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A prostituta e a Garota de Programa (Lit. Comparada)

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE LETRAS
Lucíola e Lúcia McCartney: A Cortesã e a Garota de Programa 
THUIANNE OLIVEIRA DE PAIVA
NOVA IGUAÇU
JANEIRO 2015
Lucíola e Lúcia McCartney: A Cortesã e a Garota de Programa 
THUIANNE OLIVEIRA DE PAIVA
Aluna do Curso de Letras 
Trabalho apresentado ao Professor Doutor Claudio Artur de Oliveira Rei, como obtenção de nota na disciplina de TCC Letras – Português/Literatura. CEL 0189 - Turma 3002.
NOVA IGUAÇU
JANEIRO 2015
 DEDICATÓRIA
In memorian 
 Ao meu avô Francisco de Oliveira, 
um eterno apaixonado pela Língua Portuguesa. 
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pela oportunidade de ter chegado até aqui, cercada de pessoas que me estimularam e me ajudaram na conquista de mais uma etapa.
Agradeço aos meus pais pela paciência, que não foi perdida durante as ausências, em prol de pesquisas para este trabalho e durante todo o decorrer do curso.
Aos meus amigos que me deram total apoio e também se mantiveram ao meu lado, mesmo nas minhas faltas, incentivando-me e cooperando com palavras amigas e ideias.
Aos mestres Claudio Artur, Sérgio Assunção e Reinaldo Kelmer, pela amizade, infinita dedicação, pelo apoio e apontamentos de material para pesquisa. Vocês são geniais! 
À mestra Hosana Nascimento, por sua maravilhosa amizade, o apoio que não faltou de lado algum, por sempre ter estado presente e por todas às vezes que fez valer a minha permanência nesse curso.
A todos vocês, meus sinceros agradecimentos. Vocês foram os pilares da minha formação acadêmica.
 “A literatura é a expressão da sociedade, assim 
 como a palavra é a expressão do homem”.
 Louis Gabriel Ambroise de Bonald
SUMÁRIO
Introdução, 7.
A heroína Urbana existente em Lúcia e Maria da Glória sob olhares de Paulo e Alencar, 9.
Lúcia McCartney – Uma Garota de programa e sua identidade na massificação cultural do século XX, 14.
Lucíola e Lúcia McCartney – Semelhanças e diferenças entre a Cortesã do século XIX e a Garota de Programa do século XX,18.
Considerações finais, 23.
Anexos, 25.
Referências bibliográficas, 28.
1 – INTRODUÇÃO
O presente estudo nasceu do interesse pelo campo da literatura comparada. Literatura esta que me encantou na aula, não só pelo fato de ela ser “[...] uma forma de investigação que confronta duas ou mais literaturas.” (FRANCO, Tania – 1999), mas por ter sido o tema principal deste trabalho. 
Estudar sobre Lucíola – que já era uma obra fascinante para mim – e ‘conhecer’ Lúcia McCartney foram experiências únicas. Tanto pela questão de a Literatura Comparada também ser um campo de pesquisa amplo, que possibilita ao leitor-estudante ampliar a visão de uma obra e desvendar os laços e, às vezes até o mistério, que estão presentes nas literaturas mundo a fora, que se apenas vistas ‘a olho nu’, não seriam notadas e por isso essas personagens foram trazidas a este trabalho, como pela oportunidade de conhecer mais um campo de Literatura, que me permitiu conhecer mais autores e suas obras.
Segundo Tania, “Comparar é um procedimento que faz parte da estrutura de pensamento do homem e da organização da Cultura.” (FRANCO, Tania – 1999), e quanto isso não há dúvidas, com grande frequência usamos a comparação em nosso dia a dia, mas isso são aspectos que abordaremos mais a frente.
 Assim, diante do que foi dito sobre Literatura Comparada, podemos começar nosso estudo de forma a analisar as personagens de José de Alencar (Lucíola) e Rubem Fonseca (Lúcia McCartney – Uma Garota de Programa), e ver que ambas se valeram de múltiplas facetas e características próximas e longínquas, mesmo sendo escritas em séculos distintos. E, essas dicotomias serão desvendas no decorrer desta pesquisa.
 Separadas por séculos diferentes e por autores distintos, ambas as ‘Lúcias’ vivem um conflito amoroso: Lucíola ama Paulo e luta para não amá-lo em diversos momentos, entretanto, vê-se amada doce e ardentemente por ele, enquanto Lúcia apenas ama e é levada a pensar sobre si mesma, sendo indagada diversas vezes por José Roberto, que é o homem que ela ama, mas que não a corresponde. E também há semelhanças entre elas. Assim como Lúcia McCartney considera-se uma Garota de Programa, Lúcia se considera uma cortesã, nenhuma até então, se vê na condição de uma prostituta.
O romance de José de Alencar traz, no enredo, o amor excêntrico entre Lúcia e Paulo. Sendo ele preocupado com o seu lugar na sociedade e ela uma cortesã. Um relacionamento entre eles precisaria romper com alguns preconceitos da sociedade do século XIX.
