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Autoras: Profa. Ivy Judensnaider
 Profa. Sonia de Deus Rodrigues Bercito
Colaboradores: Prof. Vinícius Albuquerque
 Prof. Francisco Alves da Silva 
Teoria da História
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Professoras conteudistas: Ivy Judensnaider/Sonia de Deus Rodrigues Bercito
Ivy Judensnaider
Economista pela Fundação Armando Álvares Penteado e mestra pela Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo, no Programa de Estudos Pós‑Graduados em História da Ciência e da Tecnologia. Atualmente, é professora da 
Universidade Paulista/UNIP, onde coordena o curso de Ciências Econômicas no campus Marquês (SP). Também atua 
no setor de publicações, sendo autora de inúmeros textos de divulgação científica publicados na web. Nos últimos dez 
anos tem trabalhado na elaboração de textos e de livros para o ensino a distância.
Sonia de Deus Rodrigues Bercito
Mestra em História Social e doutora em História Econômica pelo Departamento de História da Faculdade de 
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Trabalhou como historiadora do Conselho de 
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT nas décadas de 1980 
e 1990. Foi professora do ensino básico e do Superior em várias instituições de ensino. Atualmente, é coordenadora 
pedagógica do Ensino Fundamental do Colégio Objetivo, atuando na coordenação da produção de material didático 
deste segmento. É professora do curso de especialização da PUC‑Cogeae História, sociedade e cultura na área de 
Historiografia. Na área de pesquisa desenvolveu trabalhos em História do Brasil, especialmente referentes às décadas 
de 1930 e 1940 e, recentemente, tem se dedicado à história do corpo.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J92t Judensnaider, Ivy.
Teoria da história. / Ivy Judensnaider, Sonia de Deus Rodrigues 
Bercito. – São Paulo: Editora Sol, 2015.
96 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2‑079/15, ISSN 1517‑9230.
1. Positivismo. 2. Cientificismo. 3. Historicismo. I. Bercito, Sonia de 
Deus Rodrigues . II. Título. 
CDU 93
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Carla Moro
 Virgínia Bilatto
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Sumário
Teoria da História
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 HISTÓRIA E MEMÓRIA ......................................................................................................................................9
1.1 Memória e História: dois conceitos diferentes......................................................................... 10
1.2 A memória coletiva numa perspectiva histórica ..................................................................... 12
1.3 Os “lugares de memória” ................................................................................................................... 15
1.4 A memória manipulada ..................................................................................................................... 16
2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ...................................................................................................................... 16
2.1 O que é História? .................................................................................................................................. 17
2.2 Para que serve a História?................................................................................................................. 20
2.3 O que é Teoria da História? .............................................................................................................. 22
2.4 Como se constrói o conhecimento histórico? .......................................................................... 23
Unidade II
3 A ESCOLA METÓDICA E O CONTEXTO DOS ANOS OITOCENTOS .................................................... 30
4 A ESCOLA METÓDICA E OS DISCURSOS SOBRE O MÉTODO: O POSITIVISMO, O 
CIENTIFICISMO E O HISTORICISMO .............................................................................................................. 38
Unidade III
5 O MARXISMO .................................................................................................................................................... 48
6 O MARXISMO E A PROPOSTA DE UMA TEORIA DA HISTÓRIA ....................................................... 52
6.1 O marxismo inglês................................................................................................................................ 56
Unidade IV
7 A ESCOLA DOS ANNALES E SEU IMPACTO NAS FORMAS DE CONCEBER A HISTÓRIA .................67
7.1 A Escola dos Annales .......................................................................................................................... 67
7.2 A fase de Braudel.................................................................................................................................. 69
7.3 A Nova História da terceira geração ............................................................................................. 71
7.4 Contribuições marcantes .................................................................................................................. 73
8 DISCUSSÕES RECENTES ................................................................................................................................ 75
8.1 A crise dos paradigmas científicos e o conhecimento histórico ....................................... 76
8.2 Uma História em migalhas ou plural? ......................................................................................... 77
8.3 Ainda sobre a natureza do conhecimento histórico .............................................................. 79
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APRESENTAÇÃO
Este livro‑texto tem como objetivo fornecer a fundamentação teórica da produção historiográfica. 
O estudo da Teoria da História é fundamental para a formação do historiador e para seu exercício 
profissional no âmbito da pesquisa e também da docência.
A estratégia adotadafoi apresentar as características essenciais dos principais paradigmas teóricos 
disponíveis para os historiadores desde a configuração da História como área de conhecimento específico 
no século XIX, com as importantes contribuições e alargamento de perspectivas ocorridas no século XX.
Dessa forma, estarão contemplados neste trabalho o positivismo, o historicismo e o marxismo 
como principais paradigmas teóricos. Serão vistos também o impacto da Nova História na produção 
historiográfica e as questões que têm preocupado mais recentemente os historiadores.
A unidade I trata dos conceitos de História e memória, discutindo as relações existentes entre elas. 
Apresenta os pressupostos básicos da História como área de conhecimento e, em linhas gerais, como se 
dá a construção do conhecimento histórico.
A unidade II apresenta os conceitos fundamentais e as propostas teóricas da história cientificista nos 
moldes como foi pensada no século XIX. O historicismo e o positivismo são os paradigmas estudados.
A unidade III discute os principais pressupostos e conceitos do materialismo histórico, paradigma 
teórico que trouxe contribuições importantes para o entendimento do processo histórico. O papel social 
conferido à História e a função social atribuída ao historiador marcaram a visão que se tem sobre esses 
aspectos na atualidade.
A unidade IV encerra o trabalho com as contribuições da Escola dos Annales e da Nova História para 
a produção historiográfica no século XX e com algumas discussões teóricas em curso no momento atual.
INTRODUÇÃO
O estudo do passado fascina os homens há séculos. A História é das mais antigas fontes de 
conhecimento humano. Muitas gerações de historiadores se sucederam procurando desvendar a 
trajetória da humanidade de seu surgimento até nossos dias. Inúmeras obras foram escritas para registrar 
as realizações dos homens e suas formas de viver e de pensar através do tempo.
Entretanto, a História como área de conhecimento específico e com metodologia própria é mais 
recente. Esta disciplina, que vinha sendo praticada há séculos, de fins do século XVIII em diante foi 
assumindo os contornos da sua forma atual. O século XIX é momento marcante desse processo. De 
fato, é nele que se dá uma verdadeira “refundação” da História, que passa a aspirar ser reconhecida 
como ciência. O critério fundamental e a principal condição para qualquer tipo de conhecimento ser 
considerado válido era ser reconhecido como científico. Para assegurar sua participação no rol das ciências 
houve um esforço por parte dos historiadores na definição de princípios, métodos e procedimentos que, 
de lá para cá, vêm sendo aperfeiçoados.
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No século XIX, o conhecimento histórico foi bastante celebrado. Houve a criação e a multiplicação 
dos arquivos históricos e museus, a publicação de livros e revistas sobre o assunto e o surgimento da 
noção da existência de um patrimônio histórico como herança da humanidade a ser preservada. A 
História conquistou um status acadêmico, deu‑se o surgimento de uma comunidade de historiadores 
profissionais e, com tudo isso, criaram‑se condições para História se afirmar como campo disciplinar 
entre as demais ciências surgidas na época. A discussão teórica empreendida pelos historiadores do 
século XIX estabeleceu balizas importantíssimas para o trabalho dos seus sucessores desde então.
Com esse movimento, abriram‑se condições para a afirmação de uma Teoria da História. As 
questões nela tratadas foram colocadas em pauta pelos principais paradigmas teóricos construídos: o 
positivismo, o historicismo e o materialismo histórico. Essas questões foram enriquecidas no século XX 
com as contribuições oferecidas pela Escola dos Annales especialmente, mas não de forma exclusiva, 
que promoveram revisões e ampliações conceituais e metodológicas no campo da História.
Podemos afirmar, utilizando as palavras de Marc Bloch, expoente da Escola dos Annales, que a 
História é uma “ciência em construção”. Ao reconhecermos isso, o estudo de suas proposições teóricas 
assume especial interesse.
