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Pensamento Social Brasileiro - Slides de Aula Unidade I

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Unidade I 
 
 
 
 
PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
Profa. Neusa Meirelles 
Introdução ao pensamento social brasileiro 
 O campo de estudos denominado pensamento social 
brasileiro abrange o conteúdo de distintas reflexões 
sistemáticas sobre a realidade brasileira, condições históricas 
e sociais em que emergiram e circularam como tendências de 
pensamento. O campo se constitui como peculiar discurso, 
em parte ancorado na problematização lógica das ciências, 
em parte expressando construção questionadora das artes, 
erudita e popular, sobre aspectos e facetas da realidade. 
Os primeiros tempos 
 Como o europeu que tomou posse da terra, e só depois 
pensou o que fazer com ela, a construção do pensamento 
social brasileiro teve a terra brasileira na posição de objeto 
para o empreendimento colonial nas tramas históricas do 
mercantilismo europeu. Os povos nativos e os africanos 
escravizados eram “peças” na engrenagem colonial 
extrativista e comercial exportadora. 
Os primeiros tempos, o escravo 
 Aqui o escravo era a mais útil e rentável “mercadoria”, fosse 
africano ou indígena; o comércio dos primeiros acabou sendo 
controlado por famílias tradicionais baianas, o comércio de 
indígenas, desde o início, garantiu a sobrevivência das famílias 
patriarcais paulistas, cujos chefes, impossibilitados de 
competir com a produção do açúcar no nordeste, passaram 
a fornecer índios para engenhos e fazendas. 
 O africano fora esvaziado de sua humanidade para ser 
escravo, “peça” inserida na cadeia de produção mercantil 
(como trabalho em potência); esse indivíduo objeto era 
apregoado para venda nos mercados, avaliado pelos 
músculos, canela fina, bons dentes, olhos vivos e procedência, 
critérios que eram do conhecimento dos colonizadores. 
Os primeiros tempos, a escravidão 
 A escravidão despertou rebeldia e o resgate de práticas de 
sobrevivência trazidas da cultura africana, formando o 
conhecimento aplicado na construção dos quilombos, 
comunidades paralelas à ordem, e superando diferenças 
culturais, dava-se a constituição em liberdade, de um sujeito 
de si. Outros processos de superação da condição de escravo 
abrangeram distintas estratégias individuais e limitadas 
possibilidades dentro do sistema. 
Os nativos 
 Para o diversificado universo cultural indígena, não se 
colocava a questão de ser sujeito, mas a do pertencimento 
ao seu povo e cultura, portanto, desde o início os indígenas 
entendiam os estratagemas utilizados pelos europeus para 
submissão e poder, restando a eles embrenharem-se na 
floresta, para além das fronteiras atingidas pelos brancos, 
ou conviver com o invasor na posição de um objeto submisso 
aos seus desígnios. Mas o processo de contato entre o 
europeu e o indígena na formação social, em condições 
distintas de poder, foi (e ainda é) uma história de dominação 
e de morte. 
O europeu tomou posse da terra, depois pensou o que 
fazer dela 
 No solo brasileiro colonial, de nação em formação, os conflitos 
da economia e política europeias se refletiram nas estratégias 
do poder político, nos planos: institucional, militar e 
econômico; 
 Mais tarde, já nos séculos XIX e XX, as elites de poder 
identificadas com a Europa e com EUA, também pensaram o 
Brasil na posição de Sujeito, mas segundo seus propósitos e 
interesses, situando a gente brasileira como outro relegado à 
invisibilidade da exclusão social. 
