conforme Carneiro (2015, p. 416 – 417): O que ocorre, de fato, é que os custos adicionais do modelo são recorrentes e inafastáveis. O MEC calcula a necessidade de um investimento da ordem de R$ 3,8 bilhões para viabilizar a meta do Plano Nacional de Educação de oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos alunos da Educação Básica. Diante disso, podemos determinar que as questões financeiras esbarram também em mais duas grandes dificuldades para a efetivação deste programa: TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 115 • A matrícula de alunos de tempo integral sem a correspondente contratação de professores permanentes e qualificados, portanto, via concurso público, de professores igualmente de tempo integral. A solução tem sido contratar monitores e profissionais de formação inadequada (CARNEIRO, 2015). • A oferta de aulas regulares em um turno e a improvisação de atividades complementares no contra turno. Significa que temos ensino integral sem “aulas” integradas (CARNEIRO, 2015). Com isso encontramos as salas de aula abarrotadas de alunos, e seus professores sobrecarregados, desta forma não se consegue ampliar atividades educacionais eficazes, “sob pena de um comprometimento ainda maior da escolaridade formal” (CARNEIRO, 2015, p. 417). Cabe ressaltar que a permanência da criança na escola no contra turno não determina aquisição de conhecimento ou aprimoramento de suas habilidades, pois as experiências que o Brasil possui com este programa sempre denotaram grandes fragilidades. Confunde-se escola de tempo integral com a pura extensão do tempo de permanência do aluno na escola. Via de regra, o que se tem nestas tentativas é a escola funcionando regularmente em um turno e, no outro, as crianças entregues a programações vazias e improvisadas por professores despreparados, quase sempre bolsistas universitários que atuam como boias-frias de educação, ou seja, os contra turnos nada mais são do que espaços com programações excludentes entre nível pedagógico, gestão institucional e perspectiva social em projeção para os alunos. Sem dúvida, um projeto de escola de tempo integral tem implicações políticas e sociopedagógicas que transcendem a jornada escolar diária e a propaganda política (CARNEIRO, 2015, p. 418). Assim, podemos determinar que este programa, como o que se refere ao Ensino Médio, é muito bom, mas sempre esbarramos com a falta de financiamentos, tanto a nível de estrutura como pedagógicos. E cabe também ressaltar que a escola não é e nunca será a substituta da família do aluno. Cabe a cada um, família, escola e União, buscarem respostas a tantas fragilidades já existentes em nosso sistema educacional. As responsabilidades precisam ser abraçadas por cada um, para podermos, quiçá, assegurarmos uma educação de qualidade aos alunos e de respeito ao trabalhador da educação, o professor! E nos níveis de ensino, nos deparamos com a Seção IV que trata do Ensino Médio. Já iniciamos algumas falas referentes a este nível, mas vamos através dos Artigos 35 e 36 determinar a finalidade do Ensino Médio: Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 116 para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (BRASIL, 1996). Com este artigo podemos observar que as finalidades do Ensino Médio estão voltadas à preparação do jovem para as atividades voltadas ao trabalho, à cidadania e ao conhecimento técnico-científico. Podemos determinar que este Ensino Médio busca: [...] educação, não o treinamento. O aluno vai-se educar a partir de uma nova base de pensamento lógico-abstrato, com uma educação básica reconceituada à luz da apropriação de inovações tecnológicas e organizacionais e lastreada por um substrato de conhecimento assegurado por uma formação básica comum e essencial (CARNEIRO, 2015, p. 421). Assim, consegue-se uma (re)identidade na busca do conhecimento, este caminho foi construído com a apresentação do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio, no ano de 1998, tendo como objetivo maior “complementar ou substituir o vestibular”. “O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica. Podem participar do exame alunos que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016, s.p.). Ainda conforme o MEC (2016, s.p.): O Enem é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de seleção para o ingresso no ensino superior, seja complementando ou substituindo o vestibular. Relativo ao Artigo 35, suas finalidades estão atreladas uma a outra, pois têm-se no Ensino Médio a continuidade dos estudos (currículo) focados em: capacidades afetivas, cognitivas, relativas à identidade, valorização do corpo e da vida, como também o domínio de linguagens, a construção do pensamento lógico, participação ativa no que tange à cidadania, valorização da pluralidade cultural e patrimônio sociocultural de nosso país, meio ambiente. Busca-se com isso o aprimoramento do aluno como pessoa humana, pois ele possui uma identidade, a qual está inserida nas demais que se fazem presentes na instituição escolar. Conforme Carneiro (2015, p. 427), “a construção da identidade é um processo longo e complexo porque está vinculada a condições sociais e materiais. O Ensino Médio é o espaço privilegiado que o aluno encontra, certamente pela primeira vez, para aclarar sua sociobiografia, sua história de vida, suas condições como ser de relações”. TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 117No que tange ao Artigo 36, determina-se o currículo a ser trabalhado no Ensino Médio, voltado para as tecnologias, o significado de ciência, das letras e das artes, as questões relativas à transformação da sociedade e da cultura no nível histórico, a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício de cidadania. As disciplinas de língua estrangeira, a sociologia e a filosofia passam a ser obrigatórias em todas as séries do ensino médio. Já no que tange à educação superior, no Capítulo IV, os artigos que tratam da educação superior vão do Artigo 43 ao 57. No Artigo 43 encontramos as finalidades da educação superior, sendo elas (BRASIL, 1996): I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II – formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III – incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV – promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V – suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII – promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica geradas na instituição. Cabe determinar que após a leitura das finalidades do ensino superior, encontramos, conforme Carneiro (2015, p. 515), “uma lista de palavras-ação com forte conteúdo indutor e com pertinência no campo do desenvolvimento humano”, como podemos ver: Inciso I: estimular... Inciso III: incentivar... Inciso IV: promover... Inciso V: suscitar... Inciso VI: estimular... Inciso VII: promover... Segundo o Artigo 2º da LDB, “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 118 exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1996). O que está em negrito determina que a educação superior é a busca pela excelência do ensino, a busca pelo conhecimento mais avançado e que determina a qualificação do estudante para o trabalho. Ainda relativo às palavras-ação: O conjunto de palavras-ação referenciado aponta para um esforço de canalização de elementos de racionalidade, emocionalidade e diretividade, no horizonte do desenvolvimento de uma estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento... [...] aqui juntam-se aptidões e conhecimentos sob a forma de um feixe de intencionalidades institucionais que encontra, na universidade, sua expressão máxima de percepções, impulsos, meios e formas de desenvolvimento, estratégias de qualificação e, sobretudo, apropriação racional do saber (CARNEIRO, 2015, p. 515). Assim, fica clara a necessidade da busca da inovação dentro da esfera universitária, como trata este artigo e os demais que se referem à educação superior. Portanto, acadêmico, sinta-se privilegiado em fazer parte dessa busca pelo conhecimento e pela inovação de suas ideias e ideais. Para tanto, é necessário estudo, esforço e comprometimento. Até o momento observamos os níveis de ensino, agora trataremos de maneira breve das modalidades de ensino, que serão apresentadas a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013b, p. 40-46), em recortes: Educação de Jovens e Adultos – As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos estão expressas na Resolução CNE/CEB nº 1/2000, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 11/2000, sendo que o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 visa instituir Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância. O Artigo 37 traduz os fundamentos da EJA ao atribuir ao poder público a responsabilidade de estimular e viabilizar o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si, mediante oferta de cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, proporcionando-lhes oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. Esta responsabilidade deve ser prevista pelos sistemas educativos e por eles deve ser assumida, no âmbito da atuação de cada sistema, observado o regime de colaboração e da ação redistributiva, definidos legalmente. Os cursos de EJA devem pautar-se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto de tempo e espaço, para que seja: I - rompida a simetria com o ensino regular para crianças e adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e conteúdos significativos para os jovens e adultos; II - provido suporte e atenção individual às diferentes necessidades dos estudantes no TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 119 processo de aprendizagem, mediante atividades diversificadas; III - valorizada a realização de atividades e vivências socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; IV - desenvolvida a agregação de competências para o trabalho; V - promovida a motivação e orientação permanente dos estudantes, visando à maior participação nas aulas e seu melhor aproveitamento e desempenho; VI - realizada sistematicamente a formação continuada destinada especificamente aos educadores de jovens e adultos. Na organização curricular dessa modalidade da Educação Básica, a mesma lei prevê que os sistemas de ensino devem oferecer cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. Entretanto, prescreve que, preferencialmente, os jovens e adultos tenham a oportunidade de desenvolver a Educação Profissional articulada com a Educação Básica (§ 3º do Artigo 37 da LDB, incluído pela Lei nº 11.741/2008). [...] Quanto aos exames supletivos, a idade mínima para a inscrição e realização de exames de conclusão do Ensino Fundamental é de 15 (quinze) anos completos, e para os de conclusão do Ensino Médio é a de 18 (dezoito) anos completos. Para a aplicação desses exames, o órgão normativo dos sistemas de educação deve manifestar-se previamente, além de acompanhar os seus resultados. A certificação do conhecimento e das experiências avaliados por meio de exames para verificação de competências e habilidades é objeto de diretrizes específicas a serem emitidas pelo órgão normativo competente, tendo em vista a complexidade, a singularidade e a diversidade contextual dos sujeitos a que se destinam tais exames. São exemplos desta articulação o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidadede Educação de Jovens e Adultos – PROEJA (que articula educação profissional com o Ensino Fundamental e o médio da EJA) e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens Educação, Qualificação e Participação Cidadã – PROJOVEM, para jovens de 18 