Contudo, antes de seguirmos adiante, é importante distinguir três áreas de estudo da História que, 
embora relacionadas, têm identidades específicas que devem ser consideradas. São elas: a Teoria da 
História, a Metodologia e a Historiografia, que devem ser tratadas de forma articulada, mas pensadas 
separadamente.
Podemos considerar de forma bastante simplificada que na Teoria da História o interesse é o 
estudo dos modos de ver e pensar a História. A Metodologia diz respeito aos procedimentos e técnicas 
desenvolvidas pelos historiadores para a produção do conhecimento histórico. Já a Historiografia pode 
ser compreendida como a análise do conjunto das obras produzidas pelos historiadores e a reflexão 
sistemática sobre elas.
O campo de discussões é vasto e nele os historiadores têm se lançado de forma intensa e muitas 
vezes apaixonada. Tratar de algumas questões fundamentais relativas à Teoria da História é o nosso 
principal objetivo.
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TEORIA DA HISTÓRIA
Unidade I
1 HISTÓRIA E MEMÓRIA
A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura 
salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de 
forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão 
dos homens.
Jacques le Goff
Certamente você já ouviu frases que lamentam a pouca importância dada no país ao nosso passado, 
como as que se seguem:
• O povo brasileiro não tem memória.
• Somos um país sem memória.
• O povo brasileiro não conhece sua História.
• Somos um país sem passado.
Frases como essas costumam ser acompanhadas de outras, com forte conteúdo de urgência, nas 
quais se ressalta a necessidade de reverter a situação apontada, tais como:
• Precisamos valorizar a nossa História.
• É preciso resgatar o passado.
• Devemos recuperar nossa memória.
• Precisamos preservar nosso patrimônio histórico.
• É preciso defender a memória nacional.
Embora nossa tendência seja a de concordar com elas, de início, examinando melhor cada uma, 
percebemos que é preciso ter cautela. Algumas questões precisam ser feitas: quando se fala de “nossa” 
História, trata‑se da História de quem? Da mesma forma, em um país com tanta diversidade e com 
expressiva desigualdade social, quem seria exatamente o “povo” brasileiro? Nessas formulações que 
remetem a uma visão da existência de apenas “uma História”, capaz de representar o passado de todos 
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Unidade I
os brasileiros, desvia‑se a percepção das diferenças que existem em nossa sociedade. Apresenta‑se a 
História da nação como sendo de todos. Com isso, dissolvem‑se as desigualdades sociais, as diferenças 
de gênero, as particularidades regionais e a diversidade cultural. Afinal, contar a História do Brasil sem 
considerar tudo isso é esquecer como foram diferentes, em muitos aspectos, as histórias das diferentes 
regiões do país; de afrodescendentes, indígenas e brancos de origem europeia; de homens, mulheres e 
homossexuais; de camponeses, operários, industriais e profissionais liberais e tantos outros grupos que 
viveram e vivem em nosso país.
Todavia, em outro nível, também, as frases apresentadas no início desta explicação podem ser 
discutidas. De fato, nelas, História, memória e passado parecem ter o mesmo significado. Na verdade, 
embora História e memória tenham como referência o passado, são conceitos diferentes, mas 
estreitamente interligados.
As palavras das historiadoras Zilda Yokoi e Tereza Aline P. Queirozrevelam isso:
Passado e memória dão conteúdo, identidade e espessura a todos os 
humanos. Por mais isolado que se encontre um grupo, uma comunidade 
ou mesmo um só indivíduo, todos estão imbuídos de um passado, de uma 
memória e de uma história (YOKOI; QUEIROZ, 1999, p. 7).
1.1 Memória e História: dois conceitos diferentes
[...] um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera 
do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é 
apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois.
Walter Benjamin
Tanto História, quanto memória, dizem respeito ao passado. A História refere‑se àquilo que foi vivido, 
mas é também o estudo do passado. Para isso se vale de registros que são os chamados documentos 
históricos. A partir deles é que se escreve a História. Nesse sentido, a História se constitui como uma área 
de conhecimento em que o passado é reconstruído a partir de uma operação intelectual.
Já a memória diz respeito à lembrança daquilo que aconteceu; está viva nos indivíduos e nos grupos 
sociais. Assim como uma pessoa não se recorda de tudo o que viveu, também nem todos os acontecimentos 
ficam na memória coletiva. Dessa forma, a memória compreende lembranças e esquecimentos.
A memória coletiva ou social está viva na consciência do grupo. Quando não tem mais como suporte 
um grupo, quando não há lembranças vivas compartilhadas, ela acaba e dá lugar à História. Para ficar 
mais claro, suponha que um determinado grupo social, uma sociedade humana, desapareça. Não há 
mais a lembrança viva da experiência desse povo, pois não há mais indivíduos que tenham participado 
daquela sociedade para lembrar como ela era. Só se pode conhecê‑la a partir dos vestígios que deixou e 
que irão servir para a produção do registro de sua história.
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TEORIA DA HISTÓRIA
 Saiba mais
O sociólogo francês Maurice Halbwachs (1877‑1945) cunhou o conceito 
de memória coletiva na década de 1920. Seu livro A memória coletiva (São 
Paulo: Vértice, 1990), com primeira edição publicada postumamente em 
1950, é obra de referência para estudos sobre memória.
Como área de conhecimento, a História tem múltiplas funções. À medida que faz o registro dos 
acontecimentos, garante a lembrança e constrói memórias. Ao possibilitar o conhecimento do passado 
estabelece meios de se compreender o presente, atribuindo‑lhe significado. Pode‑se dizer que o 
historiador transforma o passado em História e com isso contribui para a formação de uma memória 
coletiva, condição básica da construção das identidades sociais.
O texto a seguir traz interessantes reflexões sobre o tempo vivido auxiliando a compreensão das 
relações entre a memória, o passado e a História:
Os fatos de 30 anos atrás não são passado na minha vida. Para mim, meu 
passado não passou e minha história não envelhece. Minha memória pode 
alcançar os acontecimentos que vivi a qualquer momento, e posso revivê‑los 
como se ocorressem agora. Mas, se eu os narrar, quem me ouve não pode 
como eu vivenciá‑los. Por isso, para meus alunos, são contos o que para mim 
é vida.
Mas é assim que corre o rio da vida dos homens, transformando em palavras 
o que hoje é ação. Se não forem narrados, os acontecimentos e os nossos 
feitos passam sem deixar rastros.
Faladas ou escritas, são as palavras que salvam o já vivido e o conservam 
entre nós. Salvam os feitos e os acontecimentos da sua total desintegração 
no esquecimento.
A memória do já vivido e a sua narração numa história é o que possibilita 
a construção da História e das nossas histórias pessoais. Só os feitos e os 
acontecimentos narrados em histórias são capazes de salvaguardar nossa 
existência e nossa identidade.
Só conservados pela lembrança é que os feitos e os acontecimentos podem 
entrar no tempo e fazer parte de um passado. Recente ou antigo (CRITELLI, 
2008).
A questão da memória tem assumido especial relevância em nossos dias. A globalização, as novas 
tecnologias da informação e a condição efêmera das experiências sociais na sociedade contemporânea 
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Unidade I
têm produzido efeitos devastadores no sentido da desintegração das identidades coletivas. Como 
resposta a isso, avulta a função identitária da memória. Garantir a preservação da memória coletiva é 
condição de afirmação da identidade dos diferentes grupos sociais. O direito à memória é também uma 
questão de cidadania.
 Leitura obrigatória
Leia na biblioteca virtual sobre o termo História:
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. São 
Paulo: Ed. Contexto, 2007. p. 182‑185. Disponível em: <http://unip.bv3.
digitalpages.com.br/users/publications/9788572442985/pages/183>.
