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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária Luana Antoniuk TIMPANISMO CECAL EM EQUINO – RELATO DE CASO CURITIBA 2016 Luana Antoniuk TIMPANISMO CECAL EM EQUINO – RELATO DE CASO Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médica Veterinária. Professor Orientador: Prof. M.-Sc. Carlos Henrique do Amaral. Orientador Profissional: Dr. Enio Granatto. CURITIBA 2016 Reitor Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitora Promoção Humana Prof. Ana Margarida de Leão Taborda Pró-Reitor Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitora Acadêmica Prof. Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor de Planejamento Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos Diretor de Graduação Prof. João Henrique Faryniuk Secretário Geral Sr. Bruno Carneiro da Cunha Diniz Coordenador do Curso de Medicina Veterinária Prof. Welington Hartmann Supervisora de Estágio Curricular Prof. Elza Maria Galvão Ciffoni Arns Campus Barigui Rua Sydnei A Rangel Santos, 238 CEP: 82010-330 – Curitiba – PR Fone: (41) 3331-7958 TERMO DE APROVAÇÃO Luana Antoniuk TIMPANISMO CECAL EM EQUINO – RELATO DE CASO Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médico Veterinário no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, ____ de _______ de 2016. BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Prof. M. Sc. Carlos Henrique do Amaral (Presidente) __________________________________________ Prof. Esp. Liédge Camila Simioni __________________________________________ Prof. Esp. Diogo da Motta Ferreira APRESENTAÇÃO Este trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário, é composto pelo Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas durante o período de 01 de agosto a 10 de outubro de 2016, no Regimento da Polícia Montada Coronel Dulcídio, localizada na cidade de Curitiba-PR, local de cumprimento do Estágio Curricular, e relato de um caso de timpanismo cecal em equino na região de Curitiba-PR. RESUMO O presente trabalho foi desenvolvido com a finalidade de relatar o Estágio Curricular realizado de 01 de agosto a 10 de outubro de 2016, no Regimento da Polícia Montada Coronel Dulcídio, localizada na cidade de Curitiba-PR. Foram atendidos 44 casos no período, sendo que na área de clínica de equinos os principais atendimentos foram relacionados a manejo de feridas e exames de claudicação, e o atendimento cirúrgico, realizado no período, foi uma orquiectomia. Dentre os casos clínicos, foi relatado um caso de timpanismo cecal, o qual o atendimento foi clínico, e ao final, o animal recuperou-se. Observou-se que é de extrema importância as práticas de manejo e prevenção recomendadas pelo médico veterinário responsável, pois, contribuem significativamente no desempenho dos animais que são usados diariamente para atividades como patrulha e equoterapia. Palavras-chave: Cólica, Equinos, Manejo, Timpanismo. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - FACHADA DO REGIMENTO.............................................................. 13 FIGURA 2 - CENTRO VETERINÁRIO DO REGIMENTO........................................ 14 FIGURA 3 - AMBULATÓRIO DO REGIMENTO...................................................... 14 FIGURA 4 - CENTRO CIRÚRGICO DO REGIMENTO............................................ 15 FIGURA 5 - LABORATÓRIO CLÍNICO DO REGIMENTO....................................... 16 FIGURA 6 - SALA DE PARAMENTAÇÃO DO REGIMENTO................................... 16 FIGURA 7 - PAVILHÃO “PINGA-FOGO” DO REGIMENTO..................................... 17 FIGURA 8 - BAIAS DE INTERNAMENTO DO REGIMENTO.................................... 17 FIGURA 9 - HARAS DO REGIMENTO, LOCALIZADO EM ALMIRANTE TAMANDARÉ....................................................................................... 18 FIGURA 10 - REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO TRATO INTESTINAL DO EQUINO............................................................................................... 24 LISTA DE TABELAS TABELA 1 ATENDIMENTOS CLASSIFICADOS POR SISTEMAS ORGÂNICOS/ CURITIBA, 2016 21 TABELA 2 SERVIÇOS DE MANEJO REALIZADOS NO PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR (01/08/2016 – 10/10/2016) NO REGIMENTO DA POLÍCIA MONTADA / CURITIBA, 2016 22 TABELA 3 TABELA AUXILIAR, PARA CONSTITUIR AOS DIVERSOS PARÂMETROS CLÍNICOS UMA DEFINIÇÃO SOBRE A NATUREZA DO TRATAMENTO DO PACIENTE EQUINO PORTADOR DE CÓLICA 40 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 PREVALÊNCIA DAS RAÇAS EQUINAS ATENDIDAS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO (01/08/2016 – 10/10/2016) NO REGIMENTO DA POLÍCIA MONTADA/ CURITIBA, 2016.................................................................................... 20 GRÁFICO 2 EXAMES COMPLEMENTARES ACOMPANHADOS NO PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR (01/08/2016 – 10/10/2016) NO REGIMENTO DA POLÍCIA MONTADA/ CURITIBA, 2016................................................................. 22 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 NÚMERO DE ANIMAIS ACOMPANHADOS, DIVIDIDO POR SEXO/ CURITIBA, 2016........................................19 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIE Anemia infecciosa equina AGV Ácidos graxos voláteis AINEs Anti-inflamatórios não estereoidais bpm Batimentos por minuto IV Intravenoso FR Frequência respiratória FC L Frequência cardíaca Litros mpm Movimentos por minuto mL Mililitro QM Quarto de milha TPC Tempo de preenchimento capilar PSI SNC Puro sangue inglês Sistema nervoso central SRD Sem raça definida SUMÁRIO RESUMO..................................................................................................................... 6 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12 2. LOCAL DE ESTÁGIO ........................................................................................ 13 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ...................................................................... 19 4. SÍNDROME CÓLICA EM EQUINOS.................................................................. 23 4.1 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... 23 4.1.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 23 4.1.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO APARELHO DISGESTIVO DOS EQUINOS ........................................................................................................... 24 4.1.3 ETIOLOGIA ........................................................................................... 27 4.1.4 FATORES PREDISPONENTES PARA A CÓLICA EM EQUINOS ........ 27 4.1.4.1 ANATÔMICO ESPECÍFICOS ................................................................ 27 4.1.4.2 RAÇA ..................................................................................................... 28 4.1.4.3 IDADE .................................................................................................... 28 4.1.4.4 SEXO ..................................................................................................... 28 4.1.4.5 COMPORTAMENTAL E MANEJO ........................................................ 29 4.1.4.6 ALIMENTAÇÃO ..................................................................................... 29 4.1.4.7 AMBIENTE ............................................................................................ 29 4.1.4.8 PARASITISMO ...................................................................................... 30 4.1.4.9 CONDIÇÕES CLIMÁTICAS................................................................... 30 4.1.5 DIAGNÓSTICO ...................................................................................... 30 4.1.5.1 SINAIS ................................................................................................... 31 4.1.5.2 ANAMNESE........................................................................................... 31 4.1.5.3 EXAME FÍSICO ..................................................................................... 31 4.1.5.3.1 LÍQUIDO PERITONEAL ..................................................................... 33 4.1.6 TIPOS DE CÓLICA ................................................................................ 33 4.1.6.1 OBSTRUÇÃO INTRALUMINAL SEM ESTRAGULAMENTO VASCULAR 33 4.1.6.2 OBSTRUÇÃO INTRALUMINAL COM ESTRAGULAMENTO VASCULAR 34 4.1.6.3 OBSTRUÇÕES VASCULARES SEM ESTRANGULAMENTO .............. 34 4.1.6.4 ENTERITE, COLITE E ULCERAÇÃO ................................................... 34 4.1.6.5 PERITONITE ......................................................................................... 35 4.1.6.6 CÓLICA ESPASMÓDICA ...................................................................... 35 4.1.6.7 TIMPANISMO CECAL .......................................................................... 36 4.1.7 TRATAMENTO CLÍNICO ...................................................................... 