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Prévia do material em texto

JNTRODUÇÂO AO 
CULTO 
CRISTÃO 
V-
James F. White 
INTRODUÇÃO AO CULTO CRISTÃO 
SEMINÁPIO O í f^ÓRDIA 
São Le peido 
- 6 I 3 U ' ' T E G A -
i 
S e m i n á r i o C o n e ó r d i a 
I E P G ßSinodal 
1997 
Traduzido do original Introduction to Christian Worship, edição revis-
ta. © 1990 Abingdon Press, Nashville (TN), Estados Unidos da América. 
Os direitos para a lingua portuguesa pertencem à 
Editora Sinodal 
Rua Amadeo Rossi, 467 
93030-220 São Leopoldo - RS 
Tel.: (051) 590-2366 
Fax: (051) 590-2664 
Capa: Editora Sinodal 
Tradução: Walter O. Schlupp 
Revisão: Gabriela Kirst 
Nelson Kirst 
Luís M. Sander 
Coordenação editorial: Luís M. Sander 
Série: Teologia Prática - Auxílios Litúrgicos 1 
Seminário Concórdia 
Biblioteca 
Sist. n , 96^99. 
Data tZ-lOr IO' 
Publicado sob a coordenação do Fundo de Publicações Teológicas/ 
MsSuto Ecumênico de Pós-Graduação (IEPG) da Escola Superior de 
Teologia (EST) da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil 
(IECLB). -_ 
Arte-finalização e impressão: Editora Sinodal 
CIP - BRASIL CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
Bibliotecária responsável: Rosemarie Bianchessi dos Santos CRB 10 797 
W5851 White, James F. 
Introdução ao culto cristão / James F. 
White ; tradução de Walter Schlupp 
- São Leopoldo : Sinodal, 1997. 
267 p. 
Tradução do original: Introduction to 
Christian Worship 
ISBN 85-233-0437-1 
1. Teologia prática. I. Título. 
CDU 24 
Sumário 
• 
Prefácio (Edição de 1990) 5 
Prefácio (Edição de 1980) 7 
Capítulo 1: Que Queremos Dizer com "Culto Cristão"? 11 
O Fenômeno do Culto Cristão 12 
Definições de Culto Cristão 14 
O Linguajar Cristão sobre o Culto 19 
Diversidade na Expressão do Culto Cristão 24 
Constância nos Tipos de Manuais de Culto 30 
Capítulo 2: A Linguagem do Tempo 37 
A Configuração do Tempo Cristão 38 
Teologia a partir do Ano Cristão 53 
Funcionamento do Ano Cristão 56 
Capítulo 3: A Linguagem do Espaço 66 
As Funções do Espaço Litúrgico 68 
História da Arquitetura Litúrgica 73 
Música e Espaço Litúrgicos 83 
Arte Litúrgica 89 
Capítulo 4: Oração Pública Diária 95 
Histórico da Oração Pública Diária 96 
Reflexões Teológicas 107 
Considerações Práticas 109 
Capítulo 5: A Liturgia da Palavra 111 
Histórico da Liturgia da Palavra 111 
Teologia da Liturgia da Palavra 123 
Questões Pastorais 126 
Capítulo 6: O Amor de Deus Tornado Visível 131 
O Desenvolvimento da Reflexão sobre os Sacramentos 133 
Nova Compreensão dos Sacramentos 146 
Capítulo 7: Iniciação Cristã 153 
O Desenvolvimento da Iniciação Cristã 153 
Teologia da Iniciação Cristã 165 
Aspectos Pastorais da Iniciação Cristã 172 
Capítulo 8: A Eucaristia 
O Desenvolvimento da Prática Eucarística . 
Compreensão de Eucaristia 
Ação Pastoral 
Capítulo 9: Jornadas e Passagens 
Reconciliação 
Ministério junto aos Enfermos 
Matrimônio Cristão 
Ordenação 
Profissão ou Comissionamento Religioso .. 
Sepultamento Cristão 
Notas 
Bibliografia 
Abreviaturas 
índice Remissivo 
Prefácio 
(Edição de 1990) 
Passada mais uma década em que lecionei culto cristão, fico estupe fato com quantas mudanças os últimos dez anos trouxeram para o 
mundo, para a igreja, para a ciência litúrgica e para as minhas próprias 
perspectivas. Uma nova edição parece necessária para que este livro 
continue atendendo adequadamente a seus leitores e suas leitoras. 
O próprio mundo aproximou-se mais daquilo que parece ser uma 
era de paz e um futuro de esperança. A igreja mudou em vários 
sentidos, e uma das mais importantes mudanças é a ampla aceitação 
de novas práticas no culto, as quais, em certas igrejas, acabaram 
sacramentadas pela inclusão em novos manuais de culto. Até mesmo 
os livros católicos romanos pós-Vaticano II estão sendo editados em 
novas versões, como o recente Ritual de Exéquias (1989); igualmente 
traduções dos últimos livros revisados (Ritual de Bênçãos, Cerimonial 
dos Bispos) finalmente saíram do prelo (1989). Outras igrejas produzi-
ram novos manuais de culto, como The United Methodist Hymnal 
(1989) e The Preshyterian Hymnal (1990), que fazem com que livros 
anteriores fiquem obsoletos. 
A ciência litúrgica também não parou no tempo. Durante a última 
década fomos supridos com mais estudos acadêmicos sobre o culto do 
que em qualquer década anterior. Diversas editoras estão pela primeira 
vez apresentando títulos sobre culto em seus catálogos. Provavelmente 
há mais liturgistas nos Estados Unidos hoje do que na soma de todas as 
outras épocas da nossa história. A minha própria ótica a respeito de 
muitas coisas mudou na medida em que, após 23 anos de docência em 
seminário, passei a ensinar aqueles/as que estão agora lecionando em 
seminário ou brevemente passarão a fazê-lo. Aprendi muito com meus 
alunos e minhas alunas e fico feliz em constatar que suas contribuições 
para a igreja e para o mundo acadêmico se ampliam cada vez mais. 
Muito do que aprendi durante esses últimos dez anos acarretou as 
mudanças que se encontram nestas páginas. 
Fico maravilhado e ao mesmo tempo perplexo pelo sucesso deste 
livro, que superou em muito as minhas expectativas. Ao que parece, ele 
se tornou o compêndio sobre culto mais amplamente usado em seminá-
rios americanos, tanto católicos romanos quanto protestantes, e até 
mesmo ortodoxos e carismáticos. Isto me intimida um pouco; eu não 
gostaria de alterar qualquer que seja a fonte do seu atrativo. Mas quero, 
sim, torná-lo mais útil para todos/as. Por isso tentei adaptá-lo mais aos 
católicos romanos e a uma gama mais diversificada de protestantes. 
Isto exigiu certas mudanças estruturais. Agora há mais material sobre 
culto e justiça, bem como capítulos à parte sobre a oração diária e 
sobre a liturgia da palavra. A seção sobre a reconciliação foi transferida 
do capítulo sobre a iniciação para o capítulo final, acrescentando-se ali 
mais material sobre o comissionamento ou profissão religiosa. Essas 
alterações, assim espero, farão com que o material seja mais fácil de 
acompanhar. 
No livro faço referência às edições atuais de cerca de 50 dos manuais 
de culto mais amplamente usados na América do Norte de fala inglesa e 
nas Ilhas Britânicas. Essas referências se encontram em tabelas ao 
final de cada seção em questão. Os cerca de 600 termos em negrito se 
revelaram úteis para estudantes ao recapitularem o vocabulário básico 
necessário para o estudo do culto. Cada termo é definido no contexto. 
Pensei em incluir ilustrações. Hesitei, entretanto, não só pelo que isto 
teria significado para o preço, mas também pelo fato de cada ilustração 
ser tão específica culturalmente, que ela tende a limitar a imaginação a 
si própria, quando em quase todos os casos eu gostaria de retratar uma 
grande variedade de possibilidades. Muitas vezes se pode fazê-lo mais 
facilmente sem fotografias do que com elas. 
Gostaria de agradecer a diversos/as estudantes por suas contribui-
ções, particularmente a meus assistentes de pós-graduação, Michael 
Moriarty e Grant Sperry-White, que foram muito além de checar deta-
lhes, apresentando sugestões concretas para importantes melhorias. 
Agradeço igualmente a Nancy Kegler, Sherry Reichold e Cheryl Reed 
por sua habilidade em produzir um manuscrito claro a partir de meu 
original desordenado. Por fim, tenho uma grande dívida para com 
minha esposa, Dr 8 Susan J. White, por sua habilidade acadêmica em 
melhorar o manuscrito e pela paciência com o autor tantas vezes preo-
cupado. Que esta nova edição venha prestar um bom serviço às igrejas. 
Universidade de Notre Dame 
18 de setembro de 1989 
James F. White 
Prefácio 
(Edição de 1980) 
Depois de passar 20 anos lecionando, a gente necessariamente acaba por formar uma opinião sobre algumas questões. Daqui a duas 
décadas tenho certeza de que o meu juízo a respeito de certos assuntosestará mais maduro. Mas, a meio caminho andado, esta parece ser uma 
boa ocasião para reunir o que ensinei e antever aquilo que ainda 
preciso aprender. A experiência de escrever este livro é um maravilho-
so exercício de condensar num único volume tudo que fiz ao longo de 
vários anos. Quando embarquei neste ministério, havia poucos que 
lecionavam culto cristão. Atualmente, nada me dá prazer maior do que 
ter tantos/as companheiros/as novos/as neste trabalho com os/as quais 
posso compartilhar os resultados do labor que desenvolvi até hoje e 
visualizar o futuro para onde eles/as irão. Espero que este livro lhes 
ajude em seu ensino, até que encontrem maneira melhor de interpretar o 
culto cristão. Com Pedro Lombardo posso dizer: "Se alguém conseguir 
explicar isto melhor, não ficarei com inveja." 
Tentei expor nestas páginas de forma tão sucinta quanto possível 
tudo aquilo que considero ser informações essenciais para munir al-
guém dos elementos necessários para o ministério da liderança no 
culto. Tentei incluir tudo que realmente se precisa saber para planejar, 
preparar e conduzir um culto cristão, deixando fora os detalhes referen-
tes aos costumes ou aos manuais de culto pertinentes à denominação de 
cada um/a. As informações contidas neste livro deveriam ser relevantes 
por igual tanto para pastores/as ou sacerdotes quanto para membros 
leigos de comissões de culto. Naturalmente terão que complementar 
este material com sua familiaridade com seus próprios costumes ou 
manuais de culto. 