a 29 anos (que articula Ensino Fundamental, qualificação profissional e ações comunitárias). A União, pelo MEC e INEP, supletivamente e em regime de colaboração com os Estados, Distrito Federal e Municípios, vem oferecendo exames supletivos nacionais, mediante o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), autorizado pelo Parecer CNE/CEB nº 19/2005. Observa-se que, a partir da aplicação do ENEM em 2009, este passou a substituir o ENCCEJA referente ao Ensino Médio, passando, pois, a ser aplicado apenas o referente ao fundamental. Tais provas são interdisciplinares e contextualizadas, percorrendo transversalmente quatro áreas de conhecimento – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Educação Especial – A Educação Especial é uma modalidade de ensino transversal a todas etapas e outras modalidades, como parte integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagógico da unidade escolar. Os sistemas de ensino devem matricular todos os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, cabendo às escolas organizar-se para seu atendimento, garantindo as condições para uma educação de qualidade para todos, devendo considerar suas necessidades educacionais UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 120 específicas, pautando-se em princípios éticos, políticos e estéticos, para assegurar: I - a dignidade humana e a observância do direito de cada estudante de realizar seus projetos e estudo, de trabalho e de inserção na vida social, com autonomia e independência; II - a busca da identidade própria de cada estudante, o reconhecimento e a valorização das diferenças e potencialidades, o atendimento às necessidades educacionais no processo de ensino e aprendizagem, como base para a constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos, habilidades e competências; III - o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capacidade de participação social, política e econômica e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres e o usufruto de seus direitos. O atendimento educacional especializado (AEE), previsto pelo Decreto nº 6.571/2008, é parte integrante do processo educacional, sendo que os sistemas de ensino devem matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no atendimento educacional especializado (AEE). O objetivo deste atendimento é identificar habilidades e necessidades dos estudantes, organizar recursos de acessibilidade e realizar atividades pedagógicas específicas que promovam seu acesso ao currículo. Este atendimento não substitui a escolarização em classe comum e é ofertado no contra turno da escolarização em salas de recursos multifuncionais da própria escola, de outra escola pública ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios. [...] As atuais Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica são as instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 2/2001, com fundamento no Parecer CNE/CEB 17/2001, complementadas pelas Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial (Resolução CNE/CEB nº 4/2009, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 13/2009), para implementação do Decreto nº 6.571/2008, que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Nesse sentido, os sistemas de ensino assegurarão a observância das seguintes orientações fundamentais: I - métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender as suas necessidades; II - formação de professores para o atendimento educacional especializado, bem como para o desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas nas classes comuns de ensino regular; III- acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. A LDB, no Artigo 60, prevê que os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em Educação Especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo poder público e, no seu parágrafo único, estabelece que o poder público ampliará o atendimento aos estudantes com necessidades especiais na TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 121 própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas nesse artigo. Educação Profissional e Tecnológica – A Educação Profissional e Tecnológica (EPT), em conformidade com o disposto na LDB, com as alterações introduzidas pela Lei nº 11.741/2008, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. Dessa forma, pode ser compreendida como uma modalidade na medida em que possui um modo próprio de fazer educação nos níveis da Educação Básica e Superior e em sua articulação com outras modalidades educacionais: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação a Distância. A EPT na Educação Básica ocorre na oferta de cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional, e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio ou, ainda, na Educação Superior, conforme o § 2º do Artigo 39 da LDB: A Educação Profissional e Tecnológica abrangerá os seguintes cursos: I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; II – de Educação Profissional Técnica de nível médio; III – de Educação Profissional Tecnológica de graduação e pós- graduação. A Educação Profissional Técnica de nível médio, nos termos do Artigo 36-B da mesma lei, é desenvolvida nas seguintes formas: I – articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: II – integrada, na mesma instituição, III – concomitante, na mesma ou em distintas instituições; IV – subsequente, em cursos destinados a quem já tenha concluído o Ensino Médio. As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico estão instituídas pela Resolução CNE/CEB nº 4/99, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 16/99, atualmente em processo de revisão e atualização, face à experiência acumulada e às alterações na legislação que incidiram sobre esta modalidade. As instituições podem oferecer cursos especiais, abertos à comunidade, com matrícula condicionada à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade. São formulados para o atendimento de demandas pontuais, específicas de um determinado segmento da população ou dos setores produtivos, com período determinado para início e encerramento da oferta, sendo, como cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional, livres de regulamentação curricular. No tocante aos cursos articulados com o Ensino Médio, organizados na forma integrada, o que está proposto é um curso único (matrícula única), no qual os diversos componentes curriculares são abordados de forma que se explicitem os nexos existentes entre eles, conduzindo os estudantes à habilitação profissional técnica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a última etapa da Educação Básica.Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio, ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla certificação, podem ocorrer na mesma UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 122 instituição de ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis; ou em instituições de ensino distintas, mediante convênios de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. São admitidas, nos cursos de Educação Profissional Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em etapas que possibilitem uma qualificação profissional intermediária. Para Moacir Alves Carneiro, a certificação pretende valorizar a experiência extraescolar e a abertura que a Lei dá à Educação Profissional vai desde o reconhecimento do valor igualmente educativo do que se aprendeu na escola e no próprio ambiente de trabalho, até a possibilidade de saídas e entradas intermediárias. Educação Básica do campo – Nesta modalidade, a identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação com as questões inerentes a sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no País. A educação para a população rural está prevista no Artigo 28 da LDB, em que ficam definidas, para atendimento à população rural, adaptações necessárias às peculiaridades da vida rural e de cada região, definindo orientações para três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; II - organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. As propostas pedagógicas das escolas do campo devem contemplar a diversidade do campo em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero, geração e etnia. Formas de organização e metodologias pertinentes à realidade do campo devem, nesse sentido, ter acolhida. Assim, a pedagogia da terra busca um trabalho pedagógico fundamentado no princípio da sustentabilidade, para que se possa assegurar a preservação da vida das futuras gerações. Particularmente propícia para esta modalidade, destaca-se a pedagogia da alternância (sistema dual), criada na Alemanha há cerca de 140 anos e, hoje, difundida em inúmeros países, inclusive no Brasil, com aplicação, sobretudo, no ensino voltado para a formação profissional e tecnológica para o meio rural. Nesta metodologia, o estudante, durante o curso e como parte integrante dele, participa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, não se configurando o último como estágio, mas sim, como parte do currículo do curso. Essa alternância pode ser de dias na mesma semana ou de blocos semanais ou, mesmo, mensais ao longo do curso. Supõe uma parceria educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo aprendizado e formação do estudante. É bastante claro que podem predominar, num ou noutro, oportunidades diversas de desenvolvimento de TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 123 competências, com ênfases ora em conhecimentos, ora em habilidades profissionais, ora em atitudes, emoções e valores necessários ao adequado desempenho do estudante. Nesse sentido, os dois ambientes/situações são intercomplementares. Educação Escolar Indígena – A escola desta modalidade tem uma realidade singular, inscrita em terras e cultura indígenas. Requer, portanto, pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira (Artigos 5º, 9º, 10, 11 e inciso VIII do Artigo 4º da LDB). Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas é reconhecida sua condição de escolas com normas e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando a valorização plena das culturas dos povos indígenas e a afirmação e manutenção de sua diversidade étnica. São elementos básicos para a organização, a estrutura e o funcionamento da escola indígena: I - localização em terras habitadas por comunidades indígenas, ainda que se estendam por territórios de diversos Estados ou Municípios contíguos; II - exclusividade de atendimento a comunidades indígenas; III - ensino ministrado nas línguas maternas das comunidades atendidas, como uma das formas de preservação da realidade sociolinguística de cada povo; IV - organização escolar própria. Na organização de escola indígena deve ser considerada a participação da comunidade, na definição do modelo de organização e gestão, bem como: I - suas estruturas sociais; II - suas práticas socioculturais e religiosas; III - suas formas de produção de conhecimento, processos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; IV - suas atividades econômicas; V - a necessidade de edificação de escolas que atendam aos interesses das comunidades indígenas; VI - o uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena. As escolas indígenas desenvolvem suas atividades de acordo com o proposto nos respectivos projetos pedagógicos e regimentos escolares com as prerrogativas de: organização das atividades escolares, independentes do ano civil, respeitado o fluxo das atividades econômicas, sociais, culturais e religiosas; e duração diversificada dos períodos escolares, ajustando-a às condições e especificidades próprias de cada comunidade. Por sua vez, tem projeto pedagógico próprio, por escola ou por povo indígena, tendo por base as Diretrizes Curriculares Nacionais referentes a cada etapa da Educação Básica; as características próprias das escolas indígenas, em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade; as realidades sociolinguísticas, em cada situação; os conteúdos curriculares especificamente indígenas e os modos próprios de constituição do saber e da cultura indígena; e a participação da respectiva comunidade ou povo indígena. