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Autor: Prof. José Carlos Roncolato da Frota Colaboradores: Profa. Lérida Malagueta Prof. Adalberto Oliveira da Silva Teoria e Prática Cambial Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Professor conteudista: José Carlos Roncolato da Frota Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Paulista (UNIP). Pós‑graduado em Formação para Educação a Distância pela mesma instituição. É coordenador dos cursos de Gestão na unidade Alphaville da UNIP, na qual também é professor das disciplinas de Economia e Mercado, Teoria e Prática Cambial, Negócios Internacionais, Técnicas de Negociação e Mercado de Capitais. Atuou, aproximadamente, dez anos na iniciativa privada entre cargos na área financeira e de compras. Juntamente com o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, desenvolveu atividades como assessor econômico. Além de lecionar na UNIP, tanto na modalidade presencial quanto a distância, atua em outras instituições de Ensino Superior e na Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (Cogeae) da PUC de São Paulo nos cursos de Recrutamento, Seleção por Competência e Gestão da Diversidade das Organizações. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F941t Frota, José Carlos Roncolato da. Teoria e Prática Cambial. / José Carlos Roncolato da Frota. – São Paulo: Editora Sol, 2017. 124 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2‑110/17, ISSN 1517‑9230. 1. Mercado de câmbio. 2. Sistema financeiro nacional. 3. Fundos de investimentos. I. Título. CDU 336.76 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Fernanda Pereira Vitor Andrade Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Sumário Teoria e Prática Cambial APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ....................................................................... 11 1.1 Funcionamento após 1988 ............................................................................................................... 14 1.2 Comércio exterior no Brasil .............................................................................................................. 16 2 MERCADO DE CÂMBIO ................................................................................................................................. 18 2.1 Participantes do mercado cambial ................................................................................................ 20 2.2 Negociação do câmbio ....................................................................................................................... 21 2.3 Funcionamento do mercado de câmbio ..................................................................................... 22 2.4 Subdivisões do mercado cambial ................................................................................................... 24 2.5 Controle cambial .................................................................................................................................. 25 2.5.1 Balanço de pagamentos....................................................................................................................... 25 2.5.2 Origens do controle cambial .............................................................................................................. 27 2.5.3 Modalidades de controle cambiais .................................................................................................. 27 2.5.4 Sistema de créditos recíprocos .......................................................................................................... 30 2.5.5 Controle cambial no Brasil .................................................................................................................. 31 2.6 Taxa de câmbio ...................................................................................................................................... 32 2.6.1 Formatação da taxa de câmbio ......................................................................................................... 32 2.6.2 Tipos de taxa de câmbio....................................................................................................................... 34 2.6.3 Modalidades de taxas............................................................................................................................ 36 2.6.4 Regimes cambiais ................................................................................................................................... 36 Unidade II 3 TAXAS INTERNACIONAIS DE JUROS ........................................................................................................ 42 3.1 Conceito ................................................................................................................................................... 42 3.2 Subdivisões ............................................................................................................................................. 45 4 POLÍTICA OPERACIONAL ADOTADA PELOS BANCOS ......................................................................... 46 4.1 Conceitos ................................................................................................................................................. 46 4.2 Elementos a serem considerados ................................................................................................... 47 4.3 Transferências ao exterior ................................................................................................................. 49 4.4 Modalidades de pagamentos no comércio internacional ................................................... 50 4.4.1 Remessa antecipada .............................................................................................................................. 51 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 4.4.2 Remessa sem saque ............................................................................................................................... 51 4.4.3 Cobrança ....................................................................................................................................................51 4.4.4 Carta de crédito (letter of credit) ..................................................................................................... 53 4.5 Contratos de câmbio ........................................................................................................................... 55 4.5.1 Conceito e noções elementares de um contrato de câmbio ................................................ 55 4.5.2 Modelos de contratos de câmbio ..................................................................................................... 57 4.5.3 Particularidades ....................................................................................................................................... 69 Unidade III 5 EXPORTAÇÃO E O CÂMBIO .......................................................................................................................... 74 5.1 Conceito ................................................................................................................................................... 74 5.2 Fundamento legal ................................................................................................................................ 75 5.2.1 Formas de exportação ........................................................................................................................... 76 5.2.2 Documentos necessários para a exportação ............................................................................... 76 5.2.3 Formas de contrato de câmbio para a exportação ................................................................... 80 5.3 Responsabilidade das partes ............................................................................................................ 81 5.4 Principais financiamentos à exportação ..................................................................................... 81 5.4.1 Adiantamento de contrato de câmbio (ACC) .............................................................................. 81 5.4.2 Adiantamento de cambiais entregues (ACE) ............................................................................... 82 6 IMPORTAÇÃO E O CÂMBIO .......................................................................................................................... 83 6.1 Conceito ................................................................................................................................................... 83 6.2 Regime cambial ..................................................................................................................................... 84 6.3 Tributos e despesas .............................................................................................................................. 85 6.4 Financiamento para cobrança e carta de crédito ................................................................... 86 6.5 Pagamento antecipado ...................................................................................................................... 