Como em todos os romances urbanos, o amor é o tema central. Mais especificamente nesta obra, o amor é sublime e ideal, capaz de fazer com que houvesse renúncias e sacrifícios, também, na visão feminina. Homens e mulheres não estão mais em diferentes níveis, assim, o amor é recíproco, sentido, discutido; vivido ou sacrificado por ambas as partes.Vítimas do sentimentalismo típico do romantismo, os personagens colocam o sentimento acima da razão. O coração toma todas as decisões de cunho social e pessoal, fazendo com que seu comportamento seja, muitas vezes, imprevisível. 
O narrador em Rubem Fonseca mostra um mundo multifacetado, desconstruído e revela-se preocupado em expor a vida do homem moderno, do homem contemporâneo. O escritor apresenta situações singulares vividas pelo homem moderno, na qual aparecem os tipos humanos e as ações por eles praticadas.
 Sendo assim, analisaremos este estudo sob três aspectos, que serão divididos em capítulos: Primeiramente abordaremos a obra de Alencar, as características de Lúcia e Maria da Glória, bem como os aspectos que envolvem o amor físico versus o amor espiritual, sobre o como o seu lado heroína aflora ao ser idealizada e, ao decorrer do texto, como ela passa do nível de ‘mulher fatal’ para ‘mulher angelical’. Falaremos sobre a visão de Lúcia ante a sociedade e ante o narrador, seu amor, Paulo. Em segundo plano examinaremos a Lúcia de Rubem Fonseca, sua posição na sociedade, no século XX e sua vida, vista por ela mesma, como narradora de sua própria história. Observaremos, também, o aspecto do amor físico e a presença dos meios de comunicação como extensão desse romance. No terceiro tópico abordado, neste fascículo, veremos as semelhanças que ambas carregam em sua vida, desenhada sob aspectos diferentes, porém semelhantes, escritas em séculos distintos, por seus autores e na sua expansão literária.
 Assim, o objetivo deste trabalho é ampliar a visão entre as duas personagens, através do estudo de comparação, que embora presente no nosso dia a dia – como comparar pessoas, carros, livros, etc – torna-se comum e até imperceptível se visto a “olho nu”. E, são sobre esses aspectos, que devemos manter fixo o nosso olhar.
2 – A heroína Urbana existente em Lúcia e Maria da Glória, sob olhares do Narrador e Autor.
Lucíola é um romance do século XIX, escrito por José de Alencar e que abarca uma heroína criada com características bem presas às formas do Romantismo. Segundo Valéria de Marco:
Para considerarmos Lucíola como uma proposta de romance nacional é preciso encará-la não só como uma obra acabada e definida, mas também como um momento da longa trajetória empreendida por Alencar em busca de uma expressão artística original para a nação emergente. (MARCO, Valéria de, 1986, p. 148)
Ela – Lucíola – reflete o esforço entre manter a pureza do amor intacta, o casamento e a ambição em declinar-se a uma vida recheada de pecados. 
Como afirma Afrânio Coutinho (1999, p. 261) “a intriga desses romances, como é natural, gira em torno do problema do amor; ou, para ser mais exato, em torno da situação familiar da mulher, em face do casamentoe do amor”. 
E essa dupla faceta que caracteriza a personagem Lúcia é percebida no fragmento que se segue, em que o próprio Paulo, durante a festa em que estava presente, na casa do Dr. Sá, nota uma mudança perceptível na maneira de agir de Lúcia:
Notei no tom de Lúcia durante o resto desta conversa uma diferença extraordinária com o modo singelo e modesto que ela tinha em sua casa; agora era a frase ríspida, incisiva e 
levemente embebida na ironia que destilava de seus lábios, e cujas gotas a maior parte das vezes salpicavam a ela própria. A cortesã revelava-se a mim sem rebuços, depois que deixara cair na falda do leito o seu último véu. ( Alencar, 1995, p. 19).
Esta obra de Alencar deve ser analisada a partir da própria ambiguidade de Lúcia, uma vez que a obra dele reflete a sociedade brasileira da segunda metade do século XIX, que, diga-se de passagem, tinha olhares bem preconceituosos, se observados no momento atual em que nos encontramos.
 	Neste romance, esse quadro é apresentado de forma bastante crítica, pois a sociedade que condena os vícios é a mesma que os alimenta, afinal, são os homens de posse que alimentam os pecados de Lucíola. 
Característica essa bem comum ao estilo da época, como podemos notar no conto ‘Missa do Galo’, do Machado de Assis:
“Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi‑lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia‑se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana.” (ASSIS de, Machado, 1894)
Aqui, Meneses assume um relacionamento extra conjugal, alimentando essas ‘ações liberais’ na sociedade, que eram vistas como normais na época – mesmo que o segredo que tentassem manter fosse, quase sempre, inútil – enquanto sua esposa – D. Conceição e a mãe dela – não só conheciam, mas aceitavam abertamente essa condição.
E, na obra Alencariana, essa postura de alimentar os pecados da sociedade é assumida por um deles: o Dr. Sá. Segundo pode ser exemplificado com o trecho abaixo, no qual ele fala com Paulo:
– Por que lhe falaste nesse tom? Naturalmente a trataste por senhora como da primeira vez; e lhe fizeste duas ou três barretadas. Essas borboletas são como as outras, Paulo; quando lhes dão asas, voam, e é bem difícil então apanhá-las. O verdadeiro, acredita-me, é deixá-las arrastarem-se pelo chão no estado de larvas. A Lúcia é a mais alegre companheira que pode haver para uma noite, ou mesmo alguns dias de extravagância. ( Alencar, 1995, p. 9)
O autor mostra a prostituta como uma espécie de representação das contradições que se pode ter entre a alma e o corpo, a virtude e o vício, a prostituição e a família, aspectos importantes do período romântico em que viveu. 