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 124 A formação dos professores é específica, desenvolvida no âmbito das instituições formadoras de professores, garantindo-se aos professores indígenas a sua formação em serviço e, quando for o caso, concomitantemente com a sua própria escolarização. Educação a Distância – A modalidade Educação a Distância caracteriza-se pela mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. O credenciamento para a oferta de cursos e programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as normas complementares desses sistemas. Educação Escolar Quilombola – A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípiosconstitucionais, a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica brasileira. [...] Não há, ainda, Diretrizes Curriculares específicas para esta modalidade. Na estruturação e no funcionamento das escolas quilombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade cultural. Caro acadêmico, vamos nos ater aos Programas que são desenvolvidos pelo Ministério da Educação para que tanto os níveis de ensino e as modalidades possam ter funcionalidade. 125 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • A globalização é o “processo de mundialização, de acordo com o entendimento majoritário dos autores contemporâneos, caracteriza-se pela ampla integração econômica, política, cultural e outros entre as nações” (SOUSA, 2011, p. 4). • O Banco Mundial foi “criado a partir das necessidades advindas após a Segunda Guerra Mundial, quando os países devastados pela guerra sentiram a necessidade de buscar seu crescimento econômico” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 88). • As características da revolução informacional: o Surgimento de uma nova linguagem comunicacional, uma vez que circulam e se tornam comuns termos como realidade virtual, ciberespaço, hipermídia, correio eletrônico, Orkut, Facebook, Twitter e outros, expressando as novas realidades e possibilidades informacionais. Já é comum também a utilização de uma linguagem digital, sobretudo entre jovens, para expressar sentimentos e situações de vida. o Os diferentes mecanismos de informação digital (comunicação instantânea), de acesso à informação, de pesquisa e de ligação entre matérias sempre atualizadas e qualificadas. o As novas possibilidades de entretenimento e de educação (TV educativa, educação a distância, vídeos, softwares etc.). o O acúmulo de informações e as infindáveis condições de armazenamento (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 79). • “O termo modalidade da educação diz respeito aos diferentes modos particulares de exercer a educação. Enquanto níveis de educação se referem aos diferentes graus, categorias de ensino como infantil, fundamental, médio, superior, modalidade de educação implica a forma, o modo como tais graus de ensino são desenvolvidos” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 361). • A Base Nacional Comum Curricular é entendida como os conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas e que são gerados nas instituições produtoras do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; nos movimentos sociais (Parecer CNE/CEB nº 07/2010). • As modalidades de ensino são: Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação Básica do campo, Educação Escolar Indígena, Educação a Distância e Educação Escolar Quilombola. 126 AUTOATIVIDADE 1 A Base Nacional Comum Curricular é um documento que está em construção e possui como fundamento conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente. Este é um dos entendimentos que se encontra no Parecer CNE/CEB nº 07/2010. Diante do exposto, quais os demais entendimentos que podemos ter com relação à Base Nacional Comum Curricular? a) ( ) Entende-se a BNCC com base nos trabalhos relativos à administração pedagógica e o envolvimento de atividades voltadas ao desenvolvimento do espaço físico da escola. b) ( ) Entende-se a BNCC como extensão de valores e saberes que se encontram nas políticas públicas, através do desenvolvimento da linguagem, das atividades desportivas e cidadania. c) ( ) Entende-se a BNCC como base comum relativa a conteúdos predeterminados que deverão ser desenvolvidos sem possibilidade de flexibilização, deixando o planejamento engessado. d) ( ) Entende-se a BNCC como documento elaborado a partir de informações relativas a tendências pedagógicas voltadas aos interesses do sistema governamental vigente. e) ( ) Entende-se a BNCC como documento desenvolvido através de interesses da classe dominante, a qual determina o que, para que e o quanto deve ser apresentado aos educandos. 2 (ENADE, 2011) Exclusão digital é um conceito que diz respeito às extensas camadas sociais que ficaram à margem do fenômeno da sociedade da informação e da extensão das redes digitais. O problema da exclusão digital se apresenta como um dos maiores desafios dos dias de hoje, com implicações diretas e indiretas sobre os mais variados aspectos da sociedade contemporânea. Nessa nova sociedade, o conhecimento é essencial para aumentar a produtividade e a competição global. É fundamental para a invenção, para a inovação e para a geração de riqueza. As tecnologias de informação e comunicação (TICs) proveem uma fundação para a construção e aplicação do conhecimento nos setores públicos e privados. É nesse contexto que se aplica o termo exclusão digital, referente à falta de acesso às vantagens e aos benefícios trazidos por essas novas tecnologias, por motivos sociais, econômicos, políticos ou culturais. Considerando as ideias do texto acima, avalie as afirmações a seguir. I. Um mapeamento da exclusão digital no Brasil permite aos gestores de políticas públicas escolherem o público-alvo de possíveis ações de inclusão digital. II. O uso das TICs pode cumprir um papel social, ao prover informações àqueles que tiveram esse direito negado ou negligenciado e, portanto, permitir maiores graus de mobilidade social e econômica. 127 III. O direito à informação diferencia-se dos direitos sociais, uma vez que esses estão focados nas relações entre os indivíduos e, aqueles, na relação entre o indivíduo e o conhecimento. IV. O maior problema de acesso digital no Brasil está na deficitária tecnologia existente em território nacional, muito aquém da disponível na maior parte dos países do primeiro mundo. É correto apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) II e IV. c) ( ) III e IV. d) ( ) I, II e III. e) ( ) I, III e IV. 3 (ENADE, 2011) Na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória em todos os níveis e modalidades de ensino. De acordo com os pressupostos da inclusão escolar expressos na referida Política, avalie as afirmações a seguir. I. A inclusão educacional expressa um paradigma fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis. II. A educação inclusiva prevê o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares. III. O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. IV. O movimento mundial pela inclusão educacional é uma carta de intenções que prevê, a partir da próxima década, ações políticas de atendimento educacional especializado, que deve ocorrer em salas de aula diferenciadas, na mesma escola. É correto apenas o que se afirma em: a) ( ) I e III. b) ( ) I e IV. c) ( ) II e IV. d) ( ) I, II, e III. e) ( ) II, III e IV. Assista ao vídeo de resolução da questão 2 128 129 TÓPICO 2 AS INSTITUIÇÕES FORMADORAS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, serão tratados assuntos relativos aos programas desenvolvidos pelo Ministério da Educação, dando assim possibilidade de crescimento e desenvolvimento das políticas públicas na áreaeducacional. Além disso, trataremos da busca pela funcionalidade dos programas, a quem compete a responsabilidade pela aplicação e participação dos programas. Veremos a sistemática desenvolvida para que ocorra a flexibilização das políticas públicas. Assim, sigamos nossa leitura em busca de mais conhecimentos! 2 PROGRAMAS DO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO Caro acadêmico, dentro da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, encontram-se também presentes as questões relativas aos recursos financeiros para a implementação dos programas educacionais. Apresentaremos, de maneira breve, os programas e o que é o FNDE, com sua funcionalidade e legalidade. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia federal criada pela Lei nº 5.537, de 21 de novembro de 1968, e alterada pelo Decreto-Lei nº 872, de 15 de setembro de 1969, é responsável pela execução de políticas educacionais do Ministério da Educação (MEC). Para alcançar a melhoria e garantir uma educação de qualidade a todos, em especial a educação básica da rede pública, o FNDE se tornou o maior parceiro dos 26 estados, dos 5.565 municípios e do Distrito Federal. Neste contexto, os repasses de dinheiro são divididos em constitucionais, automáticos e voluntários (convênios). Além de inovar o modelo de compras governamentais, os diversos projetos e programas em execução – Alimentação Escolar, Livro Didático, Dinheiro Direto na Escola, Biblioteca da Escola, Transporte do Escolar, Caminho da Escola, Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil – fazem do FNDE uma instituição de referência na Educação Brasileira (FNDE, 2012). UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 130 Para Santos (2012, p. 70) o FNDE é: [...] um fundo que tem como principal objetivo fornecer as condições concretas para o desenvolvimento de ações, planos e programas destinados a subsidiar instituições e sistemas de ensino (especialmente em despesas como as envolvidas em construção de escolas, fornecimento de merenda escolar, entre outras). Assim, o FNDE atua por meio de diversos programas que gerenciam parte dos recursos desse fundo e a direciona para as respectivas demandas. Alguns dos programas desenvolvidos por este fundo são: • Biblioteca na Escola (PNBE): programa criado em 1997, tendo como finalidade enviar às bibliotecas das escolas obras e materiais de apoio a atividades relativas à educação básica. Para recebimento dessas obras é necessário realizar convênio, pois os materiais são recebidos a partir do censo escolar realizado no ano anterior. • Caminho da Escola: foi instituído com o objetivo de melhoria na frota de veículos escolares, garantindo a permanência do aluno na escola da zona rural. Existe uma parceria entre o FNDE e Inmetro, para que sejam garantidos veículos padronizados e com segurança. • Livro Didático (PNLD): no ensino fundamental os alunos do 1º e 2º ano recebem livros consumíveis de alfabetização matemática e alfabetização linguística. Os alunos do 6º ao 9º ano recebem livros consumíveis de língua estrangeira. No que diz respeito ao ensino médio, envolve a distribuição de livros reutilizáveis nas disciplinas de matemática, história, geografia, língua portuguesa, biologia, física e química. