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Pé Socráticos - Livro-Texto Unidade II

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Unidade II
Unidade II
5 A TRANSIÇÃO DO MITO À RAZÃO3
O declínio do pensamento mítico na Grécia é marcado pelo advento da Filosofia, pela ascensão de 
um saber de tipo racional. Ela tem início na Mileto jônica, em princípio do século VI a.C., momento em 
que os primeiros filósofos – Tales, Anaximandro e Anaxímenes – iniciam um novo tipo de reflexão em 
relação à natureza. Esses primeiros filósofos perscrutam entender o kósmos, procuram uma cosmologia, 
uma racionalidade constitutiva do universo e não aceitam mais as cosmogonias míticas. Buscam a arkhé, 
o princípio primordial de todas as coisas, e por se preocuparem com o conhecimento do mundo natural – 
physis – ficaram também conhecidos como físicos ou fisiólogos. A transição do pensamento mítico para o 
pensamento racional filosófico foi um processo lento e gradativo e não significou o desaparecimento das 
concepções míticas, uma vez que o mito possui um caráter perene. Mas como foi possível o surgimento 
dessa busca de explicação racional para o existente, em oposição ao pensamento mítico?
Fatores como a intensificação das viagens marítimas e do comércio, o uso da moeda, a utilização 
da escrita, a fixação das leis pela escrita e, sobretudo, o nascimento das cidades‑estado contribuíram 
para a emergência de um tipo de pensamento que não apenas questiona o mito, mas também refletirá 
sobre o poder político e a organização social. Segundo Jean‑Pierre Vernant (1998), em As Origens do 
Pensamento Grego, essa transição foi propiciada pelas formas de organização social, política e econômica 
da cidade‑estado, como afirma:
O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um 
acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio 
das instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a polis 
conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde o seu 
advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII, marca um começo, 
uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens 
tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos 
gregos (VERNANT, 1998, p. 41).
O autor comprova suas afirmações realizando uma análise histórica e filosófica do pensamento e da 
organização social dos gregos, salientando a queda do poder micênico, no século XII a.C., com a invasão 
das tribos dóricas e os seus consequentes desdobramentos. Esse fato faz sucumbir a dinastia de Micenas, 
uma vez que destrói a vida social de uma realeza, que se encontrava orbitando em torno do palácio, 
que tinha ao centro um rei considerado divino. Este ocupava o cume da organização social, recebia o 
título de ánax e sua autoridade se exercia nas esferas militar, econômica e religiosa. A queda do reino 
3 Texto extraído e adaptado de: FERNANDES, V. A transição do mito à filosofia e o processo político‑formativo do 
cidadão grego. Revista Hipótese, Itapetininga, v. 2, n. 1, p. 80‑103, 2016.
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do ánax inaugura uma nova fase da civilização grega em que várias transformações sociais repercutirão 
no pensamento grego.
A queda do poder micênico, a expansão dos dórios no Peloponeso, em 
Creta, e até em Rodes, inauguram uma nova idade da civilização grega. 
A metalurgia do ferro sucede à do bronze. A incineração de cadáveres 
substitui numa larga escala a prática da inumação. A cerâmica transforma‑se 
profundamente: deixa as cenas da vida animal e vegetal por uma decoração 
geométrica (VERNANT, 1998, p. 33).
Com a queda do poder micênico e a expansão dos dórios, surgem novos valores e uma nova forma 
de organização social e de resolução dos conflitos.
Desaparecido o ánax que, pela virtude de um poder mais que humano, 
unificava e ordenava os diversos elementos do reino, novos problemas 
surgem: como a ordem pode nascer do conflito entre grupos rivais, do 
choque das prerrogativas e das funções opostas? Como uma vida comum 
pode apoiar‑se em elementos discordantes? Ou – para retomar a própria 
fórmula dos Órficos – como, no plano social, o uno pode sair do múltiplo e 
o múltiplo do uno? (VERNANT, 1998, p. 38).
Nessa nova estrutura social que vai se configurando, o palácio deixa de ser o centro da cidade e a 
praça pública vai ganhando importância. A vida social passa a ser marcada por duas entidades divinas 
opostas: Eris (Poder de conflito) e Philia (Poder de união). As ideias de concorrência e de disputa se 
unem à ideia de união e dependência social, assim, o espírito de agón, de combate organizado e sujeito 
a certas regras, manifesta‑se em vários domínios, como na guerra, na esfera religiosa e também na 
política, cujo discurso e oratória são as armas desse combate e o palco é a praça pública – a ágora.
Figura 13 – Ágora ateniense com acrópole ao fundo
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Unidade II
Na ágora, a palavra deixa de ser uma fórmula exata e fica exposta ao debate, manifesta‑se de 
forma autônoma, passando a ser tão valorizada que os gregos a transformaram numa divindade, 
Pheitó, que representa a força, a capacidade da persuasão. Não mais a palavra de ordem do rei 
divino, mas a palavra humana buscando – por meio do conflito, da discussão e da persuasão – 
um sentido e um convencimento. Ela não é mais uma forma justa, a priori, mas está exposta à 
contestação. A polêmica, a discussão e a argumentação são as regras do jogo intelectual e político 
que é praticado à luz do sol, na ágora, e tem como juiz o público e os cidadãos. Os conhecimentos 
e os conteúdos da cultura não ficam mais restritos ao palácio; são agora expostos em praça pública 
e submetidos à apreciação de todos, possuem um caráter de publicidade e passam a ser objeto de 
análise interpretação.
É nesse contexto que surge o cidadão da polis, o polítikós. “Esse quadro urbano define efetivamente 
um espaço mental; descobre um novo horizonte espiritual. Desde que se centraliza na praça pública, a 
cidade já é, no sentido pleno do termo, uma polis” (VERNANT, 1998, p. 38).
Os valores, os conhecimentos e as técnicas mentais são colocados em praça pública, expostos à 
crítica e não são mais guardados como garantia de poder. A polêmica, a discussão e a argumentação são 
as regras do jogo intelectual e político. A escrita, que foi emprestada dos fenícios e modificada, permite 
perenizar a cultura, torná‑la pública e, ao mesmo tempo, refletir os seus conteúdos. A dike (justiça) pode 
ser fixada em forma de leis e garantir sua permanência de forma comum a todos, não dependendo mais 
da arbitrariedade do monarca.
Os cidadãos considerados como “semelhantes” uns em relação aos outros é outro aspecto que 
caracteriza o universo da polis. Essa semelhança une os gregos pela philia (união, amizade) e é ela que 
garante a unidade da polis. A ideia de semelhança se converterá em igualdade no plano político, no 
conceito de isonomia, de mesma participação no poder entre os cidadãos. As leis escritas são as mesmas 
para todos cidadãos, que deveriam segui‑las e, também, participar dos tribunais e das assembleias, 
segundo Vernant (1998, p. 49):
Todos os que participam do Estado vão definir‑se como hómoioi, 
semelhantes, depois, de maneira mais abstrata, como isoi, iguais. 
Apesar de tudo o que os opõe no concreto da vida social, os cidadãos 
se concebem, no plano político, como unidades permutáveis no 
interior de um sistema cuja lei é o equilíbrio, cuja norma é a igualdade. 
Essa imagem do mundo humano encontrará no século VI sua expressãorigorosa num conceito, o de isonomia: igual participação de todos 
os cidadãos no exercício do poder. Mas antes de adquirir esse valor 
plenamente democrático e de inspirar, no plano institucional, reformas 
como as de Clístenes, o ideal de isonomia pôde traduzir ou prolongar 
aspirações comunitárias que remontam muito mais alto, até as origens 
da polis.
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O sistema político ateniense passou por várias reformas antes de atingir a isonomia referida 
anteriormente, isto é, igual participação no exercício do poder. Entre os séculos IX a VI a.C., o regime 
em Atenas foi o aristocrático, os chamados eupátridas, que significa bem nascidos ou nobres, tinham 
a posse da maior parte das terras e o governo era realizado de acordo com os seus interesses. Na outra 
ponta da sociedade estavam os muitos camponeses e artesãos pobres que poderiam ser escravizados 
por dívidas (FUNARI, 2013, p. 33).
Na medida em que os contatos e as transações comerciais cresciam, uma parte do demos, 
ou seja, da população, passou a ter ascensão econômica, em especial o grupo dos comerciantes, 
que entre os séculos VII e VI a.C. tiveram seus rendimentos ampliados. Como geralmente ocorre, 
quando uma classe ou grupo adquire poder econômico, a classe de comerciantes passa, também, 
a reivindicar maior participação no poder político. Dessa forma, surge a pressão por reformas 
políticas, que passaram a ocorrer. Em 621 a.C., o legislador Drácon foi o responsável por fixar 
leis na forma escrita, que seriam aplicáveis a todos, substituindo a simples oralidade que existia 
até então. Dada à condição extremamente severa dessas leis, o termo “draconiano” tornou‑se 
conhecido como sinônimo de medida desumana ou drástica. Posteriormente, em 594 a.C., a 
reforma do arconte ateniense Sólon,
[...] favoreceu o desenvolvimento econômico da indústria e do comércio, 
cancelou dívidas dos cidadãos pobres e acabou com o sistema de escravidão 
por endividamento, segundo o qual os atenienses pobres deviam pagar 
suas dívidas com o trabalho escravo. Sólon conferiu mais poderes à 
assembleia popular dos cidadãos (Eclésia) e vinculou os direitos políticos 
às fortunas e não mais aos privilégios de sangue ou às ligações familiares 
(FUNARI, 2013, p. 33). 