88 6.6 Comissão de agente ............................................................................................................................ 88 Unidade IV 7 OPERAÇÕES DE CÂMBIO REFERENTES A FINANCIAMENTOS INTERNACIONAIS .................... 92 7.1 Financiamentos à exportação ......................................................................................................... 92 7.1.1 Pré‑pagamento ........................................................................................................................................ 92 7.1.2 Simplex ........................................................................................................................................................ 93 7.1.3 Programa de Financiamento às Exportações (Proex) ............................................................... 93 7.1.4 Financiamentos BNDES‑EXIM ........................................................................................................... 94 7.1.5 Export notes .............................................................................................................................................. 96 7.1.6 Securitização de exportação .............................................................................................................. 97 7.2 Suppliers e buyers credits ................................................................................................................. 97 7.2.1 Suppliers credits ...................................................................................................................................... 97 7.2.2 Buyers credits ........................................................................................................................................... 97 7.3 Forfaiting ................................................................................................................................................. 97 7.4 Financiamento à importação .......................................................................................................... 98 7.4.1 Buyer’s credit ............................................................................................................................................ 98 7.4.2 Supplier’s credit ....................................................................................................................................... 99 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 7.4.3 Leasing internacional ............................................................................................................................ 99 7.4.4 BNDES – Finem ........................................................................................................................................ 99 7.5 Operações de garantia......................................................................................................................100 7.5.1 Aval bancário ..........................................................................................................................................100 7.5.2 Fiança bancária ......................................................................................................................................100 7.5.3 Bid bond ...................................................................................................................................................100 7.5.4 Performance bond ................................................................................................................................100 7.5.5 Cartas de crédito ...................................................................................................................................100 8 FUNDOS DE INVESTIMENTOS ...................................................................................................................101 8.1 Commercial paper ..............................................................................................................................101 8.2 Bônus e eurobônus de empresas .................................................................................................102 8.3 Comunicado Firce 10 – Lei 4.131 .................................................................................................102 8.4 Empréstimos em moeda estrangeira ..........................................................................................103 8.4.1 Resolução 63 ..........................................................................................................................................103 8.4.2 Resolução 2.770 ....................................................................................................................................105 8.4.3 Resolução 3.844 ....................................................................................................................................1058.4.4 Carta circular n. 5 (CC5) .....................................................................................................................106 8.4.5 Securitização de empréstimos.........................................................................................................107 8.4.6 Derivativos de swaps ...........................................................................................................................108 8.4.7 Hedges cambiais ....................................................................................................................................108 8.4.8 Debêntures cambiais ...........................................................................................................................109 8.4.9 Warrants ...................................................................................................................................................109 9 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 APRESENTAÇÃO Uma das disciplinas mais interessantes e complexas para qualquer gestor da área de Comércio Exterior é a que lida com câmbio, bem como a respeito de sua teoria e prática. Nesse sentido, a disciplina Teoria e Prática Cambial tem por objetivo auxiliar o discente no entendimento do funcionamento da questão cambial em âmbito nacional e internacional. É importante compreender como essa prática impacta nas decisões das empresas, tanto com relação às exportações quanto às importações. Ainda a respeito do câmbio, os estudantes poderão conhecer nesta matéria os principais conceitos de pagamentos internacionais, o que no ramo corporativo é de suma importância, dado que cada um destes conceitos poderá definir a continuidade do negócio ou não. Igualmente, as sociedades podem buscar no mercado formas de financiar suas exportações e, em menor amplitude, as importações. Tais financiamentos facilitam às corporações abrirem seus estoques e, desse modo, conquistarem mercados. O nível de competitividade imposto ao mundo dos negócios atualmente requer a percepção ideal a respeito de cada processo da companhia. Atrair mercado por meio do comércio internacional é uma das saídas para ganhos extras, entretanto, sem o devido planejamento, a mesma organização tende ao fracasso. Dessa forma, ao observar a relação cambial, é preciso que o gestor tenha consciência e ferramentas analíticas para reconhecer se o mercado ficará estável ou instável, orientando de forma correta a política da empresa. Estar em consonância com as frequentes alterações apresentadas pelo regime do governo, por exemplo, as questões de legislação, documentação exigida, entre outros aspectos, também é fundamental a todo profissional da área de comércio exterior. Assim, não é possível desvincular o gestor da área do indivíduo responsável pelas informações necessárias à tomada de decisões. Para que os propósitos da disciplina sejam alcançados, foi criada uma sequência lógica de unidades, visando ao melhor aproveitamento do futuro gestor. Na unidade I serão estudados os conceitos referentes à estrutura do sistema financeiro nacional, baseando‑se nas reformas de 1964‑1965 até a estrutura atual. Serão enfatizados os principais órgãos e funções do chamado sistema brasileiro de câmbio. Outro ponto pertinente para o desenvolvimento dos conceitos futuros é o conhecimento do mercado de câmbio, suas características e seu funcionamento. Os controles cambiais aplicados aos países serão discutidos, demonstrando, inclusive, a estrutura do balanço de pagamentos. A mesma unidade é finalizada com a análise do conceito de taxa de câmbio, suas aplicabilidades e impactos aos exportadores e importadores. A unidade II é dedicada à compreensão, a princípio, das taxas de juros internacionais e como essas serão significavas para os próximos passos dentro da disciplina. As políticas dos bancos e os contratos de câmbio serão tratados na sequência. Destacaremos as instituições financeiras e suas formas de auxiliar os agentes relacionados ao comércio exterior, tanto na forma de pagamento como de recebimento de divisas. Por fim, serão examinados os contratos de câmbio, os quais 10 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 formalizam a existência da