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02- BARRA. Literatura Brasileira II. " Análise de Memórias Póstumas" Paulo Marcos F. Andrade

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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
CURSO DE LETRAS
PAULO MARCOS FERREIRA ANDRADE
LIETRATURA BRASILEIRA
ATIVIDADE AVALIATIVA 02
Barra do Bugres, MT.
2015
PAULO MARCOS FERREIRA ANDRADE
LIETRATURA BRASILEIRA II
ATIVIDADE AVALIATIVA 02
Atividade de Aprendizagem apresentado ao curso de letras Espanhol, da Universidade Aberta do Brasil, Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Linguagem, como requisito parcial para avaliação na disciplina de Literatura Brasileira ll. Profª Dra. Marli Walker Profª Me. Soraia Lima Arabi.
Barra do Bugres, MT.
2015
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LEITURA DO ROMANCE MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
1. Pode-se concluir que o romance realista apresenta comportamentos sociais perversos ou pervertidos, sem a correspondente punição que se esperaria de um romance de fundo romântico ou moralista. Como se comprova a perversão de Cubas na relação com as mulheres? 
O romance realista tem por característica a apresentação de uma mulher ou por que não dizer um ideal de mulher que fosse santa, honesta, casta, pura, ingênua, que correspondesse bem aos termos da moral daquela época. Todavia a retórica machadiana no revela uma história narrada por um defunto e por sinal o protagonista, deste modo, narrador-protagomista. Para abalizarmos a análise temos que primeiro demarcarmos alguns pontos relevantes neste narrador. Irreverente que conta fatos extremamente contraditórios aos moldes da moral romântica.
Deste modo pude-se afirmar que B. Cubas que tanto almejou o sucesso não conseguiu realizar seus maiores sonhos, ou seja não obteve os elementos necessários para seu status, a saber: seu emplastro foi um comédia, não curou ninguém; não se tornou político pois para isso teria que se casar com Nhã-Loló e pobre deselegante morreu aos dezenove anos; e por fim não encontrou uma esposa que seria sua maior ventura. Vejamos que temos aqui um narrador-protagonista, defunto e digamos mau sucedido. 
E é exatamente a partir desta figura que machado escreve Memórias póstumas. Vejamos que seu defunto narrador, por sua condição de defunto, se encontrava desprendido de qualquer valor moral ou ético de seu tempo, afinal pra defunta não existem mais estes elementos morais. Deste modo a narrativa que se faz em primeira pessoa, por uma narrador protagonista e ao mesmo tempo observador, é totalmente voltada a revelar fatos que os vivos não souberam e por isso não se julgou ou puniu conforme se esperava no padrão social em vigor. Isso fica muito claro na forma como se narra seu romance com Vigília que por pouco não foi sua esposa e depois se tornou sua amante após se casar com Lobo Neves. Este relacionamento extraconjugal era encoberta dona Plácida a serviçal de Vigília. 
O narrador desvela em suas mais sórdidas inspirações a hipocrisia, a facilidade e mentiras da sociedade burguesa, assim o defunto narrador apresenta a mulher como exímias interesseiras, eróticas, sensualizadas,mentirosas, totalmente contrárias ao que se esperava pelo padrões morais da época, a saber: Marcela é promíscua, inescrupulosa e devota do dinheiro em primeiro lugar, da qual Cubas se referiu “...amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos" (cap. 17). Na seqüência temos Vigília é faceira, bela por de mais de uma brancura espetacular. Dois grandes namorados, de paixões sem freio, nada mais ali, vinte anos depois..." Mesmo depois de vinte anos a beleza de Vigília não desaparecera, "tinha agora a beleza da velhice, um ar austero e maternal" (cap.06). A Vigília talvez seja a mais intrigante de todas pois, aparentemente representasse todos princípios das elites escravocratas, com cubas quebrava todas as regra morais, religiosas, familiares e preferia corres os ricos traindo seu marido dentro da própria casa. Também Eugênia codinominada por ele como a “flor da moita”, coxa e infeliz e Eulália com quem pretendia casar mas que morre de febre amarela com apenas 19 anos.
A imagem que Cubas da mulher não é só pervertida. 
bonita, fresca, saída das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, – devoção, ou talvez medo; creio que medo. 
Cubas no decorrer da narração faz uma ideia negativa da mulher, talvez como forma de justificar seu fracasso como homem e como cidadão. Veja que Cubas dá para as mulheres com que se relacionou a imagem do mito de Eva, muito embora ele não as veja como santa mas como causa dos males do própri narrador. Assim a mulher na visão de cubas é insubordinada, má, capaz de traições. 