1.2 A memória coletiva numa perspectiva histórica
No âmbito da antropologia é possível considerar que a memória étnica atua na reprodução dos 
comportamentos nas sociedades humanas. A aquisição da linguagem falada ampliou as possibilidades de 
reprodução de comportamentos sociais e de armazenamento da memória para além dos gestos e hábitos 
repetidos. Os registros pictóricos e a escrita tornaram possível que isso se desse em algo exterior aos indivíduos.
A memória coletiva pode ser dividida de acordo com a existência, ou não, da escrita, embora não se 
possa fazê‑lo de forma absoluta. Os povos sem escrita ancoram sua memória basicamente na tradição 
oral. As sociedades letradas contam com mais suportes para armazenamento de memórias, mas nelas 
também subsiste a transmissão oral.
Podemos identificar as seguintes fases considerando o nível de oralidade e de utilização da escrita 
como suporte para a memória ao longo do tempo:
• oral: sociedades sem escrita;
• oral → escrita: pré‑história/antiguidade;
• oral/escrita: período medieval;
• escrita: século XVI (imprensa);
• eletrônica.
Numa sociedade em que a oralidade é a principal forma de armazenamento da memória, quase todo 
o edifício cultural está fundado sobre a lembrança dos indivíduos. Nesse caso, a palavra não é apenas 
forma de comunicação entre as pessoas, mas exerce a função básica de gestão da memória social. 
“Saber de cor” é fator de sobrevivência cultural e os mais velhos, os “indivíduos memória”, são figuras 
de destaque na sociedade.
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TEORIA DA HISTÓRIA
 Observação
Ainda hoje, em alguns países da África Ocidental, há indivíduos‑memória, 
como os chamados griots, considerados guardiões da tradição oral de seu 
povo, de suas origens e de sua história.
A memória pode ser evocada nos indivíduos de diversas maneiras. A memória afetiva, por exemplo, 
pode ser acionada pelos sentidos. Ao sentir um aroma ou o sabor de uma comida da infância é possível 
despertar nossa memória e lembrar acontecimentos a eles associados.
Lembramos mais quando nos envolvemos emocionalmente com o fato, ou quando conseguimos 
estabelecer uma rede associativa – técnicas mnemônicas bastante utilizadas pelas sociedades que 
ancoram sua memória na tradição oral. Os mitos nas sociedades orais são narrativas carregadas de 
emoção muitas vezes dramatizadas, agradáveis de serem ouvidas com o uso de rimas, músicas e rituais 
diversos. Recursos utilizados para perpetuar a lembrança nos indivíduos e preservar a memória social.
 Observação
Os mitos são narrativas próprias de uma dada cultura. Eles exercem a 
função de explicar a origem do seu povo e de seus costumes, fenômenos 
naturais ou eventos do seu passado, por meio da ação de personagens 
imaginários que podem ser homens comuns, deuses ou semideuses.
O advento da escrita cria uma novasituação em que os relatos não precisam mais ser reproduzidos 
ao vivo: podem ser guardados para outras gerações, deslocados no tempo e no espaço. Podem estar fora 
do seu contexto de produção. O mito começa a ceder lugar para a História.
A memória pode, agora, estar inscrita em suportes que armazenam as informações. Listas, ordenações, 
tabelas e sucessões de palavras começam a surgir como primeiros usos da escrita na Mesopotâmia 
relacionados à contabilidade e inventários dos templos para cobrança de impostos. Na sequência, o 
início do registro dos feitos dos reis estabelece uma fronteira tênue entre História e memória.
Após o surgimento da escrita, e por muito tempo ainda, as sociedades humanas apoiaram‑se muito 
na manutenção da memória na oralidade. Ao tratar da questão da memória no período medieval, o 
historiador francês Jacques Le Goff revela alguns procedimentos usados para garantir a continuidade 
da memória em uma sociedade ainda não imersa totalmente na escrita:
Nas sociedades chamadas feudais, o acesso à escrita era monopólio de 
alguns homens, os quais pertenciam todos à Igreja [...] Todos os outros 
homens, grandes e pequenos, viviam muito bem sem o texto escrito. 
Entre eles, as relações se baseavam na memória. Mas eles usavam outros 
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Unidade I
meios para consolidá‑la. Primeiro, a cerimônia. Todo ato social de alguma 
importância devia ser público, realizar‑se diante de uma assembleia 
numerosa, cujos membros guardavam em depósito a lembrança e cuja 
confirmação esperava‑se que eles garantissem mais tarde, eventualmente, 
tanto daquilo que tinham visto como ouvido. Palavras, gestos, enfiados 
num ritual a fim de se imprimirem mais profundamente na memória do 
grupo para serem, no futuro, relatados. Ao envelhecer, as testemunhas se 
sentiam obrigadas a transmitir à sua descendência o que elas conservavam 
na memória, e essa herança de recordações deslizava assim de uma 
geração para outra. E para que ela não se deteriorasse demais, recorria‑se 
a alguns artifícios. Tomava‑se o cuidado, por exemplo, de introduzir na 
assistência crianças bem jovens e, às vezes, de bater‑lhes violentamente 
no momento principal da cerimônia, esperando que, ligando‑se a 
lembrança do espetáculo à lembrança da dor, elas esqueceriam menos 
rapidamente o que tinha se passado diante delas. Ou então conservava‑se 
cuidadosamente um certo objeto que, nos ritos de investidura, passara de 
uma mão a outra, sob o olhar do povo, para significar a transmissão de 
um direito – como esses ramos, essas facas, essas pedras que se encontram 
ainda, por vezes, nos arquivos, ligados a um pergaminho, a um documento 
que um escriba fora chamado para redigir, mas que não parecia oferecer 
garantia, parecendo o objeto bem melhor que o texto, aos olhos de tanta 
gente que não compreendia o latim. Gente que, para garantir o arranjo 
de todas as relações sociais, não confiava nos textos, mas na memória, 
nessa memória coletiva que era o “costume” – um código muito estrito, 
imperioso, embora não estivesse em parte alguma registrado (LE GOFF, 
1989, p. 167‑168).
Dessa época em diante, os suportes para a memória se ampliaram. O surgimento da imprensa no 
início da época moderna e a intensificação do uso da palavra impressa desde então têm nos tornado 
cada vez mais uma sociedade que depende de registros escritos para preservação da memória. Em 
nossos dias, a memória eletrônica tem ampliado de forma extraordinária a possibilidade de guardar 
informações em bancos de dados, sons, imagens e arquivos digitalizados em geral, com impacto 
crescente nas possibilidades de armazenamento da memória.
 Leitura obrigatória
Leia na Biblioteca Virtual sobre memória:
CARRETERO, M.; ROSA, A.; GONZÁLEZ, M. F. et al. Ensino da história 
e memória coletiva. São Paulo: ArtMed, 2007. p. 32‑55. Disponível em: 
<http://unip.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572442985/
pages/275>.
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TEORIA DA HISTÓRIA
1.3 Os “lugares de memória”
A memória se cristaliza nos objetos, nos artefatos, nas construções, nos gestos e nas imagens. É 
fácil comprovar que um objeto que teve algum significado para nós funciona como recordação do que 
vivemos. Mas, e objetos que pertenceram a épocas distantes de nós? Que tipo de memória eles conservam? 
Na verdade, uma ferramenta, um artefato ou um edifício, por exemplo, são locus de conservação da 
memória. Como componentes da cultura material, conservam inscritas as técnicas utilizadas em sua 
produção, as relações sociais envolvidas, o modo de vida de quem os usava, as formas de trabalho e 
muitas outras informações a serem decodificadas.
O historiador francês Pierre Nora, da Nova História, pode nos ajudar a entender isso melhor. Ao estudar 
símbolos relacionados ao sentimento nacional francês, desenvolveu o conceito de “lugar de memória”. 
Os monumentos, medalhas, moedas comemorativas e demais símbolos então criados serviriam para 
cumprir a função de inscrever em objetos a memória desse evento que se queria perpetuar. A memória 
assim cristalizada assumiria um tom de celebração.
As memórias podem se alojar em muitos objetos e lugares, mas nem todos são “lugares de memória”. 