moeda estrangeira a ser negociada, auxiliando‑nos na reflexão se existe ou não a possibilidade de negociá‑los. As operações cambiais para a exportação e importação serão objetos de estudo da unidade III, em que será focada a fundamentação legal da existência delas, além das responsabilidades existentes a cada uma das partes envolvidas no processo. De modo similar, analisaremos a questão das principais formas de garantia a importadores e exportadores; os dois principais tipos de financiamento voltados à exportação; o Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) e o Adiantamento de Cambiais Entregues (ACE). Finalmente, a unidade IV será pautada em assuntos de extrema relevância. Nela poderemos compreender financiamentos elementares existentes no mercado internacional para os exportadores e importadores, bem como estudaremos os principais fundos de investimentos disponíveis, os quais se amparam na legislação brasileira. Vale ressaltar que a regulamentação do comércio exterior no Brasil terá especial destaque nessa unidade. Encerraremos com o exame dos empréstimos em moeda estrangeira, autorizados pelo governo e as formas de proteção contra as oscilações cambiais. INTRODUÇÃO Tratar de câmbio não é tarefa fácil, porém a disciplina de Teoria e Prática Cambial, aqui abordada, buscará argumentos esclarecedores e facilitadores sobre este tema. Os processos existentes na área de comércio exterior de uma organização geram inúmeras possibilidades de trabalho. As empresas procuram constantemente profissionais gabaritados para atuar na área. Desse modo, compreender as nuances referentes à área cambial é o objetivo principal do presente livro‑texto. Por meio da busca de referências atualizadas – sem desconsiderar de que forma cada um dos processos foi gerado e determinado –, teremos a capacidade de nos evadir do aspecto meramente teórico e aplicar de forma prática o conhecimento adquirido. Ao analisar a estrutura então desenvolvida, percebe‑se a necessidade de conceituar, além de esclarecer, as principais questões com as quais o profissional envolvido na área de comércio exterior se deparará. Atualmente, o número de organizações que buscam romper fronteiras e explorar novos mercados tem crescido e isso gera um excelente nicho de mercado. A premissa de que uma taxa de câmbio é favorável à exportação permite afirmar que esta seja a grande ocasião de o mercado alimentar um ledo engano, visto que no Brasil há uma enorme carência de bens de capital, dessa forma, o processo de importação, ainda que o câmbio esteja desfavorável, é bastante relevante. Com isso, espera‑se que este livro‑texto possa sanar grande parte das dúvidas, e por que não, dos anseios dos discentes, bem como possa despertar grande interesse pelo tema. Bons estudos! 11 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Unidade I 1 A ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O sistema financeiro brasileiro passou por diversas alterações ao longo dos anos. Ao analisar este sistema, é necessário buscar a compreensão de como ele era e qual é sua estrutura atual. Conforme destacado por Lopes e Rossetti (1998), a evolução do sistema financeiro nacional é inerente ao desenvolvimento de nossa economia. Podemos, assim, dividir em cinco fases a evolução do sistema financeiro brasileiro segundo os autores citados: • Do Império até a República. • Período entreguerras e a Grande Depressão. • Iniciada em 1945 até as reformas institucionais de 1964 e 1965. • Das reformas de 1964‑1965 até a promulgação da Constituição de 1988. • Introdução dos bancos múltiplos e a necessidade de capital mínimo para abertura dessas instituições (fim da carta patente). Apesar da importância que as duas primeiras fases possuem, iniciaremos nossos estudos a partir da terceira fase. Saiba mais Para compreender as referidas fases, é recomendada a leitura da dissertação de mestrado de Nanci Souto de Assis (2007) – Análise dos efeitos da globalização monetária e financeira sobre a estrutura e o funcionamento do sistema financeiro brasileiro. No capítulo I ela aborda o contexto histórico do sistema financeiro nacional. Podemos afirmar que a terceira fase inicia uma nova era para a economia brasileira. O sistema financeiro passa por reformas no intuito de se modernizar, ainda que este seja transformado em um sistema muito mais complexo do que o anterior. 12 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I Vale ressaltar que o referido sistema antes das reformas institucionalizadas atravessou diversas transformações, tais como: • Aumento no número de intermediários financeiros com o aumento na penetração do espaço geográfico. • Criação da Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito), o que representou o primeiro passo para a introdução do Banco Central. • Criação de órgão para financiar a infraestrutura do País, denominado BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico). • Busca da redução das desigualdades regionais brasileiras por meio da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento do Amazonas) e Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), entre outros bancos de auxílio. • Desenvolvimento – devido à necessidade de ampliação de crédito – de companhias responsáveis pelo auxílio à população que buscava os bens produzidos pelos novos setores (durável e de capital). Observação Os bens de capital são aqueles usados para a produção de outros bens e que não são finalizados na produção, apenas se desgastam, como é o caso das máquinas e dos equipamentos. Já os bens de consumo duráveis são aqueles disponíveis para consumo da população e que serão utilizados diversas vezes, por exemplo, um automóvel. As reformas de 1964‑1965 foram introduzidas no Brasil através de leis específicas, a saber: • Lei 4.380, de 21 de agosto de 1964: institui a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da Habitação (BNH), as Sociedades de Crédito Imobiliário, as letras imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras providências. • Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964: dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias; cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências. Além disso, estrutura o sistema: I – do Conselho Monetário Nacional; II – do Banco Central do Brasil; III – do Banco do Brasil S. A.; IV – do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico; V – das demais instituições financeiras públicas e privadas. • Lei 4.728, de 14 de julho de 1965: disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento. 13 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL As reformas propostas tinham como objetivo melhorar e agilizar o processo de intermediação financeira do sistema financeiro brasileiro. Porém, apesar de todos os esforços, o que se obteve não foi o planejado, tal como Costa (1999, p. 283) nos destaca como resultados dessas reformas: 1 – a falta de autonomia do Banco Central; 2 – o acúmulo de funções no Banco Central: executor da política monetária e da política cambial, banco emissor, banco dos bancos, banqueiro do governo, banco de fomento, controlador das operações com o exterior, fiscal do sistema financeiro; 3 – o caráter híbrido do Banco do Brasil, pois não transferiu todas as funções de autoridade monetária para o Banco Central; 4 – o Conselho Monetário Nacional subordinado ao Ministério da Fazenda, tornando‑se um órgão homologatório de decisões já tomadas para diluir responsabilidades; 5 – a ausência da unificação de orçamentos, com o orçamento monetário, na prática, tornando‑se o segundo orçamento patrimonial da União, sem controle do Congresso; 6 – a diminuição do prazo de vencimento dos títulos que lastreariam empréstimos de longo prazo; 7 – a indefinição da figura do “poupador” no investidor institucional (fundos de pensão, seguradoras, etc.), pois não se consegue montar um sistema financeiro com base na “poupança voluntária” individual, mas sim na “poupança compulsória” coletiva (FGTS, PIS‑Pasep, Finsocial, etc.); 8 – o abandono da política de especialização (COSTA, 1999, p. 283). Ao tratar do ponto de vista operacional, essas reformas desenvolveram o sistema, mesmo ancorado em depósitos à vista. Lembrete Em bancos comerciais existem dois tipos de depósitos: à vista e a prazo; depósitos à vista são aqueles que não são remunerados, o que conhecemos como conta‑corrente. Já os depósitos a prazo são conhecidos por sua remuneração, via taxa de juros, ao dinheiro aplicado, além disso, existe um limite de tempo para manter o valor nessa aplicação. A quarta fase é concluída com a promulgação da Constituição Federal de 1988. O presidente da época, José Sarney, implementou o Plano Cruzado, que tinha como objetivo reduzir (ou melhor, acabar) com a inflação no Brasil. Esse Plano atingia, ademais, o sistema financeiro nacional com algumas alterações determinantes e profundas para o brasileiro, entre as quais podemos destacar: fim da conta movimento – conhecida por ser o “cheque especial” do governo, era mantida no Banco do Brasil; autorização para que os bancos cobrassem pelos serviços prestados ao público; criação do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) com o intuito de distribuir recursos entre os agentes superavitários e deficitários, mas somente no ambiente bancário. 