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Autoras: Profa. Daniela da Cunha Souza Patto Profa. Olivia Beloto da Silva Colaboradores: Profa. Ana Paula Zaccaria dos Santos Prof. Adilson Rodrigues Camacho Gestão de Resíduos Sólidos, Efluentes e Emissões Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Professoras conteudistas: Daniela da Cunha Souza Patto/Olivia Beloto da Silva Daniela da Cunha Souza Patto Nascida em São Paulo, é engenheira química formada pela Escola de Engenharia de Lorena – EEL – USP, mestre em química pelo Instituto de Química da Unicamp, doutora em ciências na área de química orgânica pelo Instituto de Química da Unicamp e pós‑doutora pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Atuou como química de pesquisa na Indústria Farmoquímica, com o desenvolvimento de produtos farmacêuticos e cosméticos, trabalhando também como auditora interna do sistema de gestão da qualidade (ISO 9001. ISO 14000 e OHSAS 18000). Atualmente é professora titular da Universidade Paulista e ministra aulas nos cursos de Farmácia, Engenharia Civil e Elétrica. A partir de 2014, assumiu a coordenação auxiliar do curso de Gestão Ambiental. Além disso, é conteudista de materiais para o ensino a distância, incluindo gravações de aulas. Olivia Beloto da Silva É bacharel em Enfermagem pelo Centro Universitário de Santo André – Unia (concluído em 2005), especialista em Enfermagem em Nefrologia pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp (concluído em 2007), mestre em Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia Renal) pela Universidade de São Paulo – USP (concluído em 2009), doutora em Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia Renal) pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica Humana da Universidade de São Paulo – USP (concluído em 2012) e, no momento, pós‑doutoranda em Ciências Humanas (Laboratório de Fisiologia de Epitélios) pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica Humana da Universidade de São Paulo – USP (início em 2012). Durante toda a graduação, dedicou‑se à iniciação científica no Laboratório de Fisiologia Renal do Departamento de Fisiologia e Biofísica Humana da Universidade de São Paulo – USP (de 2003 a 2007), participando de diversos congressos nacionais e internacionais, além de fazer estágio no exterior (Universidade da Califórnia – Estados Unidos). Atualmente, é docente titular da Universidade Paulista (UNIP), sendo a disciplina de Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária uma das que ministra para a área da saúde. É consultora ad hoc da Revista Acta de Enfermagem (Unifesp) e do Journal of the Health Sciences Institute (UNIP). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P322e Patto, Daniela da Cunha Souza. Gestão de resíduos sólidos, efluentes e emissões / Daniela da Cunha Souza Patto. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 200 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2‑022/15, ISSN 1517‑9230. 1. Tratamento de água. 2. Sistemas de tratamento. 3. Meio ambiente. I. Título. CDU 658.8 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Cristina Z. Fraracio Lucas Ricardi Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Sumário Gestão de Resíduos Sólidos, Efluentes e Emissões APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE ..........................................................9 1.1 Discussões internacionais e nacionais sobre meio ambiente ............................................. 15 1.2 Sustentabilidade ................................................................................................................................... 21 2 RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................................................................................................................ 25 2.1 Considerações gerais ........................................................................................................................... 25 2.2 Resíduos de construção e demolição ........................................................................................... 31 2.3 Resíduos de serviços de saúde (RSS) ............................................................................................ 32 2.4 Resíduos sólidos e doenças .............................................................................................................. 33 2.5 Destinação final dos resíduos sólidos .......................................................................................... 35 2.6 Gerenciamento dos resíduos sólidos ............................................................................................ 41 Unidade II 3 ÁGUA .................................................................................................................................................................... 58 3.1 Tratamento da água ............................................................................................................................ 60 3.2 Esgoto sanitário .................................................................................................................................... 67 3.2.1 Tratamento de esgoto ........................................................................................................................... 68 3.2.2 Estação de tratamento de esgoto .................................................................................................... 70 3.2.3 Tratamento terciário .............................................................................................................................. 79 4 SISTEMAS ALTERNATIVOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO E REÚSO DA ÁGUA ........................ 89 4.1 Sistemas alternativos de tratamento de esgoto ...................................................................... 89 4.1.1 Leitos cultivados ...................................................................................................................................... 90 4.1.2 Filtros lentos .............................................................................................................................................. 96 4.1.3 Lagoas de estabilização ......................................................................................................................103 4.2 Reúso da água .....................................................................................................................................105 4.2.1 A experiência mundial em RPDs .....................................................................................................112Unidade III 5 ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS ......................................................................................................120 5.1 Seleção de processos de tratamento ..........................................................................................121 5.1.1 Tratamento de águas residuárias biodegradáveis .................................................................. 123 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 5.1.2 Tratamento de águas residuárias não biodegradáveis ......................................................... 138 5.1.3 Novas tendências ..................................................................................................................................141 6 REATORES BIOLÓGICOS E SISTEMAS DE TRATAMENTO .................................................................145 6.1 Consequências da falta de tratamento de esgoto no meio ambiente .........................149 6.1.1 Doenças de causa biológica relacionadas à água ...................................................................151 6.1.2 Doenças relacionadas à água causadas por substâncias inorgânicas e orgânicas ..............156 Unidade IV 7 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..........................................................................................................................166 7.1 Energia, desenvolvimento e contaminação do ar .................................................................166 8 AÇÕES EFETIVAS A FAVOR DO AR ...........................................................................................................172 7 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 APRESENTAÇÃO A disciplina Gestão de Resíduos Sólidos, Efluentes e Emissões tem como objetivo abordar os três pilares básicos do gerenciamento ambiental: a gestão de resíduos sólidos, a caracterização das fontes emissoras e o monitoramento de efluentes. Vamos estudar os impactos ambientais causados pelos resíduos sólidos, princípios de reciclagem, classificação, projetos e operação de aterros sanitários. Ainda serão estudadas classificação e características de efluentes, como esgoto doméstico e industrial, funcionamento das estações de tratamento de água (ETA) e esgoto (ETE), bem como o reúso da água. Analisaremos também a utilização de equipamentos para o controle das fontes de poluição atmosférica. Este livro‑texto será dividido em quatro unidades: a primeira abordará o conceito de resíduos sólidos, seu gerenciamento, acondicionamento, tratamento e disposição final; na segunda unidade, veremos o tratamento de efluentes domésticos, sistemas de tratamento de esgoto alternativo e reúso da água; na terceira, estudaremos