Para facilitar essa tarefa, fiz referência neste livro aos manuais de 
culto mais amplamente usados, ou seja, àqueles usados pela maioria 
dos cristãos de língua inglesa nos Estados Unidos. Alusão freqüente é 
feita aos manuais católicos romanos revisados, particularmente o ritu-
al, o sacramental e o pontifical. O novo Lutheran Book oí Worship foi 
publicado justamente quando estas páginas foram iniciadas, e é bem 
provável que o novo Book oí Common Prayer americano receba aprova-
ção final pouco antes da publicação deste livro. Assim sendo, pude fazer 
referência a ambos. Como estou profundamente envolvido na edição do 
Supplemental Worship Resources da Igreja Metodista Unida, foi possí-
vel fazer referência àqueles volumes já publicados e àqueles ainda por 
serem publicados, bem como ao Book of Worship de 1965. Remeto o/a 
leitor/a também ao Worshipbook presbiteriano de 1970 e ao Services of 
the Church (1969) e ao Hymnal (1974) da Igreja Unida de Cristo. 
A ocasião é adequada para se resumir o que foi realizado na onda de 
revisões litúrgicas pós-Vaticano II, quase completas atualmente. No 
túmulo do papa Martinho V estão gravadas as palavras: "Sua época foi 
de felicidade." Esta parece ser uma descrição apropriada da situação 
ecumênica do culto na nossa época. Podemos ver na última década e 
meia de revisão litúrgica um período de felicidade em que as igrejas do 
mundo se aproximaram mais compartilhando suas riquezas de culto 
umas com as outras. Não há evidência maior das conquistas ecumênicas 
do nosso tempo do que a reaproximação ocorrida no culto cristão nos 
anos 60 e 70. Assim sendo, é possível agora escrever uma introdução ao 
culto cristão que, assim espero, atenderá tanto a católicos romanos 
quanto a protestantes. 
O estudo do culto cristão pode oferecer a qualquer pesquisador/a 
interessado/a um recurso valioso para a compreensão do próprio cris-
tianismo. Não há maneira melhor de se descobrir o cerne do cristianis-
mo do que tornar-se mais ciente daquilo que os cristãos fazem quando 
se reúnem para o culto. Tanto a pessoa cristã quanto a não-cristã 
podem aprender muito sobre a tradição religiosa dominante na cultura 
ocidental ao incrementar seu conhecimento sobre o culto cristão. 
Este livro pretende ser uma introdução ao culto cristão. Mas é tam-
bém uma interpretação do assunto. Não hesitei em arriscar novas 
percepções e interpretações a que eu próprio cheguei. Outras pessoas 
podem e hão de refutar algumas delas. Aquilo que for válido nessas 
interpretações permanecerá; o que não o for será substituído por al-
guém mais perceptivo. Experimentei e aprimorei ao longo dos anos a 
organização básica do assunto e vários detalhes ao usá-los com minhas 
alunas e meus alunos. É estimulante antever que outras pessoas desen-
volverão interpretações mais satisfatórias nos próximos anos. Muita 
pesquisa ainda precisa ser feita em estudos litúrgicos. Muitas áreas 
ainda são misteriosas, como as origens do culto sinagogal, as fontes do 
Dia de Reis (Epifania), os detalhes do ofício das catedrais, o cânone 
romano entre Hipólito e Ambrósio e a gênese do culto dominical normal 
usado nas tradições americana reformada, metodista e das igrejas li-
vres. Se este livro puder induzir outras pessoas a ficar na expectativa 
prazerosa por pesquisa vindoura, terá sido uma bem-sucedida introdu-
ção e interpretação. 
Embora boa parte do livro seja de natureza acadêmica, todo ele está 
direcionado para o aspecto pastoral no sentido de fortalecer a liderança 
de culto nas comunidades cristãs. Boa parte está formulada de maneira 
descritiva a fim de descrever o que foi e por que, porém a maioria dos 
capítulos são concluídos com uma seção normativa sobre o que deveria 
ser, e por que o deveria, nas igrejas hoje em dia. As seções descritivas 
fornecem o pano de fundo para as partes normativas. Qualquer pessoa 
encarregada de liderança no culto tem a responsabilidade de tomar 
muitas decisões. Entretanto, essas decisões só podem estar bem infor-
madas quando se basearem em todos os fatores relevantes. Por isso em 
cada capítulo as informações históricas e teológicas precedem as se-
ções pastorais. Quando normas pastorais para ações são enunciadas, 
isto sempre é feito em termos daquilo que os cristãos têm praticado e 
como têm refletido a respeito dessas práticas. O culto cristão, da mes-
ma forma como a ética cristã, é um assunto tanto descritivo quanto 
normativo. Decisões específicas precisam ser tomadas localmente em 
função das pessoas e dos lugares, porém tentei esboçar normas amplas 
dentro das quais se possam tomar decisões pastorais. 
Não é fácil condensar toda uma disciplina nas páginas de um livro de 
modestas dimensões. Quase cada parágrafo representa material que 
poderia preencher um livro inteiro ou vários livros. Tive que reduzir 
livros a parágrafos, capítulos a frases, dando pouco espaço para funda-
mentar afirmações. Essa frustração foi ligeiramente atenuada pela rela-
ção da bibliografia afim ao final do livro e nas notas. Muitos livros 
essenciais estão citados nas notas, e essas referências não são repeti-
das nas bibliografias. Tive que me concentrar em prioridades de interes-
se mais amplo, eliminando todas as outras. Um número desproporcio-
nalmente reduzido destas páginas discute o culto nas igrejas ortodoxas 
orientais, uma vez que a maioria de minhas leitoras e meus leitores 
representa a cristandade ocidental e terá interesse maior em sua pró-
pria ascendência linear do que numa linha colateral. Pouco se encontra 
aqui sobre a liturgia do bispo, que interessa a uma minoria reduzida (e 
não oprimida). Também os interesses específicos de congregações mo-
násticas receberam pouca atenção. 
Concentrei-me nas práticas e conceitos da igreja dos primeiros qua-
tro séculos. Se se sabe quais foram as decisões tomadas pela igreja 
neste período e seu porquê, todo o resto é simples. Boa parte da cristan-
dade hoje em dia se encontra num estágio de resgate das práticas e 
conceitos dos primórdios. O futuro é que julgará se romantizamos 
demais ou não o período inicial. Seja como for, o conhecimento das 
decisões tomadas no período inicial é essencial para se compreender 
todos os desdobramentos subseqüentes. 
A fim de facilitar o estudo, coloquei nomes e termos centrais e algu-
mas datas em negrito. Boa parte da introdução a qualquer assunto 
consistena familiarização com o vocabulário básico. As palavras e 
expressões essenciais para os estudos litúrgicos são tornadas mais 
conspícuas, de modo que os/as estudantes possam fazer a recapitula-
ção verificando sua familiaridade com tais termos. 
Hoje em dia estamos mais conscientes do que nunca de quão rapida-
mente nossa linguagem está mudando. Isto é particularmente evidente no 
caso de termos que indicam identidade sexual. A resolução futura dessas 
mudanças ainda é incerta, e termos que usamos hoje ainda têm caráter 
provisório. Alguns dos que adotei indubitavelmente parecerão desconhe-
cidos e duros. Mas a infelicidade é melhor do que a injustiça, e apenas o 
tempo dirá que termos virão a prevalecer no que se refere a Deus. Tenho 
que solicitar que meus leitores e minhas leitoras sejam indulgentes com 
termos provisórios enquanto evolui o uso no vernáculo. 
Este livro representa a contribuição de muitas pessoas que deram de 
si para torná-lo uma obra melhor. Sou grato às seguintes pessoas: Dr. 
Hoyt L. Hickman, Dr. Richard Eslinger e Elise Shoemaker, da Seção 
sobre Culto da Junta de Discipulado da Igreja Metodista Unida; meus 
colegas da Perkins School of Theology, professor H. Grady Hardin, 
professor Virgi l P. Howard e decano Joseph D. Quillian, Jr.; professor 
Don E. Saliers, da Candler School of Theology; Arlo Duba, do Princeton 
Theological Seminary; professor Will iam Crocket, da Vancouver School 
of Theology; Louise Shown e Irmã Nancy Swift, do St. John's Seminary, 
por lerem e comentarem com muita propriedade o manuscrito. Ainda 
estou aprendendo muito com meu professor de seminário Paul W. Hoon, 
que continuou a ensinar-me por meio de seus comentários e suas corre-
ções a respeito destas páginas. O professor Decherd H. Turner, Jr., 
diretor da Bridwell Library, tem dado muito de si para ajudar muitas 
outras pessoas a abraçarem a carreira acadêmica. Reconheço sua cons-
tante generosidade dedicando este livro a ele. 
Bonnie Jordan fez prodígios ao decifrar meu manuscrito a uma dis-
tância de 1.900 milhas e transformá-lo em cópia limpa e ordenada. 
Minha esposa e filhos foram muito negligenciados durante esses dias 
em que mereciam mais da companhia que dediquei exclusivamente à 
máquina de escrever. Peço o seu perdão e espero ficar mais humano 
agora que estas páginas estão concluídas. 
Passumpsic, Vermont 
5 de março de 1979 
Capítulo 1 
Que Queremos Dizer 
com "Culto Cristão"? 
Para se falar de modo inteligente sobre '!ciillQ_ cristão", é preciso decidir primeiro o que o termo significa exatamente. Não é uma 
expressão fácil de definir. Mas enquanto não se fizer uma reflexão 
sobre o que distingue o culto cristão autêntico, é fácil confundir esse 
culto com acréscimos irrelevantes de culturas atuais ou passadas em 
que os cristãos celebraram culto. 
Em primeiro lugar, a própria palavra "culto" já é exasperadoramente 
difícil de se definir. O que distingue o culto de outras atividades huma-
nas, particularmente daquelas que se caracterizam por sua freqüente 
repetição? Por que o culto é uma atividade diferente das tarefas diárias 
ou de qualquer ato habitual? Mais especificamente, qual é a diferença 
entre o culto e outras atividades que se repetem na própria comunidade 
cristã? Por exemplo, o que distingue o culto da educação cristã ou de 
obras de caridade? 
Em segundo lugar, depois de resolver o que queremos dizer com 
"culto", como vamos determinar o que torna tal culto "cristão"? 