14 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I Os bancos comerciais, para fechar as suas posições diárias, realizam empréstimos entre eles, isto é, se o banco X precisar de dinheiro, pedirá emprestado ao banco Y, e este, por sua vez, pedirá ao banco Z. Esta operação é viabilizada por meio do CDI. 1.1 Funcionamento após 1988 O Conselho Monetário Nacional, patrocinado pelo Banco Mundial, promoveu um reordenamento no sistema financeiro nacional. A nova estruturação trouxe alterações fundamentais ao sistema, das quais podemos destacar o fim da carta patente, documento que autorizava o funcionamento dos bancos; com a eliminação dela, as instituições necessitavam indicar um capital mínimo para cada carteira. Isso conferia aos bancos autorização para atuarem como múltiplos, ou seja, os bancos poderiam a partir daquele momento possuírem mais de uma carteira em sua estrutura, porém era necessário que demonstrassem capital mínimo para cada uma delas. Observação As carteiras de um banco podem ser: comerciais – basicamente captam depósitos à vista e oferecem crédito; investimentos – não possuem conta‑corrente para seus clientes, apenas fundos de investimentos e fornecem empréstimo de médio e longo prazo; desenvolvimento – tem como principal objetivo o fomento de estruturas e regiões; múltiplos – bancos que operam com duas ou mais carteiras. O sistema financeiro brasileiro é dividido em dois subsistemas: o normativo e o de intermediação; podemos destacá‑los por suas características e seus objetivos. O subsistemanormativo é a parte que almeja a manutenção do sistema financeiro. Ele é responsável pelas normas e legislação que regulamentam o sistema. Citamos, entre outros: Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Caixa Econômica Federal. Já o subsistema de intermediação tem por objetivo aproximar os deficitários (pessoas físicas ou jurídicas que necessitam de crédito) dos superavitários (pessoas físicas ou jurídicas que desejam deixar dinheiro aplicado). Nesse subsistema identificamos: instituições financeiras bancárias – bancos comerciais, múltiplos e caixas econômicas; instituições financeiras não bancárias – bancos de investimentos e sociedades de crédito, financiamento e investimento; sociedade brasileira de poupança e crédito – formada pela Caixa Econômica Federal, sociedades de crédito imobiliário, associação de poupança e empréstimos e bancos múltiplos; instituições auxiliares – bolsas de valores, sociedades corretoras e agentes autônomos de investimentos; instituições não financeiras – factorings e sociedades seguradoras. 15 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Caixa Econômica Federal (CEF) Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Instituições financeiras bancárias Instituições financeiras não bancárias Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) Instituições auxiliares Instituições não financeiras Comissão de Valores mobiliários (CVM) Instituições especiais Banco Central (Bacen) Su bs is te m a no rm at iv o Su bs is te m a de in te rm ed ia çã o Si st em a Fi na nc ei ro N ac io na l ( SF N ) Conselho Monetário Nacional (CMN) Comissões consultivas Banco do Brasil (BB) Figura 1 ‑ Estrutura atual do sistema financeiro nacional Dentre os elementos que constituem o sistema financeiro nacional, ilustraremos apenas os que afetam diretamente o comércio exterior e nossa compreensão a respeito de nossa disciplina: Teoria e Prática Cambial. 16 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I Saiba mais A fim de maiores esclarecimentos a respeito da economia monetária nacional, recomenda‑se a leitura da obra Economia monetária: uma abordagem brasileira (2009), de José Roberto Novaes de Almeida. Disponível em: <http://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788522465323>. Acesso em: 21 mar. 2017. 1.2 Comércio exterior no Brasil O comércio exterior brasileiro é subordinado ao Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), no entanto a estrutura existente determina que todas as operações sejam devidamente registradas e reguladas por outros organismos. Assim, vejamos na estrutura do sistema brasileiro quais são os principais órgãos competentes. Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) Presidência da república Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) Secretaria de Comércio Exterior (Secex) Conselho Monetário Nacional Banco Central do Brasil (Bacen) Ministério da Fazenda Secretaria da Receita Federal (RFB) Figura 2 O Conselho Monetário Nacional (CMN): é o órgão supremo do sistema financeiro. Possui funções apenas normativas e não executivas. Ele é responsável pelas diretrizes de política monetária, fiscal e cambial. São, entre outras, competências do CMN: conciliar o volume dos meios de pagamentos 17 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL à necessidade econômica; regular o valor interno da moeda; regular o valor externo da moeda; direcionar a aplicação de recursos das instituições públicas e privadas; cuidar da liquidez e solvência das instituições financeiras; normatizar a política cambial; e coordenar as políticas monetária, fiscal, creditícia, orçamentária fiscal e da dívida pública interna e externa. Atualmente o Conselho Monetário Nacional é composto de ministro da Fazenda, ministro do Planejamento e presidente do Banco Central. O Banco Central do Brasil (Bacen) é o responsável pela execução das medidas implementadas pelo sistema, a este corresponde, entre outros: emitir papel‑moeda; executar serviços do meio circulante; receber depósitos compulsórios; realizar operações, redescontos; ser o banco executor da política monetária; e ser o banco do Governo. Existem outros órgãos essenciais para o funcionamento do comércio exterior brasileiro, como é o caso da Câmara de Comércio Exterior (Camex), conforme destacamos no organograma. Ela foi reestruturada em 2001 e é responsável pela formulação, decisão e orientação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços. Dessa forma, também são de sua atribuição: • diretrizes e procedimentos relativos à implementação da política de comércio exterior; • coordenar e orientar as ações no âmbito do comércio exterior; • especificar normas e procedimentos para a atividade importadora e exportadora; • estabelecer diretrizes para as negociações internacionais; • orientar a política aduaneira; • elaborar as diretrizes para a política tarifária; • simplificar e racionalizar o comércio exterior; • designar diretrizes e procedimentos para investigações relativas às práticas desleais; • determinar a política de financiamento das exportações; • fixar diretrizes e coordenar políticas de promoção de mercadorias e de serviços no exterior e de informação comercial; e • fixar as alíquotas do imposto de importação. Igualmente podemos destacar a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), que está vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e tem entre suas atribuições a condução das políticas de comércio exterior e gestão do controle comercial. Este órgão normatiza, 18 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I supervisiona, orienta, planeja, controla e avalia as atividades de comércio exterior. Além disso, a Secex participa das negociações dos acordos comerciais internacionais do governo brasileiro, promove a cultura exportadora, defere atos concessórios de drawback, anui operações de exportação e importação, faz o exame de similaridade para averiguação de produção nacional, compila a balança comercial, promove a defesa comercial do país, entre outras competências. Por fim, temos a Secretaria da Receita Federal, que está vinculada e subordinada ao Ministério da Fazenda e possui alto grau de inserção no comércio exterior. É de sua alçada cuidar das questões tributárias federais; primar pelo aperfeiçoamento e regulamentação da legislação tributária; aplicar a legislação fiscal e correlata; acompanhar a política tributária e fiscal e seus desdobramentos; articular‑se entre os diferentes órgãos da Administração Federal. Conforme destaca Vazquez, as “[...] Secretaria da Receita Federal, Secretaria de Comércio Exterior e [o] Banco Central do Brasil formam um triunvirato que exerce o maior poder sobre o comércio exterior brasileiro” (2009, p. 26). Ao conhecer a estrutura existente no sistema financeiro brasileiro e os principais órgãos de comércio exterior, podemos tratar de um dos problemas existentes nas operações internacionais, isto é, como comprar e pagar ou vender e receber. 