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87 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Unidade III 5 O MODELO KEYNESIANO SIMPLES DE DETERMINAÇÃO DA RENDA, O MULTIPLICADOR DE GASTOS E O CICLO DE ESTOQUES 5.1 Modelo keynesiano com consumo e investimento e o multiplicador de gastos Introduzindo o investimento no modelo de demanda agregada, tem‑se: DA = C + I0 O investimento é considerado fixo (I0), pois não depende da renda. Essa noção é derivada da ideia de que, no curto prazo, o investimento não varia e não depende do nível de renda. É possível alterar o investimento apenas no longo prazo, ou seja, após seu período de maturação. Como a partida é a contabilidade social, então a demanda agregada continua tendo identidade com produto em equilíbrio. Tem‑se, portanto: Y = C + I Y = C0 + cY + I0 Y – cY = C0 + I0 Y(1 – c) = C0 + I0 Y c C IE = − + ( ) ( ) 1 1 0 0 O termo 1 1( )− c é chamado multiplicador dos gastos autônomos. Como 0 < c < 1, o multiplicador será necessariamente maior que 1. Isso significa que com um aumento de uma unidade monetária nos gastos autônomos (C0 + I0), haverá um acréscimo mais do que um do produto da economia. Esse multiplicador será tanto maior, quanto maior for a propensão marginal a consumir (c). Por exemplo, se a propensão marginal a consumir for 0,6, o multiplicador será 2,5; já se o c for para 0,8, o multiplicador será 5. Graficamente, essa condição de equilíbrio pode ser observada a seguir: 88 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III DA OA = Y = DA DA = C + I0 Y Y S S, I 0 YE YE 45º C0 + I0 ‑ C0 I0 Figura 20 – Equilíbrio no modelo keynesiano básico com consumo e investimento autônomos Nesse gráfico da função DA, o intercepto é dado pelos gastos autônomos (C0 + I0) e a inclinação é dada pela propensão marginal a consumir (c). Observando o ponto de equilíbrio (YE), é possível verificar que onde Y = DA também é S = I. Portanto, no ponto da renda em equilíbrio, a função poupança se encontra com a função investimento. No equilíbrio, o investimento realizado é exatamente igual ao investimento voluntário de forma que o investimento involuntário é igual a zero, ou seja, a variação do estoque não planejado é igual a zero. Pontos abaixo de YE, a variação de estoques é negativa (Iinv < 0) e, pontos acima de YE, a variação de estoques é positiva (Iinv > 0). De acordo com Lopes e Vasconcellos (2011, p. 150): Essa forma de determinar o equilíbrio macroeconômico é a chamada ótica dos vazamentos e injeções de renda. Os vazamentos de renda ocorrem quando há quedas autônomas da demanda agregada, enquanto as injeções de renda representam aumentos autônomos da demanda agregada. Tipicamente, aumentos da poupança (e, como veremos mais adiante, dos atributos e das importações) representam vazamentos no fluxo de renda, deslocando a curva de demanda agregada para baixo, e provocando per se queda na renda de equilíbrio. Por outro lado, aumentos nos gastos com investimento (e também das despesas do governo e exportações) representam injeções ao fluxo de renda da economia. 89 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Para um exercício numérico, suponha que o consumo autônomo seja 200, a propensão marginal a consumir seja 0,8 e a demanda de investimentos seja de $400. Tem‑se que: Condição de equilíbrio: OA = Y = DA = C + I. Função consumo: C = 200 + 0,8Y. Função investimento: I = I0 = 400. Fazendo as substituições em OA e DA em equilíbrio, tem‑se: Y = 200 + 0,8Y + 400 YE = = 600 0 2 3000 , Ou pela ótica da poupança e do investimento (vazamentos e injeções de renda): Condição de equilíbrio: S = I. Função poupança: S = – 200 + 0,2Y. Função investimento: I = I0 = 400. Fazendo as substituições em S e I em equilíbrio, tem‑se: – 200 + 0,2Y = 400 0,2Y = 400 + 200 0,2Y = 600 YE = = 600 0 2 3000 , Nesse modelo, as expectativas de gastos (seja com consumo ou com investimento) determinam o nível do produto. De forma inversa à Lei de Say, a demanda determina a oferta. Uma das preocupações é analisar a capacidade de multiplicar que os gastos autônomos apresentam. Nos exemplos, quando a demanda agregada era composta apenas pelo consumo, um consumo autônomo de 200 com um c de 0,8 apresentava uma renda de equilíbrio de 1000. Quando foi incorporado o investimento de 400, a renda de equilíbrio passou para 3000. Como calcular esses valores? O multiplicador de gastos permite estabelecer uma razão entre os gastos autônomos e a renda nacional. Ele parte do pressuposto de que uma variação dos gastos autônomos induz uma variação na renda superior à variação inicial nos gastos. 90 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III multiplicadordegastos iacao darendanacional iacao var var = autonomana demanda agregada Y DA = ∆ ∆ A variação inicial na despesa tem um impacto imediato e direto sobre a renda daqueles que são beneficiários desses gastos. Ao receber esta renda, os indivíduos ampliarão seu consumo de acordo com a propensão marginal a consumir, levando à nova ampliação da renda. Os agentes que forem beneficiados por esta nova ampliação da renda também ampliarão seu consumo, gerando novo acréscimo de renda, e assim sucessivamente. Dessa forma, os acréscimos de consumo induzidos pelo gasto inicial fazem com que a renda cresça mais que a variação da despesa inicial (LOPES; VASCONCELLOS, 2011, p. 152). Assim, tem‑se a seguinte equação: ∆Y = ∆I + c∆I + c2∆I + c3∆I + c4∆I + ... ∆ = − ∆Y c I 1 1 . Veja que o multiplicador de gastos será tanto maior, quanto maior for o c. No exemplo anterior, o multiplicador de gastos será igual a: 1 1 0 8 5 ( , )− = Isso significa que o incremento de uma unidade do gasto autônomo levará a um crescimento da renda nacional de cinco vezes. No nosso exemplo, o gasto autônomo era de 600 e a renda de equilíbrio foi de 3000, ou seja, cinco vezes esse gasto inicial. O multiplicador pode ser interessante enquanto amplificador da renda nacional, porém, é possível também verificar o efeito inverso, ou seja, quando há quedas autônomas da demanda agregada, o efeito também é multiplicador, mas negativamente. Outro elemento interessante do multiplicador é imaginar que os incrementos da renda, mantendo a propensão marginal a consumir constante, leva a maiores estoques de poupança, uma vez que essa é residual. A partir disso, um dilema foi colocado sobre a determinação do financiamento do investimento. Dada a identidade contábil, a demanda agregada, o produto da economia e o modelo keynesiano simples, é possível analisar a relação de causalidade entre I e S. Considerando que a poupança é residual no processo decisório, ela não apresenta um papel decisório na determinação do produto. Portanto, é o investimento, considerando que o consumo é estável, que determina a poupança. Lembrando que as variáveis relevantes para determinar o produto são os gastos com consumo e investimento. Assim, tem‑se: DA = C + I DA = Y 91 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Y = C + I Y = C + S C + I = C + S I = S Keynes enfatizou a noção de que a poupança é a sobra da renda que não foi gasta. Então, em termos agregados, o investimento determina uma poupança equivalente, o que ex post, consiste no próprio conceito de poupança, ou seja, a renda não consumida. Dessa maneira, sendoa poupança um resíduo, ela não pode travar o aumento dos gastos, ou seja, não é ela que financia o gasto com consumo e investimento e, ao fim, o crescimento econômico. Na sabedoria popular, dizem que aqueles que gastam toda a sua renda estão condenados a morrer na pobreza. E o contrário, ou seja, para aqueles que sabem guardar dinheiro, está destinado um futuro próspero. De modo bastante próximo, alguns fazem essa analogia às contas do governo, ou seja, um governo que poupa poderá garantir um país próspero e forte. Porém, imagine que houvesse um aumento da taxa de poupança. À medida que os indivíduos poupam mais de acordo com seus níveis de renda, seu consumo diminui. Com isso, a demanda agregada se retrai, levando à queda do produto. Então, de acordo com esse modelo, mantendo‑se constante os gastos autônomos, por um lado, uma propensão marginal maior a poupar levará a uma redução da renda, ou seja, um aumento da poupança acarretaria em um país mais pobre e não mais próspero. Por outro lado, uma queda na renda, levaria a uma redução da poupança. Isso é o que ficou conhecido como paradoxo da parcimônia. O resultado líquido é ambíguo. “Paradoxo da parcimônia” atrapalha recuperação Nos últimos anos, o consumidor americano gastou demais. Comprou casas demais, assumiu dívidas demais e em geral viveu além de seus meios. A liberalidade dos gastos contribuiu para a pior crise financeira desde a Grande Depressão. E agora ele tem de fazer sua parte para acabar com a crise. Como? Gastando. Chega dessa poupança que tantos americanos de repente começaram a fazer. Neste exato instante, o Congresso e o presidente Barack Obama se preparam para oferecer uma restituição tributária para inspirar a população a gastar. John Maynard Keynes, grande economista do século 20, teria apreciado o aparente absurdo dessas mensagens ambíguas. Ele cunhou um termo, “paradoxo da parcimônia”, para explicar que aquilo que é racional