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 397): “O programa Nacional do Livro Didático em Braille atende alunos cegos que cursam o ensino fundamental em escolas públicas de ensino regular e escolas especializadas sem fins lucrativos”. • Programa Um Computador por Aluno (Prouca): instituído pela Lei nº 12.249, de 14 de junho de 2010, o Prouca tem por objetivo promover a inclusão digital pedagógica e o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem de alunos e professores das escolas públicas brasileiras, mediante a utilização de computadores portáteis denominados laptops educacionais. O equipamento adquirido contém sistema operacional específico e características físicas que facilitam o uso e garantem a segurança dos estudantes e foi desenvolvido especialmente para uso no ambiente escolar (PORTAL DO FNDE, 2012). • Proinfância: criado em 2007, este programa tem como objetivo: prestar assistência financeira, em caráter suplementar, ao Distrito Federal e municípios que firmarem o termo de adesão ao plano de metas Compromisso Todos pela Educação e elaborarem um Plano de Ações Articuladas (PAR). Estes valores são para a construção e aquisição de equipamentos e mobiliário para creches e pré-escolas públicas da educação infantil (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 400). TÓPICO 2 | AS INSTITUIÇÕES FORMADORAS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 131 • Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE): para que a escola possa receber este programa é necessária verificação do censo do ano anterior para recebimento de recursos do PNAE. É preciso que seja criado nos municípios um Conselho de Alimentação Escolar, o qual fiscaliza e controla o uso dos recursos. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 394): “O objetivo do PNAE é garantir pelo menos uma refeição diária nos dias letivos, atender às necessidades nutricionais dos alunos e desenvolver a formação de hábitos alimentares saudáveis [...]”. • Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE): foi criado em 1995, tendo como objetivo “além de melhorar a qualidade do ensino fundamental, envolver a comunidade escolar a fim de otimizar a aplicação dos recursos” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 395). Este programa tem como funcionalidade a transferência de valores às escolas públicas da educação básica das redes estaduais e municipais, onde haja mais de 20 alunos, e também para escolas de educação especial mantidas por ONGs – Organizações Não Governamentais. Estes valores podem ser utilizados na obtenção de: materiais permanentes e de consumo, para manutenção e conservação do prédio escolar, para capacitação e aperfeiçoamento de profissionais da educação, para avaliação de aprendizagem, para implementação de projetos pedagógicos e para desenvolvimento de atividades educacionais diversas, que visem colaborar na melhoria do atendimento das necessidades básicas de funcionamento das escolas (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 395). Este mesmo programa ainda contempla os programas: O Escola Aberta foi criado em 2004, visando a oferta de oficinas, nos fins de semana, em escolas urbanas de comunidades em situação de risco e vulnerabilidade social. O Escola Acessível visa a adequação arquitetônica (obras e reformas) nos prédios escolares para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. O Mais Educação visa a formação integral de crianças, adolescentes e jovens de escolas estaduais e municipais de cidades com mais de 200 mil habitantes e com baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) por meio da ampliação do tempo e do espaço e das oportunidades educativas (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 396). • Programa Nacional de Formação Continuada a Distância nas Ações do FNDE (Formação pela Escola): este projeto objetiva a capacitação de todos os profissionais da educação, técnicos e gestores públicos tanto municipais como estaduais, além de representantes da comunidade escolar e da sociedade organizada. Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 400): “Consiste na oferta de cursos de capacitação, de forma que os participantes conheçam os detalhes da execução das ações e programas do FNDE, com a concepção, as diretrizes, os principais objetivos, os agentes envolvidos, a operacionalização, a prestação de contas e os mecanismos de controle social”. Todos os cursos são oferecidos a distância e é para toda a sociedade organizada. Com a utilização da Educação a Distância, mais pessoas estão sendo atendidas. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO:INFLUÊNCIAS GLOBAIS 132 Com estes programas podemos perceber que cabe a cada Estado, Município, organizar-se para fazer parte destes programas, auxiliando e conseguindo melhorias para seus alunos e profissionais da educação. Assim, aos governantes cabe sistematizar seu trabalho e procurar determinar quais as políticas públicas que são necessárias a sua realidade local ou regional. 3 OS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO NACIONAL O Ministério da Educação, em suas atribuições, buscou em suas políticas públicas aperfeiçoar a profissionalização de nossos jovens, e buscando verificar seu desempenho e das universidades, criou mecanismos que auxiliem na melhor formação do jovem brasileiro. Estes mecanismos estão ligados também à questão avaliativa dos programas. Alguns destes programas relativos à formação do estudante são: Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Sua criação ocorreu em 2011: por meio da Lei 12.513/2011, com o objetivo de expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica no país. O Pronatec busca ampliar as oportunidades educacionais e de formação profissional qualificada aos jovens, trabalhadores e beneficiários de programas de transferência de renda (Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pronatec/o-que-e>. Acesso em: 27 ago. 2016). Os objetivos do Pronatec são: I - expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio presencial e a distância e de cursos e programas de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; II - fomentar e apoiar a expansão da rede física de atendimento da educação profissional e tecnológica; III - contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público, por meio da articulação com a educação profissional; IV - ampliar as oportunidades educacionais dos trabalhadores, por meio do incremento da formação e qualificação profissional; V - estimular a difusão de recursos pedagógicos para apoiar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica. VI - estimular a articulação entre a política de educação profissional e tecnológica e as políticas de geração de trabalho, emprego e renda (Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pronatec/o-que-e>. Acesso em: 27 ago. 2016). Através de dados relativos às matrículas, nesse projeto, de 2011 a 2015 foram realizadas 9 mil e 400 matrículas. No ano de 2016 mais 2 milhões de matrículas (MEC, 2016a). Isso significa que a busca pelo conhecimento e a profissionalização estão em alta dentro do contexto social e econômico de nosso país. TÓPICO 2 | AS INSTITUIÇÕES FORMADORAS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 133 Outro programa utilizado pelo Ministério da Educação no que tange à avaliação, está relacionado aos alunos do 3º ano do Ensino Médio. Estamos falando do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio. Este programa foi criado em 1998, tendo como objetivo avaliar o desempenho do estudante ao fim do ensino médio. Poderão participar deste exame os alunos que estão finalizando ou que já concluíram o ensino médio em anos anteriores. O Enem é utilizado como critério de seleção para os estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de seleção para o ingresso no ensino superior, seja complementando ou substituindo o vestibular (Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/enem-sp-2094708791>. Acesso em: 27 ago. 2016). Prouni – Programa Universidade para Todos. Este programa foi criado através da Lei nº 11.096 de 13 de janeiro de 2005. Esta lei concede aos estudantes brasileiros que não possuem nível superior bolsas de estudo total ou parcial, de 50%, em instituições privadas de educação superior e de graduação. Para que o estudante seja bolsista do Prouni, ele deverá possuir os seguintes requisitos, conforme se apresentado pelo Ministério da Educação (2016c, s.p.): • ter cursado o ensino médio completo em escola da rede pública; • ter cursado o ensino médio completo em escola da rede privada, na condição de bolsista integral da própria escola; • ter cursado o ensino médio parcialmente em escola da rede pública e parcialmente em escola da rede privada, na condição de bolsista integral da própria escola privada; • ser pessoa com deficiência; • ser professor da rede pública de ensino, no efetivo exercício do magistério da educação básica e integrando o quadro de pessoal permanente da instituição pública e concorrer a bolsas exclusivamente nos cursos de licenciatura. Nesses casos não há requisitos de renda. Para concorrer às bolsas integrais, o candidato deve ter renda familiar bruta mensal de até um salário-mínimo e meio por pessoa. Para as bolsas parciais de 50%, a renda familiar bruta mensal deve ser de até três salários-mínimos por pessoa. Sinaes – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Este programa foi criado através da Lei nº 10.861, de abril de 2004, tendo como objetivo analisar as instituições de Educação Superior e seus estudantes (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 169). Ele possui uma série de instrumentos complementares: autoavaliação, avaliação externa, Enade, avaliação dos cursos de graduação e instrumentos de informação (censo e cadastro). Os resultados das avaliações possibilitam traçar um panorama da qualidade dos cursos e instituições de educação superior no País. Os processos avaliativos são coordenados e supervisionados pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes). A operacionalização é de responsabilidade do Inep. UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS 134 As informações obtidas com o Sinaes são utilizadas pelas IES, para orientação da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social; pelos órgãos governamentais para orientar políticas públicas e pelos estudantes, pais de alunos, instituições acadêmicas e público em geral, para orientar suas decisões quanto à realidade dos cursos e das instituições (INEP, 2011, s.p.). Este instrumento está presente em nossa vida acadêmica, o tão famoso Enade – Exame Nacional de Desempenho de Estudantes. Você já deve ter ouvido falar sobre esse programa, ou ainda ouvirá falar, ele possui uma elevada importância para você, acadêmico, e para a universidade em que você estuda. Veja por que é importante participar desse programa. O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) avalia o rendimento dos alunos dos cursos de graduação, ingressantes e concluintes, em relação aos conteúdos programáticos dos cursos em que estão matriculados. O exame é obrigatório para os alunos selecionados e condição indispensável para a emissão do histórico escolar. A primeira aplicação ocorreu em 2004 e a periodicidade máxima da avaliação é trienal para cada área do conhecimento (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2016b, s.p.). Observe, acadêmico, que este exame é obrigatório para os alunos selecionados e condição indispensável para a emissão do histórico escolar. Por que colocamos o trecho em negrito? Porque quando você receber ligações, e-mails em seu ambiente virtual leve a sério. Busque informações com o seu tutor ou ligue para o 0800 6425000 e converse com os professores que estarão aguardando você para sanar qualquer dúvida. Não é invenção da instituição de ensino, é um programa federal, e possui embasamento legal para sua realização. Assim, participe das atividades que a instituição oferece a você para melhorar seu nível de conhecimento. Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente: este mecanismo foi criado através da Portaria Normativa nº 3, de 2 de março de 2011 com o objetivo de: Art. 1º Institui, no âmbito do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, a Prova Nacionalde Concurso para o Ingresso na Carreira Docente, a qual se constitui de uma avaliação para subsidiar a admissão de docentes para a educação básica no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 2011, s.p.). Cabe salientar que este instrumento poderá ser utilizado por todos os entes federados (estados, municípios) para a avaliação dos participantes no ingresso da carreira docente. Conforme Silva, Ferronato e Baruffi (2014, p. 170): Muitas são as informações, [...] mas cabe salientar que para que essa máquina chamada educação obtenha êxito, é preciso que todas as engrenagens estejam bem encaixadas em seus objetivos e ações, as quais buscam a qualidade da educação e qualificação do profissional da educação. TÓPICO 2 | AS INSTITUIÇÕES FORMADORAS DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 135 Temos que observar, também, que não é só responsabilidade do profissional da educação, mas também das esferas federal, estadual e municipal dar garantia de um padrão de qualidade. Assim, podemos determinar que todos são responsáveis pelo desenvolvimento de uma educação de qualidade. Cabe a cada um ter visão, competência e saber fazer coletivamente seu trabalho. Caro acadêmico, diante do que foi exposto e verificando seu conhecimento já adquirido, vamos partir para o Tópico 3, onde veremos como, o que e para que necessitamos de organização e gestão dentro da instituição escolar. E isso é de extrema importância para cada um de nós, professores ou futuros profissionais da educação, independentemente de nossa área de atuação. 136 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O FNDE é “um fundo que tem como principal objetivo fornecer as condições concretas para o desenvolvimento de ações, planos e programas destinados a subsidiar instituições e sistemas de ensino (especialmente em despesas, como as envolvidas em construção de escolas, fornecimento de merenda escolar, entre outras)” (SANTOS, 2012, p. 70). • Os programas desenvolvidos pelo FNDE são: Biblioteca na Escola (PNBE); Caminho na Escola; Livro Didático (PNLD); Programa Um Computador por Aluno (Prouca); Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); Programa Nacional de Formação Continuada a Distância nas Ações do FNDE (Formação pela Escola). • Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Sua criação ocorreu em 2011, “por meio da Lei 12.513/2011, com o objetivo de expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica no país. O Pronatec busca ampliar as oportunidades educacionais e de formação profissional qualificada aos jovens, trabalhadores e beneficiários de programas de transferência de renda” (Disponível em: <http://portal.mec. gov.br/pronatec/o-que-e>. Acesso em: 27 ago. 2016). • Enem – Exame Nacional do Ensino Médio. Este programa foi criado em 1998, tendo como objetivo avaliar o desempenho do estudante ao fim do ensino médio. • Prouni – Programa Universidade para Todos. Este programa foi criado através da Lei nº 11.096 de 13 de janeiro de 2005. Esta lei concede aos estudantes brasileiros que não possuem nível superior bolsas de estudo total ou parcial, de 50%, em instituições privadas de educação superior e de graduação. • Sinaes – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. “Este programa foi criado através da Lei nº 10.861, de abril de 2004, tendo como objetivo analisar as instituições de Educação Superior e seus estudantes” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 169). Este instrumento está presente em nossa vida acadêmica, o tão famoso Enade – Exame Nacional de Desempenho de estudantes. 137 AUTOATIVIDADE 1 (ENADE, 2011) Em 2007, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) criou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que busca reunir, em um só indicador, dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. O IDEB é calculado a partir de dois componentes: taxa de rendimento escolar (aprovação) e médias de desempenho nos exames padronizados aplicados pelo INEP. Os índices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado anualmente pelo INEP. As médias de desempenho utilizadas são as da Prova Brasil (para IDEBs de escolas e municípios) e do SAEB (no caso dos IDEBs dos estados e nacional). A fórmula geral do IDEB é dada por: IDEBji = Nji × Pji; em que i = ano do exame (SAEB e Prova Brasil) e do Censo Escolar; Nji = média da proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, padronizada para um indicador entre 0 e 10, dos alunos da unidade j, obtida em determinada edição do exame realizado ao final da etapa de ensino; Pji = indicador de rendimento baseado na taxa de aprovação da etapa de ensino dos alunos da unidade j. O IDEB é usado como ferramenta para acompanhamento das metas de qualidade do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) para a Educação Básica. O PDE estabelece como meta que, em 2022, o IDEB do Brasil seja 6,0 — média que corresponde a um sistema educacional de qualidade comparável a dos países desenvolvidos FONTE: Disponível em: <http:/portal.inep.gov.br/web/portal-ideb>. Acesso em: 30 set. 2011. A tabela a seguir apresenta dados hipotéticos das escolas X, Y e Z. Ano 2007 2008 2009 2007 2008 2009 Escola Nota Média Padronizada (N) Nota Média Padronizada (N) Nota Média Padronizada (N) Indicador de Rendimento (P) Indicador de Rendimento (P) Indicador de Rendimento (P) X 4,50 5,50 7,00 0,80 0,80 0,80 Y 3,20 4,00 4,80 0,70 0,75 0,80 Z 5,50 6,50 7,00 0,80 0,85 0,90 A partir das informações do texto e dos dados apresentados na tabela, avalie as informações que se seguem. I. Em 2009, as Escolas X e Z alcançaram IDEB acima da média estabelecida pelo PDE para o Brasil. II. No triênio 2007-2009, a Escola Y foi a que apresentou maior crescimento no valor do IDEB. 138 III. Se for mantida para os próximos anos a taxa de crescimento do IDEB apresentada no triênio 2007-2009, a Escola Y conseguirá atingir, em 2012, a meta estabelecida pelo PDE para o Brasil. É correto o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III. d) ( ) II e III. e) ( ) I, II e III. 2 Nos programas que o Ministério da Educação desenvolve com as suas políticas públicas encontramos o PROUNI – Programa Universidade para Todos. Este programa concede aos estudantes bolsas de estudo total ou parcial, de 50%, para frequentar o nível superior. Para que possa requisitar este programa o estudante precisa: I. Ter iniciado o ensino médio em escola pública. II. Ter cursado o ensino médio em escola pública. III. Ter cursado o ensino médio em escola privada como bolsista integral. IV. Ter iniciado o curso superior, estando no segundo semestre. É correto o que se afirma em: a) ( ) II, apenas. b) ( ) I e IV. c) ( ) II e III. d) ( ) I, II e III. e) ( ) III, apenas. 3 O Sinaes – Sistema de Avaliação de Educação Superior, foi criado através da Lei nº 10.861 de abril de 2004, e possui como objetivo analisar as instituições de Educação Superior e seus estudantes. Frente a isso, esse programa possui vários instrumentos que o complementam, como: I - Análise, reformulação, desenvolvimento de questões internas. II- Autoavaliação, avaliação externa, Enade. III - Avaliação externa, entrevistas, banco de questões. IV - Avaliação dos cursos de graduação e censo e cadastro. É correto o que se afirma em: a) ( ) IV, apenas. b) ( ) I e III. c) ( ) II e IV. d) ( ) III, apenas. e) ( ) I e II. Assista ao vídeo de resolução da questão 3 139 TÓPICO 3 A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR COLETIVA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃONeste tópico, trataremos de algo que nos é relativamente conhecido, mas que nos dá diversas possibilidades de respostas. Qual o conceito de organização e gestão? Elas cabem dentro do sistema educacional? Qual a função social da escola pública? Quais os objetivos da escola e as práticas de organização e gestão? Perguntas como essas são determinantes para que cada um de nós, professores e futuros professores, possamos nos identificar dentro da organização e gestão escolar, independentemente de nossa área de atuação. Não podemos acreditar que somente o diretor (gestor) é o que comanda a escola, mas sim, todos os atores que compõe a instituição são responsáveis por esse movimento. Com isso, acadêmico, aguçamos sua curiosidade em perceber-se como parte integrante desse processo institucional. Vamos ao estudo e a seu reconhecimento! 2 CONCEITUANDO ORGANIZAÇÃO E GESTÃO Quando falamos em educação nos deparamos com a instituição escola, a qual é determinante em qualquer sociedade que possui como objetivo o desenvolvimento de seu povo. Para tanto, a escola, como qualquer empresa, necessita de elementos formadores e de organização e gestão para assegurar seu bom funcionamento. A organização e gestão são termos que estão associados, em sua grande maioria, com a ideia de “administração, governo, provisão de condições de funcionamento de determinada instituição social” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 411). Estas instituições sociais podem ser família, empresa, escola, órgão público, entidades sindicais, culturais, científicas, dentre outras, para que possam chegar aos objetivos previstos. Em se falando de escola, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 411): 140 UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS A organização e a gestão referem-se ao conjunto de normas, diretrizes, estruturas organizacionais, ações e procedimentos que asseguram a racionalização do uso de recursos humanos, materiais financeiros e intelectuais, assim como a coordenação e o acompanhamento do trabalho das pessoas. Cabe salientar que para termos uma escola com organização e gestão democrática, é necessário compreendermos que são necessárias escolhas tanto nos meios, como recursos que assegurem a realização dos objetivos. Além disso, é necessário existir um acompanhamento e coordenação que determinem à articulação a integração de todas as atividades e das pessoas que atuam nas escolas, em prol do alcance de seus objetivos. Para que essas duas características mencionadas, a racionalização do uso de recursos e coordenação e acompanhamento se efetivem, “são postas em ação as funções específicas de planejar, organizar, dirigir e avaliar” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 412). Ao colocarmos em ação as funções específicas daremos a esta ação o nome de gestão, a qual é uma atividade que faz com que se coloque em ação um determinando sistema organizacional. Cabe salientar, ainda, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 412), que da definição de organização e gestão são retiradas duas implicações importantes. São elas: A primeira é que as formas de organização e gestão são sempre meios, nunca fins, embora muitas vezes, erradamente, meios sejam tratados como fins; os meios existem para alcançar determinados fins que lhes são subordinados. A segunda é que, conceitualmente, a gestão faz parte da organização, mas aparece junto com ela por duas razões: a) a escola é uma organização em que tanto seus objetivos e resultados quanto seus processos e meios são relacionados com a formação humana, ganhando relevância, portanto, o fortalecimento das relações sociais, culturais e afetivas que nela tem lugar; b) as instituições escolares, por prevalecer nelas o elemento humano, precisam ser democraticamente administradas, de modo que todos os seus integrantes canalizem esforços para a realização de objetivos educacionais, acentuando-se a necessidade da gestão participativa e da gestão da participação. Podemos determinar, dessa forma, que a escola, para que possa ser uma instituição com desenvolvimento de seus objetivos, necessita de organização e gestão democrática. É preciso que sejam observados seus pares, seu entorno, buscar a participação das pessoas do trabalho, como da comunidade, realizar avaliações e manter um acompanhamento dessa participação, além de garantir a todos os alunos uma aprendizagem de qualidade. Caro acadêmico, falamos até o momento muito sobre as leis que determinam o funcionamento do sistema de educação de nosso país. A escola é um destes TÓPICO 3 | A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR COLETIVA 141 componentes que tornam possível a realização e concretização das leis, juntamente com seus profissionais da educação. Muitos são os estudos que tratam do sistema escolar e de políticas educacionais que possam determinar as metas a serem alcançadas dentro do sistema escolar. Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 413): A ideia de ter as escolas como referência para a formulação e gestão das políticas educacionais não é nova, mas adquire importância crescente no planejamento de reformas educacionais exigidas pelas recentes transformações do mundo contemporâneo. Por essa razão, as propostas curriculares, as leis e as resoluções referem-se atualmente à prática organizacional como autonomia, descentralização, projeto pedagógico- curricular, gestão centrada na escola e avaliação institucional. Diante do apresentado por Libâneo, Oliveira e Toschi, podemos definir que a escola é um espaço organizacional de formação e aprendizagem, no qual os profissionais que ali trabalham podem dar suas opiniões, realizar atividades que auxiliem no seu desenvolvimento profissional e em seu trabalho com as crianças. O crescimento é mútuo. É interessante observar que os profissionais que trabalham na escola realizam ações educativas, mas nem todas com a mesma responsabilidade. Por quê? Vamos observar o que nos dizem Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 414) através de exemplos bem práticos: Por exemplo, o atendimento aos pais, efetuado pela secretaria escolar, pode ser respeitoso ou desrespeitoso, inclusivo ou excludente, grosseiro ou atencioso; a distribuição da merenda envolve atitudes e modos de agir das funcionárias da escola que influenciam a educação das crianças de maneira positiva ou negativa; as reuniões pedagógicas podem tornar-se espaço de participação das pessoas ou de manifestações do poder pessoal do diretor. Estes exemplos nos demonstram que a escola sendo um espaço de inúmeras diferenças busca o que há de melhor no ser humano, seus valores, os quais são determinantes para a realização de ações pedagógicas e significativas. Dessa forma, podemos dizer também que a escola é um espaço formativo, que pode fazer com que se modifique a maneira de pensar e agir das pessoas, dando a possibilidade de verificar que as práticas de gestão e organização são necessárias nesse contexto. 3 FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA PÚBLICA Em todos os momentos de nossa vida estamos diretamente ligados a diversas situações, sejam elas em nível político, social ou pessoal. Para tanto, a sociedade busca, diante dos mais diversos entraves, possibilidades de mobilização para organizar-se em muitas associações ou instituições. 142 UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS Com isso, a escola nos mais variados momentos históricos, passa por essas ações e busca formar pessoas críticas, que desenvolvam seu senso crítico e agucem sua curiosidade com o novo, com o diferente. Por isso, a escola possui papel essencial na organização da sociedade. Ela também é um elemento que representa a democracia, onde se desenvolvem temáticas que auxiliam no desenvolvimento da democracia participativa. Conforme o livro Conselhos Escolares, a escola “[...] tem como funçãosocial formar o cidadão, isto é, construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o estudante solidário, crítico, ético e participativo” (BRASIL, 2004, p. 17). Para que ocorra este movimento é necessário que se socialize o saber sistematizado, o qual está historicamente acumulado, e que possa ser incorporado ao conhecimento que o aluno já traz consigo. Assim, “a interligação e a apropriação desses saberes pelos estudantes e pela comunidade local, representam, certamente, um elemento decisivo para o processo de democratização da própria sociedade” (BRASIL, 2004, p. 18). Para Vieira e Almeida (s.d., p. 4), “a escola trabalha com o conhecimento e com o ser humano. Por isso, é permanente seu desafio de estar em constante processo de discussão e reelaboração de suas ações, buscando as transformações necessárias, por meio de um currículo construído a partir do contexto histórico e social”. Assim, podemos determinar que a escola possui espaço significativo no desenvolvimento das ações políticas e sociais para o exercício da democratização da sociedade. “A escola é, assim, o espaço de realização tanto dos objetivos do sistema de ensino quanto dos objetivos de aprendizagem” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 415). Ainda no que diz respeito à função da escola, não lhe é atribuída a ideia de empresa, pois conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 132), “a escola não é empresa. O aluno não é cliente da escola, mas parte dela. É sujeito que aprende, que constrói seu saber, que direciona seu projeto de vida”. Com isso, podemos observar que a função da escola é a formação humana. Sabemos que vivemos em uma sociedade repleta de incentivos ao sistema capitalista, mas a escola em detrimento desse sistema necessita, dentro de sua função, buscar incessantemente pela cidadania, pela inclusão social, pela busca dos valores morais atrelados a uma articulação de escola e mundo do trabalho. Esta função não é algo tão fácil de conquistar, mas é necessária a busca incessante e acreditar no “desenvolvimento de uma escola democrática com ações conjuntas e participativas norteadas pela responsabilidade, ética e compromisso para alcançar a escola de qualidade” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 148). TÓPICO 3 | A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR COLETIVA 143 Conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 133), a escola pública possui três pontos essenciais de sua responsabilidade. São eles: • ser agente de mudanças, capaz de gerar conhecimentos e desenvolver a ciência e a tecnologia; • trabalhar a tradição e os valores nacionais ante a pressão mundial de descaracterização da soberania das nações periféricas; • preparar cidadãos capazes de entender o mundo, seu país, sua realidade e de transformá-los positivamente. Frente ao exposto, podemos perceber que a escola é um dos meios de organização e formação do sistema educacional e que os membros formadores desse espaço são essenciais para a formação de cidadãos críticos “que participam ativamente das tomadas de decisão de sua vida e da sociedade, além de uma escola que busque a preparação dos indivíduos em sua formação tecnológica, cultural e geral, onde a ética e o desenvolvimento de suas habilidades sejam qualificadas” (SILVA; FERRONATO; BARUFFI, 2014, p. 148). 4 OBJETIVOS DA ESCOLA E AS PRÁTICAS DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO Dentro da Constituição Federal e da Lei de Diretrizes e Bases encontramos artigos determinantes que desenvolvem a organização e a gestão escolar além de seus objetivos, isso já vimos em tópicos anteriores. Com isso, podemos determinar pelo que vimos até o momento, que a escola é uma instituição social que possui objetivos. Alguns dos objetivos explícitos da escola são, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 419), “[...] o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes, valores), para se tornarem cidadãos participativos na sociedade em que vivem”. Assim, é função da escola o ensino e a aprendizagem de todos os alunos, tarefa que fica a cargo dos professores. Essa organização escolar é necessária para melhor desenvolvimento do trabalho dos professores. Observe, acadêmico, que existe aí, uma interdependência entre os objetivos e função da escola, além da organização e gestão dos trabalhos escolares. Cabe salientar que de nada adiantará grandes mudanças no que diz respeito à organização e gestão escolar se não forem observados elementos essenciais como a aprendizagem de qualidade, pois sem ela, continuaremos mantendo baixos rendimentos escolares. 144 UNIDADE 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO: INFLUÊNCIAS GLOBAIS AUTOATIVIDADE Como conquistar a melhor aprendizagem? O que as famílias, a comunidade e os próprios alunos esperam de uma escola? E você, acadêmico, o que espera da escola em que irá trabalhar ou está trabalhando? Deixe sua opinião. Podemos determinar que a escola que esperamos e que os pais e comunidade esperam seja uma que deixe seus alunos motivados para estarem nas aulas e que se envolvam nas atividades da classe e das que ocorrem com os demais alunos. Quanto aos professores, acreditamos que busquem um espaço em que possa ser empregada a autonomia e que possam ser desenvolvidos trabalhos que tragam respostas significativas tanto para alunos como para os profissionais. Um ambiente de total reciprocidade. Podemos concluir que a escola, para obter seus objetivos, necessita ser organizada e administrada para a obtenção da qualidade da aprendizagem dos alunos. Sabemos que as escolas não podem ser administradas e organizadas de maneira igualitária, pois vivemos em um país de grandes dimensões e características diversificadas, mas algumas características organizacionais podem ser determinantes em todas as instituições escolares, a saber: • professores preparados, que tenham clareza de seus objetivos e conteúdos, que façam planos de aula, que consigam cativar seus alunos, que utilizem metodologia e procedimentos adequados à matéria e às condições de aprendizagem dos alunos, que façam avaliação contínua, prestando muita atenção nas dificuldades dos alunos; • existência de projeto pedagógico-curricular com um plano de trabalho bem definido, que assegure consenso mínimo entre a direção da escola e o corpo docente acerca dos objetivos a alcançar, dos métodos de ensino, da sistemática de avaliação, das formas de agrupamento de alunos, das normas compartilhadas sobre faltas de professores, do cumprimento de horário, das atitudes com relação aos alunos e funcionários; • bom clima de trabalho, e que a direção contribua para conseguir o empenho de todos, em que os professores aceitem aprender com a experiência dos colegas, trocando as qualidades entre si, de modo que tenham uma opinião comum sobre critérios de ensino de qualidade na escola; TÓPICO 3 | A ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR COLETIVA 145 • estrutura organizacional e boa organização do processo de ensino- aprendizagem, que consigam motivar a maioria dos alunos a aprender; • papel significativo da direção e da coordenação pedagógica, que articule o trabalho conjunto de todos os professores e os ajudem a ter bom desempenho em suas aulas; • disponibilidade de condições físicas e materiais, de recursos didáticos, de biblioteca e outros, que propiciem aos alunos oportunidades concretas para aprender; • estrutura curricular e modalidades de organização do currículo com conteúdos bem selecionados, assim como critérios adequados de distribuição de alunos por sala; • disponibilidade da equipe para aceitar inovações observando o critério de mudar sem perder a identidade. Considerar, também, que elas não podem ser instauradas de modo abrupto, rígido, imposto, mas os professores devem captá-las de forma crítico-reflexiva.