Schwarz ( 997) sugere que a visão de Cubas com relação as mulheres vai além da perverção, ela são desprovidas de inteligencia, ração e capacidades de estratégias, assim ele se esforça pra evidenciar o caráter negativo da mulher. Cubas tenta mostrar uma mulher fria diante da emoções e do amor como se comprova em: “Marceladeixava-se estar sentada, a estalar as unhas nos dentes, fria como um pedaço de mármore” (ASSIS, 1999:54). Este deixa de de se casar com Eugenia apartir do segunte argumento: “Foge do que é ínfimo” (ASSIS, 1999:76), ou seja o “que é o mais baixo de todos; que ocupa o lugar mais baixo numa hierarquia” conforme define o dicionário. E em contapartida pretendia se casar com Virgilia sobre a qual se dizia: “a noiva e o parlamento são a mesma coisa” (ASSIS, 1999:76).
As comparativas sugere ambas como objeto que podem ser usados, subjulgados, e não as coloca em situação superior em relação uma com outra. A visão de cubas perverte o ego feminino, ou melhor o ignora. O defunto- narrado sugere uma figura feminima infantil, de uma igenuidade que não passa,i gnorante como se ve em: “saía das mãos da natureza cheia daquele feitiço, precário e eterno” (ASSIS, 1999:74)
2. Há uma série de capítulos no romance que fogem da escritura comum, comente o capítulo LV e o LXXI, que colaboram para os efeitos de humor do romance. (10)
O capitulo LV, O velho diálogo de Adão e Eva, é construído a partir por sinais de pontuação. Observa-se que o narrador deixa aqui um espaço, não como uma lacuna, algo vazio, mas sim como espaço para que leitor possa criar o diálogo imaginado este momento tão singular. O capítulo apresenta uma fragmentação seguida de quebra de enredo, esta era de fato uma técnica literária moderna usada por Machado. O humor está no fato de além de fugir do enredo, a sequência de pontos de interrogação e após exclamação vão sugerindo novas idéias ao imaginário do leitor. No capítulo LXXI o autor usa a metalinguagem e dialoga com leitor persuadindo-o da singularidade e futilidade das coisas da vida. O narrador critica de forma cômica a pressa do leitor, mas sem o agredir diretamente. É como se testasse sua paciência, suas verdades, suas crenças e fizesse alusão à morte, como única certeza da vida que fica aludido de forma metafórica no seguinte fragmento: “E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas...” O cômico está presente também na forma como ele se refere a si mesmo e às suas ações durante a narrativa.
3. Pode-se afirmar que o Determinismo é a desculpa de Cubas para seu comportamento? Apresente argumentos que corroborem sua opinião. (10)
Após a leitura do livro Memórias Póstumas de Braz Cubas, pode-se afirmar que a narrativa sugere que o comportamento das personagens são formados por elementos principais, a saber, natureza instintiva e outra natureza social. Deste modo, afirma-se que o comportamento de Cubas sofre determinações nestes dois âmagos de influentes, vejamos como o narrador apresenta estas situações. 
Muito embora a influência socialligada a moral determinista levasse Cubas a ansiar um casamento, um esposa, uma carreira política, muitas vezes era acometido pelo instinto animal de virilidade, casça sexual e isso fica evidente no discurso ao passo que se contrapõe a lógica social de seu tempo. “Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior” (MACHADO, 2002, p. 60). Essa situação de Cubas determinada pelo instinto, o que o narrador chama de errata humana, fica clara no reencontro com Marcela, onde se destaca:
 
Não era certamente Marcela de 1822; mas a beleza de outro tempo valia uma terça parte dos meus sacrifícios? Era o que eu buscava saber, interrogando o rosto de Marcela. O rosto dizia-me que não; ao mesmo tempo os olhos me contavam que, já outrora, como hoje, ardia neles a flama da cobiça. Os meus é que não souberam ver-lha; eram olhos da primeira edição (ASSIS.,p. 70).
Cubas é uma personagem esférica e portanto se apresenta na narrativa de formas diferentes ao passo que esta se desenvolve, com reações plurais. Numa linha temporal pode se apresentar como teimoso, cínico, “moralista”, trágico e até leviano, as situações por fim determinam seu comportamento na narrativa, que se configura por uma metamorfose existencial, ora marcada pela influência social, ora pelo instinto.
A trama sofre o determinismo da forte corrente naturalista e positivista com os quais o narrado tenta justificar sua conduta. Se tomarmos como base o narrado e o diálogo estabelecido percebe-se que há uma certa ironia no discurso no sentido de colaborar com a conduta do narrador-protagonista. O discurso influenciado pelos ideais moralistas franceses tendem a afirmar na elaboração da paisagem moralista, através da exposição de conceitos pessimistas e fatalistas com os quais se referem ao homem do tempo em decurso. 
