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empresa empresario e estabelecimento empresarial

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EMPRESA, EMPRESÁRIO
E ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL
	
4.1 Conceito de empresa
	O direito brasileiro filia-se ao sistema subjetivo italiano ­ teoria da empresa -, voltando a doutrina suas preocupações para a conceituação jurídica da empresa como atividade econômica a gerar direitos e obrigações, na medida em que este conceito é que determina e delimita o conteúdo do direito comercial moderno. Reconhecida a importância de se construir um conceito preciso de empresa, é de se constatar que nosso ordenamento jurídico, com a edição do Código Civil, passa a contar com um conceito legal do que seja empresário: aquele que "exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços".1 Do referido conceito, por via transversa, chega-se ao entendimento do que vem a ser empresa.
	Com isso, pode-se afirmar que é o aspecto econômico da empresa que acaba por influenciar diretamente a sua conceituação jurídica. Carvalho de Mendonça2 chegou a afirmar, inclusive, que não há que se distinguir os conceitos econômico e jurídico de empresa, uma vez que são a mesma coisa. Para aquele autor empresa é "a organização técnico-econômica que se propõe a produzir, mediante a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados à troca (venda), com a esperança de realizar lucros, correndo os riscos por conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob a sua responsabilidade".
	Cada vez mais se sedimenta o entendimento de que a empresa nada mais é senão a atividade desenvolvida pelo empresário, sujeito de direito. É a materialização da iniciativa criadora do empresário, da projeção patrimonial de seu trabalho de organização dos distintos fatores produtivos. Repita-se, empresa é a atividade desenvolvida pelo empresário. Tomemos como exemplo uma indústria de automóveis. O empresário, nesse caso, será a sociedade que tenha por objeto social a fabricação de automóveis e a empresa desenvolvida por este empresário (atividade) é a construção de automóveis.
4.2 Distinção entre empresa e sociedade
	A empresa atividade exercida pelo empresário - não pressupõe a existência de uma sociedade, na medida em que esta atividade pode ser exercida por uma única pessoa física e não por um conjunto de pessoas reunidas em sociedade. Enquanto a sociedade é o sujeito de direito, a empresa é objeto de direito, ou seja, a empresa, ao contrário da sociedade, não tem personalidade jurídica, não é pessoa jurídica.
	O empresário pode apresentar-se por meio de uma sociedade, se exercida por uma pessoa jurídica (reunião de diversas outras pessoas), ou então pode surgir mediante o exercício empresarial desempenhado por uma única pessoa natural o empresário individual. Fábio Ulhoa Coelho3 lembra que nosso ordenamento jurídico, no mais das vezes, regula a atividade empresarial partindo da pessoa do comerciante individual, pessoa física. No entanto, hoje a atividade empresarial é exercida com mais frequência por sociedades empresárias, o que acaba por ensejar frequente confusão entre o empresário pessoa jurídica e seus sócios. Dessa forma, não é correto denominar-se empresa a sociedade, e seus sócios empresários, como costuma acontecer quotidianamente. A empresa é a atividade explorada pela sociedade, e o empresário é a própria sociedade e não as pessoas que a constituem, daí a denominação sociedade empresária.
4.3 Espécies de empresários
	As empresas podem ser classificadas, quanto à atividade desenvolvida, em comerciais, industriais, prestadoras de serviços e agropecuárias. Podemos também dividi-las, levando em conta a qualidade de seus sócios, em empresas públicas, privadas e de economia mista. Basta que qualquer destes entes econômicos se enquadre no conceito de empresário (art. 966, CC) para que a eles se atribua esta qualidade.
	A empresa comercial é aquela que tem como atividade econômica a prática de atos de interposição de troca, ou seja, o empresário comercial deverá se organizar para a aquisição de mercadorias para sua posterior venda com a realização de lucro, lucro este advindo da diferença a maior entre o preço de compra e o de venda. Como exemplo temos os empresários atacadistas, que adquirem bens da indústria e os repassam para o comércio. O empresário industrial, além de praticar atos de interposição de troca, comprando e vendendo bens, o faz agregando a estes bens determinada qualidade, e isso se dá mediante a transformação da matéria-prima adquirida em produto final é o caso de uma indústria de fabricação de móveis. Essa indústria adquire madeira, ferragens e produtos químicos, transformando-os em camas, mesas, cadeiras etc. O empresário prestador de serviços, por sua vez, exerce atividade da qual não resulta um determinado produto tangível, como ocorre com a indústria. Trata-se da aplicação da mão de obra para a realização de alguma atividade economicamente relevante. É o caso do serviço de transporte, de telecomunicações ou de limpeza e conservação.