o tratamento de efluentes industriais; e na quarta unidade, veremos os mecanismos de controle das emissões atmosféricas. Com este material, esperamos despertar em você, aluno do curso de Gestão Ambiental, a consciência ambiental e a necessidade de gerenciamento da poluição causada por resíduos sólidos, efluentes domésticos e industriais e de emissões gasosas. Boa leitura! INTRODUÇÃO Começaremos este livro‑texto com diversas perguntas, como: todos os seres humanos do planeta segregam adequadamente os resíduos sólidos? Como utilizamos os resíduos que produzimos? Sabemos o que acontece com os resíduos após destiná‑los para os locais adequados? O consumo desenfreado prejudica a saúde de todos os seres vivos do planeta? Podemos realizar ações que prejudiquem menos o meio ambiente? É importante estudar sobre o meio ambiente na graduação? Mas a nossa pergunta principal é: você seria capaz de responder a todas essas perguntas sem dificuldades? As respostas para essas questões são complexas e a maioria das ações a favor do meio ambiente depende do coletivo. No entanto, não pense que quando você faz algo sozinho em prol do meio ambiente, está sozinho de fato. Pelo contrário, existem milhões de pessoas no mundo tentando mudar algo e, na verdade, a vontade de mudar transformada em ação é o que impulsiona a todos para vivermos dias melhores, com maiores perspectivas. Com toda a informação dos dias atuais, no que diz respeito ao meio ambiente, realizar ações sem pensar no futuro é uma atitude intolerável, pois elas interferirão seriamente na geração futura, a qual pode ter estreita ligação com você, como seus filhos, netos e sobrinhos, dentre outros. Dessa forma, o que menos importa é a área de atuação do aluno de graduação, ou seja, o importante é a forma como ele atuará (tanto como profissional quanto como cidadão), pois é nosso dever zelar pelo meio ambiente 8 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 e fiscalizar todas as ações que vão contra a sua proteção, para que as gerações futuras possam usufruir tudo de mais maravilhoso que nosso mundo pode oferecer. Assim, esse livro‑texto é mais que livro, pois colabora com a reflexão profunda sobre a Gestão de Resíduos Sólidos, Efluentes e Emissões, permitindo esclarecer alguns aspectos da relação do meio ambiente e do comportamento humano atrelado principalmente ao consumo, colaborando para um mundo melhor. 9 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Unidade I RESÍDUOS SÓLIDOS 1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MEIO AMBIENTE E SAÚDE Antes de falarmos a respeito dos resíduos sólidos, sua segregação e destinação final e da poluição da água e do ar, discorreremos sobre a importância do meio ambiente na saúde das pessoas e revisaremos alguns conceitos básicos. Assim, a primeira reflexão desta unidade é sobre a definição de meio ambiente. Você saberia conceituá‑lo adequadamente? Meio ambiente é tudo o que é vivo e não vivo da Terra, que interage entre si e afeta os ecossistemas e a vida dos seres humanos. Aproveitando a ideia de revisão de alguns assuntos, a saúde e a doença são situações que interferem na vida dos seres humanos e que estão intimamente ligadas. A tentativa de explicar o que é doença e o que a causa acontece desde os primórdios da civilização. Todas as tentativas de explicação são consideradas teorias pelos estudiosos e, como você deve saber, caro aluno, existem quatro delas. Para facilitar o aprendizado, essas teorias podem ser observadas no quadro 1. A primeira teoria de explicação do surgimento da doença foi a Teoria Mística, onde as doenças estavam vinculadas ao sobrenatural. Por exemplo, as pessoas acreditavam que todos aqueles que adoeciam “deviam” algo aos deuses, que era um castigo etc. Anos mais tarde, a observação do homem e sua relação com o meio ambiente favoreceu o surgimento de uma nova explicação sobre a origem das doenças. Essa teoria foi denominada Teoria dos Miasmas, e nela o adoecimento estava atrelado aos gases e odores vindos do solo ou do ar, os quais poderiam ser espalhados com o vento e atingir o indivíduo, que adoeceria. Em 1860, com o avanço da ciência e dos estudos, Louis Pasteur descobriu os agentes etiológicos, como vírus e bactérias, e criou uma nova concepção sobre o surgimento das doenças. Assim, a Teoria da Unicausalidade era a que explicava o adoecimento ocasionado por esses agentes, mas, infelizmente, ela não era capaz de descrever todas as causas das doenças, pois muitas vezes as doenças não dependiam somente do agente etiológico, como ocorre na depressão. Mesmo assim, essa teoria prevaleceu por longo tempo. Considerando que muitas doenças ainda não eram explicadas pela Teoria da Unicausalidade, estudos mais avançados sobre o assunto foram necessários, principalmente no campo da epidemiologia. Esses estudos permitiram que o homem observasse com maior dedicação tudo o que estava ao seu redor, ou seja, o seu meio ambiente. Essa teoria foi denominada Teoria da Multicausalidade, a qual permite que o conceito de doença esteja para além do agente etiológico, como em diversos outros fatores:físicos, psíquicos, químicos, ambientais e sociais. Por exemplo, se um indivíduo não destina adequadamente seu resíduo sólido, este atrai diversos vetores, os quais possuem doenças que acometem a população no geral. 10 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I Portanto, quando pensamos em meio ambiente e saúde, atos individuais podem estar relacionados aos acometimentos coletivos. Um exemplo disso é a dengue: se você cuida do seu jardim e caixa d’água, evitando acúmulo de líquido, e, consequentemente, não permite a procriação do mosquito, mas o seu vizinho não o faz, o mosquito poderá replicar‑se e contaminar você e sua família também. Desse modo, ações individuais refletem no coletivo, tanto de forma positiva quanto negativa. Por isso, compreender que o ser humano é formado não somente pela ausência de doenças, mas também por tudo o que está ao seu redor permite que comecemos a entender o papel do meio ambiente nesse processo. Quadro 1 – Esquema das teorias que explicam o surgimento das doenças Teoria Significado Mística As doenças eram causadas por fenômenos sobrenaturais. Miasmas As doenças apareciam como uma consequência de gases ou odores provenientes do solo ou atmosfera. Unicausalidade As doenças eram causadas por um agente etiológico. Multicausalidade As doenças eram causadas pelo agente etiológico e uma série de outros fatores, como físicos, psíquicos, químicos, ambientais e sociais. A evolução histórica da humanidade favoreceu modificações no ecossistema e, consequentemente, as mudanças na vida e na saúde da população estão associadas à ela. Essas modificações criaram uma forma de identificar essas relações, conhecida como Campo de Saúde, onde saúde e a doença estão intimamente ligadas e dependem de fatores como: o meio ambiente ao redor, estilo de vida, biologia humana e serviços de saúde prestados à comunidade. Assim, o Campo de Saúde da população será saudável ou não de acordo com a relação desta com seu meio. Para exemplificar a importância dessas relações, a figura 1 esquematiza o homem sofrendo interferência de tudo que está ao seu redor, inclusive do seu estilo de vida, como alimentação, esporte, cultura e lazer. Contudo, o estilo de vida nem sempre é uma opção, pois esse é um processo que depende de ascensão pessoal, social e cultural que está vinculado à realidade vivenciada pelo indivíduo. Por isso, se um governo não é capaz de oferecer condições para que sua população possua um estilo de vida saudável, essa população adoecerá mais cedo. Com essa discussão, até o momento compreendemos que o meio ambiente não deve ser considerado somente o ecossistema. Temos de considerar meio ambiente como todas as coisas vivas e não vivas da Terra que interferem no ecossistema e, consequentemente, na vida dos seres humanos. Assim, meio ambiente é concebido como tudo aquilo que é exógeno (fatores extrínsecos) ao ser humano e que interfere em sua saúde. Contudo, não podemos deixar de ter em conta os fatores intrínsecos, como os genéticos, os quais também interferem no estilo de vida e, consequentemente, na saúde do homem, lembrando que quando os fatores extrínsecos se somam aos intrínsecos, as consequências à saúde do homem são piores. Por exemplo, se um indivíduo possui uma carga genética para desenvolver câncer e ele fuma demasiadamente, a chance de que ele desenvolva câncer de pulmão ou laringe aumenta muitas vezes mais. 11 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Saneamento básico Saúde; moradia Trabalho; educação Homem Dor; estresse Doença; ecossistema M ei o am bi en te Figura 1 – Interferência do meio ambiente na vida e saúde do homem Até este ponto, discutimos como o meio ambiente interfere na vida do homem. Porém, o homem também é capaz de interferir significantemente no meio ambiente. Ao longo da história do desenvolvimento da humanidade e até os dias atuais, a humanidade utiliza recursos naturais de forma desenfreada, sem pensar nas próximas gerações. Um exemplo é o uso da água. Até pouco tempo atrás, utilizava‑se água desperdiçando‑a, pois muitos acreditavam ser um recurso infinito, principalmente no Brasil. No entanto, recentemente, vivemos um período de escassez desse recurso, e campanhas de racionamento são imprescindíveis para a