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58 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Unidade II 3 O MODELO CLÁSSICO: O PAPEL DA POUPANÇA E DO GOVERNO 3.1 Poupança, investimento e o papel da taxa de juros no modelo clássico Daremos início a um novo elo do modelo clássico, que corresponde à relação entre poupança e investimento. Com base na Lei de Say e da Teoria Quantitativa da Moeda, ou seja, com a moeda tendo somente a função de meio de troca e inexistindo variações em sua velocidade de circulação, temos as bases para sustentar, no interior desse modelo, a impossibilidade de situações de subconsumo ou superprodução. Contudo, algumas questões podem surgir, dentre elas, como o modelo clássico explicaria situações nas quais os indivíduos poupam mais e consomem menos numa dada economia? Qual seria o caminho que a poupança teria no sistema econômico? O aumento da poupança leva ao aumento do investimento? Em sua explicação, o modelo clássico irá introduzir a taxa de juros como a variável que equilibra a poupança e o investimento, e, consequentemente, também determinaria o nível de consumo. Portanto, para o entendimento das variáveis agregadas, a introdução do mercado de capitais se faz necessária. Começaremos pelo conceito de poupança. Como define Lopes e Vasconcellos (2008, p. 119), o “fluxo de recursos que se direciona para a aquisição de títulos na economia corresponde à parcela da renda não consumida pelos agentes econômicos, ou seja, à poupança”. Desse modo, no modelo clássico, os chamados poupadores são as pessoas diferentes dos investidores, sendo o mercado de capitais o mecanismo que permite transformar as poupanças em investimentos. Tal oferta de fundos na economia, a poupança agregada, liga‑se completamente ao comportamento do consumo agregado e o consumo é determinado pelo nível de renda. Assim, o modelo clássico verá a decisão de alocação da renda, entre consumo e poupança, como uma escolha intertemporal de realizar o consumo hoje ou no futuro, tendo a poupança o papel de transferir o poder de compra ao longo do tempo. Mas tal transferência será realizada com base em uma condição, como nos descreve Lopes e Vasconcellos (2008, p.119): O sacrifício ao consumo presente exige um “prêmio pela espera”, isto é, o indivíduo só poupará se puder consumir mais no futuro do que consumiria hoje. Assim, a poupança depende do tamanho do prêmio pela espera, isto é, da taxa de juros, que remunerará a poupança do indivíduo. Quanto maior a taxa de juros mais caro será o consumo presente em termos de consumo futuro, portanto, maior o estímulo à poupança. 59 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Logo, o comportamento da taxa de juros influencia o comportamento da poupança e, consequentemente, do nível de consumo. Assim, essa relação pode ser representada por: S = S(r) C = C(r) Onde: S = poupança agregada. C = consumo agregado. r = taxa real de juros. Na primeira relação, a poupança varia positivamente com a taxa de juros; já na segunda, o consumo corrente apresenta uma relação inversa com a taxa real de juros, ou seja, S’(r) > O e C’(r) < O (sendo S’ e C’ as derivadas primeiras de cada função). Contudo, novamente, como nos alertam Lopes e Vasconcellos (2008, p.120, grifo do autor): Como as pessoas poupam visando a um maior consumo futuro, ninguém guarda poupança na forma de moeda, uma vez que esta não rende juros, canalizando‑a totalmente para a aquisição de títulos. Assim, o volume de poupança corresponde à oferta de fundos no mercado financeiro. Quanto maior a taxa de juros, maior será a quantidade ofertada de recursos. Dessa forma, a função poupança será crescente em relação à taxa de juros. Lembrete A taxa de juros representa o preço que uma pessoa cobra para abrir mão da liquidez da moeda. Caracterizada a poupança e, portanto, a lógica que cerca o comportamento dos poupadores, agora devemos focalizar o comportamento dos investidores que utilizam os recursos disponíveis no mercado financeiro. A demanda por fundos será realizada por aqueles que desejam investir, sendo o investimento o ato de aumentar o estoque de capital com o objetivo de elevação da produção futura. Tal decisão, no modelo clássico, segue a lógica de maximização de lucro das empresas, seja para a contratação de novos trabalhadores seja para a aquisição de novos capitais produtivos. No caso do capital, sua variação seguirá como parâmetro a produtividade marginal do capital, que corresponde à quantidade adicional de produto gerado por uma unidade a mais de capital vezes o preço do produto. 60 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Como vimos no caso do fator trabalho, a produtividade marginal do capital também terá uma trajetória decrescente. Logo, investimentos adicionais trazem um retorno cada vez menor em termos de produto e para sua efetivação devem se confrontar com os custos envolvidos na sua aquisição. O primeiro será o custo do investimento em si, dado pela taxa de juros que se paga para obter os recursos emprestáveis na aquisição do capital; o segundo, o custo de oportunidade, em termos de taxa de juros, de não aplicar sua poupança em títulos e imobilizar recursos para o investimento produtivo (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 120). Em decorrência disso, a ampliação do investimento liga‑se também ao comportamento da taxa real de juros, em que um aumento do investimento passa por uma redução da taxa real de juros. Em outras palavras, a demanda de recursos no mercado financeiro é inversamente relacionada com a taxa real de juros. Deduzimos assim a função investimento do modelo clássico dada por: I = I(r) Sendo: I = demanda de investimentos. r = taxa real de juros. Após as breves descrições sobre a oferta e demanda de fundos, no mercado financeiro, temos condições de representar o ponto de equilíbrio desse mercado e seus condicionantes, tanto do lado real como monetário da economia. Adotando as definições da função da poupança (S = S(r)) e da função de investimento (I = I(r)), ambas em relação à taxa real de juros, podemos representar, na figura a seguir, o equilíbrio como: r rE S(r) I(r) S, I IE = SE Figura 12 – Equilíbrio entre investimento e poupança Na figura, temos os valores de equilíbrio da taxa real de juros (re), dos investimentos (Ie) e da poupança agregada (Se). Com isso, percebemos que a taxa de juros no modelo será uma variável real tendo sua determinação dada pelas preferências intertemporais dos indivíduos e pela produtividade marginal do 61 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA capital. Logo, a política monetária que afeta a taxa de juros nominal, mas não a real, não terá influência nas decisões de poupança nem de investimento. Outro ponto importante para o modelo clássico diz respeito ao mercado financeiro ter o comportamento do tipo concorrência perfeita, no qual a flexibilidade da taxa de juros dá a garantia de que a poupança acumulada será totalmente utilizada para o investimento, garantindo assim a validade da Lei de Say. Assim, como afirmam Lopes e Vasconcellos (2008, p. 121‑122): Se a taxa de juros estiver acima da taxa de juros de equilíbrio, que iguala poupança e investimento, a pressão dos poupadores pela aquisição de títulos fará com que esta se reduza, ampliando o investimento e diminuindo a poupança até que estas se igualem. Por outro lado, se ela estiver abaixo da taxa de equilíbrio, haverá excesso de demanda por recursos (demanda por investimento maior do que a poupança)fazendo com que os investidores pressionem