2 MERCADO DE CÂMBIO Após compreender as estruturas do sistema financeiro nacional e do comércio exterior brasileiro, é importante dialogarmos sobre o grande problema nastrocas entre os países, ou seja, como efetuar pagamentos para outras nações com as diferentes moedas. Assim, temos um problema para o qual buscamos soluções por meio do mercado cambial. Entender todo esse processo é o objetivo da segunda parte desta unidade. O mercado de câmbio é um componente dos chamados mercados do dinheiro, que podem ser representados da seguinte forma: Mercado monetário Mercado de crédito Mercado de capitais Mercado cambial Mercado financeiro Figura 3 19 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Saiba mais Para maior compreensão sobre o mercado cambial, leia a obra Mercado financeiro (2015), de Alexandre Assaf Neto. Disponível em: <https://integrada. minhabiblioteca.com.br/books/9788597002591>. Acesso em: 22 mar. 2017. O mercado de câmbio, cambial ou de divisas busca solucionar os problemas existentes no momento de transacionar em moeda estrangeira. Essas transações são dadas através de dois atos: o de comprar e o de vender. Quando um país adquire um produto no exterior, ele necessita enviar numerários, já quando ele vende para outro país, vai recebê‑los do estrangeiro. Em seguida exemplificamos, de modo resumido, o processo, o qual retomaremos com mais detalhes adiante. A empresa X é brasileira e adquiriu um determinado produto em outro país, ou melhor, importou do Japão. Após receber a mercadoria e proceder todos os trâmites legais, deverá efetuar um pagamento à sua vendedora japonesa. Assim, ela entregará moeda nacional (reais) e solicitará a transferência para o Japão em moeda desse país, ou seja, o iene. A empresa Y, que é nacional, vendeu produtos para uma outra estadunidense. Após todos os procedimentos legais, a sociedade estrangeira efetua o pagamento em dólares para sua fornecedora brasileira. Contudo, ao ingressar tal moeda no Brasil, ela deve ser convertida em real, ou seja, na moeda nacional. O processo de conversão cambial é complexo, mas ao longo deste e dos próximos capítulos vamos analisá‑lo devidamente. Podemos definir, então, que existem, basicamente, dois elementos que compõem o mercado de câmbio: os compradores e os vendedores. Os compradores são os importadores e os vendedores, os exportadores. No entanto, é interessante destacar que existem outras operações no mercado internacional, por exemplo, empréstimos, comércio turístico, transferências, os quais da mesma forma estarão sujeitos ao mercado de câmbio. Com relação às transações no comércio de câmbio, Ratti (2011) destaca cinco categorias, que são as transações: • entre bancos e clientes dentro de um mesmo país; • entre bancos de um mesmo país; • entre bancos localizados em diferentes países; 20 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I • entre bancos e bancos centrais dentro do mesmo país; e • entre bancos centrais localizados em diferentes países. 2.1 Participantes do mercado cambial Conforme esclarecido anteriormente, o comércio de câmbio é composto de importadores e exportadores, porém outros agentes também participam dele. Desse modo, apresentamos todos a seguir: • Vendedores: são os que desejam vender divisas. Eles almejam trocar moeda estrangeira por moeda nacional. Podemos elencá‑los como exportadores, tomadores de divisas, turistas estrangeiros, prestadores de serviços e investidores estrangeiros. • Compradores: aqueles que tencionam comprar divisas. São os que possuem moeda nacional e necessitam de moeda estrangeira. Citando os principais componentes, observamos importadores, turistas nacionais no exterior, compradores de serviços, investidores e devedores no exterior. • Bancos: são os responsáveis por intermediar as operações de câmbio. Na maior parte dos países, eles são de intervenção obrigatória. No Brasil, todas as operações com moeda internacional devem passar por uma instituição financeira. Caso isso não ocorra, são consideradas ilegais. • Operadores de câmbio e corretoras de câmbio: são agentes especializados a orientar os clientes com relação à legislação cambial, bem como operar com bancos, buscando condições favoráveis de compra e venda de divisas. Já os operadores são conhecidos como dealers e encarregam‑se de comprar e vender moedas, devendo sempre estar atentos ao funcionamento das praças internacionais. As corretoras, por sua vez, têm como objetivo aproximar bancos e clientes visando às melhores taxas e condições para seus clientes. • Operadores credenciados e agências de turismo e hotéis. Observação Alguns países aceitam legalmente o papel do especulador. Nesses casos, eles servem como agentes equilibradores do mercado. A figura a seguir demonstra o processo de corretagem e os momentos de intervenção dos corretores: Vendedor Banco Compradores Corretor Corretor Figura 4 21 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Lembrete O termo divisas significa a quantidade de moeda estrangeira que um governo possui. Elas advêm de todas as operações realizadas no comércio exterior. 2.2 Negociação do câmbio O Banco Central do Brasil (2014) define o mercado de câmbio da seguinte forma: [...] é regulamentado e fiscalizado pelo Banco Central e compreende as operações de compra e de venda de moeda estrangeira, as operações em moeda nacional entre residentes, domiciliados ou com sede no País e residentes, domiciliados ou com sede no exterior e as operações com ouro‑instrumento cambial, realizadas por intermédio das instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio pelo Banco Central, diretamente ou por meio de seus correspondentes (BACEN, 2014). Ao fazer uma operação internacional de importação, exportação, ou prestação de serviços, deve‑se emitir um contrato de câmbio. Esse contrato é responsável por ditar tudo o que foi acordado entre as partes e ele formaliza o processo de compra e venda de moeda estrangeira. Todo o contrato de câmbio deve ser registrado em sistema específico do Bacen. Esse sistema é o Sisbacen e tem por objetivo realizar a interface entre os bancos e o Banco Central. O Banco Central se serve das informações disponibilizadas no Sisbacen para compreender o comércio de câmbio no Brasil através de estatísticas e mapeamento por empresa. Nem todas as operações de compra e venda de moeda estrangeira obrigam a emissão de um contrato de câmbio. Conforme legislação atual as operações no valor de US$ 3.000 ou valor equivalente em outras moedas dispensam o contrato de câmbio. Porém, são obrigatórios a identificação do cliente e o registro no sistema de câmbio (BACEN, 2017). Dois pontos merecem destaque em relação ao mercado de câmbio. Primeiro, os bancos são os grandes atores desse comércio. Eles são os responsáveis por circular a moeda estrangeira. Assim, se existe muita moeda estrangeira nos cofres de uma instituição financeira, ela vende parte delas para outro banco que tenha pouca moeda. Segundo, todas as operações acontecem por meio virtual, ou seja, não existe movimentação física de tais numerários. Ainda vale lembrar que as transações no mercado de câmbio ocorrem em cinco categorias: • bancos e clientes dentro do país; 22 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I • bancos do mesmo país; • bancos de diferentes países; • bancos e bancos centrais do mesmo país; • bancos centrais de diferentes países. 2.3 Funcionamento do mercado de câmbio Ao pensar em mercado de câmbio, é importante compreender que devido ao fuso horário existente, ele funciona 24 horas por dia.No momento em que os mercados asiáticos estão fechando, aqui no Brasil estamos dando início às operações, é preciso, portanto, que o comércio cambial funcione o tempo todo. No negócio cambial diariamente é estipulada uma nova taxa de câmbio. Os operadores e corretores verificam no mercado qual a taxa ideal de trabalho. Para chegar a ela são levados em conta diversos, elementos, por exemplo, a taxa do dia anterior, as informações econômicas, a natureza política, entre outros fatores que julgarem necessários. A taxa de câmbio de abertura para compra e venda é aquela que os bancos declaram que irão trabalhar no exato momento que começam suas operações. Porém, dependendo do regime cambial adotado pelo país, essa taxa pode ser alterada ao longo do dia. Quando um determinado cliente da instituição bancária vende moeda para ela, o preço pago por essa moeda é o de compra. Para entender melhor, a instituição é a compradora da moeda, logo a taxa paga é a de compra. Essa taxa também é chamada de bid rate. No caso de um cliente que deseja comprar moeda estrangeira com o banco, ele pagará o preço de venda correspondente a ela. Isso acontece porque a instituição financeira é a vendedora. Nesse caso, a taxa recebe o nome de offer rate. O lucro dessa instituição é gerado na diferença que ela consegue entre o preço de compra e o de venda. Esse resultado é denominado spread. Ao buscar a cotação ideal, os agentes envolvidos com câmbio devem verificar se o respectivo país dá o certo ou o incerto. O termo dar o certo significa a quantidade de moeda estrangeira que um indivíduo consegue adquirir com uma unidade de moeda nacional. Já o termo dar o incerto é a quantidade de moeda nacional que é adquirida com uma unidade de moeda estrangeira. Podemos, assim, exemplificar: • Dar o certo: R$ 1,00 = US$ 0,798 • Dar o incerto: US$ 1,00 = R$ 3,26 23 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Praticamente todos os países dão o incerto, exceto a Inglaterra. Nas terras da rainha, sempre será dado o certo! As instituições financeiras ao longo do dia apresentam uma dada posição cambial. Elas são classificadas em nivelada (balanced), comprada (long position) e vendida (short position). Em seguida