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Unidade I PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO Profa. Neusa Meirelles Introdução ao pensamento social brasileiro O campo de estudos denominado pensamento social brasileiro abrange o conteúdo de distintas reflexões sistemáticas sobre a realidade brasileira, condições históricas e sociais em que emergiram e circularam como tendências de pensamento. O campo se constitui como peculiar discurso, em parte ancorado na problematização lógica das ciências, em parte expressando construção questionadora das artes, erudita e popular, sobre aspectos e facetas da realidade. Os primeiros tempos Como o europeu que tomou posse da terra, e só depois pensou o que fazer com ela, a construção do pensamento social brasileiro teve a terra brasileira na posição de objeto para o empreendimento colonial nas tramas históricas do mercantilismo europeu. Os povos nativos e os africanos escravizados eram “peças” na engrenagem colonial extrativista e comercial exportadora. Os primeiros tempos, o escravo Aqui o escravo era a mais útil e rentável “mercadoria”, fosse africano ou indígena; o comércio dos primeiros acabou sendo controlado por famílias tradicionais baianas, o comércio de indígenas, desde o início, garantiu a sobrevivência das famílias patriarcais paulistas, cujos chefes, impossibilitados de competir com a produção do açúcar no nordeste, passaram a fornecer índios para engenhos e fazendas. O africano fora esvaziado de sua humanidade para ser escravo, “peça” inserida na cadeia de produção mercantil (como trabalho em potência); esse indivíduo objeto era apregoado para venda nos mercados, avaliado pelos músculos, canela fina, bons dentes, olhos vivos e procedência, critérios que eram do conhecimento dos colonizadores. Os primeiros tempos, a escravidão A escravidão despertou rebeldia e o resgate de práticas de sobrevivência trazidas da cultura africana, formando o conhecimento aplicado na construção dos quilombos, comunidades paralelas à ordem, e superando diferenças culturais, dava-se a constituição em liberdade, de um sujeito de si. Outros processos de superação da condição de escravo abrangeram distintas estratégias individuais e limitadas possibilidades dentro do sistema. Os nativos Para o diversificado universo cultural indígena, não se colocava a questão de ser sujeito, mas a do pertencimento ao seu povo e cultura, portanto, desde o início os indígenas entendiam os estratagemas utilizados pelos europeus para submissão e poder, restando a eles embrenharem-se na floresta, para além das fronteiras atingidas pelos brancos, ou conviver com o invasor na posição de um objeto submisso aos seus desígnios. Mas o processo de contato entre o europeu e o indígena na formação social, em condições distintas de poder, foi (e ainda é) uma história de dominação e de morte. O europeu tomou posse da terra, depois pensou o que fazer dela No solo brasileiro colonial, de nação em formação, os conflitos da economia e política europeias se refletiram nas estratégias do poder político, nos planos: institucional, militar e econômico; Mais tarde, já nos séculos XIX e XX, as elites de poder identificadas com a Europa e com EUA, também pensaram o Brasil na posição de Sujeito, mas segundo seus propósitos e interesses, situando a gente brasileira como outro relegado à invisibilidade da exclusão social. O europeu A colonização comercial portuguesa, fundada no monopólio da terra e na escravidão, deu origem a uma sociedade brasileira segmentada em estratos sociais distinguidos por preconceitos associados à origem, riqueza e cor da pele, o que formou a base da condição de subalternidade atribuída aos segmentos majoritários da formação social por gerações, apesar de ser esse contingente (povo) quem construiu o país. O modelo de colonização Para Roberto Schwartz (1981) o modelo de colonização produziu o latifundiário, o escravo e o “homem livre”, na verdade dependente do favor de “um grande” proprietário de terras para ter acesso à vida social e aos seus bens; Pensar o Brasil a partir dessa peculiar inserção na formação social, baseada na dependência e favoritismo, implica