	Por fim, o empresário agropecuário é aquele que se utiliza da terra, retirando dela bens destinados ao consumo. Historicamente a atividade ligada à agricultura e à pecuária sempre foi tratada pelo direito civil e não pelo comercial, isso por se considerar que esta atividade pressupõe somente relações do proprietário com a terra, além de alguns poucos e simples contratos.4 Ocorre, no entanto, que este entendimento vem sofrendo severas críticas, dando ensejo ao surgimento de corrente doutrinária que entende tratar-se a atividade ligada à terra (agricultura e pecuária), nos tempos modernos, verdadeira empresa, na medida em que se utiliza de modernos métodos de produção, tais como maquinários, técnicas e recursos sofisticados para a produção de bens. Essa discussão, no entanto, com a edição do atual Código Civil perde razão de ser, na medida em que o conceito de empresário não exclui a atividade do campo. Assim, toda e qualquer atividade ligada à agropecuária, desde que seja exercida de maneira profissional e organizada, conforme preconizado pelo art. 966 do CC, será considerada atividade empresarial. Devemos lembrar, nesse passo, o art. 971, que faculta ao empresário rural a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, cuja ausência de inscrição não pode lhe retirar a qualidade de empresário.
	Será pública aquela empresa, muito embora se trate de pessoa jurídica de direito privado, cujo capital esteja exclusivamente depositado nas mãos do Estado, que a criou, mediante previsão legal, constituída sob qualquer das formas admitidas em Direito, para explorar determinada atividade econômica de interesse social. Privada é aquela empresa que está nas mãos dos particulares, e de economia mista quando temos uma empresa em que o capital privado e o público se unem para a consecução de um objetivo empresarial em comum, devendo necessariamente ser constituída sob a forma de sociedade anônima, conforme será visto mais adiante quando tratarmos das diversas espécies de sociedades empresárias.
4.4 Empresário ou comerciante
	O legislador de 1850, ao dar origem a nosso Código Comercial, construiu um sistema baseado no comerciante, que era aquele sujeito que praticava atos de comércio, conforme o elenco trazido pelo Regulamento 737, e fazia da mercancia profissão habitual. Com o advento dos processos de industrialização, o direito, comercial passa a trazer em seu bojo a ideia da atividade empresária desenvolvida não somente pelo comerciante, mas, no mais das vezes, por sociedades empresárias.
	Seguindo este raciocínio, o empresário nada mais é senão o comerciante dos dias atuais, não existindo qualquer motivo para se fazer distinção entre essas duas figuras, que, na verdade, representam o sujeito com o qual se ocupa o direito comercial, ou, numa nomenclatura mais atualizada, o direito empresarial. Dentro dessa perspectiva, o comerciante ou empresário não está mais atado aos estritos limites do elenco legislativo dos atos do comércio - sua atividade hoje é maisabrangente e compreende a existência de uma organização que combina os elementos natureza, trabalho e capital com o fito de produzir ou trocar bens ou serviços. 
	Portanto, nota-se que o conceito de comércio, para o direito comercial, vem se alargando com o tempo, na medida em que nele se compreende não somente o ato de intermediação da compra e venda de mercadorias, mas tudo quanto se possa incluir na atividade empresarial, e é nestes termos que a expressão "comerciante" ou "atividade comercial" deve ser entendida no âmbito do direito comercial moderno. No entanto, procurando a exata significação dos termos "empresário" e "comerciante", podemos dizer que todo comerciante será um empresário, empresário que tem como objeto de trabalho atos de interposição de troca de mercadorias.
4.5 Qualificação do empresário
	Para que possamos delimitar apropriadamente o objeto do estudo do direito comercial, devemos identificar quem é o empresário ou comerciante, ou seja, quem está sujeito às normas do direito comercial.
	O registro perante as Juntas Comerciais não é necessária para que se caracterize a figura do comerciante ou empresário, bastando que ocorra o exercício profissional da atividade empresarial, na medida em que não é a referida matrícula que o do qualifica, art. 967 do CC, que considera obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis, não significa que somente aqueles empresários registrados serão considerados como tal, mas, sim, que será empresário aquele que venha a exercer profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços (art. 966, CC), independentemente de qualquer inscrição, cuja falta denota tão somente o exerci cio irregular da profissão, não o descaracterizando como empresário.