Nossa cultura está cheia de vários outros tipos de culto. Diversas 
re l ig iões orientais foram introduzidas em muitas comunidades. 
Muitas praticam culto, porém obviamente ele não é cristão. Quais 
características distintivas tornam "cr istão" este ou aquele culto? 
Aliás, será sempre "cr istão" todo culto celebrado pela comunidade 
cristã? 
Nenhuma dessas questões é fácil de se resolver, mas elas certamente 
precisam ser examinadas. E não são pura e simplesmente assunto 
especulativo de interesse apenas teórico. A definição do que caracteri-
za especificamente o culto cristão é uma ferramenta prática vital para 
qualquer pessoa que tenha a responsabilidade de planejar, preparar ou 
conduzir o culto cristão. Em anos recentes, o aparecimento de muitas 
formas novas de culto fez com que este tipo de análise básica se tornas-
se ainda mais crucial para as pessoas encarregadas do ministério do 
culto. Elas precisam constantemente participar de decisões ao servi-
rem à comunidade cristã através da condução do culto. Quanto mais 
prática é a decisão, tanto mais necessária se torna muitas vezes a 
fundamentação teórica. Será determinado ato, como por exemplo o voto 
de lealdade à bandeira nacional, adequado dentro de um culto cristão? 
Ou estará fora de lugar? Deveriam outros atos, como a celebração da 
adoção de uma criança, que não temos habitualmente incluído no culto, 
ter um lugar na vida cultual da igreja? Ou é algo impróprio no culto 
cristão? Somente tendo uma definição funcional de "culto cristão" é que 
se pode enfrentar esse tipo de problema. 
Explorarei três métodos para esclarecer o que queremos dizer com 
"culto cristão". Tenho sentido cada vez mais que a abordagem mais 
adequada é a fenomenológica, a qual simplesmente relata e descreve o 
que os cristãos em geral fazem ao se reunir para o culto. Embora este 
possa parecer o método mais simples e direto, a observação cuidadosa 
é essencial se quisermos entender exatamente o que significam de fato 
as estruturas ou ofícios que os cristãos usam repetidas vezes para o 
culto. A maior parte deste livro se concentrará na descrição do desenvol-
vimento, da teologia e do uso de estruturas ou ofícios que estão efetiva-
mente em prática. Em segundo lugar convém explorar algumas defini-
ções de maior abstração, as quais uma série de pensadores cristãos 
usaram para expor o que entendem ser o culto cristão. E um terceiro 
método consistirá em examinar algumas das palavras-chave que os 
cristãos escolhem com maior freqüência (em diversos idiomas) para v 
expressar o que experimentam como culto. Esses três métodos deve-
riam forçar-nos a refletir sobre o que queremos dizer quando falamos 
de "culto cristão". E finalmente, antes de aceitarmos definições demasi-
ado simples, precisamos considerar também alguns dos fatores que 
proporcionam tanto diversidade quanto constância ao. culto cristão. 
- O Fenômeno do Culto Cristão --
Uma das melhores maneiras de resolver o que queremos dizer com 
culto cristão é descrever as formas exteriores e visíveis através das 
quais os cristãos praticam culto. Esta abordagem encara todo o fenôme-
no do culto cristão como ele poderia se apresentar a um observador 
desvinculado e alheio tentando entender o que é que os cristãos fazem 
ao se reunir. 
Isto fica mais fácil pelo fato de que, apesar de ocorrer em diferentes 
culturas e épocas históricas, o culto cristão tem utilizado formas nota-
velmente estáveis e permanentes. Designaremos essas formas como 
estruturas (como um calendário para organizar o culto ao longo de um 
ano) ou ofícios (como a ceia do Senhor). Apesar de constantes adapta-
„ções, elas têm demonstrado notável durabilidade. Uma maneira de des-
crever o culto cristão é simplesmente alistar (como faremos agora) 
essas principais estruturas e ofícios. Não precisamos entrar em gran-
des detalhes aqui, uma vez que a maior parte dos outros capítulos do 
livro o farão de forma bem mais aprofundada. 
Mesmo dentro do. Novo Testamento vemos indicações da existência 
de uma estrutura semanal do tempo. Essa estrutura foi elaborada cedo, 
em diversos calendários anuais para comemorar eventos na memória da 
comunidade cristã: a morte e ressurreição de Cristo, por exemplo, e 
atos em memória de diversos mártires locais. Posteriormente elabora-
ram-se horários diários para a oração pública e particular. A programa-
ção temporal diária, semanal e anual continuam sendocomponentes 
importantes do culto cristão; a sua utilização será estudada no capítulo 
2. Mas, tendo em vista nosso objetivo imediato, já podemos dizer que o 
j3ulto cristão é um tipo de culto que se baseia fortemente na estruturação 
do tempo para cumprir seus objetivos. 
Da mesma forma como julgaram necessário estruturar o tempo, os 
cristãos sempre acharam conveniente organizar o espaço para abrigar 
B possibilitar seu culto. Embora diversas formas tenham sido experi-
mentadas ao longo dos séculos e em diferentes culturas, as exigências 
em termos de espaço e mobiliário também têm sido notavelmente con-
sistentes. A elas nos dedicaremos no capítulo 3. 
' Antigo e contínuo é o uso de um pequeno número de tipos básicos de 
ofícios. Em primeiro lugar estão os ofícios de oração pública diária. 
Eles podem tomar várias formas (como veremos no capítulo 4), mas a 
função de oração e louvor faz deles um componente característico do 
culto cristão. 
Outro tipo de ofício tem seu foco na leitura e pregação da Escritura, 
sendo por isso muitas vezes denominado ' l iturgia da palavra". É conhe-
cido como o culto dominical protestante habitual; também é a primeira 
parte da eucaristia ou ceia do Senhor. Examinaremos as formas deste 
tipo básico de ofício no capítulo 5. Ele constitui um tipo constante, que 
muitos cristãos identificariam como sua experiência primordial do que 
é culto cristão. 
Praticamente toda comunidade cristã tem meios de distinguir entre 
as pessoas que fazem parte dela e as estranhas. Em termos de culto, 
isto ocorre em várias cerimônias de iniciação cristã. O batismo é o mais 
amplamente conhecido desses ritos, porém a catequese, confirmação, 
primeira comunhão e várias formas de renovação, afirmação ou 
reafirmação do compromisso batismal também são partes importantes 
do processo ritual. Nos últimos anos a maioria das denominações cris-
tãs teve que repensar sua teologia e prática para o preparo de um 
cristão, conforme veremos no capítulo 7. 
Desde os tempos do Novo Testamento temos testemunho de cristãos 
reunindo-se para celebrar o que Paulo chama de "ceia do Senhor" (1 Co 
11.20). Para muitos cristãos esta é a forma arquetípica do culto cristão. 
Somente uma pequena minoria evita celebrá-la em formas exteriores. 
Em muitas igrejas ela é uma experiência semanal ou mesmo diária. O 
capítulo 8 se ocupará das formas e do significado da ceia do Senhor. 
Finalmente, existe uma variedade de ritos pastorais comuns, sob 
uma ou outra forma, a quase todas as comunidades cristãs cultuantes. 
Alguns deles assinalam etapas na jornada da vida que podemos ou não 
repetir: ofícios de perdão e reconciliação, ou ofícios de cura e bênção 
para os doentes e moribundos. Outros são ritos de passagem como 
casamentos, ordenações, profissão religiosa ou funerais. Muitos desses 
ritos pastorais são ofícios ocasionais celebrados apenas quando a oca-
sião assim exige. Muitas etapas e experiências da vida são comuns a 
todas as pessoas, sejam elas cristãs ou não. Ofícios ocasionais para 
assinalar essas jornadas ou passagens encontraram lugar permanente 
no culto cristão. Exploraremos esses ritos pastorais no capítulo 9. 
Obviamente, essas sete estruturas e ofícios básicos não cobrem todas 
as possibilidades do culto cristão, mas descrevem efetivamente a vasta 
maioria de casos em que esse culto ocorre. Podem-se acrescentar a elas 
diversos encontros para oração, concertos sacros, reavivamentos, novenas 
e uma ampla gama de devoções. Mas na maior parte do cristianismo 
todos estes elementos são claramente subsidiários em relação aos sete 
mencionados e são até certo ponto dispensáveis. Conseqüentemente, 
nossa exposição neste livro se ocupará sobretudo das sete estruturas e 
ofícios básicos, mencionando ocasionalmente outras possibilidades. 
Assim, nossa primeira resposta para a pergunta: "Que é culto cris-
tão?" é simplesmente relacionar e descrever as formas básicas que ele 
assume e dizer que estas são as que melhor o definem. Mas precisamos 
investigar também outras abordagens. 
Definições de Culto Cristão 
Nossa intenção ao examinar as várias maneiras como diferentes 
pensadores cristãos falam sobre o culto cristão não é fazer um estudo 
comparativo, mas estimular a reflexão. A melhor maneira de se enten-
der o significado de qualquer termo é observá-lo em uso, ao invés de dar 
uma simples definição. Portanto, daremos uma olhada por sobre os 
ombros de pensadores protestantes, ortodoxos e católicos para ver 
como usam o termo. Nenhum dos seus variados usos do termo exclui 
outros. Freqüentemente eles se sobrepõem, mas cada uso acrescenta 
novas percepções e dimensões, complementando assim o resto. Este 
esforço de dizer o que queremos dar a entender e de dar a entender o que 
dizemos é um esforço contínuo, sujeito a revisão à medida que nossa 
compreensão do culto cristão amadurece e se aprofunda. 
O professor Paul W. Hoon deu uma grande contribuição para os 
estudos litúrgicos em seu importante livro The Integrity of Worship, 
publicado em 1971. Escrevendo a partir da tradição metodista, Hoon 
preocupa-se com "discernimento teológico bem como sensibilidade para 
culturas". Do princípio ao fim ele enfatiza o centro cristológico do culto 
cristão, o qual "por definição é cristológico, e a análise do significado 
do culto também precisa ser fundamentalmente cristológica" 1. Tal culto 
é profundamente encarnacional por ser governado por todo o evento de 
Jesus Cristo. Q-culto-cristão está vinculado diretamente aos eventos da 
história da salvação. Cada evento nesse culto está ligado diretamente 
ao tempo e à história enquanto cria pontes para eles e os traz para 
dentro do nosso presente. O "núcleo do culto", diz Hoon, "é Deus agindo 
para dar sua vida ao ser humano e para levar o ser humano a participar 
dessa vida". Por isso, tudo que fazemos como indivíduos ou como igreja 
é afetado pelo culto. A vida cristã, afirma Hoon, é uma vida litúrgica. 
