Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 1 – COMENTADO CONSELHO ADMINISTRATIVO David Medina da Silva – Presidente Cesar Luis de Araújo Faccioli – Vice-Presidente Fábio Roque Sbardellotto – Secretário Alexandre Lipp João – Representante do Corpo Docente DIREÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO Fábio Roque Sbardellotto COORDENADOR DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO Luis Augusto Stumpf Luz CONSELHO EDITORIAL Anizio Pires Gavião Filho Fábio Roque Sbardellotto Guilherme Tanger Jardim Luis Augusto Stumpf Luz COMENTADO PORTO ALEGRE, 2015 MAURÍCIO MARTINS REIS ORGANIZADOR © 2015 - FMP CAPA Joni Marcos Fagundes da Silva DIAGRAMAÇÃO Evangraf REVISÃO DE TEXTO Evangraf RESPONSABILIDADE TÉCNICA Patricia B. Moura Santos Fundação Escola Superior do Ministério Público Inscrição Estadual: Isento Rua Cel. Genuíno, 421 - 6º, 7º, 8º e 12º andares Porto Alegre - RS- CEP 90010-350 Fone/Fax (51) 3027-6565 E-mail: fmp@fmp.com.br Web site: www.fmp.edu.br TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). © FMP 2015 CAPA Joni Marcos Fagundes da Silva DIAGRAMAÇÃO Evangraf REVISÃO DE TEXTO Evangraf RESPONSÁBILIDADE TÉCNICA Patricia B. Moura Santos Fundação Escola Superior do Ministério Público Inscrição Estadual: Isento Rua Cel. Genuíno, 421 - 6º, 7º, 8º e 12º andares Porto Alegre - RS- CEP 90010-350 Fone/Fax (51) 3027-6565 E-mail: fmp@fmp.com.br Web site: www.fmp.edu.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP-Brasil. Catalogação na fonte Bibliotecária Responsável: Patricia B. Moura Santos – CRB 10/1914 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). E56 ENADE comentado : Direito 2012 [recurso eletrônico] / Maurício Martins Reis, organizador. – Dados eletrônicos – Porto Alegre: FMP, 2015. ??? p. Modo de acesso: <http://www.fmp.com.br/publicacoes> ISBN 978-85-69568-01-8 1. Educação Superior. 2. Questões Comentadas – Prova. 3. ENADE. I. Reis, Maurício Martins. II. Título CDU: 378 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .......................................................................... 7 QUESTÃO 2 Daniela Oliveira Pires .................................................................. 9 QUESTÃO 3 Daniel Martini ........................................................................... 14 QUESTÃO 4 Maurício Martins Reis ............................................................... 20 QUESTÃO 5 Plauto Faraco de Azevedo ......................................................... 24 QUESTÃO 6 Francisco José Borges Motta .................................................... 28 QUESTÃO 7 Daniel Martini ........................................................................... 32 QUESTÃO 8 Yuri Schneider ........................................................................... 39 QUESTÃO 9 Eduardo Carrion ........................................................................ 41 QUESTÃO 10 Mauricio Martins Reis ............................................................... 46 QUESTÃO 11 Antonio Carlos Nedel ................................................................ 50 QUESTÃO 12 Daisson Flach e Fernando Monti Chrusciel ............................... 53 QUESTÃO 13 Plínio Melgaré ........................................................................... 63 QUESTÃO 14 Mauricio Martins Reis ............................................................... 70 QUESTÃO 15 Rafael Maffini ............................................................................ 76 QUESTÃO 16 Daisson Flach e Fernando Monti Chrusciel ............................... 83 QUESTÃO 17 José Tadeu Neves Xavier ........................................................... 89 ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 6 – QUESTÃO 18 José Antonio Reich .................................................................... 95 QUESTÃO 19 Liane Maria Busnello Thomé ................................................... 99 QUESTÃO 20 Professor Luiz Fernando Calil de Freitas ................................. 103 QUESTÃO 21 Norberto Flach ........................................................................ 109 QUESTÃO 22 Cristina Pasqual ....................................................................... 113 QUESTÃO 23 Guilherme Tanger Jardim ........................................................ 116 QUESTÃO 24 Fabrícia Dreyer ........................................................................ 124 QUESTÃO 25 Eduardo Carrion ...................................................................... 127 QUESTÃO 26 José Tadeu Neves Xavier ......................................................... 130 QUESTÃO 27 Alexandre Lipp João ................................................................ 135 QUESTÃO 28 Valdete Severo ........................................................................ 139 QUESTÃO 29 Gustavo Masina ...................................................................... 143 QUESTÃO 30 José Tadeu Neves Xavier ......................................................... 148 QUESTÃO 31 Cristina Pasqual ....................................................................... 149 QUESTÃO 32 Gilberto Thums ....................................................................... 152 QUESTÃO 33 Mauro Fonseca Andrade ......................................................... 166 QUESTÃO 34 Professor Luiz Fernando Calil de Freitas ................................. 174 QUESTÃO 35 Gilberto Thums ....................................................................... 179 ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 7 – Apresentação A Faculdade de Direito da Fundação Escola Superior do Ministério Público resolve, de forma pioneira, publicar os comentários às questões de Direito encartadas no último certame do ENADE, Exame Nacional de Desempenho de Estudantes. Nossos professores se encarregaram de não apenas explicar o gaba- rito de cada uma das perguntas formuladas na prova de 2012, senão de contemplar um contexto analítico de maneira a situar o estudante no ho- rizonte do conjunto de habilidades para a resolução do problema. Bem se explica, então, o aspecto inovadorda presente obra, na medida em que cada docente, além de ter elaborado uma mais abrangente maneira de encarar o questionamento particular do exame, conferiu indicações bi- bliográficas acerca do tema correlato, com o que se corrobora a nota não apenas instrumental de nosso volume, senão a índole formativo-pedagó- gica do tomo. Mais um sinal a legitimar essa meta consiste nos comen- tários às questões de conhecimentos gerais, isto é, o livro aqui ultimado não apenas se debruçou sobre as questões estritamente de direito. Acrescenta-se que a característica mais marcante do ensino contem- porâneo tem sido a competência em desbravar a tensão de complexi- dade transdisciplinar e interpretativa com os desafios de múltiplas or- dens. E, nesse complexo contexto social que dificulta o aprimoramento das instâncias da hermenêutica, há um sopro de esperança quando os estudantes, para realizarem a sua formação universitária, submetem-se a expedientes avaliativos na esteira do ENADE. Um Brasil melhor virá à me- dida que futuros profissionais – entre eles, os juristas – não se furtem de explorar com curiosidade e reflexão os meandros das épocas vindouras. Imbuídos de atino ético e na esteira dessa salutar competitividade em ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 8 – prol dos mais engajados do ponto de vista reflexivo é que se espera um cenário bem mais otimista para os próximos anos. Espera-se, assim, que a publicação ora ensejada contribua nessa perspectiva. Porque a justiça e a democracia não se bastam com leis perfeitas, senão com cidadãos partícipes integrados no sentido de um mundo melhor. Maurício Martins Reis ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 9 – Daniela Oliveira Pires A globalização é o estágio supremo da internacionalização. O pro- cesso de intercâmbio entre países, que marcou o desenvolvimento do capitalismo desde o período mercantil dos séculos 17 e 18, expande-se com a industrialização, ganha novas bases com a grande indústria nos fins do século 19 e, agora, adquire mais intensidade, mais amplitude e novas feições. O mundo inteiro torna-se envolvido em todo tipo de troca: técnica, comercial, financeira e cultural. A produção e a informa- ção globalizadas permitem a emergência de lucro em escala mundial, buscado pelas firmas globais, que constituem o verdadeiro motor da atividade econômica. SANTOS, M. O país distorcido. São Paulo: Publifo- lha, 2002 (adaptado). No estágio atual do processo de globalização, pautado na integração dos mercados e na competitividade em escala mundial, as crises econô- micas deixaram de ser problemas locais e passaram a afligir praticamente todo o mundo. A crise recente, iniciada em 2008, é um dos exemplos mais significativos da conexão e interligação entre os países, suas econo- mias, políticas e cidadãos. Considerando esse contexto, avalie as seguintes asserções e a rela- ção proposta entre elas. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 10 – I. O processo de desregulação dos mercados financeiros norte-ame- ricano e europeu levou à formação de uma bolha de empréstimos especulativos e imobiliários, a qual, ao estourar em 2008, acarre- tou um efeito dominó de quebras nos mercados. PORQUE II. As políticas neoliberais marcam o enfraquecimento e a dissolução do poder dos Estados nacionais, bem como asseguram poder aos aglomerados financeiros que não atuam nos limites geográficos dos países de origem. A respeito dessas asserções, assinale a op- ção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifi- cativa da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposi- ção falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição ver- dadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. Comentários O sistema capitalista vivencia períodos de crises cíclicas. Como exem- plo, podemos citar a crise do final dos anos de 1970, que produziu muitas transformações nas estruturas produtivas, gerando consequências para a relação Estado-sociedade, tanto no Brasil como em outros países. Tais consequências ocorrem em sentido oposto ao da elaboração das polí- ticas sociais e do controle social sob as mesmas, pois, diferentemente dos países que vivenciaram o Estado de bem-estar social, ou o chamado ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 11 – Welfare State, o Brasil não coexistiu com essa forma estatal. Podemos afirmar que, no Brasil, vivenciamos a experiência de um Estado desen- volvimentista. Segundo Roberto Bianchetti: “Entre nós, como lembra Ga- leano, conhecemos o Estado de mal-estar social” (BIANCHETTI, 1999, p. 10). No Brasil não houve propriamente a materialização de um modelo de bem-estar social, na sua acepção, e, sim, apenas um tímido avanço no campo de algumas garantias e da legitimação de alguns direitos conside- rados como básicos, dentre eles, a saúde e a educação. Nesse sentido, afirma David Harvey: Devem-se acrescentar todos os insatisfeitos do Terceiro Mundo com um processo de modernização que prometia desenvolvimen- to, emancipação das necessidades e plena integração ao fordismo, mas que, na prática, promovia a destruição de culturas locais, mui- ta opressão e numerosas formas de domínio capitalista em troca de ganhos bastante pífios em termos de padrão de vida e de ser- viços públicos (por exemplo, no campo da saúde), a não ser para uma elite nacional muito afluente que decidira colaborar ativa- mente com o capital internacional (HARVEY, 1989, p. 133). Os primeiros sinais da crise do Estado intervencionista iniciaram na segunda metade da década de 1960 e no início da década de 1970, uma vez que essa forma estatal não conseguiu permanecer, conforme David Harvey, diante das “contradições inerentes ao capitalismo” (HARVEY, 1989, p. 135) que se materializavam, ainda segundo David Harvey, pela “rigidez dos compromissos do estado, rigidez nos mercados [...] e a fle- xível política monetária, na capacidade de imprimir moeda em qualquer montante que parecesse necessário para manter a economia estável” (1989, p. 136), pois as necessidades do sistema do capital sempre de- vem prevalecer com relação ao atendimento das necessidades básicas da população. No Brasil e na maioria dos países latino-americanos, nesse período, lutava-se contra as ditaduras militares, contra a repressão políti- ca e ideológica e a supressão de direitos e garantias constitucionais fun- damentais, ações inerentes ao período ditatorial; isso significa dizer que ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 12 – o Brasil sofreu as consequências da crise do modelo de bem-estar social, sem tê-lo sequer vivenciado. Foi com a crise do modelo de bem-estar social que o Neoliberalismo predominou enquanto orientação política, econômica e social, fazendo com que o Estado passasse por um processo de reconfiguração do seu papel, em todas as esferas e com relação às suas próprias determinações, de caráter social, econômico e político. O Neoliberalismo teve suas primeiras ideias difundidas ainda no início do século XX; entretanto, foi apenas ao final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), período em que o Estado de bem-estar social se consoli- dava, que o pensamento neoliberal começou a se destacar, prosperando significativamente somente na década de 1970, com a crise do modelo de bem-estar social. Enquanto corrente de pensamento, o Neoliberalis- mo possui três escolas: a Escola Austríaca, a Escola de Chicago e a Escola da Virgínia, ou Public Choice1; todas essas correntes possuem em comum a necessidade de passar para o mercado, com sua lógica de competiti- vidade, as regulações do Estado, sendo que as suas decisões devem ser guiadas visando, de acordo com Reginaldo Moraes, ao “sistema de pre- ços do mercado livre; é assimque ajustam a todo o momento seus planos de produção e de consumo” (MORAES, 2001, p. 44). Uma das suas carac- terísticas é a tendência à apropriação de conceitos, pois dessa forma cria mecanismos para legitimar a sua política. Podemos citar, como exemplo, o termo descentralização. Para os neoliberais, descentralização não está associada à gestão compartilhada dos entes federados (governo, Esta- dos e municípios), passando a significar a desobrigação do Estado para 1 De acordo com Reginaldo Moraes: “O pensamento neoliberal desdobrou-se, no pós-guerra, em algumas linhas ou variantes. Três delas são mais claramente definidas, embora uma quarta, a dos ‘anarcocapitalistas’ ou minimarquistas, como Robert Nozick, devesse ser lembrada. Mas as três principais são, pela ordem das ‘datas de nascimento’: escola austríaca, liderada por Friedrich August von Hayek, o patrono de todo o pensamento neoliberal contemporâneo; escola de Chicago, perso- nificada em T. W. Schultz e Gari Becker (ligada à teoria do capital humano) e principalmente Milton Friedman (1912-), o grande homem de mídia dessa escola e a escola de Virgínia ou public choice, capitaneada por James M. Buchanan (1919-). O grande nome da corrente neoliberal é sem dúvida Friedrich August von Hayek (1899-1922). Herdeiro da chamada escola austríaca de economia, o pensamento de Hayek é um descendente das reflexões de Carl Menger (1840-1921) e da posição ardorosamente antiestatista e anti-socialista de Ludwig von Mises” (MORAES, 2001, p. 42-43). ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 13 – com as políticas sociais, repassando-as para a sociedade civil. Uma das expressões que melhor definem o Neoliberalismo é “Estado mínimo”. De acordo com Vera Peroni, “é importante frisar que o Estado é mínimo apenas para as políticas sociais. Na realidade é o Estado máximo para o capital” (PERONI, 2006, p. 14) passando para o mercado o seu campo de atuação. Dito de outra forma, o mercado se torna o agente regulador da vida em sociedade, e não mais o Estado. De acordo com José Sanfelice: “[...] O Estado passa a ser foquista nas políticas sociais e vai jogando tudo para o mercado. O Estado faz política de foco. São políticas de gerencia- mento das tensões maiores ou aquelas que exigem investimentos que o setor privado não quer fazer” (SANFELICE, 2006, p. 62). Assim, a pres- tação das necessidades básicas da população, a promoção das políticas sociais, conforme o Neoliberalismo, devem ser realizadas seguindo uma lógica que favoreça as relações de mercado, tendo como estratégia a pri- vatização das instituições públicas, passando a responsabilização para o mercado. No entanto, o poder do Estado não é dissolvido, mas sim res- significado, pois sendo esse o principal sujeito das relações econômicas, sociais e políticas mundiais, a sua influência deve prevalecer, mas redefi- nida, segundo a lógica do capitalismo financeiro. Bibliografia consultada: BIANCHETTI, Roberto G. Modelo neoliberal e políticas educacionais. São Paulo: Cortez Editora, 1999. HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1989. MORAES, Reginaldo. Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai? São Paulo: Senac, 2001. PERONI, Vera M. Vidal. Política educacional e papel do estado no Brasil dos anos 90. São Paulo: Xamã, 2003. SANFELICE, José Luis. Políticas sociais: excertos. In: DEITOS, Roberto Antonio; RODRIGUES, Rosa Maria. Estado, desenvolvimento, democracia e políticas so- ciais. Cascavel: Edunioeste, 2006. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 14 – Daniel Martini INTRODUÇÃO O debate internacional acerca da urgência da chamada “questão ambiental”, gerada sobretudo em decorrência da percepção de escas- sez e finitude dos “recursos naturais” enquanto matéria-prima para o desenvolvimento econômico, até então percebidos como inesgotáveis, trouxe consigo as bases fáticas e materiais para a formação do Direito Ambiental, inicialmente nascido no âmbito internacional e, depois, trans- posto para o direito interno dos Estados, tendo como grande desafio a construção de um Estado sustentável – ou Estado de Direito Ambiental, então levando em consideração os aspectos da necessidade de promo- ver um desenvolvimento econômico e social, observando-se, contudo, o equilíbrio ambiental para garantir para as presentes e futuras gerações o direito ao meio ambiente equilibrado, como elemento essencial à sadia qualidade de vida, à vida digna, além de perseguir um nível adequado de proteção jurídica do meio ambiente. Não há dignidade sem um piso ambiental, sem um patamar mínimo abaixo do qual não se reconhece uma vida com dignidade. O bem-estar ambiental é indispensável a uma vida digna, devendo, o Estado, garantir um mínimo existencial ecológi- co. Reconhece-se, deste modo, uma dimensão ecológica da dignidade da pessoa humana. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 15 – Para tanto, um dos pilares é a educação ambiental. Não há, deste modo, documento internacional, no âmbito do direito ambiental, que estabeleça obrigações ou objetivos aos Estados que não se refira à edu- cação ambiental. Como exemplo, a Agenda 21, criada durante a Confe- rência do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente (1992), um documento de conteúdo “soft Law”, ou seja, não vinculante aos Estados, mas uma declaração de propósitos e objetivos a serem perseguidos pelos Estados. No Brasil, a Lei nº 6938, de 31 de agosto de 1981, que dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formu- lação e aplicação, dentre outras providências, estabeleceu como um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana (art. 2º), devendo-se atender a determinados princípios, dentre os quais (inci- so X) “a educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a edu- cação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente”. Em 1988, a Constituição Federal, a primeira a sistematizar um capítu- lo sobre o meio ambiente, constitucionalizou o direito ao ambiente, es- pecialmente no artigo 225, atribuindo-lhe caráter de fundamentalidade, reconhecendo como sendo um direito fundamental de terceira geração (STF - MS nº 22164/SP; STF -MC -ADIN 3540-1), estatuindo uma norma- -matriz ou norma-princípio (caput do artigo 225), uma série de normas -instrumento (incisos do § 1º) e um conjunto de determinações parti- culares (§§ 2º a 6º). Dentre as normas-instrumento, que são, pode-se dizer, as ferramentas colocadas à disposição (ou à imposição) do Poder Público para concretização do objetivo da norma-matriz, estabelecidas no parágrafo 1º, “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambien- te” (inciso VI). ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 16 – Assim, para regulamentar tal instrumento, restou aprovada a Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999, que “Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providên- cias”. Segundo a Lei, “entendem-se por educação ambiental os proces- sos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, es- sencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade’ (art. 1º). Ainda, em seu artigo 2º, estatuiu que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo edu- cativo, em caráter formal e não formal.” A educação ambiental no ensino formal dar-se-ádesde a educação básica até a educação profissional (art. 9º), e a educação ambiental não formal se dá através de ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente (art. 13). Estabeleceu um direito à educação ambiental, definindo tarefas aos diversos atores da vida em sociedade (art. 3º): I – ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas pú- blicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação am- biental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II – às institui- ções educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III – aos órgãos integran- tes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recu- peração e melhoria do meio ambiente; IV – aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a di- mensão ambiental em sua programação; V – às empresas, entidades de ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 17 – classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efe- tivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI – à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilida- des que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a preven- ção, a identificação e a solução de problemas ambientais. Paralelamente, a Lei nº 10650, de 16 de abril de 2003, dispôs sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entida- des integrantes do Sisnama, concretizando o Princípio 10 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que propõe que se pro- picie o acesso à informação ambiental como forma de assegurar um nível adequado de conscientização ambiental e a participação da população às decisões afetas às questões ambientais. Nenhuma dúvida, pois, acerca da importância da educação ambien- tal formal e não formal como instrumento de garantia do direito fun- damental ao ambiente, como estímulo à formação de uma consciência crítica sobre os problemas ambientais, dentre outros objetivos expressos no artigo 5º da mesma Lei. ANÁLISE DA QUESTÃO A questão está assim posta: A floresta virgem é o produto de muitos milhões de anos que passa- ram desde a origem do nosso planeta. Se for abatida, pode crescer uma nova floresta, mas a continuidade é interrompida. A ruptura nos ciclos de vida natural de plantas e animais significa que a floresta nunca será aquilo que seria se as árvores não ti- vessem sido cortadas. A partir do momento em que a floresta é abatida ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 18 – ou inundada, a ligação com o passado perde-se para sempre. Trata-se de um custo que será suportado por todas as gerações que nos sucederem no planeta. É por isso que os ambientalistas têm razão quando se refe- rem ao meio natural como um “legado mundial”. Mas, e as futuras gerações? Estarão elas preocupadas com essas questões amanhã? As crianças e os jovens, como indivíduos principais das futuras gerações, têm sido, cada vez mais, estimulados a apreciar am- bientes fechados, onde podem relacionar-se com jogos de computado- res, celulares e outros equipamentos interativos virtuais, desviando sua atenção de questões ambientais e do impacto disso em vidas no futuro, apesar dos esforços em contrário realizados por alguns setores. Observe- se que, se perguntarmos a uma criança ou a um jovem se eles desejam ficar dentro dos seus quartos, com computadores e jogos eletrônicos, ou passear em uma praça, não é improvável que escolham a primeira opção. Essas posições de jovens e crianças preocupam tanto quanto o descaso com o desmatamento de florestas hoje e seus efeitos amanhã. SINGER, P. Ética prática. 2 ed. Lisboa: Gradiva, 2002, p. 292 (adaptado). É um título adequado ao texto apresentado acima: A) Computador: o legado mundial para as gerações futuras B) Uso de tecnologias pelos jovens: indiferença quanto à preservação das florestas C) Preferências atuais de lazer de jovens e crianças: preocupação dos ambientalistas D) Engajamento de crianças e jovens na preservação do legado natu- ral: uma necessidade imediata E) Redução de investimentos no setor de comércio eletrônico: prote- ção das gerações futuras ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 19 – O método pelo qual a questão foi elaborada traz a colocação do pro- blema da irrepristinabilidade dos ambientes degradados (no caso, uma floresta). Um componente (microbem ambiental) do bem ambiental (macrobem ambiental) danificado ou destruído jamais será restaurado em sua forma original. Cresce em importância, pois, a necessidade ime- diata de preservação dos “recursos naturais” originais (florestas primá- rias), havendo que se falar, nas hipóteses de responsabilidade civil por danos ambientais, da reparabilidade da degradação remanescente, ou seja, a ruína ambiental que subsista ou perdure, não obstante todos os esforços de restauração (ver, a propósito: STJ – RE 1198727-MG). Essa consciência ecológica deve surgir desde a formação da persona- lidade, desde a infância, perdurando por todo o processo evolutivo-inte- lectivo. Entretanto, dadas as conjunturas sociais e interesses econômicos que, não raras vezes, prevalecem sobre as questões de fundo, como a necessidade de preservação ambiental, as crianças são estimuladas ao consumo e às práticas consumistas, quando deveriam, ao contrário, des- de logo, receberem adequada educação ambiental para formação de va- lores ambientais. Portanto, resposta adequada à questão é a alternativa “d”: Engaja- mento de crianças e jovens na preservação do legado natural: uma ne- cessidade imediata. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DILL, Michele Amaral. Educação ambiental crítica: a forma da consciência eco- lógica. Porto Alegre: Nuria Fabris Ed., 2008. CARVALHO, Isabel Cristina Moura de; GRÜN, Mauro; TRAJBER, Rachel (orgs.). Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental. Brasília: Minis- tério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversi- dade, UNESCO, 2006. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 20 – Maurício Martins Reis É ou não ético roubar um remédio cujo preço é inacessível, a fim de salvar alguém, que, sem ele, morreria? Seria um erro pensar que, desde sempre, os homens têm as mesmas respostas para questões desse tipo. Com o passar do tempo, as sociedades mudam e também mudam os ho- mens que as compõem. Na Grécia Antiga, por exemplo, a existência de escravos era perfeitamente legítima: as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o fato de umas não terem liberdade era considerado normal. Hoje em dia, ainda que nem sempre respeitados, os Direitos Hu- manos impedem que alguém ouse defender, explicitamente, a escravi- dão como algo legítimo. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. Ética. Brasília, 2012. Disponível em: <portal.mec.gov.br>. Acesso em: 16 jul. 2012 (adaptado). Com relação a ética e cidadania, avalie as afirmações seguintes. I. Toda pessoa tem direito ao respeito de seus semelhantes, a uma vida digna, a oportunidades de realizar seus projetos, mesmo que esteja cumprindo pena de privação de liberdade, por ter cometi- do delito criminal, com trâmite transitado e julgado. II. Sem o estabelecimento de regras de conduta, não se constrói uma ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 21 – sociedade democrática, pluralistapor definição, e não se conta com referenciais para se instaurar a cidadania como valor. III. Segundo o princípio da dignidade humana, que é contrário ao preconceito, toda e qualquer pessoa é digna e merecedora de respeito, não importando, portanto, sexo, idade, cultura, raça, re- ligião, classe social, grau de instrução e orientação sexual. É correto o que se afirma em A) I, apenas. B) III, apenas. C) I e II, apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. RESPOSTA QUESTÃO 4 Há aqui desdobramentos conceituais e casuísticos exigidos pelo ava- liador em torno dos parâmetros normativos centrais da ordem consti- tucional vigente nos marcos do Estado Democrático de Direito. Por con- seguinte, as formulações indicadas se encarregam de cogitar algumas conclusões mais ou menos abrangentes acerca dos fundamentos da ética contemporânea, dos quais ressoam as características da cidadania nos dias de hoje. Os alicerces de fundamentação da Carta Constitucional de 1988 se assentam na dignidade da pessoa humana e na cidadania (artigo 1º, inci- sos II e III), ademais de o Brasil se comprometer em objetivo com a pro- moção irrestrita do bem de todos, sem preconceitos de qualquer ordem (artigo 3º, inciso IV). Qualquer pessoa é digna e merecedora de respeito pela incidência da tutela da dignidade da pessoa humana, na esteira adi- cional do princípio da igualdade ornamentado na parte inicial do caput ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 22 – do artigo 5º da Constituição brasileira (“Todos são iguais perante a lei”). Por isso, a proteção da dignidade humana, numa de suas valências primárias a serem concretizadas, vem a combater qualquer sorte de pre- conceito, tendo em vista, consoante dito, a consideração da pessoa hu- mana como merecedora e digna de consideração. Daí porque se reprova, desde a instância normativa do texto constitucional, qualquer discrimi- nação odiosa haurida, exemplificativamente, de origem, raça, sexo, cor, idade. O conceito de dignidade da pessoa humana, tomado em teoria, as- sumirá contornos bastante contundentes, tal qual se propõe na assertiva III, verdadeira portanto em sua descrição discursiva ao repudiar as práti- cas comuns preconceituosas. A dignidade se torna, então, o fundamen- to axiológico ético a justificar a supremacia argumentativa dos direitos fundamentais e dos direitos humanos nas relações sociais. Tal primazia ora se almeja espontaneamente por intermédio da assimilação cultural e educativa pelos seres humanos, ora coercitivamente através do imple- mento sancionador das normas de conduta. O referencial ético se proje- ta par e passo mediante a força prática do exemplo e da diretriz contra- fática da deontologia jurídica. Uma sociedade democrática e pluralista carece, pois, do suporte legiferante e jurisdicional encarregado de suprir normativamente – via incidência e aplicação – os indicativos contextuais de referência ética. Eis a chancela de procedência, sendo-lhe correto o conteúdo, da assertiva II. A afirmativa I é o exemplo casuístico da ética e da cidadania posto em relevo na questão. Trata-se do tratamento a ser dispensado aos indivídu- os que cumprem pena privativa de liberdade nos estabelecimentos car- cerários. Há dispositivo constitucional conexo especificamente ao fato: o artigo 5º, inciso XLIX, prevê que “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. A constrição de liberdade, embora condi- cionada ao lapso temporal de sua pena, não evita, destarte, ao preso o desempenho da cidadania, tampouco lhe acomete restrições de ordem ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 23 – qualitativa. O preso continuará merecendo respeito, vida digna e idea- lização pessoal, apenas com o condicionamento de intensidade respei- tante ao cumprimento de pena. Certamente ele, uma vez segregado da convivência normal em liberdade, não poderá aproveitar com o mesmo alcance o feixe de direitos desdobráveis da dignidade humana; todavia, não perderá em absoluto nem um deles, pois sequer a oportunidade em realizar os seus projetos poderá lhe ser retirada, senão ao máximo com- patibilizada restritivamente com o regime administrativo de execução penal (veja, por exemplo, o direito ao labor e ao estudo nas penitenci- árias). A sentença I igualmente está correta, pelo que a resposta a ser marcada é a letra “e”. Bibliografia sugerida COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. MORAES, Alexandre de; KIM, Richard Pae (orgs.). Cidadania: o novo conceito jurídico e a sua relação com os direitos fundamentais individuais e coletivos. São Paulo: Editora Atlas, 2013. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciên- cia universal. Rio de Janeiro: Editora Record, 2011. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 24 – Plauto Faraco de Azevedo A globalização é o estágio supremo da internacionalização. O pro- cesso de intercâmbio entre países, que marcou o desenvolvimento do capitalismo desde o período mercantil dos séculos 17 e 18, expande-se com a industrialização, ganha novas bases com a grande indústria nos fins do século 19 e, agora, adquire mais intensidade, mais amplitude e novas feições. O mundo inteiro torna-se envolvido em todo tipo de troca: técnica, comercial, financeira e cultural. A produção e a informação glo- balizadas permitem a emergência de lucro em escala mundial, buscado pelas firmas globais, que constituem o verdadeiro motor da atividade econômica. SANTOS, M. O país distorcido. São Paulo: Publifolha, 2002 (adaptado). No estágio atual do processo de globalização, pautado na integração dos mercados e na competitividade em escala mundial, as crises econô- micas deixaram de ser problemas locais e passaram a afligir praticamente todo o mundo. A crise recente, iniciada em 2008, é um dos exemplos mais significativos da conexão e interligação entre os países, suas econo- mias, políticas e cidadãos. Considerando esse contexto, avalie as seguintes asserções e a rela- ção proposta entre elas. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 25 – I. O processo de desregulação dos mercados financeiros norte-ame- ricano e europeu levou à formação de uma bolha de empréstimos especulativos e imobiliários, a qual, ao estourar em 2008, acarre- tou um efeito dominó de quebras nos mercados. PORQUE II. As políticas neoliberais marcam o enfraquecimento e a dissolução do poder dos Estados nacionais, bem como asseguram poder aos aglomerados financeiros que não atuam nos limites geográficos dos países de origem. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justifi- cativa da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição ver- dadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. Comentário A história mostra que o homem sempre tendeu a ocupar o máximo espaço geográfico possível, tanto quanto lhe tem permitido a tecnologia e sempre que o interesse econômico lhe tem sido conveniente. A globalização exprime essa tendência humana em configuração, profundidade e extensão inimagináveis até a sua realização contemporâ- nea. Isso se explica pelo avanço tecnológico de modo geral, especialmen- te da informática, que permite o contato simultâneo entre pessoas situa- ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 26 – das em diferentes pontos do planeta, trocando impressões, informações e realizando negócios da mais variada ordem. A globalização atual tem feição neoliberal, o que significa que seu aspecto mais destacado é o mercado, isto é, o livre jogo das forças eco- nômicas, sem a intervençãodo Estado, considerado necessariamente no- civo. Assim sendo, assegura-se a prevalência empresarial e advoga-se a necessidade de privatização dos bens estatais. Estabeleceu-se o primado incontrastável da economia sobre a polí- tica, buscando nivelar todos os interesses do ponto de vista econômico, estimulando o consumo de bens sob o comando dominante das empre- sas multinacionais, interessadas no lucro e indiferentes à diversidade cul- tural e aos problemas locais. Traço essencial da globalização neoliberal é o mercado financeiro, pelo qual passam somas incalculáveis, mediante a ação ilimitada do po- der econômico que paira sobre as fronteiras estatais, exigindo a não in- terferência do direito em suas atividades, o que o afasta de responsa- bilidade, como ocorreu com a crise financeira de 2007-2008. Coube à intervenção dos Estados, demonizados e tidos como nocivos à atividade econômico-financeira, fazer face à crise, socorrendo com trilhões de dó- lares os responsáveis pela grande farra da globalização financeira. Em suma, querendo-se compreender a globalização, há que se ter em mente que é um fenômeno complexo, não podendo ser considerada tão só do ponto de vista econômico, separando e desconhecendo os de- mais aspectos que a compõem. É mister ultrapassar o aspecto neoliberal para que a tecnologia, o comércio e a indústria não ignorem a existência humana e o meio ambiente, cujo respeito é indispensável para a sobre- vivência. Ainda discorda-se da afirmativa inicial da questão 05, pois a globa- lização não é o estágio supremo da internacionalização; é, na verdade, um estágio contingente, precário, que privilegia interesses econômicos ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 27 – financeiros em detrimento dos valores fraternidade, solidariedade e dig- nidade humana. A parte II da questão 05 apresenta erro, uma vez que não há dis- solução do poder dos Estados nacionais, e sim seu enfraquecimento, e os conglomerados financeiros atuam não só dentro de seus países de origem, como, simultaneamente, nos demais países, em escala universal. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 28 – Francisco José Borges Motta O anúncio feito pelo Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear (CERN) de que havia encontrado sinais de uma partícula que pode ser o bóson de Higgs provocou furor no mundo científico. A busca pela partí- cula tem gerado descobertas importantes, mesmo antes da sua confir- mação. Algumas tecnologias utilizadas na pesquisa poderão fazer parte de nosso cotidiano em pouco tempo, a exemplo dos cristais usados nos detectores do acelerador de partículas large hadron colider (LHC), que serão utilizados em materiais de diagnóstico médico ou adaptados para a terapia contra o câncer. “Há um círculo vicioso na ciência quando se faz pesquisa”, explicou o diretor do CERN. “Estamos em busca da ciên- cia pura, sem saber a que servirá. Mas temos certeza de que tudo o que desenvolvemos para lidar com problemas inéditos será útil para algum setor.” CHADE, J. Pressão e disputa na busca do bóson. O Estado de S. Paulo, p. A22, 08/07/2012 (adaptado). Considerando o caso relatado no texto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 29 – I. É necessário que a sociedade incentive e financie estudos nas áreas de ciências básicas, mesmo que não haja perspectiva de aplicação imediata. PORQUE II. O desenvolvimento da ciência pura para a busca de soluções de seus próprios problemas pode gerar resultados de grande aplica- bilidade em diversas áreas do conhecimento. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi- ficativa da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição ver- dadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. RESPOSTA A solução da questão não passa por qualquer entendimento prévio do que seja o bóson de Higgs ou do para que serve um acelerador de partículas. O que o examinador quer verificar é se o candidato tem capa- cidade de compreensão do texto, de chegar a conclusões coerentes com as premissas apresentadas. Trata-se de uma questão de interpretação, nada mais do que isso. Veja: o texto trata de pesquisa científica e de avanços tecnológicos, especula sobre a sua possível aplicação na área da medicina, e fecha com o seguinte argumento: a busca pela chamada ciência pura seria algo bom ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 30 – em si (isto é, ainda que não saiba imediatamente a que fim servirá). E por que razão? Porque produz resultados que acabarão, fatalmente, sendo valiosos a algum domínio do conhecimento. As asserções I e II apenas explicitam esse entendimento. Diz-se ser necessário incentivar e financiar estudos nas áreas de ciências básicas, ainda que sem perspectiva de aplicação imediata de seus resultados (I), porque estes podem vir a ser importantes a outras áreas do conhecimen- to (II). A assertiva II justifica a assertiva I. Simples, pois. Indo ao mérito da reflexão proposta pela questão, percebe-se que a fala do diretor do CERN indica uma forte crença no bem e no progres- so representados pelo desenvolvimento científico (é o que se chama de mito do progresso humano, ou de ideologia desenvolvimentista). Contu- do, como o próprio texto sugere, esse desenvolvimento é acompanhado de uma contingente dificuldade de se anteverem os efeitos e repercus- sões de sua aplicação, seja porque muitas das tecnologias são desco- bertas sem um fim traçado de antemão, seja porque, mesmo quando programadas, irradiam efeitos para os mais diversos âmbitos, nem todos imaginados. É importante ter presente, porém, que as conquistas da evolução tecnocientífica são indissociáveis das inquietações que as acompanham. E, neste sentido, a apreciação ética/moral é indispensável para atender a indagações sobre a avaliação das ocorrências tecnocientíficas (sobre a eleição das bem-vindas, das repudiáveis, das que merecem ser paralisa- das ou limitadas etc.). A chamada bioética é uma das áreas do conhecimento que se ocupa desse tipo de reflexão, de índole transdisciplinar, em que se submete o avanço da tecnologia à apreciação ética, e em que se reforça a ideia de que o debate ético é necessário frente à dinâmica e ambiguidade dos efeitos da tecnociência. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 31 – Indicam-se abaixo, para servir de apoio, três referências bibliográfi- cas que perpassam a temática aqui suscitada. BARRETO, Vicente de Paulo. A ideia de pessoa humana e os limites da bioética. In: BARBOZA, Heloisa Helena; MEIRELLES, Jussara M. L. de; BARRETO, Vicente de Paulo (orgs.). Novos temas de biodireito e bioética. Rio de Janeiro, São Pau- lo: Renovar, 2003. _________; SCHIOCCHET, Taysa. Bioética: dimensões políticas e perspectivas normativas. In: COPETTI, André; STRECK, Lenio Luiz; ROCHA, Leonel Severo (orgs.). Constituição, sistemas sociais e hermenêutica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, Unisinos, 2006. p. 255. MOTTA, Katia Borges. Direitos reprodutivos, direitos humanos e bioética: re- percussões éticas e jurídicas do projeto monoparental feminino. 2007. Disser- tação (Mestrado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Univer- sidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), São Leopoldo, 2007. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 24 jul. 2015. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 32 – Daniel Martini INTRODUÇÃO O Direito Ambiental é uma disciplina que surge no âmbito da esfera internacional, ou seja, suas origens estão no campo do Direito Interna- cional, e somente depois incorporado ao direito internodos Estados. Em 1968, numa iniciativa do Conselho Econômico e Social das Nações Uni- das, aprovada pela Assembleia Geral em 3 de dezembro de 1968, atra- vés da Resolução n.º 2.398, estabeleceu-se organizar um encontro dos países para debater a proteção ao meio ambiente, o que se daria no ano de 1972. Realizada, enfim, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, entre os dias 5 e 16 de julho de 1972, em Estocolmo, na Suécia, da qual participaram 113 países e mais de 400 organizações inter e intragovernamentais, além de organizações não governamentais, sendo esta a primeira conferência mundial sobre o homem e o meio ambiente. Nela foram debatidos temas atinentes ao desenvolvimento e meio ambiente, sob os enfoques econômico, social e político. Discuti- ram-se assuntos como chuva ácida e controle da poluição do ar, numa perspectiva global e de realmente empreender ações propositivas. Os resultados desta Conferência foram a adoção de uma declaração de prin- cípios denominada Declaração das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano (Declaração de Estocolmo), além de um conjunto de recomen- ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 33 – dações denominado Plano de Ação para o Meio Ambiente. Também dela surgiu a proposta da criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), órgão subsidiário da Assembleia Geral da ONU, criado pela Resolução 2.997, de 15 de dezembro de 1972. Esta Conferência abre a primeira fase do direito internacional ambiental: fase do funcionalismo, baseada no princípio da prevenção do dano (obrigação de resultado). Nos anos oitenta, sob o patrocínio da ONU (UNEP), e dez anos após a Conferência de Estocolmo, é criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, encarregada de discutir e avaliar os resul- tados até então alcançados. Culminou por elaborar um relatório denomi- nado Our Common Future, também conhecido por Relatório Brundtland, onde se desenvolveu o conceito de desenvolvimento sustentável e que foi adotado pela maioria das legislações nacionais e também no âmbito dos documentos internacionais que dizem respeito à tutela do meio am- biente. O Relatório Brundtland não só recomendou a realização de uma con- ferência mundial para tratar dos temas ligados ao meio ambiente e de- senvolvimento, como também delineou as bases para a grande conferên- cia mundial sobre meio ambiente: a Rio 92. Desta Conferência, que abriu a segunda fase do Direito Internacional Ambiental, a fase do globalismo ambiental, fundado