a taxa de juros para cima até que o mercado se equilibre. Por fim, com esse mecanismo da taxa de juros, o investimento e poupança são sempre mantidos em equilíbrio. Além disso, o consumo, por também depender da taxa de juros, aumenta ou diminui à medida que a taxa de juros varia. Nesses termos, verificamos novamente a impossibilidade de uma crise de subconsumo. Completamos, então, o equilíbrio entre oferta e demanda agregada no modelo clássico. Vimos anteriormente que o equilíbrio no mercado de bens e serviços é dado por: Oferta agregada = demanda agregada ou Y = DA Considerando apenas o consumo e o investimento, temos que, no equilíbrio, Y= C + I, sendo que agora vimos que tanto o consumo como o investimento dependem da taxa real de juros. Logo, podemos reescrever a equação como: Y = C(r) + I(r) Pela definição de poupança, temos que: S = Y – C Decorre que o equilíbrio macroeconômico, com a poupança também dependente da taxa real de juros, será obtido quando: S(r) = I(r) Chega‑se à conclusão de que a taxa de juros tem a função de equilibrar o mercado de produto. Com o nível de renda, pela condição de pleno emprego, o nível de consumo também é dado e, como tal, o nível de poupança. Desse modo, o equilíbrio continuaria dependendo da taxa de juros, sendo a variável 62 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II importante no mecanismo de ajustamento econômico, em que a poupança dada corresponde a um mesmo nível de investimento, conforme destacado na figura a seguir. r S S, I I(r) Figura 13 – Equilíbrio no modelo clássico, dado nível de poupança Novamente, devemos reafirmar a importância da taxa real de juros para a condição de equilíbrio macroeconômico no modelo clássico, com total atendimento à Lei de Say e papel secundário da demanda na determinação do produto. Fica faltando, portanto, o exame do papel do governo e das políticas econômicas na estrutura desse modelo. 3.2 Governo e a política fiscal no modelo clássico Com base no que vimos anteriormente, temos a ocorrência dos impostos arrecadados pelo governo que diminuem a renda dos indivíduos na esfera privada, diminuindo suas despesas, enquanto os gastos do governo são elementos adicionais de demanda na economia (LOPES; VASCONCELLOS, 2008, p. 123). O governo será considerado um agente exógeno, que introduz duas variáveis exógenas ao modelo: o primeiro, a arrecadação de impostos (T) e, o segundo, os gastos públicos (G), ambas consideradas como dadas. Assim, o equilíbrio passa a ser dado pela igualdade: Y = C + I + G Com a arrecadação de impostos, devemos supor que a decisão de consumo agregado terá que depender da renda disponível (Y‑T) que sobra após o pagamento de impostos e da taxa real de juros (r), como descrito anteriormente. Tal fato, leva a alterações nas funções de consumo e poupança agregada. Logo, temos que: C = C(Y – T;r) e S = S(Y – T;r) Entretanto, pela Lei de Say, toda a renda subtraída do consumo, neste caso pela arrecadação de impostos, deve ser gasta para garantir o equilíbrio entre a oferta e demanda agregada, ou seja, gasta pelo governo. Em razão disso, o equilíbrio do mercado passa a ser dado pela igualdade: 63 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA S(Y – T;r) + T = I(r) + G Incluem‑se, portanto, os impostos na curva de poupança e os gastos do governo como adicionais pelo lado da demanda de recursos junto aos investimentos. Para Lopes e Vasconcellos (2008, p. 124): Por serem valores determinados exogenamente, não afetam as inclinações das respectivas curvas, apenas a posição das mesmas. Assim, quanto maior a arrecadação de impostos pelo governo mais para a direita estará a curva de oferta de recursos no mercado financeiro, e quanto maior o volume de gastos públicos, mais à direita estará a curva de demanda por recursos. Graficamente, teríamos a seguinte situação: r rE S + T I + G S, I, T, G SE +TE = IE + GE Figura 14 – Equilíbrio do modelo clássico, com governo Redefine‑se também o próprio conceito de poupança ao desmembrar‑se em poupança pública e poupança privada. No caso da poupança pública, esta corresponderia à diferença entre a arrecadação de impostos e os gastos do governo (T‑G). Corresponderia a uma parcela da oferta de recursos no mercado financeiro que, somada à poupança privada, corresponderia à chamada poupança nacional. Numa dedução algébrica, teríamos: S(Y – T; r) + T = I(r) + G S(Y – T; r) + (T – G) = I(r) Sp + Sg = I(r) Onde: Sp é a poupança do setor privado. Sg é a poupança pública. A poupança nacional ou poupança interna é dada por S = Sp + Sg. 64 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Seguindo a descrição de Lopes e Vasconcellos (2008, p. 125), para visualizarmos o impacto da política fiscal nesse modelo, consideremos inicialmente um aumento dos gastos públicos. Isso representaria um deslocamento da curva I + G de forma horizontal na magnitude do aumento dos gastos por parte do governo, que, na figura a seguir, visualizamos que passa de I + G0 para I + G1. Assim, temos: r rI r0 S + T I + GI I + G0 S, I, T, G – ∆I – ∆C Figura 15 – Aumento dos gastos públicos no modelo clássico Tal aumento dos gastos públicos leva a uma elevação na taxa de juros, pois os recursos disponíveis serão mais disputados pelo movimento de ampliação da demanda. Com o aumento nas taxas de juros ocorre tanto uma redução no investimento privado (–∆I), pois a produtividade marginal do capital fica abaixo do nível de taxa de juros no mercado, como uma elevação na taxa de poupança (∆S), por intermédio de uma queda no consumo, de mesmo valor. Assim: ∆G = – (∆C + ∆I) O aumento do gasto público, ao pressionar a demanda, não resulta em uma elevação da renda ou produto, em razão de não afetar nem as condições da tecnologia nem o montante dos fatores de produção. Provocando uma alteração da composição da demanda, somente aumenta a participação dos gastos públicos em detrimento dos gastos privados, tanto em consumo quanto em investimento. Esse fenômeno é conhecido como crowding‑out ou efeito‑deslocamento. Com esse exercício, no modelo clássico, temos que a introdução do governo e da política fiscal corresponde somente a uma recomposição da demanda agregada, via taxa de juros, sem impactos na produção agregada, que continuará na condição de equilíbrio de pleno emprego. Portanto, dentro desse modelo, o papel do governo e, sobretudo, das políticas fiscais, não produz condições para o aumento do produto e do emprego por influenciar somente o lado da demanda. A existência de desemprego nesse modelo decorre das chamadas imperfeições de mercado, por exemplo, a existência de sindicatos tentando fixar níveis de salários incompatíveis com a condição de equilíbrio do mercado de trabalho. 65 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Deixando o mercado funcionar livremente, e eliminando as possíveis imperfeições, só existiria espaço para políticas macroeconômicas com o propósito de manter o equilíbrio nos diferentes mercados, como o mercado de bens e serviços, monetário e de trabalho. Para ratificar tais posições, os diferentes modelos macroeconômicos desenvolveram ferramentas para medir as mudanças nas variáveis e as ações que deveriam ser tomadas no âmbito das políticas econômicas. Foram com essas motivações que esses modelos criaram e desenvolveram, com base em seus pressupostos, a denominada curvade Curva de Phillips. Como iremos apresentar na próxima seção, essa ferramenta irá relacionar o movimento dos preços em uma economia e o nível de desemprego da mão de obra nas diferentes economias no sistema mundial. Para maiores entendimentos, passaremos à apresentação dessa importante relação na história da teoria macroeconômica. 