O europeu 
 A colonização comercial portuguesa, fundada no monopólio 
da terra e na escravidão, deu origem a uma sociedade 
brasileira segmentada em estratos sociais distinguidos por 
preconceitos associados à origem, riqueza e cor da pele, o 
que formou a base da condição de subalternidade atribuída 
aos segmentos majoritários da formação social por gerações, 
apesar de ser esse contingente (povo) quem construiu o país. 
O modelo de colonização 
 Para Roberto Schwartz (1981) o modelo de colonização 
produziu o latifundiário, o escravo e o “homem livre”, na 
verdade dependente do favor de “um grande” proprietário de 
terras para ter acesso à vida social e aos seus bens; 
 Pensar o Brasil a partir dessa peculiar inserção na formação 
social, baseada na dependência e favoritismo, implica 
examinar e superar a própria subalternidade no 
desenvolvimento de um pensamento crítico. Isso aparecerá de 
início na arte, e depois, de forma sistemática, em outros 
campos; por consequência, um falso pensamento liberal 
servirá de base para pensar a sociedade brasileira. 
Autonomia política 
 A construção da autonomia política sinaliza o processo de 
elaboração de um pensamento social brasileiro, em que a 
posição de sujeito deixou de ser ocupada pelo colonizador, 
para ser construída por dois segmentos de elite: uma elite 
intelectual peculiar e uma elite patrimonial em geral 
endinheirada, variando a composição conforme a região, 
inserção na economia e dinâmica política instaurada na 
formação social. No exercício de poder de força, os dois 
segmentos civis foram secundados pela força militar 
e Guarda Nacional. 
Autonomia política 
 Com a autonomia política e organização em Estado Nação 
(construção burguesa típica), o Brasil se insere no capitalismo 
industrial em formação, expandido a partir da Europa; 
 Foi necessário redefinir a categoria trabalho da economia 
colonial, de escravo para a de trabalhador assalariado, 
mudança que afetou diferentemente aos agregados, escravos 
(das cidades e do campo) e população indígena. 
 O processo preservou o lugar social do “agregado” nas 
grandes fazendas, e as bases da estrutura fundiária; quanto 
ao escravo, as elites discutiram a escravidão com argumentos 
“liberais” humanitários, mas protelaram por mais de 60 anos 
a abolição da escravatura, com argumentação econômica, 
dado que o africano fora introduzido no Brasil na qualidade de 
“fator de produção”. 
Com a autonomia política 
 Os povos indígenas foram deixados à margem da 
normatização do estado nacional até os primeiros anos da 
República, mesmo porque na nova ordem não “cabia” um 
contingente diversificado da população nativa explorada, que 
não era ocidental, nem capitalista e nem católica: os povos 
indígenas; por tudo isso eles foram considerados como 
“seres transitórios” para a civilização, sem a plena a 
capacidade jurídica, daí o Estado assumir sua tutela. 
Interatividade 
Quando a posição de sujeito deixou de ser ocupada pelo 
colonizador e quem o sucedeu? Aponte a alternativa correta: 
a) Com a elevação do Brasil à condição de Vice Reino, em 1815. 
b) Com a autonomia política o pensamento social brasileiro 
passou a ser elaborado pela nobreza. 
c) Com a República o pensamento social brasileiro passou 
a ser elaborado pelos militares positivistas que assumiram 
a posição de sujeito. 
d) Com a independência, assumiram a posição de sujeito: uma 
elite intelectual peculiar e uma elite patrimonial endinheirada 
e de composição variada. 
e) Com a independência os maçons ocuparam esse lugar. 
 