Para isso, é preciso ter havido uma “vontade de memória”, uma dada intenção memorialista em sua 
concepção.
Em Les Lieux des Memoires, ou Os Lugares de Memória, coleção de livros publicados na França entre 
1984 e 1986, Nora considera que o ritmo das mudanças ocorridas com a sociedade industrial produziu 
uma sensação de aceleração da História e uma consciência de ruptura com o passado. As instituições que 
asseguravam a conservação e transmissão de valores, tais como a Igreja, a escola, a família e o Estado, 
estariam perdendo sua força. Nessa sociedade, marcada pela mudança e condenada ao esquecimento, 
haveria uma dissociação entre memória e História, criando a necessidade de se instituir locais que 
serviriam como refúgio para a memória. Os “lugares de memória” seriam necessários por não termos 
mais como ancorar a memória não mais espontânea.
Uma sociedade marcada pelo signo da História, como a nossa, seria uma sociedade sem memória. 
Se habitássemos ainda nossa memória, não seria necessário haver os “lugares de memória”. Museus, 
arquivos, monumentos e símbolos comemorativos, para citar os exemplos mais evidentes, estariam 
ocupando o lugar da memória em uma sociedade vivendo integralmente sob o signo da História.
 Observação
Pierre Nora promoveu de 1978 a 1981 um seminário na École des 
Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), com participação de vários 
intelectuais para discutir questões relacionadas à memória e à identidade 
nacional francesa, que resultou em um conjunto de sete volumes, Les Lieux 
des Memoires ou Os Lugares de Memória, publicados entre 1984 e 1986.
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Unidade I
As primeiras instituições criadas para “guardar memórias”, com o surgimento da escrita, foram as 
bibliotecas reais destinadas a abrigar os códigos e demais registros. Monumentos construídos para 
perpetuar a lembrança das vitórias dos imperadores romanos, tais como os “arcos do triunfo”, são outros 
“lugares de memória” da Antiguidade. Na Idade Média tivemos as bibliotecas de conventos, os livros e 
os primeiros arquivos. O século XVIII europeu produziu um sem número de moedas, selos e medalhas 
destinados a simbolizar e marcar a existência das monarquias europeias. Entretanto, foi no século XIX que 
proliferaram os “lugares de memória” relacionados à necessidade de afirmação dos estados nacionais. 
A memória em questãonesse momento não dizia mais respeito à celebração de feitos extraordinários 
dos reis e dos poderosos. Estava relacionada à configuração de uma memória coletiva que se queria 
identificada com uma memória nacional. O surgimento dos arquivos nacionais, das bibliotecas nacionais 
ou dos museus históricos nacionais está estreitamente vinculado a esse movimento. O caminho para 
a concepção da existência de um patrimônio histórico a ser preservado, como herança e garantia da 
preservação da memória, estava aberto.
1.4 A memória manipulada
É preciso destacar que o acesso à memória é uma questão política. A memória coletiva está sujeita a 
esquecimentos e silêncios, pois pode ser manipulada e objeto de disputa de poder. Aqueles que se situam 
em posição de controle têm a possibilidade de ressaltar alguns aspectos do passado que lhes favoreçam 
e relegar outros ao esquecimento. A manipulação daquilo que vai ser lembrado é fonte de poder. Resulta 
que a memória assim tratada é artificial e excludente. As camadas sociais que não têm sua memória 
resguardada são relegadas ao esquecimento, como se sua história não tivesse acontecido. Dessa forma, 
o esforço de grupos sociais marginalizados ou excluídos em busca da preservação de sua memória e da 
sua história é um ato político na busca de afirmação de um direito e da sua própria identidade social.
Cumpre destacar o quanto movimentos de negros, mulheres, homossexuais e defensores dos 
indígenas em nosso país têm procurado, nas últimas décadas, esquadrinhar o passado em busca dos 
vestígios de sua história e de sua memória. Nesse processo, avulta a concepção de que é preciso promover 
a democratização da memória.
 Saiba mais
Uma Cidade Sem Passado, filme de Michael Verhoven, produzido em 
1990, trata dos silêncios e esquecimentos, da manipulação e do acesso à 
memória como questões políticas em uma cidade alemã que renega sua 
vinculação com o nazismo.
2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
A História como forma de conhecimento específico vem sendo sempre renovada em um processo 
contínuo. Ao longo do tempo variaram as concepções sobre seu objeto de estudo, a natureza do 
conhecimento produzido, as formas válidas de reconstruir o passado e de construir interpretações. 
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Nesta parte, iremos tratar de algumas destas questões. Vamos começar procurando definir o nosso 
próprio objeto de estudo.
2.1 O que é História?
Como já vimos, há uma coincidência do termo História que se aplica tanto à área de conhecimento 
quanto ao seu objeto de estudo. A História como área do conhecimento tem como objeto de estudo a 
história do tempo vivido. O homem em sua interação com a natureza e com os outros homens vive a 
História e a constrói. Essa História é um processo dinâmico no qual estamos todos inseridos e do qual 
somos parte ativa.
Contudo, qual a natureza do conhecimento histórico? Seria a História uma ciência, com características 
específicas da área das humanidades, mas ainda assim uma ciência? Ou seria, antes de tudo, uma 
narrativa com destaque para sua dimensão literária e discursiva?
A ideia de que se pode conhecer o passado por meio da investigação do que aconteceu está na 
essência daquilo que chamamos História. Um histor, na Grécia Antiga, era alguém que fazia um 
julgamento baseado em uma investigação. Foi ali que primeiro se usou o termo historia, investigação, 
para designar o que entendemos hoje como História. Atribui‑se o uso primeiro dessa palavra nesse 
sentido a Heródoto, considerado o pai da História. Seu objetivo era impedir que os grandes feitos dos 
seus conterrâneos, os gregos, se perdessem. Impedir que suas ações fossem esquecidas levou, assim, os 
homens a registrá‑las originando aquilo que hoje entendemos como História.
Ainda que a origem da História nos leve para muitos séculos atrás, desde então ela sofreu alterações 
no seu significado. E, mais do que isso, sua constituição como área de conhecimento específico com 
um aporte teórico e metodológico a orientar determinado conjunto de práticas estabelecidas é muito 
mais recente. Com esse perfil, podemos situar sua emergência basicamente no século XIX, o “século da 
História”, com importantes contribuições e reformulações no século XX.
Desde seu surgimento podem ser reconhecidas diferentes concepções da História mais ou menos 
divergentes. Todavia, há um terreno comum que as aproximam, constituindo o que se entende na 
atualidade como sendo o que é específico dessa área de conhecimento. A História trata do homem 
em sociedade na sua relação com o tempo. Nesse estudo há que se considerar também a importância 
do espaço. A isso se acrescenta o caráter de mudança que atravessa a história humana, sujeita a 
transformações no transcorrer do tempo.
Vale lembrar que o tempo histórico não corresponde estritamente ao tempo cronológico, embora 
seja claro que calendários, periodizações e marcos de tempo são importantes. Contudo, a temporalidade 
histórica comporta referenciais de mudança mais amplas, com ritmos lentos ou mais acelerados de 
transformação. Essas considerações serão retomadas ao estudarmos as contribuições da Escola dos 
Annales para a historiografia.
A vida humana em sociedade em sua temporalidade é o objeto de estudo da História. Mesmo quando 
trata das realizações individuais do homem, o interesse da História está nas suas imbricações com o 
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Unidade I
contexto social em que vivia. A questão dos heróis, dos reis e governantes pode deixar isso mais claro. 
Por séculos a História enalteceu as realizações extraordinárias dos grandes personagens apresentados 
muitas vezes como heróis, até chegarmos à situação atual em que se busca um entendimento mais 
amplo do passado, considerando a multiplicidade de agentes sociais envolvidos no processo histórico. 