3.3 Taxa natural de desemprego e a curva de Phillips Dentro da macroeconomia um aspecto muito importante refere‑se à relação entre o movimento dos preços e o nível de atividade em certa economia. O primeiro aspecto faz surgir o conceito de inflação, que, em síntese, representa o processo de elevação geral dos preços; já o segundo estaria ligado ao uso dos fatores de produção, com atenção principal para a mão de obra. Para o modelo clássico, a economia estaria sempre em pleno emprego, não havendo a possibilidade teórica de desemprego. Diante de alguma crise econômica, os fatores de produção baixariam seus preços – no caso do trabalho, os salários – encontrando alguma atividade econômica que empregaria esses recursos antes ociosos. O desemprego seria voluntário: as pessoas que não desejam trabalhar se mantêm fora do processo produtivo. Tal entendimento sobre o fenômeno do desemprego perdurou até a grande depressão de 1929. Primeiro, porque o grande desemprego na depressão chocava‑se com a ideia de desemprego voluntário; já o segundo aspecto, seriam às ocorrências de deflações e inflações nos períodos de recuperação, momentos em que as economias não estariam em posições de equilíbrio ou pleno emprego. No ano de 1958, o economista A. W. Phillips, por conta de seus estudos, mostrava que a taxa de inflação e a taxa de desemprego tinham uma relação negativa, utilizando dados do Reino Unido no período entre 1861 e 1957. Anos depois, Samuelson e Solow repetiram o mesmo experimento para os dados dos Estados Unidos, com dados de 1900 a 1960, e corroboraram com a ideia de haver tal relação negativa (BLANCHARD, 2011, p. 147). A ferramenta que consiste na plotagem dos níveis de inflação e desemprego em uma representação gráfica para a visualização da relação foi batizada por Samuelson e Solow como curva de Phillips. A partir disso, ela foi bastante utilizada dentro dos modelos macroeconômicos na tentativa de fazer com que a economia tivesse um nível de desemprego compatível com inflações pequenas e controladas. Segundo Blanchard (2011, p. 147): 66 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Ela parecia implicar que os países poderiam escolher entre combinações diferentes de desemprego e inflação. Um país poderia alcançar um desemprego baixo se estivesse disposto a tolerar uma inflação mais alta, ou poderia atingir a estabilidade do nível de preços – inflação zero – se estivesse disposto a tolerar um desemprego mais alto. Muito da discussão sobre política macroeconômica tornou‑se uma questão acerca de qual ponto escolher na curva de Phillips. Após um longo debate, grande parte dos economistas segue que o nível de desemprego que faz com que a taxa de aumento salarial seja zero é considerada a taxa natural de desemprego na sociedade estudada. Cada economia, por suas características, teria uma taxa natural de desemprego que valeria a pena ser perseguida. Para entendermos o conceito de taxa natural de desemprego, temos de verificar a relação entre o nível de preços e o nível de salários. Na derivação do equilíbrio no mercado de trabalho, vimos que o salário real é o parâmetro que trabalhadores e empresas utilizam para ofertar e demandar trabalho. Num primeiro momento, devemos formalizar a relação de determinação dos salários como apresentada na seguinte equação: W = Pe F (u, z) (‑, +) Neste caso, estamos falando do salário nominal, W, que depende de três fatores: • o nível esperado de preços, Pe; • a taxa de desemprego, u; • a variável abrangente, z, ou seja, as outras variáveis que afetam a fixação dos salários. Os salários irão depender do nível de preços esperados porque os trabalhadores não se preocupam com os valores nominais que recebem e, sim, com os salários nominais (W) em relação aos preços dos produtos que compram (P). Pela ótica das empresas, elas também se preocupam com os salários nominais (W) que pagam em relação ao preço dos produtos que vendem (P). Logo, os níveis de preços serão importantes para a mensuração do salário real (W/P) que será utilizado no momento de negociação do nível de salários. Outro fator importante que afeta o nível dos salários é a taxa de desemprego u, que na expressão carrega um sinal de menos indicando que um aumento na taxa de desemprego diminui os salários. Isso ocorre, pois, um desemprego alto diminui o poder dos trabalhadores nos períodos de negociação, já que as empresas poderão pagar salários mais baixos e ainda haverá mais oferta de mão de obra no mercado. Por fim, a variável z representa todas as outras variáveis que, dados os níveis de preços e da taxa de desemprego, influenciam no patamar dos salários. Também convencionaremos que aumentos da 67 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA variável z implicam aumentos de salários. Como exemplo, a variável poderia representar o nível de seguro‑desemprego, já que numa dada taxa de desemprego um seguro‑desemprego mais alto aumenta o salário (BLANCHARD, 2011, p. 111). Antes de continuarmos na determinação da taxa natural de desemprego, temos que relembrar a determinação dos preços pelas empresas. Nesse caso, vimos que as empresas, através da função de produção, decidem o quanto de emprego irão demandar com base no processo de maximização de lucros. Adotando uma estrutura de mercados em concorrência perfeita, o preço de uma unidade de produto será igual ao custo marginal de sua produção. Tomando o trabalho como único fator de produção variável, neste caso, o custo marginal de produzir uma unidade adicional de produto corresponde ao custo adicional de empregar um trabalhador adicional ao salário W. Somam‑se a isso os casos em que as empresas cobram um preço maior do que seu custo marginal, geralmente em mercados não competitivos, possibilitando descrever uma equação representativa da fixação dos preços pelas empresas: P = (1 + µ)W Onde µ é a margem, denominada mark‑up, do preço sobre o custo. Em casos de concorrência perfeita, µ seria igual à zero, logo, o preço seria igual a W. Já em mercados não competitivos, com empresas com poder de mercado, o valor de µ será positivo, e o preço, P, será maior que o custo por um fator (1 + µ). Agora, com base nessas determinações, podemos seguir para a demonstração da taxa de desemprego de equilíbrio. Como nos aponta Blanchard (2011, p. 111), “faremos isso sobre a hipótese de que os salários nominais dependem do nível de preços efetivos P, em vez do nível esperado de preços, Pe”. Com base nessa hipótese, a descrição da determinação dos salários passa a ser: W = PF (u, z) Dividindo ambos os lados da equação, temos a relação em termos de salários reais: W P = F(u, z) (‑, +) Diante disso, podemos concluir uma relação negativa entre o salário real (W/P) e a taxa de desemprego (u). Novamente, quanto maior a taxa de desemprego, menor o poder de negociação dos trabalhadores. Se examinarmos da mesma forma em relação aos preços, ao realizarmos a divisão da equação de determinação dos preços pelo salário nominal, teremos que: P W = +( )1 µ 68 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Para obtermos a equação em termos de salário real, invertemos os dois lados da igualdade: W P = +( ) 1 1 µ Tal expressão nosdiz que os preços são fixados em relação ao salário real pago pelas empresas, logo, para maiores margens, teremos menores salários reais e, consequentemente, menores margens resultando em maiores salários reais. Em decorrência disso, o equilíbrio do mercado de trabalho será alcançado no ponto em que o salário real escolhido for igual tanto na fixação dos salários quanto na fixação dos preços, o que podemos representar pela igualdade das duas equações em relação ao salário real: F un( , )z µ = +( ) 1 1 A expressão nos mostra que a taxa de desemprego de equilíbrio (un), “é tal que o salário real na fixação dos salários – a expressão do lado esquerdo da equação – é igual ao salário real resultante da fixação de preços – o lado direito da equação” (BLANCHARD, 2011, p. 112). A taxa de desemprego de equilíbrio (un) é chamada de taxa natural de desemprego, sendo a sua representação gráfica ilustrada na figura a seguir. Relação de fixação de preços Relação de fixação de salários FP FS A Taxa de desemprego, u Sa lá rio re al , W /P ue 1 1+( )µ Figura 16 – Salários, preços e a taxa natural de desemprego Na representação acima, o equilíbrio consiste no ponto A e a taxa natural de desemprego é dada por un, sendo exatamente no ponto de encontro entre as duas relações de fixação. 