conscientização da população, como o simples ato de desligar a torneira da pia do banheiro enquanto se escovam os dentes. Além disso, o desmatamento para extração de riquezas era muito utilizado, sem pensar nas consequências desse ato, como a incapacidade da natureza se recompor em contrapartida à sua destruição. Todos esses fatores humanos contra a natureza nada mais são do que equívocos de ordem cultural. A maior comprovação dessa verdade é o simples fato de que as ações individuais interferem no coletivo e, mesmo assim, algumas pessoas não se dão conta disso. Isso ocorre porque, por séculos, o homem agiu dessa forma, sendo incapaz de garantir progresso e manutenção da natureza. Contudo, trouxe consigo todas as consequências ao meio ambiente e à saúde humana, além da não garantia do uso dela pelas gerações futuras. O consumo humano também é um assunto que se discute com maior importância nos últimos anos. A criação de tecnologias, atrelada ao aumento da quantidade de fábricas e formas de criação 12 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I de produtos, aumentou o desenvolvimento e criou oportunidade de negócios, barateando o produto, mas não de forma sustentável. A priori, foi pensado no quanto a natureza poderia contribuir para o desenvolvimento, sem ter‑se em conta os danos que se causava à ela. Muitos produtos, ao serem produzidos (desde o seu início), geram danos ao meio ambiente. Muitas vezes, esses danos são irreversíveis. Vamos pensar na criação do carro, a qual está esquematizada na figura a seguir. Minério CarroBorracha Petróleo Interferência no ecossistema Prejuízo à saúde do homem Recursos naturais utilizados: Produção de matéria-prima: Fábrica de produção de carro ar água solo Exemplos de doenças: Bronquite Cólera Leptospirose Destruição de árvores, utilização do solo: diminuição de áreas verdes, degradação do solo = Contaminação: Figura 2 – Interferência da fabricação de matéria‑prima sobre o ecossistema e saúde do homem No esquema da figura 2 temos dois eixos: o horizontal e o vertical. No eixo horizontal podemos observar que os recursos naturais como a borracha, o petróleo e o minério são extraídos da natureza para a fabricação do carro. Além disso, essa fabricação pode contaminar o ar, a água e o solo, mas no final, o produto (carro) está pronto. No eixo vertical temos a interferência de todos esses processos no ecossistema e na saúde do homem. Por exemplo, a utilização de recursos naturais para a fabricação do carro implica a destruição de áreas verdes e de solo, enquanto a contaminação do ar, da água e do solo pode prejudicar a saúde do homem, pelo surgimento de várias doenças por essa contaminação, como bronquite, cólera e leptospirose. Dessa forma, precisamos pensar em uma maneira de fabricarmos produtos que, no decorrer do seu processo e até mesmo no seu final, prejudique menos o meio ambiente e, consequentemente, o homem. Alguns estudiosos apostam na produção de materiais mais duradouros, diminuindo a geração de resíduos sólidos do produto final. Já outros acreditam que podemos, durante a fabricação 13 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES do produto, diminuir os resíduos gerados durante o processo. Independentemente da maneira pela qual a empresa decide cuidar do meio ambiente e da saúde do homem, ela precisa conhecer o ciclo de vida do produto. E você conhece o significado de ciclo devida de um produto? Ciclo de vida de um produto é a vida útil que esse produto possui (esquematizado na figura 3). Quando passamos a avaliar o ciclo de vida de um produto, observamos para além do produto final, ou seja, tudo o que está associado à sua produção, desde a extração dos recursos naturais até o impacto da sua utilização para o meio ambiente e para a saúde humana. Assim, esse ciclo nos permite perceber o impacto sobre o uso dos recursos naturais, mas também sobre todo o processamento do produto, como: fabricação, distribuição, utilização, reutilização, reciclagem, recuperação energética e eliminação dos resíduos, considerando que este último deve ser produzido o mínimo possível. Isso tem como objetivo diminuir os impactos ambientais globais gerados pelo aumento do consumismo humano das últimas décadas. Vamos refletir sobre a fabricação do carro, que descrevemos anteriormente. Qual o impacto ambiental sobre a retirada dos recursos naturais descritos? Todos os componentes do carro são passíveis de reutilização, reciclagem e recuperação energética? E a produção de resíduos durante a fabricação é baixa? Infelizmente, essas perguntas ainda não são respondidas em sua maioria com a resposta “sim”. No entanto, muitas mudanças já estão sendo requeridas e realizadas para mudar essas condições, principalmente no Brasil. Exemplo de aplicação Caro aluno, convidamos você a um exercício de reflexão: Gostaríamos que você pesquisasse sobre a fabricação de carros, comparando o século XVIII e o século XXI. Em seguida, compare a extração de recursos naturais, o processo de fabricação, a produção de resíduos e a poluição ambiental gerada no processo. Depois, comente a respeito da preocupação das empresas em melhorar todos esses processos neste século. 14 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I Matérias-primas Transporte Produção Tra ns po rte Armazenamento no varejo Transporte Us o Re cu pe raç ão / Re cic lag em Mudanças climáticasEnergia EutrofizaçãoMateriais Pressão tóxicaUso do solo Figura 3 – Esquema do ciclo de vida do produto Portanto, a humanidade consumindo de forma desordenada aumenta a escassez de recursos naturais, prejudica o meio ambiente e ainda causa prejuízos à saúde. Mas, como resolver esse problema, uma vez que o consumo também está atrelado ao desenvolvimento? Para responder essa pergunta é necessário entender que quando o meio ambiente é utilizado de forma não sustentável, ele perde sua capacidade de regeneração. Assim, as pessoas precisam adquirir o hábito de refletir diariamente sobre o consumo de forma sustentável, evitando uma crise ambiental, como a que vivemos nos dias atuais. A forma de reflexão mais produtiva é a educação e, nesse caso, a educação ambiental. Ela é a única forma de fazer com que a população entenda que precisa modificar seus costumes e valores. Para isso, a comunicação é uma ferramenta essencial na educação ambiental. É necessário que as pessoas sejam capazes de reconhecer que o ambiente faz parte do ser humano e não somente é algo exógeno a ele. Portanto, ele exige que as pessoas tenham, antes da ação, o conhecimento, pois, dependendo do grau de relação do ser humano com o meio ambiente, o processo saúde‑doença pode ou não ser afetado. Por isso, somente compreender a relação de saúde e meio ambiente não é o suficiente sem que exista o conhecimento de todas as variáveis e realidades envolvidas nesses processos e, claro, a ação. 15 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Contudo, muitos fatores colaboram para que as pessoas não interajam com o meio ambiente ou mesmo não percebam sua importância, como: déficit de recursos financeiros, desinformação da população e uma resistência em relação à divisão de responsabilidades. Observação A humanidade, consumindo de forma desordenada, aumenta a escassez de recursos naturais, prejudica o meio ambiente e, ainda, causa prejuízos à saúde. Quando as pessoas são estimuladas para a resolução dos problemas da sua comunidade, elas passam a cuidar do meio ambiente. Assim, a discussão da questão sanitária básica tem sido substituída por uma abordagem mais ambiental, favorecendo a promoção da saúde e a conservação de todos os aspectos do meio ambiente. Essa abordagem permite que ações primordiais para a promoção e prevenção de riscos, tanto ao ambiente quanto à humanidade, sejam tomadas antes que os efeitos deletérios possam surgir. No próximo título falaremos sobre as discussões que foram realizadas no Brasil e no mundo ao redor do tema saúde e meio ambiente, os quais contribuem para a educação da população. 1.1 Discussões internacionais e nacionais sobre meio ambiente Todas as discussões mundiais e nacionais sobre meio ambiente e saúde são realizadas por meio das conferências, que são encontros periódicos que discutem assuntos de extrema importância para a sociedade. Elas podem ser internacionais ou nacionais. Contudo, as conferencias nacionais sempre sofrem ação das conferências internacionais, ou seja, o Brasil discute assuntos internamente após a discussão mundial deles. Além disso, foram criados órgãos públicos brasileiros fiscalizadores de diversos atos contra o meio ambiente e, consequentemente, contra a saúde da população. Agora, falaremos a respeito deles, mas não utilizaremos uma ordem cronológica para isso, seguiremos por temas. Em 2005, ocorreu o I Seminário da Política Nacional de Saúde Ambiental, no qual foi redefinido o documento denominado Subsídios para Construção da Política Nacional de Saúde Ambiental, fruto de diversos debates entre os principais órgãos controladores do meio ambiente. No Brasil, os principais órgãos controladores do meio ambiente são: Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh), Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde; Comissão Permanente de Saúde Ambiental (Copesa); Conselho Nacional de Saúde (CNS), que é subsidiado pela Comissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente (Cisama). Além desses, existe a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Saúde (MS) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que contribuem com a fiscalização. 