Entre os séculos VII e V a.C., Atenas sofrera várias modificações protagonizadas por legisladores, 
que buscavam resolver o conflito de interesses que se intensificava naquele momento. Começando por 
Drácon e passando por Sólon, Pisístrato e culminando com Clístenes e Péricles, a transição do poder 
aristocrático para o democrático se consolidou.
Em Atenas, esse regime político atingiu seu pleno desenvolvimento no 
tempo de Péricles, que se tornou líder dos democratas em 469 a.C. Nessa 
época, os cargos políticos ligados à redação das leis e sua aplicação 
tornaram‑se legalmente acessíveis tanto aos cidadãos ricos como aos 
pobres, e as palavras justiça e liberdade passaram a ser referenciais 
importantes no imaginário ateniense. Entre 440 e 432 a.C., Péricles 
comandou a construção de diversos edifícios monumentais na cidade 
que se tornou o centro artístico, econômico e intelectual da Grécia 
(FUNARI, 2013, p. 35).
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Figura 14 – Ágora ateniense. Discurso fúnebre de Péricles
A democracia ateniense era direta, o que significa que todos os cidadãos podiam participar das decisões 
discutidas na assembleia popular (Eclésia). Mas quem eram os considerados cidadãos nesse contexto?
Em Atenas, eram considerados cidadãos apenas os homens adultos (com 
mais de 18 anos de idade) nascidos de pai e mãe atenienses. Apenas pessoas 
com esses atributos podiam participar do governo democrático ateniense, 
o regime político do “povo soberano”. Os cidadãos tinham três direitos 
essenciais: liberdade individual, igualdade com relação aos outros cidadãos 
perante a lei e direito a falar na assembleia (FUNARI, 2013, p. 36).
A igualdade dos politikós, dos cidadãos atenienses, tem o amparo das leis. Eram cidadãos os nascidos 
em Atenas, do sexo masculino e que tivessem cumprido o serviço militar. Dessa forma, muitos ficavam 
de fora, como as mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos. Aqueles que não eram politikós 
eram considerados idiotikós (do prefixo grego idio, próprio, particular), no sentido de só se preocuparem 
consigo mesmo e não com as questões públicas. As leis, que foram paulatinamente instituídas e redigidas, 
valiam para todos os cidadãos, que, por sua vez, podiam fazer parte dos tribunais e das assembleias. 
Essas leis substituíram o uso da violência para resolver os conflitos, situação em que os fortes triunfavam 
e impunham seus interesses (VERNANT, 1988, p. 73).
Essa dessacralização do poder e do saber está relacionada ao universo e à ordem da cidade em que 
se faz presente uma racionalização da vida social. Devido às estruturas sociais e mentais, características 
da polis, cidade grega, desenvolve‑se o pensamento racional filosófico. Diante desse quadro exposto, 
pode‑se concluir, com Vernant, que as várias transformações gestadas, que culminaram com a polis 
democrática, trouxeram em seu bojo as condições para a emergência do pensamento racional filosófico, 
ou seja, que a Filosofia é filha da polis grega.
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PRÉ-SOCRÁTICOS
 Observação
Estima‑se que em 431 a.C., em Atenas, havia cerca de 310 mil habitantes. 
Desses: “172 mil cidadãos com suas famílias, 28,5 mil estrangeiros com suas 
famílias e 110 mil escravos” (FUNARI, 2013, p. 38). Calcula‑se que desse 
montante aproximadamente 13,5%, ou seja, 42 mil pessoas, eram cidadãos 
com plenos direitos.
5.1 O nascimento da Filosofia
Pode‑se afirmar que a Filosofia possui uma data e um lugar de nascimento. A magna Grécia (lugar) 
compreendia, além do território continental, várias colônias gregas, especificamente a cidade de Mileto, 
onde viveu Tales, o primeiro filósofo. Já a data de nascimento da Filosofia costuma ser estabelecida entre 
o final do século VII e início do VI a.C. (CHAUÍ, 1997, p. 37). Segundo Vernant (1990, p. 476):
Tudo começou no início do século VI a.C., na cidade grega de Mileto, 
no litoral da Ásia menor, onde os jônios estabeleceram colônias ricas e 
prósperas. No espaço de cinquenta anos sucederam‑se três homens, Tales, 
Anaximandro e Anaxímenes, cujas pesquisas são bastante próxima pela 
natureza dos problemas abordados e pela orientação espiritual para que 
os tenham considerado, desde a Antiguidade, como os formadores de uma 
única e mesma escola.
Há quem sugira uma data mais específica para o nascimento da Filosofia: 28 de maio de 585 a.C., 
data em que ocorreu um eclipse solar previsto por Tales (WEISCHEDEL, 2006, p. 19). Fato que lhe deu 
certa fama, além de ser uma demonstração inequívoca de que a razão filosófica pode compreender o 
mundo a sua volta e fazer previsões em relação aos fenômenos.
E o que propiciou que o ser humano começasse a filosofar? Platão, no Teeteto (2001), afirmou que 
a Filosofia começa com o thaumázein, o admirar‑se ou o espantar‑se diante de alguns fenômenos, 
tese reafirmada por Aristóteles (1973), em Metafísica. Pode‑se considerar que o pensamento 
mítico também identifica a manifestação do thaumázein como a mola propulsora para a busca de 
respostas, mas os efeitos produzidos no mito e na Filosofia levam a distintas elaborações, conforme 
explica Vernant (1990, p. 481):
No mito, thâuma é o maravilhoso; o efeito de assombro que ele 
provocaé o sinal da presença nele do sobrenatural. Para os milésimos, a 
estranheza de um fenômeno, em vez de impor o sentimento do divino, 
propõe‑no ao espírito em forma de problema. O insólito não fascina 
mais, ele mobiliza a inteligência. De silenciosa veneração, a admiração 
faz‑se questionamento. Interrogação.
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Enquanto para a consciência mítica a admiração produz o assombro e uma resposta sobrenatural, 
no pensamento filosófico a admiração propicia a visão de um problema e a busca de resposta racional. 
Enquanto as respostas produzidas pela consciência mítica configuram‑se como verdades advindas de 
tempos remotos, cujos conteúdos não são questionados, o pensamento filosófico caracteriza‑se pelo 
questionamento, pela investigação e argumentação racional para explicação da realidade. Destarte, 
a verdade sustentada na força da tradição não mais satisfaz os precursores da Filosofia. Embora o 
conteúdo da explicação desses primeiros filósofos tenha certa semelhança com o mito, a forma de 
explicar é diferente, ou seja, é uma maneira investigativa apoiada no logos, na razão, característica que 
os coloca em uma direção oposta ao do pensamento mítico.
Assim, o pensamento filosófico é filho da polis. O ponto de partida para a filosofia grega foram as 
poesias cosmogônicas, que explicavam o surgimento do mundo através de interpretações míticas. A 
passagem do pensamento cosmogônico para o pensamento cosmológico não se deu através de um salto 
nem substitui por completo o anterior. Foi um processo lento e gradativo no qual uma série de fatores, 
como o nascimento da cidade‑estado e a invenção da escrita, das leis escritas e da moeda, contribuiu para 
que, assim como o poder e a organização da vida social, os mitos também fossem questionados.
 Observação
Cosmologia: gr. kosmología, do gr. kósmos “lei, ordem, mundo, universo” 
+ rad. gr. ‑logía “tratado, ciência, discurso” (COSMOLOGIA, 2009).
Os aedos (poeta‑cantor) são cultores da memória que possuem a força da palavra e revelam a 
vida e a origem dos seres e do mundo. As concepções míticas são mantidas vivas pela tradição oral. 
Com a invenção e o uso da escrita, essas concepções passam a ser registradas. O rigor daquele que 
escreve é diferente do rigor daquele que fala, e as palavras, uma vez escritas, estão fixas, permitindo 
maior exame e reflexão posterior. Portanto, o uso da escrita tem uma contribuição fundamental para o 
questionamento das interpretações míticas.
Enquanto o pensamento mítico não faz objeção sobre seu conteúdo, o pensamento filosófico 
caracteriza‑se pelo questionamento, investigação e argumentação racional para a explicação da 
realidade. Embora o conteúdo da explanação desses primeiros filósofos tenha muita semelhança com o 
mito, a forma de explicar é diferente, ou seja, é uma maneira investigativa racional.
