Aula comparativa Maquiavel e Hobbes

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Os clássicos da política moderna
Maquiavel (1469-1527)
Hobbes (1588-1679)
Maquiavel e Hobbes: pontos em comum
Contexto histórico: renascimento e iluminismo (séc. XIV a XVIII):
Na cultura: revalorização dos ideais clássicos da antiguidade; valorização do ser humano e de sua capacidade racional; valorização do conhecimento empírico da natureza (grandes avanços da física, matemática e astronomia); individualismo.
Na política: surgimento de ideias de igualdade natural dos seres humanos; de um direito natural igualitário; ideais de liberdade individual contra o absolutismo; direito igualitário à propriedade; otimismo quanto ao progresso e à reforma; a política como uma arte humana capaz de transformar e melhorar a sociedade; separação entre religião e Estado; afirmação dos Estados nacionais como detentores da soberania; guerras civis inglesas; guerra de independência dos Estados Unidos; Revolução Francesa; revolução haitiana. 
Maquiavel e Hobbes: pontos em comum
Contexto histórico: renascimento e iluminismo (séc. XIV a XVIII):
Na economia: transição do feudalismo ao capitalismo; mercantilismo; imperialismo; colonialismo; conquista da América; grandes navegações.
Maquiavel e Hobbes: pontos em comum
Concepção de natureza humana:
“[Os homens] são ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro”. (Maquiavel, O Príncipe)
“Por outro lado, os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros (e sim, pelo contrário, um enorme desprazer), quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito”. (Hobbes, O Leviatã).
Maquiavel e Hobbes: pontos em comum
Concepção da política e do Estado:
A política é uma ciência racional e uma prática conduzida pelos seres humanos para garantir a convivência recíproca e os interesses comuns. Para Maquiavel se ela não conduz aos céus, sua ausência seria o pior dos infernos.
O Estado ou sociedade política é a única forma de garantir vida comum, unidade, estabilidade, paz, segurança e soberania. O Estado também é importante para o desenvolvimento econômico da sociedade. Portanto, sociedade sem Estado é sinônimo de anarquia (caos) e barbárie.
O Estado tem um papel educador e disciplinador da natureza humana. Não há expectativa de que possa mudar ou melhorar a essência humana, mas sim controlá-la em seus aspectos mais destrutivos, tornando possível a vida em sociedade.
Maquiavel e Hobbes: pontos em comum
Ruptura com as ideias políticas anteriores - Por quê clássicos modernos?:
Com a filosofia política antiga: ruptura com o idealismo e o reino do dever ser; ruptura com a ideia de ser humano naturalmente social; foco no indivíduo e não na sociedade; ruptura com a ligação entre moral e política e, portanto, com a ideia de que a política pode e deve melhorar o homem em sua essência.
Com a filosofia política medieval: ruptura com o método escolástico de conhecimento e maior valorização da comprovação empírica; valorização do conhecimento da natureza em geral e da natureza humana em particular; foco no indivíduo e não na sociedade; ruptura com a concepção de origem divina do poder político; separação entre política, moral e religião.
Maquiavel e Hobbes: principais diferenças
 
Maquiavel
Hobbes
Origemdo Estado
Pela força, herança ou consentimento. Mas Maquiavel está mais preocupado com o funcionamento, do que com a origem do Estado.
 
Contrato ou pacto social entre os súditos (ideia hipotética). A principal inovação de Hobbes: a ideia de Estado representativo, ou seja, sua legitimidade é assegurada por que sua origem deveu-se à vontade racional e soberana dos seres humanos.
 
Estado denaturezaedireitonatural.
Maquiavel não parte da hipótese de existência de sociedadespré-estatais. Estuda os Estados realmente existentes. A hipótese de existência de um direito natural dos indivíduos também não está presente em sua teoria. Sua análise é mais em termos de grupos e “classes”sociais (“os grandese o povo”),com interesses contraditórios. Ao defender a república, defende um equilíbrio dinâmico entre tais interesses. (p. 45- 46).
Distinção entre estado de natureza (pré-político) e estado civil (político). No estado de natureza os indivíduos têm direito a tudo e a nada, uma vez que este direito a tudo está sempre ameaçado. São totalmente livres, mas tal liberdade não tem sentido positivo, pelo contrário: guerra potencial de todos contra todos. No estado civil os indivíduos asseguram o direito à vida (principal) e a usufruir dos seus bens. Hobbes diferenciadireito, deleida natureza.
 
Maquiavel e Hobbes: principais diferenças
 
Maquiavel
Hobbes
Direito de Propriedade
Emboranão questione a existência da propriedade privada, não a defende em termos de direito natural. Considera também os conflitos de interesse existentes na sociedade entre os poderosos e o povo.
Comotodos os outros direitos a propriedade não está assegurada no estado de natureza, mas é estabelecida como direito pelo estado civil. Mas o Estado, como poder soberano, tem prerrogativa sobre a mesma em relação aos indivíduos.
Caráterdo Estado
Em períodos de caos, desordem e divisão, Estado forte (poder absoluto). O governante deve tervirtúou capacidade (combinação de astúcia e força) para agir conforme as circunstâncias (fortuna) . Em períodos de paz e estabilidade, Estado republicano (poder democrático). Maquiavel prefere, sempre que possível, o Estado republicano.
 
Estado sempre absoluto. Estado sem poder absoluto não é Estado, não é nada. Os indivíduos, no pacto originário, abriram mão de sua liberdade em troca de sua segurança. Não importa quem e quantos governem, mas como o fazem, ou seja, com poder absoluto: indivisível, supremo, inquestionável e imutável. Concentração de poderes no Executivo, que legisla, cumpre (ou faz cumprir) e pune, sem poder ser punido.
 
Maquiavel e Hobbes: principais diferenças
 
Maquiavel
Hobbes
Formas de governo
 
Principados (monarquias) e repúblicas. Maquiavel prefere a República quando possível.
 
Monarquia, aristocracia e república. Apesar de que o mais importante é o caráter absolutista do Estado, Hobbes prefere a monarquia por ser a mais adequada ao poder absoluto. Poder indivisível. O soberano é o governante.
 
Direito de resistência e revolução
Apesar de ver o caráter positivo dos conflitos na república, Maquiavel não vê como positiva a ruptura total da ordem política. Os conflitos construtivos, para ele, são aqueles que ganham uma dimensão pública e racional e podem ser expressos por meio da lei. Resistir ou questionar os governantes, quando saem da lei é legítimo, portanto, desde que por meio da própria lei.
O direito de resistência coletivo não existe na teoria de Hobbes. Tampouco considera a possibilidade de uma repactuação para a refundação do Estado. O contrato originário é único. Hobbes, no entanto, considera que o indivíduo que não mais é protegido pelo Estado, deixa de ter deveres e pode retomar e usar seus direitos de natureza contra o mesmo.
 
A democracia e a república falharam no Brasil?  
A saída é o estado forte e autoritário? 
Devemos abrir mão da liberdade e preservação dos direitos individuais?
Questões para o debate
Hobbes: 
Liberdade ou segurança? Caos ou estado absoluto?
O Estado absoluto tem que ser monárquico?
Resta algum espaço de liberdade individual no Estado absoluto de Hobbes? Debate sobre o Estado de direito. 
 
Questões para o debate