Outro ponto a ser observado também é que o moço solteiro – neste caso
Paulo – gostava também dos prazeres que a vida urbana e a prostituição lhe ofereciam, como pode ser observado no fragmento da chegada de Paulo ao Rio de Janeiro:
“A corte tem mil seduções que arrebatam um provinciano aos seus hábitos, e o atordoam e preocupam tanto, que só ao cabo de algum tempo o restituem à posse de si mesmo e ao livre uso de sua pessoa.” ( Alencar, 1995, p. 6).
O romance é narrado em primeira pessoa e é por meio do próprio narrador que José de Alencar vai esboçando de maneira crítica os conceitos morais presentes naquela sociedade.
Isso fica evidente, na cena em que Paulo vê Lúcia pela primeira vez e pergunta a Sá, quem era aquela senhora, e Sá responde-lhe que ela não era uma senhora e sim uma moça bonita, logo o pensamento de Paulo é o seguinte: 
 “Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência.”( Alencar, 1995, p. 3)
Por meio da visão de Paulo podemos conhecer os preconceitos do grupo social a que ele mesmo pertencia. 
Entretanto, não podemos falar somente de Paulo e nos esquecer de que Lúcia também assume os preconceitos sociais, preconceitos que ela mesma também é vítima, sendo explícito no seguinte trecho: “– Que importa? Contanto que tenha gozado de minha mocidade! De que serve a velhice às mulheres como eu?” ( Alencar, 1995, p. 14)
Lucíola é assim, um retrato claro da denúncia de uma sociedade hipócrita, que julga as prostitutas como mulheres impuras, mas que desfrutam afim de benefícios particulares e que sustenta essa classe de pé pagando por seus “serviços prestados”
Ambos são assim, o que podemos chamar de uma representação da época, em forma social e literária que explicita a visão de Alencar sob a prostituta do século XIX.
Machado de Assis também faz uma denúncia à sociedade, à prostituta da época. Neste cenário estamos diante de Marcela, ela era uma mulher interesseira e a dissimulação fazia parte da sua personalidade e de seu comportamento, diante de Brás Cubas. Fazia de tudo para usufruir do conforto e de uma boa posição econômica que seus clientes lhe proporcionavam. Seus amores eram passageiros, e nunca eternos. Tudo que lhe cativava era o dinheiro e o status. Se compararmos a crítica Machadiana feita à Marcela, podemos entender o motivo de Lúcia ter sido vista de forma banalizada, pois era característico da maioria das cortesãs serem fúteis e interesseiras. Inclusive, Cunha, estando no teatro com Paulo, em uma conversa sobre Lúcia, a descreve exatamente como uma mulher interesseira:
“— Aí está a Lúcia, disse Cunha. Na segunda ordem, quarto camarote depois de vésper. [...]
— É uma bonita mulher! disse ao meu vizinho, com um ar de indiferença para disfarçar a minha emoção.
— A mais bonita mulher do Rio de Janeiro e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende.
— Conheço-a apenas de vista; porém disseram-me que é uma boa moça, muito amável...
— Oh! Posso falar a este respeito. Fui seu amante quatro meses.
— E por que a deixou? Aborreceu-se?
— Não a deixei. É seu costume; um belo dia, sem causa, sem o mínimo pretexto, declara a um homem que as suas relações estão acabadas; e não há que fazer. Podem oferecer-lhe somas loucas, é tempo perdido. Também no dia seguinte, ou no mesmo, daí a uma hora, toma outro amante que não conhece, que nunca viu.
— “Todas são assim, com pouca diferença; ninguém sabe qual é o fio que faz dançar essas bonecas de papelão.” ( Alencar, 1995, p.)
 Assim como Brás Cubas descreve Marcela também da mesma forma: “... Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.” (ASSIS, Machado, 2012 3 ed., p. 51)
Mas, mesmo assim, com todas as críticas pré-estabelecidas pela sociedade, Lúcia é uma mulher forte e decidida, uma cortesã de luxo que frequenta as orgias noturnas, como a que ocorreu na residência de Sá, na qual Lúcia subiu na mesa, dançando de forma sensual e erótica, para os homens que lá estavam presentes.
“Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo o vinho tinha-lhe passado pelos lábios, onde a espuma fervilhava ainda. [...] Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos jarros de flores, traçou-a nos cabelos, coroando-se de verbena, como as virgens gregas. Depois agitando as longas tranças negras, que se enroscaram quais serpes vivas, retraiu os rins num requebro sensual, arqueou os braços e começou a imitar uma a uma as lascivas pinturas.” ( Alencar, 1995, p. 30)
Porém, é importante notarmos, que, da metade do livro em diante, Lúcia se mostra uma mulher frágil, necessitada da ajuda de Paulo para conseguir superar os problemas que a vida à ela destina. 
Lúcia entrega-se completamente ao amor de Paulo, não o nega mais, e abandona todo o luxo e vai viver em uma casa simples, como é característico de personagens românticas. 
