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Unidade I TÉCNICAS DE PESQUISA EM ECONOMIA Profa. Ana Belavenuto Objetivo geral Introduzir elementos conceituais relacionados à atividade científica, bem como elementos práticos para a confecção de um projeto e relatório de pesquisa. Objetivo específico Enfatizar as especificidades, potencialidades e limitações do conhecimento científico. Destacar o papel da metodologia nas Ciências Sociais e, particularmente, na Ciência Econômica. Ressaltar as etapas de produção científica em Economia. Mostrar de forma concreta como esses vários elementos se articulam na elaboração de uma pesquisa econômica, por meio da elaboração de um projeto de pesquisa na forma de monografia. Estrutura da disciplina Unidade I – Método científico e técnicas de pesquisa em economia: a ciência, a filosofia da ciência e o método científico. Unidade II – Especificidades da pesquisa científica em Economia. Filosofia da ciência Filósofos clássicos gregos – século V – IV a.C. Contexto: Grécia envolvida com a polis (cidade) e a política. Economia urbana baseada no artesanato e no comércio. Fundamentos: dóxa (espaço político para discussão e persuasão); alétheia (pensamento verdadeiro para todos). As mudanças na forma de interpretar a realidade Visão teogônica – explica o nascimento de todas as coisas pelas relações sexuais entre os deuses. Visão cosmogônica – explica a ordem do mundo pela ação entre forças vitais concretas e divinas. Visão cosmológica – explica a origem do mundo por meio da determinação de um princípio originário racional. Apogeu da filosofia – período cosmológico Grécia clássica Período cosmológico – final século VII ao final do século V a.C. Principais características: Explicação racional sobre a origem e a transformação da natureza. Como os seres humanos fazem parte da natureza, ao explicar a natureza, explica também a origem e as mudanças dos seres humanos. Período Socrático ou antropológico Final do século V e todo o século IV a.C. Contexto: Atenas – centro da vida social, política e cultural da Grécia. Valorização da democracia (todos são iguais perante a lei e todos tem direito à participação no governo da cidade (polis). Democracia direta. Figura política do cidadão. Os sofistas Filósofos do período Socrático. Mestres da oratória ou de retórica. Virtude cívica: participar do debate político e votar nas assembleias. A capacidade em ser bom orador público era um fator de convencimento dos outros na política. Sócrates – crítico dos Sofistas. “Não tinham compromisso com a sabedoria e a verdade”. Período socrático ou antropológico Sócrates – filósofo grego – século IV a.C. Contribuições no campo da epistemologia e da lógica. Raciocínio Indutivo – do particular para o geral. Estimulava as pessoas a perceber a distância entre a ideia de uma coisa e a imagem que dela se fazia. Qual a diferença entre uma opinião e um conceito? A opinião é mutável, o conceito é uma verdade universal. Examina o que é o senso comum – investigação. O pensamento de Platão Pretendeu entender a razão do mundo sensível. Procurou responder o que distingue o mundo sensível das aparências e o mundo inteligível das essências. O verdadeiro mundo é o das ideias. Defendeu a proposição de que somente os filósofos tem capacidade para governar. Porque tinham condições de combater por meio do isolamento da mentira e das dissimilações aquilo que ocorria com o uso da linguagem. Se a retórica era a arte do engano, sendo o sofista um perito em imitações, a dialética era o instrumento do filósofo para combater a falta de conhecimento e a inverdade. Retórica X Dialética Retórica – arte da eloquência da fala e da escrita, pobre em conteúdo, mas com forte apelo de convencimento (Sofistas). Dialética (em Platão) – método que coloca em evidência os conceitos com o objetivo de explicitar as contradições e a partir deles reconhecer a própria ignorância. Dialética – método de produção de conhecimento. O pensamento Aristotélico O conhecimento só se materializa a partir do entendimento das causas das mudanças dos seres. Buscou demonstrar como as ideias se transformam. Criador da lógica como instrumento do conhecimento em qualquer campo do saber. Elaborou um histórico do progresso e das mudanças do pensamento (enciclopédia) sobre os mais diversos assuntos. Fez o registo da história das aporias e a sua própria aporia. Aporia – opiniões antagônicas, mas racionais, que procuram explicar uma mesma questão. Interatividade O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, fez a crítica aos sofistas, utilizando o seguinte argumento: a) Não tinham amor pela sabedoria nem respeito pela verdade. b) Tinham amor pela verdade mas negavam a sabedoria. c) Valorizavam em demasiado a metafísica. d) Tinham a eloquência da fala e não da escrita. e) Suas técnicas de persuasão não convenciam