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Edição do dia 03/04/2018 03/04/2018 21h53 - Atualizado em 03/04/2018 21h56 Em 2016, Supremo decide que pode haver prisão após segunda instância Ministros entenderam que como o mérito da condenação já havia sido julgado duas vezes, o princípio da presunção de inocência não foi ferido. 0:00/10:02 No ano de 2016, a Corte mudou a jurisprudência e passou a considerar que sim, que o cumprimento da pena pode começar após a condenação em segunda instância. Esse entendimento foi reafirmado em três julgamentos. Em fevereiro de 2016, o Supremo decidiu que um réu condenado em segunda instância poderia cumprir imediatamente a pena. Foi no julgamento de um habeas corpus que, em tese, valeria apenas para aquele caso específico. Mas, com base nessa decisão, muitos juízes de todo o país passaram a expedir mandados de prisão com essa orientação. A Ordem dos Advogados do Brasil e o Partido Ecológico Nacional entraram com um pedido para o Supremo voltar a discutir o assunto e determinar se, afinal, a prisão de condenados em segunda instância era inconstitucional ou não. Em outubro de 2016, os 11 ministros mais uma vez se reuniram para julgar o tema e, por seis votos a cinco, reafirmaram o entendimento de que o parágrafo 57 do artigo 5º da Constituição, que diz que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não impede o início da execução da pena após condenação em segunda instância. Os ministros entenderam que, nessa fase, como o mérito da condenação já foi julgado duas vezes, o princípio da presunção de inocência não foi ferido. Votaram a favor os ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Teori Zavascki, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia. Votaram contra e ficaram vencidos os ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Nesse julgamento, Gilmar Mendes explicou por que mudava seu entendimento expresso em 2009 para votar a favor da prisão de réu condenado em segunda instância. “Não se conhece no mundo civilizado um país que exija o trânsito em julgado. Em princípio se diz que se pode executar a prisão com decisão de segundo grau. Uma coisa é termos alguém como investigado. Outra coisa é termos alguém como denunciado, com denúncia recebida. Outra coisa é ter alguém com condenação e agora com condenação em segundo grau. Quer dizer, o sistema estabelece uma progressiva de ‘ruição’, vamos chamar assim, da ideia de presunção da inocência. E nós sabemos da nossa experiência. Amanhã um sujeito planta um processo qualquer, embargos de declaração, e aquilo passa a ser tratado como rotina a despeito... O processo ainda não transitou em julgado, vamos examinar. E daqui a pouco sobrevém uma prescrição, com todas as consequências e o quadro de impunidade. Eu acho que os presídios brasileiros vão melhorar daqui para a frente, porque se descobriu que se pode ir para a cadeia, doutor Kakay”, disse o ministro na ocasião. Gilmar Mendes continuou: “Poderá haver erros? Sempre poderá. É possível reverter? Todo dia pode ocorrer isso. Mas também não vamos esquecer que o sistema permite correção. Permite até o impedimento do início da execução da pena com a obtenção de liminar em habeas corpus. Não há nenhuma dúvida de que a realidade mostra que nós precisamos, sim, levar em conta não só o aspecto normativo, que ao meu ver legitima a compreensão da presunção de inocência nos limites aqui estabelecidos a partir do voto do relator, como também, e aqueles que o acompanharam, como também levaram em conta a própria realidade, que permite que exigir o trânsito em julgado formal, transforme o sistema num sistema de impunidade”. A repercussão geral foi decidida em novembro, numa reunião plenária virtual dos ministros do Supremo formalizando a jurisprudência. De lá para cá, a composição do Supremo mudou. Alexandre de Moraes substituiu Teori Zavascki, vítima de um acidente aéreo em Parati, em janeiro de 2017. Mas Moraes declarou ter a mesma posição de Teori sobre o assunto. Em livros que escreveu e na sabatina que aprovou seu nome no Senado para ser ministro, ele defendeu a prisão de réu condenado em segunda instância e argumentou que isso não fere o princípio da presunção de inocência, porque o condenado pode continuar recorrendo em instâncias superiores. “Não