Passando por cima das críticas sociais ela assume os preconceitos sociaisexistentes contra as prostitutas, abandona toda uma vida de liberdade e libertinagem e se pune pelos “pecados” que cometera, desejando, e mais do que isso, esperando encontrar nos braços de Paulo o “perdão de todas as suas falhas”.
Lúcia escondeu o rosto nos meus joelhos e emudeceu. Quando levantou a fronte, implorava com as mãos juntas e o olhar súplice. O quê? O perdão de sua primeira falta?
Não sei. Faltaram-me as palavras para consolar dor tão profunda: beijei Lúcia na face. ( ALENCAR, José. 1995, p. 97).
Com base nessa visão, vemos, pois, a construção da figura da prostituta na protagonista do romance Lucíola. Seria Lúcia anjo ou mulher fatal? A pureza de seus sentimentos por Paulo e de sua alma enobrecem-na e transformaram-na em uma figura angelical, representada por seu nome verdadeiro – Maria da Glória – entretanto essa mulher bonita e sedutora também é marcada por uma vida de luxúria, representada por sua identidade tomada – Lúcia – para se render às luxúrias da sociedade.
No entanto, acima de todas essas características que podem lhe ser atribuídas, está Lúcia X Maria da Glória que, mesmo com todos os seus comportamentos, ora julgados diabólicos, ora angelicais, é uma mulher corajosa e resistente, que não pode viver sob os holofotes de uma sociedade tão injusta e, por isso, Alencar prefere deixar que a morte seja sua redenção, pois nem um filho seria capaz de ser a redenção desta pobre alma. Decidida, então, Lúcia resolve fazer de seu corpo túmulo para sua criança, já que considera seu corpo impuro para entregá-lo à Paulo e para criar seu filho em seus seios:
 
 — Lançar!... Expelir meu filho de mim?
E o copo que Lúcia sustentava na mão trêmula, impelido com violência, voou pelo aposento e espedaçou-se de encontro à parede.
— Iremos juntos'... murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo.
(Alencar, 1995, 148)
Tendo em vista estes aspectos, Alencar deu um salto extremamente importante em sua obra, pois permitiu que uma prostituta tivesse o direito de amar e ser amada, e, é de fundamental importância deixar claro que a idealização romântica – que é o que acontece nitidamente nessa obra, Lúcia é uma mulher idealizada – é o traço principal que insere esse grande autor na prosa romanesca. Característica essa que é comprovada segundo Alfredo Bosi: 
“Alencar crê nas razões do coração, e, se as sombras do seu moralismo romântico se alongam sobre as mazelas de um mundo antinatural (o casamento por dinheiro em Senhora; a sina da prostituição em Lucíola), sempre se salva no foro íntimo, a dignidade última dos protagonistas, e se redimem a transações vis respondo de pé herói e heroína.” (BOSI, Alfredo, 1994, p.139).
3 – Lúcia McCartney – Uma Garota de programa e sua identidade na massificação cultural do século XX
O conto Lúcia McCartney, de Rubem Fonseca é um dos mais formalmente inovadores de sua obra. Ele é narrado em primeira pessoa, por Lúcia, o que é fato raro nas obras de Rubem Fonseca: um narrador feminino. Mas, isso não significa que nele haja mais consideração pela mulher, uma vez que Lúcia, no decorrer do texto, pode ser vista como uma “presa” fácil às seduções dos homens que estão sempre à sua caça. 
Sua estrutura é composta por diálogos, cenas reais e imaginárias, cartas, telefonemas e trechos de música e literatura. É uma obra mista, que abrange outros tipos de arte e meios de comunicação. Ele passa a trajetória da arte dentro da modernidade. 
Lúcia é uma prostituta de luxo que trabalha em uma agência que atende executivos. Porém, ela acaba se apaixonando por um de seus clientes – José Roberto, um paulista já coroa – o que dá o fio condutor da narrativa.
Estamos inteiramente diante de uma obra literária que se constitui sob aspectos de uma vida urbana moderna, sejam elas através da arte, do amor, da comunicação, da tecnologia, enfim, um conto que denuncia as mazelas de uma juventude cuja geração está “perdida”, alienada, com um leve desespero no olhar, com a sensação de estar perdida no mundo. 
Esses aspectos de vida urbana, de construir uma literatura urbana com as características locais e atuais da época, também se encontra presente no conto, também de Rubem Fonseca “A arte de andar pelas ruas do Rio de Janeiro. Em que o andarilho Augusto resolve escrever seu livro com base nos aspectos do cotidiano de sua cidade. Augusto passa dia e noite a vaga pelas cidades, até que encontra Kelly, uma prostituta que não sabe ler e resolve ensiná-la o ofício da leitura:
"Você sabe ler?" A mulher o encara com a sedução e a falta de respeito que as putas sabem demonstrar para os homens.
"Claro que sei", diz ela.
 "Eu não sei e queria que você me dissesse o que está escrito ali", diz Augusto. 
Refeição comercial. "Não vendemos fiado", diz ela. "Você está livre?" [...]
[...] “Augusto retira o caderno onde escreve A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro de cima da mesa sob a clarabóia, colocando em seu lugar o jornal que comprou.