Hoon sustenta que "o culto cristão é a auto-revelação de Deus em 
Jesus Cristo e a resposta do ser humano", ou uma ação dupla: a ação de 
"Deus para com a alma humana em Jesus Cristo e a ação responsiva do 
ser humano através de Jesus Cristo". Por meio de sua palavra, Deus 
"revela e comunica seu próprio ser ao ser humano". As palavras-chave 
na compreensão de Hoon a respeito do culto cristão parecem ser "reve-
lação" e "resposta". No centro de ambas está Jesus Cristo, que revela 
Deus a nós e por meio do qual damos a nossa resposta. Trata-se de uma 
relação recíproca: Deus toma a iniciativa dirigindo-se a nós por meio de 
Jesus Cristo e nós respondemos por meio de Jesus Cristo, usando uma 
variedade de emoções, palavras e ações. 
O pensamento de Peter Brunner, teólogo luterano que lecionou por 
muitos anos na Universidade de Heidelberg, é paralelo ao de Hoon em 
muitos aspectos, porém ele se expressa em termos bastante diferentes 
em sua importante obra Worship in the Name of Jesus. Brunner desfruta 
da clara vantagem de usar o termo alemão para designar o culto, 
Gottesdienst, que tem tanto a conotação de serviço de Deus aos seres 
humanos quanto a de serviço dos seres humanos a Deus. Brunner apro-
veita essa ambigüidade e fala da "dualidade" do culto. O cerne do livro 
consiste em dois capítulos intitulados "Culto como serviço de Deus à 
comunidade" e "Culto como serviço da comunidade perante Deus". Nes-
ta dualidade vemos similaridades com os conceitos de revelação e respos-
ta de Hoon, porém mais uma vez é necessário cautela, uma vez que Deus 
é atuante em ambas. Do início ao fim, é Deus sozinho que torna o culto 
possível: "A dádiva de Deus evoca a entrega humana a Deus."2 
A autodoação de Deus ocorre tanto em eventos históricos passados 
quanto na atual "realidade-palavra do evento" no qual até mesmo a obra 
humana da proclamação é, a rigor, ação de Deus. O mesmo se aplica aos 
sacramentos, nosquais, por meio das nossas ações, é Deus que atua. 
Brunner cita Lutero, que declara, a respeito do culto, "que nele nenhu-
ma outra coisa aconteça exceto que nosso amado Senhor ele próprio 
fale a nós por meio de sua santa palavra e que nós, por outro lado, 
falemos com ele por meio de oração e canto de louvor". Os seres huma-
nos respondem aos atos divinos de revelação falando a Deus pela ora-
ção e pelos hinos "como ato da nova obediência conferida pelo Espírito 
Santo". A oração, diz Brunner, "é a permissão que Deus dá a Seus filhos 
de juntar suas vozes à discussão das Suas questões". Assim sendo, a 
dualidade do culto, para Brunner, é encoberta por um foco único, que é 
a atividade de Deus tanto em se nos autodoar quanto em instigar nossa 
resposta às suas dádivas. 
Como nossos outros pensadores, o professor Jean-Jacques von Allmen 
afirma a base cristológica do culto cristão em seu importante livro O 
Culto Cristão: Teologia e Prática. Escrevendo dentro da tradição refor-
mada, este ex-professor da Universidade de Neuchâtel na Suíça defende 
vigorosamente a compreensão do culto cristão como a recapitulação 
daquilo que Deus já fez. O culto, diz ele, "resume e confirma sempre de 
novo a história da salvação cujo ponto culminante se encontra na inter-
venção encarnada do Cristo. Nesse resumo e confirmação reiterados, o 
Cristo continua sua obra salvadora por meio do Espírito Santo" 3. Tal 
culto está estreitamente ligado à crônica bíblica dos eventos salvíficos. 
Ele proporciona uma síntese renovada do que Deus fez e uma antecipa-
ção renovada do que ainda virá a ser. 
A descrição de von Allmen acerca do culto da igreja apresenta 
outros aspectos importantes. Q culto é a "epifania da igreja", a qual, 
visto que resume a história da salvação, capacita a igreja a "tornar-se 
ela mesma, tomar consciência de si mesma e se confessar entidade 
específica". A igreja ganha sua identidade no culto na medida em que 
sua verdadeira natureza é tornada manifesta e ela é levada a confessar 
sua própria essência. Porém o mundo também é profundamente afeta-
do pelo culto cristão. O culto é ao mesmo tempo ameaça de juízo e 
promessa de esperança para o próprio mundo, mesmo que a sociedade 
secular professe indiferença em relação àquilo que os cristãos fazem 
quando se reúnem. O culto cristão contesta a justiça humana e aponta 
para o dia em que todas as conquistas e fracassos serão julgados, 
oferecendo, porém, esperança e promessa pela afirmação de que, em 
última análise, tudo está nas mãos de Deus. Para von Allmen, o culto 
cristão tem três dimensões-chave: recapitulação, epifania e juízo. 
Escrevendo a partir da tradição anglo-católica, Evelyn Underhill pu-
blicou seu clássico estudo Worship em 1936. Ela expressou uma série 
de concepções de que já tratamos, apresentando, porém, algumas per-
cepções distintas. Seu livro principia com as palavras: "O culto, em 
todos os seus graus e tipos, é a resposta da criatura ao Eterno." O ritual 
p~eTò~qual se expressa todo culto público emerge, diz ela, "como uma 
emoção religiosa estilizada". O culto se caracteriza pela "concepção do 
cultuante a respeito de Deus e sua relação com Deus". O culto cristão se 
distingue por ser "sempre condicionado pela crença cristã; e particular-
mente pela crença sobre a natureza e a ação de Deus, resumida nos 
grandes dogmas da trindade e da encarnação". Outra característica do 
culto cristão é seu "caráter profundamente social e orgânico", o que 
significa que ele nunca é um empreendimento solitário. 
Longe de ser culto em geral, "o culto cristão", declara ela, "é uma 
ação sobrenatural, uma vida sobrenatural" implicando "uma resposta 
bem definida a uma revelação bem definida". O culto cristão tem um 
caráter concreto, pois somente por meio do "movimento do Deus perma-
nente em direção a sua criatura é dado o incentivo para o mais profun-
do culto do ser humano e é feito o apelo para seu amor sacrificai (...) 
Oração e (...) ação são maneiras pelas quais ele responde a essa mani-
festação da Palavra." 4 
Idéias um tanto semelhantes são expressas a partir da perspectiva 
ortodoxa pelo falecido professor Georg Florovsky: "O culto cristão é a 
resposta dos seres humanos ao chamado divino, aos 'prodígios' de 
Deus, cuhiiinandono ato redentor de Cristo," 5 Florovsky faz questão de 
enfatizar a natureza comunitária desta resposta ao chamado de Deus: 
"A existência cristã é essencialmente comunitária; ser cristão significa 
estar na comunidade, na igreja." É nesta comunidade que Deus atua no 
culto, tanto quanto os próprios cultuadores. Como resposta à obra de 
Deus tanto no passado quanto em nosso meio, "o culto cristão é primor-
dial e essencialmente um ato de louvor e adoração, que também implica 
grato reconhecimento pelo amor abrangente e bondade redentora de 
Deus" 6. 
Essas idéias são reforçadas por outro teólogo ortodoxo, _Niko.s_A.. 
Nissiotis, que enfatiza a presença e as ações da trindade no culto. 
Declara ele: "O culto não é primordialmente iniciativa do ser humano, 
mas ato redentor de Deus em Cristo por meio do seu Espírito." 7 Da 
mesma forma que Brunner, Nissiotis enfatiza a "absoluta prioridade de 
Deus e seu ato", que os seres humanos somente podem reconhecer. Pelo 
poder do Espírito Santo, a igreja como corpo de Cristo pode oferecer o 
culto que é agradável como ato tanto proveniente da trindade quanto 
direcionado para ela. 
Em círculos católicos romanos tem sido comum descrever o culto 
como "a glorificação de Deus e a santificação da humanidade". Esta 
expressão provém de um motu próprio clássico de 1903 sobre música 
na igreja, de autoria do papa Pio X, no qual ele falou do culto como 
sendo para "a glória de Deus e a santificação e edificação dos fiéis" 8. O 
papa Pio XII repetiu esta expressão em sua encíclica de 1947 sobre o 
culto, intitulada Mediator Dei. A mesma definição aparece com fre-
qüência na Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Vaticano II, de 
1963, que "em mais de 20 passagens corrige a definição anterior de 
liturgia e fala primeiro da santificação do ser humano e então da 
glorificação de Deus" 9. Esta inversão de ordem lança a insistente per-
gunta: o que tem precedência, a glorificação de Deus ou tornar santas as 
pessoas? Muitos dos debates sobre o culto em anos recentes têm girado 
em torno dessa questão, que é particularmente pertinente para os músi-
cos de igreja. 
Deveria o culto ser a oferta dos nossos melhores talentos e artes a 
Deus, mesmo que em formas inusitadas ou mesmo incompreensíveis 
para as pessoas? Ou deveria, antes, articular-se em linguagem e estilos 
familiares de modo que o significado seja captado por todos, embora o 
resultado seja artisticamente menos impressionante? Felizmente essas 
alternativas são falsas. Glorificação e santificação formam uma unida-
de. Ireneu nos diz que a glória de Deus é um ser humano plenamente 
vivo. Nada glorifica a Deus mais do que um ser humano tornado santo; 
nada tem maior probabilidade de tornar santa uma pessoa do que o 
desejo de glorificar a Deus. Tanto a glorificação de Deus quanto a 
santificação das pessoas caracterizam o culto cristão. Tensões aparen-
tes entre elas são superficiais. O uso que Hoon faz dos conceitos de 
revelação e resposta lança luz sobre isto: é preciso abordar as pessoas 
em termos que elas possam compreender, e elas precisam expressar 
seu culto em formas que tenham integridade. Tanto a abordabilidade 
quanto a autenticidade fazem parte do culto. A lém disso, pessoas artis-
ticamente ingênuas muitas vezes criaram arte elevada pela sinceridade 
de sua expressão. 