Mesmo naqueles momentos, o foco do historiador não deixava de apontar para a sociedade. Como 
afirmam Zilda Yokoi e Tereza Aline em obra já citada:
Apesar de o indivíduo existir na história, não será ele o objeto principal 
do historiador. Mesmo em períodos em que se privilegiou uma história 
de heróis, foi impossível caracterizar a heroicidade isoladamente; o herói 
sempre precisou de um momento adequado para demonstrar sua habilidade 
e, principalmente, de uma identificação com um objetivo suprapessoal, com 
um grupo e com ideais por este concebidas. As relações interpessoais, a 
construção mental e física do mundo, o exercício do poder de uns sobre 
os outros, os encontros entre diferentes estão na base daquilo que Virginia 
Woolf definia como “fantasma imenso e coletivo, incapaz de ser exorcizado”, 
ou seja, o passado, ao qual o historiador dará forma para que ele se 
transforme em história (YOKOI; QUEIROZ, 1999, p. 8).
O século XX trouxe reflexões importantes sobre o conhecimento histórico, encaminhando seu 
entendimento como resultante de um processo de construção. Walter Benjamin, para citar um representante 
destacado dessa ideia, defende para a História uma relação de construção com o passado. Em 1940, este 
filósofo alemão escreveu o livro Teses sobre o Conceito de História, um importante trabalho sobre o assunto. 
Para ele, a identificação com o passado remeteria a uma visão historicista, paradigma historiográfico que 
iremos estudar mais adiante, questionado por esse filósofo. Benjamin, a partir de um referencial teórico 
marxista, entende a História como palco de disputa entre as classes pelo poder, resultando desse embate 
“vencidos” e “vencedores”. Daí a existência de uma História dos vencidos X História dos vencedores. Esta 
última, construída de forma a ocultar a história dos vencidos e lhes retirar o direito à sua memória.Também Pierre Nora, já no contexto da historiografia da Nova História francesa, entende a História 
como uma reconstrução do passado, sempre problemática e incompleta daquilo que não é mais. Em sua 
reflexão sobre as diferenciações entre História e memória citada na parte anterior deste texto, aponta 
para o fato de que os historiadores se voltam para o passado para reconstruí‑lo a partir de fragmentos 
que chegam até nós, os chamados documentos históricos.
 Lembrete
A História, ao estudar o passado, se vale da memória e, com um 
movimento circular, também a constrói. A memória é, portanto, 
matéria‑prima da história e também é por ela produzida.
Outra questão deve ser considerada ao se refletir acerca das características do conhecimento 
histórico. Desde, pelo menos, as contribuições da historiografia produzida pela Escola dos Annales, objeto 
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TEORIA DA HISTÓRIA
de estudo da quarta unidade deste livro‑texto, não é possível considerar uma objetividade absoluta na 
tarefa do historiador. Há que se levar em conta, sobretudo, as implicações na natureza da produção do 
conhecimento que conduzem à consideração das subjetividades existentes na produção historiográfica, 
assunto a ser abordado mais adiante.
Benedetto Croce, em sua Teoria e Storia della Storiografia, obra de 1917, já apontava para a 
necessidade de se entender a História na sua relação com o tempo presente. Isso ficou mais evidenciado 
na Nova História francesa do século XX. Considera‑se, desde aí, que o estudo do passado se faz a 
partir de um mergulho feito pelo historiador no presente em que vive. Dessa forma, toda História é 
contemporânea, ou seja, está imersa no tempo histórico de sua produção.
Dois expoentes da prestigiosa Escola dos Annales lapidaram a ideia de que há uma relação necessária 
entre o estudo da História e o presente, com frases que se tornaram célebres. Para Marc Bloch seria 
preciso “compreender o passado pelo presente”. E Lucien Febvre dizia que a História teria como função 
“organizar o passado em função do presente”. Não se trata de escrever sobre o presente, ainda que haja 
uma vertente historiográfica que tenha esse propósito, mas isso é outra questão. O que se destaca nas 
frases citadas é o fato de a História ser elaborada a partir das indagações, preocupações e necessidades 
contemporâneas ao historiador.
A construção do conhecimento histórico parte sempre do presente. Por isso, o estudo do passado 
não se esgota. Ao contrário, há um retorno constante a um passado que nunca tem fim:
Paradoxalmente, nesta condenação do historiador ao presente situa‑se a 
eternidade de um passado que nunca se esgota. Caso contrário, a história 
da Grécia, por exemplo, teria sido escrita por Heródoto e ponto final. No 
entanto, cada século reelaborou a história grega dentro de suas perspectivas 
e possibilidades. Nos limites entre a “consciência possível” e a “consciência 
real”, próprias de seu tempo, o historiador busca no passado a consciência 
de seu próprio tempo (YOKOI; QUEIROZ, 1999, p. 8).
Sendo assim, a cada geração de historiadores, por assim dizer, há modificações na História. As 
transformações ocorridas no contexto histórico estabelecem novo repertório de preocupações e 
questões a serem feitas para o passado. As novas configurações da inserção social do historiador nesse 
novo contexto conduzem para a mesma direção. E, ainda, cada inflexão importante no quadro teórico 
metodológico ou alargamento do horizonte teórico da disciplina produz modificações na construção 
do conhecimento histórico. Tudo isso faz com que as versões sobre o passado disponíveis em um 
dado momento estejam sempre sujeitas a alterações, retificações, ampliações, avanços, retomadas e 
abandonos. Novas versões surgem substituindo ou complementando as anteriores.
De qualquer forma, as versões se sucedem, ainda que a mais nova não substitua necessariamente 
as anteriores, o que também pode vir a ocorrer. Por isso, as interpretações da História e as versões que 
originam não são únicas nem definitivas. Uma interpretação histórica não significa um ponto final, 
também não abole necessariamente as anteriores. As versões podem ser antagônicas, complementares e 
até mesmo igualmente válidas, embora com pontos de vista diferentes. Isso faz com que seja importante 
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considerar o quadro teórico metodológico utilizado no estabelecimento das referências fundamentais e 
dos contornos da interpretação construída.
Em resumo, se o passado não pode ser alterado, o mesmo não acontece com a História. O historiador 
está sempre retornando ao passado em um trabalho contínuo e persistente. Para entender isso, será 
preciso estudar como se constrói o conhecimento histórico e como se realiza o trabalho do historiador, 
o que será tratado mais adiante.
2.2 Para que serve a História?
Com muita frequência ouvimos a pergunta anterior, seja em sala de aula ou em conversas corriqueiras. 
Por que seria importante estudarmos um passado que já aconteceu e não pode ser alterado? Qual seria a 
finalidade de se conhecer o passado? Não seria mais útil nos dedicarmos a outras questões do presente?
Essas perguntas já foram formuladas muitas vezes ao logo do tempo. O que nelas está em dúvida é 
a própria legitimidade da História, seja como disciplina acadêmica seja como conhecimento necessário 
para a vida. As respostas variam de acordo com as diferentes concepções de história correntes. A utilidade 
da história, sua finalidade, está sempre relacionada ao que se espera alcançar com seu conhecimento.
Com os gregos, tem início a concepção de que a História seria ”mestra da vida”, ou seja, teria uma 
função de ensinamento na medida em que as gerações mais novas aprenderiam com os erros e acertos 
das que viveram no passado. Essa ideia alcança o senso comum e perdura até hoje, sobretudo em visões 
mais tradicionais da História. Entretanto, já aprendemos há tempos que o passado não se repete e as 
condições são sempre outras, limitando as possibilidades de aplicar lições vindas de outros tempos. Mas 
a comparação com fatos do passado, com outras formas de se viver e de pensar que existiram pode 
auxiliar a reflexão sobre acontecimentos atuais, ainda que não possa haver uma transferência imediata 
das experiências.