Sempre usa um jornal novo nas primeiras lições.
"Senta aqui", diz para a mulher.
"Onde está a cama?", diz ela.
"Anda, senta", diz ele, sentando-se na outra cadeira. "Eu sei ler, desculpe ter mentido para você. Sabe o que estava escrito naquele cartaz no bar? Refeição comercial. Eles não vendem fiado, é verdade, mas isso não estava escrito na parede.Eu quero te ensinar a ler, pago o combinado."
"Você é broxa?"
"Isso não interessa. O que você vai fazer aqui é aprender a ler."
"Não adianta, já tentei e não consegui."
"Mas eu tenho um método infalível. Basta um jornal."
"Eu nem sei soletrar."
"Você não vai soletrar, esse é o segredo do meu método, o Ivo não vê o ovo.
Meu método se baseia numa simples premissa: nada de soletração." 
(FONSECA, Rubem 1992, 21-22)
Ao observar esse conto de Rubem Fonseca também vemos como ele se demonstra um autor, aqui, preocupado com a centralização da prostituta no mundo. Ele não tem preconceitos. Ele faz, aqui, Augusto dar à Kelly a oportunidade de aprender a ler e a escrever, para se situar no mundo, para quem sabe, até sentir-se mais inserida na vida social. E faz José Roberto dar à Lúcia cartas com intertextos de grandes pensadores e escritores, de modo que a faz pensar sobre a sua própria identidade, indagando-a em diversos momentos. E em uma dessas cartas enviadas por José Roberto, Lúcia indaga-se:
“ [...] O túnel é eu ser uma puta? A libertação individual é ser bem-comportado? Ter um emprego decente? Ele não me entende, meu Deus, como é possível isso, se ele não me entende, quem vai me entender? [...]
(FONSECA, Rubem 1967, 31)
 Nessas duas prostitutas temos uma característica de preocupação com a inserção delas na sociedade, não só como uma pessoa que pode doar prazeres e sensações aos seus clientes, mas um ser pensante e crítico.
Vale aqui dizer, que, embora a massificação do meio de comunicação estivesse se formando no século XX, Lúcia não possui qualquer possibilidade de comunicar-se com José Roberto. Ela recebe cartas e telefonemas dele, mas não pode respondê-lo, ou até mesmo iniciar um diálogo com ele, como apresentado no anexo 1.
O mundo romântico que Lúcia está inserida, que se exibe projetado nas canções dos Beatles, está tão cheio de relações intransitivas que faz a personagem receber as mensagens, mas não poder, de fato, estabelecer uma troca com quem a envia, não é permitido à Lúcia estabelecer uma comunicação completa com José Roberto. E é ele quem proíbe as respostas. Ele manda as cartas, mas Lúcia não pode respondê-las, pois não tem o endereço; telefona, mas não há possibilidade de ela telefonar para ele.
[...] Estou muito feliz e queria ver José Roberto. Passo os dias escrevendo cartas. (Para o José Roberto.) Assim que acordo (meio-dia) começo a escrever cartas. (Que não mando.) Hoje estou muito angustiada. Ele não precisava me dar adeusinho como se eu fosse um súdito (uma súdita?). 
(FONSECA, Rubem. 1967, 36)
Este trecho, referenciado acima, não somente traçaa impossibilidade de Lúcia comunicar-se com José Roberto, como também, a crise de identidade e até mesmo existencial na qual ela se encontrava. Ora Lúcia estava feliz e queria vê-lo, ora estava muito angustiada. 
Durante toda a narrativa podemos perceber a abertura que Rubem Fonseca nos concede para que leiamos o conto de maneira que sejamos o coautor, produzindo diálogos subjetivos entre colchetes, de forma que o leitor participe do texto, que possa traçar o diálogo que seja mais conveniente ao cenário, todavia, também estão presentes cenas reais marcadas no decorrer do conto. 
Sem dúvidas essa é uma obra rica em intertextualidade. José Roberto, em diversas passagens, nas cartas destinadas à Lúcia, traz outros autores e as ideias por eles desenvolvidas: Shakespeare, Kafka, Beatles. Uma linguagem impregnada se sentidos audiovisuais. Eles ouvem músicas, veem televisão, escrevem cartas.
Lúcia é uma grande fã do grupo musical The Beatles, que, vale ressaltar, na época em que foi escrito, estava no auge de sua carreira. E por isso, Lúcia adotou o sobrenome do integrante Paul McCartney para assim “compor seu nome”. E José Roberto, em uma das suas cartas diz se lembrar de Lúcia ao ouvir Eleanor Rigby, dos Beatles. 
Rubem Fonseca também inclui na sua narrativa produtos industriais e originalmente estrangeiros, como Rock’n roll, Coca-cola, boliche, etc., e também não deixa de citar lugares “badalados” do Rio de Janeiro, na época, e que Lúcia frequentava com certa assiduidade, como as boates Zum Zum, Le Bateau e Sachinha, na praia de Ipanema, onde também se configura alguns cenários do conto.
Muito mais do que intertextos de outras espécies, é possível enxergarmos em Lúcia McCartney intertextos sociais, com a intenção de produzir no leitor uma visão mais clara do que o que está à sua volta.