37 4.1.7.1 ANALGESIA E SEDAÇÃO .................................................................... 37 4.1.7.2 OPIÓIDES ............................................................................................. 38 4.1.7.3 PRÓ CINÉTICOS E LAXANTES .......................................................... 38 4.1.7.4 FLUIDOTERAPIA .................................................................................. 39 4.1.8 TRATAMENTO CÍRURGICO................................................................. 40 4.2 RELATO DE CASO CLÍNICO .................................................................. 42 4.3 DISCUSSÃO ............................................................................................. 43 5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 47 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 48 12 1. INTRODUÇÃO O estágio curricular obrigatório foi realizado no Regimento da Polícia Montada Coronel Dulcídio de Curitiba. As atividades realizadas foram desenvolvidas na área de clínica médica e cirúrgica de equinos. O período do estágio curricular foi de 01 de agosto a 10 de outubro de 2016, com carga horária diária de 8 horas, totalizando 420 horas, sob supervisão do médico veterinário Dr. Enio Granatto responsável pela área de clínica e cirurgia de equinos e orientado pelo prof. MSc Carlos Henrique do Amaral encarregado pela disciplina de Diagnóstico por Imagem na Universidade Tuiuti do Paraná. Este trabalho tem por finalidade descrever a unidade concedente de estágio, as atividades desenvolvidas e a casuística acompanhada, assim como o desenvolvimento de uma revisão de literatura baseada em um relato de caso de timpanismo cecal em equino na região de Curitiba-PR, presenciado durante o período de estágio para discussão. Por fim, a realização do estágio teve como objetivo a aplicação dos conhecimentos teóricos e práticos obtidos durante a graduação de medicina veterinária, bem como adquirir novos conhecimentos através do convívio com profissionais da área, além do contato direto com pacientes e proprietários, com isso a oportunidade de adquirir novas experiências além de maior aptidão acadêmica. 13 2. LOCAL DE ESTÁGIO O Regimento da Polícia Montada Coronel Dulcídio está localizado na Rua Konrad Adenauer, 1166, no bairro Tarumã, na cidade de Curitiba, estado do Paraná (Figura 1). No Regimento, há um total de 78 animais, 20 fêmeas e 58 machos, sendo 15 da raça brasileiro de hipismo, 9 lusitanos e 1 puro sangue inglês e 53 animais sem raça definida. A equipe de veterinários é composta por dois veterinários e dois residentes. O centro veterinário atende somente os cavalos do local (Figura 2), que são usados para patrulha na cidade, provas de enduro, salto e para equoterapia. Os serviços prestados aos cavalos do Regimento são: atendimentos ambulatóriais, exames de diagnóstico por imagem, procedimentos cirúrgicos e ferrageamento. FIGURA 1 - FACHADA DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 14 A estrutura do Centro Veterinário do Regimento é composta por um ambulatório, onde é realizada o manuseio dos medicamentos veterinários. Tem armários para armazenar seringas, agulhas, cateteres, equipo, soluções de fluidoterapia, dentre outros aparatos utilizados na rotina (Figura 3). Há um quadro branco onde constam os nomes dos animais que necessitam algum tratamento especial. Os atendimentos de rotina são realizados de segunda à sexta-feira das 8:00 às 12:00 e das 13:00 às 17:00 horas, e atendimentos emergenciais realizados pelas residentes plantonistas. FIGURA 2 – CENTRO VETERINÁRIO DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 FIGURA 3 - AMBULATÓRIO DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 15 O centro cirúrgico (Figura 4) disponibiliza de: mesa cirúrgica, monitor multiparamétrico, concentradores de oxigênio, lactímetro, glicosímetro, bomba de infusão, refrigerador para armazenamento de medicações perecíveis, medicações emergenciais, traqueotubos, laringoscópio, soluções de fluidoterapia, cateteres, seringas, agulhas, sondas e demais materiais utilizados em casos de cirurgias. FIGURA 4– CENTRO CIRÚRGICO DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 16 O centro veterinário também apresenta um laboratório clínico (Figura 5) onde é realizado análises laboratoriaiscomo hemogramas, leucogramas e bioquímicos. Há um almoxarifado (Figura 6) para armazenamento de produtos e medicamentos de uso veterinário, uma sala de esterilização e vestuário para a paramentação do pessoal para a realização de cirurgias. FIGURA 6 – SALA DE PARAMENTAÇÃO DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 FIGURA 5 – LABORATÓRIO CLÍNICO DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 17 Há 3 pavilhões, com um total de 86 baias, sendo duas baias de internamento (Figura 7) e duas de isolamento e as demais para animais sem ou com procedimentos simples (Figura 8). Elas são feitas de concreto e forradas com farelo de cepilho. Há 3 pistas de areia para treinamento dos cavalos e 3 piquetes. FIGURA 7 – PAVILHÃO “PINGA-FOGO” DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 FIGURA 8 – BAIAS DE INTERNAMENTO DO REGIMENTO/ CURITIBA, 2016 18 O Regimento ainda dispõe de três salas equipadas com computador, mesa, espaço reservado para livros de consulta e armários, onde são armazenadas as fichas clínicas dos animais, resultados de exames e demais documentos. Apresenta uma cozinha completa para uso do pessoal. O Regimento possui um haras (Figura 9) em Almirante Tamandaré, na Rua Domingos Scucato, 1350, onde animais são levados para repouso e não são usados para patrulha por um período. FIGURA 9 – HARAS DO REGIMENTO, LOCALIZADO EM ALMIRANTE TAMANDARÉ/ CURITIBA, 2016 19 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Durante o período de estágio curricular no centro veterinário do Regimento da Polícia Montada Coronel Dulcídio de Curitiba, pôde-se desenvolver atividades que melhoraram a capacidade de avaliação, resolução de casos clínicos e indicação de protocolos terapêuticos para os animais do Regimento. As atividades realizadas no centro veterinário incluíram o acompanhamento de exames de claudicação, contenção dos animais, realização de anamnese e exame físico, administração de medicações, realização de acessos venosos, manejo de curativos, sondagens, remoção de pontos, coleta de material biológico para exames laboratoriais (anemia infecciosa equina e mormo), preenchimento de fichas e resenhas dos equinos, monitoração de pacientes em estado crítico, reposição de materiais de insumo. Todos os casos eram discutidos durante o dia e as atividades relatadas foram realizadas com supervisão e consentimento dos médicos veterinários responsáveis. Além da rotina clínica, também foi possível acompanhar outras áreas, como o diagnóstico por imagem, através da contenção de animais para execução de exames radiográficos e ultrassonográficos, interpretação de laudos e revisão das estruturas anatômicas juntamente com as particularidades de cada enfermidade. Acompanhou-se a residente ao haras do regimento para administrar vermífugo e coleta de sangue dos animais presentes. No período de 01 de agosto a 10 de outubro de 2016, foram acompanhados 44 casos, destes 34% dos animais eram fêmeas e 66% machos (Quadro 1). QUADRO 1 - NÚMERO DE ANIMAIS ACOMPANHADOS, DIVIDIDO POR SEXO/ CURITIBA, 2016 N. de animais % FÊMEAS 15 34% MACHOS 29 66% TOTAL 44 100% 20 Notou-se que a maior parte dos animais acompanhados durante o estágio curricular supervisionado eram adultos. Com relação às raças dos cavalos, foram atendidos 11 brasileiros de hipismo (BH), 28 sem raça definida (SRD), 4 lusitanos e 1 puro sangue inglês (PSI) (Gráfico 1). GRÁFICO 1 - PREVALÊNCIA DAS RAÇAS EQUINAS ATENDIDAS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO (01/08/2016 – 10/10/2016) NO REGIMENTO DA POLÍCIA MONTADA/ CURITIBA, 2016 0 5 10 15 20 25 30 BH SRD Lusitano PSI N º d e a n im a is Raças 21 A casuística acompanhada foi diversificada, as doenças dermatológicas foram as mais frequentes, correspondendo a 65% dos casos. Seguido por animais atendidos com afecções em sistema músculo-esquelético, com 24%. O sistema com menor número de afecções foi o sistema digestório, com 7%, seguido por uma afecção do sistema respiratório, a qual foi a menos observada, com apenas 2% dos casos (Tabela 1). TABELA 1 - ATENDIMENTOS CLASSIFICADOS POR SISTEMAS ORGÂNICOS / CURITIBA, 2016 SISTEMAS AFECÇÃO n % SISTEMA TEGUMENTAR Alopecia 4 9% Dermatite 2 5% Escoriações 10 23% Edema 3 7% Feridas 9 21% SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO Tendinite 2 4% Claudicação 7 16% Luxação 1 2% Lombalgia 1 2% SISTEMA DIGESTÓRIO Cólica 3 7% SISTEMA RESPIRATÓRIO ORVA 1 2% 22 Exames Radiográficos Exames Ultrassonográficos Endoscopia Em relação ao manejo dos animais (Tabela 2), foram realizadas administração de vermífugos em todos os 78 cavalos do Regimento e 38 do haras. No mesmo número de equinos foram realizados vacinas anuais anti-rábicas e coleta de