examinar e superar a própria subalternidade no desenvolvimento de um pensamento crítico. Isso aparecerá de início na arte, e depois, de forma sistemática, em outros campos; por consequência, um falso pensamento liberal servirá de base para pensar a sociedade brasileira. Autonomia política A construção da autonomia política sinaliza o processo de elaboração de um pensamento social brasileiro, em que a posição de sujeito deixou de ser ocupada pelo colonizador, para ser construída por dois segmentos de elite: uma elite intelectual peculiar e uma elite patrimonial em geral endinheirada, variando a composição conforme a região, inserção na economia e dinâmica política instaurada na formação social. No exercício de poder de força, os dois segmentos civis foram secundados pela força militar e Guarda Nacional. Autonomia política Com a autonomia política e organização em Estado Nação (construção burguesa típica), o Brasil se insere no capitalismo industrial em formação, expandido a partir da Europa; Foi necessário redefinir a categoria trabalho da economia colonial, de escravo para a de trabalhador assalariado, mudança que afetou diferentemente aos agregados, escravos (das cidades e do campo) e população indígena. O processo preservou o lugar social do “agregado” nas grandes fazendas, e as bases da estrutura fundiária; quanto ao escravo, as elites discutiram a escravidão com argumentos “liberais” humanitários, mas protelaram por mais de 60 anos a abolição da escravatura, com argumentação econômica, dado que o africano fora introduzido no Brasil na qualidade de “fator de produção”. Com a autonomia política Os povos indígenas foram deixados à margem da normatização do estado nacional até os primeiros anos da República, mesmo porque na nova ordem não “cabia” um contingente diversificado da população nativa explorada, que não era ocidental, nem capitalista e nem católica: os povos indígenas; por tudo isso eles foram considerados como “seres transitórios” para a civilização, sem a plena a capacidade jurídica, daí o Estado assumir sua tutela. Interatividade Quando a posição de sujeito deixou de ser ocupada pelo colonizador e quem o sucedeu? Aponte a alternativa correta: a) Com a elevação do Brasil à condição de Vice Reino, em 1815. b) Com a autonomia política o pensamento social brasileiro passou a ser elaborado pela nobreza. c) Com a República o pensamento social brasileiro passou a ser elaborado pelos militares positivistas que assumiram a posição de sujeito. d) Com a independência, assumiram a posição de sujeito: uma elite intelectual peculiar e uma elite patrimonial endinheirada e de composição variada. e) Com a independência os maçons ocuparam esse lugar. A autonomia política O processo da autonomia política da colônia se deu em meio às intrincadas relações de espoliação absolutista entre Metrópole e Colônia, tendo como cenário as guerras napoleônicas, em face da expansão do capitalismo industrial britânico e a dependência de Portugal em relação à Inglaterra. A autonomia política era discutida no Brasil nos círculos intelectuais de Minas, Bahia, Rio e Pernambuco, com base nas ideias importadas da Europa. O processo A Família Real Portuguesa veio para o Brasil em 1808, aportando em Salvador, logo depois o Príncipe Regente, D. João, instalou a Corte no Rio; em 1815 o Brasil passou de Colônia para Reino Unido a Portugal e Algarves; em 1818 o Príncipe Regente foi coroado, D. João VI, Reide Portugal, e voltando a Portugal, em 1821, pressionado pela Revolução Liberal, deixou aqui seu filho como Príncipe Regente, Pedro de Alcântara, um ano depois, em 1822, Pedro declarava a independência do Brasil. Pensamento social e Brasil Após a independência teve início o processo organização do Estado brasileiro (Constituinte) em meio às lutas entre tendências do pensamento liberal, limitações ao absolutismo monárquico, diversidade de interesses regionais organizados em oligarquias, contra o centralismo do Império; um denominador comum às tendências “liberais” foi a preservação da ordem, ou seja, a preservação do trabalho escravo, e dos negócios lucrativos que esse comércio proporcionava. Pensando o Direito