para um indivíduo durante tempos difíceis – poupar – pode ser devastador para a economia como um todo. Afinal, muitos poupadores podem acabar sem emprego porque outras pessoas também estão poupando. Em recente entrevista coletiva, Obama evitou responder a uma pergunta sobre se as pessoas deveriam gastar ou poupar a restituição. Felizmente, porém, há uma resposta. A primeira parte envolve descobrir como gastar agora para poupar depois – o que pode erguer a economia hoje e ajudar as famílias a lidarem em longo prazo com suas combalidas finanças. A segunda parte consiste em perceber que o 92 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III paradoxo de Keynes não é tão férreo. Numa crise, quando os bancos podem precisar tanto de capital quanto o varejo precisa de vendas, muita gente pode poupar sem culpa. Além de ter desenvolvido a receita mais famosa para curar crises, Keynes também pode ser considerado o padrinho da economia comportamental, conforme escreveu recentemente o colunista David Ignatius. Enquanto outros economistas ficavam obcecados com modelos estatísticos que tratavam as pessoas como autômatos hiper‑racionais, Keynes escreveu sobre “espíritos animais”. Ele ajudou a explicar como a psicologia moldava a economia. A economia comportamental decolou nas últimas duas décadas, e uma das suas descobertas centrais é que a maioria das pessoas não se planeja bem para o futuro. Não são nem de perto tão legais com o seu “futuro ser”, como dizem os economistas, quanto são com o seu “presente ser”. Elas comem um doce a mais e adiam a ginástica para amanhã. Deixam de guardar o suficiente para a aposentadoria. Esses hábitos provocam problemas, mas também representam uma oportunidade num momento destes. A maioria das pessoas poderia poupar um bom dinheiro mais tarde se gastasse um pouco agora para cuidar do seu futuro ser. Com a ajuda de economistas comportamentais, montei uma listinha de exemplos. Pais de bebês podem pagar para aderir a um programa de descontos numa grande loja, e a taxa de adesão seria compensada em poucos meses de compras de fraldas. Quem não se importa de ler em telas pode comprar o novo leitor de livros eletrônicos Kindle, da Amazon. Custa US$ 359, mas a maioria dos livros a partir daí sai por menos de US$ 10. Famílias que fazem compras financiadas deveriam se segurar temporariamente e então comprar móveis e eletrônicos à vista. Quem tira muitas cópias a laser poderia comprar uma impressora que usa só 1 ou 2 cents de tinta por página (muitas usam bem mais). Nesses casos – e sem dúvida em muitos outros – o investimento inicial tende a se pagar rapidamente. Por isso tais gastos são perfeitamente adequados ao momento. Eles mantêm pessoas empregadas e criam novos empregos quando a economia precisa de ajuda. Mas também irão reforçar as finanças domésticas. O grande senão é que algumas pessoas sentem que não podem abrir mão de US$ 50 ou US$ 100 extras atualmente. Milhões de trabalhadores já perderam seus empregos, e muitos outros simplesmente querem reduzir despesas. Em dezembro, as famílias pouparam uma média de 3,6% da sua renda disponível, bem acima do 1% nos últimos anos. Numa recessão normal, essa poupança adicional teria um lado negativo muito maior que o positivo, conforme Keynes explicou. Mas esta recessão é diferente. Foi causada por uma crise financeira. Se os americanos não melhorarem suas finanças, os bancos continuarão 93 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA com medo de emprestar, e a recessão vai se prolongar. Ainda mais imediatamente, os bancos precisam colocar suas próprias finanças em ordem. Quando esta recessão finalmente chegar ao fim, nossos seres futuros terão algumas contas enormes a pagar. Precisarão de toda a ajuda que lhes pudermos dar. Fonte: Leonhardt (2009). De acordo com o modelo keynesiano simples, enquanto houver aumento de gasto com consumo e investimento, haverá expansão do emprego e do produto da economia. Porém, uma dúvida colocada por Lopes e Vasconcellos (2011) parece ser relevante. Qual seria o limite desse crescimento? Lopes e Vasconcellos (2011, p.154) respondem: [...] o estoque de fatores de produção e a tecnologia definem o chamado produto potencial, ou o produto de pleno emprego, aquele obtido quando todos os fatores de produção estão sendo utilizados, a uma dada tecnologia. Vimos também que quando a economia se encontra ao nível do produto de pleno emprego, alterações na demanda repercutirão basicamente sobre os preços. Isto parece totalmente intuitivo: uma vez esgotada a capacidade ociosa, isto é, se não houverem mais fatores de produção disponíveis, mesmo que haja demanda adicional, não há como elevar o produto. [...] o modelo keynesiano [...] é valido em situações em que exista capacidade ociosa. Uma vez atingido o limite da capacidade produtiva, uma expansão da demanda levará, como no modelo clássico, à elevação dos preços. Podemos assim definir i chamado hiato inflacionário no modelo keynesiano, que corresponde ao excesso de demanda em uma situação de pleno emprego. DA OA = Y = DA DA1 DA0 YYP 45º Hiato inflacionário Figura 21 – Hiato inflacionário Esse hiato inflacionário mostra que o modelo keynesiano simples é aplicável em caso de desemprego, pois ao tingir o pleno uso dos fatores de produção, variações positivas na demanda agregada induzirão variações de preços. 94 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III Observação Variáveis ex ante são aquelas cujo valor é definido antes do processo produtivo. Todo valor ex ante é esperado. Por exemplo, a demanda esperada por um produto e a quantidade decontratação de trabalhadores são consideradas ex ante. Já as variáveis cujo valor é conhecido apenas após a produção são consideradas ex post. Por exemplo: lucro auferido, a quantidade vendida, a receita ou faturamento (MACEDO; SILVA, 1999). 5.2 Ciclo de Estoques Já foi apontado que o investimento flutua mais que o consumo, mas por qual razão isso ocorre? Antes de responder a essa questão, talvez seja interessante indagar: por que as empresas mantêm estoques? • Os vendedores detêm estoques para suprirem a demanda futura por bens, porque ou estes não podem ser instantaneamente manufaturados ou obtidos pelo fabricante para suprir a demanda; • Os estoques são também mantidos porque é menos custoso para uma empresa comprar bens menos frequentemente em grandes quantidades do que comprar pequenas quantidades muitas vezes – assim como uma família média acha útil manter em casa o mantimento para vários dias ao invés de ter que visitar o supermercado diariamente; • Os produtores podem deter estoques como meio de regularizar sua produção. É custoso sustentar uma variação do nível de produção; entretanto, pode‑se manter uma taxa relativamente estável mesmo quando a demanda flutua, formando estoques quando a demanda é baixa e diminuindo‑os quando a demanda for alta; • Alguns estoques são mantidos como parte inevitável do processo produtivo; existe um estoque de carne e de temperos dentro de uma máquina de salsicha durante a manufatura da salsicha, por exemplo (DORNBUSCH; FISCHER, 1991, p. 350). O investimento em estoque pode ser desejado (ou planejado) ou não antecipado (ou não planejado). Os estoques podem ser altos quando as vendas ou demanda agregada inesperadamente forem baixas, encalhando um estoque indesejado. Então, o estoque está relacionado à produção e ao volume de vendas. Os investimentos em estoque flutuam substancialmente no ciclo de negócios em maior grau que o consumo, por exemplo. Quando ocorre uma queda na demanda agregada, as empresas acumulam 95 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA estoque de modo não antecipado. Elas cortam a produção com o objetivo de alinhá‑la à nova demanda. Porém, no processo de redução para diminuir os estoques indesejados, as empresas podem provocar uma redução maior no produto nacional, gerando o que ficou conhecido como ciclo de estoques. Considerando um caso hipotético, uma concessionária de carros vende mensalmente cinquenta carros e mantém essa mesma quantidade em estoque. Portanto, todo mês a concessionária encomenda cinquenta carros. Porém, suponha que a venda caia para quarenta carros ao mês e a concessionária demore dois meses para responder a essa mudança. Com isso, ela terá acumulado nesses meses vinte carros em estoque indesejado. No terceiro mês, quando for encomendar os carros, ela solicitará apenas dez carros, pois deseja manter apenas quarenta carros em estoque, condizente com o volume de vendas mensais. Dada uma queda de demanda de dez carros por mês, houve uma queda de trinta carros na produção em um mês, seguida de uma queda de longo prazo de dez carros ao mês. Quando há oscilações na demanda agregada, o efeito sobre a produção pode ser mais intenso e esse ajuste não é realizado imediatamente, gerando ciclos de estoques com expansão ou contração da economia como resposta a flutuações da demanda. 