69 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Quanto ao termo empregado, Blanchard (2011, p. 112) nos alerta que: A palavra “natural” sugere uma constante da natureza que não seja afetada pelas instituições e pela política econômica. Como a derivação dessa taxa deixa claro, a taxa “natural” de desemprego pode ser tudo, menos natural. As posições das curvas de fixação de salários e de fixação de preços e, portanto, a taxa de desemprego de equilíbrio depende tanto de z como de µ. Contudo, independentemente, das controvérsias quanto ao termo natural, o que nos importa é que ele continua a ser o termo recorrentemente utilizado, sendo que a partir de agora veremos suas implicações para a relação com a curva de Phillips, após essa digressão quanto à taxa natural de desemprego. Nosso próximo passo será a relação entre inflação, inflação esperada e taxa de desemprego. Tal derivação condiz em conseguir uma expressão que liga o nível de preços, o nível esperado de preços e a taxa de desemprego, sendo expressa como: P = Pe (1 + µ) F(u, z) Seguindo o que demonstra Blanchard (2011, p.148), altera‑se a função F para caracterizar os efeitos sobre o salário tanto da taxa de desemprego, u, como das outras variáveis que estão compreendidas na variável z. Assim, será conveniente adotar uma forma específica dessa função, representada por: F(u, z) = 1 – αu + z O parâmetro α representa a força do efeito do desemprego sobre o salário, continuando a expressão com o significado que quanto maior a taxa de desemprego, menor o salário, e quanto maior z, mais elevado o salário. Num próximo passo, iremos substituir a função F na relação entre os preços efetivos (P) e preços esperados (Pe): P = Pe (1 + µ) (1 – αu + z) Chega‑se finalmente à expressão que sintetiza a relação da curva de Phillips através de uma derivação matemática, numa equação com a taxa de inflação, inflação esperada e taxa de desemprego: π = πe + (µ + z) – αu Para entendermos melhor o significado dessa expressão, temos que fixar cada um dos efeitos presentes na equação: • o aumento da inflação esperada (πe) leva ao aumento da taxa de inflação efetiva (π); 70 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II • dada a inflação esperada (πe), o aumento da margem (µ) ou o aumento da variável z, que afeta os salários, teremos o aumento da inflação (π); e • dada a inflação esperada (πe), o aumento da taxa de desemprego (u) leva à diminuição da inflação (π). Muitas vezes, na análise da curva de Phillips, o uso de índices temporais nas variáveis πt, π e t e ut referem‑se respectivamente às taxas de inflação, inflação esperada e desemprego no ano t, possibilitando a visualização do horizonte temporal analisado. Com o avanço dos modelos econométricos, a ferramenta proporcionada pela curva de Phillips foi aprimorando sua forma de interpretar a relação entre inflação e taxa de desemprego, agregando também o papel das expectativas na curva de Phillips original, sendo rebatizada de curva de Phillips aceleracionista, nos anos de 1960, com o objetivo de mostrar que uma taxa de desemprego baixa poderia provocar uma aceleração do nível de preços. Observação A curva de Phillips, em sua versão aceleracionista, compreende as contribuições de Milton Friedman e Edmund Phelps no final dos anos 1960. Outro ponto que devemos frisar diz respeito à própria história da curva de Phillips com a descoberta do conceito de taxa natural de desemprego que demostramos no começo da seção. Por definição, a taxa natural de desemprego é a taxa de desemprego na qual o nível de preços efetivo será igual ao nível de preços esperado. Assim, conforme Blanchard (2011, p. 154), de “maneira equivalente – e, aqui, mais conveniente – a taxa natural de desemprego é a taxa de desemprego em que a taxa de inflação efetiva é igual à taxa de inflação esperada”. Seguindo tal condição de igualdade entre as taxas de inflação (πt = π e t), e resolvendo para a taxa natural de desemprego (un), teremos: u z n = +µ α Logo, quanto maior a margem, µ, ou maior os fatores que compõem a variável z, mais alta será a taxa natural de desemprego. Em decorrência disso, podemos finalmente chegar a uma expressão que relaciona a taxa de inflação com a taxa natural de desemprego, numa dada economia e horizonte temporal, sendo representada como: πt – π e t = – α(ut – un) 71 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Na equação, vemos que a variação da taxa de inflação depende da diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a taxa natural de desemprego. Portanto, no caso de a taxa de desemprego efetiva ser maior que a taxa natural de desemprego, a taxa de inflação diminui; acontecendo o contrário quando a taxa de desemprego efetiva for menor que a taxa natural de desemprego, ou seja, a taxa de inflação aumenta. Por fim, com base na relação dada pela curva de Phillips, os modelos macroeconômicos podem estimar o impacto dos níveis de produção e emprego no comportamento dos preços, principalmente as taxas de elevação desses preços em comparação com as taxas de desemprego do mercado de trabalho, visando não só à manutenção do equilíbrio econômico, mas às políticas econômicas que devem ser recomendadas para alcançar o equilíbrio. Saiba mais Para entender sobre todo o desenvolvimento da curva de Phillips e o debate sobre a sua relevância teórica no debate econômico atual, leia: HUBBARD, R. G.; O’BRIEN, P. Introdução à economia. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. p. 1030‑1056. 4 ECONOMIA NO CURTO PRAZO: O MODELO KEYNESIANO SIMPLES DE DETERMINAÇÃO DA RENDA (LADO REAL) Como visto anteriormente, no modelo clássico, é possível atingir o equilíbrio de pleno emprego, desde que haja o livre mercado operando na ausência de imperfeições. Para essa teoria, não há desemprego involuntário, ou seja, dado o nível salarial de mercado, a pessoa que quisesse trabalhar assim o faria, ficando desempregada apenas por vontade própria. Caso houvesse desemprego, seria porque os indivíduos buscavam um salário acima do salário de mercado, ou seja, o desemprego é apenas voluntário. Numa situação como essa, a queda do desemprego seria ajustada pela queda no salário. 