16 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I Em relação à água, diversas conferências internacionais discutiram a seu respeito e sua qualidade como parâmetros para a qualidade de vida das pessoas. No entanto, somente em 22 de março de 1992, durante a Conferência Eco‑92, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial da Água e a assinatura de um documento denominado Agenda 21, que debate sobre a qualidade de vida no planeta e a divulgação da Declaração Universal dos Direitos da Água. No Brasil, houve o reconhecimento dessa iniciativa pela Política Nacional de Recursos Hídricos, por meio da Lei das Águas (Lei nº 9.433, de janeiro de 1997), que afirma que a água é um bem de domínio público, um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. A lei também assevera que devemos ter como diretrizes de ação a articulação dos recursos hídricos concomitante com a gestão ambiental, uso do solo e proteção das bacias hidrográficas. Ainda em relação à água, em 2005, houve um marco histórico alusivo ao seu controle, para garantir o consumo adequado à humanidade. Nesse mesmo ano, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama (Resolução nº 357/2005) estabeleceu a necessidade de avaliações toxicológicas e controle de despejos em corpos d’água (que representam qualquer acumulação significativa de água como mananciais), visando ao manejo sustentável dos recursos hídricos e garantido os padrões de qualidade dentro da sua bacia hidrográfica.Mas e em relação ao ar que respiramos? Como aconteceram essas discussões? Considerando que a qualidade do ar se enquadra como outro fator importante para a saúde humana e que esse é um dos temas da discussão deste livro‑texto, iniciaremos falando sobre a descoberta de Joe Farman. Joe Farman era pesquisador e, em meados de 1980, na Antártida, observou um dano importante na camada de ozônio, o que gerou uma crise mundial no âmbito do meio ambiente e fez com que os olhos das principais organizações mundiais se voltassem sobre o tema. Uma discussão mais aprofundada sobre a camada de ozônio e as consequências de sua destruição será discutida posteriormente. Basicamente, duas medidas importantes foram tomadas a respeito da temática provocada por Joe Farman. Foram elas: a criação dos Protocolos de Montreal (de 1987) e de Quioto (ou Kyoto, de 1997). De forma geral, esses protocolos visam à defesa do meio ambiente e não permitem que ações humanas sejam capazes de degradá‑lo ou poluí‑lo. Esses protocolos também permitem a criação de um pensamento ambientalista em diversos países (desenvolvidos ou não), favorecendo a aplicação de ações que visam à educação ambiental com ênfase na utilização desses protocolos na íntegra. Saiba mais Recomendamos, caro aluno, a leitura do texto a seguir, para saber mais sobre a Agenda 21: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21. [s.d.]. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade‑socioambiental/agenda‑21>. Acesso em: 9 set. 2014. 17 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Mas afinal, o que se discutiu nos protocolos de Montreal e de Quioto? Falaremos primeiramente sobre o Protocolo de Montreal. Ele foi criado em 1987 com o intuito de controlar as emissões de gases ou outras substâncias envolvidas na destruição da camada de ozônio. Vale ressaltar que, ainda nesse ano, foi realizada a Comissão de Brundtland, que discutiu o desenvolvimento sustentável e, em 1988, foi criado o Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas ONU (IPCC), atualizado anualmente. O financiamento de todas as ações para o cumprimento das exigências do Protocolo de Montreal é proveniente do Fundo Multilateral – FML –, criado em 1990, o qual é administrado por um comitê de caráter executivo e recebe fomento de países desenvolvidos. No mesmo ano, o Brasil aderiu à Convenção de Viena e assinou o Protocolo de Montreal; de acordo com esse documento, os países desenvolvidos que utilizaram substâncias envolvidas na destruição da camada de ozônio para desenvolvimento da sua nação devem financiar a sua erradicação em países em desenvolvimento. Assim, o Brasil é um dos países que recebe apoio financeiro do FML para o desenvolvimento de suas ações contra a destruição da camada de ozônio. No entanto, para que todas as ações fossem realizadas com seriedade, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) passou a fiscalizar, controlando e regulamentando, em primeira instância, os rótulos dos produtos que não continham CFCs. Em 1991, o Governo Federal criou o Grupo de Trabalho do Ozônio (GTO) para a implementação do Protocolo no país. Concomitantemente, ações no Ministério da Saúde intervindo na produção e venda desses produtos, como cosméticos e produtos higiênicos contendo CFCs, favoreceram as ações impostas pelo Protocolo no país. Com a regulação e aprovação do Conama, em 1995, foram criadas prioridades para eliminação dos CFCs dos produtos industrializados e o Governo Federal criou o Prozon (Comitê Executivo Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio), sendo que o Ministério do Meio Ambiente passou a coordená‑lo. Em relação ao Protocolo de Quioto, ele foi criado em 1997, a fim de fixar metas para diminuir a poluição por queima de produtos fósseis, os quais também são responsáveis pelo efeito estufa. Discutiremos sobre o efeito estufa com mais detalhes posteriormente. A criação do Protocolo de Quioto propunha a redução da emissão dos gases do efeito estufa em cerca de 5,2% de 2008 para 2012. Ademais, os países que assinaram esse Protocolo se comprometeram a investir em projetos de redução das emissões em outras nações, além de estimular atividades que favoreçam o plantio de árvores e conservação do solo, a fim de aumentar a absorção de carbono do ambiente. No entanto, esse protocolo é bastante limitado em suas ações de forma global, considerando que grandes nações não o assinaram, como os Estados Unidos da América, um dos países que mais emitem poluentes na atmosfera, principalmente CO 2. Já o Brasil é um os países que tem maior número de iniciativas a respeito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que diminui as consequências do processo de geração de poluentes em países em desenvolvimento. 18 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I Saiba mais Para conhecer mais a respeito do Painel Intergovernamental para Mudanças climáticas ONU, leia: ONUBR. Nações Unidas no Brasil. A ONU e as mudanças climáticas. 2014. Disponível em: <http://www.onu.org.br/a‑onu‑em‑acao/a‑onu‑em‑acao/ a‑onu‑e‑as‑mudancas‑climaticas/>. Acesso em: 9 set. 2014. Em 2003, foi criada a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, que ficou responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e, vinculada a ela, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atuando a favor da saúde da população brasileira. Dentre as estratégias de ação da Vigilância Sanitária estão: • A regulamentação dos procedimentos de serviços e produtos de interesse da saúde, pela elaboração de leis, decretos, portarias e normas técnicas baseadas nos riscos sanitários à saúde da população, a fim de determinar diretrizes, além de organizar serviços e práticas da vigilância em saúde. • A comunicação e educação em saúde, pois são essenciais para as ações com foco em problemas sanitários encontrados em empresas e/ou estabelecimentos, esclarecendo suas responsabilidades sanitárias, bem como a conscientização e participação da sociedade nesse processo. • A articulação e integração com diversos órgãos que podem ou não ter ação direta com a saúde. • A inspeção e fiscalização para que as ações da Vigilância Sanitária sejam sustentadas, favorecendo o conhecimento real da problemática que afeta a saúde da população. Assim, existe a possibilidade de definir estratégias e ações que promovam a resolução desses problemas. Para colaborar no processo e educação em saúde, voltado para o tema meio ambiente, a Anvisa tem como missão, por lei (nº 9.782/99), proteger e promover a saúde da população, garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e participando da construção de seu acesso. A Anvisa possui, além da ação regulatória, o encargo de coordenar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), que tem função de controlar, normatizar e fiscalizar ações em vigilância sanitária, bem como no âmbito nacional, estar vinculada ao Ministério da Saúde e integrar o SUS, absorvendo seus princípios e diretrizes. Assim, é possível considerá‑la um instrumento de que o SUS dispõe para atingir seu objetivo de prevenção de doenças e promoção da saúde. Alguns aspectos contribuíram para que a Anvisa pudesse atuar fortemente na saúde. Um deles foi a criação do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi), em 1990, que treinou o pessoal técnico responsável vinculado aos serviços municipais e estaduais de epidemiologia e permitiu a participação 19 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES de instituições de ensino e pesquisa, o financiamento das pesquisas e a integralização de serviços, para a implantação do monitoramento de doenças não transmissíveis, em relação às ações de proteção e promoção da saúde no âmbito da vigilância. Além disso, houve