A autonomia política 
 O processo da autonomia política da colônia se deu em meio 
às intrincadas relações de espoliação absolutista entre 
Metrópole e Colônia, tendo como cenário as guerras 
napoleônicas, em face da expansão do capitalismo industrial 
britânico e a dependência de Portugal em relação à Inglaterra. 
A autonomia política era discutida no Brasil nos círculos 
intelectuais de Minas, Bahia, Rio e Pernambuco, com base 
nas ideias importadas da Europa. 
O processo 
 A Família Real Portuguesa veio para o Brasil em 1808, 
aportando em Salvador, logo depois o Príncipe Regente, 
D. João, instalou a Corte no Rio; em 1815 o Brasil passou de 
Colônia para Reino Unido a Portugal e Algarves; em 1818 
o Príncipe Regente foi coroado, D. João VI, Reide Portugal, 
e voltando a Portugal, em 1821, pressionado pela Revolução 
Liberal, deixou aqui seu filho como Príncipe Regente, 
Pedro de Alcântara, um ano depois, em 1822, Pedro 
declarava a independência do Brasil. 
Pensamento social e Brasil 
 Após a independência teve início o processo organização 
do Estado brasileiro (Constituinte) em meio às lutas entre 
tendências do pensamento liberal, limitações ao absolutismo 
monárquico, diversidade de interesses regionais organizados 
em oligarquias, contra o centralismo do Império; um 
denominador comum às tendências “liberais” foi a 
preservação da ordem, ou seja, a preservação do trabalho 
escravo, e dos negócios lucrativos que esse comércio 
proporcionava. 
Pensando o Direito Constitucional 
 Enfim, conforme Bonavides (2000), o Direito Constitucional 
brasileiro refletia o colonialismo e a promiscuidade com a 
escravidão; nesse contexto as ideias liberais de direitos civis 
(centrados na ideia de liberdade individual, portanto 
consistindo no reconhecimento e garantia para o homem livre 
da proteção da lei e sujeição apenas a ela), e de direitos 
políticos (centrados na ideia de representação política, 
participação no Estado, portanto implicam em elegibilidade) 
se tornavam apenas “enfeite” dos discursos. 
Perfil ideológico das elites 
No perfil ideológico peculiar às elites brasileiras do século XIX 
nota-se a influência de duas fontes principais, a saber: 
a) a Maçonaria, não uma doutrina, tendência filosófica ou 
religião, mas uma instituição com participação ativa no 
processo da independência, na Confederação do Equador 
1824 (PE) e em outras revoltas, tem tendência liberal, era 
abolicionista e republicana; 
b) do Positivismo de origem francesa, popularizado por 
Benjamin Constant, professor do Colégio Militar; tendência 
favorável à ditadura republicana para manter a Ordem e 
atingir o Progresso, como “dogma sociológico” da orientação 
“religiosa” emprestada ao Positivismo por A. Comte e seus 
seguidores (denominados Apóstolos). 
Liberalismo oligárquico 
 Os grupos políticos dominantes envolvidos na autonomia 
política adotavam uma espécie de “liberalismo oligárquico” 
antidemocrático, que deveria ser assegurado pelo poder forte 
do Imperador e ser exercido para manutenção da ordem com 
restrição à liberdade, segundo a lição positivista de Benjamim 
Constant, como Poder Moderador, supostamente neutro, 
como dimensão do Poder Executivo, da administração, 
mas ainda por garantia, articulado a um Conselho de Estado 
vitalício; a democracia era associada à “anarquia” das 
reivindicações populares regionais e ao federalismo. 
 