4.1 A crítica de Keynesao modelo clássico e a revolução keynesiana Keynes, quando publicou a Teoria Geral, em 1936, estava analisando o cenário da Grande Depressão mundial da década de 1930, em que o quadro econômico era grave com elevada taxa de desemprego e declínio da atividade econômica. Froyen (2002, p. 88) mostra: [...] as taxas anuais de desemprego dos anos 1929‑1941. A taxa de desemprego subiu de 3,2% da força de trabalho, em 1929, para 25,2% da força de trabalho, em 1933, o ponto mais baixo da atividade econômica durante a Depressão. O desemprego permaneceu acima de 10% durante toda a década. O produto nacional bruto (PNB) real caiu entre 1929 e 1933, e não voltou a retornar ao nível de 1929 antes de 1939. 72 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Esse cenário de crise econômica não estava restrito aos Estados Unidos. A Grã‑Bretanha vivia a situação de desemprego elevado desde os anos 1920. A teoria clássica não dava conta de explicar esse fenômeno: apesar da queda dos salários nominais, o alto desemprego não cedia. Portanto, parecia que o livre mercado não conseguia atingir o tal equilíbrio com pleno uso dos fatores de produção. É nesse contexto que Keynes ganha cada vez mais expressão, participando dos debates entre economistas responsáveis pelas políticas econômicas e introduzindo sua revolução na teoria macroeconômica. Essa revolução foi marcada por colocar que o maior problema da Grande Depressão era a falta de demanda agregada. Lembrando que, para os clássicos, dado o suposto da Lei de Say, ou seja, em que a oferta cria as condições de demanda, o central a ser analisado numa economia é a oferta agregada. Isso significa focar as atenções para as condições tecnológicas, o estoque de fatores de produção enquanto determinantes do nível de produto e de emprego. Os clássicos, principalmente Marshall, respondiam como saída para os desempregados que estes buscassem conhecimento. Acreditava‑se que os custos humanos do desemprego seriam sensíveis, mas nenhuma saída definitiva para a redução, ou mesmo fim do desemprego, era apontada. Para os clássicos, o financiamento do aumento do gasto governamental seria feito com emissão monetária. Como a moeda é neutra e não afeta a economia real, então o resultado seria maiores níveis de preços e ausência de retomada de crescimento econômico. O debate nesse momento era tratar da conveniência dos gastos governamentais em obras públicas para solucionar o desemprego: De acordo com a teoria de Keynes, o alto desemprego na Grã‑Bretanha, Estados Unidos e em outros países industrializados era resultado de uma insuficiência de demanda agregada. A demanda agregada estaria muito baixa em razão da inadequada demanda por investimentos. A teoria de Keynes forneceu a base das políticas econômicas de combate ao desemprego. As políticas econômicas deveriam ser delineadas de forma a estimular a demanda agregada. Na época da Depressão, Keynes apoiou medidas de política fiscal para estimular a demanda, principalmente os gastos do governo com obras públicas. De maneira geral, a teoria keynesiana defende o uso das políticas monetária e fiscal para regular o nível da demanda agregada. [...] O argumento colocado por Keynes e outros foi que tais ações [política fiscal expansionista] aumentariam o produto e o emprego. Esses gastos estimulariam o produto e o emprego, direta e indiretamente, porque aumentariam a renda e, por conseguinte, os dispêndios dos consumidores empregados em obras públicas, gerando ainda mais emprego (FROYEN, 2002, p. 89‑90). Os economistas clássicos diziam que esse tipo de política expansionista, via aumento de gasto público, não funcionaria, pois o produto e o emprego não eram determinados pela demanda. A seguir, 73 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA o foco será analisar as ideias que embasaram a revolução keynesiana que triunfou desse período até aproximadamente meados dos anos 1970, quando o mundo passou novamente por outra grande crise e houve o questionamento do funcionamento das políticas intervencionistas keynesianas. Keynes produziu um conceito importante que é bastante utilizado até os dias hoje. Nesse trecho extraído de Macedo e Silva (1999, p. 63), Keynes explora o conceito de incerteza: Desejo explicar que por conhecimento “incerto” não pretendo apenas distinguir o que é conhecido como certo do que apenas é provável. Neste sentido, o jogo da roleta não está sujeito à incerteza; nem sequer a possibilidade de se ganhar na loteria. Ou ainda, a própria expectativa de vida é apenas moderadamente incerta. Até as condições meteorológicas soam apenas moderadamente incertas. O sentido em que estou usando o termo é aquele segundo o qual a perspectiva de uma guerra europeia é incerta, o mesmo ocorrendo com o preço do cobre e a taxa de juros daqui a vinte anos, ou a obsolescências de uma nova invenção, ou a posição social dos proprietários particulares de riqueza no sistema social de 1970. Sobre esses problemas não existe qualquer base científica para um cálculo probabilístico. Simplesmente, nada sabemos a respeito. 4.2 O princípio da demanda efetiva Esse princípio afirma que há uma assimetria entre ofertante e demandante que não deixa de ser uma assimetria entre as classes sociais, isto é, essa característica é derivada da própria economia mercantil‑capitalista. Para Keynes, o objetivo da produção num sistema capitalista é converter mercadorias em dinheiro. Esse dinheiro, como visto anteriormente, pode funcionar como reserva de valor ou mesmo como meio de pagamento. Já o aumento da produção não implica necessariamente em aumento na demanda por mercadorias, pois esse ajuste, ao contrário do que os clássicos supunham, não se efetiva no livre mercado. Portanto, Keynes vai explicar esse desequilíbrio não como uma situação temporária, mas como algo bastante recorrente numa economia que pode apresentar uma demanda fraca diante da alta produção de bens e serviços: O princípio da demanda efetiva é apresentado por Keynes como a verdadeira lei relacionando as funções de demanda e oferta agregadas. Quando a produção aumenta, geram‑se fluxos de renda que estimulam as decisões de adquirir bens de investimento (i.e., ativos como máquinas, equipamentos, etc.). Em consequência, dada a demanda por bens de investimento, a oferta de mercadorias como um todo (i.e., agregada), grosso modo, cresce mais rapidamente do que a demanda por bens agregada por mercadorias. A oferta agregada não pode crescer além de certo ponto sem provocar uma superprodução geral de mercadorias. A produção pode esbarrar no limite imposto pela demanda antes de que a capacidade de trabalho existente tenha 74 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II sido absorvida. Os mecanismos de mercado podem não ser suficientemente eficientes para eliminar o emprego da força de trabalho (SILVA, 1999, p. 39). Nesse princípio, Keynes busca analisar as decisões de gasto e chama a atenção para a particularidade da demanda por bens de consumo, qual seja sua determinação a partir da renda. Esse princípio apresenta as decisões de produção no curto prazo, pois é quando o empresário decide quantos trabalhadores contratará e quanto produzirá, mas isso é feito embasado na expectativa de venda, ou seja, na demanda. Assim, no curto prazo, já estão dados os coeficientes técnicos, os salários nominais, os custos unitários de produção, o nível de investimento planejado pelas empresas e o estoque de capital. Então, o empresário se depara com uma curva de oferta e demanda agregadas. Esta última é a representação da rendaque o empresário espera receber, entrar no processo produtivo, contratar trabalhadores e incorrer em incertezas com relação ao futuro. Essa expectativa quanto à demanda é importante, pois é decisiva para o empresário estimar se conseguirá vender aquilo que será produzido. A