Constitucional Enfim, conforme Bonavides (2000), o Direito Constitucional brasileiro refletia o colonialismo e a promiscuidade com a escravidão; nesse contexto as ideias liberais de direitos civis (centrados na ideia de liberdade individual, portanto consistindo no reconhecimento e garantia para o homem livre da proteção da lei e sujeição apenas a ela), e de direitos políticos (centrados na ideia de representação política, participação no Estado, portanto implicam em elegibilidade) se tornavam apenas “enfeite” dos discursos. Perfil ideológico das elites No perfil ideológico peculiar às elites brasileiras do século XIX nota-se a influência de duas fontes principais, a saber: a) a Maçonaria, não uma doutrina, tendência filosófica ou religião, mas uma instituição com participação ativa no processo da independência, na Confederação do Equador 1824 (PE) e em outras revoltas, tem tendência liberal, era abolicionista e republicana; b) do Positivismo de origem francesa, popularizado por Benjamin Constant, professor do Colégio Militar; tendência favorável à ditadura republicana para manter a Ordem e atingir o Progresso, como “dogma sociológico” da orientação “religiosa” emprestada ao Positivismo por A. Comte e seus seguidores (denominados Apóstolos). Liberalismo oligárquico Os grupos políticos dominantes envolvidos na autonomia política adotavam uma espécie de “liberalismo oligárquico” antidemocrático, que deveria ser assegurado pelo poder forte do Imperador e ser exercido para manutenção da ordem com restrição à liberdade, segundo a lição positivista de Benjamim Constant, como Poder Moderador, supostamente neutro, como dimensão do Poder Executivo, da administração, mas ainda por garantia, articulado a um Conselho de Estado vitalício; a democracia era associada à “anarquia” das reivindicações populares regionais e ao federalismo. Duas posições extremadas do pensamento liberal a) Liberalismo radical, favorável à abolição, à mudança na legislação fundiária, estímulo ao comércio, às manufaturas, e eleições diretas, e um modelo de Estado Federal, os adeptos promoviam agitações, inclusive no Rio, em movimentos reprimidos com participação de soldados; b) Liberalismo “regressista” (expressão de Viotti, 1979), representado pela criação da Guarda Nacional por Feijó, durante a Regência, cujo papel será decisivo no fortalecimento das oligarquias e na repressão aos movimentos populares. Para Feijó “o brasileiro não foi feito para a desordem, que seu natural é o da tranquilidade e que ele aspira outra coisa além da Constituição jurada, do gozo de seus direitos e de suas liberdades” (Viotti,124 apud Otávio Tarquínio de Souza, 1957). As ideias brasileiras abolicionistas O final do sistema escravocrata era previsível, e no discurso abolicionista coincidiam os argumentos humanitários, os liberais, positivistas e os pragmáticos: comparação entre o custo do escravo, agravado com as perdas em fugas e rebeliões, e o salário do imigrante europeu ou asiático, tanto para o trabalho agrícola quanto para o urbano na construção civil etc. Mas esse discurso não considerava a existência concreta do brasileiro negro, igual em direitos ao branco, portanto não cogitava daquele que usurpava esses direitos. Alforria A liberdade do escravo podia ser comprada ao proprietário (carta de alforria) assim como senhor podia conceder a alforria ao escravo (manumissão). As sociedades de alforria eram constituídas por “figuras notáveis” ou benfeitores, que integralizavam por cotas o valor estipulado pelo proprietário; desse modo a “boa consciência” abolicionista, protegia o capital investido pelos proprietários de escravos. As Juntas de Ajuda Mútua (ou Fundos de Ajuda) funcionavam de forma assemelhada, mas eram compostas principalmente por escravos libertos ou emancipados. Estratégias Aos escravos emancipados e aos negros brasileiros livres coube encontrar estratégias individuais explorando as “capilaridades” da estratificação social, os relacionamentos (apadrinhamento, adoção) com famílias brancas de recursos para ter acesso às oportunidades de educação e emprego. Esse processo deu origem a ambiguidades, pois reproduzia práticas associadas à