sob os princípios da cooperação internacional e prin- cípio da precaução, surgiram três importantes documentos, embora com forma e conteúdo não vinculantes (soft law), mas indicadores de metas a serem perseguidas pelos Estados: a Agenda 21, a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e a Declaração de Prin- cípios sobre as Florestas. Estes documentos guardam entre si uma voca- ção comum de servirem de estímulo aos Estados voltado para a adoção de políticas públicas e leis internas (de grandeza constitucional ou infra- constitucional) tendentes a acolher o seu conteúdo, bem como median- te a fixação de princípios básicos voltados a uma política ambiental de nível e alcance mundial. Os Estados, embora não vinculados, sentem-se ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 34 – constrangidos, no campo diplomático, a adotarem estes princípios nor- mativos como fundamentos e objetivos a serem perseguidos. Tornam- se, pois, obrigações de meio, deixando aos Estados a integração destas normas mediante a adoção de práticas compatíveis com os objetivos e a noção de desenvolvimento sustentável. É, precisamente, na Declaração do Rio que estão inseridos princípios que já podem ser considerados no âmbito do Direito Ambiental Interna- cional, além de fontes do direito interno dos Estados, como os princípios da precaução, do poluidor-pagador, a responsabilidade comum, porém diferenciada, e a avaliação do impacto ambiental, dentre outros. Nesta ocasião, igualmente, importantes tratados com vocação multi- lateral foram abertos à firma dos Estados, tais como a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas. Contudo, mesmo após tais importantes e históricos eventos, que marcaram o Direito Ambiental Internacional, poucos progressos se ve- rificaram em termos de mudanças de comportamentos, apesar do ine- gável avanço do direito ambiental, fazendo nascer a expressão “déficit de implementação da Conferência do Rio”, demonstrando que muitos daqueles princípios ali surgidos, especialmente o do desenvolvimento sustentável, não atingiram uma aplicação prática em muitos dos países que, solenemente, assumiram os compromissos. Assim, foram realizadas sucessivas conferências como a de Joannesburgo, em 2002, conhecida como Rio+10, e do Rio de Janeiro, em 2012, também conhecida como Rio+20, ocorrida entre os dias 13 a 22 de junho de 2012. Além dos debates “oficias”, que foram pautados pela temática do modo como estavam sendo usados os recursos naturais, surgiram outros debates paralelos, promovidos por organizações internacionais, como a Globe International, uma rede internacional de parlamentares que discute ações legislativas relacionadas ao meio ambiente, que patroci- nou a “Cúpula Mundial de Legisladores”, debatendo a necessidade da ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 35 – implementação de medidas legislativas imediatas, independentemente da transposição dos tratados internacionais ambientais, não obstante se- rem úteis. A análise deste tema nos remete à temática da transposição dos tra- tados internacionais (mecanismos de hard Law) ao direito interno, com a aprovação e ratificação, assim como a criação de normas internas espe- cificadores destas obrigações, além da necessidade de adoção imediata dos países, em matéria de proteção ambiental, dos chamados mecanis- mos não vinculantes, de soft Law. Neste sentido, a questão ora em comento. ANÁLISE DA QUESTÃO A questão que versa a temática ora estudada foi assim posta: Legisladores do mundo se comprometem a alcançar os objetivos da Rio+20 Reunidos na cidade do Rio de Janeiro, 300 parlamentares de 85 paí- ses se comprometeram a ajudar seus governantes a alcançar os objetivos estabelecidos nas conferências Rio+20 e Rio 92, assim como a utilizar a legislação para promover um crescimento mais verde e socialmente in- clusivo para todos. Após três dias de encontros na Cúpula Mundial de Le- gisladores, promovida pela GLOBE International — uma rede internacio- nal de parlamentares que discute ações legislativas em relação ao meio ambiente —, os participantes assinaram um protocolo que tem como objetivo sanar as falhas no processo da Rio 92. Em discurso durante a sessão de encerramento do evento, o vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe afirmou: “Esta Cúpula de Legisladores mostrou claramente que, apesar dos acordos globais serem úteis, não precisamos esperar. Podemos agir e avançar agora, porque as escolhas ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 36 – feitas hoje nas áreas de infraestrutura, energia e tecnologia determina- rão o futuro”. Disponível em: <www.worldbank.org/pt/news/2012/06/20>. Acesso em: 22 jul. 2012 (adaptado). O compromisso assumido pelos legisladores, explicitado no texto acima, é condizente com o fato de que A) os acordos internacionais relativos ao meio ambiente são autôno- mos, não exigindo de seus signatários a adoção de medidas inter- nas de implementação para que sejam revestidos de exigibilidade pela comunidade internacional. B) a mera assinatura de chefes de Estado em acordos internacionais não garante a implementação interna dos termos de tais acordos, sendo imprescindível, para isso, a efetiva participação do Poder Legislativo de cada país. C) as metas estabelecidas na ConferênciaRio 92 foram cumpridas devi- do à propositura de novas leis internas, incremento de verbas orça- mentárias destinadas ao meio ambiente e monitoramento da imple- mentação da agenda do Rio pelos respectivos governos signatários. D) a atuação dos parlamentos dos países signatários de acordos in- ternacionais restringe-se aos mandatos de seus respectivos go- vernos, não havendo relação de causalidade entre o compromisso de participação legislativa e o alcance dos objetivos definidos em tais convenções. E) a Lei de Mudança Climática aprovada recentemente no México não impacta o alcance de resultados dos compromissos assumi- dos por aquele país de reduzir as emissões de gases do efeito es- tufa, de evitar o desmatamento e de se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 37 – Ora, a questão propõe a análise do fato de que os acordos interna- cionais não se bastam por si sós. Eles dependem, fundamentalmente, de duas coisas, para surtirem o efeito esperado. Em primeiro lugar, a necessidade de ratificação, que é, segundo Fran- cisco Rezek, o ato unilateral com que a pessoa jurídica de direito interna- cional, signatária de um tratado, exprime definitivamente, no plano in- ternacional, sua vontade de obrigar-se. Essa ratificação tem sua forma e competência definidas na ordem constitucional de cada Estado. Segundo a Constituição brasileira (1988), compete privativamente ao presidente da República (art. 84) celebrar tratados, convenções e atos internacio- nais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional (inciso VIII), sendo da competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49) resolver definiti- vamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional (I). Desse modo, não pode o presidente da República manifestar o consentimento definitivo sem o abono do Congresso Nacional, que, ainda assim, não o obriga à ratificação. A matéria deverá ser discutida e votada na Câma- ra e no Senado, e, em sendo aprovada, emite-se em decreto legislativo, que representa, unicamente, a aprovação do Congresso Nacional. Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o tratado volta para o Poder Executi- vo para que seja ratificado. Com a ratificação do presidente da República, o tratado internacional deverá ser promulgado internamente através de um decreto de execução presidencial. Em segundo lugar, dependem da edição de normas internas para transposição das obrigações assumidas. Este um papel fundamental dos legisladores: a edição de leis que especificam a transposição das obriga- ções assumidas pelo Estado no âmbito internacional e seu devido cum- primento no âmbito interno. Na esfera do Direito Ambiental, esse papel do legislador é deveras destacado, já que, por característica própria, o Direito Ambiental de cada Estado nasce justamente pela transposição das obrigações internacionais, advindas do Direito Ambiental Interna- ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 38 – cional, ao direito interno. Vale dizer, como regra, os Estados não editam leis restritivas quanto ao uso dos recursos naturais por vontade própria, mas por “imposição” externa. Ademais, as políticas setoriais derivam de prioridades resultantes de consensos globais, com eles devendo compa- tibilizar-se. Desse modo, a questão discute o papel dos legisladores nos acor- dos internacionais, concluindo-se, de acordo com a alternativa “b”, que “a mera assinatura de chefes de Estado em acordos internacionais não garante a implementação interna dos termos de tais acordos, sendo imprescindível, para isso, a efetiva participação do Poder Legislativo de cada país”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: OLIVEIRA, Rafael Santos de. Direito ambiental internacional: o papel da soft law em sua efetivação. Ijuí: Editora Unijuí, 2007. REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 12. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010. SILVA, Solange Teles da. O direito ambiental internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 39 – Yuri Schneider Taxa de rotatividade por setores de atividade econômica: 2007-2009 A tabela acima apresenta a taxa de rotatividade no mercado formal brasileiro, entre 2007 e 2009. Com relação a esse mercado, sabe-se que setores como o da construção civil e o da agricultura têm baixa partici- pação no total de vínculos trabalhistas e que os setores de comércio e serviços concentram a maior parte das ofertas. A taxa média nacional ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 40 – é a taxa média de rotatividade brasileira no período, excluídos transfe- rências, aposentadorias, falecimentos e desligamentos voluntários. Com base nesses dados, avalie as afirmações seguintes. I. A taxa média nacional é de, aproximadamente, 36%. II. O setor de comércio e o de serviços, cujas taxas de rotatividade estão acima da taxa média nacional, têm ativa importância na taxa de rotatividade, em razão do volume de vínculos trabalhistas por eles estabelecidos. III. As taxas anuais de rotatividade da indústria de transformação são superiores à taxa média nacional. IV. A construção civil é o setor que apresenta a maior taxa de rotativi- dade no mercado formal brasileiro, no período considerado. É correto apenas o que se afirma em A) I e II. B) I e III. C) III e IV. D) I, II e IV. E) II, III e IV. Questão de fácil resolução pelo candidato, sendo basicamente ne- cessário um simples raciocínio lógico e confrontação entre as assertivas e a tabela apresentada, onde se pode constatar que as afirmações I, II e IV são realmente as corretas, estando estas em acordo com a tabela apresentada. Já a assertiva III afirma premissa equivocada quanto ao ano de 2007. A questão não exige conhecimento jurídico, mas sim de língua portu- guesa, interpretação de texto e raciocínio lógico. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 41 – Eduardo Carrion O caráter especial dos diplomas internacionais sobre direitos huma- nos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico brasileiro: eles estão abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, dessa forma, torna inaplicável a legislação infra- constitucional com eles conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. (...) A prisão civil do depositário infiel não mais se compatibili- za com os valores supremos assegurados pelo Estado Constitucional, que não está mais voltado para si mesmo, mas compartilha com as demais entidades soberanas, em contextos internacionais e supranacionais, o dever de efetiva proteção dos direitos humanos. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE n.º 349.703-1/RS. Relator: Min. Gilmar Mendes. Julgamento em: 03/12/2008, DJe de 05/06/2009 (adaptado). No que se refere à aplicação dos dispositivos dos tratados internacio- nais no direito interno, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. I. A recepção da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica – pelo ordenamento jurídico brasileiro acarretou impedimento legal à prisão civil do depositário infiel. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 42 – PORQUE II. A previsão constitucional para prisão civil do depositário infiel foi revogada por força do status normativo supralegal dos tratados interna- cionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi- ficativa da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa,e a II é uma proposição ver- dadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. A questão revela alguma complexidade porque envolve uma evolu- ção relativamente recente do entendimento do STF sobre a matéria, bem como uma reforma constitucional. O § 2° do artigo 5º da Constituição dispõe que: “Os direitos e ga- rantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados interna- cionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Parte da doutrina passou então a entender que os tratados internacionais sobre direitos humanos “em que a República Federativa do Brasil seja parte” teriam automaticamente status constitucional, pelo menos aqueles que viessem a ser recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro a partir de então, não tendo sido este, entretanto, o entendimento do STF. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 43 – A Emenda Constitucional n° 45, de 08/12/2004, acrescentou o pa- rágrafo 3º ao artigo 5° da Constituição: “Os tratados e convenções inter- nacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Ou seja, apenas os tratados internacionais sobre direitos humanos que fossem aprovados pelo mesmo quórum qualificado de aprovação pre- visto para as emendas constitucionais (artigo 60, § 2°) passariam a ter status constitucional, os demais tratados internacionais sobre direitos humanos mantendo, conforme transcrição acima na questão, status su- pralegal, embora infraconstitucional. Lembre-se que os tratados interna- cionais em geral, salvo aqueles sobre direitos humanos, mantém status apenas legal. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, Pacto de San José de Costa Rica, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 27, de 1992, e pro- mulgada pelo Decreto n° 678, de 1992, recepcionada, portanto, pelo or- denamento jurídico brasileiro, dispõe em seu artigo 7°, 7, que: “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimple- mento de obrigação alimentar”. Por sua vez, a Constituição, em seu arti- go 5°, LXVII, preceitua que “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”. Pelo exposto, a asserção II (“A previsão constitucional para prisão civil do depositário infiel foi revogada por força do status normativo su- pralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil”) está incorreta porque, entre outras coisas, significaria uma que- bra na hierarquia das normas. Lembre-se que apenas os tratados inter- nacionais sobre direitos humanos que forem aprovados nos termos do § 3° do artigo 5° da Constituição “serão equivalentes às emendas consti- tucionais”, o que não foi o caso da Convenção Americana sobre Direitos ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 44 – Humanos, Pacto de San José de Consta Rica, que mantém, portanto, um status supralegal, embora infraconstitucional. Por sua vez, a asserção I (“A recepção da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de San José da Costa Rica – pelo ordenamento jurídico brasileiro acarretou impedimento legal à prisão civil do depositá- rio infiel”) foi o entendimento do STF sobre a matéria. Há desdobramen- tos com relação a esse entendimento que escapam, porém, aos objeti- vos destas rápidas observações. De qualquer maneira, veja-se a seguinte passagem na obra de Alexandre de Moraes, indicada na bibliografia de apoio e de aprofundamento: A Corte decidiu, em relação à vedação da prisão civil do depositá- rio infiel, que “a circunstância de o Brasil haver subscrito o Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívidas ao descumprimento inescusável de prestação alimentícia (art. 7°, 7), conduz à inexistência de balizas visando à eficácia do que pre- visto no art. 5°, LXVII, da CF”; concluindo, que “com a introdução do aludido Pacto no ordenamento jurídico nacional, restaram der- rogadas as normas estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel”. Dessa forma, o STF manteve a supremacia das normas constitucio- nais sobre o referido Pacto, porém inclinou-se pela interpretação da revogação das normas infraconstitucionais que disciplinavam a referida prisão civil, tendo inclusive, revogado sua Súmula 619 do STF (“A prisão do depositário judicial pode ser decretada no pró- prio processo em que se constituiu o encargo, independentemente da propositura de ação de depósito”). Assim e finalmente, a opção correta seria a de letra C: “A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa”. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 45 – Bibliografia de apoio e de aprofundamento: FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação consti- tucional. São Paulo: Editora Atlas, 2013. SILVA, Jose Afonso da. Comentário contextual à constituição. São Paulo: Ma- lheiros Editores, 2014. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 46 – Mauricio Martins Reis A Constituição brasileira de 1988 reconheceu o direito dos remanes- centes das comunidades de quilombos à propriedade definitiva das ter- ras que ocupam, devendo o Estado emitir os respectivos títulos (Art. 68, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Para dar efetividade ao texto constitucional, foi editado o Decreto nº 4.887, de 20 de novembro, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras quilombolas. Importante notar que o referido Decreto é objeto de controle da constitucionalida- de perante o Supremo Tribunal Federal desde 2004, sem julgamento do mérito. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade, ADI nº 3.239. Relator Min. Cezar Peluso. Acerca do processo de reconhecimento e titulação das terras quilom- bolas, avalie as afirmações a seguir. I. Consideram-se comunidades dos quilombos os grupos étnico-ra- ciais, segundo critério de autoatribuição, com trajetória históri- ca própria, dotados de relações territoriais específicas, com pre- sunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 47 – II. Cabe ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (In- cra) regulamentar os procedimentos administrativos necessários à titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comuni- dades dos quilombos. III. A caracterização dos remanescentes das comunidades dos qui- lombos deve ser atestada mediante autodefinição da própria co- munidade e deve ser levada a registro no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do Ministério da Cultura. IV. É responsabilidade exclusiva da União a identificação, o reconhe- cimento, a delimitação, a demarcação e a titulação das terras ocu- padas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. É correto apenas o que se afirma em a) I e II. b) I e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) II, III e IV. RESPOSTA QUESTÃO 10 A aparência da indagação leva a crer – quase em desprestígio ao sis- temático objetivo do exame em aferir as competências interpretativas do candidato em face de problemas jurídicos – a estrita dependência do acerto da questão em vista do conhecimento prévio da legislação ora indicada, ou seja, o teor positivo do Decreto presidencial n. 4.887/03. Bastaria, pois, conectar as afirmativas em simplório comparativo com o direito legislado naquela norma para constatar quais delas se mostramconformes aos respectivos conteúdos. Apesar de referida corrigenda os- tensiva – o apontar direto de um sinalagma oficial reproduzido pelo cri- ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 48 – tério legislativo – repercutir inconteste o gabarito erigido pelo avaliador do certame, sói apontar para uma estratégia hermenêutica a partir do próprio campo de possibilidades assertivas delineado pela pergunta. Antes disso, contudo, mister afigurar os dispositivos que esmiúçam o deslinde da controvérsia. Melhor dizendo, bastaria apontar para um único preceito do diploma legal invocado, pois ele já se mostra capaz de desvelar, mediante analítica lógica a ser utilizada internamente no con- frontar de coerência das afirmativas (em paralelo às combinatórias das respostas possíveis), a correta asserção. Deduz-se do artigo 3º do Decre- to presidencial competir “ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, a identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sem prejuízo da competência concorrente dos Estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios”. Como num castelo de cartas, caem diretamente por terra as afirmações III e IV: no que toca à caracterização dos remanes- centes dessas comunidades, nem se trata de uma caracterização pura e simples a se bastar com a autoafirmação daquele grupo de pessoas, sen- do vertida tão logo em registro, tampouco perante o específico Instituto referido do Ministério da Cultura (equívocos inscritos na afirmativa III), tampouco a competência quanto ao processo de reconhecimento e titu- lação das terras quilombolas passa exclusivamente pela União, eis a pre- visão de concorrência perante os demais entes federativos (lapso citado pela afirmativa IV). Sendo ambas, III e IV, errôneas, sobra logicamente a alternativa “a” como a correta, eis que uma e/ou outra (III e IV) resultam citadas nas demais alternativas (“b”, “c”, “d” e “e”). Conforme dito, seria razoável supor um caminho de resolução inde- pendente do recurso à base legal cogitada. As afirmativas I e III se mos- tram contraditórias em vista do critério de consideração legalmente ad- mitido para aqueles indivíduos que pretendam demonstrar o vínculo de ancestralidade conexo às comunidades quilombolas. Parece adequado ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 49 – supor que a afirmativa I se mostra mais cautelosa, prudente e equilibrada em seus requisitos e, portanto, infensa a manipulações egoísticas bene- ficiárias, do que a exclusiva manifestação volitiva de autopertencimento digna de registro (conforme teor da afirmativa III). Nesse passo, descar- tar-se-ia a hipótese III, ficando-se com a I; por conseguinte, sobrariam as alternativas “a” e “d”, restando saber em que medida a afirmativa IV poderia ser qualificada como certa ou errada (eis que a afirmativa II se- quer careceria de avaliação, pois é comum às alternativas que sobraram). Como se trata de mandamento constitucional e, forçoso reconhecer, o próprio enunciado entrevê o dever de o Estado lato sensu conferir efe- tividade ao texto constitucional, parece-nos de induvidosa constatação que a correlata competência para concretizar administrativamente o di- reito dos quilombolas não poderia passar ao largo dos demais entes fe- derativos, como os Estados e os municípios, motivo pelo qual se mostra errônea a suposição de exclusividade ao poder central da União em fazê- -lo (afirmativa IV igualmente equivocada). Sobram, pois, como certas, as afirmações I e II, perfazendo-se o gabarito da alternativa “a”. Bibliografia sugerida CAMERINI, João Carlos Bemerguy. Os quilombos perante o STF: a emergência de uma jurisprudência dos direitos étnicos (ADIN 3.239-9). Revista Direito GV, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 157-182, jan.-jun. 2012. PERLINGERI, Pietro. Perfis do direito civil: introdução ao direito civil-constitu- cional. Trad. Maria Cristina de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 1999 SARMENTO, Daniel. Terras quilombolas e constituição: a ADI 3239 e a constitu- cionalidade do Decreto 4887/2003. Parecer elaborado a pedido da 6a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, 2008 ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 50 – Antonio Carlos Nedel A questão de número 11 traz na sua apresentação uma prosaica cena do quotidiano burguês, em que um pai, comodamente instalado em sua poltro- na, responde as indagações do filho, dividido entre elas e a leitura do jornal. No diálogo entre Calvin e seu pai, o examinador do Enade que ela- borou a questão vê a presença de temas que podem se relacionar com a filosofia do direito. Estará ele certo? Podemos dizer que sim, pois o diá- logo se movimenta no âmbito da normatividade do direito positivo, que desde sempre acompanha o ser humano como expressão ontológica da sua condição existencial. Refletindo sobre o assunto, com a proverbial sabedoria de quem orienta o logos pelos meandros da razão prudencial, Aristóteles definiu o homem como um animal político, isto é, aquele que vive na pólis, sendo o a/pólis o que está fora dela, ou um bicho que vive abaixo ou um deus que vive acima. Portanto, o homem é um ser que vive na pólis. E o que significa viver na pólis? Significa viver num mundo social ordenado por normas, isto é, regras que viabilizam a vida social. Aqui podemos vislumbrar o sentido do direito, identificado com a necessidade de ordem que vincula o ho- mem, projetada formalmente nas suas instituições positivas. ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 51 – Assim, a percepção de que vivemos sob a égide de uma ordem es- tatuída por normas, desde os tempos clássicos até os dias de hoje, con- tinua sendo a primeira intuição que todo ser humano tem do fenômeno jurídico; a intuição desse sentido ordenador também está presente nas perguntas de Calvin, nas quais se vê uma motivação crítico-questiona- dora que, parafraseando Heráclito, diremos ser consequência natural do animus dialético que move o mundo e realça o caráter histórico-cultural do direito positivo. Voltemos agora nossa atenção para as assertivas que o examinador propõe a partir do diálogo, relacionando-as com a ordem jurídica brasi- leira, sem esquecer a dimensão universal dos questionamentos. Analisando os conceitos jurídicos presentes nas perguntas e nas res- postas do diálogo, podemos concluir que a assertiva B é a correta por estar logicamente identificada com o nosso direito positivo, pois a res- posta do pai de Calvin, ao negar o término do seu mandato, constitui efetivamente questão referente à vigência da norma. Cabe ressalvar, no que concerne à refutação da assertiva A, que o problema da validade da norma jurídica no contexto do direito positivo brasileiro, derivada da concepção político-jurídica do Estado moderno- -iluminista, determina que uma norma só será jurídica e válida se assim o declarar o órgão que tem legitimidade e competência para a sua ela- boração. Portanto, para a nossa dogmática, uma norma será válida caso esteja integrada no ordenamento e logicamente conforme com os requi- sitos do ordenamento. Logo, embora o problema da validade da norma esteja presente no diálogo, trata-se de um problema específico de validade formal ou vigên- cia, que o pai de Calvin invoca como fundamento da legitimidade para a manutenção do seu status quo. Isso evidencia um entendimento lógico-formal-normativista do di- reito, que, derivado do jusracionalismo kantiano, foi reafirmado, entre ENADE COMENTADO - DIREITO 2012 – 52 – outros, pelo neokantiano Hans Kelsen, para quem dizer que uma norma é válida significa dizer que ela vigora e vige em um determinado espaço e tempo. Neste sentido, conforme determina o artigo 2º da Lei de Introdu- ção às Normas do Direito Brasileiro: “Não se destinando à
Compartilhar