sangue para exames de mormo e anemia infecciosa equina (AIE). Foi realizada uma castração em um animal. TABELA 2 – SERVIÇOS DE MANEJO REALIZADOS NO PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR (01/08/2016 – 10/10/2016) NO REGIMENTO DA POLÍCIA MONTADA / CURITIBA, 2016 Neste período, foram acompanhados 6 exames complementares. Parte dos exames de imagem, ultrassonografia e radiografia, foram realizados em animais para o diagnóstico de claudicação, e os exames endoscópicos para um caso de suspeita de doença respiratória, como mostra o gráfico a seguir. GRÁFICO 2 - EXAMES COMPLEMENTARES ACOMPANHADOS NO PERÍODO DE ESTÁGIO CURRICULAR (01/08/2016 – 10/10/2016) NO REGIMENTO DA POLÍCIA MONTADA/ CURITIBA, 2016 SERVIÇOS DE MANEJO VETERINÁRIO Nº Castração 1 Coleta de sangue para exames de mormo e AIE 116 Vermífugos 116 Vacinas anti-rábicas 116 Total 349 n=6 2 3 1 23 4. SÍNDROME CÓLICA EM EQUINOS 4.1 REVISÃO DE LITERATURA 4.1.1 INTRODUÇÃO A cólica nos equinos é caracterizada por alterações no aparelho digestório, e pode estar correlacionada com vários fatores, que vão desde uma produção excessiva de gases no estômago, fermentação de alimentos até obstruções e torções intestinais (FRANCELLINO et al., 2015). Estas afecções podem levar a distúrbios neurocirculatórios graves e ao óbito. Não é uma enfermidade específica e sim um conjunto de múltiplas condições consequentes a determinadas disfunções de vísceras intra-abdominais, sendo responsável por grandes perdas econômicas. Determinar a origem da dore os fatores que levam ao quadro clínico torna-se difícil, pois os fatores desencadeantes são muitos e variam de caso a caso (LARANJEIRA, 2008). A síndrome cólica deve ser tratada como emergência, requerendo um atendimento imediato visando o alívio dos sinais, enquanto pesquisa-se a causa primaria para instituir-se um tratamento específico. Mesmo com inúmeros avanços no manejo destes animais, a cólica equina é considerada a afecção mais comum na clínica médica e a principal causa de estresse e gastos financeiros entre os criadores (FRANCELLINO et al., 2015). De modo a facilitar a implementação da terapêutica inicial, o método de diagnóstico mais eficiente consiste na diferenciação dos casos que necessitam de intervenção cirúrgica, e dos que são tratáveis apenas medicamente. A decisão cirúrgica deve ser baseada em critérios como: o tempo decorrido desde o início da cólica (mais de seis horas), dor intensa e contínua (incontrolável com analgésicos), distensão abdominal, atonia intestinal (ausência de peristaltismo), ausência de defecação e achados de exame transretal (intestino delgado distendido). Os esforços na tentativa de melhorar os métodos de diagnóstico devem ser mantidos, pois a identificação segura e correta da afecção causal da cólica permite estabelecer uma terapêutica mais rápida e adequada ao animal (LEHUBY, 2011). 24 4.1.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO APARELHO DISGESTIVO DOS EQUINOS Os cavalos são herbívoros monogástricos com grande capacidade seletiva e quando em pastagens, permanecem cerca de 10 a 16 horas em pastejo, com refeições de duas a três horas de duração e intervalos curtos, para interação social e descanso (HILLEBRANT, 2015). A seleção da dieta não é só pela visão, olfato e gustação, mas também por meio da sensibilidade e mobilidade labial, que permite ao cavalo grande capacidade de selecionar os alimentos no momento da apreensão e corte, pelos dentes incisivos, principalmente quando composta por vegetais. A deglutição tem uma fase voluntária no qual o bolo alimentar é colocado no dorso da língua e movido para a base da língua contra o palato duro realizando movimento antero-posterior, a base da língua se projeta então fortemente para trás e para cima empurrando-o para a faringe (CUNNINGHAM, 2009). O alimento percorre o esôfago por movimentos peristálticos formando anéis de constrição que se movem ao longo da parede reduzindo o lúmen e empurra o bolo alimentar por ação dos músculos circulares, adiante pode haver o relaxamento dos músculos longitudinais aumentando o tamanho do lúmen para que o bolo alimentar possa avançar. O esôfago entra no estômago de maneira oblíqua pelo esfíncter cárdia, e se liga ao duodeno pelo piloro. O tamanho do estômago é relativamente pequeno, com capacidade de 15 a 20 litros (HILLEBRANT, 2015). O estômago apresenta uma porção aglandular de epitélio escamoso estratificado que não possui mecanismos protetores contra o suco gástrico com pouca motilidade. Nessa região há predomínio de processos digestivos baseados em alto teor de matéria orgânica e pH assim como atividades microbianas realizando degradação de carboidratos simples em açúcares e amido e até mesmo lise de proteínas através de proteinases vegetais (Figura 10) (KÖNIG, 2011). 25 FIGURA 10 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO TRATO INTESTINAL DO EQUINO Fonte: Anatomia dos Animais Doméstcos. König, 2011. Além de ácido lático, são produzidos ácidos graxos de cadeia curta, pequenas quantidades de gases como dióxido de carbono, metano e gás hidrogênio assim como produtos da degradação proteica como amoníaco e fenol. A região glandular é recoberta por criptas que possuem em sua base um estreitamento chamado istmo que continua para abertura das glândulas gástricas. A maior parte da superfície é recoberta por células mucosas de superfície que produzem um muco espesso responsável pela proteção do epitélio. Cada região possui tipos celulares característicos, na mucosa parietal há células parietais que secretam ácido clorídrico, células mucosas do colo que secretam muco e células principais que secretam pepsinogênio que é produzido, estocado e após sua secreção é exposto ao conteúdo ácido do estômago com clivagem de uma pequena porção da proteína, resultando na enzima ativa, pepsina a qual realizará o primeiro desdobramento das proteínas para absorção no intestino delgado. As glândulas da região do cárdia secretam apenas muco e as células da mucosa pilórica são chamadas de células G que produzem gastrina (CUNNINGHAM, 2009) 26 O comprimento do intestino delgado é de cerca de 20 metros sendo este dividido em duodeno, jejuno e íleo. O cavalo não possui vesícula biliar sendo assim a liberação de bile constante, característica evolutiva relacionada ao hábito desse animal em se alimentar constantemente (KÖNIG, 2011). A bile emulsiona a gordura presente na dieta para ação digestiva da lipase. A digestão química no intestino delgado ocorre através da ação de enzimas que quebram o alimento em partículas menores por hidrólise. Algumas enzimas produzidas pelo pâncreas como tripsina e a quimiotripsina, quebram proteínas, a lipase quebra a gordura já emulsificada pela bile em ácidos graxos e a amilase faz a quebra do amido. Os minerais e vitaminas absorvidos são aqueles que estão livres ou serão liberados das macromoléculas pela digestão enzimática (CUNNINGHAM, 2009). O intestino grosso do cavalo é uma das estruturas mais importantes do trato digestivo, nele há presença de microrganismos que realizam a fermentação das fibras e dos nutrientes não absorvidos no intestino delgado. Mede em torno de 7 metros de comprimento, dividido em ceco, cólon (que se subdivide em cólon dorsal direito e esquerdo, cólon ventral direito e esquerdo e cólon menor) e reto. O amido que não foi digerido anteriormente no trato digestivo pode ser quebrado pela amilase dos microrganismos em glicose e também ser utilizada por eles para produção de ácido propiônico que servirá como substrato para a produção de glicose após absorção pelo animal e também lactato (CUNNINGHAM, 2009). Assim como o amido, a proteína não utilizada anteriormente é quebrada pela protease em peptídeos e aminoácidos que serão utilizados na produção de proteína microbiana ou quebrados em amônia e esqueleto de carbono, o qual pode ser usado na formação dos mesmos ácidos citados anteriormente. A absorção destes ácidos graxos voláteis (AGVs) ocorre na forma livre por gradiente de concentração e sua absorção libera bicarbonato no intestino que auxilia na manutenção do pH. Entre o ceco e o cólon existe uma estrutura chamada válvula cecocólica, a utilização de fibras de baixa qualidade, muito lignificada faz com que essa fibra fique no ceco por mais tempo e pela motilidade forma-se um emaranhado que pode obstruir a válvula e desencadear processos patológicos no aparelho digestório. A absorção dos nutrientes ao longo do intestino se dá por co-transporte principalmente de sódio (CUNNINGHAM, 2009). O cólon menor possui segmentação que dá a forma as fezes além de recobri- la com muco, nele há reabsorção de água, ácidos graxos voláteis e eletrólitos. A 27 defecação é um ato reflexo pela entrada das fezes no reto com relaxamento do esfíncter anal interno e abertura do esfíncter anal externo. As fezes têm cor, forma e odor característicos, mas são alterados de acordo com a dieta (MEYER, 1995). 