Duas posições extremadas do pensamento liberal 
 
a) Liberalismo radical, favorável à abolição, à mudança na 
legislação fundiária, estímulo ao comércio, às manufaturas, e 
eleições diretas, e um modelo de Estado Federal, os adeptos 
promoviam agitações, inclusive no Rio, em movimentos 
reprimidos com participação de soldados; 
b) Liberalismo “regressista” (expressão de Viotti, 1979), 
representado pela criação da Guarda Nacional por Feijó, 
durante a Regência, cujo papel será decisivo no 
fortalecimento das oligarquias e na repressão aos 
movimentos populares. Para Feijó “o brasileiro não foi feito 
para a desordem, que seu natural é o da tranquilidade e que 
ele aspira outra coisa além da Constituição jurada, do gozo 
de seus direitos e de suas liberdades” 
(Viotti,124 apud Otávio Tarquínio de Souza, 1957). 
As ideias brasileiras abolicionistas 
 O final do sistema escravocrata era previsível, e no discurso 
abolicionista coincidiam os argumentos humanitários, os 
liberais, positivistas e os pragmáticos: comparação entre 
o custo do escravo, agravado com as perdas em fugas e 
rebeliões, e o salário do imigrante europeu ou asiático, tanto 
para o trabalho agrícola quanto para o urbano na construção 
civil etc. Mas esse discurso não considerava a existência 
concreta do brasileiro negro, igual em direitos ao branco, 
portanto não cogitava daquele que usurpava esses direitos. 
Alforria 
 A liberdade do escravo podia ser comprada ao proprietário 
(carta de alforria) assim como senhor podia conceder a 
alforria ao escravo (manumissão). As sociedades de alforria 
eram constituídas por “figuras notáveis” ou benfeitores, que 
integralizavam por cotas o valor estipulado pelo proprietário; 
desse modo a “boa consciência” abolicionista, protegia o 
capital investido pelos proprietários de escravos. As Juntas 
de Ajuda Mútua (ou Fundos de Ajuda) funcionavam de forma 
assemelhada, mas eram compostas principalmente por 
escravos libertos ou emancipados. 
 
Estratégias 
 Aos escravos emancipados e aos negros brasileiros livres 
coube encontrar estratégias individuais explorando as 
“capilaridades” da estratificação social, os relacionamentos 
(apadrinhamento, adoção) com famílias brancas de recursos 
para ter acesso às oportunidades de educação e emprego. 
Esse processo deu origem a ambiguidades, pois reproduzia 
práticas associadas à economia escravocrata. 
O tráfico 
 Entre 1823 e 1888 não faltaram medidas legais relacionadas 
ao término do tráfico e da escravidão no Brasil; contudo, 
o desdobramento da condição de africano “resgatado” para 
o trabalho escravo no Brasil existia há três séculos e 
constituíra o contingente populacional majoritário da 
sociedade brasileira; 
 Todavia, se a sociedade “branca”, liberal, positivista, 
humanitária, de “boa consciência cristã”, não aceitava mais o 
escravo, também não aceitava o negro e seus descendentes, 
não previa seu futuro, nem resgatava seu passado. 
Herança perversa 
 A abolição do trabalho escravo deixou a perversa herança de 
homens e mulheres livres, sobras do sistema que os explorara 
e que agora estavam à própria sorte, discriminados na ordem 
social que se constituíra, supostamente sem eles. 
 Apesar de a população brasileira ser o resultado da 
combinação de contingentes populacionais distintos, não 
desapareceram as diferenciações que valorizam o sinal de 
poder na cor de pele, embora hoje inserido em uma soma 
algébrica com itens do capitalismo contemporâneo. 
República 
 A República não surpreendeu aos informados, as ideias 
republicanas sempre estiveram circulando na formação social. 
O legislador da República pretendeu transformar o homem 
rural, preso às fidelidades do campo, em um cidadão, figura 
urbana, construção idealizada nas vertentes teóricas do 
pensamento político europeu ou americano. 
 No ambiente social de conflito da Primeira República, o que 
é novo não suplanta o que era velho, ao contrário, é a ele 
submetido ou acomodado nas condições já instauradas; 
por exemplo, a legislação eleitoral, fundamental à organização 
política da democracia representativa, não serviu a esse 
propósito, mas ao mandonismo local, como um dispositivo 
de poder das oligarquias agrárias (coronelismo). 
Interatividade 
Com a independência e decorrente autonomia política, o Brasil 
como estado se insere na economia capitalista industrial em 
expansão a partir da Europa. Qual providência foi tomada 
imediatamente após essa inserção? 
a) Eleição dos representantes nas cortes de Lisboa. 
b) Abolição do tráfico de escravos. 
c) Eleição da Constituinte. 
d) Criação da Guarda Nacional. 
e) Eleição do Conselho de Ministros do Poder Moderador. 
Pensamento republicano 
 O federalismo, tese dos republicanos, nas condições sociais 
desses anos, favoreceu às oligarquias, aos mandonismos 
regionais de toda sorte, em detrimento da formação cultural, 
política e ideológica dos grandes contingentes da população 
que viviam em condições precárias; o federalismo permitiu 
acomodar em um “comum partilhado da nacionalidade” as 
diversidades regionais que haviam feito a história do estado 
real.A prática e a teoria 
 A distância entre o fato e seu sentido remete à distância entre 
o país real e o ideal, um tema fartamente discutido, ou a 
distância entre a norma jurídica e a prática, entre a norma 
policial e a ação do policial etc. 
 Há mesmo um dito popular que sintetiza a questâo: “na 
prática, a teoria é outra”. Pois bem, se assim for, uma das 
duas está equivocada: ou a prática está mal aplicada, ou a 
teoria está inadequada para a compreensão da situação. 
O mais comum, e pior, é estarem as duas erradas. 
 