destacamos o que cada uma delas significa. • Nivelada (balanced): nessa posição, os bancos operam a mesma quantidade moeda tanto na compra quanto na venda. Assim, o saldo do banco fica igual a zero, logo, a sua posição está nivelada. • Comprada (long position): ao longo de um dia, foram realizadas operações nas quais a instituição adquiriu mais moeda do que vendeu. Dessa maneira, sua posição é comprada, pois possui saldo positivo. • Vendida (short position): as operações de venda foram superiores às de compra, logo, vendeu mais do que comprou. O caixa do banco fica negativo com essa operação vendida. Para melhor compreensão, lancemos mão do exemplo utilizado por Maia (2008), o qual foi adaptado para o nosso material. O banco X comprou ao longo de um dia um total de US$ 10 milhões. Ele vendeu a quantia de US$ 8 milhões. A sua posição ficou comprada (long position), pois seu saldo em caixa é de US$ 2 milhões. No dia seguinte, a mesma instituição bancária compra US$ 7 milhões, mas vende US$ 15 milhões. O caixa do dia anterior era de US$ 2 milhões, com a compra e venda deste dia, o resultado final em seu caixa é de US$ 6 milhões a débito, gerando uma posição vendida (short position). No terceiro dia, partindo de um saldo devedor de US$ 6 milhões, o banco compra US$ 10 milhões e vende US$ 4 milhões, nesse caso, nivela sua posição, o que resulta em um saldo igual a zero. Na prática, a posição vendida é algo que não poderia acontecer, haja vista que ninguém pode vender o que não possui. No entanto, os bancos se servem de solicitação de pagamento por parte de outros. Assim, os bancos emitem a ordem de pagamento e pedem emprestado a outros. Quando a posição do solicitante do empréstimo for nivelada, ele quita com a instituição desse empréstimo. Adaptado de: Maia (2008). 24 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I Saiba mais As moedas são denominadas em dólares devido ao acordo conhecido por Bretton Woods. Nele ficou definida a nova ordem do sistema financeiro internacional após as duas Grandes Guerras. Para melhor compreensão, leia o texto História e reforma do sistema monetário internacional (1995). Disponível em: <http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/ view/8643208/10756>. Acesso em: 23 mar. 2017. 2.4 Subdivisões do mercado cambial O mercado de câmbio é dividido em vários outros mercados. Essa divisão acontece “por conveniência didática” (RATTI, 2011, p. 117), com isso, podemos observar o mercado sacado, o qual compreende as operações dos bancos, nas quais compra e vende divisas estrangeiras. Essas são representadas por depósitos, letras de câmbio, cheques, ordens de pagamento etc. Para que as operações nesse mercado ocorram, é necessário que o banco nacional possua um correspondente no exterior e, desse modo, efetive a operação. As operações no mercado sacado sofrem uma divisão e podem ser classificadas como financeiras – as que não estão diretamente ligadas à importação ou exportação; elas se aplicam a operações como donativos, royalties, juros, dividendos, amortização de empréstimos etc.; e comerciais – determinadas pelas operações de importação e exportação. Ainda na abordagem das subdivisões dos mercados cambiais, temos o mercado de câmbio manual, que é condicionado pelo uso de moeda em espécie. Ele é pouco empregado, tendo em conta o uso de moeda física, porém viajantes através de moeda física e dos traveller’s checks e operações comerciais (importação e exportação) de pequeno volume também o utilizam. Verificamos igualmente o mercado paralelo de câmbio, que, além de ser comum no Brasil, tem operações realizadas por pessoas físicas ou jurídicas não autorizadas a operar no mercado de câmbio. Podemos definir, portanto, que essas operações são ilegítimas. Mesmo não legitimadas, elas ocorrem tanto em mercado sacado quanto manual. Conforme destaca Ratti (2011), existem alguns motivos para a existência desse mercado, entre eles apontamos: instabilidade política; instabilidade monetária; remessa clandestina de lucros; pagamento de mercadorias contrabandeadas; tráfico de drogas e armas; excesso de encargos no mercado legal; limitações existentes no mercado oficial; câmbio português; e pagamento de propinas e subornos. O chamado câmbio português é uma estratégia dos exportadores brasileiros, usualmente de café, mas podem ser outras mercadorias. Tais agentes não podem vender seu produto com preço abaixo do estipulado pelo governo. Desse modo, [...] legalmente o exportador vende o café ao preço determinado pelo governo, ao mesmo tempo que remete ao importador estrangeiro, pelo mercado 25 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL paralelo, a diferença entre o preço total combinado com o importador e o preço legal constante da documentação de exportação (RATTI, 2011, p. 120). Nessa subdivisão de mercados, o mercado de câmbio primário tem o objetivo de efetuar operações de entrega e recebimento de moeda de importadores e exportadores (não bancários) a uma instituição financeira. Já o mercado de câmbio secundário, também conhecido como mercado de câmbio interbancário, executa as operações de compra e venda de moeda estrangeira por instituições financeiras (bancos) autorizadas a operar com câmbio. Nesse tipo de mercado, não há impacto sobre o balanço de pagamentos. Finalmente,observamos o mercado de câmbio à vista e o de câmbio a termo. O primeiro faz operações de compra e venda de moeda que deverão ser liquidadas à vista ou no prazo limite estipulado, em até dois dias úteis. Esse mercado é conhecido, tanto nacional quanto internacionalmente, como spot. Já o segundo abrange as operações no futuro, ou seja, aquelas são efetuadas em uma data, porém a entrega das divisas ocorre em outra data, mantendo um câmbio fixo. Esse mercado também é conhecido como mercado futuro no jargão bancário ou por forward exchange. Existem vantagens e desvantagens em operações dessa ordem, pois se a taxa de câmbio no dia da entrega das divisas for maior do que a do câmbio pronto, então será pago um prêmio por elas. No entanto, se a taxa futura for inferior à taxa pronta, haverá um desconto. A fim de esclarecermos esse aspecto, vamos a um exemplo. Se US$ 1,00 for igual a R$ 2,03451 para entrega pronta e para entrega futura for R$ 2,05431, houve um prêmio. O desconto ocorre quando US$ 1,00 for igual a R$ 2,05431 na entrega pronta, porém na entrega futura for igual R$ 2,03451. É importante destacar que os bancos possuem mecanismos internos para impedir grandes flutuações cambiais ou, no limite, para minimizar os seus impactos. O balanço de pagamentos, que citamos anteriormente, é o registro contábil de todas as operações realizadas entre os residentes e os não residentes de um país, servindo como referência para apontar sua situação econômica e financeira. 2.5 Controle cambial Ao tratarmos a respeito do comércio de câmbio, uma janela é aberta, e então fazemos trocas no mercado internacional. Tais operações podem nos colocar em uma posição fragilizada. Para estancar – ou mesmo sair dessa posição –, os governos se utilizam de controles em relação ao câmbio. Assim, o objetivo dessa seção é apresentar e esclarecer tais controles em termos mundiais e, é claro, compreender os que são estipulados no Brasil. Para melhor estruturar a questão do controle de cambial, necessitamos primeiramente elucidar o que é um balanço de pagamentos. 2.5.1 Balanço de pagamentos O balanço de pagamentos surge da necessidade dos países registrarem todas as transações existentes entre todos seus residentes e não residentes. Podemos defini‑lo como “[...] registro contábil de todas as 26 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I transações, ocorridas em um certo período de tempo, entre residentes e não residentes de um país” (MONTELLA, 2004, p. 131). A estrutura desse balanço visa abranger as principais relações existentes em transações. No caso das entradas de divisas, elas sempre serão lançadas com um sinal positivo e as saídas com sinal negativo. Igualmente existe o conceito das partidas dobradas, presente em balanços, e também conhecido no jargão contábil como: todo débito possui um crédito. Portanto, é possível exemplificar essa estrutura da seguinte forma: • Transações correntes (1) — Balança comercial – Exportações – Importações — Serviços – Viagens – Transportes – Seguros – Financeiros – Computação e informações – Royalties e licenças – Aluguel de equipamentos – Serviços governamentais – Outros — Rendas – Salários e ordenados – Rendas de investimentos (juros, lucros e dividendos) 27 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL — Transferências unilaterais – Donativos – Manutenção de residentes no país • Conta capital (2) — Transferência de patrimônio • Conta financeira (3) — Investimentos diretos — Investimentos em carteira — Derivativos — Outros investimentos • Erros e omissões (4) • Saldo (1+2+3+4) 2.5.2 Origens do controle cambial O controle cambial surgiu para corrigir ou minimizar os déficits recorrentes em balanços de pagamentos. O mundo passou por momentos de relativa estabilidade no período prévio à Primeira Guerra Mundial. Com uma taxa de câmbio fixa, não existiam grandes instabilidades, no entanto, com a deflagração do conflito em 1914, os países mudaram suas políticas cambiais. Ao fim do conflito, em 1918, o regime cambial instituído foi o flutuante, dessa forma, os balanços de pagamentos passaram a sofrer os efeitos dessa flexibilidade do câmbio. Diante da necessidade dos países se protegerem de alguma forma desses impactos, foram criados os controles cambiais. 