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Livro "Filosofia da Caixa Preta" Cap. 1: A Imagem - A imagem vem se tornando cada vez mais importante → substituindo até textos informativos → o homem deveria usar as imagens para completá-los e não substituí-los; - Imagem pode variar de acordo com a interpretação de imagem do fotógrafo e de quem vê a imagem → sensações pessoais e experiências passadas do receptor; - O homem se esquece do motivo pelo qual as imagens são produzidas → servirem de instrumentos para orientá-los no mundo → imaginação se torna alucinação e o homem se torna incapaz de decifrar imagens, de reconstruir as dimensões abstraídas; Cap. 2: A Imagem Técnica - Imagem técnica: imagem produzida por aparelhos; - Aparelhos: produtos da técnica, que é texto científico aplicado; - Imagens técnicas são produtos indiretos de textos (diferente das imagens tradicionais); - Imagens tradicionais: antes do textos, logo imaginam o mundo (abstração de segundo grau) → Imagens técnicas: sucedem aos textos altamente evoluídos, logo imaginam textos que imaginam o mundo (abstração de segundo grau → reconstituir a dimensão abstraída → nova imagem = abstração de terceiro grau); - Imagens técnicas não precisam ser decifradas → o significado é a causa e a imagem é o efeito → mundo imprimido na imagem → mundo e imagem no mesmo nível do real; - Observador confia nas imagens técnicas → não critica a imagem, critica o mundo por ela representado → essa atitude demonstra que as imagens podem vir a substituir os textos; - Objetividade das imagens técnicas é ilusória → simbólicas como qualquer outra imagem → devem ser decifradas → símbolos abstratos: codificam textos em imagens, são metacódigos de textos; - Imaginação: capacidade de codificar textos em imagens; - Decifrar: reconstituir o texto → universo de significado: surge o mundo conceitual; - Fator que se interpõe entre imagem e significado: complexo "aparelho-operador" → é complicado para que seja penetrado: é a caixa preta e o que se vê é apenas input e output → vê o canal e não o processo codificador que se passa no interior da caixa preta → não sabemos como decifrar as imagens técnicas; - Como toda imagem, a imagem técnica é mágica → observador tende a projetar essa magia no mundo → vivemos em função da tal magia imaginística: vivenciamos, conhecemos, valorizamos e agimos cada vez mais em função de tais imagens; - A nova magia sucede à consciência histórica, conceitual, desmagicizante → não visa modificar o mundo, como na pré-história, mas os nossos conceitos em relação ao mundo → magia de segunda ordem: feitiço abstrato; - Magia atual ritualiza programas → modelo elaborado no interior da transmissão, por "funcionários"; - A nova magia é ritualização de programas, visando programar os seus receptores para um comportamento mágico programado; - A função das imagens técnicas é a de emancipar a sociedade da necessidade de pensar conceitualmente → substituir a capacidade conceitual por capacidade imaginativa de segunda ordem; - Textos inventados para desmagiciarem as imagens → fotografia: remagiciar os textos; - Imagens técnicas foram inventadas no momento de crise dos textos, a fim de ultrapassar o perigo da textolatria; - Cultura dividida: imaginação marginalizada, pensamento conceitual hermético e pensamento conceitual barato → imagem técnica surge estabelecendo um código geral para unir a cultura e reintroduzir a imagem na vida cotidiana; - Imagem técnica deve ser: conhecimento (verdade), vivência (beleza) e modelo de comportamento (bondade) → tomaram um outro rumo, falseiam o conhecimento e não tornam a magia subliminar visível → são imagens falsas, feias e ruins → fundiram a sociedade em massa amorfa, ao invés de unir a cultura; - Como a imagem técnica é a meta de todo ato, este deixa de ser histórico, passando a ser um ritual de magia. Cap. 3: O Aparelho - As imagens técnicas são produzidas por aparelhos; - Todos os traços dos aparelhos já estão presentes na câmera fotográfica; - Aparelho, em latim apparatus, que deriva de: - adparare: prontidão para algo; - praeparare: disponibilidade em prol de algo; - Aparelhos são objeto produzidos → trazidos da natureza