os jovens. Outros grupos de saberes que formaram o tronco geral da filosofia Física – (que engloba a biologia, a botânica, a zoologia, a psicologia e a cosmologia). Matemática – que estudava os seres imóveis. Filosofia teológica – estudava o ser imóvel não sujeito a mudanças e ao devir. A práxis (prática, representada pelo estudo da Economia, da Ética e da Política). Poiesis (arte ou técnica, englobando a agricultura, a pintura, a poesia e a retórica). A Lógica Indicava a forma correta de se pensar. Disciplina que fornecia as normas para o disciplinamento do pensamento na busca do conhecimento. Permitiria a verificação da falsidade ou da veracidade dos argumentos por meio dos silogismos. Silogismos Raciocínio dedutivo parte da elaboração de uma premissa geral (maior) e com base nela explicam-se os casos particulares (menor). Exemplo: Todos os humanos são mortais (geral); eu sou um ser humano (particular); logo, eu sou mortal (dedução). Raciocínio indutivo – parte do particular (menor) para o geral (maior). Exemplo: Pedro é homem e mortal (particular), então todos os homens são mortais (conclusão). O método empírico ou empirismo A explicação racional, ou as proposições, devem submeter-se aos fatos para validação. É preciso provar com fato do mundo real. Na ciência econômica utiliza-se da matemática e da estatística. Escolástica Escola de pensamento filosófico da Idade Média. Recebeu influência de Platão (neoplatônico), Aristóteles e Santo Agostinho (livre arbítrio). Tentativa de conciliação entre fé e razão. Escritos antigo foram copiados e reescritos sob a ótica da teologia cristã. O texto bíblico dava conta de responder a todas as inquietações. Na Idade Média existiam as universidades. Estudava-se Geometria Euclidiana, Lógica, Metafísica, Ética, Medicina, Física e Direito. Renascentismo Razão utilizada como antídoto para as superstições, as paixões e a imaginação. A matemática e os métodos de observação eram formas de se obter mais certeza nas abstrações sobre o homem e a natureza. Buscou conhecer o Homem e entender as relações entre o humano e o divino. Avançou-se no conhecimento da anatomia humana. Na arte – valorização do ser humano e da vida cotidiana. Racionalismo cartesiano (Descartes), da filosofia kantiana e de Spinoza, da dialética hegeliana e da pintura holandesa. Iluminismo Movimento político, social, cultural e filosófico. Contexto: revolução industrial, forma de governo: absolutismo; absolutismo político esbarrava nos anseios da burguesia em relação à liberdadede agir; Locke, Voltaire, Montesquieu e Rousseau, Adam Smith. Herança do iluminismo – individualização da cidadania com base na liberdade e na propriedade privada, e de uma proposta filosófica racionalista e otimista quanto ao valor da ciência. O método científico Como apreender a realidade? pela intuição pelo raciocínio. Pelo raciocínio – se configura como razão discursiva e que ocorre sob as formas de dedução e indução. Dedução e indução – procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao ainda não conhecido. Do conhecimento adquirido avançamos para novos conhecimentos. Pressupostos epistemológicos Cada área do saber tem um objeto específico de estudo e um método particular de investigação desse objeto. Cada área do saber tem como base determinados princípios que lhe são basilares. Sobre esses princípios repousam alguns critérios a partir dos quais será gerado o conhecimento a respeito do seu objeto de estudo. Deve-se explicitar como se dá o conhecimento no seu campo de saber e qual o processo de sua aquisição. Adicionalmente, deve-se esclarecer quais os métodos consagrados para a investigação e para o estudo dos fenômenos pertinentes à sua área. Pressupostos epistemológicos Esses princípios definem o quanto podemos conhecer da realidade. Até onde podemos avançar sobre o conhecimento de nosso objeto de análise? Sabemos que fatores biológicos determinam nossa capacidade de cognição. Por exemplo: nossa capacidade de ver, de ouvir, de sentir, de compreender as ideias e de estabelecer relações entre fatos e ideias são fundamentais. Pressupostos epistemológicos Nossa capacidade de cognição não é isenta de influências sociais e culturais. Ou seja, o conhecimento é um fenômeno social que possui uma história. O conhecimento, portanto, deve ser examinado nos contextos históricos em que foram construídos. Em resumo – epistemologia significa “o conhecimento do conhecimento científico”. Paradigmas teóricos Da escola da economia heterodoxa da organização industrial. Da escola heterodoxa da econometria (incluída, aí, a estatística bayesiana). Do historicismo econômico. Da escola austríaca de Economia. Da escola da nova economia institucional. Da escola marxista. Da escola keynesiana. De outras escolas paradigmáticas. Os métodos utilizados pela ciência econômica Histórico-dedutivo