5.3 Determinação da renda com o governo Até o momento, havia a suposição da existência de dois agentes econômicos no modelo keynesiano simples com economia fechada, quais sejam as famílias e as empresas. Agora haverá a incorporação de um terceiro agente econômico: o governo. O governo, ao adquirir bens e serviços junto ao setor privado, produzir a partir de suas empresas públicas, transferir renda a partir das políticas assistenciais e previdenciárias e ao pagar juros arrecada e gasta. O gasto governamental (G) constitui um dos componentes autônomos da demanda agregada. Além disso, o governo precisa arrecadar para executar esses gastos, uma vez que o objetivo não é acumular lucro. Portanto, ao arrecadar tributos e transferir renda ao setor privado, surge o conceito de renda disponível (Yd). Os tributos reduzem a renda dos indivíduos voltada para o consumo ou poupança; já as transferências ampliam a renda disponível do setor privado. Então, a renda disponível é a renda líquida disponível para as famílias efetuarem suas despesas de consumo. Então, redefine‑se: C = C(Yd) Sendo: Yd = Y – T + R T = tY Onde: Yd = renda disponível. Y = total da renda nacional. 96 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III T = arrecadação de impostos. R = transferências do governo ao setor privado. t = alíquota dos impostos, sendo 0 < t < 1. Com o governo, a DA fica assim reformulada: gasto autônomo = DA = C + I + G Y = C + I + G Y = C + S + (T – R) Em equilíbrio, Y = DA C + I + G = C + S + (T – R) A função consumo será: C = C0 + cYd Yd = Y + R – T C = C0 + c(Y + R – T) C = C0 + cY + cR – ctY C = C0 + cR + c(Y – tY) C = C0 + cR + cY (1 – t) Y = C + I + G Y = C0 + cR + cY(1 ‑ t) + I0 + G0 Y = C0 + I0 + G0 + cR + cY(1 ‑ t) Y ‑ cY(1 ‑ t) = C0 + I0 + G0 + cR Y(1 ‑ c(1 ‑ t)) = C0 + I0 + G0 + cR Y c t C I G cRE = − − + + + 1 1 1 0 0 0( ) . ( ) Com isso, é possível verificar que o aumento do gasto público (G0) aumenta a renda por elevar o gasto autônomo. E, quanto maior G0, maior será a renda de equilíbrio. As políticas de transferência de renda do governo para o setor privado também têm efeito positivo sobre a renda nacional, de forma que quanto maior for R, estimula‑se a renda. Já os impostos oferecem o efeito inverso, reduzindo o produto da economia. Quanto maior for t, menor será a renda disponível e menor será o consumo. O gasto público autônomo e as transferências afetam o deslocamento (ou a posição) da função DA; já a alíquota de impostos (t) afeta a inclinação da DA. O novo multiplicador de gastos será dado pelo fator 1 1 1− −c t( ) . Para imaginar as variações, suponha que: 97 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA 1. Aumento do c de 0,8 para 0,9, supondo t = 0: Multiplicador Multiplicador = − − = = − − = , ( ) , ( ) 1 1 0 8 1 0 5 1 1 0 9 1 0 10 2. Aumento do c de 0,8 para 0,9, supondo t = 0,2: Multiplicador Multiplicador = − −( ) = = = − , , , , 1 1 0 8 1 0 2 1 0 36 2 78 1 1 0,, ( , ) , , 9 1 0 2 1 0 28 3 57 − = = Quando houve o aumento da alíquota de imposto (de 0 para 20%), houve uma redução do multiplicador de gasto, mantendo constante o c. No caso do c = 0,8; o multiplicador reduziu de 5 para 2,78. Já no caso do c = 0,9, o multiplicador foi de 10 para 3,57. Ou seja, a introdução da tributação reduz o efeito multiplicador dos gastos autônomos. OA = Y = DA DA’ = C0 + I0 + G’0 + cR + cY(1 ‑ t) DA = C0 + I0 + G0 + cR + cY(1 ‑ t) Y YE 45º C0 + cR + I0 + G0 C0 + cR + I0 + G’0 DA Y’E ∆G0 = G’0 ‑ G0 Figura 22 – Impactos do aumento de G0 sobre o nível de renda De acordo com a figura, um aumento no G0 desloca a curva de DA para cima, expandindo a renda de equilíbrio. O efeito sobre a renda é maior que o aumento do gasto autônomo inicial. Suponha agora que haja um aumento nas transferências do governo para o setor privado. O efeito sobre a demanda agregada também será positivo, ou seja, haverá deslocamento da curva DA na magnitude de c∆R. Isso significa que a expansão da renda será maior que c∆R devido ao multiplicador de gastos. Vale ressaltar, porém, que um aumentode uma unidade monetária de G0 tem um efeito multiplicador sobre a renda maior do que um aumento de uma unidade monetária de R. Isso ocorre 98 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III porque o aumento de uma unidade monetária de R gera um aumento de apenas cR no gasto autônomo, lembrando que 0 < c < 1. Já o aumento de uma unidade monetária de G0 representa a expansão de uma unidade do gasto autônomo. Saiba mais Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) pode trazer mais noções sobre o conceito de multiplicador de gastos. Veja: MOTA, C. V. Ipea: cada R$ 1 gasto com Bolsa Família adiciona R$ 1,78 ao PIB. Valor Econômico, 15 de outubro de 2013. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/3305466/ ipea‑cada‑r‑1‑gasto‑com‑bolsa‑familia‑adiciona‑r‑178‑ao‑pib>. Acesso em: 29 dez. 2015. Os efeitos sociais dessa política fiscal podem ser conferidos em: NERI, M.; VAZ, F.; SOUZA, P. O Bolsa Família e a Economia (olhar sobre objetivos finais). Brasília – DF: Ipea, 2015. Disponível em: <http://www.ipea. gov.br/agencia/images/stories/PDFs/131015_bolsa_familia_grafico.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2015. Agora supondo uma variação na alíquota de imposto, haverá uma variação indireta na demanda agregada. Uma redução de t expande a renda disponível para o consumo, aumentando a demanda agregada. Logo, para um dado nível de gastos autônomos, o nível de equilíbrio da renda será maior devido à expansão dos gastos com consumo induzidos pela renda disponível mais elevada. O efeito de uma redução de t tem dois componentes: • a variação inicial do nível de renda que corresponde à redução dos impostos e é dada por cY∆t; • o aumento da DA que decorre das maiores despesas de consumo induzidas pelo nível de renda mais alto, dado o aumento da renda disponível. Para verificar essa hipótese, suponha duas situações em que haja uma redução de t: 99 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA 1. c = 0,8; t = 0,3; C0 = 100; I0 = 50; G0 = 20; R = 0 Y Y Y E E E = − −( ) + + +( ) = − = = 1 1 0 8 1 0 3 100 50 20 0 1 1 0 56 170 1 0 44 170 3 , , . , . , . 886 4, 2. c = 0,8; t = 0,2; C0 = 100; I0 = 50; G0 = 20; R = 0 Y Y Y E E E = − −( ) + + +( ) = − = = 1 1 0 8 1 0 2 100 50 20 0 1 1 0 64 170 1 0 36 170 4 , , . , . , . 772 2, Uma variação de t afeta a propensão marginal a consumir da renda (renda disponível), que é dada por c(1‑t) e determina a inclinação da curva de DA. Logo, reduções em t acarretam em aumento de c, o que gera uma curva de DA mais inclinada. Veja a seguir na figura: DA’ = C0 + I0 + G’0 + cR + cY(1 ‑ t’) DA = C0 + I0 + G0 + cR + cY(1 ‑ t) t’ > t OA = Y = DA Y YE 45º C0 + cR + I0 + G0 DA Y’E Figura 23 – Impacto de t sobre a renda Caso a suposição fosse de uma arrecadação tributária fixa, independentemente da renda, os impostos seriam redutores apenas dos gastos autônomos, não afetando o multiplicador de gastos. A diminuição dos gastos autônomos seria inferior ao valor total dos impostos, devido ao multiplicador de gastos e o efeito sobre o consumo e a poupança. A partir disso, tem‑se o chamado multiplicador de impostos, que é inferior ao multiplicador de gastos. 100 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III Além da arrecadação tributária, o governo pode exercer influência sobre a renda da economia a partir da arrecadação (T = tY), do gasto público (G0) e transferências (R), ou seja, do orçamento público (O). Tem‑se, portanto: O = T – G0 – R O = tY – G0 – R • quando O > 0, há um superávit orçamentário; • quando O < 0, há um déficit orçamentário. Graficamente, um orçamento equilibrado é quando T = G0 + R. Para níveis de renda acima do equilíbrio orçamentário, há um superávit orçamentário, pois a arrecadação tende a ser maior que o nível de despesas e vice‑versa. O 0 ‑ G0 ‑ R Déficit Superávit T = G0 + R Y 0 = tY ‑ G0 ‑ R Figura 24 – Resultado orçamentário do governo e nível de renda De acordo com Além (2010, p. 168), a figura mostra que: [...] para uma dada política fiscal, o O do governo sofre variações de acordo com alterações do nível de renda que resultaram de outros componentes da DA. Por exemplo, se há um aumento dos gastos de investimentos, isso eleva o nível de renda de equilíbrio. Tendo em vista que a arrecadação é dada por tY, há também um aumento das receitas do governo. Para um dado nível de despesa do governo, isso representa uma melhora do O. Caso ocorra uma redução dos investimentos, há uma queda do nível de renda e, consequentemente, do nível de arrecadação. Tendo em vista despesas fixas do governo, isso significa uma piora do O. A arrecadação automaticamente cai quando há uma redução do nível de renda, gerando um efeito estabilizador automático. Dada uma carga tributária, uma queda dos gastos autônomos gera um impacto total menor sobre a redução da renda, caso não houvesse a cobrança de impostos. Isso ocorre devido ao 101 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA t reduzir o efeito multiplicador dos gastos autônomos. Esses estabilizadores automáticos correspondem a amortecedores ao reduzirem os efeitos das oscilações dos gastos autônomos sobre o nível de renda. Se o orçamento estiver equilibrado, ainda assim haverá um efeito positivo sobre a renda em magnitude exatamente igual ao valor do gasto público. Esse efeito é o chamado multiplicador do orçamento equilibrado, que é igual a 1. Também é conhecido como teorema do orçamento equilibrado ou Teorema de Havelmo. Muito se fala no Brasil que a tributação onera a produção, deteriorando a capacidade de competitividade dos produtos industriais nacionais. A figura a seguir mostra que a carga tributária brasileira não é a das mais altas. Entretanto, entre os países subdesenvolvidos, o Brasil apresenta uma das maiores cargas tributárias. Dinamarca Suécia Bélgica Itália França Noruega Finlândia Áustria Hungria Luxemburgo Alemanha Islândia Reino Unido Brasil Israel Espanha Nova Zelândia Portugal Canadá Grécia Suíça Eslováquia Irlanda Turquia Coreia EUA Chile México 0 5 10 15 20 25 % do PIB 30 35 40 45 50 Figura 25 – Carga tributária: países selecionados, 2010 Saiba mais Para detalhes sobre a questão tributária no Brasil, leia: AFONSO, J. R. R.; SOARES, J. M.; CASTRO, K. P. de. Avaliação da estrutura e do desemprenho do sistema tributário brasileiro. Livro branco da tributação brasileira. IBD, 2013. Disponível em: < https://publications.iadb.org/bitstream/ handle/11319/5706/Avalia%C3%A7%C3%A3o%20da%20estrutura%20 e%20do%20desempenho%20do%20sistema%20tribut%C3%A1rio%20 Brasileiro%200130.pdf?sequence=1>. Acesso em: 30 dez. 2015. 