	O direito brasileiro aderiu ao sistema francês de qualificação do comerciante, que objetivamente identifica o comerciante como aquele que exerce atos de comércio e deles faz profissão habitual, nos termos do art. 1º do Código Comercial francês de 1807; ou seja, no Brasil, é pelo simples exercício do comércio, independente da existência de registro, que se determina se alguém é ou não comerciante. Com a edição do atual Código Civil, o sistema de qualificação do agora denominado empresário não muda, ou seja, basta que alguém exerça profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços para que seja, considerado empresário para todos os efeitos. No entanto, além dele existem outros sistemas legislativos para a qualificação do comerciante, entre os quais vale destacar o antigo sistema espanhol, o suíço e o alemão.
	Ao contrário do francês, o antigo sistema espanhol, estampado no Código Comercial espanhol de 1829, exige para a caracterização do comerciante que ele, além da prática habitual do comércio, obtenha a matrícula de comerciante no Registro do Comércio, ou seja, seria comerciante somente aquele que conjugasse a habitualidade com a matrícula. Hoje, no entanto, não é este o sistema em vigor. Desde a edição do Código Comercial espanhol de 1885, não é mais necessária a matrícula, o que o aproxima do sistema francês.
	O sistema alemão concebe três espécies diferentes de comerciantes, levando-se em conta o motivo para a sua inscrição. São forçados à matrícula aqueles comerciantes que explorem atividade enumerada como mercantil, nos termos do art. 1º, II, do Código Comercial de 1897. É obrigatória a matrícula a todo aquele que, mesmo não empreendendo ocupação enumerada no Código Comercial, explora atividade empresarial. Por fim, pode tornar-se comerciante voluntário aquele que, desenvolvendo atividade mercantil de forma acessória, como é o caso do agricultor, pecuarista e silvicultor, se matricula no Registro de Comércio.
	Como vimos,5 é empresário "quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços".6 Ao decompor tal conceito legal, temos que: a) o empresário deve desenvolver seu ofício mediante uma atividade, um desenrolar de atos praticados repetidas vezes, e não através de um único ato isolado que não se prolonga no tempo; b) esta atividade deve ser de natureza econômica, ou seja, deve ser criadora de riqueza, seja mediante a produção de bens ou serviços; c) a atividade deve ser organizada, ou seja, o empresário deverá utilizar-se de forma planejada dos meios de produção (bens naturais, capital, trabalho e tecnologia), com o objetivo de buscar o lucro; d) deve estar presente também a profissionalidade, que consiste na habitualidade da atividade e em seu intento de lucro; e e) a atividade deve estar voltada para a produção ou circulação de bens ou serviços destinados a abastecer o mercado, não sendo considerado empresário aquele que desenvolve uma determinada atividade para o seu próprio consumo.
	Devemos registrar, por fim, que as sociedades anônimas sempre serão consideradas sociedades empresárias, por força do art. 2º, § 1º, da Lei 6.404/76 e as parágrafo sociedades único cooperativas do art. 982 serão sempre sociedades simples, conforme estabelece o parágrafo único do art. 982 do CC.
4.6 Estabelecimento empresarial
	Se a empresa é a atividade exercida pelo empresário, a sua representação patrimonial é denominada de estabelecimento, que é a reunião de todos os bens necessários para a realização da atividade empresarial, também chamada de fundo de comércio, sob a influência dos franceses, ou azienda, para os italianos.
	Estes bens, que em seu conjunto acabam ganhando um sobrevalor, na medida em que a reunião deles acaba por produzir a riqueza explorada pelo empresário, podem ser materiais ou imateriais. Os primeiros são o maquinário da indústria, as estantes da livraria, as mesas e cadeiras do restaurante etc., e os segundos, por exemplo, são a marca do produto ou a designação do estabelecimento difundido pela clientela. Assim, o estabelecimento comercial é a representação física (mesmo que imaterial) da empresa. O art. 1.142 do CC conceitua o estabelecimento como sendo todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária, podendo o mesmo, muito embora se trate de uma universalidade de bens, ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, desde que sejam compatíveis com sua natureza (art. 1.143). A este assunto voltaremos com mais vagar no Capítulo 9.
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