6 FILÓSOFOS PRÉ‑SOCRÁTICOS
Os primeiros filósofos viveram por volta do século VII e VI a.C. e ficaram conhecidos como pré‑socráticos. 
Essa denominação indica que eles viveram antes do filósofo Sócrates, o que não é totalmente exato, 
uma vez que não se aplica a Leucipo e Demócrito, por exemplo.
O fato é que grande parte da obra desses filósofos pré‑socráticos se perdeu no tempo, e o que chegou 
à posteridade foram fragmentos e comentários que outros filósofos fizeram sobre eles. Conforme explica 
Cavalcante (1985), na introdução do livro Os Pré‑Socráticos:
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PRÉ-SOCRÁTICOS
Os escritos desses primeiros filósofos na íntegra se perderam todos, como 
a maior parte da riquíssima literatura grega. O que sobrou deles foram 
pequenos trechos, às vezes o correspondente a uma página, às vezes 
pedaços de frases, às vezes uma palavra, inseridos em textos que séculos 
depois (IV séc. a.C. – VI séc. d.C.) se escreveram e que, alguns por acaso, se 
salvaram. Sobraram também muitas notícias sobre a vida e a doutrina deles. 
E sobretudo sobrou, podemos dizer assim, uma interpretação que logo se 
tornou definitiva, oficial, e que fixou a posição desses pensadores na história 
da filosofia: enquanto primeiros filósofos, eles começaram um discurso 
racional, que justamente por estar no início forçosamente não se desenvolveu 
em todos os planos e articulações, que ele só veio a alcançar numa época de 
maturidade, por exemplo na obra de Aristóteles, já devidamente articulada 
numa lógica, numa ética, numa física e numa metafísica. Nessa perspectiva 
de uma história da filosofia, eles ficaram numa espécie de galeria de honra, 
onde vagamente se lhes reconhecia o mérito de terem começado, um mérito 
um tanto suspeito, pois secretamente minado pela orgulhosa convicção, 
nos que o reconheciam, de um natural adiantamento, progresso, e portanto 
vantagem, superioridade dos que vieram depois deles (CAVALCANTE apud 
OS PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 1).
O problema que esses filósofos buscam responder é: qual é a arkhé, o princípio ou o fundamento das 
coisas existentes? Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo, defende que o princípio ou o fundamento 
de todas as coisas é a água. Para Anaxímenes, esse princípio é o ar. Já Demócrito defende que é o átomo. 
Heráclito diz que o princípio primordial é o devir (mudança) representado pelo fogo. Empédocles entende 
que tudo se origina da combinação dos quatro elementos básicos: ar, fogo, água e terra
Vamos conhecer as principais ideias de alguns dos pré‑socráticos.
6.1 Tales de Mileto (cerca de 625/24‑558/6 a.C.)
Figura 15 – Tales de Mileto
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Unidade II
É considerado o primeiro filósofo. Ele ficou muito conhecido pelo feito notável de prever um eclipse 
que se confirmou no dia previsto: 28 de maio de 585 a.C. Para alguns autores, essa data simboliza o 
dia do nascimento da Filosofia. Não se conhece fragmento dos escritos de Tales, mas é atribuída a ele a 
autoria de uma pergunta que ainda hoje produz muita controvérsia: qual a origem de todas as coisas? 
Do que tudo é constituído?
Para Tales, a água é o elemento primordial de todas as coisas. Tese citada por Aristóteles (1973), 
em Metafísica:
Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser água (é por isto que ele declarou que 
a terra assenta sobre água), levado sem dúvida a esta concepção observar 
que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio quente dele 
procede e dele vive (ora, aquilo donde as coisas vêm é, para todas, o seu 
princípio). Foi desta observação, portanto, que ele derivou tal concepção, 
como ainda do fato de todas as sementes terem uma natureza úmida e ser 
a água, para as coisas úmidas, o princípio de sua natureza (ARISTÓTELES, 
1973, p. 217).
Outra ideia atribuída a Tales é de que tudo está cheio de deuses, concepção também citada em 
obra de Aristóteles (1985):
E afirmam alguns que ela (a alma) está misturada com o todo. É por isso que, 
talvez, também Tales pensou que todas as coisas estão cheias de deuses [...] 
Parece também que Tales, pelo que se conta, supôs que a alma é algo que 
se move, se é que disse que a pedra (ímã) tem alma, porque move o ferro 
(ARISTÓTELES apud OS PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 8).
Platão (2001), em Teeteto, conta que Tales, um dia, caminhando e observando os astros, caiu em um 
poço e provocou risos em uma jovem trácia.
Foi o caso de Tales, Teodoro, quando observava os astros; porque olhava para o 
céu, caiu num poço. Contam que uma decidida e espirituosa rapariga da Trácia 
zombou dele, com dizer‑lhe que ele procurava conhecer o que se passava no 
céu,mas não via o que estava junto dos próprios pés (PLATÃO, 2001, 174b).
O filósofo Friedrich Nietzsche (1985) exalta Tales como o primeiro filósofo grego:
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: 
a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário 
deter‑nos nela e levá‑la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro 
lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em 
segundo lugar, porque faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro 
lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o 
pensamento: “Tudo é um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda 
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em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa 
sociedade e no‑lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude 
da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego (NIETZSCHE apud OS 
PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 10).
6.2 Anaximandro de Mileto (cerca de 610‑547 a.C.)
Figura 16 – Anaximandro de Mileto. Detalhe de Escola de Atenas, de Rafael
Anaximandro foi discípulo de Tales, porém de sua vida pessoal não há quase informações. Sabe‑se 
que foi autor de um livro que recebeu o título Sobre a Natureza, mas este se perdeu, restando apenas 
fragmentos. Diôgenes Laêrtios (2008), em Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, afirma:
Anaximandro, filho de Praxíades, nasceu em Miletos; afirmou que o princípio 
e o elemento eram o infinito, sem defini‑lo como ar ou água ou qualquer 
outra coisa. Disse também que as partes sofrem mudanças, porém o todo 
é imutável; que a Terra, esférica quanto à forma, fica no meio, ocupando 
o lugar central; que a Lua não brilha com luz própria, derivando sua 
luminosidade do Sol; além disso, o Sol é tão grande quanto a Terra e se 
compõe de fogo mais puro (LAÊRTIOS, 2008, p. 47).
Para Anaximandro, a arkhé – o princípio primordial de todas as coisas – não é um elemento conhecido 
e definido, mas, ao contrário, é o ilimitado, o ápeiron (termo grego formado por “a”, que significa sem 
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e peirar, que significa fim, limite). Logo, o ápeiron, um elemento ilimitado, é a origem de tudo que 
é limitado e particular, assim como aparece nos fragmentos de sua obra: “O ilimitado é eterno” [...] 
“O ilimitado é imortal e indissolúvel” (BORNHEIM, 2005, p. 25).
O filósofo Simplício (1985) resume algumas das principais ideias de Anaximandro:
Dentre os que afirmam que há um só princípio, móvel e ilimitado, 
Anaximandro, filho de Praxíades, de Mileto, sucessor e discípulo de Tales, 
disse que o ápeiron (ilimitado) era o princípio e o elemento das coisas 
existentes. Foi o primeiro a introduzir o termo princípio. Diz que este não 
é a água nem algum dos chamados elementos, mas alguma natureza 
diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos: 
“Donde a geração é para os seres, é para onde também a corrupção 
se gera segundo o necessário, pois concedem eles mesmos justiça 
e deferência uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do 
tempo”. Assim ele diz em termos acentuadamente poéticos. É manifesto 
que, observando a transformação recíproca dos quatro elementos, não 
achou apropriado fixar um destes como substrato, mas algo diferente, 
fora estes (SIMPLÍCIO apud OS PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 15).
A grande inovação de Anaximandro foi pensar em um elemento diferente dos elementos já 
conhecidos – como a terra, a água, o fogo ou o ar – e postular um elemento indefinido que, no entanto, 
está no fundamento de todas as coisas, o ápeiron. Esse elemento primordial é o formador das coisas, 
compõe o turbilhão cósmico que engendra o existente. Mas por que as coisas se desprenderam do 
ápeiron? Nietzsche (1985) aborda essa problemática da seguinte forma:
Anaximandro de Mileto, o primeiro escritor filosófico dos antigos, escreve 
como escreverá o filósofo típico [...] Nessa concisão lapidar, diz Anaximandro 
uma vez: “De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao 
fundo, segundo a necessidade, pois têm de pagar penitência e de ser julgadas 
por suas injustiças, conforme a ordem do tempo”. Enunciado enigmático de 
um verdadeiro pessimista, inscrição oracular sobre a pedra limiar da filosofia 
grega, como te interpretaremos? (NIETZSCHE apud OS PRÉ‑SOCRÁTICOS, 
1985, p. 17).