Outra maneira de se falar sobre o culto cristão tornou-se comum em 
anos recentes. Trata-se da tendência a descrever o culto cristão como "o 
mistério pascal". Boa parte da popularidade deste termo se deve aos 
escritos de Odo Casei, O.S.B., monge beneditino alemão falecido em 
1948. As raízes desse termosão tão antigas quanto a igreja. O mistério 
pascal é o Cristo ressurreto presente e ativo em nosso culto. "Mistério" 
neste sentido é a auto-revelação divina daquilo que ultrapassa o enten-
dimento humano, a revelação do até então oculto. O elemento "pascal" é 
o ato redentor central de Cristo em sua vida, ministério, sofrimento, 
morte, ressurreição e ascensão. Podemos falar do mistério pascal como 
a comunidade cristã compartilhando os atos redentores de Cristo ao 
celebrar culto. 
Casei discorre sobre a maneira em que os cristãos vivem, por meio do 
culto, "nossa própria história sagrada". Quando a igreja comemora os 
eventos da história da salvação, "o próprio Cristo está presente e age 
por meio da igreja, sua ecclesia, enquanto ela age com ele" 1 0 . Assim, 
esses mesmos atos de Cristo voltam a tornar-se presentes com todo o 
seu poder para salvar. O que Cristo realizou no passado volta a ser 
concedido à pessoa que presta culto, para que o experimente e aproprie 
no tempo atual. É uma forma de viver com o Senhor. A igreja apresenta 
o que Cristo realizou por meio da nova representação desses eventos 
pela comunidade cultuante. A pessoa participante do culto pode assim 
voltar a experienciá-los para sua própria salvação. 
Cada uma dessas diversas definições é apenas uma estação no trajeto 
do/a próprio/a leitor/a rumo a uma compreensão pessoal do culto cristão. 
É preciso ficar aberto para descobrir outras definições e chegar a uma 
compreensão mais profunda das mesmas, à medida que se continua a 
fazer experiências e refletir sobre o que define o culto cristão. 
O Linguajar Cristão sobre o Culto 
Outramaneira útil de esclarecer o que queremos dizer com "culto 
cristão" 6 verificar""algumas palâvras-chave que a comunidade cristã 
escolheu para falar sobre seu culto. Muitas vezes essas palavras eram 
de origem secular, mas foram escolhidas como o meio menos inadequa-
do de expressar o que a comunidade reunida experimentava no culto. 
Há uma rica gama dessas palavras em uso no passado e na atualida-
de. Cada palavra e cada idioma acrescentam nuanças de significado que 
complementam os outros. Um rápido apanhado dos termos mais ampla-
mente usados com relação ao culto em diversas línguas ocidentais pode 
mostrar as realidades que estão sendo expressas. 
Já nos deparamos com uma palavra importante, o termo alemão 
GoÉüesdiensíwTrata-se de uma palavra da qual a língua inglesa poderia 
ter inveja. Para reproduzi-la, é necessário um punhado de palavras do 
vernáculo: "o serviço de Deus e nosso serviço para Deus". O equivalen-
te a "Deus" (Gott) pode-se discernir, porém menos familiar é dienst. 
Pessoas viajadas a reconhecerão como a palavra que identifica postos 
de gasolina em terras germânicas. Serviço é o equivalente mais aproxi-
mado, e é interessante que também em inglês esta palavra é usada 
tanto para referir-se a serviço no sentido de culto quanto a postos de 
gasolina. "Serviço" significa algo feito para outros, não importa se 
estamos falando de serviço doméstico, serviço municipal de água e 
esgoto ou serviço social. Ele reflete o trabalho prestado ao público, 
mesmo que geralmente a troco de ganho particular. Em última análise 
ele vem do termo latino servus, um escravo que era obrigado a servir 
outras pessoas. O termo oficio^ do latim officium, serviço ou tarefa, 
também é usado para designar um serviço de culto. GaUQsdienstrsSler. 
te um Deus que "eavaziourse a si mesme-e assumiu a-eondição de servn". 
(Fp 2.7), bem como nosso serviço para tal Deus. 
É pequena a distância entre este conceito e aquele expresso pelo 
nosso termo moderno liturgia. Com demasiada freqüência confundido 
com elementos cerimoniais, "liturgia", assim como "serviço", é de ori-
gem secular. Provém do termo grego leitourgía, composto de palavras 
que designam trabalho (ergorí) e povo (laós). Na Grécia antiga a liturgia 
era um trabalho público, algo executado em prol da cidade ou do 
Estado. Seu sentido equivalia a pagar impostos, embora a liturgia pu-
desse implicar tanto serviço doado quanto tributos. Paulo fala das 
autoridades romanas literalmente como "liturgos [leitourgoi] de Deus" 
(Rm 13.16), e de si próprio como "um liturgo [leitourgòn] de Cristo 
Jesus para os gentios" (Rm 15.16, tradução literal). 
Liturgia é, então, um trabalho executado pelas pessoas em benefício 
de outras. Em outras palavras, trata-se da quintessência do sacerdócio 
de todos os crentes compartilhado por toda a comunidade sacerdotal 
dos cristãos. Denominar "litúrgico" um ofício é indicar que ele foi 
concebido de modo que todas as pessoas que participam do culto to-
mem parte ativa na oferta conjunta do seu culto. Isto poderia se aplicar 
tanto a um culto quacre quanto a uma missa católica romana, contanto 
que a comunidade participasse plenamente num ou noutro. Mas não 
poderia descrever um culto no qual a comunidade fosse meramente 
uma platéia passiva. Nas igrejas ortodoxas orientais, o termo "liturgia" 
é usado no sentido específico de eucaristia, porém os cristãos ociden-
tais usam a qualificação "litúrgico" para designar todas as formas de 
culto público de natureza participativa. 
O conceito de serviço, então, é fundamental para entender o culto. Um 
conceito um tanto diferente se apresenta por trás do termo comum ao 
latim e às línguas românicas que é culto. No inglês, cult tende a sugerir 
algo bizarro ou um modismo, mas em línguas como o francês e o 
italiano ele tem uma função respeitada. Sua origem é o termo latino 
colere, termo agrícola que significa "cultivar". Tanto o francês le culte 
quanto o italiano il culto preservam esta palavra latina como o termo 
usual para designar o culto. É um termo rico, muito mais rico do que a 
palavra inglesa worship, uma vez que capta o caráter mútuo da respon-
sabilidade entre o agricultor e sua terra ou animais. Se não dou ração e 
água para as minhas galinhas, sei que não haverá ovos; a menos que eu 
tire o inço da minha horta, não haverá verdura. É uma relação de 
dependência mútua, um engajamento vitalício com o cuidado e o atendi-
mento à terra e aos animais, relação esta que quase se torna parte da 
essência do agricultor, particularmente daqueles cujas famílias cultiva-
ram a mesma terra geração após geração. Trata-se de uma relação de 
dar e receber, certamente não em medida igual, mas pela vinculação 
recíproca. Infelizmente a língua inglesa não faz prontamente a conexão 
óbvia entre "cultivar" e "culto" que encontramos nas línguas românicas. 
Às vezes encontramos conteúdos mais ricos nas palavras de outras 
línguas, como domenica no italiano (dia do Senhor, domingo), Pasqua 
(Páscoa) ou crisma, do que em seus equivalentes ingleses. 
O termo inglês worship também tem raízes seculares. Ele vem do 
termo do inglês antigo weorthscipe - literalmente weorth ("worthy" [= 
"digno"]) e -scipe ("-ship" [-sufixo: "dade"]) -, significando a atribuição 
de valor ou respeito a alguém. Ele era e continua sendo usado como 
forma de tratamento para vários prefeitos de cidades importantes na 
Inglaterra. O ofício matrimonial da Igreja da Inglaterra contém desde 
1549 aquele maravilhoso voto: "With my body I thee worship". O senti-
do neste último caso está em respeitar ou apreciar outro ser com o 
próprio corpo. Infelizmente semelhante franqueza nos perturba, e o 
termo desapareceu dos ofícios matrimoniais americanos. Outros vocá-
bulos do inglês como revere (reverenciar), venerate (venerar) e adore 
(adorar) derivam-se em última análise de termos latinos que designam 
medo, amor e oração. 
O Novo Testamento usa diversos termos para referir-se ao culto, 
sendo que a maioria deles também tem outros significados. Um dos 
mais comuns é latreía, muitas vezes traduzido para o inglês por service 
ou worship [ou "culto", em português]. Em Rm 9.4 e Hb 9.1 e 9.6 esse 
vocábulo refere-se ao culto judeu no templo, ou pode significar qualquer 
obrigaçãoreligiosa, como em Jo 16.2. Em Rm 12.1 ele costuma ser 
traduzido simplesmente por "worship", "culto", tendo significado seme-
lhante em Fp 3.3. 
Uma percepção fascinante aparece no termo proskyneln, que tem a 
conotação física explícita de se prostrar em deferência ou submissão. 
Na narrativa da tentação (Mt 4.10; Lc 4.8), Jesus diz a Satã: "Está 
escrito: 'Ao Senhor teu Deus adorarás [proskynéseis] e só a ele presta-
rás culto [latreúseis]''." Numa famosa passagem (Jo 4.23), Jesus diz à 
samaritana que chegou o tempo em que os verdadeiros "adoradores 
adorarão o Pai em espírito e verdade". Sob várias formas proskyneln é 
usado repetidas vezes ao longo desta passagem. Numa passagem me-
nos conhecida (Ap 5.9), os 24 anciãos "se prostraram e adoraram" 
(prosekynesan). Este verbo sublinha a realidade corpórea do culto. 
Dois termos interessantes, thysía e prosphorá, são ambos traduzidos 
por "sacrifício" ou "oferenda". Thysía é um termo importante no Novo 
Testamento e nos primeiros pais da igreja, embora seja utilizado para 
designar tanto o culto pagão, por exemplo "sacrifícios a demônios" (1 Co 
10.20), quanto o culto cristão, como em "um sacrifício v ivo" (Rm 12.1) ou 
"sacrifício de louvor" (Hb 13.15). Prosphorá é literalmente o ato de ofere-
cer ou levar diante de. Trata-se de um termo predileto em 1 Clemente, 
quer referindo-se à oferta de Isaque por Abraão, quer àquelas do clero ou 
de Cristo, "sumo sacerdote das nossas oferendas" (36.1). Hebreus 10.10 
fala da "oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas". 