102 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III No modelo keynesiano simples, o foco recai sobre a variável demanda agregada, diferente do modelo clássico, cuja ênfase era dada para a oferta agregada. Vale observar finalmente que o pressuposto é que haja demanda ociosa. Dessa maneira, expansões da demanda agregada permitirão um aumento do nível de emprego e da renda. Dada a incerteza com relação ao futuro, é crucial a intervenção do Estado na economia de forma a gerar um cenário estável. Esse cenário é importante, pois afeta as decisões de investirtomadas pelos empresários. A seguir, a partir de informações do IBGE, temos uma tabela com os dados dos agregados macroeconômicos reais da economia brasileira. É possível observar a estabilidade do consumo e uma certa instabilidade do investimento. Tabela 1 – Agregados macroeconômicos – taxa acumulada dos quatro trimestres (em R$ milhões) PIB pm Consumo das Famílias 1.Consumo da APU Formação bruta de capital fixo Variação de estoques Exportação Importação Participação do PIB Consumo Investimento (X - M) 1996 843.966 545.735 169.604 142.382 1.430 55.421 70.606 85% 17% ‑ 2% 1997 939.147 609.294 186.854 163.134 524 64.056 84.714 85% 17% ‑ 2% 1998 979.276 629.994 202.108 166.174 581 67.890 87.471 85% 17% ‑ 2% 1999 1.065.000 689.376 216.174 166.746 7.666 100.229 115.191 85% 16% ‑ 1% 2000 1.179.482 458.941 226.085 198.151 17.106 117.691 138.492 84% 18% ‑ 2% 2001 1.302.136 826.468 258.043 221.772 12.982 158.619 175.748 83% 18% ‑ 1% 2002 1.477.822 912.058 304.044 242.162 2.811 208.323 185.954 82% 16% 2% 2003 1.699.948 1.052.759 329.596 259.714 8.381 254.770 205.272 81% 16% 3% 2004 1.941.498 1.160.611 373.284 312.516 19.817 318.892 243.622 79% 17% 4% 2005 2.147.239 1.294.230 427.553 342.237 5.739 324.842 247.362 80% 16% 4% 2006 2.369.484 1.428.906 474.773 389.328 7.699 340.457 271.679 80% 17% 3% 2007 2.661.344 1.594.067 539.061 464.137 23.624 355.672 315.217 80% 18% 2% 2008 3.032.203 1.786.840 612.105 579.531 47.966 414.295 408.534 79% 21% 0% 2009 3.239.404 1.979.751 687.001 585.317 ‑ 7.471 355.653 360.847 82% 18% 0% 2010 3.770.085 2.248.624 797.332 733.712 29.300 409.868 448.752 81% 20% ‑ 1% 2011 4.143.013 2.499.489 856.647 798.720 18.540 492.570 522.953 81% 20% ‑ 1% 2012 4.392.094 2.750.191 935.829 798.142 ‑ 28.537 552.843 616.374 84% 18% ‑ 1% 2013 4.840.740 3.028.360 1.064.528 886.981 ‑ 18.553 608.210 728.788 85% 18% ‑ 2% Fonte: IBGE ‑ CNT. Exemplo de aplicação Considerando o modelo keynesiano simples numa economia fechada e com governo, observe as variações dos estoques de investimento na tabela. Relacione essas variações com os conceitos de demanda agregada real e planejada. 103 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA 6 POLÍTICA ECONÔMICA EM UMA ECONOMIA FECHADA ATRAVÉS DA SÍNTESE NEOCLÁSSICA: O MODELO IS‑LM E INTERLIGAÇÃO ENTRE O LADO REAL E O LADO MONETÁRIO Os modelos econômicos que trabalhamos apresentaram o mercado de bens e serviços ou o lado da economia real, isto é, a renda agregada formada por consumo, investimento e gastos do governo. A partir de agora, iremos estudar a interação do lado real com o lado monetário, ou seja, o papel do estoque de moeda e sua importância na determinação da renda e do emprego por meio da política monetária, que é realizada com a administração da taxa de juros pelo Banco Central de cada país. O modelo IS‑LM é formado por duas curvas, a primeira é a curva IS que representa o lado real da economia e faz a relação entre investimento e poupança (Investment‑Saving) e a curva LM que representa o lado monetário e faz a relação entre a oferta de moeda (M) e a demanda por moeda (L), cujo termo LM advêm da língua inglesa, Liquidity‑Money. O modelo IS‑LM trabalha a interação entre os mercados de bens e serviços e o mercado monetário. Aprendemos que a renda afeta os gastos que, por sua vez, determinam a produção e a renda. Essa mesma renda é formada por moeda e o preço da moeda é a taxa de juros. Quando a renda aumenta, há um aumento da demanda por moeda e da taxa de juros, que, por sua vez, reduz os gastos e a renda. Sendo assim, há uma relação entre os gastos, a renda e a taxa de juros, ou seja, essas variáveis são determinadas nos mercados de bens e serviços e monetário. Podemos ver na figura a seguir a interdependência entre os mercados de ativos e de bens e serviços, cujas políticas econômicas fiscal e monetária são realizadas em cada mercado com impacto nas variáveis renda e taxa de juros. Mercado de ativos Oferta de moeda Demanda de moeda Mercado de bens Mercado de bens Produção Demanda Agregada Renda Política FiscalPolítica monetária Taxa de juros Figura 26 – Estrutura do modelo IS‑LM 6.1 A curva IS e o equilíbrio no mercado de bens A curva IS é a curva de equilíbrio do mercado de bens e serviços, pois relaciona a combinação da produção com a taxa de juros, em que os gastos são iguais à renda agregada. A equação da curva IS pode ser representada da seguinte forma: 104 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III Y = C + cY + cTR + I –br + G Onde: Y é a renda agregada. C é o consumo agregado. cY é a propensão marginal a consumir em relação à renda. cTR é a propensão marginal a consumir em relação às transferências do governo. I é o investimento agregado. b coeficiente de sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros. r é a taxa de juros. G é o gasto do governo em consumo e investimento públicos. Lembrete No modelo keynesiano simples, o investimento era uma variável exógena. Já no modelo IS‑LM, o investimento passa a ser uma variável endógena devido ao papel da taxa de juros. A demanda agregada (DA) é formada pela soma de C + I + G. Temos: DA = C + I + G DA = cTR + cY + I – br + G DA = A + cY – br Onde: A = cTR + I + G As variáveis C, I, G e cTR são consideradas como variáveis exógenas ou autônomas (A). Ao olharmos a equação, percebemos que um aumento na taxa de juros impacta na demanda agregada, já que se relaciona ao nível de investimento a um dado nível de renda. Contudo, a mesma taxa de juros não impacta nas outras variáveis dos gastos autônomos (A), como consumo e gastos do governo. 105 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA 6.1.1 A Taxa de Juros, o Investimento e a Demanda Agregada O investimento é o gasto em produção por meio da compra de máquinas e equipamentos que formam o capital da empresa e que têm o objetivo de gerar lucros no futuro. Quando as empresas decidem elevar o investimento, solicitam financiamentos que têm um custo chamado de juros. Quanto maior é a taxa de juros (r), menor será o lucro da empresa, o que interfere na decisão de investimento da empresa. A função investimento pode ser apresentada da seguinte forma: I = I – br, sendo b > 1 em que: I é o gasto em investimento. b é o coeficiente de sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros. r é a taxa de juros. Percebemos na equação que uma maior ou menor taxa de juros acarreta em uma variação no investimento, isto é, o investimento é sensível à taxa de juros, resultando em uma relação inversa entre essas duas variáveis, conforme demonstra a figura a seguir. Taxa de juros Curva de investimento Investimento Figura 27 – Curva de investimento Segundo Dornbusch e Fischer (1991, p. 132), a “construção da curva IS é bastante objetiva e pode mesmo ser ilusoriamente simples. Podemos obter a compreensão da economia da curva IS perguntando e respondendo às seguintes questões: • o que determina a inclinação da curva IS? • o que determina a posição da curva IS, dada sua inclinação, e faz ela se deslocar? • o que acontece quando a taxa de juros e a renda não estão nos níveis expressos pela curva IS? 106 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III A figura a seguir apresenta dois cartesianos no mesmo plano. Na parte superior, temos a relação renda (Y) e demanda agregada (DA) e, na parte inferior, temos a relação renda(Y) e taxa de juros (r). Vamos supor uma queda na taxa de juros de r1 para r2 no cartesiano inferior. Essa queda na taxa de juros eleva a demanda agregada, o nível de gastos e a renda do ponto A para o ponto B em ambos os gráficos. A ‑ br2 A ‑ br1 r1 r2 Y2 Y2 Y1 A A B B Renda (Y) Renda (Y) Curva IS A + cY ‑ br1 A + cY ‑ br2 45ºDemanda agregada (DA) Taxa de juros (r) Y1 Figura 28 – Derivação da curva IS Com a apresentação da figura, notemos que a curva IS é negativamente inclinada porque representa a correlação negativa entre taxa de juros e investimento e do aumento da demanda agregada com a queda da taxa de juros. A condição de equilíbrio do mercado de bens e serviços pode ser apresentada pela seguinte equação: Y = DA Y = A + cY‑br Y = α(A – br), em que α = 1/(1‑c) Y é a renda agregada. DA é a demanda agregada. A é o somatório dos gastos autônomos (cTR + I + G). 