Smith, Malthus, Ricardo, Marx tentaram generalizar a partir da observação da realidade econômica que os cercava. Hipotético-dedutivo Modelos matemáticos – anos de 1930 – quando um grande número de engenheiros e físicos se juntaram à profissão. Interatividade A respeito dos pressupostos epistemológicos, pode-se considerar que: a) Nossa capacidade de cognição é isenta de influências sociais e culturais. b) Fatores biológicos não determinam nossa capacidade de cognição. c) A observação da realidade dever ser abstraído dos fenômenos econômicos. d) O conhecimento deve ser examinado em seu contexto histórico. e) O conhecimento não deve ser examinado em seu contexto histórico. Metodologia do pensamento econômico A metodologia do pensamento econômico traz como pressuposto que o economista como cientista pode se utilizar de um ou mais métodos. Na ciência econômica – não existe consenso entre membros de diferentes escolas. Na ciência econômica – o consenso será encontrado dentro de cada escola, uma vez que se utilizam dos mesmos pressupostos metodológicos. Problemas enfrentados pela ciência econômica Não é possível realizar experimentos controlados. Os atos econômicos mudam ao longo do tempo. O comportamento dos agentes econômicos é instável. Os cientistas que estudam os fenômenos econômicos, por sua vez, são também agentes econômicos que possuem a sua própria crença e valores a respeito do objeto de estudo. A influência dos paradigmas Durante muito tempo acreditou-se que a oferta tinha capacidade de criar a sua própria demanda (chamada de Lei de Say). Esse paradigma foi abalado quando havia produtos em excesso no mercado e não havia consumidores dispostos a comprá-los. Acomodação epistemológica Mas, porque alguns paradigmas teóricos duram por muito tempo? Resposta: É porque as construções mentais satisfatórias resistem às mudanças. Existe confiança nos métodos da reflexão dedutiva e da abordagem histórica como forma de se atingir o conhecimento sobre o mundo econômico. O uso da estatística e da matemática passou a validar os modelos teóricos. Matemática e economia Final do século XIX e início do século XX; Consolidação do uso da matemática e da estatística; A ciência econômica passou a ser considerada a ciência mais exata dentre as ciências sociais, e portanto mais próxima da certeza. Objeto de investigação das ciências econômicas As formas adotadas pela sociedade para a solução do problema da produção e do consumo de bens e serviços, dadas duas condições: a escassez de recursos e as necessidades ilimitadas. Método utilizado por Adam Smith Histórico dedutivo Deduziu algumas regras gerais sobre a natureza humana e suas manifestações quando da troca, compra e venda de bens e serviços. A ideia do Homo economicus como egoísta e movido pelo autointeresse tornou-se o pilar de sustentação do pensamento clássico. Método empírico dedutivo William Phillips (1914-1975) Analisou dados do Reino Unido (período de 1861 a 1957); Coletou dados estatísticos; Montou uma série histórica; Deduziu uma lei geral explicativa da relação inflação e desemprego; Testou a hipótese por meio de modelos matemáticos. Conclusão de Phillips Identificou a correlação negativa entre inflação e desemprego. Quanto menor o desemprego, maior a inflação; Quanto maior o desemprego, menor seria a inflação. Explicação da hipótese Quanto menor o desemprego, mais pessoas terão em mãos recursos financeiros. De posse desses recursos demandam bens e serviços. Como a oferta desses bens não aumentam na mesma proporção da demanda a probabilidade era que os preços aos consumidores aumentassem. Quando o desemprego aumenta, menos pressão haveria para aumento dos preços, já que menos pessoas estariam em condições de adquirir bens e serviços. Curva de Phillips Fonte: FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. (Adaptado). Taxa de Inflação Taxa de desemprego Método histórico-dedutivo A vantagem do método histórico dedutivo está em razão da complexidade do sistema econômico; Do caráter de mudança; E por essa razão derivar modelos com base em hipóteses pode não se revelar em certezas. Método histórico-dedutivo A vantagem do método histórico-dedutivo está em razão da complexidade do sistema econômico. Do caráter de mudança do sistema. E por essa razão derivar modelos com base em hipóteses pode não se revelar em certezas (hipotético-dedutivo). Vantagem do método histórico-dedutivo A vantagem do método histórico-dedutivo está em razão da complexidade do sistema econômico. Do caráter de mudança do sistema. E por essa razão derivar modelos com base em hipóteses pode não se revelar em certezas (hipotético-dedutivo). Interatividade Sobe o método utilizado por Phillips, pode-se afirmar: a) Utilizou-se somente do método dedutivo-hipotético. b) Utilizou-se somente do método dedutivo-empírico. c) Utilizou-se somente do método