4.1.3 ETIOLOGIA A etiologia das doenças do trato gastrointestinal dos equinos que levam à cólica é complexa e diversa. Exemplos de causas conhecidas são:parasitas, especialmente Strongylus vulgaris e ascarídeos; excessos alimentares; mudanças na dieta; ingestão de areia; enterólitos; alguns agentes infecciosos como a Salmonella spp.. Na prática clínica diária a maioria dos casos de cólica tem causa desconhecida, mas de um modo geral, resultam da distensão do intestino por ingesta, gás, fluidos ou devido a uma interrupção da motilidade normal do intestino. Os casos mais severos também podem resultar de danos da parede intestinal por processos de isquêmia, inflamação, edema ou enfarto (LEHUBY, 2011). 4.1.4 FATORES PREDISPONENTES PARA A CÓLICA EM EQUINOS 4.1.4.1 ANATÔMICO ESPECÍFICOS De acordo com Pedrosa (2008), o aparelho digestivo dos equinos apresenta algumas particularidades anatômicas e fisiológicas que os predispõem a manifestar cólica. Uma das razões para a maior susceptibilidade do cavalo está diretamente relacionada com a sua incapacidade de vomitar. A camada mais interna da túnica muscular do estômago é composta por fibras musculares oblíquas, que são particularmente bem desenvolvidas na região do cárdia, onde formam a alça cárdica. No mesmo local, unem-se ainda a fibras musculares da camada circular média, constituindo um poderoso esfíncter cárdico. Além disso, nesta espécie o esófago une-se ao estômago muito obliquamente. Apesar de o duodeno e o íleo se encontrarem relativamente fixos, o jejuno apresenta grande mobilidade devido à presença de um longo mesentério, tendendo assim a preencher espaços existentes entre outras estruturas mais fixas. O ceco dos equinos é um grande fundo de saco cego, o que pode predispor à acumulação de ingesta neste órgão. Por outro lado, a posição do cólon esquerdo também não se encontra fixa. Mais ainda, ao longo do seu trajeto pelo cólon, há locais em que a passagem da ingesta é dificultada pelas próprias características anatómicas deste órgão, nomeadamente pela redução abrupta do diâmetro dos segmentos em questão. É o caso da flexura pélvica (entre o 28 cólon ventral esquerdo e dorsal esquerdo), onde a ingesta tem ainda que se mover no sentido ascendente, e da terminação do cólon dorsal direito no cólon transverso (CRUZ, 2015). 4.1.4.2 RAÇA Apesar de as cólicas poderem afetar cavalos de qualquer raça, vários estudos sugerem que a incidência é maior nos árabes e nos PSI (LEHUBY, 2011). Os potros brancos (albinos) nascidos de cruzamento overo-overo de equinos da raça Paint Horse, podem manifestar uma doença recessiva e letal conhecida como agangliose, responsável pelo desenvolvimento de uma obstrução funcional do intestino por falta de inervação (PEDROSA, 2008). 4.1.4.3 IDADE Os cavalos com idade inferior a 2 anos ou superior a 10 anos parecem ter menor risco de sofrerem de cólicas simples. Os de idade média têm maior probabilidade de terem cólicas do que os mais idosos, contudo, as cólicas dos cavalos mais idosos mais frequentemente requerem uma abordagem cirúrgica (COHEN, 1997). Nos neonatos, a dor abdominal resulta frequentemente de lesões ao nível do trato gastrointestinal e/ou urinário. A causa mais comum de dor abdominal nos neonatos é a obstrução por mecónio, contudo, as invaginações e volvo do intestino delgado, as enterites e as enterocolites também são causas relativamente frequentes (LEAL, 2007). As hérnias umbilicais podem ocorrer em potros, e ocorrem devido a falha no fechamento completo da musculatura que envolve as estruturas umbilicais; estas podem ser influenciadas por genética, onfaloflebite ou trauma. Existem riscos de complicações como estrangulamento, aderência e abscessos (estes geralmente apresentam dor e rigidez à palpação), além de fístula enterocutânea e evisceração (CORRÊA, 2012). 4.1.4.4 SEXO No que diz respeito às cólicas simples, tanto os machos como as fêmeas parecem estar igualmente afetados e as hérnias inguinais ocorrem somente em machos não castrados (PEDROSA, 2008). 29 4.1.4.5 COMPORTAMENTAL E MANEJO Equinos que permanecem longos períodos estabulados apresentam níveis de estresse elevados, possuem alterações psíquicas e o tipo de temperamento podem desenvolver comportamentos anormais como aerofagia, que predispõe a maiores chances de apresentar episódios de cólica. A possível justificativa para esse fato são o tipo de temperamento do animal e pelo estabulação e práticas de manejo (LEAL, 2007). Em relação ao tipo de atividade que o animal é submetido, os cavalos de corrida são mais susceptíveis a ulcerações gástricas (LEHUBY, 2011). 4.1.4.6 ALIMENTAÇÃO O equino é muito exigente e sensível às alterações de manejo alimentar e ambiental. A diminuição ou variação no nível de atividade física, alterações súbitas na dieta, alterações (LARANJEIRA, 2008). Os equinos apresentam anatomia e fisiologia digestiva adaptada para se alimentarem exclusivamente de forragens (herbívoros). Qualquer programa de alimentação que negligencie os níveis de fibra na dieta pode ter consequências indesejáveis sobre a fisiologia digestiva destes animais. Eles necessitam de certo volume de alimento para sustentar função digestiva normal e, ao privá-los de alimentos volumosos, as curvaturas do intestino ficam propensas a torções e cólicas. O hábito de alimentar os cavalos com concentrados e de os manter em estábulos durante grande parte do dia aumenta a probabilidade de os cavalos sofrerem de cólica, mais propriamente de timpanismo ou de deslocamentos do cólon ascendente (CRUZ, 2015). 4.1.4.7 AMBIENTE Os cavalos cuja atividade física diminui abruptamente têm maior risco de sofrerem de obstruções cecais ou do cólon ascendente. A restrição do suprimento de água ou a alteração da fonte de água levam à desidratação do conteúdo intestinal, provocando consequentemente sobrecarga do cólon ascendente. A formação de enterólitos está relacionada com a alimentação e com a ingestão de minerais provenientes do solo e cavalos que consomem água dura, feno de alfafa e que têm na ingesta minerais alcalinos são mais facilmente afetados por este problema As sobrecargas por areia são mais frequentes quando os cavalos pastam num campo arenoso, ou quando são forçados a comer sobre um terreno de areia (LEHUBY, 2011). Dilatações gástricas podem 30 resultar de um excesso de consumo de água e alimento diretamente após exercício ou de um período de privação destes (MOORE, 2001). 4.1.4.8 PARASITISMO O parasitismo tem sido relacionado com o aumento do risco de cólica. As causas de cólica são por parasitas que causam obstruções no trato gastrointestinal de equinos, os quais podem por ser infestações maciças de nematódeos (Parascaris equorum), cestódeos (Anoplocephala spp.) ou por grandes estrongilídeos (Strongylus vulgaris) (FORTES, 2004). A administração de vermífugos também pode levar a um aumento do risco de cólica. Este fato também foi verificado em potros, que após a desvermifugação, desenvolveram cólica devido a obstruções intestinais resultantes da rápida morte de ascarídeos intraluminais (PEDROSA, 2008). 4.1.4.9 CONDIÇÕES CLIMÁTICAS Fernandes (2009), aponta uma associação significativa entre o risco de cólica e a ocorrência de alterações climáticas recentes. No entanto, ela aconselha uma interpretação cuidadosa deste resultado, uma vez que pode ter sido influenciado por outros fatores, nomeadamente pela ideia pré-concebida e generalizada sobre a existência de uma relação entre a cólica e as alterações climáticas. Ainda assim, é certo que as temperaturas frias podem influenciar o consumo de água e, dessa forma, predispor ao aparecimento de cólica (COHEN, 1997). 4.1.5 DIAGNÓSTICO O diagnóstico,que é dependente da anamnese, do exame físico e dos testes laboratoriais permitirá diferenciar cólicas gastrointestinais de “cólicas falsas”, identificar qual o órgão ou conjunto de órgãos atingidos e decidir qual a opção terapêutica mais indicada. O exame físico consiste em avaliar o grau de dor, a distensão abdominal, o aparelho cardiovascular, a temperatura retal e as fezes, e também realizar uma auscultação torácica e intestinal, uma intubação nasogástrica, uma palpação transretral, uma abdominocentese e por fim, análises sanguíneas (LEHUBY, 2011). 31 4.1.5.1 SINAIS A dor intensa provoca alterações no comportamento dos equinos que auxiliam no reconhecimento de um episódio de síndrome cólica, os quais podem ser: cavar, olhar para o flanco, deitar-se na baia, ranger os dentes e sudorese intensa (FRANCELLINO et al., 2015). 4.1.5.2 ANAMNESE A informação sobre o histórico clínico do animal pode ser muito útil para o reconhecimento de determinadas causas de cólica (MOORE, 2001). No que respeita aos dados gerais, deve tentar obter-se informação sobre o local em que o cavalo se encontra (baia ou pastagem), a sua alimentação (tipo de alimento, quantidade e frequência), manejo de rotina, utilização, história médica (administração de AINEs, episódios de cólica anteriores, cirurgia abdominal) e práticas profiláticas (vacinação e vermifugação) (FERNANDES, 2009). 