economia escravocrata. O tráfico Entre 1823 e 1888 não faltaram medidas legais relacionadas ao término do tráfico e da escravidão no Brasil; contudo, o desdobramento da condição de africano “resgatado” para o trabalho escravo no Brasil existia há três séculos e constituíra o contingente populacional majoritário da sociedade brasileira; Todavia, se a sociedade “branca”, liberal, positivista, humanitária, de “boa consciência cristã”, não aceitava mais o escravo, também não aceitava o negro e seus descendentes, não previa seu futuro, nem resgatava seu passado. Herança perversa A abolição do trabalho escravo deixou a perversa herança de homens e mulheres livres, sobras do sistema que os explorara e que agora estavam à própria sorte, discriminados na ordem social que se constituíra, supostamente sem eles. Apesar de a população brasileira ser o resultado da combinação de contingentes populacionais distintos, não desapareceram as diferenciações que valorizam o sinal de poder na cor de pele, embora hoje inserido em uma soma algébrica com itens do capitalismo contemporâneo. República A República não surpreendeu aos informados, as ideias republicanas sempre estiveram circulando na formação social. O legislador da República pretendeu transformar o homem rural, preso às fidelidades do campo, em um cidadão, figura urbana, construção idealizada nas vertentes teóricas do pensamento político europeu ou americano. No ambiente social de conflito da Primeira República, o que é novo não suplanta o que era velho, ao contrário, é a ele submetido ou acomodado nas condições já instauradas; por exemplo, a legislação eleitoral, fundamental à organização política da democracia representativa, não serviu a esse propósito, mas ao mandonismo local, como um dispositivo de poder das oligarquias agrárias (coronelismo). Interatividade Com a independência e decorrente autonomia política, o Brasil como estado se insere na economia capitalista industrial em expansão a partir da Europa. Qual providência foi tomada imediatamente após essa inserção? a) Eleição dos representantes nas cortes de Lisboa. b) Abolição do tráfico de escravos. c) Eleição da Constituinte. d) Criação da Guarda Nacional. e) Eleição do Conselho de Ministros do Poder Moderador. Pensamento republicano O federalismo, tese dos republicanos, nas condições sociais desses anos, favoreceu às oligarquias, aos mandonismos regionais de toda sorte, em detrimento da formação cultural, política e ideológica dos grandes contingentes da população que viviam em condições precárias; o federalismo permitiu acomodar em um “comum partilhado da nacionalidade” as diversidades regionais que haviam feito a história do estado real.A prática e a teoria A distância entre o fato e seu sentido remete à distância entre o país real e o ideal, um tema fartamente discutido, ou a distância entre a norma jurídica e a prática, entre a norma policial e a ação do policial etc. Há mesmo um dito popular que sintetiza a questâo: “na prática, a teoria é outra”. Pois bem, se assim for, uma das duas está equivocada: ou a prática está mal aplicada, ou a teoria está inadequada para a compreensão da situação. O mais comum, e pior, é estarem as duas erradas. Pensando o Brasil Os brasileiros que se ocuparam em pensar o país e suas gentes integravam uma elite intelectual, e em alguns casos também política. Na medida em que aspectos que concentraram interesse das elites nacionais são incorporados pelos demais segmentos da formação social, tais aspectos deixam de ser simples referências para serem elementos da construção ideológica do social, considerados pertinentes aos fatos e aos seus sentidos, à realidade observável do vivido e à apreensão compreensiva dessa realidade. Pensando a gente do Brasil No período em foco, Primeira República, várias figuras da galeria do pensamento social brasileiro se ocuparam em examinar o Outro, e com suporte em teorias distintas tentaram decifrá-lo e a se verem em seus olhos. Três contingentes da população foram considerados (negros, povos indígenas e sertanejos), os três ocupando posições diferenciadas na formação social, dois deles especialmente em relação à ordem social