107 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA cY é a propensão a consumir. br é o coeficiente de sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros. α é o multiplicador de gastos. Essas variáveis representam o mercado de bens e serviços e compõem a curva IS. Sendo assim, são essas variáveis que alteram a curva IS em seu deslocamento e inclinação. 6.1.2 A Inclinação e a Posição da Curva IS Como já comentado, a curva IS é negativamente inclinada porque há uma correlação negativa entre a taxa de juros e o nível de investimento, ou seja, quando se eleva a taxa de juros, o nível de investimento se reduz e quando se reduz a taxa de juros, o nível de investimento se eleva. Lembre‑se que a variação na taxa de juros tem impacto na demanda agregada e no nível de renda agregada, pois o investimento é um determinante dos gastos e da renda. Suponhamos que o nível de investimento seja sensível à taxa de juros, em que o coeficiente “b”, que representa a sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros, seja “forte”. Uma pequena variação na taxa de juros gera uma grande variação na demanda agregada. O deslocamento da curva da demanda agregada produz uma variação no nível de equilíbrio da renda. Caso uma pequena variação na taxa de juros resulte em uma elevada variação na renda, a curva IS fica muito inclinada. Com um b “fraco” e um nível de investimentos pouco sensível à taxa de juros, a curva IS será mais inclinada. A inclinação da curva IS também depende, além da sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros, do multiplicador de gastos (α), isto é, quanto maior o multiplicador, menor será a inclinação da curva IS e, também, quanto maior o multiplicador, maior será a variação na renda gerada por uma dada variação na taxa de juros. Concluindo, quanto menor a sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros e menor o multiplicador de gastos, mais inclinada ou mais verticalizada (inelástica) será a curva IS. 108 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III A ‑ br2 A ‑ br1 r1 r2 Y2 Y2 Y2’ Y1 Renda (Y) Renda (Y) Curva IS Curva IS’ A + cY ‑ br1 A + cY ‑ br2 45º Demanda agregada (DA) Taxa de juros (r) Y1 Y1’ Figura 29 – Inclinação da curva IS via multiplicador de gastos A posição da curva IS está relacionada aos deslocamentos que a curva sofre devido às variações nos gastos autônomos “A”. Um aumento dos gastos autônomos desloca a curva IS para direita e eleva a demanda agregada e a renda agregada. Já uma redução dos gastos autônomos desloca a curva IS para a esquerda e reduz a demanda agregada e a renda agregada. Para sabermos em quanto a curva IS se desloca, basta olharmos a variação da renda que é determinada pela multiplicação dos gastos autônomos pelo multiplicador (∆Y = α ∆A), conforme a figura a seguir. Sendo o nível de gastos autônomos determinado pela equação A = cTR + I + G, sabemos que o aumento das transferências do governo (aposentadorias, pensões, redistribuição de renda, entre outras), o aumento do nível de investimentos e o aumento dos gastos do governo (despesas com consumo e investimentos públicos) deslocarão a curva IS para a direita e a redução desses gastos deslocará a curva IS para a esquerda. 109 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA A2 A1 r1 r2r2 B B Y2 A A Curva IS Curva IS’ A ‑ br + cY A ‑ br + cY Demanda agregada (DA) Taxa de juros (r) Y1 Figura 30 – Aumento dos gastos autônomos e deslocamento da curva IS Outro ponto importante relacionado à posição da curva IS são os pontos fora da própria curva IS, que resultam no excesso de oferta de bens e serviços (EOBS) ou no excesso na demanda de bens e serviços (EDBS). Pontos que estão acima e à direita da curva IS representam um excesso de produção ou excesso da oferta de bens e serviços, e pontos abaixo e à esquerda representam um excesso de gastos ou um excesso de demanda de bens e serviços. Olhando a figura a seguir, no quadrante inferior em que está a curva IS, temos o ponto C que indica uma demanda agregada acima do nível de produção. Isso pode ser visto pelo ponto acima da curva de 45º. O ponto C representa, portanto, o ponto de excesso de demanda por bens e serviços, em que a taxa de juros é muito baixa ou a produção é também muito baixa para gerar equilíbrio no mercado de bens e serviços. Sendo assim, a demanda por bens e serviços é superior à produção de bens e serviços. O ponto D significa que as taxas de juros são mais altas do que no ponto B, que, por sua vez, está abaixo do ponto D. Quando a taxa de juros é mais elevada, os gastos com investimentos tendem a ser menores, o que resulta em uma produção acima dos gastos e em um excesso de oferta de bens e serviços. Isso pode ser visto pelo ponto que fica abaixo da curva de 45º. Portanto, pontos sobre a curva IS indicam o equilíbrio entre a produção ou oferta de bens e serviços e os gastos ou a demanda de bens e serviços. 110 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III r1 r2r2 B BC C D D Y2 Y2 A A Curva IS EOBS EOBS A ‑ br2 + cY A ‑ br1 + cY Demanda agregada (DA) Taxa de juros (r) Y1 Y1 Figura 31 – Excesso de oferta de bens e serviços (EOBS) e excesso na demanda de bens e serviços (EDBS) 6.2 A curva LM e o equilíbrio no mercado monetário A curva LM representa o lado monetário da economia em que os mercados de ativos, como moeda, títulos, ações, entre outros, e formas de riqueza são tratados. No lado monetário da economia há vários ativos que se movimentam diariamente e tomam várias formas (moeda, títulos, ações, entre outros ativos). Para simplificar, os economistas dividem esse universo monetário em dois grupos: o monetário (moeda) e de ativos que rendem juros e rendimentos. Dessa forma, estudamos o mercado monetário por meio de dois ativos, a moeda e os outros ativos que pagam juros em datas futuras. Esses juros pagos advêm de obrigações a receber sobre a renda financeira, portanto, quanto mais obrigações detiver, mais juros serão recebidos sobre a forma de renda financeira e, dessa forma, o saldo será a demanda por liquidez ou de moeda que se tem em mãos. As pessoas demandam liquidez ou moeda devido à expectativa e/ou necessidade de uso imediato para transação e/ou precaução. A moeda toma a forma de papel‑moeda (papel‑moeda em poder do público) ou moeda bancária (depósitos à vista). Do M1 ao M4, temos a evolução da liquidez, isto é, o M1 apresenta moeda,e os outros agregados monetários, M2 em diante, apresentam quase‑moedas ou ativos financeiros que rendem juros. 111 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Como os ativos se dividem em monetários e que rendem juros, a restrição orçamentária da riqueza ou portfólio (carteira) dos indivíduos que formam a riqueza financeira total das pessoas se divide em: • demanda por moeda; • demanda por obrigações. A demanda por obrigações representa os ativos financeiros que pagam juro, isto é, há pessoas que recebem juro por ganharem mais do que gastam (agentes superavitários) e aplicam esse excesso de ganho (moeda) em algum ativo financeiro que paga o juro. Ainda, há aquelas pessoas que pagam juro por gastarem mais do que recebem (agentes deficitários): ao fazerem um empréstimo para pagar o excesso de gasto, se obrigam a pagar juro por contratar empréstimos, dívidas e obrigações. Portanto, o patamar das taxas de juros está relacionado aos diferentes riscos de insolvência, isto é, a possibilidade de o tomador não cumprir o compromisso de pagar o empréstimo e seus juros. Entre os demais ativos, temos as ações que se constituem em recebimento de parte dos lucros de uma empresa. Conforme Dornbusch e Fischer (1991, p. 143‑144): [...] ativos reais ou tangíveis são as máquinas, a terra e as estruturas que pertencem às empresas, os bens de consumo duráveis (carros, máquinas de lavar roupas, aparelhos de som, etc.) e ainda as residências das famílias. Estes ativos trazem um retorno aos seus proprietários que gostam de viver neles e não pagam um aluguel mensal para isso; as máquinas que uma empresa possui contribuem para a produção e, portanto, viabilizam os lucros. Estes ativos são chamados de reais como forma de distingui‑los dos ativos financeiros (moeda, ações, obrigações). Para ficar mais claro, cabe aqui definirmos algumas terminologias: • obrigações são promessas feitas por quem toma emprestado para pagar a quem deve determinada quantia (principal) em data específica (prazo e vencimento da obrigação) acrescido de juros no vencimento (diário, mensal, anual, entre outros). Lembrando que as obrigações podem ser públicas ou privadas; • ações são propriedades de capital, cujo rendimento se baseia nas expectativas de preços anuais e valorizações do patrimônio empresarial em que os rendimentos têm origem nos dividendos e ganhos de capital; • ativos reais (tangíveis) são máquinas, propriedade fundiária e industrial, bens de consumo duráveis (residências, automóveis, entre outros) destinados à satisfação de necessidades pessoais ou como contribuição na produção e geração de lucros; 112 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III • a macroeconomia é a economia agregada e, para melhor entender, devemos simplificar. Por esse fato, os ativos foram divididos em duas categorias: a primeira, a de moeda de acordo com sua característica específica de ser o único ativo que serve como meio de pagamento, e a segunda, de outros ativos. 