4.1.5.3 EXAME FÍSICO De acordo com Keller, (2016), a frequência cardíaca é um indicador importante de intensidade da dor, e o aumento de frequência cardíaca é diretamente proporcional ao aumento da dor, porém só esse dado não é o suficiente para uma indicação cirúrgica, ele tem que ser avaliado junto com outros sinais que o cavalo apresenta, além de alterações cardiovasculares, perfusão periférica que se avalia através da mucosa oral, e tempo de preenchimento capilar. Para Fernandes, (2009), a frequência respiratória (FR) auxilia na avaliação da dor, sendo que em casos de dor moderada a intensa, os valores são superiores a 30 movimentos respiratórios por minuto, acompanhando por dilatação das narinas. A avaliação de mucosa se baseia no tempo de preenchmento capilar (TPC), cor e humidade, nos quais fornecem informações sobre a desidratação e perfusão dos tecidos. A mucosa oral é comumente a mais avaliada tendo normalmente cor rósea, tempo de preenchimento capilar de 1 a 2 segundos, e presença de umidade, em casos de desidratação branda a mucosa torna-se hipocorada, com TPC maior que 2 segundos, em quadro de perfusão deficiente a mucosa se apresenta cianótica, e o TPC apresenta em média 4 segundos, quando se tem congestão venosa ou endotexemia, a mucosa pode se apresentar com coloração vermelha ou púrpura, o que é comum encontrar no caso de duodeno jejunite proximal, obstrução com 32 estrangulamento, enfarte sem estrangulamento ou peritonite (FRANCELLINO et al., 2015). É relatada febre nos casos de obstrução com estrangulamento e endotoxemia ou quando há abscessos abdominais. Observa-se hipotermia nos casos de hipoperfusão tecidual, comprometimento circulatório e hipovolemia, em necrose tecidual, embora tenha hipertermia esta é rapidamente diminuída devido à hipoperfusão (KELLER, 2016). Nos quadros por obstrução ou deslocamento, os cavalos apresentam aumento discreto de temperatura, que não ultrapassa 38,6º C, todavia quando há desidratação, ou quando a temperatura ambiente está alta, pode ultrapassar este valor (FRANCELLINO at al., 2015). A presença da motilidade intestinal é altamente significativa, já que a diminuição ou ausência dos sons intestinais aumenta a probabilidade de que o cavalo ira precisar de uma intervenção cirúrgica (KELLER, 2016) Os ruídos abdominais são avaliados quanto à frequência, duração, intensidade, e localização, sendo de extrema importância para o auxílio no diagnóstico, podendo estabelecer um prognóstico (CRUZ, 2015). A sondagem nasogástrica possibilita a eliminação de gás, líquido do conteúdo gástrico, impedindo a ruptura do estômago, dando conforto imediato ao animal, acelera o processo fisiológico do esvaziamento gástrico e estimula o reflexo gastrocólico. É usada como tratamento nos casos de sobrecarga gástrica por líquidos ou alimentos, podendo proceder a lavagem utilizando água em temperatura ambiente. Nesse sentido, a sondagem nasogástrica é um valioso método diagnóstico, além de ser usada como tratamento e administração de medicamentos (FERNANDES, 2009). A palpação retal é uma das avaliações mais uteis para o diagnóstico, sendo possível avaliar as condições das vísceras. As seguintes condições podem ser geralmente identificadas no exame retal e geralmente exigem correção cirúrgica: alças distendidas do intestino delgado, intestino grosso distendido, torção uterina, hérnias inguinais, distensão cecal, compactação de cólon, compactação de flexura pélvica, descolamento de colon maior, aprisionamento nefro esplênico, enterólitos e corpo estranho (FRANCELLINO et al., 2015). 33 4.1.5.3.1 LÍQUIDO PERITONEAL A avaliação do líquido peritoneal é uma ferramenta de prognóstico muito útil e pode facilitar a decisão, e qualquer fluido anormal é uma indicação de alteração intestinal que pode exigir cirurgia (KELLER, 2016). Sua coleta é realizada por abdominocentese, através da punção com agulha estéril na linha mediana do abdômen, aproximadamente 10 cm caudal ao processo xifoide e com prévia tricotomia e anti-sepsia local (FRANCELLINO et al., 2015). O líquido peritoneal na ausência de patologias deve-se apresentar límpido devido ou seu baixo conteúdo celular, de cor amarelada, mais ou menos intensa, variando de acordo com a concentração de bilirrubina (DI FILLIPO et al., 2009). Em pacientes que apresentam a síndrome cólica este líquido poderá apresentar cor âmbar e ligeiramente turvo, sugerindo aporte sanguíneo insuficiente ao intestino, associado à diapedese de glóbulos vermelhos e brancos dos capilares da serosa. Nos casos em que o fluído peritoneal apresentar uma cor escura sanguinolenta e não coagular deve-se suspeitar de necrose intestinal (MENDES, 1995). Processos de peritonite irão apresentar uma solução opaca, de coloração amarelo acastanhada, e com um elevado número de leucócitos. No entanto, nos exsudatos opacos pode haver coagulação se a peritonite associada for demasiadamente severa permitindo a passagem de fibrinogênio para o fluído peritoneal. A presença de fluído peritoneal opaco e de coloração verde acastanhada sugere a presença de conteúdo intestinal livre, ocasionado por enterocentese ou de uma ruptura intestinal (DI FILIPPO et al., 2009). 4.1.6 TIPOS DE CÓLICA As categorias etiopatogênicas podem ser classificadas como: obstruções intraluminais com ou sem estrangulamento vascular, obstruções vasculares sem estrangulamento, úlceras, enterites, colites e peritonites (PEDROSA, 2008). 4.1.6.1 OBSTRUÇÃO INTRALUMINAL SEM ESTRAGULAMENTO VASCULAR É quando ocorre a oclusão do lúmen intestinal sem compromisso do suprimento sanguíneo. O processo obstrutivo simples é causado por estase e timpanismo, bloqueio do lúmen por uma massa de ingesta ou por um corpo 34 estranho, ou ainda por compressão externa do intestino por uma aderência, abcesso ou tumor (FERNANDES, 2009). 4.1.6.2 OBSTRUÇÃO INTRALUMINAL COM ESTRAGULAMENTO VASCULAR As oclusões estranguladas do intestino são uma combinação de uma oclusão luminal e de isquemia. Por consequente, podem ser classificadas em venosas ou arteriovenosas. Manifestam-se frequentemente por uma dor abdominal marcada acompanhadade sinais de choque e geralmente, devem-se a torções, volvos ou a encarcerações do intestino delgado no forâmen epiplóico, no anel inguinal ou no mesentério, mas também podem ser causadas por hérnias diafragmáticas, estrangulamentos por lipomas pediculados, invaginações ou por deslocamentos do cólon. A dor resulta da tensão mesentérica, da isquemia intestinal e da distensão intestinal por gás, fluidos ou ingesta cranial à obstrução (LEHUBY, 2011). 4.1.6.3 OBSTRUÇÕES VASCULARES SEM ESTRANGULAMENTO É uma afecção em que o fluxo sanguíneo é reduzido a uma porção do intestino, causando assim um enfarte dos tecidos sem haver deslocamentos ou encarcerações do mesmo. Esta condição não é descrita no estômago, mas pode afetar o intestino delgado, ceco, cólon maior, e possivelmente também o cólon menor. Pode ocorrer quer devido a tromboembolismo por larvas de Strongylus vulgaris na artéria mesentérica cranial ou seus ramos (artéria íleo-cecal), ou a um reduzido fluxo sanguíneo na parede intestinal causando um suprimento sanguíneo intestinal insuficiente. Os casos severos de cólica tromboembólica, normalmente, são diagnosticados em cirurgia ou na necrópsia. Embora esta condição seja secundária a parasitismo, pode igualmente ocorrer após cirurgia abdominal, especialmente se se tratar de uma correcção de um volvulo do cólon maior (FERNANDES, 2009). 4.1.6.4 ENTERITE, COLITE E ULCERAÇÃO As afecções inflamatórias do trato gastrointestinal dos equinos podem ter diversas causas, infecciosas ou não. A dor abdominal associada à enterite, geralmente, é moderada, podendo-se tornar severa quando existe uma lesão marcada da mucosa (salmonelose aguda), quando é acompanhada por uma extensa 35 infiltração de fluido (colite), ou complicada por Íleo e refluxo gástrico (enterite proximal) (PEDROSA, 2008). Nos casos de colite provocada pela infecção por Salmonella spp., a S. typhimurium é a mais frequentemente isolada, mas podem estar implicadas outras espécies. A duodenite-jejunite proximal caracteriza-se fundamentalmente por íleo adinâmico do intestino delgado. Embora a causa inicial seja desconhecida, têm sido sugeridos diversos agentes etiológicos, tais como o Clostridium spp. , a Salmonella spp. e micotoxinas (FERNANDES, ). Outras causas de enterite ou colite incluem o consumo excessivo de carboidratos, antibioterapia, toxicidade por AINEs, intoxicação por determinados agentes, tais como o arsénico e o amitraz e a ingestão de plantas tóxicas (LEHUBY, 2011). Nos potros, parece ser mais frequente ao nível do estômago e do duodeno, e nos cavalos adultos está reportada a presença de ulceração gástrica em casos de obstrução por ingesta do estômago ou do cólon maior. (PEDROSA, 2008 ). 