Para Nietzsche, o problema colocado por Anaximandro equivale a perguntar: “o que vale a vossa 
existência?”, uma vez que tudo se desprende do ápeiron e para lá retorna com a morte. Segundo Maciel 
(2003), Anaximandro extrapola o problema físico e busca um sentido metafísico para existência, ao 
conceber “[...] o drama do sofrer e do morrer como uma grande tragédia, em que a morte é a expiação 
da culpa pela separação inicial, e o tempo o grande reparador da injustiça” (MACIEL, 2003, p. 51). 
Tudo é um eterno e cíclico vir a ser.
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6.3 Anaxímenes de Mileto (cerca de 585‑528/5 a.C.)
Figura 17 – Anaxímenes de Mileto
Há poucas informações sobre a vida de Anaxímenes. Ele nasceu em Mileto, foi discípulo de 
Anaximandro e é autor de um livro intitulado Sobre a Natureza. Para Anaxímenes a arkhé é o ar, pneuma. 
Segundo Bornheim (2005):
O ar, segundo Anaxímenes, é o elemento originante de todas as coisas; 
elemento vivo, que constitui as coisas através de condensação ou 
rarefação. Assim, o fogo é ar rarefeito, e pela condensação progressiva 
formam‑se o vento, as nuvens, a água a terra e finalmente a pedra 
(BORNHEIM, 2005, p. 28).
Anaxímenes, por um lado, concorda com Anaximandro que a Natureza possui um caráter ilimitado, 
por outro lado, entende que o seu princípio primordial não tinha o mesmo caráter indefinido, mas sim 
definido: o pneuma, ar. Mas por que ele elegeu justamente o ar como elemento primordial? A seguir as 
considerações do filósofo Hegel (1985) a respeito:
Em lugar da matéria indeterminada de Anaximandro, põe ele novamente 
um elemento determinado da natureza (o absoluto numa forma real) – em 
vez da água de Tales, o ar. Ele achava, com certeza, que para a matéria era 
necessário um ser sensível; e o ar possui, ao mesmo tempo, a vantagem de 
ser o mais liberto de forma. Ele é menos corpo que a água; não o vemos, 
apenas experimentamos seu movimento. Dele tudo emana e nele tudo 
se dissolve. Ele o determinou igualmente como infinito. Diógenes Laércio 
diz que o princípio é o ar e o infinito, como se fossem dois princípios. 
Mas Simplício diz expressamente que “para Anaxímenes o ser originário foi 
uma natureza infinita e una, como para Anaximandro, só não, como para ele, 
uma natureza infinita, mas uma determinada, a saber, o ar”, que ele, porém, 
parece ter concebido como algo animado. Plutarco determina a maneira de 
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representação de Anaxímenes, que do ar (posteriores chamaram‑no éter) 
tudo se produz e nele se dissolve, mais precisamente assim: “Como nossa 
alma, que é ar, nos mantém unidos (syncratei), assim um espírito (pneuma) 
e o ar mantêm unido (periékhei) também o mundo inteiro; espírito e ar 
significam a mesma coisa” (HEGEL apud OS PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 52).
Lembrando que ar (pneuma), significa sopro vital, logo, ele é o responsável pela vida dos seres vivos 
e, por analogia, todo o universo também depende do sopro vital,que anima o existente, dessa forma, o 
ar é o elemento primordial do qual tudo emana e ao qual tudo retorna.
6.4 Pitágoras de Samos (cerca de 580/78‑497/6 a.C.)
Pitágoras não escreveu nenhum livro, e seus ensinamentos, realizados de forma oral, não foram 
registrados por seus discípulos devido a esses fatos.
Segundo Bornheim (2005), a doutrina religiosa de Pitágoras une vida ascética com a crença na 
transmigração das almas, e há três pontos que parecem pertencer de forma indubitável a sua filosofia:
1) A ideia de que o Número é o primeiro princípio; o Número e suas relações 
ou “harmonias” são os elementos de todas as coisas; o estudo do Número 
reflete‑se também no comportamento humano. 2) A forma dualista da 
teoria dos opostos, de tão largas consequências para todo o pensamento 
pré‑socrático, também pode ser atribuída a Pitágoras. 3) As descobertas de 
verdades de ordem matemática, sobretudo do famoso teorema que lhe é 
atribuído (BORNHEIM, 2005, p. 48).
Diôgenes Laêrtios (2008) relata uma passagem em que Pitágoras define um filósofo como alguém 
que busca a verdade:
Na Sucessão dos Filósofos, Sosícrates diz que Pitágoras, quando Lêon, tirano 
de Fliús, lhe perguntou quem era ele, respondeu: “Um filósofo”. Comparava 
a vida aos Grandes Jogos, aos quais alguns compareciam para lutar, outros 
para fazer negócios, e outros ainda – os melhores – como espectadores; com 
efeito, alguns crescem escravos da fama, outros ambiciosos de ganhos, e os 
filósofos ávidos da verdade (LAÊRTIOS, 2008, p. 230).
Sobre a ideia de imortalidade e transmigração da alma, Laêrtios (2008) conta que, segundo relatos, 
Pitágoras, além de acreditar, também se recordava de outras vidas:
Heracleides do Pontos assinala que Pitágoras dizia de si mesmo que em 
outra encarnação fora Aitalides, e que se considerava filho de Hermes, e 
que Hermes lhe concedera a graça de escolher o que quisesse, à exceção 
da imortalidade. Ele pediu para poder, seja enquanto vivo, seja depois de 
morto, guardar a recordação de tudo o que acontecesse. Por isso conseguia 
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recordar‑se de tudo enquanto vivo, e depois de morto conservou a mesma 
memória (LAÊRTIOS, 2008, p. 229).
Segundo Laêrtios (2008, p. 230), Pitágoras aconselhava que toda vez que seus discípulos chegassem 
em casa refletissem sobre as seguintes interrogações: “Que erro cometi? Que fiz? Que deveres não cumpri?”
Aristóteles (1973), em Metafísica, resume algumas ideias da filosofia dos pitagóricos:
[...] os chamados pitagóricos se dedicaram às matemáticas e fizeram 
progressos nessa ciência, mas, embebidos em seu estudo, acreditaram que 
os elementos das matemáticas (os números) eram também os princípios de 
todos os seres. [...] Além disto, como vissem nos números as modificações 
e as proporções da harmonia e, enfim, como todas as outras coisas lhes 
parecessem, na natureza inteira, formadas à semelhança dos números, e 
os números as realidades primordiais do Universo, pensaram eles que os 
elementos de todos os seres, e que o céu inteiro fosse harmonia e número 
(ARISTÓTELES, 1973, p. 221).
6.5 Xenófanes de Colofón (cerca de 570‑528 a.C.)
Figura 18 – Xenófanes de Colofón. Busto de mármore
Precursor da doutrina de Parmênides, foi um filósofo rapsodo que escreveu predominantemente em 
versos e declamava‑os pelas cidades da Grécia. Defendeu que o elemento primordial de todas as coisas 
era a terra, mas se tornou famoso pela sua teologia e por seus ataques à religião popular grega e aos 
poetas. Criticava os deuses antropomórficos de Homero e Hesíodo dotados de vícios e imoralidades, pois 
só se aprendia com eles roubos, mentiras e adultérios. Para eles, os poetas criavam deuses à imagem e 
semelhança dos próprios homens. A saber:
Tivessem os bois, os cavalos e os leões mãos, e pudessem, com elas, pintar 
e produzir obras como os homens, os cavalos pintariam figuras de deuses 
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semelhantes a cavalos, e os bois semelhantes a bois, cada (espécie animal) 
reproduzindo a sua própria forma (XENÓFANES apud BORNHEIM, 2005, p. 32).
Os etíopes dizem que os seus deuses são negros e de nariz chato, os 
trácios dizem que têm olhos azuis e cabelos vermelhos (XENÓFANES apud 
BORNHEIM, 2005, p. 32).
 Lembrete
A diferença básica entre os seres humanos e os deuses da mitologia 
grega é que os seres humanos são mortais e os deuses imortais. Estes, 
porém, possuem características semelhantes aos humanos: sentem raiva, 
desejo, punem seus oponentes etc.
Observe a seguir o comentário de Peter Jones (2013), em sua “Introdução” para a obra Íliada, sobre 
os deuses Homero e Hesíodo:
O historiador da Grécia Antiga Heródoto afirmava que Homero (assim 
como Hesíodo, poeta épico quase contemporâneo e autor de Teogonia, ou 
“Genealogia dos Deuses”) deu aos gregos suas divindades. Segundo essa 
proposição, desde tempos imemoriais, os deuses eram cultuados, mediante 
rituais, como poderes anônimos representantes de quase todos os aspectos 
da existência humana [...] e precisavam ser apaziguados para que não agissem 
contra os seres humanos com toda a força cega e irresistível da gravidade, 
por exemplo. Homero e Hesíodo, porém, teriam sido os primeiros a conferir 
aos deuses uma face individual, humana, tendo com eles constituído uma 
comunidade, informando‑nos acerca de seu nascimento, suas relações 
familiares, seu caráter e suas atividades do dia a dia.