6.2.1 Demanda por moeda real e nominal As demandas por moeda real e nominal expressam o valor da moeda e seu poder aquisitivo. A demanda por moeda real expressa‑se nos termos do número de unidades de bens que a moeda pode comprar. Já a demanda por moeda nominal nada mais é que a demanda por moeda corrente, isto é, a demanda por moeda real multiplicada pelo nível de preços. Portanto, temos os encaixes monetários reais ou encaixes reais que são as quantidades de moeda nominal divididas pelo nível de preços; e a demanda real por moeda é chamada de demanda por encaixes reais. A restrição orçamentária da riqueza individual (decisão na composição da riqueza real do indivíduo entre encaixes reais e obrigações reais) pode ser expressa da seguinte forma: L + DB = W/P Onde: L é a demanda por encaixes reais. DB é a demanda por obrigações reais. WN é a riqueza financeira nominal. P é o nível de preços. A riqueza financeira total expressa o equilíbrio simultâneo nos mercados monetários e de obrigações e pode ser expressa da seguinte forma: WN/P = M/P + OB Onde: WN/P é o total da riqueza financeira real. M/P é o estoque real de ativos monetários. OB é a oferta de obrigações reais. 113 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA O equilíbrio nos mercados monetário e de obrigações passa a ser: (L – M/P) + (DB – OB) = 0 Temos, então, a demanda por encaixes reais igual à oferta monetária real e a demanda por obrigações reais igual à oferta de obrigações reais. No caso de um desequilíbrio, isto é, quando houver um excesso de demanda no mercado monetário de modo que a demanda por encaixes reais (L) seja superior ao estoque real de ativos monetários (M/P), haverá um excesso de oferta de títulos, em que a demanda por obrigações reais (DB) seja inferior à oferta de obrigações reais (OB) e vice‑versa. 6.2.2 Demanda por moeda A demanda por moeda depende do nível de renda que financia as despesas correntes e da taxa de juros que é o custo ou o preço da moeda. Portanto, a demanda por moeda ou por encaixes reais aumenta com o nível de renda real e diminui com a taxa de juros. Podemos expressar a demanda por moeda ou por encaixes reais da seguinte forma: L = kY – hr, sendo k e h > 0 Onde: L = demanda por moeda ou encaixes reais. k = coeficiente de sensibilidade da demanda por moeda em relação à renda. Y = nível de renda. h = coeficiente de sensibilidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros. r = taxa real de juros. Os coeficientes k e h expressam a sensibilidade da demanda por moeda em relação à renda e à taxa de juros. Um aumento no nível de renda aumenta a demanda por moeda em k encaixes reais. Um aumento na taxa de juros reduz a demanda por moeda em h encaixes reais. A figura a seguir apresenta, no plano cartesiano, a relação da demanda por moeda em relação à taxa de juros e ao nível de renda. Note que há uma relação inversa entre taxa de juros e demanda por moeda, e uma relação positiva entre nível de renda e demanda por moeda. O deslocamento da curva de demanda por moeda de L1 para L2 se dá devido à hipótese de um aumento do nível de renda: quanto mais alta a taxa de juros, menor será a demanda por moeda. 114 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III L1 L2 Demanda por moeda ou por encaixes reais (L) Taxa de juros (r) Figura 32 – Demanda por moeda ou por encaixes reais em função da taxa de juros e do nível de renda 6.2.3 A oferta de moeda, o equilíbrio do mercado monetário e a curva LM A curva LM, ou curva de equilíbrio do mercado monetário, demonstra todas as combinações de taxas de juros e níveis de renda nos quais a demanda por encaixes reais é igual à oferta de encaixes reais. Ao longo da curva LM, o mercado monetário está em equilíbrio. Podemos expressar o equilíbrio monetário entre a oferta de moeda ou oferta de encaixes reais com a demanda por moeda ou demanda por encaixes reais da seguinte forma: M/P = L Onde: L = kY – hr, cujo equilíbrio é: M/P = kY – hr Resolvendo para a taxa de juros: r = 1/h(kY – M/P) Essa equação representa a curva LM. A quantidade ofertada de moeda nominal (M) é controlada pelo Banco Central (Bacen). Temos essa oferta como uma variável autônoma ou exógena, isto é, um valor dado ou determinado pelo Bacen. Supomos, ainda, que o nível de preços seja constante, de modo que a oferta de moeda nominal seja igual à oferta de moeda real (M/P). 115 Re vi sã o: C ar la- D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA A curva LM é derivada do mercado monetário, no qual temos a oferta real de moeda (M/P) e a demanda por moeda (L). A oferta de moeda ou oferta de encaixes reais é uma curva vertical. Já a curva de demanda por moeda é negativamente inclinada. Na figura a seguir, temos as curvas de demanda por moeda L1 e L2 que correspondem a diferentes níveis de renda. No nível de renda Y1, temos a demanda por moeda L1 e a taxa de juros r1, cujo equilíbrio é indicado no ponto A da curva LM, no cartesiano do lado esquerdo. O nível de renda Y2, maior que Y1, irá elevar a demanda por moeda e a taxa de juros, sendo o novo ponto de equilíbrio no ponto B na curva LM. Y1 Y2 Y A r1 r2 LM rTaxa de juros (r) A B B L2 L1 LM/P Figura 33 – Derivação da curva LM A inclinação da curva LM depende dos coeficientes de sensibilidade de demanda por moeda em relação à renda (k) e à taxa de juros (h). Quanto maior a sensibilidade da demanda por moeda em relação à renda e quanto menor a sensibilidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros, mais inclinada ou verticalizada será a curva LM. No entanto, quanto menor a sensibilidade da demanda por moeda em relação à renda e quanto maior a sensibilidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros, menos inclinada ou horizontalizada será a curva LM. Segundo Dornbusch e Fischer (1991, p. 150): Se a demanda por moeda for relativamente insensível à taxa de juros, então h está próximo de zero e a curva LM é quase vertical. Se a demanda por moeda é muito sensível à taxa de juros, então h é grande e a curva LM é quase horizontal. Podemos ver na figura a seguir a representação da citação acima. Ao apresentar um cartesiano com a curva LM, temos do lado direito da curva o coeficiente h e, do lado esquerdo, o coeficiente k. Caso o coeficiente h seja igual à zero ou fraco, a curva LM tenderá a ser mais verticalizada devido a sua inclinação tender para a esquerda, quando o coeficiente k será mais forte que o coeficiente h. 116 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III Caso o coeficiente h seja maior que zero ou forte, a curva LM tenderá a ser mais horizontalizada devido a sua inclinação tender para a direita, em que o coeficiente k é mais fraco que o coeficiente h. LM h Y Taxa de juros (r) k Figura 34 – Inclinação da curva LM A posição da curva LM é vertical e ao longo da curva, isto é, em cada ponto sobre a curva há o equilíbrio no mercado monetário representado pelo cartesiano da direita na figura a seguir. Vamos supor um aumento da oferta de moeda, em que o Banco Central eleva a quantidade de moeda na economia. Como pode ser visto na figura a seguir, houve um deslocamento da curva LM para direita, cujo nível de renda (Y1) inicial se manteve o mesmo. Como dito, o cartesiano do lado direito da figura demonstra a relação oferta de moeda e demanda por moeda, em que a oferta de moeda (M/P) se desloca ao longo da curva de demanda por moeda (L), cuja taxa de juros sofre uma queda devido ao excesso de moeda ofertada. O equilíbrio no ponto A passa para o ponto B devido à necessidade de um reequilíbrio no mercado monetário no mesmo nível de renda Y1. Esse novo equilíbrio no ponto B representa uma taxa de juros mais baixa para induzir os agentes econômicos a reter mais moeda, pelos motivos transação e precaução, já que o motivo especulação foi desestimulado devido à queda da taxa de juros. Esse deslocamento da curva LM para a direita é conhecido como expansão monetária, em que o Banco Central eleva a quantidade de moeda na economia via aumento da base monetária, reduzindo a taxa de juros e ampliando a liquidez dos agentes econômicos. 