4.1.6.5 PERITONITE A peritonite pode surgir na sequência do compromisso de um segmento intestinal, de uma alteração vascular ou de um abcesso abdominal, ou ainda dever- se à ruptura de uma víscera, à perfuração de uma úlcera ou a uma laceração do reto. Por sua vez, a ruptura pode decorrer de uma obstrução, como por exemplo, no caso do ceco. A peritonite pode ocorrer sempre que o abdômen seja penetrado, quer através da perfuração por um corpo estranho, quer cirurgicamente, incluindo na realização de uma castração (CRUZ, 2015). 4.1.6.6 CÓLICA ESPASMÓDICA A cólica espasmódica é ocasionada por alterações neurovegetativas, geralmente decorrentes de estresse, por ingestão de alimentos deteriorados e de hemoparisitose, causando processo doloroso intermitente (THOMASSIAN, 2005). No entanto, estes espasmos transitórios raramente persistem o tempo necessário para causar um bloqueio significativo que induza as consequências verificadas nas obstruções físicas ou no Íleo. Apesar deste fato, é possível que estes movimentos anormais levem a mal posicionamentos do intestino que possam, eventualmente, resultar em obstruções compressivas ou mais grave, em obstruções por estrangulação (PEDROSA, 2016). Neste caso de dor abdominal são auscultados sons contínuos de grande intensidade e em todos os locais (LEHUBY, 2016). 36 4.1.6.7 TIMPANISMO CECAL O timpanismo primário do ceco e do cólon é um tipo de obstrução intraluminal sem estragulamento vascular, e está associado a mudanças súbitas da dieta. Os carboidratos altamente fermentáveis causam um grande aumento dos ácidos graxos voláteis (AGV) que rapidamente ultrapassam a capacidade de absorção e de tamponamento do ceco e cólon ventral, levando assim à excessiva produção de gás com consequente distensão. No início deste processo o gás é enviado para o reto, causando flatulência. No entanto, a produção de AGV acaba por ter um efeito inibitório na motilidade do ceco e cólon ventral, por uma ação direta dos AGV na musculatura gastrointestinal e/ou no plexo intrínseco neural. À medida que sucedem as alterações de motilidade, a distensão do ceco, especialmente na base, ou do cólon ventral vai-se tornando mais marcada. Esta grande distensão pode levar a dificuldades respiratórias e diminuição do retorno venoso ao coração, devido à pressão exercida no diafragma e veia cava, resultando em taquipnéia, taquicardia, cianose e hipovolemia. A distensão e hipovolemia podem ainda ser agravadas pelo fluxo osmótico de água para o lúmen intestinal à medida que o pH desce e aumenta a produção do ácido láctico que é pouco absorvível (PEDROSA, 2008). Clinicamente, à medida que a distensão aumenta, aumenta também a severidade da dor que pode ser controlada apenas temporariamente pela administração de analgésicos. A distensão abdominal é um dos sinais mais característicos do timpanismo do ceco e cólon. Pode existir refluxo por passagem do tubo nasogástrico devido à oclusão compressiva total ou parcial do intestino delgado, especialmente do duodeno, por se localizar próximo à base do ceco e cólon transverso. Nos casos severos, pode haver acidose metabólica, devido ao comprometimento do retorno venoso e à hipovolemia, e a distensão diminui a área de expansão pulmonar podendo levar a morte por hipóxia. Portanto, ambas as situações podem causar morte, antes sequer da ruptura do ceco ou do cólon. Nestes casos de timpanismo primário, a mucosa não sofre grandes lesões, com exceção da possível ruptura das vísceras (FERNANDES, 2009). 37 4.1.7 TRATAMENTO CLÍNICO No tratamento do abdômen agudo, a supressão da dor, a estabilização do paciente sob o ponto de vista cardiovascular e a correção da causa de cólica são os princípios terapêuticos a serem realizados a todos os casos. A supressão da dor no abdômen agudo pode ser alcançada atuando diretamente na origem da cólica, como por exemplo reduzindo o grau de distensão ou inibindo os mecanismos de transmissão da dor. Movimentar um cavalo que demonstra sinais de cólica é uma prática comum, sobretudo nos casos mais ligeiros proporcionando algum alívio da dor e favorecendo a motilidade intestinal. Já a intubação nasogástrica além de um indicador para o diagnóstico, também proporciona alívio e evita situações irremediáveis como a ruptura gástrica, pelo que deve ser sempre realizada. Sob o ponto de vista farmacológico existem dois grandes grupos de substâncias: os analgésicos e os sedativos-analgésicos (DA CRUZ, 2011). 4.1.7.1 ANALGESIA E SEDAÇÃO A analgesia é muito importante pois alivia o desconforto do paciente, minimiza o efeito inibitório da dor sobre a motilidade gastrointestinal, possibilita a execução de um exame clínico mais cuidadoso, e reduz a probabilidade do animal se ferir a si mesmo. No entanto a sua administração tem de ser cuidada, pois pode mascarar os sinais clínicos da progressão da lesão(CAMPELO, 2008). Os α-2 agonistas induzem analgesia, por supressão da neurotransmissão a nível do sistema nervoso central, e relaxamento muscular. Neste grupo de analgésicos estão incluídos a xilazina, detomidina, romifidina, e medetomidina. Os efeitos secundários deste tipo de fármacos incluem hipotensão, diminuição do débito cardíaco e da motilidade e do fluxo sanguíneo intestinal, sendo todos dependentes da dose administrada. Tendo em conta o efeito mais potente da detomidina, com doses menores consegue-se a mesma ação analgésica, mas com um menor efeito no sistema cardiovascular e na motilidade gastrointestinal (PEREIRA, 2012). Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) são o grupo de fármacos mais frequentemente utilizados no tratamento da dor abdominal. Estes fármacos inibem a cicloxigenase, uma enzima integrante da cascata do ácido araquidônico, e que está envolvida na produção de prostanglandinas, muitas das quais são potentes mediadores da dor abdominal nos cavalos. Com efeito, os AINEs exercem a sua ação ao reduzirem a concentração de mediadores inflamatórios no local da lesão, 38 diminuindo a percepção da dor pelo sistema nervoso central (SNC), e reduzindo a temperatura corporal. Os AINEs mais utilizados são a fenilbutazona, flunixina meglumine, dipirona, e o cetoprofeno. A fenilbutazona e a dipirona têm um efeito moderado no alívio da dor, enquanto a flunixina meglumina e o cetoprofeno têm uma acção analgésica mais marcada. A flunixina meglumina é o fármaco deste grupo mais potente no controle da dor visceral. O cetoprofeno bloqueia a cicloxigenase e também a lipoxigenase, uma enzima responsável pela indução de outros mediadores inflamatórios, capazes de promoverem a quimiotaxia de neutrófilos sendo este um potente mecanismo local de lesão celular (FRANCELLINO et al., 2015). 4.1.7.2 OPIÓIDES Os efeitos analgésicos ou sedativos destes tipos de fármacos resultam da sua interação com receptores opiáceos centrais ou periféricos. Este grupo inclui a morfina, oximorfina, meperidina, butorfanol e pentazocina, todos com um potente efeito analgésico e sedativo. O butorfanol e a pentazocina são os que têm um efeito analgésico mais previsível, tendo ainda a vantagem em relação aos restantes de possuírem menos efeitos secundários. A morfina, oximorfina e meperidina podem causar excitação e uma redução do tempo de trânsito GI (DA CRUZ, 2011). 4.1.7.3 PRÓ CINÉTICOS E LAXANTES O aumento da frequência das contrações intestinais na cólica espasmódica, ou os espasmos que ocorrem oralmente às obstruções intraluminais, no caso de compactações, levam a dor que pode ser aliviada pela administração de espasmolíticos. Neste grupo de fármacos estão incluídos a atropina e a hioscina butilbromida. A atropina não é recomendada no caso de cólicas de equinos devido ao efeito de relaxamento da parede intestinal e de abolição das contrações que pode durar várias horas e até mesmo dias, podendo levar a timpanismo e complicando a patologia inicial com Íleo. A hioscina é um parassimpaticolítico, largamente utilizado em determinadas partes do mundo como o fármaco de eleição no tratamento inicial da cólica. É frequentemente administrado em associação com a dipirona e é bastante eficaz no tratamento de cólicas moderadas não complicadas (PEREIRA, 2012). 39 Os agentes promotores da motilidade são, normalmente, utilizados em situações de íleo adinâmico, comum pós-cirurgicamente, e compactações do cólon maior. A neostigmina aumenta a concentração de acetilcolina e, portanto, estimula diretamente a motilidade gastrointestinal. O seu maior efeito adverso é a indução de contrações segmentais desorganizadas que pouco contribuem para a progressão da ingesta. Outros efeitos incluem o aumento da dor abdominal e sudorese. Com efeito, a eficácia final da neostigmina no tratamento do Íleo é bastante questionável. A metoclopramida tem sido utilizada como estimulante gastrointestinal (esvaziamento gástrico e motilidade do intestino delgado) devido à sua ação antagonista dopaminérgica não específica, tendo em conta que a hiperatividade dopaminérgica é considerado um fator intrínseco na origem do Íleo adinâmico. No entanto, em doses elevadas pode causar estimulação do SNC. Por fim, a eritromicina é um agente promotor da motilidade por estimulação dos receptores entéricos (FERNANDES, 2008). A lidocaína apresenta efeitos pró-cinéticos, analgésicos e anti-inflamatórios e tem vindo a ser utilizada nos casos de íleo adinâmico. No que respeita ao período pós-cirúrgico, previne o aparecimento deste último e estimula a motilidade gastrointestinal (LEAL, 2007). Laxantes, como por exemplo o óleo mineral, atuam como adjuvantes em casos de sobrecarga e compactações, porém estudos revelam que estão em desuso pois retardam o esvaziamento gástrico, impedem absorção de nutrientes e não atravessam massas compactadas (COMIS, 2010). 