um forte financiamento porparte do governo para as ações de educação e saúde do SUS e existiram outros eventos e/ou convenções que discutiram questões tanto sobre o meio ambiente quanto sobre a saúde humanas dando destaque para o pré‑Rio‑92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Na Conferência Rio‑92, os governos se uniram na tentativa de integrar o meio ambiente e o desenvolvimento, criando diversos documentos, como a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Carta da Terra e a Agenda 21, já discutida anteriormente. A Carta da Terra declarou os princípios éticos e fundamentais para a formação de uma sociedade justa, sustentável e, além disso, pacífica. Essa carta demonstrou a ânsia de uma ação concreta em relação à sustentabilidade e pautou alguns desafios para o futuro, como mudanças de valores e modos de vida. No ano de 2012, ocorreu a Rio+20, cujo tema foi o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza; esta faz parte da sustentabilidade, pois está associada a programas de desenvolvimento sustentável. A redução da pobreza no Brasil diminuiu de 12 para 4,8% de 2003 a 2012, devido aos programas do governo, como o Bolsa Família. Adicionalmente, há outros programas, como a Bolsa Verde, que atrela sustentabilidade e erradicação da pobreza. O nome oficial da Bolsa Verde é Programa de Apoio a Conservação Ambiental e ela é coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), o qual incentiva a conservação do ecossistema (manutenção e uso sustentável do meio ambiente), por meio da concessão de uma bolsa mensal e participação dessa população em ações de capacitação ambiental, social, educacional, técnica e profissional. Saiba mais Conheça mais a respeito da Rio+20 acessando o site: <http://www.rio20.gov.br/>. A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) foi criada para diminuir a fragmentação de todas as ações, colaborando para que ocorresse uma organização adequada do órgão e, consequentemente, do SUS. Além da área epidemiológica, a SVS atua na promoção da saúde, vigilância de doenças e agravos não transmissíveis, vigilância em saúde ambiental e monitoramento da saúde da população, como demonstrado no esquema da figura 4. Existem algumas políticas específicas de incentivo voltadas para a ação da SVS, como: • Ações do Programa Nacional de DST/Aids – representa um instrumento de fundamental importância para a descentralização das ações em saúde para Aids pelo SUS. • Rede de Laboratórios em Saúde Pública – realiza diagnóstico de patógenos e desempenha função primordial nas áreas de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária. 20 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I • Centros de Controle de Zoonoses – que exercem atividades voltadas: aos vetores, como Aedes; aos hospedeiros, como cães e gatos; aos animais sinantrópicos (que convivem junto e se adaptam ao homem), como roedores, baratas e pulgas; e aos animais peçonhentos, como escorpiões, aranhas e abelhas. Secretaria de vigilância em saúde Vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis e não transmissíveis Imunizações Laboratórios de saúde pública Investigação e resposta a surtos de referência nacional Programa de prevenção e controle de doenças Promoção da saúde Vigilância em saúde ambiental Informações epidemiológicas e situações da saúde Figura 4 – Áreas de atuação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) Lembrete A Anvisa tem como missão proteger e promover a saúde da população, garantindo a segurança sanitária de produtos e serviços e participando da construção de seu acesso. Vale a pena ressaltar que as autoridades sanitárias (formadas por pessoas credenciadas e que formam a equipe de Vigilância Sanitária) exercem atividades de inspeção e fiscalização e, ao considerarem risco à saúde, podem desempenhar o papel de polícia, como a aplicação de intimação e infração, interdição de estabelecimentos e apreensão de produtos e equipamentos, dentre outros, exercendo a autoridade sanitária. A Anvisa atua em: locais de produção e comercialização de alimentos, saneamento básico, lojas e áreas de lazer, locais públicos, fábricas, medicamentos, controle de vetores e pragas urbanas e zoonoses. A Constituição Brasileira de 1988 descreve que o meio ambiente é um direito de todos, portanto, é um dever de todos os cidadãos fiscalizar as atitudes contra ele, principalmente as humanas. Além disso, o Brasil conta com órgãos governamentais que colaboram com essa fiscalização, como: o Ministério Público, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Delegacia de Meio Ambiente e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Além disso, a Constituição, em seu 21 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Artigo 225, parágrafo 3º, estabelece que, independentemente de quem causar danos ao meio ambiente, deverão reparar os danos, de acordo com a Lei de Crime Ambiental (Lei nº 9.605, de 1998), que prevê pena de reclusão de um a cinco anos a quem causar poluição de qualquer natureza que resultam em danos à saúde humana ou de animais ou da flora. Vale ressaltar que os danos como lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, detritos, óleos ou substâncias oleosas no meio ambiente também entram nessa lei, uma vez que as ações de reversão do dano são mais difíceis e mais custosas do que a prevenção dele. Mesmo com essa lei, em âmbito federal, não existe um documento legal que estabeleça critérios rígidos para o descarte dos resíduos sólidos. Dessa forma, para a gestão adequada desses resíduos, seguem‑se os preceitos da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA – Lei nº 6.938, de 1981), mas o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) publicou uma resolução (nº 313, de 2002) que institui o Inventário Nacional de Resíduos, o qual estabelece critérios para o tratamento de alguns tipos de resíduos, como: a regulação do tratamento térmico de resíduos e o licenciamento ambiental. O quadro 2 traz as Conferências das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento que colaboraram para a proteção do meio ambiente. Quadro 2 – Conferências das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Ano Conferências 1990 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre a Criança 1992 Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento 1993 Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos 1994 Conferência das Nações Unidas sobre Populações e Desenvolvimento 1995 Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Social 1996 Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos 1996 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Alimentação 2000 Cúpula do Milênio: Declaração e Objetivos do Milênio 2002 Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento 2002 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável Rio +10 2005 Cúpula do Milênio II 2010 Cúpula do Milênio III 2012 Rio+20 Fonte: Buss et. al. (2012, p. 1481). 1.2 Sustentabilidade Mesmo com as conferências internacionais e nacionais sobre saúde e meio ambiente, diversas ações para a melhoria da saúde da população ainda são necessárias. Em relação à saúde ambiental, todas as 22 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I pessoas têm de pensar que a ação do outro influencia na saúde dele e da comunidade. Por esse motivo, ações comunitárias voltadas para saúde ambiental são extremamente importantes para que os objetivos de promoção da saúde sejam alcançados. A Educação Popular é uma das alternativas para que exista sucesso nas ações comunitárias, no que diz respeito à saúde ambiental. A Educação Popular está respaldada pela Carta de Ottawa (1986), que considera as causas ou fatores de risco mais relevantes quando estão relacionados com comportamentos humanos pessoais e coletivos, estilos de vida ou tipos de trabalho e, certamente,com o meio ambiente. Assim, capacitar pessoas para que aprendam a lidar com as situações rotineiras colabora para a superação desses desafios no meio ambiente. Paulo Freire (pesquisador da área de Pedagogia) foi um grande defensor da Educação Popular e afirmava que o aprendizado é um processo interativo horizontal entre professor (profissionais do meio ambiente ou saúde) e aluno (comunidade), os quais trocam informações e aprendem uns com os outros. Essa troca favorece a melhoria da condição de vida das pessoas que convivem nesse local e que dependem dos serviços de saúde. Assim, é importante que, na Educação Popular voltada para a saúde ambiental, exista uma interface que reúna os conhecimentos e práticas médicas com o pensar e fazer cotidiano da população. Portanto, a Educação em Saúde refletirá na saúde da comunidade, que atuará a favor do meio ambiente, pois ele interfere em sua saúde. A Educação Popular baseada na problematização, também defendida por Paulo Freire, favorece o entendimento sobre o direito de saúde. Assim, quando a comunidade identifica um problema, ela é capaz de pensar em soluções práticas que podem ajudar a todos; nesse contexto, é pautada a importância da escuta, da fala e da compreensão de ambas as partes. Lembrete A Carta de Ottawa (1986) considera que as causas ou fatores de risco mais relevantes estão relacionados com comportamentos humanos pessoais e coletivos, estilos de vida ou tipos de trabalho e, certamente, com o meio ambiente. Portanto, educar vai além do termo em si e, se ao longo da vida um indivíduo recebeu o processo educativo de forma crítica, ou seja, se foi capaz de raciocinar a respeito de diversos assuntos e problemas, ele se tornará um adulto crítico, participativo e criativo para enfrentar a vida e todas as circunstâncias que são atribuídas a ela, diferentemente de um indivíduo que não foi educado dessa maneira. Assim, atribuir ao indivíduo desde a sua infância um tipo de educação que forma pessoas críticas contribui para que as pessoas, independentemente da sua classe social, possam participar ativamente da comunidade, em todos os seus aspectos: político, social e de saúde. Adicionalmente, para que o processo educativo aconteça, é necessário que os seus atores estejam em sintonia e a comunicação é uma ferramenta importante nesse contexto. E você, aluno, sabe como a comunicação precisa ser? Ela deve ser clara e, assim como o processo educativo, precisa ser horizontal, com troca de experiências. 