Ambas as palavras desempenham um papel significativo, embora contro-
verso, no desenvolvimento da teologia eucarística cristã. 
Termo bem menos proeminente na literatura neotestamentária é 
threskeía, que significa "culto" ou "ofício religioso" (como em At 26.5; 
Cl 2.18 e Tg 1.26). Sébein significa "prestar culto" (em Mt 15.9; Mc 7.7; 
At 18.3; 19.27). Em Atos, outro uso deste verbo designa os tementes a 
Deus, gentios que freqüentam o culto da sinagoga (13.50; 16.14; 17.4,17; 
e 18.7). Outro termo do Novo Testamento apresenta usos importantes 
na descrição do culto. Homologein tem uma variedade de significados, 
como confessar pecados (1 Jo 1.9), "se confessarmos nossos pecados", 
declarar ou professar publicamente (Rm 10.9), "se confessares com tua 
boca que Jesus é Senhor", ou louvar a Deus (Hb 13.15), "o tributo dos 
lábios que reconhecem o seu nome". 
Esses termos de outras l ínguas podem expandir a imagem 
unidimensional do termo "culto". Todos merecem ser ponderados para 
perceber o que outros experimentaram em diversos tempos e lugares. 
Alguns termos do vernáculo ligados ao culto precisam de certa elucidação. 
Precisamos fazer uma distinção clara entre dois tipos de culto: o 
culto em comum e devoções pessoais. O aspecto mais claro do culto em 
comuin_é_gjje_s^Jraía_d^_culto ofertado pela comunidade reunida, a 
assembléia cristã. Dificilmente se pode exagerar a importância do reu-
nir-se. Por vezes o termo judaico "sinagoga" (reunir-se) também foi 
usado para referir-se à assembléia cristã (Tg 2.2), porém o termo princi-
pal para designar a assembléia cristã é a igreja, a ekklesía, aqueles 
chamados para fora do mundo. Este termo, com a acepção de "assem-
bléia", "congregar", "reunir", "encontrar-se" ou "ajuntar-se", é usado 
repetidamente ao longo do Novo Testamento para designar a igreja 
local ou universal. Um dos aspectos mais facilmente esquecidos do 
culto em comum é que ele começa com a reunião de cristãos espalhados 
em um lugar para formar a igreja em culto. Geralmente encaramos o ato 
de reunir-se como mera necessidade mecânica, mas ele é em si mesmo 
parte importante do culto em comum. Reunimo-nos para encontrar-nos 
com Deus bem como com nossos próximos. 
As devoções pessoais, por sua vez, geralmente, mas nem sempre, 
ocorrem em separado da presença física do restante do corpo de 
Cristo. De forma alguma isto quer dizer que não estejam ligadas ao 
culto de outros cristãos. Efetivamente, tanto as devoções pessoais 
quanto o culto em comum são plenamente comunitários, uma vez que 
ambos compartilham do culto da comunidade universal do corpo de 
Cristo. Porém o indivíduo que pratica devoções pessoais pode deter-
minar seu próprio conteúdo e ritmo, mesmo ao seguir uma estrutura 
amplamente usada. Em contraposição a isso, para que o culto em 
comum seja possível, é preciso haver consenso sobre estrutura, pala-
vras e ações, caso contrário o caos seria a conseqüência. Tais regras 
fundamentais não são necessárias em devoções onde o indivíduo esta-
belece a disciplina. ("Devoção" vem de um termo latino que designa 
"voto".) 
A relação entre culto em comum e devoções pessoais é importante. 
Embora o tema do presente livro seja o culto em comum e pouco se diga 
a respeito de devoções pessoais, deveria ficar claro que o culto em 
comum e as devoções pessoais dependem um do outro. Como nos diz 
Evelyn Underhill: 
O culto [em comum] e o culto pessoal, embora na prática um geralmente 
tenda a ter precedência sobre o outro, deveriam se completar, reforçar e 
checar mutuamente. Apenas onde isto ocorre é que efetivamente encontra-
remos a vida normal e equilibrada de devoção cristã plena em sua perfei-
ção (...) Nenhuma alma - nem mesmo o maior dos santos - pode compre-
ender plenamente tudo o que isto tem a nos revelar e exigir, ou alcançar 
com perfeição essa riqueza equilibrada de resposta. Esta resposta preci-
sa ser obra da igreja inteira, dentro da qual as almas em sua infinita 
variedade desempenham cada qual um papel e contribuem com esta 
parte para a vida total do Corpo.11 
O culto em comum precisa ser complementado pela individualidade das 
devoções pessoais; estas precisam ser equilibradas pelo culto em co-
mum,. 
Um termo amplamente usado em anos recentes é celebração. Ele é 
freqüentemente usado em contextos seculares e parece ter desenvolvido 
certa vagueza que o torna um tanto sem sentido, a não ser que seja 
utilizado com um objetivo específico, de modo que se saiba o que está 
sendo celebrado. Ao se falar da celebração da eucaristia ou celebração 
do Natal, o conteúdo pode estar claro. Desde os anos 20 o termo tem 
sido associado a noções indefinidas do tipo celebração da vida, da 
alegria, de um novo dia ou outros objetos igualmente vagos. Parece 
melhor usá-lo para descrever o culto cristão somente quando o objeto 
está claro, de modo que haja conteúdo e forma definidos. O culto cristão 
está sujeito a normas pastorais, teológicas e históricas; muitos tipos de 
celebração facilmente escapam a todas elas. 
Ritual é um termo básico para descrever o culto cristão. Trata-se de 
um termo traiçoeiro, uma vez que significa coisas diferentes para pes-
soas diferentes. Para muitos, ele com freqüência sugere vazio (daí a 
expressão "ritual vazio"), uma rotina de repetições sem sentido. Antro-
pólogos usam o termo de modo sofisticado para descrever atos repeti-
dos que são socialmente aprovados, como por exemplo uma cerimônia 
de naturalização, um potlatch *, ou costumes de sepultamento. Liturgos 
usam o termo para designar um livro de ritos. Para os católicos roma-
nos o termo "ritual" se refere ao manual de ofícios pastorais de batis-
mos, casamentos, funerais, etc. Na tradição metodista, "ritual" tem sido 
usado desde 1848 para referir-se a todas as cerimônias oficiais da 
igreja, incluindo a eucaristia e os ofícios de ordenação, além dos pasto-
rais. Ritos são as palavras efetivamente pronunciadas ou cantadas num 
culto, embora às vezes este termo seja usado para designar todos os 
aspectos de um ofício. Também pode referir-se a grupos religiosos 
como os católicos de rito oriental, cujo culto segue um padrão distinto. 
Os ritos diferem do cerimonial, que são as ações executadas num culto. 
O cerimonial geralmente está explicitado nos manuais de culto por 
meio das rubricas, isto é, instruções paraexecução do culto. Embora 
atualmente também se empreguem outras cores, as rubricas muitas 
vezes são impressas em vermelho, como o indica o nome derivado do 
termo latino que designa a cor vermelha. Outro aspecto essencial é a 
estrutura de cada ofício, chamado ordo ou ordem (de culto). Ordem, 
rito e rubricas, isto é, a estrutura, as palavras e as instruções são os 
componentes básicos da maioria dos manuais de culto. 
Diversidade na Expressão 
do Culto Cristão 
— Até aqui abordamos os fatores comuns que nos permitem falar do 
culto cristão em termos genéricos. Certamente existe unidade básica 
suficiente para podermos fazer muitas afirmações gerais e esperar que 
elas se apliquem à maioria senão a todo culto de pessoas cristãs. Entre-
tanto, precisamos equilibrar essas afirmações gerais de constância con-
siderando a diversidade cultural e histórica que também é parte impor-
tante do culto cristão. A constância, como já vimos, é enorme; a diversida-
de é igualmente impressionante. O culto cristão é uma mistura fascinan-
te de constância e diversidade. Basicamente usamos as mesmas estrutu-
ras e ofícios por dois mil anos; entretanto, pessoas do outro lado da 
cidade também as praticam, mas à sua própria maneira característica. 
Em anos recentes nos tornamos muito mais sensíveis para a importân-
cia dos fatores culturais e étnicos na compreensão do culto cristão. 
Emergiu daí uma forte preocupação com a ligação entre culto cristão e 
justiça. Em certo sentido, isto não é nada novo para alguns cristãos. Já 
desde o movimento quacre no séc. 17 tem havido uma forte consciência 
entre os membros da Sociedade dos Amigos de que o culto não deve 
marginalizar pessoa alguma por causa de sexo, cor ou mesmo servidão. 
Com efeito, a insistência quacre na igualdade humana deriva-se direta-
mente da sua compreensão do que acontece na comunidade cultuante. 
Isto significa naturalmente que mulheres e escravos deviam falar no 
culto, o que até então fora prerrogativa exclusivamente masculina. 
O teólogo anglicano do séc. 19 Frederick Denison Maurice fez avançar 
nosso pensamento sobre culto e justiça da mesma forma como o fizeram 
em nosso século Percy Dearmer, William Temple, Walter Rauschenbusch 
e Virgil Michel. Porém apenas em anos recentes é que grande número de 
cristãos passou a observar o escândalo da injustiça das formas de culto 
que marginalizam amplos segmentos de freqüentadores do culto por 
causa do gênero ou outras distinções humanas. Isto resultou em esforços 
para mudar a linguagem de textos litúrgicos e hinos que tendiam a 
tornar invisíveis as mulheres, refazer prédios que excluíam as pessoas 
portadoras de deficiência e dar acesso a novas funções àquelas pessoas 
que anteriormente não eram bem-vindas para nelas servir. 
Estreitamente ligado a isto está o esforço para levar a sério a diversi-
dade cultural e étnica existente na igreja em nível mundial. Isto implica 
respeito pelos dons e pela variedade de diferentes povos como expres-
sões legítimas do culto cristão. O termo técnico para descrever este 
processo é inculturação; sua realidade é a aceitação da diversidade 
como uma das dádivas de Deus para a humanidade e a disposição de 
incorporar essa variedade às formas de culto. A música muitas vezes é 
um dos melhores indicadores da diversidade de expressão cultural. 
Quão limitados fomos nós ao enfatizar expressões européias de louvor 
cristão, quando o mundo inteiro canta a glória de Deus? Novos hinários 
tendem a refletir cada vez mais a diversidade cultural, porém a maior 
parte deles ainda tem um longo caminho a andar até ser um espelho da 
variedade de pessoas, mesmo numa única nação. 