Rubem Fonseca traz com essa obra um leitor que é mais do que um consumidor. Uma vez que a arte se recusa a ser apenas uma mercadoria – o livro muda o leitor após sua leitura, você pode voltar à história caso se depare com um diálogo não inteiramente compreendido, o que é diferente com um filme. 
Embora esse conto tenha sido adaptado para a sétima arte, conforme visto no anexo 2, não se compara à capacidade que a leitura concede ao leitor: a de ser um coautor do texto, aumentando significativamente a sua capacidade interpretativa.
4 – Lucíola e Lúcia McCartney – Semelhanças e diferenças entre a Cortesã do século XIX e a Garota de Programa do século XX
Diante de duas obras separadas por quase cem anos, encontramos semelhanças incontestáveis entre elas.
É impossível negar que há uma forte presença de intertextualidade de Lucíola nas linhas e nas entrelinhas que passaram pelas mãos e mentes brilhantes de Rubem Fonseca.
Ambas chamam-se Lúcia e não se apresentam, em momento algum, como prostitutas. Ora uma considera-se uma cortesã da alta sociedade, ora outra somente como uma garota de programa, não assumindo de fato sua “profissão”. Inclusive, Lúcia McCartney quando se refere à José Roberto ou quando fala com ele, não faz menção de ser definida como prostituta, mas sim como alguém que só faz seu trabalho, às vezes, não é uma rotina, ela é apenas uma garota de programa:
“Ele tem um cheiro bom e fala muito suavemente comigo. Estamos a sós. Ele diz que ontem tinha gente demais, “eu queria ficar só com você”. Ele parece meio constrangido, como se nunca tivesse saído com uma garota de programa.”
(FONSECA, Rubem. 1967, 24)
Lucíola, também não se considera uma prostituta e nem Alencar a define assim. Ela é uma cortesã, frequenta os mesmos lugares que a alta sociedade e anda sempre exuberante:
“Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria, desfilando pela Rua da Lapa e a o longo do cais, serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo [...] é uma festa filosófica essa Festa da Glória![...] A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e estrelado. Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues vapores da alvorada [...]” (Alencar, 1965, 8-9)
Apesar de ser uma cortesã, Paulo não nota, num primeiro momento, nenhum detalhe que pudesse imaginar a sua real condição. Por isso ele a admira como uma senhora, e Sá, com sarcasmo a define: 
“A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais. – Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la? ... Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-me ter feito suspeitar a verdade.” (Alencar, 1965, 9)
A sociedade, aqui retratada, mantém uma relação de eufemismo com as duas prostitutas, tentando dissimular o caráter de sua real profissão, usando expressões menos marcadas e fornecendo a Lúcia alencariana o cognome de ‘cortesã’ e à Lúcia fonsequeana o de ‘garota de programa’, assim, ascendendo-as dentro da sociedade. 
Lúcia McCartney, pode-se dizer que, ainda ganha um apelido mais sofisticado, lhe concedendo o status de call girls, segundo o pesquisador americano H. Greenwald (1969) que estudou os hábitos e costumes das call girls, considerando-os tão igualmente associados aos hábitos comuns das mulheres da mesma idade e classe social.
“As despesas dessa categoria de prostitutas incluem um telefone, bem indispensável; roupas de boa qualidade pois a aparência é fundamental para frequentar certos lugares; roupas íntimas; cosméticos; salão de beleza e gorjeta para porteiros. [...] Ela procura particularmente em se distinguir das street walker.” (GASPAR, Maria Dulce., 1985, 69)
Outra peculiaridade que aproxima semelhanças e características de ambas é que elas frequentam a cidade movimentada do Rio de Janeiro de igual maneira. Lúcia alencariana frequenta os salões de baile, saraus, teatros, as ruas da cidade e a personagem fonsequeana, no anexo 3, curte os bares, cinema, as boates mais badaladas. 
Entretanto, há enquadramentos em cada obra que diferem-nas, Lucíola sofre pela condição que vive, por ser prostituta, inclusive o narrador afirma que, embora ela tenha o corpo impuro, sua alma é conservada e puríssima. Assim, Alencar nos leva a ver Lúcia do exterior, ao interior: 
O rosto suave e harmonioso, o colo e as espáduas nuas, nadavam como cisnes naquele mar de leite, que ondeava sobre formas divinas. A expressão angélica de sua fisionomia naquele instante, a atitude modesta e quase íntima, e a singeleza das vestes níveas e transparentes, davam-lhe frescor e viço de infância, que devia influir pensamentos calmos, senão puros." (Alencar, 1995, p. 15)
Enquanto a personagem de Rubem Fonseca não se sente culpada por exercer tal profissão, apesar de, mesmo assim, aderir reservas às suas atividades:
Bebemos e conversamos. Três são cariocas e um deles é paulista [...] Cada qual vai para um quarto. Renê sabe que não gosto de promiscuidade. Eu vou para o quarto com o paulista. (FONSECA, Rubem. 1967, 22)
Também é curioso notar que tanto o cafetão de Lúcia McCartney, quanto José Roberto se enquadram na condição de “caras legais”, na visão de Lúcia, pois René escolhe caras coroas, que são educados e que adotam o perfil que ela gosta de exibir (o de não ser uma prostituta). Inclusive, os amigos em comum de Lúcia nem desconfiam que ela exercetal atividade. Pois ela não se diferencia das atividades comuns das mulheres da mesma idade, conforme podemos ver no anexo 4. René escolhe os “caras certos” e José Roberto lhe agrada em todos os aspectos, tanto no físico, como no emocional, conforme o anexo 5 e segundo o trecho abaixo: 
“Eu era chamada de graveto” “O graveto mais lindo do mundo”, diz ele, me beijando. Eu vou toda pra ele, me entrego, me dou, ele está dentro de mim, eu rezo pra demorar bastante, peço “demora bastante! muito! não acaba!” Ele me põe doidona, me derrete e meu coração fica batendo no peito, na garganta, na barriga, que-bom, que-bom, que-bom, que-bom! (FONSECA, Rubem. 1967, 26)
“Deliro com a carta de José Roberto. Acho o máximo [...] “É tão bom a gente receber uma carta dessas, inteligente [...] José Roberto me faz pensar. Ele acredita que eu posso pensar, que eu sei pensar [...]” (FONSECA, Rubem. 1967, 27-31)
	Podemos aqui também notar uma diferença bem peculiar e significativa. Estamos diante de focos narrativos diferentes. Em Alencar temos o narrador que vê a personagem central, que a ama e que a descreve segundo sua visão. 