Veja, por exemplo, trechos de um comentário de jornal português sobre a Primeira Guerra Mundial 
e conflitos recentes:
No 1º de Janeiro, o Financial Times fez de 1914 o tema do seu editorial: 
“Reflexões sobre a Grande Guerra — o mundo pode ainda tirar as lições da 
catástrofe de 1914.” O diário da City pensa que “o mundo de 2014 não está 
à beira de um tal desastre histórico”. Mas o centenário é uma oportunidade 
para estudar algumas lições: “É uma loucura ir para a guerra na crença de 
que será curta e com consequências controláveis. Em 1914, alguns políticos 
e generais europeus, cuja visão fora moldada pelas guerras que unificaram 
a Alemanha e a Itália no século anterior, incorreram nesta ilusão. O mesmo 
fizeram Washington e Londres quando invadiram o Iraque em 2003. Quão 
errados estavam estes chefes de guerra em ambas as ocasiões [...] Em geral, 
os homens aprendem pouco com a História. Mesmo assim, 1914 ajuda 
a pensar 2014. “Penso que não podemos tirar lições claras da História. 
Mas podemos aprender a afastar algumas possibilidades perigosas”, diz 
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MacMillan. Deixa um conselho mínimo: “Nunca devemos tomar a paz como 
garantida nem acreditar que somos demasiado civilizados para guerrear. Os 
europeus cometerameste erro em 1914 (FERNANDES, 2014).
Outra forma recorrente de se entender a importância do conhecimento do passado refere‑se à 
possibilidade de se encontrar as nossas “origens”. Essa busca da gênese de povos, dinastias, conflitos 
atuais, instituições e várias outras tem sido perseguida desde o alvorecer das civilizações. Conhecer as 
nossas “origens” tem como finalidade compreender de que forma chegou‑se à situação presente e à sua 
configuração. Mas, tem servido também para justificar situações de hegemonia de umas nações sobre 
outras ou de grupos sociais específicos sobre o conjunto social. Ou seja, a busca das origens pode servir 
como recurso de legitimação da dominação social.
Ainda nesse sentido, é importante destacar que durante o século XIX, quando a História como área 
de conhecimento específico em sua configuração recente foi forjada, a busca das origens significou 
construir a “biografia da Nação”. A História então pensada era a História nacional e construí‑la fazia parte 
da agenda dos projetos nacionais em curso. Vivia‑se um momento decisivo na consolidação dos estados 
nacionais europeus e o continente americano investia no processo de emancipação colonial. Construir a 
história dessas nações emergentes fez da História recurso valioso de legitimação dos processos em curso 
com suas especificidades quanto às forças políticas em disputa. A História da Nação surge a partir desse 
envolvimento com os projetos de construção nacional, marcando de forma profunda a historiografia de 
lá para cá. Somente nas últimas décadas isso começou a ser modificado com a ênfase conferida a outras 
abordagens historiográficas.
Nos exemplos anteriores e em tantos outros, revela‑se a íntima relação existente entre História 
e poder. As versões da História podem servir para justificar poderes constituídos ou alavancar outros 
que aspiram a essa condição, oferecendo argumentos de legitimidade. Em direção oposta, o acesso ao 
conhecimento histórico pode significar o desvendamento de desigualdades construídas no passado, 
abrindo caminhos para sua superação. Quanto aos historiadores, ao longo do tempo sua atividade 
esteve bastante vinculada aos reis, governantes, grupos hegemônicos da sociedade e poderosos em 
geral. Por outro lado, especialmente no passado mais recente, com seu trabalho, revelaram situações 
de dominação e exploração responsáveis por condições sociais e políticas atuais. Nos dois casos, fica 
evidenciado o quanto há de implicações políticas no papel social do historiador.
No âmbito das vinculações políticas da História, defende‑se também sua importância tendo em vista 
um projeto de transformação social. Nesse sentido, o conhecimento histórico seria necessário para fazer 
avançar projetos desse tipo; neste caso, a vertente marxista da historiografia. O conhecimento histórico 
seria recurso poderoso de conscientização política, possibilitaria o entendimento das desigualdades 
econômicas e sociais, assim como das condições políticas de dominação existentes. E, ainda, ao verificar 
as transformações ocorridas no transcurso do processo histórico, a realidade do tempo presente não 
seria vista como imutável. A possibilidade da mudança passaria a ser vista como possível. Atitudes de 
acomodação, ao serem substituídas por desejos de mudança, poderiam levar a ações concretas feitas 
nesse sentido. Nessa linha de raciocínio, o conhecimento sobre o passado se torna peça fundamental 
no projeto de transformações a serem conquistadas. Avulta o papel da História e do historiador nesse 
processo, concebidos como tendo importante função social.
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Em todos os casos, a História confere significação para o presente e dá conteúdo para nossa 
identidade social. Com o conhecimento do passado e o estudo das transformações e permanências de 
nossa trajetória histórica, nossa existência tem mais densidade e o presente adquire inteligibilidade.
 Leitura obrigatória
Para saber mais leia na biblioteca virtual:
BEZERRA, H. G. Ensino de História: conteúdos e conceitos básicos. In: 
KARNAL, L. (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 
6. ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 37‑48. Disponível em: <http://unip.bv3.
digitalpages.com.br/users/publications/9788572442169/pages/37>.
2.3 O que é Teoria da História?
Tratar de Teoria da História significa buscar compreender as formas do pensamento histórico em 
sua base conceitual e científica. Isso nos permite perceber como se estabelecem os nexos entre as 
observações empíricas e como se constroem as interpretações.
Pode‑se falar em Teoria da História apenas a partir dos investimentos feitos no século XIX, no 
sentido de sua afirmação da História como disciplina científica. Contudo, há especificidades na área das 
ciências humanas e sociais que as distinguem das outras ciências. Isso dificulta a transferência direta 
dos princípios básicos do método científico, tais como a experimentação e a possibilidade da repetição 
dos fenômenos para construir leis de causalidade. Com isso, assume‑se que o caráter científico da 
História tem particularidades que precisam ser consideradas.
É preciso destacar, também, o caráter polissêmico da palavra teoria especialmente no âmbito das 
ciências sociais. Sobre isso nos diz Raymond Boudon:
[...] a polissemia do termo teoria nas ciências sociais parece resultar, em larga 
escala, do fato de que as situações lógicas que as disciplinas encontram, 
quando se propõem explicar este ou aquele fenômeno social, são diversas e 
nem sempre se deixam reduzir ao modelo epistemológico saído das ciências 
da natureza e em particular das ciências físico‑químicas. De maneira 
que a atividade teórica assume formas diferentes conforme os contextos 
(BOUDON, 1976, p. 117).
Em um sentido amplo, uma teoria é uma forma de ver o mundo. Quando surge uma nova teoria, ou 
novos paradigmas subsituem os existentes, as formas de ver o mundo se alteram, o horizonte teórico 
muda.
Na História há teorias gerais ou aquelas dirigidas a acontecimentos, ou fenômenos mais 
particularizados. Em um arco amplo que abrange desde o que se entende por História até teorias mais 
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ou menos generalizadoras, como o funcionamento dos regimes totalitários ou o nazismo em particular, 
situa‑se o campo teórico da História.
Vale destacar que a Teoria da História é território de disputas e diálogos, não necessariamente de consensos. 
As teorias e modelos paradigmáticos oferecem orientações para os caminhos a serem percorridos pelos 
historiadores que nem sempre escolhem as mesmas direções. A riqueza do trabalho do historiador especialmente 
nos dias de hoje está na pluralidade de possibilidades. Não há necessidade de alinhamento exclusivo a tal ou qual 
orientação teórica ou modelo historiográfico. Entretanto, isso não significa pouco rigor. Ao contrário, exige um 
cuidado meticuloso quanto à metodologia e profundidade teórica em suas opções.
Neste curso, em meio a discussões teóricas, trataremos de princípios básicos pertencentes às 
diferentes concepções de história que têm norteado a definição dos objetos de estudo, as metodologias 
e as explicações construídas para o estudo do passado.
 Leitura obrigatória
Leia na Biblioteca Virtual sobre o termo teoria:
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. 
São Paulo: Ed. Contexto, 2007. p. 395. Disponível em: <http://unip.bv3.
digitalpages.com.br/users/publications/9788572442985/pages/395>.
Sobre o termo fonte histórica:
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. 