Pensando o Brasil 
 Os brasileiros que se ocuparam em pensar o país e suas 
gentes integravam uma elite intelectual, e em alguns casos 
também política. Na medida em que aspectos que 
concentraram interesse das elites nacionais são incorporados 
pelos demais segmentos da formação social, tais aspectos 
deixam de ser simples referências para serem elementos da 
construção ideológica do social, considerados pertinentes 
aos fatos e aos seus sentidos, à realidade observável do 
vivido e à apreensão compreensiva dessa realidade. 
Pensando a gente do Brasil 
 No período em foco, Primeira República, várias figuras da 
galeria do pensamento social brasileiro se ocuparam em 
examinar o Outro, e com suporte em teorias distintas tentaram 
decifrá-lo e a se verem em seus olhos. 
 Três contingentes da população foram considerados (negros, 
povos indígenas e sertanejos), os três ocupando posições 
diferenciadas na formação social, dois deles especialmente 
em relação à ordem social urbana, envolvendo problemas do 
avanço da fronteira agrícola e lutas sobre a posse da terra. 
Pensando o negro, Silvio Romero e Nina Rodrigues 
 Os negros escravos foram colocados na posição de objeto 
de pesquisa, no âmbito de estudos baseados no racismo 
científico e darwinismo social, ambos favoráveis ao término 
da escravidão, e preocupados com o futuro de uma nação 
composta de indivíduos negros e mestiços, por eles 
considerados inferiores, apesar de considerarem alguns 
negros refinados. 
 Nina Rodrigues considerava necessário “emprestar aos 
negros a organização psíquica dos povos brancos mais 
cultos” [porque] “até hoje não se puderam os negros constituir 
em povos civilizados”, e completando: “A raça negra no Brasil, 
por maiores que tenham sido os seus incontestáveis serviços 
à nossa civilização [...] há de constituir sempre um dos fatores 
da nossa inferioridade como povo”. (RODRIGUES, 1977, p. 3-7). 
 
Ainda Nina Rodrigues 
 A faceta da produção de Nina Rodrigues que ainda se pode 
chamar de científica consiste no material etnográfico sobre 
culturas africanas na Bahia, especialmente práticas religiosas. 
O acesso do médico branco ao mundo dos candomblés lhe 
foi facilitado por Martiniano Eliseo do Bonfim (1859-1943), 
Babalawo famoso; outro informante qualificado dos 
antropólogos foi Manoel Querino (1851-1923), negro, intelectual, 
político e questionador das teorias de Nina Rodrigues. 
O negro, objeto de estudo 
 Outros autores que se dedicaram ao estudo do negro: Gilberto 
Freyre (1900-1987) autor de Casa Grande e Senzala, estudo 
dos componentes e papéis sociais da família patriarcal na 
economia rural agroexportadora. A obra importante contribuiu 
para a formação do mito da democracia racial brasileira, para 
ele miscigenação biológica e cultural é o fator fundante do 
tipo social brasileiro; Arthur Ramos (1903-1949) se distingue 
de Nina porque não aceita a inferioridade cultural associada 
à raça, mas reconhece o "social atrasado em cultura" na 
preservação das heranças culturais africanas; Donald Pierson 
desenvolveu a tese da “democracia racial”, admitia o 
preconceito associado à classe e não à raça. 
 