demanda efetiva é assim chamada, pois define a utilização dos recursos existentes na produção, isto é, a decisão do empresário em contratar trabalhadores não está baseada numa alteração salarial, mas na expectativa de demanda. Isso significa que, quando há uma crise, não é suficiente baixar salários para que os empresários voltem a contratar trabalhadores, mas garantir que haja um cenário positivo de elevação de demanda para que os empresários voltem a investir na economia. A capacidade de efetivar a demanda é determinada e limitada pelo poder de compra de cada agente, ou seja, pelo estoque de riqueza. Supondo os três agentes principais numa sociedade: empresa, família e governo, tem‑se que, então, para um empresário, quando há o aumento da produção e do lucro, geram‑se fluxos de renda que estimulam as decisões de adquirir bens de consumo, mas não afetam as decisões de demandar bens de investimento, pois para essa demanda há outros determinantes que serão vistos mais adiante. Para os trabalhadores, Keynes admitiu um princípio clássico que era a determinação do salário real a partir da produtividade marginal do trabalho. Quando o empresário contrata trabalho, essa demanda por trabalho se dá quando o salário real se iguala à produtividade marginal do trabalho. Ocorre que a produtividade do trabalho é decrescente, logo, quanto maior a produção numa economia e maior a demanda por trabalho, o salário real tende a cair. Portanto, esse comportamento é anticíclico. Observação É importante não confundir investimento com aplicação financeira. Aplicação financeira é quando um recurso monetário é aplicado num ativo financeiro em alguma instituição do sistema monetário e financeiro para obter juros. Por exemplo, quando alguém aplica em uma caderneta de poupança. Já investimento é a compra de bens de capital e variação de estoque. Na economia real, o investimento novo é conhecido como formação bruta de capital fixo. Esse indicador mede o quanto as empresas aumentaram os seus bens de capital, ou seja, aqueles bens que servem para produzir outros bens. Esses bens são compostos por máquinas, equipamentos e 75 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA material de construção. Ele é importante porque indica se a capacidade de produção do país está crescendo e também se os empresários estão confiantes no futuro. Saiba mais A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é calculada trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para mais informações sobre isso, acesse: <www.ibge.gov.br>. É importante lembrar que os trabalhadores percebem o salário nominal, ou seja, o que entra em seu bolso, porém, o que determina o nível de emprego é o salário real (poder de compra, ou seja, o nível de preços influencia essa capacidade de comprar). Então, o próprio mercado se organiza para determinar o nível de emprego quando o salário real se igualar à produtividade marginal do trabalho compatível com o emprego, definindo a massa salarial vigente. Dada a massa de salários reais, a disputa dos trabalhadores por salários nominais é uma luta pela repartição dessa massa salarial entre as diferentes categorias. Com isso, explica‑se a inflexibilidade para baixo dos salários nominais, pois em uma situação de desemprego teríamos a seguinte situação: se uma categoria qualquer aceitasse redução de salário nominal, isto em nada garantiria a obtenção de maior quantidade de emprego, mas com certeza, se as demais não a seguissem, significaria perda de parcela da renda real por esta categoria. Como não controlam os preços, e dada a disputa pela distribuição do salário nominal, é totalmente racional da parte dos trabalhadores lutarem por salários nominais e não por salários reais, ao contrário do preconizado pela teoria clássica, que consideraria irracional este comportamento (LOPES; VASCONCELLOS, 2011, p. 141). Keynes trabalha com expectativa futura e, por isso, é importante diferenciar o que é definido previamente – ex ante – à produção e o que ocorre após a realização da produção – ex post. Tanto o comportamento do trabalhador como o do empresário são definidos ex ante, então o equilíbrio é apenas virtual. Se esse equilíbrio se mantiver ex post, ocorrerá só porque os agentes acertaram suas expectativas, pois o mercado não garante ajustes automáticos ao equilíbrio. Caso haja equívocos de percepção, variações de estoque ou preços podem ocorrer para ajustar o desequilíbrio entre oferta e demanda naquele período. Somente no próximo período será possível ajustar e incorporar as novas expectativas. Portanto, para Keynes, durante a produção, nenhum ajuste para corrigir expectativas pode ser tomado, pois as decisões ou escolhas foram feitas anteriormente. Após os resultados, ou seja, no momento ex post, é possível retomar as expectativas, verificar os erros de previsão e influenciar as decisões seguintes. 76 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Ainda na Teoria Geral, Keynes distingue de forma clara os conceitos de demanda efetiva e renda. A renda é o resultado realizado (ex post), e sua importância reside apenas em sua influência nas decisões seguintes de produção. Na verdade, uma parte da renda é determinada ex ante, isto é, a referente aos “custos dos fatores”. Entretanto, um componente – o lucro – é residual, ou seja, é determinado ex post. Sendo assim, a renda como um todo é determinada ex post, no nível de cada unidade produtiva ou no agregado. A importância do nível de demanda efetiva é que só ele, e não a renda, permite determinar o nível de emprego da economia. E isso ocorre na dimensão ex ante, antes da dos resultados realizados (ex post) (ALÉM, 2010, p.158). Keynes trabalha com a noção de que, mesmo quando as expectativas são todas realizadas, ainda assim é possível haver equilíbrio abaixo do pleno emprego. Isso implica que, para a validade da teoria da demanda efetiva, não importa se a economia opera em equilíbrio ou não. Logo, o fundamental é lembrar que não há mecanismo de ajuste automático para atingir o pleno emprego. A figura central é o empresário capitalista que controla o processo produtivo ao contratar trabalhadores e empregar os recursos disponíveis. Portanto, se o objetivo é garantir o crescimento econômico, há que se manter o empresário com expectativa de que haverá demanda no futuro, o que não é calculável probabilisticamente, pois o futuro é carregado de incertezas. Concluindo, o ponto de equilíbrio da economia em uma situação de pleno emprego era apenas uma das situações possíveis, pois o mais provável é que a economia atingisse equilíbrio com desemprego involuntário no mercado de trabalho. Para determinar o nível de emprego e de produto, o autor trabalha com os agregados consumo e investimento enquanto componentes da demanda. O consumo agregado é uma função estável da renda: o consumo aumenta, conforme a renda se eleva, porém, não na mesma proporção. Essa proporcionalidade – dadas as elevações de renda, qual a ampliação do consumo – é passível de verificação a partir daquilo que Keynes chamou de propensão marginal a consumir. Esse indicador varia de zero a um e sofre influências de outras variáveis, como: distribuição de renda, riqueza, necessidades biológicas, preferências, avareza, taxa de juros, disponibilidade de crédito. Lembrete Uma das questões da análise keynesiana é o princípio da demanda efetiva. Keynesentende que, nesse princípio, está a verdadeira lei relacionando as funções de demanda e oferta agregadas. Isso significa que, quando a produção aumenta, o fluxo de renda gerado provoca um aumento do desejo de adquirir bens de consumo, o que não afeta as decisões de comprar bens de investimento (ativos como máquinas, equipamentos etc.). A partir disso, dada a demanda por bens de investimento, há um aumento mais que proporcional da oferta agregada de mercadorias sobre a demanda agregada por mercadorias. Diante disso, há a possiblidade de expansão econômica. 