urbana, envolvendo problemas do avanço da fronteira agrícola e lutas sobre a posse da terra. Pensando o negro, Silvio Romero e Nina Rodrigues Os negros escravos foram colocados na posição de objeto de pesquisa, no âmbito de estudos baseados no racismo científico e darwinismo social, ambos favoráveis ao término da escravidão, e preocupados com o futuro de uma nação composta de indivíduos negros e mestiços, por eles considerados inferiores, apesar de considerarem alguns negros refinados. Nina Rodrigues considerava necessário “emprestar aos negros a organização psíquica dos povos brancos mais cultos” [porque] “até hoje não se puderam os negros constituir em povos civilizados”, e completando: “A raça negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus incontestáveis serviços à nossa civilização [...] há de constituir sempre um dos fatores da nossa inferioridade como povo”. (RODRIGUES, 1977, p. 3-7). Ainda Nina Rodrigues A faceta da produção de Nina Rodrigues que ainda se pode chamar de científica consiste no material etnográfico sobre culturas africanas na Bahia, especialmente práticas religiosas. O acesso do médico branco ao mundo dos candomblés lhe foi facilitado por Martiniano Eliseo do Bonfim (1859-1943), Babalawo famoso; outro informante qualificado dos antropólogos foi Manoel Querino (1851-1923), negro, intelectual, político e questionador das teorias de Nina Rodrigues. O negro, objeto de estudo Outros autores que se dedicaram ao estudo do negro: Gilberto Freyre (1900-1987) autor de Casa Grande e Senzala, estudo dos componentes e papéis sociais da família patriarcal na economia rural agroexportadora. A obra importante contribuiu para a formação do mito da democracia racial brasileira, para ele miscigenação biológica e cultural é o fator fundante do tipo social brasileiro; Arthur Ramos (1903-1949) se distingue de Nina porque não aceita a inferioridade cultural associada à raça, mas reconhece o "social atrasado em cultura" na preservação das heranças culturais africanas; Donald Pierson desenvolveu a tese da “democracia racial”, admitia o preconceito associado à classe e não à raça. O “olhar de dentro” O estudo sobre a cultura africana no Brasil fez do negro escravo recém libertado, ou lutando pela libertação, o seu objeto de indagação. Acumularam-se os dados, as observações, as teses, mas o “objeto” escapava a esse “olhar de fora” apesar da busca por maior precisão ou detalhe; dos anos 60 em diante a presença do olhar “de dentro” se impõe nos estudos acadêmicos da cultura africana religiosa no Brasil, por exemplo, com as obras de Roger Bastide, Pierre Verger, Joana Elbein dos Santos e Reginaldo Prandi. Os povos indígenas, identidade étnica “O índio” não pode ser tomado como tipo genérico, ou uma espécie de ser “em transição”. O contato com brancos não constitui um “processo civilizatório”, como pensavam os positivistas, mas um processo de aculturação, no qual a cultura original permanece, ainda que como lembrança dos tempos anteriores à presença do branco. Os povos, sociedades e culturas indígenas elaboraram a presença de um “outro de si”, que seria o branco. Esse não índio não representou surpresa para alguns povos indígenas: ele era previsto nos mitos de origem, parte constituinte de sua própria origem. Então se inverteu a perspectiva, e nesses relatos o não índio é parte de uma saga de tempos imemoriais, dos tempos da origem de quem detém o discurso, ou do sujeito daquela história, o índio, ou o não branco. Identidade étnica Para fazer valer o que lhes era dado ao nascer, a própria existência identitária, tornou-se necessário incorporar a língua e sentidos do Outro, construir nessa linguagem o discurso que os sustenta como modo de existir, de ser a si mesmo, mas não são eles quem precisam desse discurso de conhecimento, são os outros, ou o grande Outro, a sociedade envolvente que tem a custódia, ou a tutela desses “diferentes”. SPI e Funai O Serviço de Proteção aos índios (SPI) foi criado como parte da política de desbravamento e incorporação do território, por Afonso Pena, em 1910, pela extensão de linhas telegráficas, chefiado pelo Gal. Rondon, um positivista evolucionista