117 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA r1 r2 B B AA LM2 LM1 M/P1Y1 Y M/P2 L L1 rTaxa de juros (r) Figura 35 – A curva LM e um aumento na oferta monetária Há pontos ou posições fora da curva LM representados pelos excessos de oferta e demanda por moeda. Os pontos acima e à esquerda da curva LM representam um excesso da oferta de moeda. Já os pontos abaixo e à direita da curva LM representam um excesso da demanda por moeda. Na figura a seguir, ao supormos um aumento na renda, atingimos o ponto D, que corresponde, no cartesiano do lado direito, a um excesso da demanda por moeda, pois é um ponto que ultrapassa a curva de oferta de moeda (M/P). Nos mesmos cartesianos, podemos ver o excesso da oferta de moeda ao começar pelo ponto B até o ponto C, em que o nível de renda é mais baixo e resulta em um excesso da oferta de moeda. r1 r2 B D C C EOM EDM D B A A LM1 Y1 Y2 Y M/P L L1 L2 rTaxa de juros (r) Figura 36 – Excessos de oferta e demanda por moeda 118 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III Com os cartesianos apresentados, podemos afirmar que a curva LM é a relação entre a taxa de juros e os níveis de renda, permitindo o equilíbrio no mercado monetário e no mercado de ativos financeiros, como os títulos. Sendo assim, as curvas LM são as combinações de taxas de juros e níveis de renda que mantêm o equilíbrio do mercado de títulos. A curva LM é positivamente inclinada devido à oferta de moeda ser fixa e um aumento da renda elevar a demanda por moeda que, por sua vez, eleva a taxa de juros, havendo uma redução na quantidade de moeda demandada que manterá o equilíbrio do mercado monetário. O deslocamento da curva LM se dá por variações na oferta monetária em que um aumento na oferta de moeda desloca a curva LM para a direita e uma redução na oferta de moeda desloca a curva LM para a esquerda, lembrando que pontos à direita da curva LM representam um excesso de demanda por moeda e os pontos à esquerda representam um excesso de oferta de moeda. 6.3 Equilíbrio simultâneo no mercado de bens e serviços e no mercado monetário O equilíbrio simultâneo é a condição em que há a intersecção das curvas IS e LM, determinando a taxa de juros e nível de renda. Podemos ver essa condição satisfeita no ponto da figura a seguir, em que a taxa de juros de equilíbrio (re) e o nível de renda de equilíbrio (Ye) estão alinhados à intersecção IS‑LM, pois tanto o mercado de bens como o mercado monetário estão equilibrados. Há a hipótese de que o nível de preços seja constante e que as empresas ofertem um volume de produção nesse nível de preços. Sendo assim, assume‑se que o nível de produção Ye será ofertado pelas empresas e demandado pelas famílias nesse mesmo nível de preços P. Na intersecção IS‑LM, a economia está em equilíbrio dado o nível de preços P, já que o mercado de bens e serviços e o mercado monetário estão na condição de equilíbrio. A demanda por bens e serviços será igual à oferta de bens e serviços na curva IS. re Taxa de juros (r) LM IS Ye Y Figura 37 – Equilíbrio IS‑LM 119 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA 6.3.1 Mudanças nos níveis de equilíbrio da renda e da taxa de juros Os deslocamentos das curvas IS e LM mudam os pontos de equilíbrio da renda e da taxa de juros. Podemos ter o deslocamento apenas da curva IS ao longo da curva LM e vice‑versa, em que a taxa de juros e a renda sofreram alterações de alta ou baixa devido ao novo ponto de equilíbrio. Por exemplo, a figura a seguir demonstra os efeitos de um aumento na taxa de investimento da economia e nos novos níveis de equilíbrio da renda e dataxa de juros. Esse aumento na taxa de investimento muda a intersecção IS‑LM ao provocar um deslocamento da curva IS para a direita, resultando em um aumento no nível de renda e em um aumento na taxa de juros. Lembremo‑nos de que o deslocamento da curva IS foi em função de uma mudança dos gastos autônomos, neste caso, da taxa de investimento, mas poderia ser do consumo e dos gastos do governo. Devemos perceber que o aumento na renda pode ser menor do que o aumento no gasto autônomo, que está relacionado com o efeito multiplicador. No gráfico, devemos nos atentar à inclinação da curva LM. Em uma curva LM mais horizontal, o deslocamento da curva IS é quase proporcional à variação da renda. Já em uma curva LM mais vertical, o deslocamento da curva IS será maior que a variação na renda. Se a curva LM fosse horizontal, então a taxa de juros não mudaria quando a curva IS se deslocasse. Veremos esses pontos no caso clássico e na armadilha da liquidez. re r2 Taxa de juros (r) LM IS IS2 Ye Y2 Y Figura 38 – Impacto do aumento dos gastos autônomos no equilíbrio IS‑LM A economia sofre alterações com as variações que temos na composição das curvas IS e LM. Um aumento nos gastos autônomos (consumo, investimento e gastos do governo) elevam o nível de renda. No entanto, o aumento na renda (Y) irá aumentar a demanda por moeda (Y). A oferta de moeda (M/P) é fixa por ser uma variável exógena determinada pelo Banco Central. Com um aumento da demanda por moeda e uma oferta de moeda fixa, a taxa de juros aumenta para equilibrar o mercado monetário. Neste caso, de aumento da taxa de juros, o gasto com investimento cai 120 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III porque é negativamente relacionado à taxa de juros. Da mesma forma, a alteração no nível de renda de equilíbrio é menor do que o deslocamento horizontal da curva IS. Com base na figura anterior, temos um deslocamento da curva IS em que a curva LM permanece constante, revelando um equilíbrio no mercado monetário. Com o deslocamento da curva LM, o nível de renda se eleva, o que demandará maior quantidade de moeda em função do aumento da renda dos agentes econômicos. Como a oferta monetária não acompanha, pelo menos nesse momento, o aumento da renda e demanda por moeda, a taxa de juros se eleva para reequilibrar o mercado monetário e equilibrar o mercado de bens e serviços com o mercado monetário. Desequilíbrios e ajustamentos no modelo IS-LM Na figura 38, alcançamos um novo ponto de equilíbrio (Y2, r2) com o deslocamento da curva IS. Dornbusch e Fischer (1991) afirmam que esse reequilíbrio foi devido às variações na taxa de juros e no nível de renda. Para estudarmos como elas se movem ao longo do tempo, assumem‑se duas hipóteses: • a produção aumenta enquanto houver um excesso de demanda por bens e declina enquanto houver um excesso de oferta de bens. Essa hipótese reflete o ajustamento das empresas à acumulação indesejada de estoques; • a taxa de juros sobe enquanto houver um excesso de demanda por moeda e cai enquanto houver um excesso de demanda por outros ativos (títulos). Na tentativa de adquirir mais moeda, as pessoas vendem seus títulos e, portanto, provocam uma queda nos preços ou fazem com que o rendimento dos títulos (taxa de juros) aumente. Há uma relação inversa entre o preço dos ativos financeiros e seus rendimentos. Um excesso de demanda por moeda leva os detentores de títulos a vender esses ativos, o que faz com que os preços caiam e que seus rendimentos aumentem. Por outro lado, quando há um excesso da oferta de moeda e queda da taxa de juros, as pessoas tentam usar dinheiro para comprar outros ativos, aumentando seu preço, devido à maior procura, e diminuindo seus rendimentos. A figura a seguir apresenta as quatro áreas fora da intersecção IS‑LM. Por exemplo, na região D, temos um excesso de demanda por moeda (EDM), o que provoca um aumento da taxa de juros. Também temos um excesso de oferta de bens e serviços nessa região cartesiana, na qual o excesso da oferta de bens e serviços (EOBS) que eleva os estoques faz as empresas reduzirem a produção. Na região B temos um excesso da oferta de moeda (EOM), o que provoca uma queda da taxa de juros. Também temos um excesso da demanda de bens e serviços, em que o excesso dessa demanda (EDBS) reduz os estoques e faz as empresas aumentarem a produção. 121 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA re Taxa de juros (r) EDBS EOM (B) EOBS EDM (D) EOBS EOM (A) EDBS EDM (C) LM IS Ye Y Figura 39 – Desequilíbrios e ajustamentos no modelo IS‑LM Percebe‑se que a renda e a taxa de juros ajustam‑se aos desequilíbrios nos mercados de bens e serviços e no mercado monetário. As taxas de juros têm tendência negativa quando há um excesso de oferta de moeda e uma tendência positiva quando há um excesso de demanda por moeda. A renda aumenta quando a demanda agregada por bens e serviços excede a oferta agregada ou produção, e cai quando a demanda agregada é menor que essa mesma oferta agregada ou produção, cujo sistema tem a tendência de convergência a um ponto de equilíbrio. Ajustamento rápido do mercado de ativos Alguns ajustamentos da economia são necessários ao longo do tempo e podem representar urgências de curto e longo prazos para que a política econômica tenha resultados eficazes, como veremos mais adiante. A curva LM que representa o mercado monetário apresenta uma dinâmica de ajustamento mais rápido que a curva IS ou mercado de bens e serviços. O mercado monetário ajusta‑se por meio da compra e venda de obrigações, em que a taxa de juros apresenta um ajustamento rápido e o mercado monetário efetivamente está sempre equilibrado. Essa análise coloca a curva LM como a principal saída para o alcance de um equilíbrio via a variação apropriada da taxa de juros, cujos desequilíbrios serão resolvidos por variações ao longo da curva LM, conforme demonstra a figura a seguir. A curva IS, ou o mercado de bens e serviços, tem um ajuste relativamente mais lento, porque as empresas têm que mudar seus projetos de investimento e de produção, fato que leva tempo, pois sabemos que o investimento é uma variável de longo prazo. Na figura também temos os pontos abaixo da curva IS, em que o ajuste se dará ao longo da curva LM com taxas de juros e renda crescentes; para pontos acima da curva IS, nos movemos para baixo na curva LM, com produção e taxa de juros caindo, até o ponto de equilíbrio se restabelecer novamente, sendo o processo de ajustamento estável porque a economia realmente se move para a posição de reequilíbrio. 