é inconstitucional a prisão em segunda instância. Como vossa excelência disse, não há uma determinação legal, mas também não há um impeditivo. Quem deve decidir sobre isso é o tribunal de segunda instância, exatamente porque, e esse é o fundamento jurídico que coloco, são primeira e segunda instâncias que podem analisar os fatos, o mérito da questão. Ou seja, primeira e segunda instâncias que podem analisar provas”, disse o ministro na sabatina no Senado. Declarações recentes do ministro Gilmar Mendes, tanto durante julgamentos quanto em entrevistas, deixaram claro que ele mudou de posição e adotou um entendimento intermediário, sugerido pelo ministro Dias Toffoli. A pena só poderia ser cumprida depois da manifestação da terceira instância, ou seja, do Superior Tribunal de Justiça. Em agosto de 2017, o ministro concedeu habeas corpus para soltar um homem condenado em segunda instância. Não é incomum que ministros mudem de opinião à luz de novos fatos. Nesta terça-feira (3), em Portugal, onde participou de um seminário, Gilmar Mendes falou sobre essa mudança de posição. “Na questão da segunda instância, o meu entendimento, que acompanhei a maioria formada então, é de que nós estávamos dando uma autorização para que, a partir da segunda instância, houvesse a prisão. Portanto, era um termo de possibilidade. Na prática, virou uma ordem de prisão. Para mim é uma grande confusão que nós temos de esclarecer nesse julgamento. Se o juiz a partir da segunda instância pode prender, ele tem de fundamentar, ele tem que dar uma causa, ele tem que explicar por que ele está defendendo a prisão. Se de fato há uma automaticidade, nós já temos um outro quadro. Só aqui nós já temos uma grande confusão. E me parece que é importante o tribunal esclarecer isso de maneira definitiva.” Gilmar está voando de volta a Brasília para participar do julgamento de quarta-feira (4). A mudança de posição dele alteraria também o placar no Supremo, que poderia passar a ser de seis a cinco, para impedir a prisão de réu condenado em segunda instância. Na quarta, as atenções vão se voltar também para o voto daquela que é considerada a ministra mais discreta do Supremo. Rosa Weber não dá entrevista e só costuma falar nos autos do processo. No julgamento de outubro de 2016, votou contra a prisão em segunda instância. “Se a Constituição, o seu texto, com clareza, vincula o princípio da presunção de inocência ou da não culpabilidade a uma condenação transitada em julgado, eu não vejo como possa chegar a uma interpretação diversa”, disse a ministra na ocasião. Mas de lá para cá, a ministra analisou 58 pedidos de habeas corpus para livrar da prisão réu condenado em segunda instância e negou 57 deles. Em muitos destas decisões, a ministra enfatizou que tinha que respeitar o entendimento do Supremo mesmo contra suas convicções pessoais; que a decisão da maioria da Suprema Corte gerou jurisprudência a ser seguida por todos. Na última sessão em se começou a discutir o habeas corpus a favor do ex-presidente Lula, Rosa Weber votou a favor de que o Supremo analisasse o HC, embora tenha declarado que era contra o tipo de recurso apresentado ao Supremo. Mais uma vez, a ministra disse que respeitava a decisão do colegiado de ministros. “É que, na jurisprudência do plenário, eu, que privilegio o princípio da colegialidade, eu conheço destehabeas corpus consubstanciado no aditamento que se ofertou, ressalvando a minha posição pessoal a respeito do tema. Peço vênia às compreensões contrárias e, por isso, senhora presidente, acompanhando a divergência, eu rejeito as preliminares”. Se seguir o respeito à jurisprudência definida em 2016, Rosa Weber votará pela prisão de condenados em segunda instância. Mas ela pode entender que, como o assunto estará sendo debatido no plenário, essa deve ser a ocasião para se rediscutir a jurisprudência. Na primeira parte do julgamento do HC de Lula, o ministro mais antigo no Supremo, Celso de Mello, frisou que é em plenário que se firmam convicções. “Estamos em sede plenária onde se reabre o exame pleno da controvérsia”. Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/04/em-2016-supremo-decide-que- pode-haver-prisao-apos-segunda-instancia.html. Acessado em 31/01/2019.
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