4.1.7.4 FLUIDOTERAPIA O tipo de fluido e a taxa de administração variam grandemente com a fase em que se encontra a cólica. A terapêutica inicial é utilizada para corrigir os desequilíbrios eletrolíticos e ácido-base. A terapêutica de manutenção é utilizada para acompanhar os requerimentos dos pacientes. E a terceira categoria de fluidoterapia que consiste na hiperhidratação, que é mais frequentemente empregada nos casos de obstruções intraluminais, principalmente no caso de compactações do cólon maior. Neste tipo de lesões a fluidoterapia tem como objetivo o melhorar a função cardiovascular, o aumento do volume de fluido no tratogastrointestinal, que por sua vez contribui para a hidratação e maceração da massa impactada, podendo para este fim ser suplementada com cloreto de potássio (20 mEq/L) ou utilizando Ringer Lactato (THOMASSIAN, 2000). Nos casos em que a obstrução é apenas parcial e não existe refluxo gástrico, a administração de fluidos 40 orais pelo tudo nasogástrico é uma boa opção terapêutica. A hidratação e passagem de compactações ou obstruções intraluminais, geralmente, são conseguidas combinando fluidoterapia com a administração de agentes lubrificantes (PEDROSA, 2008). 4.1.8 TRATAMENTO CÍRURGICO A intervenção cirúrgica é indicada quando é possível diagnosticar a causa exata da cólica e a lesão obstrutiva requer correção cirúrgica, como por exemplo o caso das obstruções por estrangulamento, quando não foi efetuado um diagnóstico específico, mas existem evidências suficientes que indicam a necessidade de realização de cirurgia; cólicas recorrentes, que se mantém durante dias ou semanas, são suspeitos de sofrerem de uma lesão obstrutiva parcial devido a aderências, neoplasias, etc. (CAMPELO, 2008). A maioria dos casos de cólica recai na segunda categoria. E, apesar dos enormes avanços nas técnicas cirúrgicas e anestésicas e no manejo intra-cirúrgico, a taxa de mortalidade dos pacientes submetidos a cirúrgica, permanece bastante elevada. A percentagem de cavalos submetidos a celiotomia devido a cólica, e que morrem ou são eutanasiados durante a cirurgia devido a um estado muito avançado das lesões gastrointestinais, tem sido estimada em 8 a 24%. A chave para melhorar a taxa de sobrevivência, consiste, precisamente no reconhecimento precoce de uma lesão cirúrgica, antes mesmo de haver deterioração da condição do paciente (PESSOA, 2012). TABELA 3 – TABELA AUXILIAR, PARA CONSTITUIR AOS DIVERSOS PARÂMETROS CLÍNICOS UMA DEFINIÇÃO SOBRE A NATUREZA DO TRATAMENTO DO PACIENTE EQUINO PORTADOR DE CÓLICA. PARAMÊTROS PROCEDIMENTO CLÍNICO CÍRURGICO Tempo de cólica < que 8h Tempo de cólica > que 8h Dordiscreta / moderada, em crise, responsiva 41 Fonte: THOMASSIAN, 2005 (adaptado). Dor intensa, contínua, refratária Frequência Cardíaca < de 60 bpm Frequência Cardíaca > de 60 bpm Mucosas róseas a hiperêmicas, TPC < 2 seg Mucosas congestas a cianóticas, TPC > 2 seg Refluxo Gástrico: negativo Refluxo Gástrico: positivo Ausculta Abdominal: motilidade positiva Ausculta Abdominal: motilidade negativa Distensão Abdominal: negativa Distensão Abdominal: positiva Defecação: Positiva Defecação: Negativa ACHADOS DE EXAME TRANSRETAL Encarceramento inguinal Intestino delgado distendido Fecaloma ou enterólito palpável Impactações refratárias Baço deslocado IG deslocado Tênias intestinais sob tensão Torção uterina 42 4.2 RELATO DE CASO CLÍNICO Um equino, macho, de nove anos, sem raça definida (SRD), foi notificado aos veterinários do Regimento, pelo tratador, que o animal apresentava comportamento alterado na sua baia. Não fora administrado qualquer medicamento injetável ou oral em dias anteriores porém o vermífgo estava em dia. É um animal que permanece sempre na baia e só saia para patrulhamento, porém ele não estava acompanhando a patrulha por estar com escoriações nos membros. Este equino recebia, uma vez ao dia, volumoso de azevèm e feno de alfafa, uma mistura composta de ração e grãos de aveia, suplementação de sal mineral e água á vontade. Este equino apresentava escore corporal 6. Na inspeção visual o animal apresentou-se inqueito, cavava e olhava para o flanco. Foi administrado xilazina na dose de 0,5 mg/kg/IV para que fosse possível realizar o exame físico. O animal foi avaliado e apresentou 5% de desidratação, abaulamento na região do flanco direito, hipomotilidade e acumulo de gás em região do ceco na auscultação e dor abdominal moderada. A frequência cardíaca estava a 44 bpm e a respiratória estava 20 mpm. Mucosa e TPC apresentaram-se dentro do paramêtros e a temperatura não foi aferida. Fez-se a sondagem nasogástrica e apresentou-se refluxo de coloração verde escura, fermentado, presença de ração fermentada e gás. Não foi feito o exame de palpação e paracentese abdominal. A frequência cardíaca e respiratória foram reavaliadas e apresentaram decréscimo para 40 bpm e 16 mpm, respectivamente, em até 10 minutos após administração da Xilazina. Para o tratamento, foi realizado a dose 1.1 mg/kg de fluxina meglumin IV, 2 frascos de leite de magnésia com um frasco de solução comercial de e silicone a 30% + metilcelulose (via sonda nasogástrica), e 5 L de solução Ringer com Lactato, cálcio e 20 mL de lidocaína via endovenosa. Após realizado este tratamento, o animal defecou, porém ainda apresentava o abdome distendido, portanto foi realizado mais 8 L de solução Ringer com Lactato (IV), 1 frasco de uma solução eletrolítica comercial contendo cloreto de sódio, cloreto de potássio, cloreto de cálcio, lactato de sódio, acetilmetionina e sorbitol (IV) e caminhadas contínuas com 43 animal até o animal apresentar gases. No final do dia o animal foi solto no piquete para observação. Ele comeu verde fresco, apresentava-se alerta e houve diminuição do tamanho do abdome. No dia seguinte, havia fezes do animal no piquete, o abdome estava em tamanho normal e na auscultação havia poucos sons timpânicos e motilidade normal. 4.3 DISCUSSÃO A síndrome cólica é uma causa frequente de óbito em equinos, considerada como uma das principais enfermidades que requerem atendimento veterinário. Os prejuízos econômicos acarretados pela enfermidade são significativos, pois frequentemente implicam em custo elevado com o tratamento e a morte dos animais (PESSOA et al., 2012). São muitos os fatores de risco que podem levar ao aparecimento desta síndrome e muitos estudos têm sido feitos neste campo. De acordo com Cruz (2015), os cavalos de idade média têm maior probabilidade de terem cólicas do que os cavalos com idade inferior a 2 anos ou superior a 10 anos, o animal do caso relatado que tinha nove anos, o qual se encaixava no grupo de risco. No estudo de Pessoa et al. (2012), o qual revisou casos de cólicas em cavalos de sete raças e SRD do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande, mostrou que cavalos sem raça definida (SRD) foram o segundo grupo de maior ocorrência, ficando atrás do grupo da raça quarto de milha (QM), como no caso o animal era SRD, e do fator do sexo, o número de machos foi maior que o número de fêmeas. Porém, Pedrosa (2008) aborda que a respeito às cólicas simples, tanto os machos como as fêmeas parecem estar igualmente afetados. Há uma estreita relação entre a elevada ocorrência de cólica com uma série de fatores associados ao confinamento e à rotina dos equinos. A qualidade da ração concentrada e a baixa ingestão de volumoso, associadas a fatores como estresse e alterações de comportamento provocadas pelo confinamento, podem influenciar na fisiologia e funcionamento do aparelho digestivo do equino (LARANJEIRA, 2008), quadro de confinamento e tipo de alimentação que também observamos no caso relatado. No presente caso, o animal estava sem realizar atividades fisícas em razão de estar com escoriações nos membros. De acordo com Vieira (2006), quanto mais tempo os equinos vivem presos em baias, maiores são suas chances de terem cólicas. Baias com tamanhos reduzidos limitam a mobilidade dos equinos, elevando 44 o nível de estresse dos animais, o que pode resultar em alterações na fisiologia digestiva. Laranjeira et al.