77 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Essa propensão é relativamente estável em relação à renda da economia. Portanto, as flutuações da demanda no curto prazo são fruto das oscilações do investimento, o outro componente da demanda. Como o investimento afeta a capacidade produtiva, ele também altera a oferta agregada a longo prazo. A figura a seguir traz dados de consumo privado em relação ao produto interno bruto de diversos países. É possível verificar que há uma relação muito próxima para diversos países. 1.000.000 900.000 800.000 700.000 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0 0 200.000 400.000 MéxicoBélgica Argentina Índia Fed. Russa Espanha Brasil Reino Unido Itália França China Holanda Austrália Rep. Coréia Canadá 600.000 800.000 PIB Co ns um o pr iv ad o 1.000.000 1.200.000 1.400.000 1.600.000 Figura 17 – Consumo privado em relação ao PIB. Países selecionados, em milhões US$, 1996 A decisão de investir do empresário está embasada no custo do investimento e nas condições futuras de mercado de bens. Então, o investimento é decidido a partir do fluxo de caixa esperado do investimento. Para tanto, é preciso considerar o valor presente do fluxo de caixa, ou seja, o preço de demanda do investimento (PDI) e o custo do investimento ou o preço de oferta do investimento (POI). Quando: • PDI > POI: compensa fazer o investimento. • PDI < POI: não compensa investir. Dessa equação, surge o conceito de eficiência marginal do capital (EMgK), que é a taxa de retorno esperada do investimento que faz com que se igualem o valor presente do fluxo de caixa e o custo do investimento. • Se EMgK > taxa de juros: empresário investe. • Se EMgK < taxa de juros: empresário não investe. O problema, segundo Keynes, é que a eficiência marginal do capital é muito instável, pois é calculada a partir de expectativas dos empresários, cuja base para formação é bastante precária, uma vez que nosso conhecimento sobre o futuro é bastante limitado, reinando um ambiente de incerteza e ignorância sobre as condições vigentes a longo prazo. 78 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II A eficiência marginal do capital pode alterar‑se tanto por pressões na indústria produtora de bens de capital, como por mudanças no estado de espírito dos empresários. Com isso, o investimento tende a sofrer oscilações, impactando o nível de demanda agregada e a atividade econômica (LOPES; VASCONCELLOS, 2011, p. 142). Para evitar flutuações da atividade econômica, Keynes chama a tenção para a necessidade das intervenções do Estado na economia, enquanto mecanismo estabilizador e anticíclico. Somente o Estado é o agente econômico capaz de garantir, a partir dos gastos públicos, que a economia, numa situação de incerteza elevada, retome a estabilidade diante de suas flutuações cíclicas. A partir dessas formulações de Keynes, foi possível modelar a determinação do nível do produto (ou renda) ou ainda o lado real da economia. 4.3 Modelo keynesiano simples (o lado real) Nesse modelo, ao contrário do modelo clássico desenvolvido anteriormente, o produto é determinado pela demanda agregada, reforçando a ideia de que prevalece o princípio da demanda efetiva. Os pressupostos dessa abordagem são taxa de juros e nível de preços fixos e exógenos ao modelo. Além disso, pressupõe também que haja capacidade produtiva suficiente para enfrentar oscilações na demanda. Assim, as empresas estão dispostas a vender qualquer quantidade de produto ao nível de preços vigente, ou seja, a curva de oferta é perfeitamente elástica em relação aos preços (oferta agregada horizontal). P OA Y P Figura 18 – Curva de oferta agregada Essa figura mostra que, a preços constantes, a variável de ajuste é a quantidade que as empresas irão produzir ou ofertar. Portanto, cabe ao empresário essa decisão e não às oscilações e ajustamento de preços de mercado a partir da oferta e demanda até atingir o equilíbrio. 79 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA O equilíbrio de mercado é dado por: Oferta agregada de bens e serviços = demanda agregada de bens e serviços Em uma economia fechada e sem governo, o produto é dado por: Y = C + I Onde: Y = produto real. C = gastos com consumo. I = gastos com investimento. O consumo (C) corresponde ao gasto das famílias com bens e serviços para suprir necessidades pessoais. Esse componente do produto varia conforme a renda, de modo que quanto maior o segundo, maior será o nível do primeiro. Já os gastos com investimento (I) estão relacionados à expansão da capacidade produtiva de tal forma que se consideram as aquisições de máquinas e equipamentos (bens de capital) e também variações de estoques. Os estoques são importantes para atender às oscilações de demanda e, assim, o empresário tem capacidade de alterar rapidamente a produção no curto prazo. Então, não se trata apenas de erro do planejamento do empresário, mas também das condições do mercado. Desse modo, o investimento pode ser decomposto em duas partes: • investimento voluntário ou planejado ou intencional: corresponde à compra de bens de capital pelas empresas e à variação programada no nível de estoques; • investimento involuntário ou não planejado: corresponde a variações no nível de estoque decorrentes de equívocos na estimativa do nível de produção realizados pelas empresas. Tem‑se: Ireal = Ivol + Iinv Onde: Ireal = investimento realizado. Ivol = investimento voluntário. Iinv = investimento involuntário. 80 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Em equilíbrio, a variação do estoque de investimento não planejado é igual a zero, ou seja, Iinv = 0. Então, a demanda agregada realizada é exatamente igual à demanda agregada planejada. Nesse nível, a produção é suficiente para atender os gastos dos agentes econômicos (C e I). A variação do investimento involuntário pode ser explicada pelas variações nas demandas agregadas realizadas e planejadas. Então, quando a demanda agregada realizada é maior que o produto (dado pela demanda agregada planejada), há uma diminuição do nível dos estoques planejados – o investimento involuntário é menor do que zero (Iinv < 0), isto é, um excesso de demanda, provocando uma retração dos estoques. Nesse caso, as empresas tendem a contratar mais trabalhadores e aumentar a produção de forma a atender a demanda e, dessa maneira, esse processo ocorre até que o equilíbrio seja retomado. Caso contrário, o inverso poderá ser observado, ou seja, Iinv > 0. Veja que não foram os movimentos dos preços que levaram à economia ao estágio de equilíbrio, mas uma variação nos estoques, também conhecido como política de ajustamento de estoques. Então, tem‑se que: Iinv = DAreal – DAplan Se DAreal > DAplan; então Iinv < 0 Se DAreal < DAplan; então Iinv > 0 Onde:DAreal = demanda agregada realizada. DAplan = demanda agregada planejada. A demanda agregada real, medida nas contas nacionais, após a produção, é dada por: DAreal = C + I Dada as identidades contábeis, demanda agregada é igual ao produto de uma economia, portanto: DAreal = Y No caso da demanda agregada planejada, ex ante, tem‑se: DAplan = C = Ivol Agora o objetivo é analisar cada parte componente da demanda agregada. Considerando o consumo enquanto determinante da demanda agregada e que ele se expande conforme aumenta a renda, tem‑se: C = C(Y) = C0 + cY Onde: C0 = consumo autônomo (C0 > 0). c = propensão marginal a consumir (0 < c < 0). 