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Biologia Molecular Básica – Módulo I: Básico Estrutura dos ácidos nucléicos – Aula 1 Profª. Christina Gaspar Villela – Extensão de Biologia – Fundação CECIERJ/CEDERJ 1 Biologia Molecular Básica Módulo I – Básico Aula 1 Histórico da Biologia Molecular Prezado professor cursista, você está prestes a entrar no universo da Biologia Molecular. A contribuição de diversos pesquisadores tornou possível utilizar a BioMol (vamos passar a chamá-la assim) como base da Biologia moderna e como suporte científico de todas as outras disciplinas “biológicas”. Nesta aula vamos rever a contribuição desses pesquisadores. Seja bem-vindo! Os objetivos desta aula são: Explicar o que estuda a Biologia Molecular. Acompanhar a construção do conhecimento relacionado à forma pela qual as características de um indivíduo são herdadas por seus descendentes. Explicar a natureza química da molécula responsável pela hereditariedade. 1. Contribuições de Mendel Você já deve ter ouvido falar em seqüenciamento do genoma de alguns organismos (incluindo o ser humano), terapia gênica, vacinas recombinantes, plantas e animais transgênicos e outros temas que fazem parte do nosso cotidiano. Provavelmente, “porém, para um número grande de pessoas esses assuntos são ainda desconhecidos”. Você sabe, entretanto, que tudo isso – e muito mais – só se tornou possível graças ao avanço de diversas áreas da ciência, incluindo a Biologia Molecular. Biologia Molecular Básica – Módulo I: Básico Estrutura dos ácidos nucléicos – Aula 1 Profª. Christina Gaspar Villela – Extensão de Biologia – Fundação CECIERJ/CEDERJ 2 Para que você entenda como tudo começou, precisamos retornar a uma época em que a semelhança de certos traços e características de pais e filhos era alvo de observação. O homem começou a fazer uso da genética antes mesmo de compreender alguns de seus conceitos. Sabe como? Por exemplo, os animais mais vigorosos eram escolhidos para a reprodução, assim como as melhores sementes eram selecionadas para o plantio. Muitos anos antes de Cristo, os filósofos gregos já se arriscavam a opinar sobre alguns fenômenos genéticos; com o desenvolver da sociedade, médicos, matemáticos, físicos e padres também contribuíram com suas idéias para o entendimento da hereditariedade. A teoria de hereditariedade apresentada por Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) foi a mais influente do mundo antigo. Ele corretamente intuiu que tanto o pai quanto a mãe contribuem com material genético para a formação da criança. Entretanto, segundo ele, essa contribuição ocorria por uma mistura de sangues - o sêmen masculino seria sangue purificado, e constituía a fonte da vida e da forma, enquanto o sangue menstrual feminino, menos puro, contribuía com a parte material do embrião. Pouco progresso foi feito no campo da hereditariedade entre o tempo de Aristóteles e meados do século XIX. Entretanto, nesse período foram estabelecidas as bases da investigação científica. O monge Gregor Mendel (1822 —1884) deu o passo pioneiro para que a Biologia se tornasse uma ciência da descoberta de relações funcionais e não uma ciência essencialmente descritiva, como tinha sido até então. Figura 1: A Biologia Molecular é o estudo da Biologia em nível molecular, com especial atenção ao estudo da estrutura e da função do material genético e de seus produtos de expressão: as proteínas. Biologia Molecular Básica – Módulo I: Básico Estrutura dos ácidos nucléicos – Aula 1 Através da análise dos cruzamentos entre ervilhas, Mendel deduziu a presença de fatores hereditários que eram propagados de forma estável de geração a geração, sendo responsável pela formação de características individuais. Mendel propôs a existência de partículas ou fatores hereditários nas células sexuais e previu o comportamento especial desses fatores (genes), que deveriam se separar durante a formação de gametas. Com a fecundação, então, ocorreriam a fusão dos gametas e a reconstituição do par de fatores hereditários. Mendel postulou, ainda, que os genes não se fundem após a fecundação, mas permanecem lado a lado, independentemente de se manifestarem ou não. Você deve também se lembrar de que todas as hipóteses de Mendel tiveram origem na análise estatística de seus resultados. O mais interessante é que a análise feita por ele não necessitou de conhecimento sobre o que são os genes e como eles controlam os fenótipos. Todo seu trabalho se baseou na representação de fatores hipotéticos abstratos de herança (ou genes) por símbolos, não havendo qualquer preocupação quanto à natureza ou localização desses fatores em uma célula. Apesar de a discussão dos resultados obtidos com o cruzamento de variedades de ervilha ser muito interessante, esse assunto é tema da Genética e não será abordado aqui. Entretanto, não podemos deixar de enfatizar que o surgimento da Biologia Molecular está atrelado às contribuições de Mendel, e, por esse motivo, escolhemos Mendel e suas ervilhas como ilustração de abertura deste curso. 