2.5.3 Modalidades de controle cambiais Os controles cambiais podem ser feitos de acordo com os objetivos dos governos. As autoridades monetárias podem estabelecer os controles efetuados através de barreiras alfandegárias ou via câmbio. Além desses dois tipos de fiscalização, existe um terceiro, baseado na mistura dos dois anteriores, conhecido como misto. Barreiras tarifárias: são formas de o Poder Público controlar a entrada de mercadorias estrangeiras no País. Nesse caso é importante observar que não há controle sobre a quantidade de divisas estrangeiras, 28 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I mas sim sobre a forma como elas serão empregadas. Para exercer tal controle, o governo restringe a importação de algumas mercadorias, podendo chegar à proibição total de entrada do produto em território nacional. Pode ser solicitada licença prévia de importação, documento emitido por órgãos competentes que, após verificação minuciosa, aprovam ou não a continuidade no processo de importação. Controle via câmbio: realiza‑se o racionamento de divisas. O governo pode definir o quanto se pode adquirir de moeda estrangeira. O destino dado a ela não é mais de interesse do governo. Dentro do controle via câmbio, existem outras duas formas de racionamento: a primeira é a quota para compra de câmbio, a qual impõe limitações para compra de moeda estrangeira, de acordo com os objetivos do governo; essa medida, muito aplicada nos anos 1970, prejudicava bastante os importadores de bens de capital. A segunda implica a limitação de gastos no exterior, assim, o governo evita que os gastos no exterior sejam elevados, afetando diretamente as viagens. Ainda com base na limitação, o governo buscava incentivar o turismo nacional em detrimento do internacional. Controle misto: aplicam‑se tanto barreiras tarifárias como controle via câmbio. Observação A licença de importação é um documento eletrônico processado através do Siscomex, utilizado para licenciar as importações de produtos cuja natureza ou tipo de operação está sujeita a controles de órgãos governamentais. Sempre é necessário verificar se a mercadoria a ser importada exige ou não esse documento. No caso de um controle cambial baseado em quotas para compra de câmbio, o importador de bens de capital poderá não ter condições de efetuar o pagamento da mercadoria. Vale lembrar que os bens de capital são aqueles que são usados na produção, mas que não são consumidos por ela, e nesse conceito estão incluídos máquinas e equipamentos. Existem, ainda, os sistemas de controle de câmbio, os quais são adotados de diversas maneiras, seja de forma separada, seja de forma conjunta. Em seguida, vamos analisar cada um deles. Compensação privada (barter): acordo no qual duas empresas, uma nacional e outra estrangeira, estabelecem acordo referente às mercadorias transacionadas, suas quantidades e seus valores. Nele, as duas organizações se comprometem a não deixar saldos monetários. Essa operação é denominada back‑to‑back, o que podemos traduzir como um crédito contra o outro. Acordos de compensação (barter): nesse caso, parte‑se do princípio da compensação privada, porém, em vez de se efetuar entre sociedades, os acordos de compensaçãosão feitos entre governos. Esses acordos determinam quais as mercadorias serão transacionadas e a que preços, sem a existência de saldos em aberto. Destaca‑se, ademais, a não existência de contrapartida em moeda. 29 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Acordo de pagamento: alguns países podem passar por certas dificuldades para saldar seus débitos com outra nação. À vista disso, são criados acordos que facilitam a quitação de tal dívida. Os países podem aplicar parte do que receberiam com as importações para esse pagamento e manterem a relação com seu credor. Clearings bilaterais: devido a alguns países possuírem moedas inconversíveis internacionalmente, são firmados contratos entre eles para que possam negociar sem a necessidade de usar uma moeda forte para pagamento. Os países poderão, conforme acordo estabelecido, definir se usam suas moedas ou as de outro país. Esse numerário é chamado de moeda de convênio. Desse modo, as transações acontecerão e os saldos existentes não poderão ser aproveitados, pois estes serão considerados inconversíveis, podendo ser usados exclusivamente dentro dos países em questão. Após o vencimento desse acordo, as nações podem ou não renová‑lo. Em caso de cancelamento, o pagamento dos saldos remanescentes deve ser realizado em ouro ou em moeda conversível internacionalmente. O esquema proposto por Ratti (2011) pode nos auxiliar a compreender como funciona o clearing bilateral. País A E I’ Banco 1Banco central Banco 2 Banco central País B I E’ Figura 5 30 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I Clearing multilateral: diferentemente do clearing bilateral, o multilateral busca agrupar um número maior de países em um mesmo trato. Neste caso, os países poderão transacionar entre eles e definirão um organismo centralizador. Esse órgão fará o papel da compensação de todas as contas dos países com moeda inconversível e demais membros participantes. É possível identificar alguns acordos existentes que se assemelham a um clearing multilateral, como é o caso da União Europeia de Pagamentos (UEP) e o Sistema de Créditos Recíprocos da Associação Latino‑americana de Integração. Contas bloqueadas (blocked accounts): os não residentes de um determinado país podem efetuar depósitos nelas. Devido a problemas de balanço de pagamentos ou por questões políticas entre os dois países, são impostos bloqueios de contas. Algumas vezes esses bloqueios são tão repentinos, que os proprietários não têm tempo de reconduzir o dinheiro ao país de origem. Esses fundos, dependendo da decisão do governo, podem ser utilizados para investimentos no país bloqueador ou para liquidação de importações com o país com saldos bloqueados. Observação As chamadas contas bloqueadas não devem ser confundidas com contas congeladas. As congeladas surgem quando os países se tornam rivais, impedindo a movimentação de qualquer forma dos fundos. Racionamento de divisas: o organismo central (Banco Central), de posse das divisas adquiridas através dos bancos privados ou diretamente com os agentes exportadores, faz a venda destas aos importadores via quotas mensais ou semanais, ou através de leilões de divisas. No intuito de manter o racionamento, o organismo central também pode liberar licenças de importação. Sistema de taxa única e de taxas múltiplas: o sistema de taxa única determina que exista apenas uma taxa de câmbio para qualquer tipo de operação, seja comercial, seja financeira. Essa taxa poderá ser definida pelo governo (fixa) ou flutuar de acordo com o mercado. Já no sistema de taxas múltiplas existem diferentes quotas para diferentes operações, como uma taxa de câmbio para os exportadores e outra para os importadores. Assim como a taxa única, as múltiplas podem ser fixas ou flutuantes, de acordo com a vontade do governo. No Brasil já vigorou o sistema de taxas múltiplas nos anos 1950. Esse sistema gerava muitos inconvenientes, pois existiam cinco diferentes taxas de câmbio. 2.5.4 Sistema de créditos recíprocos No intuito de estimular a cooperação financeira e comercial na América Latina, foi criado em 1965 o Sistema de Créditos Recíprocos para a Alalc (Associação Latino‑americana de Livre Comércio), que teve seu nome alterado para Associação Latino‑americana de Integração (Aladi). A adoção de um sistema de compensação multilateral facilitaria o alcance do objetivo de integração e cooperação, tanto financeira quanto comercial, entre os países latino‑americanos. 31 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL O Banco Central de Reserva do Peru é o agente compensador do sistema. Os bancos centrais dos países membros devem informar quadrimestralmente as operações que ocorreram. Em contrapartida, o agente compensador informa o saldo de todos. Caso algum país estiver com saldo devedor, deverá efetuar o pagamento com o Banco da Reserva Federal em Nova York em favor do agente compensador. Numa tentativa de não ter grandes oscilações no balanço de pagamentos, os países componentes do acordo exigem que seus importadores negociem sempre com os membros do grupo. Já os exportadores devem negociar fora dele. O Brasil possui sistema de crédito recíproco com Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana e Venezuela. Para os bancos privados, é voluntária a entrada ao sistema, porém para poder participar dele é necessária autorização do Banco Central. Observação Existem disposições especiais que restringem algumas pessoas, empresas e países no que tange o relacionamento e os negócios internacionais, entre eles: membros da Al‑Qaeda, Talibã, e outros grupos associados a essas entidades; República Democrática do Congo; Sudão; membros do antigo governo do Iraque. Todos os citados possuem sanções para o trato no comércio exterior. 