São Paulo: Ed. Contexto, 2007. p. 158. Disponível em: <http://unip.bv3.
digitalpages.com.br/users/publications/9788572442985/pages/158>.2.4 Como se constrói o conhecimento histórico?
A História, o tempo vivido, é o objeto do conhecimento histórico. Já se disse, o historiador transforma 
o passado em História. O conhecimento histórico resulta, pois, do trabalho dos historiadores. Mas como 
é esse trabalho?
Ainda que obras escritas sobre a História tenham surgido há vários séculos, podemos falar em 
conhecimento histórico produzido de maneira sistemática em meados do século XIX. Nesse momento é 
que se organiza a História a partir de parâmetros de uma ordem científica e, também, uma comunidade 
de historiadores que estabelece os contornos dessa disciplina em formação, contribuindo para a 
definição de alguns pressupostos básicos do trabalho do historiador que chegam até nós. Iniciam‑se ali 
investimentos sistemáticos para a configuração de uma metodologia de trabalho para o historiador que 
desde então vem sendo aprimorada.
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Unidade I
O conhecimento histórico resulta de um processo de pesquisa, crítica documental, 
reconstituição, análise e interpretação. Os historiadores procuram, sobretudo, explicar o que 
aconteceu. A interpretação que fazem do passado comporta uma metodologia específica; nisso 
está a possibilidade de se construir conhecimento válido, a partir de interpretações controláveis 
para as quais a metodologia oferece parâmetros de produção. A validação pelos pares confere 
credibilidade às interpretações resultantes.
Entretanto, é preciso destacar que há interferências importantes nesse processo a serem consideradas; 
de início, as condições de historicidade a que está sujeito o historiador, como já foi visto. Acrescente‑se 
a isso o grau de subjetividade que existe no seu trabalho e as opções teóricas que faz. Isso tudo interfere 
desde a própria escolha do tema a ser pesquisado e ocorre também na seleção de fatos vistos como 
relevantes, na seleção dos documentos e na interpretação final.
Cumpre ressaltar que a interpretação dos fatos realizada pelo historiador está diretamente relacionada 
à sua visão de história expressa na teoria que baliza o seu trabalho. São os aspectos teóricos que oferecem 
um conjunto de conceitos que orientam a interpretação a ser feita de acordo com determinada forma 
de encarar o processo histórico.
Por fim, é preciso alertar para o fato de que o conhecimento histórico está sujeito a 
manipulações mais ou menos inconscientes. As versões sobre o passado podem servir para 
justificar o poder ou para desvendá‑lo. Mas, ainda que o discurso histórico seja um campo fértil 
para reprodução de ideias e conceitos que reforçam e reproduzem situações de dominação e 
controle de poder, isso não se opera mecanicamente. Há uma mediação importante entre a 
obra de História e os mecanismos de poder que provêm das teorias, dos métodos e técnicas que 
funcionam para a obtenção de interpretações mais ou menos controladas, ainda que não se 
possa imaginar que o sejam de forma absoluta.
Uma singularidade da História é o uso de fontes de variados tipos como material básico para o 
acesso ao passado. O historiador não tem acesso direto a seu objeto de estudo, não pode por ele mesmo 
constatar os fatos de que trata. Trabalha a partir de vestígios de um passado que não existe mais. 
Depende das informações conseguidas em fontes históricas para reconstituir o passado. A base do 
trabalho do historiador está nos documentos históricos.
 Saiba mais
A característica de trabalhar com vestígios ou indícios e a impossibilidade 
de ter acesso direto a seu objeto de estudo foi abordado por Carlo Ginzburg 
em Mitos, Emblemas, Sinais (São Paulo: Companhia das Letras, 1990) como 
um “paradigma indiciário”. Esse paradigma investigativo estaria presente 
também na medicina e na investigação policial.
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TEORIA DA HISTÓRIA
A princípio, no âmbito da historiografia cientificista do século XIX, eram aceitos como legítimos 
apenas os documentos escritos e, mais ainda, somente aqueles provenientes de fontes oficiais. De lá 
para cá, o conceito de documento histórico se ampliou e são reconhecidos como tal todo e qualquer 
vestígio do passado.
Na historiografia do século XIX, o documento histórico tinha estatuto de verdade, mas a noção 
de documento como prova inquestionável já está distante. Considera‑se atualmente que os registros, 
ou ainda, os vestígios que nos chegam do passado, têm caráter fragmentário e lacunar, como já foi 
apontado. Enfatiza‑se, também, que estão sujeitos à visão e aos interesses de quem os produziu, por 
mais neutro que os documentos possam parecer. Cabe ao historiador considerar essas interferências 
quando procura reconstituir o passado a partir das fontes documentais disponíveis. É preciso lembrar 
que apesar das suas limitações quanto ao entendimento do documento, os historiadores do século XIX 
ofereceram contribuições importantes para a crítica documental que alcançam nossos dias.
Como lembrou Marc Bloch, em Apologia da História, trabalho publicado póstumo em 1949 (BLOCH, 
2001, p. 79), os documentos precisam ser interrogados pelo historiador. Caso contrário, permanecerão 
mudos. Sua riqueza depende muito da qualidade das perguntas que são para eles lançadas.
O historiador sempre parte de um questionamento que é feito no presente. Já dizia Fernand 
Braudel: “a História é filha do seu tempo”. Ainda que essa constatação lhe seja anterior, a Escola dos 
Annales enfatizou essa ideia com muita intensidade. E, mais do que isso, defendeu com ênfase que os 
questionamentos dirigidos para o passado deveriam ser feitos em consonância com a concepção de 
“história‑problema”, em que os interesses e os dilemas do presente seriam o ponto de partida para a 
investigação que o historiador desenvolveria.
Vale lembrar que o historiador é também um ser social e histórico; exerce sua função situada 
historicamente. As perguntas que dirige ao passado são feitas a partir do contexto histórico em que vive, 
de sua condição de classe, dos métodos e técnicas de que dispõe, da sua formação, do seu pertencimento 
a determinadas instituições de ensino ou pesquisa, das teorias e das concepções da história em curso. A 
cada época, o repertório das perguntas a serem feitas para o passado se altera.
Outra singularidade importante da História é a necessária consideração da temporalidade. Seu ponto 
de vista situa sempre os homens e suas realizações no tempo. Sua abordagem dispõe o objeto a ser 
estudado em condição de ser “historicizado”, enfocado na sua temporalidade.
A importância das considerações temporais origina a necessidade de se proceder a marcações de 
tempo na reconstrução do passado. É o caso da cronologia, das convenções de contagem de tempo e 
da periodização.
Em um nível, temos a periodização oficial constante nas definições de épocas históricas. A divisão 
em História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, por exemplo, está neste caso. Ou ainda, Era 
Vargas, República Velha, Ditadura Militar são outros casos retirados da historiografia brasileira. Vale 
chamar a atenção para as limitações das periodizações em geral, e das oficiais em especial. Aquelas 
que dizem respeito à História em geral foram construídas a partir da história europeia, denunciando o 
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Unidade I
quanto de eurocentrismo existe em nossa área de conhecimento. E no seu conjunto, as definições de 
períodos históricos o foram a partir de acontecimentos políticos que não são capazes de dar conta das 
transformações que se quer evidenciar.
De toda a forma, a periodização em sua essência tem caráter explicativo e é parte integrantedo 
trabalho do historiador. Cada evento, cada acontecimento, cada processo, cada fenômeno histórico em 
estudo está referendado em uma periodização já existente e enseja a construção de uma periodização 
específica a ser definida pelo historiador de acordo com o seu tema de estudo.
As discussões sobre temporalidade efetuadas no âmbito da Nova História marcaram a distinção 
entre o tempo histórico e o tempo cronológico. Observa‑se que há variações na maneira como se 
percebe a passagem do tempo e que o ritmo das mudanças não é o mesmo quando se consideram as 
instâncias econômicas, políticas, sociais e culturais.