A humanidade dos deuses se evidencia em seus pormenores mais mundanos. Zeus 
é seu chefe, e eles brigam como qualquer família. Têm uma vida cotidiana. Depois 
de uma longa jornada de trabalho, apreciam a comida (a ambrosia) e a bebida (o 
néctar), caçoam‑se entre si, divertem‑se e vão dormir com a esposa em casa, no 
Olimpo. E o mais espantoso é que durante o dia esses imortais fazem coisas que 
geralmente não lhes rende nada além de dor, em especial combater em prol de 
seus mortais favoritos. Hera, a rainha do Olimpo, comenta o trabalho que teve 
para reunir o exército grego para atacar Troia; Afrodite se queixa porque o herói 
grego Diomedes lhe feriu o pulso (Zeus sorri e a manda concentrar‑se nos prazeres 
do leito nupcial); Ares, o deus da guerra, reclama porque Diomedes lhe pungiu a 
barriga (Zeus manda‑o parar de choramingar) (JONES 2013, p. 10).
Xenófanes defende a tese de que existe um único Deus, por isso Aristóteles afirma que ele foi o 
primeiro partidário do uno, como pode ser verificado nos fragmentos a seguir:
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Um único Deus, o maior entre deuses e homens, nem na figura, nem no 
pensamento semelhante aos mortais.
Todo inteiro vê, todo inteiro entende, todo inteiro ouve.
E sem esforço move tudo com a força do seu pensamento.
Permanece sempre imóvel no mesmo lugar; e não lhe convém mover‑se de 
um lugar para outro (XENÓFANES apud BORNHEIM, 2005, p.33).
O filósofo Friedrich Hegel comenta sobre a ideia de um Deus único, imóvel e imutável de Xenófanes, 
da seguinte forma:
No que se refere à sua filosofia, Xenófanes determinou primeiro o ser absoluto 
como o um: “O todo é um”. Designou isto também Deus; afirmou que Deus 
está implantado em todas as coisas, que ele é suprassensível, imutável, 
sem começo, meio e fim, imóvel. Em alguns de seus versos, diz Xenófanes: 
“Um Deus é o maior entre os deuses e os homens, e não é comparável 
aos mortais, nem quanto à figura, nem quanto ao espírito” [...] “Ele vê em 
toda parte, pensa em toda parte e ouve emqualquer lugar”, palavras a que 
Diógenes de Laércio ainda acrescenta: “Tudo é pensamento e razão” (HEGEL 
apud OS PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 68).
Hegel também faz considerações sobre uma dupla consciência em Xenófanes: uma, pura, que permite 
conceber a essência do divino e outra que fica na esfera da opinião atrelada às concepções mitológicas:
Vemos aqui em Xenófanes uma dupla consciência: uma consciência pura 
e consciência da essência e uma consciência da opinião; aquela era‑lhe 
a consciência do divino e é a pura dialética que se comporta de modo 
negativo em face de tudo que é determinado, sobressumindo‑o. Quando 
ele, por isso, se proclama contra o mundo sensível e as determinações finitas 
do pensamento, fala então, da maneira mais forte, contra as representações 
mitológicas que os gregos tinham de seus deuses. Entre outras coisas, ele 
diz: “Se os touros e leões tivessem mãos para realizar obras de arte como os 
homens, desenhariam da mesma maneira os deuses, atribuindo‑lhes corpos 
tais como a figura que eles mesmos possuem”. Também invectiva contra 
as representações dos deuses de Homero e Hesíodo: “Homero e Hesíodo 
aos deuses atribuíram tudo o que junto aos homens merece vergonha e 
reprovação, como roubo, adultério e engano mútuo” (HEGEL apud OS 
PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 71).
Daí a necessidade de alcançar uma consciência dialética e superar uma consciência limitada ao 
mundo sensível.
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6.6 Heráclito de Éfeso (cerca de 540‑470 a.C.)
Ficou conhecido por ter uma postura altiva e melancólica, sendo chamado por seus contemporâneos 
de obscuro, devido aos seus escritos serem de difícil compreensão. Conta‑se que Sócrates ao ler um livro 
seu afirmou que para entendê‑lo teria que ser um mergulhador de Delos, tal a profundidade dos seus 
pensamentos. Heráclito ficou conhecido como filósofo do devir ou do tudo flui (em grego panta rei). 
Veja algumas de suas principais ideias:
Todas as coisas estão em movimento.
O movimento se processa através de contrários (HERÁCLITO apud BORNHEIM, 
2005, p. 35).
O conhecimento sensível é enganador e deve ser superado pela razão.
Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia 
(HERÁCLITO apud BORNHEIM, 2005, p. 36).
Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Dispersa‑se e reúne‑se; avança 
e se retira (HERÁCLITO apud BORNHEIM, 2005, p. 36).
Platão (2001), em Crátilo, faz referência à doutrina heraclitiana do eterno fluxo:
Heráclito diz em alguma passagem que todas as coisas se movem e nada 
permanece imóvel. E, ao comparar os seres com a corrente de um rio, 
afirma que não poderia entrar duas vezes num mesmo rio. Heráclito retira 
do universo a tranquilidade e a estabilidade, pois é próprio dos mortos; 
e atribuía movimento a todos os seres, eterno aos eternos, perecível aos 
perecíveis (PLATÃO, 2001, p. 402a).
Sexto Empírico (1985) destaca em Heráclito uma ideia que é comum também a outros pré‑socráticos: 
os sentidos enganam e para atingir o verdadeiro conhecimento é necessário se pautar pela razão.
E Heráclito, pois também lhe parecia que o homem é dotado de dois órgãos 
para o conhecimento da verdade, pela sensação da verdade, pela sensação 
e pela razão (logos), destes considerou aproximadamente como os físicos 
anteriormente citados, que a sensação não é digna de confiança, e a razão 
ele supõe como critério. A percepção ele critica, quando diz na sentença: 
“mas testemunhas para os homens são os olhos e os ouvidos, se almas 
bárbaras eles têm”, o que era igual a essa: “é próprio das almas bárbaras 
confiar em sensações sem razão (logos)”. Revela que a razão (logos) é critério 
da verdade, não uma qualquer, mas a comum e divina (SEXTO EMPÍRICO 
apud OS PRÉ‑SOCRÁTICOS, 1985, p. 78).
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Diôgenes Laêrtios (2008) resume alguns pontos principais de sua filosofia da seguinte forma:
[...] o fogo é o elemento e todas as outras coisas são mutações do fogo e 
passa a existir por rarefação e condensação. Mas Heráclitos não explicita 
claramente esse assunto. O vir a ser de todas as coisas é determinado pelo 
conflito dos opostos e tudo flui como se fosse um rio; o todo é finito e 
constitui um cosmo único. O cosmos gera‑se do fogo e periodicamente 
resolve‑se de novo em fogo; esse processo, que se repete sempre com uma 
alternância constante no curso perene do tempo, acontece por força da 
necessidade. Dos opostos, aquele que leva à gênese se chama guerra e 
discórdia, e o outro, que leva à conflagração, chama‑se concórdia e paz, 
e a mutação é um caminho ascendente e descendente, ao qual se deve a 
formação do cosmos (LAÊRTIOS, 2008, p. 252).
6.7 Parmênides de Eleia (cerca de 530‑460 a.C.)
Figura 19 – Parmênides de Eleia
Considerado principal destaque da escola eleática (outros representantes: Xenófanes, Zenão, 
Melisso), critica a concepção de Heráclito de que tudo é movimento e defende a imobilidade do ser. 
Há fragmentos de um poema de Parmênides, Sobre a Natureza, no qual ele relata a revelação da verdade 
que lhe foi concedida por uma deusa. O filósofo‑poeta Parmênides realiza uma viagem numa carruagem 
alada arrastada por fogosos cavalos e guiada pelas filhas do Sol. O véu que encobre a verdade é retirado 
da sua cabeça e ele recebe a verdade desvelada pela fala da deusa. Ela lhe diz que há dois caminhos: o 
da verdade (alétheia) e o da opinião (doxa), por isso que para Parmênides a doxa se limita à impressão 
sensível e, por isso, comete erros.
É apenas pelo pensamento (noûs) que se obtém a verdade, e dessa forma o ser coincide com o 
pensar, ou seja, o conteúdo do pensamento, pela via da razão, coincide com o conteúdo da realidade. 
Daí sua tese do ser como uno e imutável, já que conceber de outra forma leva a contradições, ou seja, 
o ser não pode ser e não ser ao mesmo tempo, o que seria uma contradição. Dito de outra forma, o 
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que existe fora de mim deve coincidir com meu pensamento com o logos que desvela a verdade, se não 
coincidir é porque se está na via da doxa. Passagens: “o ser é e o não ser não é”. “O ser é uno e imutável”.