2. Teoria cromossômica da herança Trinta anos depois da divulgação dos resultados de Mendel, constatou- se que o espermatozóide é constituído principalmente de material nuclear e que o núcleo era responsável pela hereditariedade. Em 1877, os cromossomos foram visualizados no interior do núcleo, mas somente no início do século XX (1903), com o desenvolvimento da Citologia, Walter S. Sutton pôde acompanhar o comportamento dos cromossomos durante a produção dos gametas, que, surpreendentemente, mostrou-se análogo ao comportamento dos elementos hereditários propostos por Mendel. Surgiu a teoria cromossômica da herança, que postula que os fatores hereditários Profª. Christina Gaspar Villela – Extensão de Biologia – Fundação CECIERJ/CEDERJ 3 Biologia Molecular Básica – Módulo I: Básico Estrutura dos ácidos nucléicos – Aula 1 Profª. Christina Gaspar Villela – Extensão de Biologia – Fundação CECIERJ/CEDERJ 4 estejam fisicamente localizados nos cromossomos. Essa teoria foi importante por fornecer um mecanismo de transmissão para explicar o comportamento dos fatores mendelianos. Os anos seguintes foram marcados pela tentativa de converter a teoria cromossômica da herança em fato. O que se buscava era uma explicação física para os resultados genéticos. Primeiramente, William Bateson, em 1906, descobriu o princípio da ligação (linkage), que significa que os genes localizados muito próximos no mesmo par de cromossomos constituem um grupo de ligação e seriam herdados em bloco, caso não ocorresse o crossing over. Alguns anos depois, Thomas Hunt Morgan e os alunos de doutorado C. B. Bridges, H. J. Muller e A. H. Sturtevant transformaram a teoria cromossômica da herança no conceito de localização dos genes em uma disposição linear em cada cromossomo. Com a publicação do livro de Morgan sobre a Teoria do Gene, em 1926, ficou assegurado que os genes estão localizados nos cromossomos, em disposição linear, e são transmitidos de genitor para filho. 3. Da Teoria do gene ao surgimento da Biologia Molecular Até agora, você acompanhou o desenrolar da história cujo cerne era entender cientificamente a semelhança entre pais e filhos. Uma vez estabelecido o mecanismo de herança, o campo de investigações dos genes partiu para uma nova direção: a base química da herança. Com isso, os estudos foram direcionados para responder a perguntas como: Qual é o material genético? Figura 2: Crossing over – Troca de partes correspondentes entre cromossomoshomólogos por quebra e reunião. Biologia Molecular Básica – Módulo I: Básico Estrutura dos ácidos nucléicos – Aula 1 O material genético é o mesmo em todos os organismos? Em termos de material genético, o que é realmente um gene? Sua estrutura molecular pode ser determinada? O material genético está localizado inteiramente nos cromossomos de eucariotos? Será que o citoplasma exerce algum papel na herança? Como as respostas a essas perguntas se relacionam com os organismos procarióticos? Se pensarmos em termos de natureza do gene, o que é mutação? Ou seja, o que ocorre na estrutura do gene quando ele se altera a ponto de produzir um efeito diferente? Existe algum mecanismo que protege o gene contra eventuais danos estruturais? Como esse material genético é duplicado? Como esse material genético funciona para produzir os caracteres fenotípicos? Em organismos multicelulares, a diferenciação e as reações bioquímicas intermitentes observadas em organismos eucarióticos e procarióticos sugerem que os genes não funcionam o tempo todo. Então como é regulada a expressão dos genes? Essas perguntas – e muitas outras – foram respondidas nos anos seguintes à publicação do livro A Teoria do Gene. Foi mais ou menos por essa época que “nasceu” a Biologia Molecular. O termo Biologia Molecular foi empregado pela primeira vez por William Astbury, em 1945, ao se referir ao estudo químico e físico das macromoléculas biológicas. Naquela época, os bioquímicos já haviam descoberto que muitas reações químicas intracelulares e a estrutura de proteínas eram importantes para definir inúmeras propriedades que as células exibiam. Contudo, o grande avanço da Biologia Molecular só ocorreu a partir do estudo de sistemas “simples”, como bactérias e bacteriófagos. A utilização desses dois tipos de seres vivos em vários experimentos permitiu, por exemplo, identificar que a molécula de DNA (ácido desoxirribonucléico) contém a maioria, senão toda a informação genética de uma célula. Após essa descoberta, um novo campo da Profª. Christina Gaspar Villela – Extensão de Biologia – Fundação CECIERJ/CEDERJ 5 Biologia Molecular Básica – Módulo I: Básico Estrutura dos ácidos nucléicos – Aula 1 Genética Molecular cresceu assustadoramente ao final da década de 1950 e início da década de 1960. Profª. Christina Gaspar Villela – Extensão de Biologia – Fundação CECIERJ/CEDERJ 6 Figura 3: O britânico William Thomas Astbury (1898 —1961) foi um físico e biólogo molecular que fez estudos pioneiros em moléculas biológicas, utilizando a técnica de difração de raios-X. Em 1937, estudou também a estrutura do DNA, tendo dado os primeiros passos na elucidação da sua estrutura. Nessa época, predominava a idéia de que a informação genética estava contida nas proteínas, pois o DNA teria uma estrutura muito simples para realizar essa função. O sucesso inicial atribuído ao acúmulo de um número elevado de informações garantiu a aplicação de técnicas e métodos poderosos de análise molecular em diferentes áreas, incluindo fisiologia, estrutura de membranas, modo de ação de antibióticos, imunologia, diferenciação celular e desenvolvimento. Hoje, a complexidade da Biologia Molecular faz com que ela atravesse as fronteiras de áreas tradicionais como Genética, Bioquímica, Biologia Celular, Imunologia, Microbiologia, Física, Química Orgânica e Físico-química, pois o grande objetivo da Biologia Molecular é entender a base molecular de todos os fenômenos biológicos. 4. Resumo Como você viu nesta aula, a Biologia Molecular estuda a Biologia em nível molecular, com especial atenção ao estudo da estrutura e da função do material genético. Nesse sentido, você pôde rever os experimentos que comprovam a localização cromossômica dos fatores hereditários, além de caracterizar a molécula de DNA como responsável por toda a informação genética de uma célula. Na próxima aula deste módulo vamos estudar as unidades fundamentais dos ácidos nucléicos: os nucleotídeos.
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