Na relação de Cubas com Eugenia vê-se que o abandono desta pelo protagonista, é determinado de forma social, veja que a aparência física da moça foi um dos pilares da separação. Cubas se apoiou em uma imagem naturalista para romper com a moça que fugia do ideal de perfeição;
“O Pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita?” (ASSIS., 2002, p. 65). 
 Um cinismo mórbido é contrasatando com a fragilidade da “flor da moita” que era muito bela, mas manca. Atrelado a isso pesou também o fato de a mesma não ceder aos seus instintos sexuais, era casta e não se perverteria por nada, defendendo sua fragilidade dos instintos de Cubas.
“Adeus, suspirou ela estendendo - me a mão com simplicidade; faz bem _ E como eu nada dissesse, continuou: _ Faz bem em fugir ao ridículo de casar comigo. Ia dizer - lhe que não; ela retirou-se lentamente, engolindo as lágrimas. Alcancei-a a poucos passos, e jurei-lhe por todos os santos do céu que eu era obrigado a descer, mas que não deixava de lhe querer e muito; tudo hipérboles frias, que ela escutou sem dizer nada” (ASSIS. 2002,p. 67)
Todavia não era somente este fator físico de Eugênia que determinava as ações de Cubas, mas também o fato de a mesma ser pobre. A metáfora da borboleta preta mostra a imagem da mulher que não ficaria ao lado do futuro ministro, Cubas, Oxalá que fosse azul, ou laranja sua vida teria melhor ventura. Observa-se que Cubas tenta convencer o leitor de que estava correto na ação de afastar-se de Eugenia com argumento de que o “amor não pode afetar-se com a deformidade”. Sua insenssibilidade cinismo e instinto animalesco chega a considerar que seria favorável a inexistência de Eugenia, cuja ironia do nome significa bem-nascida, considerando-a “triste como os enterros pobres”.
“(...) fui descalçar as botas, que estavam apertadas. Uma vez aliviado, respirei à larga, e deitei-me a fio comprido, enquanto os pés, e todo eu atrás deles, entrávamos numa relativa bem - aventurança. Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica - os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro. Enquanto esta idéia me trabalhava no famoso trapézio, lançava eu os olhos para a Tijuca, e via a aleijadinha perder-se no horizonte do pretérito, e sentia que o meu coração não tardaria também a descalçar as suas botas. E descalçou-as o lascivo. 
(...) Tu, minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca; foste aí pela estrada da vida, manquejando da perna e do amor, triste como os enterros pobres, solitária, calada, laboriosa, até que vieste também para esta outra margem... O que eu não sei é se a tua existência era muito necessária ao século. Quem sabe? Talvez um comparsa de menos fizesse patear a tragédia humana” (ASSIS. 2002, p. 67-68)
Neste sentido seu comportamento com Nhá-Loló também determinado pela influência do social, pois sendo a mesma de condições econômicas inferiores, estava ainda mais desclassificada para o posto de esposa do Senhor Cubas. A moça não pertencia ao círculo social e o embaraço saber de suas origens campesinas, o que fica evidente no episódio da briga de galo. Cubas um Burguês com aspirações de ministro em uma briga de galo, era um tanto peculiar. A sociedade da época tinha em consideração dois fortes elementos, a aparência e situação econômica, este último sobressaía-se ao primeiro. O que fica esclarecido no seguinte fragmento:
“Trajava a filha com outra elegância e certo apuro, coisa difícil de explicar, porque o pai ganhava apenas o necessário para endividar - se; e daí talvez fosse por isso mesmo” (ASSIS. 2002, p. 128)
Deste modo, conclui-se que as ações do defunto-narrador são de fato determinadas pelo contexto social da narrativo e ora pelos instintos do próprio homem, animalesco e viril. Assim seu comportamento bilateral ora está sob a égide das leis naturais e comprende seus próprios anseios e desejos por mais escárnio que pareceça, ora palas leis sociais que regia o imperativo de sociedade burguesa da época, ora por forças que se atrelavam aos dois elementos como pilares determinantes do comportamento.
Referências:
ANDRADE, Mário. Aspectos da literatura brasileira. 4. ed. São Paulo: Martins, 1972.
ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas, São Paulo:Klick,1999.
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas . São Paulo: Ática, 2002.
ABAURRE, Maria Luíza M. Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008.
BOSI, Alfredo. Brás Cubas em Três Versões. São Paulo: Companhia das Letras, 2006
FERREIRA, Marina. Português: literatura, redação, gramática. São Paulo: Atual, 2004.
PEREIRA, Lúcia Miguel. História da Literatura Brasileira. Prosa de ficção – Rio de Janeiro, Livraria Olympio
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo. 3. ed. São Paulo: 34, 1997.

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