Apesar da oposição entre as teorias de Heráclito e Parmênides, é possível estabelecer pontos comuns 
entre eles. Ambos entendem que a verdade (alétheia) está no pensamento e a opinião (doxa) está nos 
sentidos. O argumento de que os sentidos enganam era usado, dessa forma, para tentar provar teses 
contrárias como a de Heráclito: “tudo é movimento, a imobilidade é uma ilusão dos sentidos”. E a de 
Parmênides: “não há movimento, a mobilidade é uma ilusão dos sentidos”.
Embora tenham existido variadas explicações para a matéria primordial e que cada um dos 
pré‑socráticos argumentasse que a sua teoria era a única verdadeira, a importância desse período 
reside no fato de que o pensamento mítico não mais convence e esses filósofos se lançam na busca de 
investigar e elaborar outras respostas para a explicação da realidade. Respostas estas produzidas pelo 
logos e, portanto, dotadas de uma certa lógica racional.
6.8 Leucipo (nascimento cerca de 500 a.C.) e Demócrito de Abdera (cerca de 
460‑370 a.C.)
Há escassas informações sobre Leucipo, assim como existem algumas dúvidas, a começar por seu 
local de nascimento, que pode ter sido Mileto (mas há quem sugira Eleia ou Abdera), também há dúvidas 
em relação ao ano de seu nascimento e sua morte. Sabe‑se que ele foi o autor de um livro intitulado 
A Grande Ordem do Mundo,o qual restou um único fragmento conhecido: “nada deriva do acaso, mas 
tudo de uma razão e uma necessidade” (BORNHEIM, 2005, p. 103). Aristóteles considera Leucipo o 
iniciador da teoria dos átomos e que Demócrito foi seu discípulo. Diôgenes Laêrtios (2008) o descreve 
da seguinte forma:
Leucipos nasceu em Elea, ou segundo outros em Abdera, ou ainda segundo 
outros em Miletos, tendo sido discípulo de Zênon. Suas doutrinas são as 
seguintes. As coisas em sua totalidade são infinitas e transmudam‑se umas 
nas outras; o todo é constituído de vazio e cheio; os mundos formam‑se 
quando os corpos penetram no vazio e se interligam uns com outros; do 
movimento dos corpos à proporção que seu número aumenta forma‑se a 
natureza das estrelas; o Sol se move num círculo maior em torno da Lua; 
a Terra mantém‑se suspensa girando em torno do centro, e sua forma se 
assemelha‑se à de um tambor. Leucipos foi o primeiro a afirmar que os 
átomos são os primeiros princípios das coisas (LAÊRTIOS, 2008, p. 259).
Demócrito nasceu em Abdera e foi continuador da teoria dos átomos iniciada por Leucipo. Segundo 
essa teoria, todas as coisas existentes são formadas por átomos. O termo vem do grego átomos,os,on 
e significa aquilo que não pode ser cortado, nem dividido. Além de indivisíveis, os átomos também 
são maciços, mas tão minúsculos que não podem ser vistos. Assim, de acordo com essa teoria, existem 
infinitos números de átomos; eles são os tijolos básicos que compõem tudo o que existe. Possuem 
diferentes formatos e estão em queda livre no vazio e, nesse processo, se juntam ou se separam de 
outros átomos formando os diversos seres.
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Para conceber e aceitar a teoria atomista, não basta o conhecimento dos dados dos sentidos, é 
necessário recorrer à razão. Não obstante, Demócrito considera que existem duas formas de conhecimento:
[...] uma autêntica e a outra obscura (inautêntica). À obscura pertencem 
todos os seguintes: a vista, o ouvido, o olfato, o gosto, o tato; a outra é 
autêntica, daquela completamente separada. Quando a obscura se revela 
incapaz de ver o menor, ou de ouvir, cheirar, degustar, tocar, fazendo‑se 
necessário levar a pesquisa ao que é mais sutil, então toma‑lhe o lugar 
a forma autêntica, dotada de um órgão de conhecimento mais fino 
(DEMÓCRITO apud BORNHEIM, 2005, p. 107).
Diôgenes Laêrtios resume da seguinte forma as ideias de Demócrito:
Eis as teorias de Demócrito. Na origem de todas as coisas estão os átomos 
e o vazio (tudo o mais não passa de suposição). Os mundos são ilimitados, 
engendrados e perecíveis. Nada nasce do nada e nada volta ao nada. 
Os átomos são ilimitados em grandeza e número, e arrastados com o todo 
em um turbilhão. Assim nascem todos os compostos: o fogo, o ar, a água, a 
terra. Pois são conjuntos de átomos incorruptíveis e fixos devido a sua firmeza. 
O Sol e a Lua são compostos de massas semelhantes, simples e redondas; 
e a alma, da mesma forma, a qual é idêntica ao espírito. Nós vemos pela 
projeção de imagens. Tudo se faz por necessidade; sendo o turbilhão causa da 
gênese de tudo, ele o chama de necessidade. O bem supremo é a felicidade 
(euthymia), muito diversa do prazer, ao contrário do que creram aqueles que 
não souberam compreendê‑la; consiste no repouso e quietude da alma, não 
perturbada por nenhum temor, superstição ou afecção. Chama essa atitude de 
diversos nomes, entre outros o de “bem‑estar”. As propriedades são convenção 
dos homens, ao passo que os átomos e o vazio existem segundo a natureza. 
Esses são as suas doutrinas (LAÊRTIOS apud BORNHEIM, 2005, p. 124).
Segundo Maciel (2003), o naturalismo radical que existe no pensamento atomista de Leucipo 
e Demócrito tem como propósito propiciar o entendimento do mundo e, como desdobramento, se 
contrapor às superstições e ao medo que escravizam os homens. É pelo caminho do entendimento 
racional da natureza que o homem se liberta das superstições e do domínio de outros homens que 
manipulam as pessoas aproveitando‑se do medo.
6.9 Características da reflexão filosófica
Considerando o aspecto etimológico, a palavra “filosofia” vem do grego ϕιλοσοϕια, que por sua vez 
se faz pela união de dois conceitos: ϕιλíα (philia), amizade, amor fraterno, mais σοϕíα (sophia), sabedoria, 
conhecimento. Dessa forma, tem‑se a definição clássica de filosofia (ϕιλοσοϕια) como busca amorosa 
pela sabedoria, amizade ao saber. Segundo a tradição, foi Pitágoras de Samos que cunhou a palavra 
filosofia. Para ele, a sabedoria era atributo dos deuses e não dos seres humanos, mas estes poderiam 
desejá‑la, buscar amorosamente a sabedoria, transformando‑se em filósofos (CHAUÍ, 1997, p. 19‑20).
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Conforme foi exposto anteriormente, o que mobiliza o ser humano a filosofar é, segundo Platão e 
Aristóteles, o thaumázein, o admirar‑se, o espantar‑se em relação a certos fenômenos. Demerval Saviani, 
em Educação: do Senso Comum à Consciência Filosófica (2000), recoloca a pergunta sobre a origem do 
filosofar e defende a tese de que a mola propulsora para o filosofar encontra‑se nos problemas, como 
afirma: “eis, pois, o objeto da Filosofia, aquilo de que trata a Filosofia, aquilo que leva o homem a 
filosofar: são os problemas que o homem enfrenta no transcurso da sua existência” (2000, p. 10).
Dessa forma, se podemos dizer que são problemas que levam o homem a filosofar, o que devemos 
entender, então, por problemas? Segundo Saviani (2000), em geral toma‑se problema como sendo 
sinônimo de questão, mas isso não é suficiente para caracterizar um problema. Por um lado, as questões 
lidam com respostas já conhecidas, por outro lado, mesmo que as respostas sejam desconhecidas, esse 
fato, por si só, não é suficiente para caracterizar um problema.
As pessoas podem desconhecer muitas coisas e, mesmo assim, tais coisas podem não se configurar 
como problemáticas, como saber o nome de todos os afluentes do rio Amazonas ou perscrutar 
quantas vezes uma pulga precisa saltar o comprimento de suas próprias pernas para atravessar a 
muralha da China. Essas questões podem despertar alguma curiosidade, mas não se configuram como 
problemáticas para a Filosofia.
 Observação
Quantas vezes uma pulga precisa saltar o comprimento de suas próprias 
pernas para atravessar a muralha da China foi uma questão inspirada em 
outra semelhante, utilizada por Aristófanes na comédia As Nuvens. Sócrates 
é ridicularizado e retratado como um sofista, que vive em um casebre, o 
pensatório, e, num dado momento, encontra‑se ocupado investigando 
sobre quantas vezes uma pulga pode saltar o tamanho dos próprios pés.