dedutivo-histórico. d) Utilizou-se somente do método indutivo lógico. e) Utilizou-se dos métodos dedutivos e do indutivo.Positivismo Contexto: Século XIX. Triunfo do liberalismo europeu. Ascensão do cientificismo. Transformação da posição do homem no mundo (homem livre). Consolidação do modo capitalista de produção. Método do estudo positivista Comte (1798-1857) – inicia o pensamento positivista. Pode ser chamado de histórico genérico indutivo; Pois, apoiado na observação dos fatos, busca as leis da coexistência e da sucessão, Via indução, deduz dessas leis, utilizando-se da consequência e da correlação os fatos novos que escaparam da observação direta, mas que a experiência verificou. Em economia o método positivista preocupa-se com a descrição dos fatos, circunstâncias e relações na economia. Por exemplo: como o nível de desemprego elevado afeta a inflação? Principais pilares do conhecimento positivista 1. a sociedade é regida por leis naturais, invariáveis; 2. a sociedade pode ser assimilada epistemologicamente pela natureza, de modo que pode ser estudada segundo os mesmos métodos empregados nas ciências naturais (monismo metodológico); 3. tal como nas ciências da natureza, o cientista deve observar fenômenos e buscar relações causais para explicá-los, de forma objetiva, ou seja, afastando todas as pré-noções, tal como ideologias e julgamentos de valor. Positivistas lógicos Também conhecido como Circulo de Viena. Para os positivistas lógicos o que compõe o objeto das ciências empíricas e positivas são elementos empíricos que possam ser tratados a partir da análise lógica. Reconhecem três tipos de proposições: Analíticas, que se utilizam de tautologia (podem ser verificadas empiricamente); Sintéticas (podem ser verificadas empiricamente); Metafísicas (não podem ser verificados empiricamente. Exemplo: mentir é pecado). O falseacionismo Karl Raimund Popper é considerado um dos mais importantes críticos dos positivistas lógicos. Para Popper não tem como justificar o conhecimento científico pelo emprego do método indutivo. Não é possível gerar conhecimento baseado somente em fatos. Há problemas filosóficos bastante importantes e que são passíveis de uma crítica racional que vai além da simples observação de fatos. Não há teorias com status de verdadeiras. As que resistem ao tempo e tomadas como verdadeiras é porque adquiriram maior confiança dos cientistas. O falseacionismo de Popper Buscou a substituição do que se convencionou chamar de racionalismo justificacionista pelo racionalismo crítico. Por mais que evidências sejam percebidas na ocorrência dos fenômenos, não se pode afirmar que assim estarão no futuro. O cientista deve buscar sempre a verdade e, acompanhado dessa busca, deverá estar a crítica. Os cientistas devem ser humildes o bastante para se permitirem aprender com os próprios erros. A ciência somente terá condições de progredir quando as teorias deixarem as amarras que as protegem da crítica. O método proposto por Popper O método inicia-se com o problema. O problema origina-se das expectativas do cientista. O problema é traz a dúvida, a indagação, a inquietação ao cientista. Se não houver interesse no objeto a ser estudado será demasiado difícil o levantamento de algo que seja passível de investigação. O problema pode ser de ordem teórica ou prática. O problema surge de conflitos que pairam na mente do cientista, na comunidade científica ou mesmo na sociedade. Etapas do método dedutivo-hipotético Expectativas ou conhecimento prévio Problema Conjecturas Falseamento Falseamento Dar-se-á por tentativas de refutação ou pela observação ou pela experimentação daquilo que se estabeleceu como previamente verdadeiro. Esta terceira etapa do método hipotético-dedutivo consiste em tornar falsas as consequências deduzidas da hipótese, mediante o modus tollens. O modus tollens – se q é deduzível de p, mas q é falso, logicamente, p é falso. Influências de Popper O físico e filósofo estadunidense Thomas Kuhn. O filósofo da matemática húngaro Imre Lakatos. Influenciou as ciências econômicas e administrativas, por meio de sua postura em defesa da formalização colocando a filosofia da ciência em debate na busca de qual método é mais apropriado e verdadeiro de se fazer ciência. As teorias econômicas e administrativas tratam as análises científicas por diversos caminhos metodológicos: por vezes utiliza-se menos da formalidade empregando uma visão mais empírica da realidade ou mais formal e com visão puramente técnica abrindo mão do que seja real. Interatividade Sobre o método dedutível-hipotético, pode-se afirmar: a) Foi desenvolvido por Thomas Kun. b) Foi desenvolvido por Auguste Comte. c) Foi desenvolvido por Karl Popper. d) Foi desenvolvido por I. Lakatos. e) Foi desenvolvido por W. Phillips. ATÉ A PRÓXIMA!
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