A preocupação com o culto e a justiça tem assumido muitas formas, 
todas com um fator comum: enfatizar o valor individual de cada cultuante. 
Naqueles lugares em que alguns são negligenciados ou relegados a um 
status inferior por causa da idade, gênero, deficiência, raça ou origem 
lingüística, estas injustiças estão sendo reconhecidas e atenuadas. Mas 
é lento o processo de conscientizar-se de práticas discriminatórias para 
então tentar encontrar as maneiras mais equitativas de reformulá-las. O 
resultado é que o culto cristão se torna mais complexo e diversificado 
na medida em que tenta refletir uma comunidade mundial. Por isso, 
mesmo permanecendo válido o que dissemos a respeito da constância, 
as expressões culturais dessa constância estão se tornando cada vez 
mais diversificadas em nosso tempo. 
Na realidade, a diversidade não é nada novo no culto cristão, embora 
talvez seja uma importante inovação encará-la de modo positivo. Mes-
mo nos primeiros textos litúrgicos enxergamos maneiras diferentes de 
afirmar as mesmas realidades, quer nos princípios teológicos, quer nas 
necessidades humanas. As diferenças são reflexos da variedade de 
povos e lugares. Os diferentes livros litúrgicos proporcionam rotas 
paralelas para cobrir a mesma jornada. Entretanto, eles variam em 
estilo e detalhes da mesma forma como pessoas diferentes em lugares 
variados diferem naqueles pontos que as tornam distintas, sua língua e 
história, por exemplo. 
Comparemos duas passagens com funções idênticas de duas das 
liturgias mais amplamente usadas no mundo. A primeira pertence á missa 
católica romana pré-Vaticano II, do prefácio comum da oração eucarística: 
Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, 
sempre e em todo lugar, Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso, 
por Cristo, Senhor nosso. 
A outra é a mesma passagem conforme consta na liturgia de São João 
Crisóstomo: 
E justo e digno celebrar-vos, bendizer-vos, dar-vos graças e adorar-vos em 
todos os lugares do vosso domínio. Porque vós sois um Deus inefável, 
incompreensível, invisível, inacessível, subsistindo eternamente, vós e o 
vosso unigénito Filho e o vosso Espírito Santo. 
Ambas dizem a mesma coisa, porém o estilo e o espírito são bastante 
diferentes. A linguagem da primeira foi comparada à retórica legal dos 
tribunais romanos, a da segunda, ao esplendor da corte dos imperado-
res bizantinos. Claramente estamos lidando com dois estilos diferentes 
de expressão. 
Os liturgistas classificaram as várias liturgias eucarísticas antigas em 
famílias litúrgicas distintas. A semelhança das famílias humanas, elas 
apresentam características comuns. Algumas talvez pertençam à família 
alexandrina, denominada segundo Marcos, uma vez que colocam as 
intercessões no meio do segmento de abertura da oração eucarística. 
Outras, como o rito romano, usam palavras características para introdu-
zir as palavras da instituição: "o qual, no dia antes de sofrer", ao passo 
que outras famílias, como aquela denominada segundo João Crisóstomo, 
preferem a expressão "na noite em que foi entregue". Assim como se 
podem reconhecer os filhos e filhas ou irmãos e irmãs de determinada 
pessoa pelas semelhanças faciais, pode-se aprender também a identificar 
a família litúrgica da qual provém determinado texto. 
Diferentes povos e lugares em torno do mundo mediterrâneo e na 
Europa setentrional deram suas próprias características lingüísticas ao 
culto cristão. Algumas características desapareceram, muitas vezes por 
causa da estereotipação que o processo de impressão tornou possível no 
séc. 16. Mas uma grande variedade ainda persiste, particularmente na 
ortodoxia oriental, e até mesmo dentro do catolicismo romano, embora 
isoladamente em lugares como Milão, na Itália, ou Toledo, na Espanha, 
ou nas igrejas católicas de rito oriental. Nesses ritos díspares temos um 
reconhecimento franco da verdadeira catolicidade, isto é, universalidade 
da igreja. Aquelas que poderiam parecer sobreviventes curiosas e singu-
lares são na verdade vozes de diferentes povos e lugares acrescentando 
sua própria contribuição característica ao louvor a Deus. 
É comum identificar sete famílias litúrgicas clássicasoriundas de 
diversas áreas do mundo antigo. Cada uma dessas famílias usa os 
mesmos ofícios de culto e os mesmos tipos de manuais de culto, mas 
cada qual mostra peculiaridades individuais de estilo e expressão. Elas 
exemplificam a diversidade dentro da constância. 
É mais fácil dar a volta ao redor do mundo mediterrâneo em sentido 
anti-horário (diagrama 1), aqui apenas para uma breve enumeração des-
sas famílias, uma vez que voltaremos a elas em maior detalhe no capítulo 
8. A primeira família encontramos centralizada em Alexandria, no Egito, 
sendo que o exemplo mais notável é conhecido como a de São Marcos. 
Hoje em dia ela tem sobreviventes coptas e etíopes no Egito e na Etiópia. 
A Síria Ocidental incluía os centros eclesiásticos de Jerusalém e Antioquia. 
Uma liturgia que provavelmente funde aquelas usadas nessas cidades 
preserva o nome tradicional de São Tiago, primeiro bispo de Jerusalém. 
Os padrões litúrgicos da Armênia preservam muitas características dos 
primeiros tempos e provavelmente derivam-se em última análise desta 
família da Síria Ocidental e a ela pertencem. A Síria Oriental ao redor de 
Edessa foi o antigo centro de uma família muito característica cujo 
principal exemplo é o rito denominado segundo os Santos Addai e Mari. 
Cesaréia, na Ásia Menor, era o domicílio de São Basilio, e a liturgia 
denominada segundo ele (com uma versão alexandrina anterior) deriva-
se do padrão sírio-ocidental. Igualmente de origem sírio-ocidental é a 
assim chamada liturgia bizantina ou liturgia de São João Crisóstomo, 
patriarca de Constantinopla no séc. 4. A partir de Constantinopla ela se 
espalhou por boa parte do Império Bizantino e da Rússia. Somente o rito 
romano, outrora conhecido como rito de São Pedro, se encontra em uso 
mais amplo. Ele é o rito dominante do catolicismo romano. Uma grande e 
misteriosa família, agálica, compreende o sétimo clã, o clã ocidental não-
romano com quatro ramos da árvore familial: o milanês ou ambrosiano, o 
moçárabe, o céltico e o galicano. 
A persistência dessa diversidade nos mundos ortodoxo e católico 
romano até os dias de hoje, apesar de ocasionais esforços de supressão 
e padronização, é um triunfo para as diferenças étnicas e nacionais. Ela 
representa a capacidade das pessoas de preservar expressões e formas 
de pensamento que lhes são caras e naturais. 
A diversidade caracterizou o culto protestante desde o início. O culto 
protestante pode ser dividido em nove tradições litúrgicas protestan-
tes. Não é tão fácil distingui-las com base nos textos de liturgias 
eucarísticas como é o caso das famílias litúrgicas católica romana e 
ortodoxa, embora certas tradições protestantes possam ser facilmente 
definidas em termos de manuais de culto. Alguns grupos, como os 
quacres, não têm liturgias. Mas podemos falar de tradições litúrgicas 
distintas, isto é, de hábitos e suposições sobre o culto herdadas e 
passadas de geração em geração. Em cada caso certas caraterísticas 
dominantes apresentam coerência suficiente, o que nos permite distin-
guir uma tradição específica 1 2. 
Não é fácil diferenciar essas tradições geograficamente, uma vez que 
elas se sobrepõem em grau considerável. Os puritanos, anglicanos e 
quacres viveram lado a lado, embora não muito alegremente, na Ingla-
terra do séc. 17. Podemos mapear as nove tradições do culto protestan-
te no diagrama 2: 
A s TRADIÇÕES PROTESTANTES DE CULTO 
Ala esquerda Centro Direita 
Séc. 16 Anabatista Reformada Anglicana Luterana 
Séc. 17 Quacre Puritana 
Séc. 18 Metodista 
Séc. 19 Fronteira 
Séc. 20 Pentecostal 
Diagrama 2 
As rupturas mais radicais com o culto medieval tardio estão indicadas 
por grupos na coluna da ala esquerda; os grupos mais conservadores 
da Reforma, em termos de preservação da continuidade, aparecem na 
ala direita; os grupos centrais são mais moderados. 
O culto luterano, originado em Wittenberg, floresceu nos países 
germânicos e escandinavos no séc. 16, expandindo-se desde então por 
todo o mundo. O culto reformado teve sua gênese na Suíça (Zurique e 
Genebra) e França (Estrasburgo), mas espalhou-se rapidamente pelos 
Países Baixos, pela França, Escócia, Hungria e Inglaterra. Os anabatistas 
começaram na Suíça por volta de 1520. O culto anglicano, como indica o 
nome, era o culto da igreja nacional da Inglaterra e representava muitos 
dos acordos políticos necessários para uma igreja nacional. A tradição 
puritana (e separatista) foi um protesto contra acordos que pareciam 
contrários à vontade de Deus revelada na Escritura. 
A tradição mais radical foi o movimento quacre do séc. 17. A silencio-
sa espera dos quacres por Deus sem auxílio de sermões, cânticos ou 
escrituras realizou uma ruptura drástica com o passado. O metodismo, 
no séc. 18, combinou muitas vertentes, tanto antigas quanto da Refor-
ma, tomando empréstimo particularmente das tradições anglicana e 
puritana. A fronteira americana fez surgir outra tradição, especialmen-
te desenvolvendo formas de culto para os que haviam perdido o contato 
com a igreja. Essa tradição da fronteira é a que predomina hoje no 
protestantismo americano e é particularmente conspícua no evangelismo 
televisivo. Os Estados Unidos também foram o berço da tradição 
pentecostal no séc. 20. Negros e mulheres estavam entre os primeiros 
líderes a fomentar esta tradição. 