De acordo com Saviani (2000), é necessário resgatar a problematicidade do problema, isto é, a 
essência que revela sua verdadeira concreticidade. Segundo ele, a essência do problema encontra‑se 
na necessidade. O ser humano, ao produzir continuamente sua própria existência, enfrenta o iniludível: 
problemas configurados como necessidades que não podem ser ignorados, pois a resolução destes é de 
vital importância para a existência humana. Dessa forma, os fenômenos que produzem thaumázein, 
na perspectiva de Platão e Aristóteles, poderão ser denominados como problemas na perspectiva de 
Saviani, uma vez que atendam às condições elencadas anteriormente.
Diante dos problemas, segundo Saviani (2000), a Filosofia responde com reflexão. E qual o significado 
do conceito reflexão? A reflexão “[...] vem do verbo latino reflectere que significa voltar atrás. É, pois, um 
repensar, ou seja, um pensamento em segundo grau” (SAVIANI, 2000, p.16). A reflexão é uma análise 
consciente daquiloque se apresenta como problema. Assim, se pensar é uma atividade que se coloca 
em prática espontaneamente, o mesmo não se pode dizer do refletir, porque “[...] se toda reflexão 
é pensamento, nem todo pensamento é reflexão” (SAVIANI, 2000, p. 16). A reflexão implica atitude 
consciente de examinar detidamente as questões vitais da existência humana. O próprio patrono da 
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Filosofia, Sócrates, em uma de suas máximas já apontava a necessidade de refletir sobre a própria 
existência, ao repetir para seus contemporâneos que uma vida sem exame não era digna de ser vivida.
Considerando que todo ser humano enfrenta problemas, pode‑se pressupor que cada um é também 
levado a refletir ou a filosofar. Mas Saviani (2000) argumenta que a reflexão filosófica não é uma reflexão 
qualquer, ou seja, é necessário que ela atenda a algumas exigências para poder ser adjetivada de filosófica. 
Ele resume essas exigências a três âmbitos: [...] “a radicalidade, o rigor e a globalidade. Quero dizer, em 
suma, que a reflexão filosófica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de conjunto” (SAVIANI, 2000, p. 17). 
Radical, porque a reflexão filosófica precisa ir até a raiz do problema, investigar seus fundamentos. 
Rigorosa, uma vez que a reflexão filosófica implica sistematização apoiada no rigor de um método próprio. 
De conjunto, pois ao mesmo tempo em que o problema é visto em profundidade deve ser também visto 
numa perspectiva mais ampla, de conjunto, em relação a outros elementos do contexto.
Destarte, para Saviani (2000), a Filosofia pode ser definida como uma reflexão radical, rigorosa e de 
conjunto sobre os problemas que o ser humano enfrenta no decorrer de sua existência.
A existência de problemas é inerente à vida humana, uma vez que existir pressupõe o enfrentamento 
e a tentativa de resolução de uma série de questões vitais, que podem ser diferentes em cada época, mas 
que não deixam de existir. Essas questões podem ser resolvidas, de forma completa ou parcial, mas são 
também constantemente renovadas, pela própria dinâmica contraditória da existência tanto no âmbito 
individual quanto no coletivo. Tal condição garante a necessidade do filosofar.
Conforme abordado anteriormente, o filosofar possui um caráter necessário, mas, apesar dessa 
condição, a Filosofia possui uma longa história de obliteração dessa necessidade. Karl Jaspers (2007), 
em seu texto “A Filosofia no Mundo”, revela a avaliação que boa parte da sociedade tem nutrido em 
relação à Filosofia:
Por força da tradição, a Filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, 
objeto de desprezo. A opinião corrente é a de que a Filosofia nada tem a 
dizer e carece de qualquer utilidade prática. É nomeada em público, mas – 
existirá realmente? Sua existência se prova, quando menos, pelas medidas 
de defesa a que dá lugar.
A oposição se traduz em fórmulas, como: a Filosofia é demasiado complexa; 
não a compreendo; está além do meu alcance; não tenho vocação para 
ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o 
interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abster‑se de pensar no 
plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capítulo 
qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter 
“opiniões” e contentar‑se com elas (JASPERS, 2007, p. 139).
O texto citado anteriormente foi publicado na década de 1960 e faz parte de um conjunto de 
conferências apresentadas na televisão a convite da Rádio Baviera. A aceitação de Jaspers para a 
realização dessas apresentações teve como pressuposto a concepção de que “a Filosofia se destina ao 
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homem e a todos diz respeito” (JASPERS, 2007, p. 11). Essas conferências, num total de 13, receberam o 
título “Introdução ao Pensamento Filosófico”, mesmo nome do livro que reúne os textos, e tiveram como 
objetivo propiciar uma iniciação ao pensar filosófico, sem, contudo, ser trivial.
O pensar filosófico, segundo Jaspers (2007), tem a finalidade de elevar o pensamento e ser capaz 
“[...] de iluminar‑nos interiormente e iluminar o caminho diante de nós, permitindo‑nos apreender o 
fundamento onde encontremos significado e orientação” (JASPERS, 2007, p. 12). Apesar dessa meta 
elevada, a Filosofia desperta reações adversas:
Um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a Filosofia. Ela é perigosa. 
Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado 
de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus 
juízos. Melhor é não pensar filosoficamente (JASPERS, 2007, p. 139).
Além dessa reação – a ameaça que a Filosofia pode causar a uma dada visão de mundo –, ela encontra‑se 
cercada por vários outros inimigos, muitos sem a devida consciência dessa condição, são eles:
A autocomplacência burguesa, os convencionalismos, o hábito de considerar 
o bem‑estar material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar 
a ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a 
bonomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome 
literário – tudo isso proclama a antifilosofia (JASPERS, 2007, p. 140).
E o problema, aponta Jaspers (2007), é que essa antifilosofia, embora pervertida, é também uma 
filosofia e que ameaça a existência da própria Filosofia. Para o pensador, o cerne da questão é que “[...] 
a Filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A Filosofia é perturbadora da paz” (JASPERS, 
2007, p. 140). Mas essa verdade que busca a Filosofia não é estática, nem dogmática, pelo contrário, 
é dinâmica e aberta à pugna. Ela é uma construção que se revela nas relações que se estabelece com 
outros pensadores e com o existente e tem como referência o próprio ser humano, ao afirmar:
Quem se dedica à Filosofia põe‑se à procura do homem, escuta o que ele 
diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação, desejoso de 
partilhar, com seus concidadãos, o destino comum da humanidade.
Eis por que a Filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna 
consigo mesma (JASPERS, 2007, p. 140).
 Lembrete
Viver implica fazermos várias escolhas diárias, desde as mais simples 
até as mais complexas. Implica também enfrentamento de problemas e tal 
condição justifica a necessidade do filosofar.
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 Saiba mais
Para saber mais acerca das reflexões filosóficas estudadas, leia:
BORNHEIM, G. A. (Org.) Os filósofos pré‑socráticos. 13. ed. São Paulo: 
Cultrix, 2005.
MACIEL JÚNIOR, A. Pré‑socráticos: a invenção da razão. São Paulo: 
Odysseus, 2003.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Trad. Ísis Borges B. da 
Fonseca. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
A Filosofia tem como preocupação geral o ser humano e o mundo vivido. Apesar das críticas e dos 
obstáculos que enfrenta, ela contribui de forma fundamental para que o indivíduo altere sua forma de 
pensar e vislumbre a possibilidade de liberdade e transcendência.
Exemplo de aplicação
O que diferencia a explicação dos pré‑socráticos das explicações míticas para a origem das coisas?
 Saiba mais
Os filmes a seguir podem propiciar uma inter‑relação com os conteúdos 
da unidade:
OS 300 de Esparta. Dir. Rudolph Maté. EUA, 1962. 114 minutos.
MATRIX. Dir. Wachowski Brothers. EUA, 1999. 136 minutos.
 Resumo
Segundo Platão, a Filosofia começa com o thaumázein, o admirar‑se e 
o espantar‑se diantede alguns fenômenos, tese reafirmada por Aristóteles 
(1973) em Metafísica.
A passagem do pensamento cosmogônico para o pensamento 
cosmológico não se deu através de um salto nem substitui por completo 
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o anterior. Foi um processo lento e gradativo no qual uma série de fatores, 
como o nascimento da cidade‑estado, a utilização da escrita e das leis 
escritas, além da invenção da moeda, contribuiu para que, assim como o 
poder e a organização da vida social, os mitos também fossem questionados.
Os primeiros filósofos viveram por volta do século VII e VI a.C. e ficaram 
conhecidos como pré‑socráticos. Essa denominação indica que eles viveram 
antes do filósofo Sócrates, o que não é totalmente exato, uma vez que não 
se aplica a Leucipo e Demócrito, por exemplo.
O fato é que grande parte da obra desses filósofos pré‑socráticos se 
perdeu no tempo, e o que chegaram à posteridade foram fragmentos e 
comentários que outros filósofos fizeram sobre eles. A problemática que 
esses filósofos buscavam responder era: qual é a arkhé, o princípio ou 
fundamento das coisas existentes?