para ele, pelo contato com a civilização, as populações indígenas evoluiriam do estágio em que se encontravam para o civilizado. A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi criada em 1967, durante a ditadura, e da “ocupação econômica da Amazônia”, mas cabia à Funai tratar as questões fundiárias pertinentes. O conceito de tutela está sendo questionado, tanto pelos órgãos competentes quanto pelas lideranças indígenas que situam o índio como portador de plenos direitos. Interatividade No perfil ideológico peculiar às elites brasileiras do século XIX notam-se influências de instituições e de tendências do pensamento europeu da mesma época. Qual das alternativas abaixo não corresponde a essa descrição? a) Maçonaria, como instituição e doutrina. b) Partido Comunista, como instituição e doutrina. c) Igreja Católica, como instituição e doutrina. d) Colégio Militar, como instituição e o Positivismo como doutrina. e) Igreja Presbiteriana, como instituição e doutrina. Explicando população apartada do urbano O Positivismo e o Darwinismo social foram tendências teóricas empregadas no exame e “explicação científica” para a rebeldia e misticismo revelados por segmentos da população rural, resistentes ao poder ordenador da república e dos senhores da terra, tais como: os sertanejos de Antonio Conselheiro, focalizados por Euclides da Cunha (1866-1909) em Os Sertões, camponeses e colonos do Sul, da Guerra dos Pelados, dos Farrapos, Contestado etc. Misticismo e revolta Esses movimentos expressam o descompromisso do governo central, republicano, com a população mais pobre, portanto são as condições geradas na formação social, depois de esgotados os recursos legais, que determinam as possibilidades de mobilização popular em resposta. Nessas condições a religião oferece uma resposta, em geral messiânica, à desesperança, que envolve “necessidade de salvação terrena acompanhada por ideias muito definidas a respeito de como deveriaser solucionada” (QUEIROZ, 1976, p. 37). Mundos justapostos O pensamento sobre o social brasileiro na primeira república abrange mundos justapostos, articulados em relacionamentos de poder e estratégias de violência: a ação militar, os movimentos místicos messiânicos, o coronelismo e o cangaço, constituindo, no conjunto, o fundamento da república de oligarquias; Os cangaceiros eram nômades, a terra do sertão lhes pertencia; essa figura nômade opunha ao autoritarismo e à violência institucional, a outra face do mesmo autoritarismo violento, daí a imagem social de herói popular, mas o cangaço só pôde persistir graças aos vínculos mantidos com os fazendeiros. Ideias e motivos Do final do Império e primeiras décadas republicanas, a formulação política do Estado foi questão predominante no pensamento social brasileiro, sobre ela se destacaram dois autores, Tavares Bastos (1839-1875), autor de “Males do Presente e as Esperanças do Futuro” (1861), e Tobias Barreto (1839-1889), autor de “Glosas heterodoxas a um dos motes do dia, ou variações antisociológicas” (1879). Esses autores partem de análises críticas da realidade social para tirar conclusões sobre a formulação de políticas nacionais de caráter intelectual e ideológico distintos. Tavares Bastos A crítica liberal de Tavares Bastos à situação política e econômica (males do presente) abrange a educação, agricultura, falta de uma política de emigração, o tráfico de escravos, excesso de regulamentação governamental, como defendia a “vocação agrícola do Brasil”, tese que permaneceu durante décadas, retardando a industrialização brasileira. Bastos se considerava moderado e progressista, mas se alinhava com os “liberais imperalistas, sectários da ideologia liberal protestante, maçônica republicana anglo-americana”. (RODRIGUES, 1976,p. 9), também propunha “importar os confederados americanos, gente branca, anglo-saxônica e protestante, e assim melhorar os quadros do nosso povoamento mestiço”. (RODRIGUES, op. cit., p. 47) Tobias Barreto Tobias Barreto, mulato sergipano que nunca saiu do nordeste, optou pelo alemão como instrumento adequado para sua reflexão filosófica autodidata: a crítica ao Evolucionismo, fosse na versão determinista