Paulo é quem fala sobre a personagem central. Ele narra Lúcia enviando cartas a Senhora G.M. - (pseudônimo de Alencar) -, narrando sobre Lúcia. E esta dá ao livro o título de Lucíola.
“A senhora estranhou, na última vez que estivemos juntos, a minha excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo e extravagâncias. [...]
Escrevi as páginas que lhe envio, as quais a senhora dará um título e o destino que merecerem. É um perfil de mulher apenas esboçado.” (Alencar, 1995, p. 7)
Temos em Lucíola um narrador romântico, que concede à sua amada, características de heroína, pois ela é idealizada e enaltecida por ele. Ao contrário da obra de Fonseca, em que a história é narrada pela própria Lúcia e que fala sobre a própria Lúcia. E podemos observar que ela é a própria narradora, já nas primeiras linhas do conto:
“Abro o olho: Isa, bandeja, torrada, banana, café, leite, manteiga. Fico espreguiçando. Isa quer que eu coma. Quer que eu deite cedo. Pensa que sou criança. [...] O Renê me telefona pra fazer um programa, de noite. Eu digo que está bem. Tomo nota do endereço.” (FONSECA, Rubem. 1967, 27-19)
Bem como a obra alencariana ficou inserida apenas no livro, temos o oposto se olharmos para o conto de Rubem Fonseca. Segundo o cineasta Davi Neves, que lançou a obra de Fonseca para as telonas em 1971, o conto lhe chamou a atenção pela sua temática feminista e intimista. Aqui, Neves concede a atriz Adriana Pietro o papel central e apesar de ser uma obra que fala cobre o corpo, as cenas de nudez são bem sutis, pois é notável que a intenção do autor é de focar os sentimento de Lúcia. 
Mesmo fora do campo da leitura, Neves consegue dar à obra fonqueana o caráter que não foi retirado nas gravações. As cenas subjetivas, os diálogos possíveis, que Fonseca nos permite no decorrer do conto são gravadas em preto e branco, conforme no anexo 6, que reforça para o telespectador seu caráter literário.
 O tempo da primeira parte do filme é o tempo de Lúcia. As situações e os diálogos também passam em preto e branco, deixando evidente de que esse espaço é só dela, altamente subjetivo. Aqui fica a desejar as cenas que se passam na rua, que são descritas pelo conto, elas são sempre muito rápidas.
Outro ponto divergente que encontramos nas obras é o fato de que Lúcia alencariana é uma mulher amada, idealizada e desejada ardentemente e docemente por Paulo. Enquanto Lúcia McCartney sofre por ver que José Roberto não a ama e sofre por não ser amada. 
Lucíola se sente incomodada com o amor de Paulo por diversas vezes e se sente indigna desse amor, como já abordado anteriormente. Enquanto Lúcia não vê dessa maneira e sente por não ser correspondida e deseja ser correspondida.
À Lúciola, Alencar lhe dá as características românticas e as divisões entre a alma e o espírito. A escolha que ela tem de tomar. Viver seu amor, enfrentando a sociedade e suas críticas, ou a de continuar em seu deleite de luxúria. À Lúcia McCartney, Fonseca lhe dá ares de uma jovem comum, que apesar da vida que escolheu para si é uma mulher que idealiza o amor, mesmo à sua forma, mas que não o alcança, pois ela não tem o direito de escolha, simplesmente não há recíproca para seus sentimentos. 
 5 – Considerações Finais
A conclusão de qualquer trabalho nos traz sempre uma sensação de alívio, mas que sempre vem seguida de algum desconforto. De um lado, temos a alegria de ter realizado uma etapa importante de nossa vida acadêmica, do outro o desconforto e por que não, até certa preocupação, por não ter dito "tudo" da melhor forma, por talvez ter deixado algo importante para trás.
Este estudo apresentado não é uma verdade incontestável, ou uma conclusão definitiva, ele é apenas um estudo direcionado à partes de elementos que circundaram as personagens aqui tratadas.