O historiador trabalha com os ”fatos históricos”, mas não apenas com esses marcos do passado 
que já foram o seu principal objeto de estudo. Cada vez mais se pretende alcançar a complexidade 
da vida humana em sua trajetória histórica abrangendo as formas de viver e de pensar que existiram 
em outras épocas. Nas últimas décadas, os interesses dos historiadores têm se voltado com frequência 
para abordagens históricas que visam a contemplar outros aspectos do passado para além dos eventos 
memoráveis que foram tão celebrados na historiografia tradicional.
A atividade do historiador não se esgota em recolher as informações obtidas em registros e fontes 
documentais, organizá‑las e relacioná‑las. Seu exercício profissional implica construir interpretações 
capazes de reconstituir o passado e conferir‑lhe significado.
Como já vimos, a História comporta a existência de diferentes versões e interpretações do passado. 
Consideramos que sendo produzida a partir de um presente que se altera, modificam‑se também as 
questões que são formuladas para o passado. O historiador está no presente e é a partir dele que lança 
as perguntas para o passado de forma a construir sua explicação. Há uma historicidade intrínseca nesse 
processo que se inicia na própria escolha dos temas a serem abordados.
Contam para a escolha dos temas que conduzimos perguntas a serem feitas para o passado e a 
própria inserção social do historiador. Ainda que não seja uma determinação absoluta, a classe social à 
qual o historiador pertence, por exemplo, pode interferir no seu interesse sobre o passado. Como durante 
muito tempo os historiadores pertenceram a estratos sociais elitistas, em sua produção, na maioria das 
vezes, não contemplaram a história dos outros grupos sociais. A historiografia vem procurando corrigir 
isso nas últimas décadas.
Entretanto, partindo do mesmo lugar histórico‑social, o historiador pode chegar a conclusões 
diferentes. Referenciais teóricos e metodológicos divergentes são capazes de produzir isso. Novos 
documentos descobertos também. Acesso a informações desconhecidas podem alterar radicalmente o 
que se pensava sobre um acontecimento ou alterar a visão que se tinha sobre o passado.
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TEORIA DA HISTÓRIA
 Lembrete
O trabalho do historiador se dá em meio a teorias muitas vezes 
divergentes, em um palco de tensões e conflitos no qual nem sempre 
há concordâncias. A metodologia e a consistência teórica são balizas 
importantes para a construção de interpretações válidas sobre o passado.
Ainda que as versões construídas pelos historiadores sobre o passado possam ser diferentes, 
complementares em alguns casos, antagônicas ou excludentes em outros, em alguma medida o 
conhecimento histórico é cumulativo. O repertório de perguntas do historiador se ampliou, as pesquisas 
e os trabalhos produzidos se multiplicaram do século XX para cá, fazendo com que se saiba hoje sobre o 
passado muito mais do que se sabia em épocas anteriores.
 Leitura obrigatória
Leia na Biblioteca Virtual:
KARNAL, L.; TATSCH, F. G. Documento e história. A memória evanescente 
(p. 8 e seguintes). In: PINSKY, C. B.; DE LUCA, T. R. (Org.). O historiador e 
suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. Disponível em: <http://unip.bv3.
digitalpages.com.br/users/publications/9788572444514/pages/9>.
 Resumo
A História é a ciência que estuda o homem em sociedade no tempo. 
História e memória se referem ao passado, mas não são conceitos idênticos. 
A História reconstrói o passado a partir de vestígios e fragmentos deste 
que chegam até nós. Distingue‑se da memória da qual se alimenta, ao 
mesmo tempo em que a constrói, constituindo‑se em poderoso recurso 
de identidade social. Os “lugares de memória” são locais onde a memória 
se cristaliza quando não está mais viva nos grupos imersos nas sociedades 
que vivem sob a égide da História. Tanto a História quanto a memória estão 
sujeitas a controles e manipulações pelo poder, resultando em silêncios e 
esquecimentos.
À História atribuíram‑se finalidades diferentes ao longo do tempo. Já foi 
considerada “mestra da vida” e com ela procurou‑se conhecer as origens de 
povos e nações. Seu conhecimento também já foi considerado instrumento 
de transformação social e, em todos os casos, destaca‑se sua função de 
conferir significado para o presente.
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Unidade I
A História reconstrói o passado a partir dos “documentos históricos”. 
Considera as mudanças e as transformações havidas no tempo e também as 
permanências. Sua abordagem é sempre social e imbricada com o presente. 
O estudo do passado nunca é definitivo, podendo haver versões diferentes 
sobre este. Contam para isso o lugar social do historiador e suas filiações 
teóricas e metodológicas.
A afirmação da História como disciplina científica no século XIX 
ensejou a constituição da Teoria da História. Um conjunto de princípios 
e paradigmas teóricos tem se configurado desde então, engrossando o 
arcabouço teórico dessa disciplina que se caracteriza como um terreno de 
discussões e diálogos permanentes.
 Exercícios
Questão 1. A História e a Memória adotam abordagens do passado de naturezas distintas. Assinale 
a alternativa que corresponde a essas abordagens:
A) Enquanto a História se ocupa de padrões de continuidade ao longo do tempo, a Memória se 
ocupa de rupturas.
B) A História, por se constituir em um jogo de narrativas, é pouco confiável, enquanto a Memória 
oferece bases neutras e seguras para a abordagem do passado.
C) A História, compreendida como a “ciência do devir”, busca compreender imparcialmente as 
transformações ocorridas no passado, inclusive denunciando os usos políticos e ideológicos da 
Memória.
D) A ciência da História é a única forma legítima de abordagem do passado, trabalho que deve ser 
monopolizado pelo historiador. A Memória, por ser uma abordagem insuficiente, não consegue 
concorrer com a História, desvanecendo‑se.
E) Os historiadores nunca conseguem trabalhar com a memória, já que esta é sempre parcial.
Resposta correta: alternativa C.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: é a Sociologia que se ocupa de padrões. A História como ciência ocupa‑se das rupturas, 
e não necessariamente a Memória.
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TEORIA DA HISTÓRIA
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a Memória nunca é neutra ou fornece bases seguras, uma vez que, sendo produto 
de forças sociais e estando sujeita às limitações biológicas, sempre será parcial e se relacionará aos 
interesses de determinada classe.
C) Alternativa correta.
Justificativa: a História difere fundamentalmente da Memória por possuir um embasamento crítico, 
enquanto a Memória é o resultado de forças ideológicas, muitas vezes servindo à dominação de classe.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: os usos do passado não são de forma alguma monopólio do historiador. Ele oferece apenas 
uma visão,cientificamente orientada. Os produtores de Memória são, inclusive, mais numerosos e eficazes.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: os historiadores podem trabalhar com a Memória, desde que esta seja seu objeto de 
pesquisa. A construção da Memória é um dos temas mais abordados desde a década de 1970, inclusive, 
por influência de Jacques Le Goff.
Questão 2. (Enade 2005) O texto abaixo refere‑se à memória sobre a Idade Média.
A diferença entre o Renascimento e a Idade Média não foi uma diferença produzida por adição, mas 
por subtração. O Renascimento, tal qual nos foi descrito, não foi a Idade Média mais o homem, mas a 
Idade Média menos Deus, e o que houve aí de trágico, foi que, ao perder Deus, o Renascimento perdeu 
o próprio homem (Etienne Gilson, em 1932). 
A frase revela que o autor pretende:
A) recuperar a visão romântica do século XIX sobre a Idade Média, a primeira a formular a ideia de 
uma ruptura entre os dois períodos.
B) reabilitar a Idade Média, a expensas do Renascimento, mostrando uma superioridade espiritual da 
primeira sobre o segundo.
C) repudiar a visão dominante, segundo a qual a Idade Média não havia sido capaz de produzir uma 
filosofia própria.
D) retomar a concepção Iluminista do século XVIII, quando, pela primeira vez, a Idade Média passa a 
ser vista em pé de igualdade com o Renascimento.
E) reavaliar as duas épocas históricas, numa perspectiva que nega a tradicional ruptura entre ambas.
Resolução desta questão na plataforma.

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