23 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES O modelo mais indicado de comunicação é aquele capaz de agir sempre no coletivo, denominado de comunicação participativa, que segue o modelo baseado no diálogo (comunicação dialógica). E, quando pensamos em sustentabilidade, a comunicação participativa é a principal ferramenta, pois tanto a educação quanto as informações corretas (a respeito do tema) favorecem ações adequadas. Também é importante que a comunicação e a informação não sejam somente instrutivas, mas também motivadoras, ou seja, estimulem a comunidade a ser ativa. Exemplo de aplicação Descreva situações que reflitam positivamente na vida da comunidade, as quais envolvam o comprometimento dela em prol do meio ambiente. É fundamental que as ações educativas estejam sempre associadas à situação real vivida pela comunidade e, claro, que as soluções sejam praticáveis. Aos profissionais preparados cabe fazer o indivíduo compreender os aspectos epidemiológicos e/ou patológicos que o fizeram adoecer e permitir que ele conheça todos os seus direitos, como usuário dos serviços de saúde e como cidadão. Alguns exemplos podem ser aplicáveis nesse modelo, como é o caso da dengue, já citada anteriormente. Em relação a essa doença, é de extrema importância o cuidado e a conscientização, pois é fundamental que a população conheça o ambiente em que vive, já que ele interfere consideravelmente no surgimento dessa patologia. Portanto, o modelo participativo de educação, que leva o indivíduo a se envolver, pensar e, por fim, agir, favorece a saúde e a sustentabilidade. Lembrete Comunicação é uma ferramenta importante para que aconteça um processo de Educação Popular para a saúde e meio ambiente com eficiência. Mas afinal, o que significa sustentabilidade? Sustentabilidade significa a habilidade de sustentar uma ou demais condições mostradas por alguém. Em relação ao meio ambiente, o uso dos recursos naturais não pode comprometer as necessidades das gerações futuras. Assim, para que um empreendimento humano seja sustentável, ele precisa ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso. Mas, você conseguiria imaginar estratégias de utilização dos recursos naturais sem comprometer o seu uso pelas gerações futuras? Para isso, diversas ações podem ser realizadas de forma sustentável, como exploração dos recursos naturais de florestas e matas de forma controlada, garantindo o replantio, preservação das áreas verdes, incentivo da produção e do consumo de produtos orgânicos e exploração dos recursos minerais de forma controlada, racionalizada e planejada. Em relação à energia, é possível criar 24 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I fontes de energia limpas e renováveis, como a eólica, a geotérmica e a hidráulica. Quando falamos de resíduos sólidos, a sua reciclagem e gestão sustentável nas empresas são alguns exemplos; há ainda alternativas para a sustentabilidade, como o consumo consciente de água, a adoção de medidas que não permitam a poluição dos recursos hídricos e a despoluição daqueles que já foram contaminados. Assim, a educação para uma vida sustentável torna‑se uma pedagogia que facilita o entendimento dos fundamentos básicos da ecologia, respeitando a natureza em um contexto multidisciplinar. Dessa forma, as comunidades sustentáveis podem ser uma excelente alternativa para os diversos problemas enfrentados pela humanidade, uma vez que elas utilizam os recursos naturais de forma consciente sem reduzir a possibilidade de sua utilização pelas gerações futuras. Lembrete Sustentabilidade significa a capacidade de usar os recursos naturais, a fim de satisfazer as necessidades do momento, sem comprometer o bem‑estar das gerações futuras. Uma alternativa para sustentabilidade é o ecocapitalismo, que ancora o capitalismo à sustentabilidade, garantindo um consumo racional dos recursos naturais, importantes para as gerações futuras. Diversas empresas têm associado a sustentabilidade com a responsabilidade social, baseadas no ecocapitalismo. Contudo, a sustentabilidade ainda atinge uma pequena massa da população: a maioria ainda tem uma visão consumista que não aplica a sustentabilidade. Assim, a única saída é a educação ambiental, pois ela trabalha a sustentabilidade na comunidade, favorecendo um meio ambiente adequado, independente da classe social. Saiba mais Para saber um pouco mais a respeito do ecocapitalismo, sugerimos a leitura do seguinte texto: SILVA, M. G.; ARAUJO, N. M. S.; SANTOS, J. S. Conscious Consumption: Ecocapitalism as Ideology. Rev. Katálysis [on‑line], Florianópolis, v. 15, n. 1, p. 95‑11, jan./jun. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pi d=S1414‑49802012000100010&script=sci_arttext&tlng=en>. Acesso em: 10 set. 2014. 25 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES 2 RESÍDUOS SÓLIDOS 2.1 Considerações gerais Existe uma pergunta com a qual podemos iniciar este título: por que devemos nos preocupar com a produção dos resíduos? Por dois motivos básicos: o primeiro é o fato de a maioria representar um desperdício dos recursos naturais; o segundo diz respeito à produção dos produtos que geram os resíduos, pois geralmente poluem o ar, o solo e aágua, além de degradar o planeta. Contudo, com diversas condutas é possível diminuir de 75 a 90% a produção de resíduos. A cultura do tratamento de esgotos, resíduos industriais, coleta de lixo e reciclagem veio muito depois na história da humanidade, pois todas as ações do homem eram despejadas nos leitos dos rios ou no solo. Como a população foi crescendo, essas ações geraram consequências pouco ecológicas, as quais interferiram diretamente no meio ambiente e na saúde do homem. Problemas ambientais associados aos resíduos estão mais envolvidos com os resíduos sólidos do que com os gasosos e líquidos, pois a dispersão daqueles é bem menor que destes. Além disso, grande parte do total dos resíduos sólidos está nas residências das pessoas, indicando que a sociedade tem grande influência no efeito deles para o meio ambiente. Dessa forma, a segregação adequada dos resíduos sólidos para o seu reaproveitamento se torna essencial para a população. Com o passar do tempo, com o aumento da produção de resíduos e sua implicação no meio ambiente, juntamente com o conhecimento de que o ambiente é importante para o processo saúde‑doença da população, passou‑se a exigir uma nova qualificação para esse tipo de problema. Considerando a importância de qualificar os problemas associados ao resíduo sólido com a saúde da população, a primeira etapa foi determinar o significado de lixo e resíduo. A principal diferença entre eles é o fato de que lixo não possui valor, pois deve ser somente descartado, ao passo que resíduo sólido possui valor econômico, pois pode ser reaproveitado, mesmo que durante o processo produtivo. No Brasil, a resolução de diversos problemas associados aos resíduos sólidos foi iniciada com o surgimento da Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em 2 de agosto de 2010, que definiu sólidas bases para uma gestão adequada dos resíduos por meio da Lei nº 12.305/2010; essa lei teve o intuito de gerenciar e administrar de forma adequada os resíduos sólidos, não incluindo os rejeitos radioativos. Ainda com o objetivo de sanar os problemas provenientes dos resíduos, aplicam‑se as normas estabelecidas pelo Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). Ademais, o Ministério do Interior publicou uma Portaria (Portaria Minter nº 53, de 01/03/1979) que estabeleceu condutas para o descarte de resíduos sólidos domiciliares, de natureza industrial, de saúde 26 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I e demais resíduos no país. Outras políticas nacionais também estão envolvidas com o tema, além da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de 31/08/1981), como: • a Política Nacional de Saúde (Lei nº 8.080, de 19/09/90); • a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795, de 27/04/1994); • a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433, de 08/01/1997); • a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605, de 12/02/1998); • o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257, de 10/07/2001); • a Política Nacional de Saneamento Básico (Lei nº 11.445, de 05/01/2007); • e, claro, a PNRS, descrita anteriormente. A PNRS estabelece diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos, incluindo: não geração de resíduos; redução de resíduos gerados; melhor utilização dos produtos; separação das frações e processamento dos resíduos em usinas de reciclagem; ações para recuperar a energia contida nos resíduos quando eles não puderem ser reciclados; tratamento e disposição de resíduos com tecnologia e com custo acessível à população. Enquanto não existia a PNRS, no Brasil eram utilizadas as normas técnicas (NBRs) que foram publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para definir resíduos sólidos. Contudo, na atualidade, prevalece a definição de resíduos estabelecida pela lei. Desse modo, a PNRS define resíduos sólidos como: Todo material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010). Antes de falarmos da divisão dos resíduos sólidos, vamos discutir como os resíduos são produzidos. De forma geral, os resíduos são derivados da produção de matéria‑prima. Contudo, dependendo do tipo de matéria‑prima utilizada, é possível gerar resíduos que podem ser perigosos ou não perigosos durante o processo de fabricação ou no processo final do produto. Esse processo pode ser mais bem acompanhado na figura 5. 