Tales de Mileto (cerca de 625/24‑558/6 a.C.), considerado o primeiro 
filósofo, ficou muito conhecido pelo feito notável de prever um eclipse que 
se confirmou no dia previsto: 28 de maio de 585 a.C. Para alguns autores, 
essa data simboliza o dia do nascimento da Filosofia. Não se conhece 
fragmento dos escritos de Tales, mas é atribuída a ele a autoria de uma 
pergunta que ainda hoje produz muita controvérsia: Qual a origem de 
todas as coisas? Do que tudo é constituído? Para Tales, a água é o elemento 
primordial de todas as coisas.
Anaximandro de Mileto (cerca de 610‑547 a.C.) foi discípulo de Tales, 
e de sua vida pessoal não há quase informações. Para Anaximandro, a 
arkhé – o princípio primordial de todas as coisas –, não é um elemento 
conhecido e definido, mas ao contrário, é o ilimitado, o ápeiron, termo 
grego formado por “a”, que significa sem, e peirar, que significa fim, limite. 
Assim, o ápeiron, um elemento ilimitado, é a origem de tudo que é limitado 
e particular.
Anaxímenes de Mileto (cerca de 585‑528/5 a.C.) nasceu em Mileto, foi 
discípulo de Anaximandro e é autor de um livro intitulado Sobre a Natureza. 
Para Anaxímenes, a arkhé é o ar, pneuma. Considerando que ar, pneuma, 
significa sopro vital, logo, ele é o responsável pela vida dos seres vivos e, 
por analogia, todo universo também depende do sopro vital, que anima o 
existente, dessa forma, ar é o elemento primordial do qual tudo emana e 
ao qual tudo retorna.
Pitágoras de Samos (cerca de 580/78 – 497/6 a.C.) não escreveu nenhum 
livro e seus ensinamentos eram orais. Sua vida é envolta em mistérios 
e lendas. Foi o primeiro a se definir como filósofo, alguém que busca a 
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verdade. Sua filosofia une conhecimentos de matemática com a prática 
de vida ascética. Os pitagóricos acreditavam que número é o princípio 
primordial de todas as coisas, que têm como base relações numéricas.
Xenófanes de Colofón (cerca de 570‑528 a.C.) foi um filósofo rapsodo 
que declamava seus versos pelas cidades da Grécia. Defendeu que o 
elemento primordial de todas as coisas é a terra, mas se tornou famoso 
pela sua teologia e por seus ataques à religião popular grega e aos poetas. 
Criticava os deuses antropomórficos de Homero e Hesíodo dotados de 
vícios e imoralidade, pois só se aprendia com eles roubos, mentiras e 
adultérios. Para eles, os poetas criavam deuses à imagem e semelhança 
dos próprios homens.
Heráclito de Éfeso (cerca de 540‑470 a.C.) ficou conhecido por ter uma 
postura altiva e melancólica, sendo chamado por seus contemporâneos 
de obscuro, devido aos seus escritos serem de difícil compreensão. Era o 
filósofo do devir ou do tudo flui (em grego panta rei), uma vez que para 
ele tudo está em movimento o tempo todo, assim, não se pode entrar no 
mesmo rio duas vezes, por exemplo.
Parmênides de Eleia (cerca de 530‑460 a.C.) critica a concepção 
de Heráclito de que tudo é movimento e defende a imobilidade do ser. 
É apenas pelo pensamento (noûs) que se obtém a verdade, e dessa forma 
o ser coincide com o pensar, ou seja, o conteúdo do pensamento, pela via 
da razão, coincide com o da realidade. Daí sua tese do ser como uno e 
imutável, já que conceber de outra forma leva a contradições, isto é, o ser 
não pode ser e não ser ao mesmo tempo, o que seria uma contradição.
Leucipo (nascimento cerca de 500 a.C.) foi o autor de um livro intitulado 
A Grande Ordem do Mundo. Aristóteles considera Leucipo o iniciador da 
teoria dos átomos e que Demócrito foi seu discípulo, porém há escassas 
informações e algumas dúvidas, a começar por seu local de nascimento, 
que pode ter sido Mileto, mas há quem sugira Eleia ou Abdera, também 
existem dúvidas em relação ao ano de seu nascimento e sua morte.
Demócrito de Abdera (cerca de 460‑370 a.C.) nasceu em Abdera e foi 
continuador da teoria dos átomos iniciada por Leucipo. Segundo essa 
teoria, todas as coisas existentes são formadas por átomos – termo que 
vem do grego átomos,os,on e significa aquilo que não pode ser cortado 
nem dividido. Além de indivisíveis, os átomos também são maciços, mas tão 
minúsculos que não podem ser vistos. Assim, de acordo com essa teoria, 
existem infinitos números de átomos, considerados os tijolos básicos que 
compõem tudo o que existe.
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Saviani (2000) conclui que a Filosofia pode ser definida como uma 
reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que o ser humano 
enfrenta no decorrer de sua existência, uma vez que existir pressupõe o 
enfrentamento e a tentativa de resolução de uma série de questões vitais, 
que podem ser diferentes em cada época, mas que não deixam de existir.
 Exercícios
Questão 1. Leia o trecho a seguir, extraído do livro O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder. O enredo 
desse romance narra a história de Sofia, que, misteriosamente, começa a receber cartas anônimas 
com aulas de Filosofia. O excerto refere‑se ao momento em que o pensamento de Demócrito vai ser 
apresentado à protagonista.
Foi então para o seu quarto e abriu o envelope. Nesse dia, havia apenas uma pergunta na folha, 
mas em compensação esta pergunta era ainda mais absurda do que as três contidas na “carta de 
amor”: “Por que é que as peças do Lego são o brinquedo mais genial do mundo?” Sofia não estava 
muito convencida de que achava as peças do Lego o brinquedo mais genial do mundo; de qualquer 
modo, já não brincava com elas há muitos anos. Além disso, não conseguia compreender o que é que 
as peças do Lego teriam a ver com filosofia. Mas era uma aluna obediente. Remexeu na prateleira 
mais alta do seu armário e encontrou por fim um saco de plástico com peças de Lego de variadíssimos 
tamanhos e formas.
[...]
Demócrito concordava com os seus predecessores ao afirmar que as transformações observáveis na 
natureza não significavam que algo se alterasse realmente. Admitiu, portanto, que tudo tinha de ser 
composto de elementos pequenos e invisíveis, eternos e imutáveis. Demócrito designava estas pequenas 
partículas por átomos.
GAARDER, J. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 84.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas a seguir.
I – Infere‑se que o professor de Sofia estabelece uma analogia entre as peças de Lego e os átomos, 
que, segundo Demócrito, formamtodas as coisas.
II – Demócrito atribuía aos quatro elementos (terra, fogo, água e ar) a criação do mundo e 
dos átomos.
III – Segundo Demócrito, é a vontade dos deuses que une os átomos na formação de tudo o 
que existe.
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É correto o que se afirma somente em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) I e III.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa correta.
Justificativa: pelos trechos apresentados, percebe‑se que os elementos pequenos que formam tudo 
(átomos) serão comparados às peças do Lego.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: Demócrito não crê que sejam os quatro elementos a origem de tudo; para ele, são os 
átomos que formam todas as coisas.
III – Afirmativa incorreta.
Justificativa: para Demócrito, é o acaso que une os átomos, que tudo formam.
Questão 2. (Sedu‑ES 2016) Parmênides e Heráclito foram dois pensadores pré‑socráticos com ideias 
antagônicas: este considerava que é essencial a mudança e a contradição existente nas próprias coisas; 
aquele, contrariamente, considerava que o que não pode ser pensado não pode existir e o que não existe 
não pode ser pensado.
Considere:
I – “Nós nos banhamos e não banhamos no mesmo rio. Não é possível descer duas vezes no 
mesmo rio”.
II – “O ser tampouco é divisível, pois é todo inteiro, idêntico a ele; não sofre nem acréscimos, o que 
seria contrário à sua coesão, nem dominação, mas todo inteiro, está cheio de ser; é, assim, inteiramente 
contínuo, pois o ser é contínuo ao ser”.
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Unidade II
III – “Este cosmos, o mesmo para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o criou: mas 
sempre foi, é e será um fogo sempre vivo, acendendo‑se e apagando‑se com medida”.
IV – “É uma a mesma e a mesma coisa: o vivo e o morto, o acordado e o adormecido, o jovem e o 
idoso, pois a mudança de um converte no outro, reciprocamente”.
V – “Não há que temer que jamais se prove que o não ser é. Só nos resta um caminho a percorrer, o 
ser é. E há uma multidão de sinais de que o ser é incriado, imperecível, pois somente (o ser) é completo, 
imóvel e eterno”.
Correspondem ao pensamento de Heráclito, o que se afirma apenas em:
A) I, II e IV.
B) II, III e V.
C) III, IV e V.
D) I, III e IV.
E) II, IV e V.
Resolução desta questão na plataforma.

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