122 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III Esse processo de ajustamento pode ser analisado da seguinte forma: à direita da curva IS, há um excesso de oferta de bens e serviços, e as empresas, ao acumularem estoques, cortam a produção em resposta a esse acúmulo, fazendo com que a economia se mova para abaixo da curva LM. Com isso, a economia se move para o nível de renda de equilíbrio, com uma taxa de juros decrescente, e, então, o gasto com investimento desejado realmente aumenta. Com o mercado monetário se ajustando de forma rápida, a economia tende ao equilíbrio monetário, conforme pudemos ver no cartesiano da figura anterior. Percebe‑se que, quando há um excesso de demanda por bens e serviços, a produção e as taxas de juros estão aumentando; quando há um excesso da oferta de bens e serviços, a produção e as taxas de juros estão caindo. re Taxa de juros (r) LM IS Ye Y Figura 40 – Desequilíbrios e ajustamento do mercado monetário aoequilíbrio no modelo IS‑LM Após os estudos e a análise das relações IS‑LM e seus impactos na economia e seus devidos ajustes com tendência às posições de equilíbrio, desequilíbrio e reequilíbrio, vamos estudar as políticas econômicas e seus efeitos sobre a taxa de juros e sobre a renda de equilíbrio. Política monetária A política monetária representa a decisão da autoridade monetária, Banco Central, sobre a quantidade de moeda na economia (base monetária). O instrumento mais utilizado pelo Banco Central para controlar a quantidade de moeda na economia é conhecido como open market, ou operações de mercado aberto, que é a venda e compra de títulos públicos pelo Bacen. O Tesouro Nacional emite os títulos públicos que são repassados ao Banco Central, que, por sua vez, negociará os títulos no mercado e repassará o volume de moeda ao Tesouro Nacional. Veja, o Bacen faz essa operação, pois a compra e venda de títulos públicos alteram a quantidade de moeda na economia. A operação open market tem o objetivo de ampliar ou reduzir a liquidez da economia. Caso o Bacen faça um elevado volume de venda de títulos públicos, ele está trocando títulos por moeda, isto é, os agentes econômicos estão abrindo mão da moeda por títulos, ou melhor, estão trocando consumo presente por consumo futuro ao trocar moeda por títulos ou trocar moeda por um ativo que rende juros. 123 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA A figura a seguir demonstra uma operação de open market em que o Bacen está recomprando títulos públicos, isto é, trocando títulos públicos por moeda, o que eleva a quantidade de moeda na economia e faz a curva LM se deslocar para a direita. A ampliação da oferta de moeda faz a taxa de juros cair e, com isso, a renda se eleva, principalmente por um aumento dos gastos autônomos, entre eles a variável investimento. Essa variação da taxa de juros e do nível de renda é o processo de ajustamento da economia em razão da expansão monetária ou do aumento da oferta de moeda. A queda na taxa de juros, com nível de renda inicial (Ye), eleva a demanda agregada que reduz os estoques das empresas. Com isso, essas mesmas empresas tomam a decisão de produzir mais, o que faz a economia alcançar um novo nível de renda (Y2). re r2 Taxa de juros (r) LM LM2 IS Ye Y2 Y Figura 41 – Impacto da expansão monetária no equilíbrio do modelo IS‑LM Mecanismos de transmissão O mecanismo de transmissão é o processo pelo qual as variações na política monetária afetam a demanda agregada. São duas as etapas, cuja primeira parte do aumento da demanda por moeda gera um desequilíbrio na carteira de aplicações (portfólio) dos agentes econômicos. Dada a taxa de juros e o nível de renda, há agentes econômicos que detêm mais moeda. Outros agentes econômicos que são proprietários de portfólio irão tentar reduzir seus estoques de moeda, comprar títulos e mudar os preços e os rendimentos desses títulos. Percebemos que um aumento na oferta de moeda gera variação nas taxas de juros. Já a segunda etapa do processo de transmissão ocorre quando a variação nas taxas de juros impacta na demanda agregada. Veja que esse processo de transmissão é importante devido aos efeitos que as variações na oferta monetária geram na economia. 124 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III Mudança no estoque real de moeda Os gastos se ajustam a mudança na taxa de juros Ajuste de portfólio leva à mudança no preço dos ativos e na taxa de juros O produto se ajusta à mudança na demanda agregada Figura 42 – Etapas dos mecanismos de transmissão Entretanto, há duas ligações entre a variação na demanda por moeda e seu efeito sobre a renda. Primeiro, a variação na demanda por moeda que gera um desequilíbrio de portfólio está relacionada à variação nas taxas de juros. Em segundo lugar, a variação nas taxas de juros deverá variar a demanda agregada. Por meio dessas duas ligações, as variações no mercado monetário afetam o nível de produção na economia. Se o desequilíbrio de portfólio não levar a variações significantes nas taxas de juros ou se os gastos não responderem às variações nas taxas de juros, a ligação entre a moeda e a produção não existirá. Há dois casos especiais que precisamos entender, a armadilha da liquidez e o caso clássico que representa dois extremos da política monetária dentro do modelo IS‑LM. Armadilha da liquidez Na armadilha da liquidez, a demanda por moeda é infinitamente elástica em relação à taxa de juros. É uma situação em que a taxa de juros encontra‑se em um nível baixo que uma elevação da oferta de moeda será retida pelos agentes econômicos sem variação na taxa de juros. Nessa situação, a curva LM é horizontal e a taxa de juros é igual a zero. Variações na base monetária não deslocam a curva LM, portanto, a política monetária não tem efeito sobre a taxa de juros. re LM Y Taxa de juros (r) Figura 43 – Armadilha da liquidez 125 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Caso clássico No caso clássico, a demanda por moeda independe da taxa de juros, ou seja, a elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros é zero. A curva LM é vertical e coloca a demanda por moeda dependente apenas do nível de renda e não da taxa de juros. O caso clássico está relacionado com a teoria quantitativa da moeda (TQM), que relaciona a renda nominal com a quantidade de moeda na economia, isto é, com elevação da base monetária sem elevação do produto, haverá apenas elevação de preços, isto é, inflação. Ye LM Renda Taxa de juros (r) Figura 44 – Caso clássico A curva LM vertical (política monetária), de forma relativa, é mais eficiente que a curva IS (política fiscal) sobre o nível de renda. A curva LM é vertical quando a demanda por moeda não depende da taxa de juros, sendo esse o ponto relevante para se saber sobre a eficiência das políticas econômicas adotadas em situações de ajuste da economia. Portanto, estes são os dois casos extremos da curva LM e da política monetária: a armadilha da liquidez e o caso clássico, cuja inclinação da curva LM é o principal determinante da eficiência da política monetária (lado monetário da economia) e seu impacto na produção (lado real da economia). A inclinação da curva LM sempre irá depender da sensibilidade da demanda por moeda em relação à renda e da sensibilidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros. Lembrando que quanto mais sensível for a demanda por moeda em relação à taxa de juros, menos inclinada ou mais horizontal será a curva LM; quanto mais sensível for a demanda por moeda em relação à renda, mais inclinada e vertical será a curva LM. Saiba mais Caso queira aprofundar a discussão dos fundamentos do modelo IS‑LM e sua relação com a Teoria Geral, leia o texto de John Richard Hicks, “O Sr. Keynes e os Clássicos: uma sugestão de interpretação”, disponível em: 126 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade III IPEA. Clássicos de literatura econômica. Textos selecionados de macroeconomia. Brasília‑DF: Ipea, 2010. p. 97. Disponível em: <http://www. ipea.gov.br/portal/images/stories/livro_classicosdeLiteratura.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2015. Resumo Numa economia fechada e sem governo, no modelo keynesiano simples, o fator 1 1( )− c é o chamado multiplicador de gastos autônomos e varia de zero a um. Para cada unidade monetária de gastos autônomos, haverá uma expansão maior que 1 do nível de renda.
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