É preciso que eles discutam as inovações com base nos conhecimentos e experiências que já carregam consigo, para compreenderem os objetivos daquelas que possam afetar seu trabalho. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 421-422). Observe, acadêmico, que a organização escolar é necessária e que mudanças podem e devem ser realizadas para que esta instituição consiga manter uma educação de qualidade. Mudar determinadas ações é essencial quando elas já não são mais adequadas à realidade local. Cabe salientar que compete a todos, conforme Libâneo, Oliveira e Toschi (2012, p. 423), “responsabilizar-se pela aprendizagem dos alunos, sobretudo em face dos problemas sociais, culturais e econômicos que afetam os estabelecimentos de ensino”. Com isso, observa-se que para existir uma melhoria das práticas de gestão e de sua organização é necessário que se tenha como foco o processo de ensino, observando os meios utilizados pela escola em função dos seus objetivos. A participação coletiva também é determinante para o êxito desse processo. E isso será tratado com maior cuidado na próxima unidade. 146 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Organização e gestão são termos que estão associados, em sua grande maioria, com a ideia de “administração, governo, provisão de condições de funcionamento de determinada instituição social” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 411). Estas instituições sociais podem ser família, empresa, escola, órgão público, entidades sindicais, culturais, científicas, dentre outras, para que possam chegar aos objetivos previstos. • Para que a racionalização do uso de recursos, coordenação e acompanhamento se efetivem, “são postas em ação as funções específicas de planejar, organizar, dirigir e avaliar” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 412). • Ao colocarmos em ação as funções específicas daremos a esta ação o nome de gestão, a qual é uma atividade que faz com que se coloque em ação um determinando sistema organizacional. • A escola é um espaço organizacional de formação e aprendizagem, na qual os profissionais que ali trabalham podem dar suas opiniões, realizar atividades que auxiliem no seu desenvolvimento profissional e em seu trabalho com as crianças. O crescimento é mútuo. É interessante observar que os profissionais que trabalham na escola realizam ações educativas, mas nem todos com a mesma responsabilidade. • A escola pública possui três pontos essenciais de sua responsabilidade. São eles: ser agente de mudanças, capaz de gerar conhecimentos e desenvolver a ciência e a tecnologia; trabalhar a tradição e os valores nacionais ante a pressão mundial de descaracterização da soberania das nações periféricas; preparar cidadãos capazes de entender o mundo, seu país, sua realidade e de transformá- los positivamente (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 133). 147 1 (ENADE, 2011) Um dos objetivos da gestão democrática participativa é a articulação entre as políticas educacionais atuais e as demandas socioculturais. Considerando essa finalidade, avalie quais das ações educacionais abaixo se relacionam a essa concepção. I. Compartilhar valores em prol da própria escola, reconhecendo a impossibilidade de se incluir ideais de justiça, solidariedade e ética humana, que transcendem os limites do processo educativo. II. Utilizar os índices educacionais da escola como subsídios de gestão para aprimorar o processo ensino-aprendizagem. III. Elaborar coletivamente o projeto político-pedagógico que reflita a filosofia da escola e apresente as bases teórico-metodológicas da prática pedagógica. IV. Planejar ações descentralizando poderes para realizar uma gestão focada nos diferentes aspectos da aprendizagem e nas questões macroestruturais da sociedade. É correto apenas o que se afirma em: a) ( ) I e II. b) ( ) I e IV. c) ( ) III e IV. d) ( ) I, II e III. e) ( ) II, III e IV. 2 (ENADE, 2011) “[...] garimpar o que de bom já temos em nossas práticas anteriores, e que ainda são significativas para as necessidades de hoje. Valorizo esse método porque [...] fazer educação não é como fazer um prédio”. FONTE: PIMENTA, S. G. De professores, pesquisa e didática. Campinas: Papirus, 2002. p. 60. Que concepção corresponde ao que defende Pimenta nesse fragmento de texto? a) ( ) Na inovação da prática pedagógica, não há espaço para o tradicional. b) ( ) Em educação, a transformação tem efetivo resultado, quando se abandona o estabelecido no cotidiano escolar. c) ( ) Valorizar o cotidiano já vivido pelo aluno é repetir erros de práticas anteriores. d) ( ) A experiência anterior serve de contraexemplo para o estabelecimento da nova experiência. e) ( ) Inovar é avançar, considerando o que deve ser preservado no contexto do processo educativo. AUTOATIVIDADE 148 3 (ENADE, 2011) “Não há uma forma única, nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor. O ensino escolar não é sua única prática e o professor profissional não é seu único praticante”. FONTE: BRANDÃO, C. R. O que é educação. 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 9. A afirmativa de Brandão, reproduzida acima, propõe uma nova dimensão educativa, pois: a) ( ) articula, na figura do professor profissional, o centro de toda a ação pedagógica. b) ( ) tira da escola o peso da responsabilidade da educação, ao dividir esta com outros setores sociais. c) ( ) propõe uma educação aberta, diversificada, participativa e que acontece em múltiplos espaços, entre os quais se inclui a escola. d) ( ) busca uma educação escolar de excelência, preocupada em atender a um público-alvo específico. e) ( ) abre possibilidades para que a educação formal aconteça em ambientes não formais, aumentando o número de vagas disponíveis na escola. Assista ao vídeo de resolução da questão 1 149 UNIDADE 3 A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • reconhecer a identidade da escola; • identificar as competências do professor na escola e seu apoio na organização e gestão escolar; • reconhecer a estrutura organizacional da escola; • reconhecer as áreas de atuação dos membros formadores da escola; • conhecer os instrumentos da estruturação política educacional nas escolas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada tópico você en- contrará atividades que o ajudarão a refletir e fixar os conteúdos abordados. TÓPICO 1 – A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLI CAS TÓPICO 2 – A APRENDIZAGEM E AS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E DA GESTÃO ESCOLAR TÓPICO 3 – A GESTÃO PARTICIPATIVA CONTINUANDO A CONSTRUÇÃO E PLANEJAMENTO DE UMA ESCOLA DEMOCRÁTICA. Assista ao vídeo desta unidade. 150 151 TÓPICO 1 A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Nesta unidade, estaremos tratando de assuntos relativos ao nosso espaço de trabalho, a ESCOLA. Espaço este, que possui uma organização, possui seus meios e seus objetivos, os quais determinam a articulação dos envolvidos e dos mecanismos necessários para sua funcionalidade. Estaremos definindo a cultura organizacional, sua significação no sistema educacional, verificaremos que a escola é uma comunidade democrática de aprendizagem, que os profissionais da educação também são determinantes na organização e gestão da escola, além de suas competências. Então, vamos a mais uma etapa de construção destes conhecimentos! 2 A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR: LUGAR DE APRENDIZAGEM Como já falamos na Unidade 2 sobre os conceitos de gestão e organização,vamos buscá-los para que possamos dar continuidade ao tema abordado. Como já vimos, “organizar significa dispor de forma ordenada, dar estrutura, planejar uma ação e prover as condições necessárias para realizá-la” (LIBÂNEO, 2012, p. 436). Relativo à gestão, podemos determinar que “[...] é, pois, a atividade pela qual são mobilizados meios e procedimentos para atingir os objetivos da organização, envolvendo, basicamente, os aspectos gerenciais e técnico-administrativos” (LIBÂNEO, 2012, p. 438). Frente ao exposto, podemos perceber que a escola é um espaço organizacional, é uma organização que busca a influência mútua entre as pessoas, na busca da formação humana. Ainda conforme Libâneo (2012, p. 437): A instituição escolar caracteriza-se por ser um sistema de relações humanas e sociais com fortes características interativas, que a diferenciam das empresas convencionais. Assim, a organização escolar define-se como unidade social que reúne pessoas que interagem entre si, intencionalmente, operando por meio de estruturas e de processos organizativos próprios, a fim de alcançar objetivos educacionais. Frente a isso, podemos compreender que a escola é um espaço de aprendizagem e que necessita de organização e de gestão. Para isso, é preciso UNIDADE 3 | A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS 152 articulação entre a organização e a gestão e vamos buscar no pensamento de Libâneo (2012) o esquema que determina a articulação necessária entre a organização e gestão junto aos objetivos na escola. FIGURA 6 - ARTICULAÇÃO ENTRE MEIOS (ORGANIZAÇÃO E GESTÃO) E OBJETIVOS NA ESCOLA FONTE: Libâneo (2012, p. 425) O esquema apresentado determina os passos a serem seguidos para que os objetivos educacionais possam ser alcançados e observa-se que se faz necessário observar as exigências econômicas, políticas, sociais e culturais que são determinantes diante da sociedade em que a escola esteja inserida. Podemos determinar que os objetivos educacionais determinam, como afirma Libâneo (2012, p. 425), “o desenvolvimento da pesquisa científica em questões educacionais e do ensino, das necessidades sociais e pessoais dos alunos relativas a conhecimentos, práticas culturais, mercado de trabalho, exercício da cidadania etc.”. Cabe ressaltar que ao determinar os objetivos educacionais, eles precisam estar apresentando os interesses da comunidade, conforme suas necessidades, mas como podemos concretizar nossos objetivos educacionais? Podemos concretizá-los a partir da elaboração do currículo da escola, através dos conteúdos, das atividades de ensino, as quais auxiliam no desenvolvimento e na qualidade da aprendizagem. De acordo com Libâneo (2012, p. 426): O conjunto currículo-ensino constitui os meios mais diretos para atingir o que é nuclear na escola, a aprendizagem dos alunos, com base nos TÓPICO 1 | A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS 153 objetivos. Precisamente para tornar esse núcleo mais eficaz, existe outro conjunto de meios: as atividades de planejamento (incluindo o projeto político-pedagógico curricular e os planos de ensino), de organização e gestão e de avaliação. Com estas explicações, podemos perceber que o esquema apresentado por Libâneo nos remete à organização e gestão participativa, na qual os meios e os objetivos precisam estar bem articulados para que se alcance sua eficácia. Sabemos que cabe a todos a responsabilidade de realizar um trabalho eficaz na instituição escolar, mas é determinante também o papel do gestor, a direção da escola e a coordenação pedagógica nesta busca pela integração e articulação entre os objetivos. Com isso, podemos determinar que a escola também possui sua estrutura organizacional. Ela apresenta-se neste diagrama: FIGURA 7 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL NO ESPAÇO ESCOLAR FONTE: A autora Com a apresentação em círculo, e contidos na esfera maior, que é a escola, queremos que você, acadêmico, perceba que é necessário existir uma conexão entre todos os segmentos que constituem a instituição escolar, pois “não se tem uma escola somente com a direção, mas sim com todos os atores buscando seus objetivos e buscando a função da escola, que é a aprendizagem dos alunos” (LIBÂNEO, 2012, p. 423). Frente a este diagrama, determinamos que cada membro formador possui sua função, seu papel, o quais serão apresentados neste momento. 