para o homem; - Tipos de objetos culturais: - Bens de consumo: bons para serem consumidos; - Instrumentos: bons para produzirem bens de consumo → intensão de arrancar objetos da natureza para aproximá-los do homem → modificam a forma do objeto → produzir e informar (transformar): trabalho → resultado: obra → instrumentos são prolongações de órgãos do corpo; - Todos os objetos culturais são bons → são como devem ser → contêm valores; - Objetos culturais obedecem a determinadas intenções humanas; - Revolução Industrial: instrumentos viram máquinas, tornando-se maiores e mais caros, para produzir em maior quantidade → homens passam a viver em função das máquinas → categorias marxistas; - Aparelhos informam, simulam órgãos, recorrem a teorias, são manipulados por homens e servem a interesses ocultos → aparelhos são objetos do mundo pós-industrial → não há para ele ainda categorias (como as marxistas); - Instrumentos trabalham x Aparelhos não trabalham → não querem modificar o mundo e, sim, a vida dos homens → fotógrafo não trabalha, no sentido do termo, logo não é proletário; - Fotógrafos agem → produz símbolos, os manipula e os armazena → resultado: mensagem → servem para informar → essas pessoas não são trabalhadores, são informadores; - Estar programado é o que caracteriza o aparelho fotográfico → superfícies simbólicas estão inscritas/programadas previamente por aqueles que o produziram → as fotografias são algumas realizações das potencialidades inscritas no aparelho; - O fotógrafo age em prol do esgotamento do programa e em prol da realização do universo fotográfico → não está empenhado em modificar o mundo, mas em obrigar o aparelho a revelar as suas potencialidades → brinca com o aparelho; - Aparelho é brinquedo e não instrumento no sentido tradicional → o homem que o manipula não é trabalhador (homo faber), mas jogador (homo ludens), que brinca contra o seu aparelho, ele encontra-se no interior de seu aparelho; - Funcionário e aparelho se fundem; - A competência do fotógrafo deve ser apenas parte da competência do aparelho deve ser superior à competência do funcionário → o programa do aparelho deve ser impenetrável para o fotógrafo → na procura de potencialidades escondidas no programa do aparelho, o fotógrafo nele se perde; - CAIXA PRETA: sistema jamais penetrado totalmente → a pretidão da caixa é o seu desafio → se perder nela e dominá-la → dominar o input e o output da caixa: sabe com o que alimentá-la e o que fazer para que ela cuspa fotografias → domina o aparelho, sem saber o que acontece no interior da caixa → funcionários dominam jogos para os quais não podem ser totalmente competentes; - Os programas dos aparelhos são compostos por símbolos permutáveis → funcionar é permutar símbolos programados; - Quem quiser captar a essência do aparelho, deve procurar distinguir o aspecto instrumental do seu aspectobrinquedo; - Hardware → objeto duro → programado para produzir fotos - Software → coisa mole → impalpável → programado para permitir ao fotógrafo fazer com que fotografias deliberadas sejam produzidas automaticamente; - Não pode haver um "último" aparelho, nem um "programa de todos os programas" → todo programa exige um metaprograma para ser programado → a hierarquia dos programas está aberta para cima → não há sentido na pergunta "quem é o proprietário dos aparelhos?" - O decisivo em relação aos aparelhos não é quem os possui, mas quem esgota o seu programa; - O que torna o aparelho fotográfico brinquedo não é o hardware (objeto em si), mas sim as suas regras, ou seja, o software → o que concebe valor ao aparelho → transvalorização de valores → não é o objeto, mas o símbolo que vale; - O poder passou do proprietário para o programador de sistemas → jogo com símbolos passa a ser um jogo de poder; - Aparelho é um brinquedo tão complexo que jamais poderá ser inteiramente esclarecido - Em suma: aparelhos são caixas pretas que simulam o pensamento humano, permutam símbolos contidos em sua "memória", em seu programa. Caixas pretas que brincam de pensar. Cap. 4: O Gesto de Fotografar - Imagens devem ser interessante, informativas e, ao mesmo tempo, inéditas; - Uma situação não pode ser fotografada