O “olhar de dentro” 
 O estudo sobre a cultura africana no Brasil fez do negro 
escravo recém libertado, ou lutando pela libertação, o seu 
objeto de indagação. Acumularam-se os dados, as 
observações, as teses, mas o “objeto” escapava a esse “olhar 
de fora” apesar da busca por maior precisão ou detalhe; dos 
anos 60 em diante a presença do olhar “de dentro” se impõe 
nos estudos acadêmicos da cultura africana religiosa no Brasil, 
por exemplo, com as obras de Roger Bastide, Pierre Verger, 
Joana Elbein dos Santos e Reginaldo Prandi. 
 
Os povos indígenas, identidade étnica 
 “O índio” não pode ser tomado como tipo genérico, ou uma 
espécie de ser “em transição”. O contato com brancos não 
constitui um “processo civilizatório”, como pensavam os 
positivistas, mas um processo de aculturação, no qual a 
cultura original permanece, ainda que como lembrança dos 
tempos anteriores à presença do branco. 
 Os povos, sociedades e culturas indígenas elaboraram a 
presença de um “outro de si”, que seria o branco. Esse não 
índio não representou surpresa para alguns povos indígenas: 
ele era previsto nos mitos de origem, parte constituinte de sua 
própria origem. Então se inverteu a perspectiva, e nesses 
relatos o não índio é parte de uma saga de tempos imemoriais, 
dos tempos da origem de quem detém o discurso, ou do 
sujeito daquela história, o índio, ou o não branco. 
Identidade étnica 
 Para fazer valer o que lhes era dado ao nascer, a própria 
existência identitária, tornou-se necessário incorporar a língua 
e sentidos do Outro, construir nessa linguagem o discurso que 
os sustenta como modo de existir, de ser a si mesmo, mas não 
são eles quem precisam desse discurso de conhecimento, são 
os outros, ou o grande Outro, a sociedade envolvente que tem 
a custódia, ou a tutela desses “diferentes”. 
SPI e Funai 
 O Serviço de Proteção aos índios (SPI) foi criado como parte 
da política de desbravamento e incorporação do território, por 
Afonso Pena, em 1910, pela extensão de linhas telegráficas, 
chefiado pelo Gal. Rondon, um positivista evolucionista para 
ele, pelo contato com a civilização, as populações indígenas 
evoluiriam do estágio em que se encontravam para o civilizado. 
 A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi criada em 1967, 
durante a ditadura, e da “ocupação econômica da Amazônia”, 
mas cabia à Funai tratar as questões fundiárias pertinentes. 
 O conceito de tutela está sendo questionado, tanto pelos 
órgãos competentes quanto pelas lideranças indígenas que 
situam o índio como portador de plenos direitos. 
 
Interatividade 
No perfil ideológico peculiar às elites brasileiras do século XIX 
notam-se influências de instituições e de tendências do 
pensamento europeu da mesma época. Qual das alternativas 
abaixo não corresponde a essa descrição? 
a) Maçonaria, como instituição e doutrina. 
b) Partido Comunista, como instituição e doutrina. 
c) Igreja Católica, como instituição e doutrina. 
d) Colégio Militar, como instituição e o Positivismo como 
doutrina. 
e) Igreja Presbiteriana, como instituição e doutrina. 
 