2.1 PAPEL DO GESTOR ESCOLAR Para que o profissional da educação chegue ao cargo de gestor, observa- se que é necessário, conforme Baruffi (2014, p. 153): “[...] que o profissional tenha UNIDADE 3 | A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS 154 competência e conhecimento de toda a organização do espaço escolar e de sua clientela, do corpo docente e das leis que amparam o sistema de ensino”. A partir disso, podemos entender como competência a incessante busca pela qualidade e melhoria da educação, pois conforme Lück (2009, p. 12): A busca permanente pela qualidade e melhoria contínua da educação passa, pois, pela definição de padrões de desempenho e competências de diretores escolares, dentre outros, de modo a nortear e orientar o seu desenvolvimento. Este é um desafio que os sistemas, redes de ensino, escolas e profissionais enfrentam. Com isso, podemos perceber que o gestor, ao buscar este cargo, necessita compreender que a estrutura administrativa de uma escola perpassa por diversos momentos e não se restringe ao administrativo. Observe o que nos relata Candido (1953 apud DIAS, 2004, p. 220) “A estrutura total de uma escola é, todavia, algo mais amplo, compreendendo não apenas as relações ordenadas conscientemente, mas ainda todas as que derivam da sua existência enquanto grupo social”. Assim, o gestor necessita inicialmente conhecimento e competência. Esta competência é assim delineada por Lück (2009, p. 18): “[...] promover na comunidade escolar o entendimento do papel de todos em relação à educação e a função social da escola, mediante a adoção de uma filosofia comum e clareza de uma política educacional, de modo a haver unidade e efetividade no trabalho de todos”. Compete ao gestor escolar dinamizar e executar a política educacional que leve ao alcance dos objetivos educacionais propostos. E como isso pode ocorrer? O gestor possui em suas mãos e pode construir e reconstruir o regimento interna da escola. Este regimento é construído com todos os membros da escola para que auxilie no bom andamento da instituição. Cabe ressaltar ainda, que no artigo 14 da LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, consta: “Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, [...]” (BRASIL, 1996, s.p.). Esta gestão democrática aqui apresentada nos abre uma grande margem de possibilidades, ela não se encontra somente numa questão organizacional, mas sim, busca romper com uma estrutura tradicional, em que somente um manda. Esta gestão democrática retrata a participação e o envolvimento da comunidade escolar e de uma visão de gestão voltada para o saber ouvir, observar, analisar, compreender, dialogar, reformular e possibilitar as mais diversas mudanças para a obtenção de resultados condizentes com as necessidades da escola. De acordo com Baruffi (2014, p. 153): Muitos são os desafios que permeiam o trabalho do gestor/administrador escolar, mas cabe ao mesmo demonstrar, através da liderança, da articulação, da razão e da emoção, construir uma administração voltada para uma escola onde se busca formar sujeitos historicamente críticos, que refletem e constroem seus conhecimentos. TÓPICO 1 | A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS 155 Com isso, acadêmico, todo profissional da educação deveria passar por este cargo, para verificar como é estafante e enriquecedor para sua vida profissionale pessoal. Para muitos colocar-se no lugar do outro se torna algo que faz pensar e verificar que não adianta mantermos uma postura de dono do poder, mas sim, aberto a novas possibilidades e enfrentamentos. 2.2 PAPEL DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Na LDB/96, no artigo 64, encontramos a seguinte apresentação: Art. 64: A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional, para a educação básica será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Este artigo nos apresenta a caminhada que você está realizando. Ao final de seu curso de Pedagogia terá o direito de trabalhar nas áreas citadas no artigo. Observe a importância de descobrimos e reconhecermos a função de cada membro formador da instituição escolar. Então, vejamos quais as funções de cada membro da coordenação pedagógica. A coordenação pedagógica apresenta-se com supervisor educacional, orientador educacional, além do gestor que já foi mencionado. O supervisor educacional possui a função de auxiliar os professores na organização do processo ensino e aprendizagem “dando condições de buscar soluções e novas ideias na dinâmica dos trabalhos pedagógicos” (BARUFFI, 2014, p. 158). De acordo com Gimenes e Martins (2010, p. 381): Supervisor Escolar ou Coordenador Pedagógico é o profissional da educação que atua no espaço escolar como um agente mediador e facilitador do processo ensino-aprendizagem. Está diretamente ligado aos professores subsidiando suas ações e contribuindo para a evolução de todo o processo que envolve a aprendizagem, devendo ser dinâmico e competente no exercício de suas funções. Podemos assim determinar, que o supervisor, ou coordenador pedagógico, busca levar os professores à reflexão no que diz respeito a suas práticas pedagógicas. Outro elemento formador da coordenação pedagógica é o orientador educacional, que conforme Pascoal (2013, p. 1): Ele é o principal responsável pelo desenvolvimento pessoal de cada aluno, dando suporte a sua formação como cidadão, à reflexão sobre valores morais e éticos e à resolução de conflitos. Ao lado do professor, esse profissional zela pelo processo de aprendizagem e formação dos estudantes por meio do auxílio ao docente na compreensão dos comportamentos das crianças, ou seja: enquanto o professor se ocupa em UNIDADE 3 | A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS 156 cumprir o currículo disciplinar, o orientador educacional se preocupa com os conteúdos atitudinais, o chamado currículo oculto. Nele, entram aspectos que as crianças aprendem na escola de forma não explícita: valores e a construção de relações interpessoais. Com isso, observamos que o orientador educacional também transita por todos os campos da gestão escolar e fora dela. A função do orientador educacional é, conforme Pascoal (2013, p. 1): • Orienta os alunos em seu desenvolvimento pessoal, preocupando-se com a formação de seus valores, atitudes, emoções e sentimentos. • Orienta, ouve e dialoga com alunos, professores, gestores e responsáveis e com a comunidade. • Participa da organização e da realização do projeto político-pedagógico e da proposta pedagógica da escola. • Ajuda o professor a compreender o comportamento dos alunos e a agir de maneira adequada em relação a eles. • Ajuda o professor a lidar com as dificuldades de aprendizagem dos alunos. • Media conflitos entre alunos, professores e outros membros da comunidade. • Conhece a legislação educacional do país. • Circula pela escola e convive com os estudantes. 2.3 PAPEL DO PEDAGOGO Conforme a LDB/96, encontramos no artigo 13, Título VI, da Organização da Educação Nacional, as competências do professor. Assim apresenta-se: I. Participar efetivamente da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. II. Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica elaborada. III. Zelar pela aprendizagem dos alunos. IV. Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento. V. Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento nacional. VI. Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade (BRASIL, 1996, s.p.). Ao ler este artigo estamos tratando sobre você, acadêmico, enquanto profissional da educação. Neste momento, perceba que a sua função, no momento de realização de seus estágios, na regência de classe, na participação das atividades escolares, estão presentes aqui. Observe que a função do pedagogo é o de ser um articulador no processo de ensino aprendizagem. Cabendo a cada um sentir-se professor e desenvolver trabalhos que levem o aluno a construir o seu conhecimento. TÓPICO 1 | A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS 157 Assim sendo, ao pedagogo é imprescindível que se mantenha bem informado sobre o que acontece na sociedade e no mundo, dando prioridade ao que venha auxiliar o aluno em seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional (BARUFFI, 2014, p. 154). Assim, ao professor cabe também estar aberto às novas informações tecnológicas, às mudanças existentes no mundo e em seu entorno. A escola, para tanto, se percebe como: [...] um local do trabalho docente, e a organização escolar é espaço de aprendizagem da profissão, no qual o professor põe em prática suas convicções, seu conhecimento da realidade, suas competências pessoais e profissionais, trocando experiências com os colegas e aprendendo mais sobre seu trabalho (LIBÂNEO, 2012, p. 427). Frente a isso, observe que ser professor necessita de muito empenho e busca incessante do conhecimento. 2.4 PAPEL DO ALUNO O aluno não deixa de ser tão importante quanto os demais membros da escola aqui mencionados. Nesta estrutura não há melhores ou piores, há sim, pessoas na busca incessante de modificar a maneira de viver e qualificar estas crianças e jovens para a vida. Os alunos devem ser vistos como “a menina dos olhos” da escola (BARUFFI, 2014, p. 157). São eles que determinam a existência da instituição educacional. A escola é o espaço, no qual, este aluno vai, em sua grande maioria, na busca de novos conhecimentos e aprimoramento. Diante do que foi afirmado, buscamos em Lück (2009, p. 21) a seguinte afirmação: “os alunos são as pessoas para quem a escola existe e para quem deve voltar as suas ações, de modo que todos tenham o máximo sucesso nos estudos que realizam para sua formação pessoal e social”. Frente a essa afirmação, podemos determinar que aos profissionais da educação precisam desenvolver um ambiente rico em harmonia, onde a criança tenha desejo de permanecer, que o professor instigue o aluno, dando-lhe a possibilidade de criar novas formas de ordenar as informações e transformá- las em conhecimento. Para que isso ocorra, faz-se necessário uma postura de competência e de conhecimentos, conseguindo, dos alunos, respostas de todo o trabalho desenvolvido na escola e que venha a refletir na sua comunidade familiar. 2.5 COLABORADORES Estes também fazem parte da estrutura escola, pois sem eles não estaria preparada para receber ninguém. São os agentes de serviços gerais também chamados, em muitas regiões do Brasil, como serventes. UNIDADE 3 | A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS 158 Os colaboradores e as merendeiras das escolas são imprescindíveis, pois deixam o espaço sempre organizado, mantendo a estrutura física da escola. Eles também são vistos, pelas crianças e pelos demais profissionais, como pessoas que deixam sua marca, dialogam muito com os alunos, dão conselhos, buscam ajudar a todos, indistintamente. Os colaboradores estão