27 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Matérias‑primas Processos produtivos Produto Resíduo Inerte Não inerte Inflamável Tóxico Corrosivo Reativo Não perigosos Perigosos Figura 5 – Produção de matéria‑prima e geração de resíduos sólidos Agora vamos discutir sobre a classificação dos resíduos. Segundo a PNRS, os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo a sua origem e periculosidade. Essa divisão pode ser mais bem compreendida por meio da figura a seguir. Classificação dos resíduos sólidos Quanto à origem Quanto à periculosidade Perigosos Não perigosos Doméstica Sólidos urbanos Agrossilvopastoris Serviços de saúde Serviços públicos de saneamento básicoLimpeza urbana Construção civil Transporte Resíduos industriais Sólidos comerciais e prestadores de serviços Mineração Figura 6 – Classificação dos resíduos quanto a sua periculosidade e origem 28 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I Quanto à classificação da periculosidade, os resíduos podem ser divididos em perigosos (classe I) e não perigosos (classe II), sendo esses últimos subdivididos em inertes e não inertes. A divisão dos RSU (resíduos sólidos urbanos) perigosos pode ser observada no quadro seguinte. Quadro 3 – Classificação dos resíduos de acordo com a periculosidade Classificação dos resíduos de acordo com a periculosidade Classe I: Classe II: Perigosos Não perigosos (que podem ser): a) Inertes b) Não inertes Saiba mais Para conhecer com detalhes a Política Nacional de Resíduos Sólidos, sugerimos a leitura a seguir: BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, 2010a. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2007‑2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 10 set. 2014. E quanto aos resíduos não perigosos? Os resíduos da Classe II são considerados não perigosos e podem ser divididos em não inertes (Classe II A) ou inertes (Classe II B). Os resíduos não inertes são aqueles capazes de se biodegradar, serem combustíveis ou solúveis em água. O lixo comum (proveniente de restaurantes, banheiros, escritórios, dentre outros) é um dos exemplos desse tipo de resíduo. Já os resíduos inertes são aqueles que não podem se solubilizar em água, ou seja, não sofrem transformações de qualquer tipo (física, química ou biológica). Resíduos obtidos de obra civil (entulho) são um dos exemplos de resíduos inertes e serão discutidos posteriormente. Além desses, existem os de transporte (que incluem os resíduos gerados em terminais de transporte, navios, aviões, ônibus e trens), os agrossilvopastoris (que são gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluindo os insumos utilizados nessas atividades) e os de mineração (que são os gerados na atividadede pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios). Lembrete A Política Nacional de Resíduos (PNRS) define resíduos sólidos como todo material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento 29 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Quanto aos resíduos perigosos, os da Classe I, podemos acrescentar que são de ordem física, química ou infectocontagiosa e que podem acarretar danos à saúde das pessoas e prejuízos graves ao meio ambiente, quando não são manipulados da forma adequada ou dentro dos preceitos legais. Assim, para que um resíduo seja classificado como perigoso, ele precisa ser inflamável, corrosivo, reativo, tóxico, patogênico, carcinogênico, teratogênico e/ou mutagênico. São exemplos de resíduos perigosos: óleo lubrificante usado ou contaminado, óleo de corte e usinagem usado, equipamentos descartados e contaminados com óleo, lodos de galvanoplastia (tratamento superficial em metais), lodos gerados no tratamento de efluentes líquidos de pintura industrial, efluentes líquidos ou resíduos originados do processo de preservação da madeira, acumuladores elétricos à base de chumbo (baterias), lâmpada com vapor de mercúrio (lâmpadas fluorescentes) e todos os resíduos provenientes dos serviços de saúde. Ainda em relação aos resíduos perigosos, destacam‑se os metais pesados e os biológicos infectantes, os quais são capazes de contaminar água, solo e ar, mas não são produzidos exclusivamente pelas indústrias ou clínicas médicas. Alguns resíduos sólidos perigosos também são descartados em domicílios e comércios. Os metais pesados estão associados à poluição e toxicidade e são utilizados na indústria eletrônica, maquinários e utensílios diários da vida cotidiana, como pilhas, baterias, equipamentos eletrônicos em geral, lâmpadas fluorescentes, pigmentos e tintas e medicamentos, dentre outros. Já os biológicos são aqueles pertencentes à microbiota natural do corpo humano, como a Escherichia coli, e podem estar presentes nos resíduos sólidos urbanos. Lembrete Os resíduos sólidos podem ser classificados segundo a sua origem e periculosidade. Em relação à periculosidade, podem ser divididos em perigosos e não perigosos, sendo que esse último ainda pode ser dividido em inertes e não inertes. O contato com os agentes contaminantes presentes nos resíduos sólidos pode infectar os seres vivos por inalação, por contato direto através da pele e mucosas e por ingestão. Portanto, é muito importante que exista um sistema público de limpeza urbana, que inclua coleta, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos de forma adequada, pois, uma vez que todas as práticas humanas refletem na geração de resíduos, a administração e o planejamento do seu descarte é um grande desafio para as políticas públicas. É possível diminuir os impactos do descarte de resíduos para o meio ambiente e para a saúde humana, utilizando um adequado plano de gerenciamento de resíduos, que será discutido em detalhes mais adiante. No entanto, a destinação final inadequada dos resíduos não é a única forma de geração de doenças. O desenvolvimento urbano crescente e a falta de planejamento comprometem a qualidade e a quantidade de água potável, além de aumentar o despejo de esgotos a céu aberto. O lixo depositado em áreas não próprias acaba se tornando fonte de alimento para diversos vetores que causam doenças. Os vetores ainda podem transferir um agente infeccioso de uma população animal portadora de doença aos seres humanos. Exemplo: um inseto pica um animal contaminado e em seguida pica uma pessoa sadia. Discutiremos a respeito das doenças com mais detalhes, posteriormente. 30 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I Saiba mais Para conhecer um pouco mais a respeito dos resíduos sólidos e poluição ambiental, sugerimos a leitura do artigo a seguir: OLIVEIRA, W. E. de. Resíduos sólidos e poluição ambiental. Revista DAE, n. 101, p. 46‑56, 1975. Disponível em: <http://www.revistadae.com.br/artigos/ artigo_edicao_101_n_324.pdf>. Acesso em: 11 set. 2014. Além disso, a prevalência das doenças é maior na população carente que, por falta de recursos, instala sua moradia em locais de risco, sem abastecimento de água, sem coleta de esgoto e, na maioria dos casos, em locais que deveriam ser destinados à preservação ambiental. As condições precárias favorecem a destinação inadequada dos resíduos sólidos e colaboram para a poluição ambiental. As pessoas de renda superior, por sua vez, acabam contribuindo para o consumismo e produção de resíduos e lixo, cuja a destinação também constitui um grande problema ambiental. Atualmente, a consciência ambiental permite que exista uma preocupação no que diz respeito à quantidade de resíduos produzidos desde a fonte geradora. Assim, com o passar dos anos, modelos de gestão de resíduos sólidos têm sido incentivados, o que favorece o seu reaproveitamento e diminui a sua disposição. No entanto, pesquisas demonstram que no Brasil as taxas de geração e coleta dos resíduos sólidos urbanos superam o índice de crescimento populacional, indicando que estamos gerando mais RSU do que a natureza pode suportar. Além disso, mesmo que ainda se tenham buscado alternativas para a disposição adequada dos resíduos, a ameaça sanitária e ambiental dos lixões e a disposição dos resíduos de forma inadequada ainda são avassaladoras. Esse aumento da geração de RSU pode ser observado na figura seguinte, que compara a geração no ano de 2011 e 2012. 