2.5.5 Controle cambial no Brasil No Brasil o controle do câmbio é realizado pela autoridade monetária, que o altera de acordo com seu momento econômico e político, ou para privilegiar algum setor importante. Assim como outros países, o Brasil se serve de restrições quantitativas e qualitativas. As restrições quantitativas estão atreladas à intervenção direta no câmbio, elas são as quotas para compra e venda de câmbio para viajantes, conforme vimos. As restrições qualitativas, revisadas anteriormente, correspondem às barreiras alfandegárias, ao licenciamento de importações, à reserva de mercado e ao registro de capitais ingressantes e remetidos. O controle de câmbio em território brasileiro é estabelecido por entes do sistema financeiro nacional, entre eles: Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Secretaria da Receita Federal, Banco do Brasil, entre outros. 32 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I 2.6 Taxa de câmbio Na seção anterior foram discutidos os aspectos do chamado controle cambial e em diversos momentos citamos a taxa de câmbio. Para que uma nação possa exercer a atividade comercial com o exterior, precisa denominar a sua moeda em relação à outra estrangeira, isto é, regular o valor de sua moeda em relação à moeda estrangeira. Acentuamos que, apesar de algumas moedas serem inconversíveis, elas possuem um preço interno. Estudaremos a seguir como é formada a taxa de câmbio, quais são seus tipos e suas modalidades. 2.6.1 Formatação da taxa de câmbio Podemos definir taxa de câmbio, conforme ilustrado por Fortuna (2002, p. 313), como “a taxa de câmbio correspondeao preço da moeda de um país em relação à outra de outro país”. Devemos entender a moeda dos países como uma mercadoria como outra qualquer. Os produtos que estão à venda são sujeitos ao desejo de compra dos consumidores, logo, em termos econômicos, dizemos que estão sujeitos à lei de oferta e procura. De modo sumário, a lei de oferta e demanda dispõe que quando existe uma grande quantidade de um produto no mercado, o preço dele tende a cair. O contrário também é verdade, ou seja, quando um produto está escasso, seu preço propende a aumentar. O quadro seguinte, elaborado por Maia (2008, p. 147), exemplifica o que ocorre com a taxa de câmbio, se há um aumento ou uma redução na oferta e na demanda. Quadro 1 O = Oferta D = Demanda Taxa estável Taxa ascendente Taxa descendente O igual a P O cresce e P cresce igualmente O diminui e P diminui igualmente X X X P maior que O P estável e O diminui O cresce e P cresce mais do que O O diminui e P diminui mais do que O X X X X O cresce e P fica estável O cresce e P diminui P cresce e O cresce mais que P O diminui e P diminui mais que O X X X X Fonte: Maia (2008, p.147). 33 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Saiba mais Segundo a teoria clássica da economia, os mercados estarão sempre em equilíbrio. Do contrário, estaremos em um momento de imperfeição do comércio. Dentro deste conceito, foi desenvolvida a Lei de Say, famosa pela máxima “toda oferta gera sua própria demanda”. Recomenda‑se a leitura do ensaio A lei de Say para mais informações sobre ela. Disponível em: <http://revistas.fee.tche.br/index. php/ensaios/article/view/903/1186>. Acesso em: 23 mar. 2017. Ao tratar das variações de oferta e demanda das divisas de um dado país, é conveniente compreender o que faz que isso aconteça. O primeiro motivo é o que se denomina movimentos de transação. Nesse caso, existe a entrada e saída de valores devido às operações que acontecem ao longo do dia. Essas operações são as de saídas de divisas (importação, pagamento de serviços, saída de capitais) e as de suas entradas (exportações, recebimento de serviços e entrada de capitais). Outro motivo para que existam variações no volume de divisas no país e, consequentemente, nas taxas de câmbio, são os movimentos especulativos. Esse tipo de influência é utilizado na tentativa de desestabilizar o mercado cambial. Um agente pode comprá‑las ou vendê‑las em montantes que atrapalhem os objetivos planejados pelo órgão econômico do país. A forma de minimizar os impactos, principalmente das especulações, é a criação do fundo de estabilização. Nesse fundo são mantidas quantidades de ouro e moeda estrangeira que possibilitarão o controle em relação à taxa de câmbio. Outra medida é o congelamento dessa taxa. Em tal caso, o governo mantém o valor da moeda nacional frente à estrangeira, sem alterações por um determinado espaço de tempo. É importante destacar que as moedas possuem uma paridade entre elas. Durante o chamado período do Padrão Ouro, as moedas tinham sua conversão baseada nesse metal e todas as nações deveriam demonstrar essa relação. Após esse período, a Teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC) se tornou fundamental para essa relação entre as moedas. O quadro a seguir resume as principais moedas negociadas ao redor do mundo. Quadro 2 Código Nome Símbolo Código País País 55 Coroa dinamarquesa DKK 2321 Dinamarca 65 Coroa norueguesa NOK 5380 Noruega 70 Coroa sueca SEK 7641 Suécia 150 Dólar australiano AUD 698 Austrália 165 Dólar canadense CAD 1490 Canadá 34 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade I 220 Dólar dos EUA USD 2496 Estados Unidos 425 Franco suíço CHF 7676 Suíça 470 Iene JPY 3999 Japão 540 Libra esterlina GBP 6289 Reino Unido 978 Euro EUR 0 ‑ Adaptado de: Bacen (2017). Saiba mais Com relação à Teoria da Paridade do Poder de Compra, recomenda‑ se a leitura do artigo Paridade do poder de compra, renda per capita e outros indicadores econômicos (2000), de Samuel Kilsztajn. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/rpe/article/view/12001/8694>. Acesso em: 30 mar. 2017. 2.6.2 Tipos de taxa de câmbio As taxas de câmbio mais conhecidas são as de compra e venda, porém existem outros tipos que asseguram o sistema cambial. Veja em seguida quais são eles: • Taxa de compra: preço que o banco privado está disposto a pagar para adquirir moeda estrangeira no mercado. Nesse caso, se a cotação de venda é R$ 3,6042 e o de compra é de R$ 3,5801 por dólar, o operador de câmbio pagará o menor preço. • Taxa de venda: é o valor que o banco privado utilizará para entregar moeda estrangeira aos compradores. Assim, se o preço de venda for R$ 3,6042 e o de compra é de R$ 3,5801 por dólar, o operador de câmbio cobrará o maior preço. • Taxa de repasse: o Banco Central aplica essa taxa quando deseja adquirir moeda estrangeira com os bancos privados. • Taxa de cobertura: usada quando os bancos privados desejam comprar moeda estrangeira do Banco Central, logo eles pagam uma taxa diferenciada para compor suas carteiras. • Taxa livre: as livres forças do mercado (oferta e demanda) vigoram nesse tipo de taxa. As taxas livres são formadas no mercado observando‑se a quantidade de divisas estrangeiras em circulação. O governo pode, porém, fazer algum tipo de intervenção, buscando reduzir as grandes oscilações. • Taxa oficial: a autoridade monetária decide quanto será a taxa de câmbio do dia. Assim, não são observadas a oferta e a demanda, somente a regulação do governo. 35 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL • Taxa pronta: é a taxa que tem liquidação à vista ou no máximo em dois dias úteis a partir da data da operação, conforme rege a legislação. Também é chamada de taxa spot. • Taxa futura: a moeda estrangeira será entregue em uma data futura, devidamente acertada entre as partes, com objetivo de buscar uma melhor cotação, o que incorre em riscos. Ela é conhecida igualmente como taxa forward. • Taxa fixa: é uma taxa estipulada pela autoridade monetária que não sofrerá alterações ao longo do tempo. • Taxa variável: possui a prerrogativa de ser alterada ao longo do tempo, o que é estipulado pelo governo. Lembrete Tanto a taxa fixa quanto a variável dependerão do regime cambial adotado pelo País. Trataremos desses regimes adiante. • Taxa Ptax: é a média ponderada dos negócios operados em moeda forte (dólar, por exemplo) apurada pelo Banco Central do Brasil no decorrer do dia. Ela é lançada no site do Bacen e serve de base para todas as operações com moeda estrangeira no mercado brasileiro. • Taxa cruzada ou cross rate: alguns países exercem operações entre eles e conhecem a taxa cambial da sua moeda em relação ao dólar. No entanto, para determinar a taxa entre elas, é necessário envolver uma terceira moeda. Em suma, é a cotação de duas moedas baseada numa terceira. O exemplo demonstrado por Maia (2008) pode facilitar a nossa compreensão: Um operador de câmbio busca a relação entre o franco suíço (Sw.Fr) com o euro (€), porém ele só tem a taxa do euro em relação ao dólar, logo precisa definir a cotação da seguinte forma: US$ 1,00 = Sw.Fr. 1,4685 US$ 1,00 = € 1,5865 Desse modo, é possível concluir que: Sw.Fr. 1,4685 = € 1,5865 Lançamos mão de uma regra de três para chegar ao resultado. Ao utilizar a nomenclatura matemática, obtemos: 36 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1
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