exatamente como acontece → fazer uma série de fotos para registrar o ocorrido, o ilustrando da maneira mais realista possível; - Práxis fotográfica obedece a certas regras e restrições do aparelho → respeitando o ponto de vista do fotógrafo; - A fotografia revela os lances desse jogo, lances que são o método fotográfico para driblar as condições da cultura. Cap. 5: A Fotografia - As fotografias mais verdadeiras são aquelas em que se pode imaginar algo, dependendo assim de um raciocínio para a interpretação da fotografia; - Cores da fotografia → dependentes da tecnologia usada; - Papel fotográfico → eternizar momentos em imagens → imagens com significado que exija interpretação por parte do receptor para sua compreensão → formação de uma crítica fotográfica na mente do receptor; - Função do fotógrafo: - codificar, em forma de imagens, conceitos; - servir-se do aparelho para isso; - fazer com que as imagens sirvam de modelo para outras pessoas; - fixar as imagens para sempre; - A intenção do aparelho é: - codificar conceitos inscritos em seu programa; - servir-se de um fotógrafo; - fazer com que tais imagens sirvam de modelo para homens; - fazer imagens cada vez mais aperfeiçoadas. Cap. 6: A Distribuição da Fotografia - O filósofo dá continuidade a sua obra tratando da distribuição das fotografias para o público receptor; - Fotografia pode ser multiplicada, o que a diferencia de outras imagens; - Imagens podem ser manipuladas → benefício do fotógrafo ou do meio de distribuição; - Fotografias são imagens imóveis e mudas, do tipo "folha" → infinitamente reproduzidas; - As fotografias só possuem significado dentro do canal. Cap. 7: A Recepção da Fotografia - Fotografia precisa ter valor para o receptor; - Hoje em dia, os textos existem por causa das imagens, e não a imagens como complemento do texto. Cap. 8: O Universo Fotográfico - Estamos sendo consumidos por um universo fotográfico; - A imagem surgiu como forma de nos poupar trabalho, mas acabou por alienar a população do que realmente acontece ao apresentar, sem parar, imagens que para a massa não tem mais significado; - Cada fotografia corresponderá determinada permutação de conceitos no programa do aparelho. Cap. 9: A Urgência de uma Filosofia da Fotografia - Fotografia: imagem produzida e distribuída por aparelhos segundo um programa, a fim de informar receptores → imagem produzida e distribuída automaticamente no decorrer de um jogo programado, que se dá ao acaso que se torna necessidade, cuja informação simbólica, em sua superfície, programa o receptor para um comportamento mágico; - Imagem → magia → superfícies por onde passam o olhar - Aparelho → automação e jogo → movimento eternamente repetidos - Programa → acaso e necessidade → sistemas que recombinam constantemente os mesmos elementos - Informação → símbolo → epiciclo negativamente entrópico que deverá voltar à entropia da qual surgiu - Pensar informaticamente, programaticamente, aparelhisticamente, imageticamente → fotografia nos programou para que pensemos como computadores; - Instrumentos são modelos de pensamento → o homem os inventa, tendo por modelo o seu próprio corpo → esquece-se depois do modelo, "aliena-se" → toma o instrumento como modelo de mundo, de si próprio e da sociedade → Atualmente: crítica do funcionalismo; - Novo paradigma: o aparelho fotográfico é brinquedo e não máquina; - O aparelho é infra-humanamente estúpido e pode ser enganado; - Os programas dos aparelhos permitem introdução de elementos humanos não previstos; - As informações produzidas e distribuídas por aparelhos podem ser desviadas da intenção dos aparelhos e submetidas a intenções humanas; - Os aparelhos são desprezíveis; - Problemas a resolver são os da imagem, do aparelho, do programa e da informação; - Liberdade é jogar contra o aparelho; - A filosofia da fotografia é necessária porque é reflexão sobre as possibilidades de se viver livremente num mundo programado por aparelhos → reflexão sobre o significado que o homem pode dar à vida, onde tudo é acaso estúpido, rumo à morte absurda → tarefa da filosofia da fotografia: apontar o caminho da liberdade.
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