Explicando população apartada do urbano 
 O Positivismo e o Darwinismo social foram tendências teóricas 
empregadas no exame e “explicação científica” para a rebeldia 
e misticismo revelados por segmentos da população rural, 
resistentes ao poder ordenador da república e dos senhores da 
terra, tais como: os sertanejos de Antonio Conselheiro, 
focalizados por Euclides da Cunha (1866-1909) em Os Sertões, 
camponeses e colonos do Sul, da Guerra dos Pelados, dos 
Farrapos, Contestado etc. 
Misticismo e revolta 
 Esses movimentos expressam o descompromisso do governo 
central, republicano, com a população mais pobre, portanto são 
as condições geradas na formação social, depois de esgotados 
os recursos legais, que determinam as possibilidades de 
mobilização popular em resposta. 
 Nessas condições a religião oferece uma resposta, em geral 
messiânica, à desesperança, que envolve “necessidade de 
salvação terrena acompanhada por ideias muito definidas a 
respeito de como deveriaser solucionada” 
(QUEIROZ, 1976, p. 37). 
Mundos justapostos 
 O pensamento sobre o social brasileiro na primeira república 
abrange mundos justapostos, articulados em relacionamentos 
de poder e estratégias de violência: a ação militar, os 
movimentos místicos messiânicos, o coronelismo e o cangaço, 
constituindo, no conjunto, o fundamento da república de 
oligarquias; 
 Os cangaceiros eram nômades, a terra do sertão lhes pertencia; 
essa figura nômade opunha ao autoritarismo e à violência 
institucional, a outra face do mesmo autoritarismo violento, daí 
a imagem social de herói popular, mas o cangaço só pôde 
persistir graças aos vínculos mantidos com os fazendeiros. 
Ideias e motivos 
 Do final do Império e primeiras décadas republicanas, a 
formulação política do Estado foi questão predominante no 
pensamento social brasileiro, sobre ela se destacaram dois 
autores, Tavares Bastos (1839-1875), autor de “Males do 
Presente e as Esperanças do Futuro” (1861), e Tobias Barreto 
(1839-1889), autor de “Glosas heterodoxas a um dos motes do 
dia, ou variações antisociológicas” (1879). 
 Esses autores partem de análises críticas da realidade social 
para tirar conclusões sobre a formulação de políticas 
nacionais de caráter intelectual e ideológico distintos. 
 
Tavares Bastos 
 A crítica liberal de Tavares Bastos à situação política e 
econômica (males do presente) abrange a educação, 
agricultura, falta de uma política de emigração, o tráfico de 
escravos, excesso de regulamentação governamental, como 
defendia a “vocação agrícola do Brasil”, tese que permaneceu 
durante décadas, retardando a industrialização brasileira. 
 Bastos se considerava moderado e progressista, mas se 
alinhava com os “liberais imperalistas, sectários da ideologia 
liberal protestante, maçônica republicana anglo-americana”. 
(RODRIGUES, 1976,p. 9), também propunha “importar os 
confederados americanos, gente branca, anglo-saxônica e 
protestante, e assim melhorar os quadros do nosso 
povoamento mestiço”. (RODRIGUES, op. cit., p. 47) 
Tobias Barreto 
 Tobias Barreto, mulato sergipano que nunca saiu do nordeste, 
optou pelo alemão como instrumento adequado para sua 
reflexão filosófica autodidata: a crítica ao Evolucionismo, 
fosse na versão determinista do evolucionismo spenceriano 
anglo-saxão americano, fosse na versão das leis de estágios 
do positivismo francês, militarista e conservador; os aspectos 
epistemológicos ressaltados por esse autor se mostraram 
válidos no desenvolvimento posterior da sociologia. 
 
Alberto Torres e Oliveira Vianna 
 Para Alberto Torres e Oliveira Vianna a formação histórica 
brasileira não levou à construção de uma consciência política, 
nem a uma organização política adequada para as exigências 
do século XX. Apesar de o próprio Vianna distinguir sua 
orientação daquela adotada por Alberto Torres, ambos os 
autores atribuem ao Estado um papel criador, ou no dizer de 
Weffort, (2006, p. 266) concebem um “Estado demiurgo” 
aquele que organiza, molda a sociedade, a partir de uma 
realidade criada, podendo assim desenvolver o espírito 
público, o autogoverno etc. 
 