(2009) ressalta que tanto o excesso, quanto a ausência de atividade física e a excitação ou fadiga pelo exercício, podem induzir cólica. . Os sinais clínicos da suspeita de cólica no caso relatado mostraram- se condizentes com a literatura, de acordo com Cruz (2015), os sinais que caracterizam as cólicas nos equinos poderem variar desde uma simples inquietação do animal até sinais de dor severa, como por exemplo: Inquietação ou depressão; rolar no chão; raspar o chão contínua ou intermitentemente; deitar e levantar repetidamente; olhar o flanco. No exame clínico do animal, a frequência respiratória estava alterada. De acordo com Ferreira et al. (2008), a frequência cardíaca pode estar levemente aumentada (40-60 bpm), estando relacionada à hipovolemia e grau de dor. A auscultação abdominal revela diminuição dos sons intestinais e a motilidade progressiva quase sempre está ausente. Deste modo, é imprescindível executar exame clinico geral e especifico completo, assim como exames laboratoriais e outros exames complementares (SHEHAN, 2009). O tempo é escasso quando o índice de óbitos pela enfermidade é lembrado, mediante a isso, o médico veterinário necessita interferir com métodos terapêuticos imediatamente. O diagnóstico do caso foi de timpanismo cecal. Ele ocorre como resultado do acúmulo excessivo de gases pela fermentação aumentada ou motilidade ineficiente, podendo ser localizado ou difuso. O objetivo do tratamento é a drenagem de gases da região distendida e prevenção contra posterior formação destes (DE OLIVEIRA et al., 2015). Para o tratamento é realizado a tiflocentese, a qual é um procedimento simples, realizado para aliviar a fossa paralombar inflada por gás, mas, na maioria das vezes, é pouco utilizado, devido a riscos de contaminação peritoneal, e consequentemente o desenvolvimento de peritonite (OLIVEIRA E OLIVEIRA, 2011). O controle da dor é um dos componentesmais importantes no tratamento da síndrome cólica. O correto tratamento analgésico irá manter o animal confortável, evitando assim, injúrias e aumentando as chances de sobrevida (ZIMMEL, 2003). No presente caso foi administrado a xilazina para sedação. Segundo Guirro (2008), os α-2 agonistas -adrenérgicos são amplamente empregados na clínica equina, em que se destacam pela intensa sedação, facilitando o manuseio do animal. Eles atuam através da inibição da libertação de neurotransmissores a nível central, produzindo 45 analgesia, sedação e relaxamento muscular, além disso, o seu efeito analgésico é mais potente e tem início mais rápido que o dos AINEs. Após o exame clínico no animal, foi realizada sondagem nasogástrica, que é fundamental quando há dilatação abdominal, MOORE (2001) relata que este procedimento é muito importante para a descompressão de gás e evacuação de fluidos ou então ingesta, estímulo de motilidade e consequente alívio de dor, sendo a dilatação intestinal uma das razões causadoras da dor ao animal. O tratamento com fluídos em caso de cólica tem por finalidade aliviar a dor, recompor a motilidade intestinal e reparar o desequilíbrio hidroeletrolítico (WHITE, 2009). No caso relatado, o acesso venoso foi feito com um cateter nº 14, para através do mesmo fornecer primeiramente analgésico, sendo o de eleição para esse caso o fluxina meglumin, que segundo De Oliveira (2009), é o AINE mais competente no combate à dor de origem visceral. A administração de uma dose única pode inibir a produção de prostaglandinas durante 8 a 12 horas. Porém, ao administrar esse fármaco é necessário considerar a capacidade de mascarar sintomatologia de enfermidades severas, onde deve ser salientado principalmente as oriundas de estrangulamento (PEDROSA, 2008). Foi administrado 8 litros de solução eletrolítica isotônica Ringer com Lactato e uma solução comercial via intravenosa, que para Ferreira (2009) a administração de fluidos através dessa via é fundamental na hidratação do sistema circulatório, tendo uma consequente estimulação da secreção para dentro do conteúdo intestinal desidratado. Nos quatro primeiros litros de fluidoterapia foi diluído 20 ml de lidocaína 2% a cada litro de Ringer Lactato, sabendo que a lidocaína sem vasoconstritor manifesta efeitos pró-cinéticos (FERNANDES, 2009). A aplicação de fluidoterapia intravenosa é indicada em todos os casos, pois permite a reposição hídrica e eletrolítica imediata (MANCHA, 2009). No caso, foi utilizado leite de magnésia, laxativo osmótico o qual libera colecistocinina que, por sua vez, estimula a motilidade gastrointestinal e a secreção de líquidos para o interior das alças (CARDOSO, 2013). Foram realizadas caminhadas com a animal enquanto este recebia hidratação e reposição eletrolítica intravenosa afim de promover o retorno da motilidade e fazer expulsão dos gases, o qual foi benéfico. Alvez, Faleiros e Junior (2010) relatam que manter o equino sem se locomover, amarrado ou confinado em brete apresenta alguns inconvenientes, entre eles a intensificação do estresse e 46 ansiedade, aumento de edemas, retardo da defecação, acúmulo de gases e maior predisposição ao íleo adinâmico, que constitui uma das três principais causas de óbito ou indicação para eutanásia. Dessa forma, é importante que o eqüino operado de cólica seja motivado a se movimentar ao passo diversas vezes ao dia ou seja, mantido em um piquete que ofereça condições ideais de segurança e conforto, ou caminhado no pátio do hospital. Essa prática favorece a adaptação do animal ao ambiente estranho, ajuda a dissipar a tensão e a ansiedade, diminuir o tempo de íleo pós-operatório e equilibrar a dinâmica circulatória, favorecendo a recuperação. 47 5. CONCLUSÃO O estágio curricular obrigatório é uma experiência imprescindível, que liga o estagiário as situações reais da rotina, preparando-o para o futuro como Médico Veterinário. O estágio é de extrema importância para a formação acadêmica, proporcionando desafios para o conhecimento e formas de aplicação na vida profissional. Auxilia no desenvolvimento interpessoal e acadêmico. No estágio, foi presenciado um caso de síndrome cólica equina a qual é muito comum na área de clínica de equinos. A compreensão da epidemiologia desta síndrome é de grande relevância para o manejo do equino com cólica e os estudos sobre os fatores de risco para sua ocorrência devem ser continuados, considerando-se a possibilidade de interferências e variações nestes fatores de acordo com o local no qual estão os equinos e demais possíveis interações que possam ocorrer. Na prevenção da síndrome cólica deve-se visar sempre a saúde e o bem-estar dos equinos, minimizando os riscos para ocorrência de alterações na fisiologia dos animais, buscando-se o melhor manejo, juntamente com conhecimento de manejo nutricional adequado, que inclui frequência, quantidade e qualidade dos ingredientes da dieta, e cuidados regulares com a saúde, visando reduzir a incidência e as perdas econômicas ocasionadas pela síndrome cólica. Quando um Médico Veterinário atende um cavalo com cólica, tem de ser capaz de tomar uma decisão crítica e correta o mais rapidamente possível. Pacientes que são encaminhados aos hospitais para cirurgia, têm na sua maioria, lesões gastrointestinais severas que podem levar a choque e morte num curto espaço de tempo, por isso a importância de saber interpretar os resultados do exame físico e diagnosticar corretamente. 48 REFERÊNCIAS ALVES, G.E.S.; FALEIROS, R.R.; PIOTTO, J. S.B. Equívocos de Condutas que Agravam o Prognóstico da Síndrome Cólica em Equinos. 2010. Revista Brasileira de Medicina Equina. Disponível em: < http://www.uff.br/webvideoquest/CL/artigo3.pdf >. Acesso em: 06 out. 2016. CAMPELO, J.; PICCININ, A. Cólica Equina. 2008. Revista Científica. Eletrônica de Medicina Veterinária. Disponível em: < http://bit.ly/2fcRsCp >. Acesso em: 03 out. 2016. CARDOSO, A. L. Constipação e cólicas na infância: causas e manejo terapêutico. 2013. Disponível em: <http://bit.ly/2fuSpJL >. Acesso em: 06 out. 2016. COHEN, N. D. Dietary and Other Management Factors Associated with Equine Colic. 1997. Veterinary Clinics of North America.. Disponível em: < http://bit.ly/2gdsx5U >. Acesso em: 20 set. 2016. COMIS, M.B. Efeito laxativo do fruto da Eugenia dysenterica em equinos. 2013. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. Disponível em: <revistas.usp.br>.Acesso em: 07 dez. 2016. CORRÊA, R. R.; FEITOSA, D. L.; BACCARELLI, D. C.; COSTA; P. A.; RONCAT, N. V. Aderência e Abscedação Intestinal Decorrente de Hérnia Umbilical em Equino: Relato de Caso. ABRAVEQ. 2012. Disponível em: <http://www.itarget.com.br/newclients/abraveq2012/down/2012/Aquivo5.pdf>.Acesso em: 07 dez. 2016. CRUZ, D. S. M. Resolução Cirurgica de Sindrome Cólica em Equino: Relato de Caso. Trabalho de conclusão de curso (Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, 2015. Disponível em: <http://tcconline.utp.br/media/tcc/2016/09/RESOLUCAO-CIRURGICA-DE SINDROME-COLICA-EM-EQUINO.pdf>. Acesso em: 06 out. 2016. CUNNINGHAM, J.G. Fisiologia Gastrointestinal e Metabolismo. In: ______. Tratado de Fisiologia Veterinária. 4 ed. São Paulo: Elsevier, 2009.p 303 - 390. DA CRUZ, D. S.G. M. Cólica em Equinos. Universidade do Porto. Faculdade de Medicina Veterinária. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária) – Universidade do Porto, Porto. 2011. Disponível