Ao longo desse trabalho vimos Lucíola, uma cortesã da alta sociedade com seus conflitos internos que com o passar do tempo foram externalizados à Paulo, afinal, é ele quem narra toda a história, e se esses conflitos não tivessem se configurado externamente, Paulo não os enxergaria.
Vimos uma sociedade com seus costumes preconceituosos do século XIX, uma sociedade que ao passo que condenava suas mazelas era a mesma que a sustentava. Uma sociedade que inseriam às prostituas no “mercado” para seu “alimento”, mas que as excluíam da sociedade, de um vínculo sentimental e familiar.
O amor como tema central da obra de Alencar retrata Lúcia como uma heroína, mesmo sendo prostituta, pois ela era idealizada, desejada e amada por Paulo pode ser claramente notado.
Lucíola encontra em Paulo o que podemos chamar de “norte”, sua direção, a bússola que ela esperava para trazer direção à sua vida perdida em luxúrias e tristezas. 
De outro lado, com um conto que teve extensão para as telas de cinema, temos Lúcia McCartney, mulher jovem que dividia seu apartamento com Isa, sua amiga. 
Lúcia McCartney é uma mulher que, ao contrário de Lucíola, prefere manter reservas à sua ‘’profissão’’. Mas, que também, encontra-se inserida no mesmo enredo que Lucíola: o amor.
A Lúcia fonsequeana é uma jovem que busca sua identidade e acha que a encontra em José Roberto. Ela também ama, mas não é amada. Sua vida é comum, como a de qualquer uma outra. Porém ela não sofre por ser uma garota de programa e não acha que o “o túnel de sua vida é ela ser uma prostituta”. 
Lúcia McCartney está em uma sociedade já muito mais massificada culturalmente, do que Lucíola. Ela ouve músicas em seus toca discos, usa fones de ouvidos, telefone, troca cartas e também vai às boates badaladas. Ela vive a massificação cultural da época.
O que vimos, neste trabalho, foram obras extremamente delicadas, com assuntos delicados, mas que dão às prostitutas, aqui retratadas, ares de mulheres sensíveis, que possuem seus direitos de amar, assim como qualquer uma outra mulher da sociedade, apesar de também, terem o direito de não serem amadas.
Temos duas Lúcias, com características semelhantes e distintas, mas que, sem dúvidas, são de extrema contribuição para o mundo literário, como para a construção de uma identidade social da época.
Fonseca e Alencar trazem à literatura suas denúncias de forma implícita. Eles descrevem a cidade do Rio de Janeiro, pois seu tema é o romance urbano, os locais mais frequentados, as praias. Embelezam e dão vida a cada linha escrita e página folheada. O amor, aqui, é tanto físico, como espiritual. E, no final de tudo, o maior deleite é o do leitor.
6 – Anexos
Anexo I: Aqui temos a personagem Lúcia falando ao telefone com José Roberto, ao receber uma ligação dele. E do outro lado as tentativas de escrever cartas para ele, mas que não são entregues, pois ela não sabe para onde enviá-las.
Anexo II: Aqui temos o cartaz anunciando a obra no cinema.
Anexo III: Nesta imagem podemos observar Lúcia frequentando uma das baladas mais frequentadasdo Rio de Janeiro.
Anexo IV: Neste anexo podemos ver que Lúcia não se diferenciava da rotina comum de qualquer uma outra mulher. Frequentava as praias e não contava aos seus amigos o que fazia.
Anexo V: Nessa imagem podemos observar Lúcia com José Roberto, sendo essa cena a passagem que ela descreve em como é bom estar com ele e como ele a realiza.
Anexo VI: Nesta imagem podemos ver uma das cenas subjetivas que ocorrem quando Lúcia está na casa de José Roberto e ele lhe sugere ouvir umas músicas no fone de ouvido.
6 – Referências Bibliográficas
FONSECA, Rubem. Lúcia McCartney – Uma Garota de programa. São Paulo: Cia. das Letras, 1994. 
FONSECA, Rubem. Romance Negro e outras histórias, 2ª ed., 5ª reimpressão, Cia das Letras, 1992.
ALENCAR, José de. Lucíola. (Clássicos da Literatura). São Paulo: Ciranda Cultural, 2009.
ASSIM, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. (Coleção a bra-prima do autor), 3. ed., São Paulo: Martin Claret, 2012.
GASPAR, Maria Dulce. Garotas de Programa: prostituição em Copa Cabana e identidade social, 1985.
ASSIS, Machado de. Seleção de GLEDSON, John. Missa do Galo. In: 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura Brasileira. 34. Ed. São Paulo: Cultrix, 1994.
COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. 5 ed. São Paulo: Global, 1999.
De Marco, Valéria. O Império da Cortesã: Lucíola: Um perfil de Alencar. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
LÚCIA MCCARTNEY: uma garota de programa. Direção: Davi Neves. Produção: Cibeli Silva Palácios e Antônio Pólo Galante. Roteiro: Rubem Fonseca e Davi Neves, baseado em contos de Rubem Fonseca. Intérpretes: Adriana Pietro, Paulo Villaça, Isabella Campos, Nélson Dantas, Odete Lara, Roberto Bonfim, Wilson Gray, Albino Pinheiro, Márcia Rodrigues. 1971.1 videocassete (90 min), VHS, son, color. País: Brasil.

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