Alberto Torres 
 Alberto Torres em Organização Nacional (1914) demonstra 
forte tendência nacionalista, em contraposição aos que 
inferiorizavam o Brasil e seu povo pela diferença com Europa 
ou EUA; para ele o “homem brasileiro não é mais indolente 
que qualquer outro, é talvez mais paciente” (2002, p. 46), 
portanto os problemas são causados por processos sociais e 
econômicos que, somados, “originaram entre nós, um 
proletariado urbano muito superior ao que devíamos ter”. 
(TORRES, 2002, p. 29-30) 
 Ele adota a tese da “vocação agrícola”, mas não em grandes 
propriedades, apesar de ser esse o modelo típico brasileiro, 
mas que segundo ele, deveria ser gradativamente desativado: 
“Nosso país tem de ser, em primeiro lugar, um país agrícola”. 
(TORRES op. cit., p. 341) 
Oliveira Vianna 
 Os problemas centrais do Brasil têm origem na inexistência 
de uma organização das “fontes de opinião”, não basta 
aprimorar o sistema eleitoral, quando falta a organização da 
opinião popular, que seria o papel do Estado, porque “nossa 
evolução histórica não nos pode dar: estrutura, organização, 
consciência coletiva” (VIANNA, 1939: XIV). 
 A questão central da análise de Vianna reside na contradição 
entre o país real, aquele da vida cotidiana, do direito 
costumeiro, das práticas sociais e políticas cotidianas, 
e o país ideal, aquele formal e teórico, das leis, códigos 
e constituições. No primeiro, as marcas da história da 
formação social nacional; no segundo, as marcas das 
ideias predominantes na política internacional. 
Interatividade 
Como Oliveira Vianna explica as práticas cotidianas reconhecidas 
na cultura política do país, tais como: o caudilho, potentado do 
sertão, o juiz “nosso”, o eleitor “de cabresto” etc.? 
a) São decorrências da fragilidade da lei para punição 
dos faltosos. 
b) São decorrências da inadequação entre o ideal (teórico) e o 
jogo de poder (real cotidiano). 
c) São decorrências do nível educacional da população. 
d) São decorrências das adaptações legais realizadas pelos 
partidos políticos. 
e) São decorrências do autoritarismo do modelo democrático 
brasileiro. 
ATÉ A PRÓXIMA! 
 
	Slide Number 1
	Introdução ao pensamento social brasileiro
	Os primeiros tempos
	Os primeiros tempos, o escravo
	Os primeiros tempos, a escravidão
	Os nativos
	O europeu tomou posse da terra, depois pensou o que fazer dela
	O europeu
	O modelo de colonização
	Autonomia política
	Autonomia política
	Com a autonomia política
	Interatividade
	Resposta
	A autonomia política
	O processo
	Pensamento social e Brasil 
	Pensando o Direito Constitucional
	Perfil ideológico das elites
	Liberalismo oligárquico
	�Duas posições extremadas do pensamento liberal�
	As ideias brasileiras abolicionistas
	Alforria
	Estratégias
	O tráfico
	Herança perversa
	República
	Interatividade
	Resposta
	Pensamento republicano
	A prática e a teoria
	Pensando o Brasil
	Pensando a gente do Brasil
	Pensando o negro, Silvio Romero e Nina Rodrigues
	Ainda Nina Rodrigues
	O negro, objeto de estudo
	O “olhar de dentro”
	Os povos indígenas, identidade étnica
	Identidade étnica
	SPI e Funai
	Interatividade
	Resposta
	Explicando população apartada do urbano
	Misticismo e revolta
	Mundos justapostos
	Ideias e motivos
	Tavares Bastos
	Tobias Barreto
	Alberto Torres e Oliveira Vianna
	Alberto Torres
	Oliveira Vianna
	Interatividade
	Resposta
	Slide Number 54

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