2011 1,3% 61.936.368 Geração de RSU (t/ano) 62.730.096 2012 Figura 7 – Figura representativa da geração de resíduos sólidos urbanos (RSU), comparando o ano de 2011 e 2012; t/ano = tonelada por ano 31 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Dados recentes demonstram que, apesar de haver aumento na geração de resíduos sólidos, houve também aumento em sua coleta no País no mesmo período (figura a seguir). Vale ressaltar que a quantidade de resíduos coletados de 2011 a 2012 aumentou em todas as regiões do Brasil, mas a Região Sudeste é responsável por mais de 50% dessa quantidade, mesmo sendo a região de maior índice de abrangência da coleta. Porém, apesar de a produção de produtos colaborar altamente para a geração de resíduos, ela não é a única responsável. Podemos atribuir a outra parcela de culpa ao consumo desses produtos, ou seja, existe um alto grau de descarte deles, os quais muitas vezes não sofrem degradação. No entanto, esse aumento da coleta de resíduos reflete na sua destinação adequada? Apesar de observar uma queda desse número em relação há 20 anos, os dados atuais ainda demonstram a precariedade do sistema de descarte e acondicionamento dos resíduos, e isso está estreitamente relacionado à cultura, à educação e à consciência da população. 2011 1,9% 55.534.440 Coleta de RSU (t/ano) 56.561.856 2012 Figura 8 – Gráfico representativo do aumento da coleta dos resíduos sólidos no Brasil de 2011 a 2012 A destinação final dos resíduos sólidos será discutida com maiores detalhes posteriormente. 2.2 Resíduos de construção e demolição Fazem parte dos resíduos de construção e demolição aqueles gerados nas construções, reformas, reparos, demolições e escavação de terrenos, sendo de responsabilidade da esfera municipal o seu recolhimento. No Brasil, de 2011 para 2012, houve um aumento de 5% na quantidade desse tipo de resíduo,conforme esquematizado na figura a seguir. O destaque foi para a Região Centro‑Oeste, que obteve o maior índice desse tipo de resíduo coletado, sendo a Região Norte a que obteve o menor índice. Esse aumento está vinculado à elevação do número de construções civis e obras na área civil. Contudo, a destinação final desses resíduos ainda tem sido um desafio para as autoridades e para a população. Discutiremos a respeito da destinação dos resíduos de construção e demolição com mais detalhes, posteriormente. 32 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I 2011 5% 2012 1,55 1,5 1,45 1,35 1,3 1,25 1,2 1,15 1,1 1,05 1 0,9 0,95 0,85 0,8 0,75 0,7 0,65 0,6 0,55 0,5 Ín di ce (k g/ ha b. /d ia ) Figura 9 – Gráfico comparativo sobre a geração de resíduos sólidos de construção e demolição (RC&D) de 2011 a 2012 por dia no Brasil. Kg = quilo; hab. = habitante 2.3 Resíduos de serviços de saúde (RSS) Em relação aos resíduos de serviços de saúde, dados da Abrelpe e IBGE de 2012 demonstraram que dos 5.565 municípios do Brasil, somente 4.282 prestam serviços adequados para a gestão dos resíduos sólidos de serviços de saúde (RSS). Esse mesmo estudo demonstrou que houve um aumento de 3% na geração anual desse tipo de resíduo no país. 2011 3% 2012 1,9 1,7 1,5 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 Ín di ce (k g/ ha b. /a no ) Figura 10 – Gráfico comparativo sobre a geração de resíduos sólidos de saúde de 2011 a 2012 por ano no Brasil Tendo em conta que os resíduos de serviços de saúde (RSS) são considerados resíduos perigosos, eles são divididos em grupos que vão do A ao E, os quais estão descritos em detalhes a seguir e sumarizados no quadro 3. • Grupo A – resíduos com presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Exemplos: peças anatômicas, 33 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES bolsas transfusionais, resíduos de atendimento de saúde, meios de cultura, resíduos de laboratórios, dentre outros. • Grupo B – resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Exemplos: produtos hormonais, desinfetantes, reagentes para laboratório, dentre outros. • Grupo C – materiais radioativos resultantes de laboratórios de pesquisa e ensino na área de saúde e de laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e radioterapia que contenham radionuclídeos em quantidade superior aos limites de eliminação. • Grupo D – materiais que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Exemplos: sobras de alimentos, papel sanitário e fralda, resíduos da parte administrativa, dentre outros. • Grupo E – materiais perfurocortantes e escarificantes. Exemplos: lâminas de bisturi, agulhas, dentre outros. Quadro 4 – Referente aos grupos resíduos sólidos de saúde (RSS) e seus exemplos Grupo Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) Exemplos A Resíduos com presença de agentes biológicos. Peças anatômicas, bolsas transfusionais, resíduos de atendimento de saúde, meios de cultura, resíduos de laboratórios. B Resíduos com características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Produtos hormonais, desinfetantes, reagentes para laboratório. C Materiais radioativos. Radioativos resultantes de laboratórios de pesquisa e ensino na área de saúde, laboratórios de análises clínicas e serviços de medicina nuclear e radioterapia que contenham radionuclídeos em quantidade superior aos limites de eliminação. D Materiais que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico, equiparados aos resíduos domiciliares. Sobras de alimentos, papel sanitário e fralda, resíduos da parte administrativa. E Materiais perfurocortantes e escarificantes. Lâminas de bisturi, agulhas. Discutiremos posteriormente com mais detalhes o tratamento adequado desses resíduos bem como a sua destinação adequada. 2.4 Resíduos sólidos e doenças A falta de coleta e a disposição inadequada dos resíduos e do lixo são fontes de alimento, abrigo e proliferação de macrovetores de doenças. Ratos, baratas, suínos e aves são considerados os macrovetores mais comuns em ambientes urbanos com pouca estrutura de saneamento básico e contribuem para a propagação de diferentes doenças. No quadro a seguir, você pode acompanhar as principais doenças associadas ao lixo e aos vetores. 34 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 Unidade I • Leptospirose, peste bubônica, tifo murinho: são transmitidas por ratos e pelas pulgas que vivem no corpo do rato, através da mordida, urina e fezes desses roedores. • Febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, giardíase, ascaridíase, amebíase, salmonelose: são transmitidas por moscas, por via mecânica, através de asas, patas e corpo, e pelas fezes e saliva desses insetos. • Malária, febre amarela, leishmaniose, dengue, filariose: são transmitidas por mosquitos, através da picada das fêmeas. • Febre tifoide, giardíase, cólera: também podem ser transmitidas por baratas, por via mecânica, através das asas, patas, corpo e pelas fezes desses insetos. • Cisticercose, toxoplasmose, triquinelose, teníase: são transmitidas por suínos e gado, através da ingestão de carne contaminada. • Toxoplasmose: transmitida por cães, gatos e aves através de sua urina e fezes. Para que os macrovetores sejam contaminados, eles precisam entrar em contato com o agente infeccioso e, então, transportam esse agente em seu corpo, asas, patas e penas. Adicionalmente, eles podem ter ingerido material contaminado e, da mesma forma, transmitem o agente infeccioso através de sua saliva, picada, urina e fezes. Em relação aos mosquitos, apenas as fêmeas transmitem a doença através da picada, enquanto os machos se alimentam de néctar de flores e sucos de vegetais. Quadro 5 – Referente aos grupos de doenças veiculadas por vetores Doença Vetor Transmissão Leptospirose, peste bubônica e tifo murinho Ratos e pulgas que vivem no corpo do rato. Mordida, pela urina e pelas fezes desses roedores. Febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, giardíase, ascaridíase, amebíase, salmonelose Moscas, insetos. Via mecânica, por meio de asas, patas e corpo, e pelas fezes e saliva desses insetos. Malária, febre amarela, leishmaniose, dengue e filariose Mosquitos. Picada das fêmeas. Febre tifoide, giardíase e cólera Baratas, insetos. Por via mecânica, através das asas, patas, corpo e pelas fezes desses insetos. Cisticercose, toxoplasmose, triquinelose, teníase Suínos e gado. Ingestão de carne contaminada. Toxoplasmose Cão, gato e aves. Urina e fezes. Lembrete Resíduo pode ser considerado qualquer material que sobra após uma ação ou processo produtivo. Somente quando esgotamos todas as possibilidades com o resíduo é que podemos defini‑lo como lixo. 35 Re vi sã o: C ris tin a - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 24 /1 0/ 20 14 GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES 2.5 Destinação final dos resíduos sólidos Falaremos agora sobre a destinação final dos resíduos sólidos. A incineração é um dos tipos de tratamento dos resíduos sólidos para que depois se possa dar um destino adequado a eles. Diversos locais do mundo, como Japão e Suíça, queimam seus resíduos sólidos em incineradores, no entanto, essa prática tem perdido força devido à preocupação dos outros países do mundo com a poluição do ar. Além disso, a maior parte dos resíduos sólidos urbanos quando são queimados e despejados em locais impróprios podem contaminar o solo e, consequentemente, o lençol freático. Em relação aos locais de destinação dos resíduos
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