A coexistência de diversas tradições permitiu às pessoas buscarem 
as formas de expressão para o culto que achassem mais naturais. Na 
Inglaterra do séc. 18, aqueles que se sentiam demasiadamente restritos 
pelo Livro de Oração Comum afluíam aos atos religiosos celebrados 
improvisadamente na tradição puritana. E aqueles que achavam esse 
culto demasiadamente clerical podiam encontrar um tipo diferente de 
liberdade entre os quacres. Outros eram atraídos pelos hinos fervoro-
sos e pela vida sacramental calorosa dos primeiros metodistas. Pessoas 
diferentes podiam encontrar um canal para suas diversidades de ex-
pressão escolhendo a tradição que lhes parecesse mais conveniente. A o 
mesmo tempo, porém, um alto grau de constância existia ao longo de 
gerações dentro de cada tradição. 
Constância nos Tipos de Manuais 
de Culto 
Boa parte do estudo do culto cristão gira em torno do estudo dos 
diversos manuais de culto usados por certas igrejas. Como as necessi-
dades são muito semelhantes, certos tipos de manuais de culto se 
repetem em muitas famílias e tradições litúrgicas diferentes. É tenta-
dor, porém perigoso, identificar o culto com livros. Livros efetivamente 
são usados para muitos cultos, talvez para a maioria deles, e por certo 
são a evidência de culto mais fácil de ser estudada e analisada. Porém 
boa parte do culto está baseada na espontaneidade, que é o elemento 
mais difícil de ser estudado. Vários tipos de culto contêm diferentes 
proporções tanto de fórmulas fixas para palavra e ação encontradas em 
livros quanto da espontaneidade que aumenta e diminui conforme atua 
o Espírito e que não está sujeita ao meio impresso. Embora pouco 
venhamos a dizer sobre a espontaneidade, ela é um ingrediente impor-
tante no culto de hoje em muitas igrejas ocidentais. 
Onde o movimento carismático atingiu as pessoas, entre os pentecostais 
clássicos, e em muitas igrejas negras, exclamações espontâneas são 
parte vital do culto. O culto quacre é a própria espontaneidade, embora 
exemplifique a necessidade de uma liberdade autodisciplinada para que 
a espontaneidade possa trazer seu melhor fruto. A espontaneidade não é 
simplesmente soltar as pessoas para a introspecção individual ou para 
falar. Trata-se de usar os diversos dons de diferentes pessoas para o 
benefício de toda a comunidade reunida. As palavras de Paulo sobre o 
culto espontâneo seguem-se imediatamente a seu capítulo sobre o amor 
(1 Co 13) e visam um único objetivo: edificar a igreja (1 Co 14.26). Os dons 
recebidos pelos cristãos são concedidospara ser compartilhados na 
comunidade, não para ser mantidos no isolamento. 
O culto cristão dos primeiros tempos parece ter implicado certa 
espontaneidade. A maior parte dessa espontaneidade havia aparente-
mente desaparecido por volta do fim do séc. 4, tendo ressurgido apenas 
em algumas tradições da Reforma. O culto pentecostal no séc. 20 
enfatizou as inesperadas possibilidades do culto espontâneo. A ausên-
cia de manuais de culto ou de folhetos impressos em algumas igrejas de 
forma alguma garante espontaneidade. Em muitas congregações, a 
repetição estabeleceu firmemente uma estrutura de culto que é seguida 
com alto grau de previsibilidade. Por outro lado, tradições que usam 
manuais de culto dão espaço cada vez maior hoje em dia a elementos de 
espontaneidade, particularmente em intercessões. 
Se falamos pouco, no presente livro, sobre a espontaneidade no culto, 
não é porque ela seja de pouca importância, mas simplesmente porque, 
sendo tão efêmero seu testemunho, torna-se exasperadoramente difícil 
relatá-la. Mas deveria estar claro que culto e manuais de culto de forma 
alguma são sinônimos. Os manuais de culto somente podem oferecer 
fórmulas-padrão. É preciso haver um equilíbrio sadio entre tais fórmu-
las e os elementos não-escritos e não-planejados que somente a esponta-
neidade pode oferecer. 
Com este alerta, vejamos o que os manuais de culto podem dizer-nos 
sobre a constância no culto cristão. Praticamente todo culto utiliza a 
Bíblia, a qual inclui ela própria muitas partes escritas para fins cultuais. 
Os quacres são uma exceção neste tocante, porém o conhecimento 
bíblico entre eles compensa a sua falta de efetiva leitura da Bíblia no 
culto público. A maioria dos protestantes e católicos romanos também 
utilizam um hinário. A lém disso, os católicos romanos e diversas tradi-
ções de culto protestantes empregam, freqüentemente ou sempre, um 
manual de culto. Em suma, um ou mais livros são considerados requisi-
tos para o culto na maior parte da cristandade. 
Os livros que examinaremos são manuais de culto. Eles dão uma 
visão vívida da constância no culto cristão. Muito embora eles variem 
entre si, os conteúdos apresentam semelhanças notáveis. Apesar de 
haver diferenças em famílias e tradições, necessidades comuns e recur-
sos semelhantes para atender a essas necessidades são perceptíveis. 
Na igreja antiga, uma variedade de livros eram usados por diversas 
pessoas que exerciam ministérios de liderança num mesmo culto. Tan-
to os leigos quanto os clérigos tinham ministérios reconhecidos para 
exercer, assim como livros adequados para capacitá-los a desempenhar 
seus papéis específicos no culto. A idéia de colocar tudo em um livro e 
este apenas nas mãos do clero é um produto medieval que pouco tem a 
seu favor. Atualmente há uma inversão da mentalidade do livro único e 
uma volta ao uso de vários livros para leitores, comentadores, líderes de 
canto, líderes de oração e sacerdotes ou pastores. Existe, afinal de 
contas, uma diversidade de papéis ministeriais na condução do culto, 
papéis que podem ser compartilhados entre várias pessoas quando 
livros adequados estão à disposição. 
A invenção da impressão criou uma situação antes desconhecida, a 
possibilidade de padronização litúrgica. Nos inícios do séc. 16 havia cerca 
de 200 variedades de missais em uso nas paróquias e ordens religiosas 
européias. Tanto os catóücos romanos quanto muitos protestantes se con-
venceram de que a uniformidade htúrgica representava um avanço. Assim 
sendo, o primeiro livro de orações anglicano de 1549 decretava que 
"doravante toda a região deverá ter apenas um uso". Efetivamente a mes-
ma coisa foi feita ao se padronizar os livros católicos romanos até a última 
vírgula, com exceções permitidas apenas para algumas poucas dioceses e 
ordens religiosas 1 3. Essa tendência de padronização em Roma reprimiu os 
manuais de culto em chinês no séc. 17 e outras adaptações à cultura nativa 
que poderiam ter fortalecido enormemente a missão na China e alterado de 
modo drástico a história posterior. 
Hoje em dia tanto os protestantes quanto os católicos romanos consi-
deram a padronização um objetivo falso. O que pode ter sido libertador 
no séc. 16 parece restritivo no séc. 20. Esforços feitos em nosso tempo 
estão tentando desfazer a clericalização medieval, que comprimiu todos 
os livros litúrgicos em documentos clericais, e a padronização do séc. 
16, que tornou todos os livros idênticos, seja para o clero, seja para os 
leigos. Uma variedade de ministérios em várias culturas exige uma 
abordagem muito mais pluralista dos livros litúrgicos. Hoje já podemos 
constatar um genuíno pluralismo litúrgico com diversas rotas alternati-
vas de autoridade equivalente disponíveis na mesma denominação reli-
giosa. Assim sendo, o número de livros litúrgicos está se proliferando e 
podemos mencionar apenas alguns típicos. 
O principal livro para a estrutura temporal é naturalmente o calen-
dário. Sua brevidade não deveria ocultar sua importância. Ele governa 
aqueles elementos que mudam com os dias ou com as épocas do ano 
eclesiástico na oração pública diária e na eucaristia, aparecendo em 
breviários e missais. A lgo semelhante é o martirológio, um livro com 
os atos dos mártires e outros santos, arranjados na seqüência do calen-
dário de acordo com o dia da sua morte. 
Os atos religiosos que giram em torno da oração pública diária 
fizeram surgir toda uma coleção de livros, especialmente aqueles elabo-
rados no culto monástico. Diversos tipos de livros permitiam original-
mente que pessoas diferentes exercessem suas funções individuais. O 
mais importante era o saltério, com salmos e cânticos arranjados de 
diversas maneiras em edições diferentes. Alguns estavam estruturados 
de acordo com a recitação semanal dos salmos, ou de acordo com 
festas, ou para cada ofício das horas. Partes musicais apareciam no 
antifonario e no hinário. Um lecionário continha, por fim, coletâneas 
das leituras da Escritura 1 4. 
Tudo isso parece complicado, e realmente era, mas cada pessoa 
precisava dominar só certas partes, encontradas no livro adequado. 
Tudo isso mudou com o tempo, muito embora não até que tivessem se 
passado muitos séculos. Então começaram a ter sucesso os esforços 
para reunir toda essa biblioteca num único livro, o breviário. O advento 
das ordens franciscana e dominicana no séc. 13, as quais precisavam 
estar constantemente a caminho, disseminou o uso do breviário, atra-
vés do qual um indivíduo isolado podia ler todos os ofícios diários. Isto 
também foi estimulado pelas necessidades da vida na cúria romana. 
Porém o breviário representa uma perda tremenda no tocante à varieda-
de de ministérios e ao culto em comunidade. A Liturgia das Horas de 
1971, que substituiu o breviário romano de 1568, procura devolver esses 
ofícios tanto ao uso leigo quanto ao clerical. 
A Reforma, por sua vez, comprimiu o breviário ainda mais nos dois 
ofícios diários de Lutero ou naqueles que constam no Livro de Oração 
Comum. Saltério, calendário, lecionário e oração matutina e vespertina 
passaram a compartilhar o espaço com outros tipos de culto. Estas 
medidas fizeram com que todos os tipos de culto se tornassem acessí-
veis à pessoa sentada no banco da igreja, porém significaram uma 
drástica redução na oferta de opções. 
A história dos livros para a iniciação e para os ritos de passagem é 
bem diferente. Originalmente muitos deles apareciam no sacramentário, 
livro do sacerdote para celebrar a eucaristia e outros sacramentos. Ele 
continha todas as orações apropriadas para várias ocasiões e épocas. O 
batismo e a confirmação, por exemplo, ocorriam na Vigília Pascal nos 
livros mais antigos, e as ordenações tendiam a acontecer durante a 
Quaresma. Ao longo do tempo, o batismo e outros ritos foram retirados 
aos poucos dos sacraméntanos, elaborando-se livros separados para

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