do evolucionismo spenceriano anglo-saxão americano, fosse na versão das leis de estágios do positivismo francês, militarista e conservador; os aspectos epistemológicos ressaltados por esse autor se mostraram válidos no desenvolvimento posterior da sociologia. Alberto Torres e Oliveira Vianna Para Alberto Torres e Oliveira Vianna a formação histórica brasileira não levou à construção de uma consciência política, nem a uma organização política adequada para as exigências do século XX. Apesar de o próprio Vianna distinguir sua orientação daquela adotada por Alberto Torres, ambos os autores atribuem ao Estado um papel criador, ou no dizer de Weffort, (2006, p. 266) concebem um “Estado demiurgo” aquele que organiza, molda a sociedade, a partir de uma realidade criada, podendo assim desenvolver o espírito público, o autogoverno etc. Alberto Torres Alberto Torres em Organização Nacional (1914) demonstra forte tendência nacionalista, em contraposição aos que inferiorizavam o Brasil e seu povo pela diferença com Europa ou EUA; para ele o “homem brasileiro não é mais indolente que qualquer outro, é talvez mais paciente” (2002, p. 46), portanto os problemas são causados por processos sociais e econômicos que, somados, “originaram entre nós, um proletariado urbano muito superior ao que devíamos ter”. (TORRES, 2002, p. 29-30) Ele adota a tese da “vocação agrícola”, mas não em grandes propriedades, apesar de ser esse o modelo típico brasileiro, mas que segundo ele, deveria ser gradativamente desativado: “Nosso país tem de ser, em primeiro lugar, um país agrícola”. (TORRES op. cit., p. 341) Oliveira Vianna Os problemas centrais do Brasil têm origem na inexistência de uma organização das “fontes de opinião”, não basta aprimorar o sistema eleitoral, quando falta a organização da opinião popular, que seria o papel do Estado, porque “nossa evolução histórica não nos pode dar: estrutura, organização, consciência coletiva” (VIANNA, 1939: XIV). A questão central da análise de Vianna reside na contradição entre o país real, aquele da vida cotidiana, do direito costumeiro, das práticas sociais e políticas cotidianas, e o país ideal, aquele formal e teórico, das leis, códigos e constituições. No primeiro, as marcas da história da formação social nacional; no segundo, as marcas das ideias predominantes na política internacional. Interatividade Como Oliveira Vianna explica as práticas cotidianas reconhecidas na cultura política do país, tais como: o caudilho, potentado do sertão, o juiz “nosso”, o eleitor “de cabresto” etc.? a) São decorrências da fragilidade da lei para punição dos faltosos. b) São decorrências da inadequação entre o ideal (teórico) e o jogo de poder (real cotidiano). c) São decorrências do nível educacional da população. d) São decorrências das adaptações legais realizadas pelos partidos políticos. e) São decorrências do autoritarismo do modelo democrático brasileiro. ATÉ A PRÓXIMA! Slide Number 1 Introdução ao pensamento social brasileiro Os primeiros tempos Os primeiros tempos, o escravo Os primeiros tempos, a escravidão Os nativos O europeu tomou posse da terra, depois pensou o que fazer dela O europeu O modelo de colonização Autonomia política Autonomia política Com a autonomia política Interatividade Resposta A autonomia política O processo Pensamento social e Brasil Pensando o Direito Constitucional Perfil ideológico das elites Liberalismo oligárquico �Duas posições extremadas do pensamento liberal� As ideias brasileiras abolicionistas Alforria Estratégias O tráfico Herança perversa República Interatividade Resposta Pensamento republicano A prática e a teoria Pensando o Brasil Pensando a gente do Brasil Pensando o negro, Silvio Romero e Nina Rodrigues Ainda Nina Rodrigues O negro, objeto de estudo O “olhar de dentro” Os povos indígenas, identidade étnica Identidade étnica SPI e Funai Interatividade Resposta Explicando população apartada do urbano Misticismo e revolta Mundos justapostos Ideias e motivos Tavares Bastos Tobias Barreto Alberto Torres e Oliveira Vianna Alberto Torres Oliveira Vianna Interatividade Resposta Slide Number 54
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