81 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Consumo autônomo corresponde à parcela do consumo que independe do nível de renda, ou seja, é determinada por outros fatores que não sejam a renda corrente, tais como a disponibilidade de crédito, consumos essenciais para a subsistência, ajuda externa ou governamental. Já a propensão marginal a consumir é indicador que relaciona variações no consumo a acréscimos na renda, ou seja, aumento do consumo por unidade da renda. Dessa maneira, em equilíbrio, o produto é igual à demanda agregada e tem‑se: Condição de equilíbrio: OA = DA Oferta agregada: OA = Y Demanda agregada: DA = C(Y) = C0 + cY Fazendo as substituições em OA e DA em equilíbrio, tem‑se: Y = C0 + cY Y – cY = C0 Resolvendo Y para Y de equilíbrio, obtém‑se: Y c CE = − 1 1 0( ) . De acordo com Lopes e Vasconcellos (2011), pode‑se representar graficamente essa situação. Na figura a seguir, a reta de 45o representa os pontos de equilíbrio entre OA e DA. A demanda agregada composta apenas pelo consumo por ora é decomposto por consumo autônomo, que é onde a reta ou a função encontra o eixo vertical no intercepto e a propensão marginal a consumir é a inclinação da reta DA. No segundo gráfico da figura 19, o equilíbrio é representado incorporando a função poupança (S). O conceito de poupança é a renda não consumida. 82 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II DA OA = DA DA = C Y Y S S 0 YE YE 45º C0 ‑ C0 Figura 19 – Equilíbrio no modelo keynesiano básico Considerando o conceito de poupança, tem‑se: S = Y – C S = Y – (C0 + cY) S = – C0 + (1 – c)Y O (1‑c) representa a propensão marginal da renda a poupar e a poupança é considerada residual, ou seja, é sobra da renda após os gastos com consumo. Portanto, no gráfico, o intercepto da poupança é o consumo autônomo com sinal negativo (despoupança). Essa propensão varia conforme a renda, assim como a propensão marginal a consumir. Somando as duas propensões marginais o resultado será 1. Então, a propensão marginal a poupar (s) mostra que há aumento (maior que zero e menor que um) da poupança quando a renda aumenta em uma unidade. Tem‑se que 0 < s < 1. 83 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Exemplo de aplicação Considere um exemplo de função consumo dada pela expressão: C = 200 + 0,8Y Dessa expressão, pode‑se dizer que: C0 = 200 c = 0,8 Considerando que, por ora, a demanda agregada é dada apenas pelo consumo: Y = C Y = 200 + 0,8Y Y – 0,8– = 200 Y(1 – 0,8) = 200 YE = − = 200 1 0 8 1000 ( , ) Pode‑se chegar ao mesmo resultado por outra equação: S = Y – C S = Y – (200 + 0,8Y) Como em equilíbrio tem‑se apenas consumo, então S=0. Portanto, S = Y – (200 + 0,8Y) = 0 Y – (200 + 0,8Y) = 0 Y – 200 – 0,8Y = 0 0,2Y – 200 = 0 0,2Y = 200 YE = 1000 Suponha outros números e tente reproduzir esse exemplo. 84 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Resumo No modelo clássico não há como o governo afetar o nível de emprego ou de produto da economia, já que a política fiscal no modelo clássico só altera a composição da demanda, mantendo inalterado o produto e o nível de emprego. Nesse modelo, a economia se encontra em equilíbrio de pleno emprego. Uma ferramenta importante para o entendimento da relação entre inflação e desemprego consiste na curva de Phillips. Ela representa uma relação negativa entre inflação e desemprego, em que para uma diminuição da inflação necessita‑se de uma elevação na taxa de desemprego. Com o conhecimento da taxa natural de desemprego, o nível de desemprego que não acelera a inflação seria uma situação na qual a economia poderia garantir o equilíbrio de pleno emprego. Keynes publicou sua obra principal Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, em 1936, no período da Grande Depressão. Diante disso, chamou a atenção para a possibilidade de se atingir o equilíbrio abaixo do pleno emprego, ou seja, com desemprego involuntário no mercado de trabalho. O problema apontado por Keynes para explicar a grande crise durante a década de 1930 era a falta de demanda agregada. E, para isso, o autor desenvolve o princípio da demanda efetiva. No princípio de demanda efetiva, Keynes considera que o empresário, quando decide sua produção no curto prazo, observa a função de demanda por bens em relação à renda. Considerando a incerteza do mercado, Keynes supõe que a decisão de investir respeita a seguinte equação: Se EMgK > taxa de juros: empresário investe. Se EMgK < taxa de juros: empresário não investe. O modelo keynesiano simples busca explicar a determinação do nível de produto tomando como exógenos e fixos a taxa de juros e o nível de preços. A curva de oferta agregada é infinitamente elástica em relação aos preços, ou seja, é horizontal. Os estoques involuntários de investimentos serão positivos (negativos) quando a demanda agregada real for menor (maior) que a demanda agregada planejada. 85 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 MACROECONOMIA FECHADA Exercícios Questão 1. (Enade 2006, adaptada) A Curva de Phillips, representada no gráfico a seguir pela linha cheia, varia de posição com as expectativas de inflação. Taxa de inflação (%a.a) C D A B Taxa de desmeprego(%) Em particular, no caso de maior expectativa de inflação, a Curva de Phillips passaria a ser A) AB. B) AD. C) CD. D) Vertical. E) Horizontal. Resposta correta: alternativa C. Análise da questão A questão não está considerando a Curva de Phillips em sua forma original. A curva em análise é aquela com a incorporação de hipótese de expectativas. Verificamos que a expectativa de maior inflação não promoveu qualquer observação de trade‑ off entre inflação e desemprego, mas um deslocamento da própria curva conforme figura a seguir (deslocamento da Curva de Phillips). 86 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 01 /1 6 Unidade II Inflação Expectativa de aumento de inflação Expectativa de aumento de inflação Inflação Desemprego Curva de Phillips "Original" Curva de Phillips incorporando expctativas Desemprego Como se trata da abordagem que incorpora as expectativas, descartamos as alternativas B, D e E: em comum, todas elas indicam mudança da inclinação da Curva de Phillips como resultado da maior expectativa de inflação. O modelo da Curva de Phillips com expectativas indica que, nessa situação, haverá deslocamento à direita da curva original, e não mudança de inclinação. Também não haverá deslocamento à esquerda, como indicado na alternativaA, o que resultaria queda de inflação ou aumento do nível de emprego. A alternativa correta é a C, uma vez que apresenta exatamente o movimento à direita da curva. Questão 2. (Sesau/RO, Economista) Com base na teoria keynesiana, avalie as afirmativas. I – Decisões de investimento dependem exclusivamente da taxa de juros, sem levar em conta as expectativas dos agentes. II – Quando a taxa de juros aumenta, a eficiência marginal do capital deve aumentar, no mínimo, na mesma proporção para que não ocorra queda de investimentos. III – No modelo keynesiano com consumo e investimento, o investimento é uma variável dependente da renda. Está correto o que se afirma apenas em: A) I e III. B) II e III. C) III. D) II. E) I e II. Resposta desta questão na plataforma.
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