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Linguística II resumo 1-

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Aula 1
Dizemos que a teoria linguística possui uma abordagem cognitiva
moderada porque deve ocupar-se primordialmente com o quê da competência
linguística humana, e não com o como dos processos mentais e
cerebrais a ela subjacentes. O teórico da linguagem não necessariamente
frequenta laboratórios científicos ou realiza trabalhos empíricos que
observam o comportamento da mente e do cérebro em funcionamento
real. Tal como Chomsky, o linguista teórico pode trabalhar exclusivamente em seu escritório, formulando teorias de maneira conceitual e dialética, bem ao estilo da filosofia. Ou seja, o teórico cria uma hipótese abstrata de como a língua deve ser na mente da pessoa – como, por exemplo, propor que a sintaxe (combinação entre palavras) é um fenômeno que antecede mentalmente a semântica (interpretação de significados), ou seja, levantar a hipótese de que as pessoas primeiro constroem mentalmente estruturas com as palavras, e só depois conferem significado para essas estruturas.
A faculdade da linguagem é, com efeito, a disposição biológica que todos os indivíduos humanos saudáveis possuem para adquirir, produzir e compreender palavras,
frases e discursos.
Não obstante, tão importante quanto entendermos por que possuímos a faculdade da linguagem é descobrir como é a sua natureza e o seu funcionamento na mente dos indivíduos. O porquê e o como da linguagem na mente humana são os objetos de pesquisa da linguística
como ciência cognitiva.
linguagem é, portanto, um conhecimento tácito, implícito, inconsciente no conjunto da cognição humana. Denominamos esse tipo de conhecimento como conhecimento linguístico ou competência linguística.
Assim, a realidade teórica do conhecimento linguístico é o objeto das pesquisas em teoria linguística. Já a psicolinguística tem como objeto de estudo a realidade psicológica das línguas naturais no seu funcionamento em tempo real na mente humana. Por fi m, o objeto da
neurolinguística é a realidade neurológica da linguagem no cérebro, em sua substância eletroquímica.
o gerativismo é uma teoria linguística que surgiu em meados do século XX e mantém-se infl uente até os dias atuais. Como uma teoria, o gerativismo deve formular um modelo de como a linguagem
funciona na mente humana. Para o gerativismo, a linguagem é uma faculdade mental capaz de “gerar” as frases que somos capazes de produzir e compreender. Finalmente, vimos que Noam Chomsky
é um eminente linguista norte-americano, criador e teórico mais importante do gerativismo.
Chomsky é considerado
um dos pensadores mais importantes da história moderna. Suas ideias revolucionaram o estudo da linguagem e inseriram a linguística no contexto da revolução cognitiva dos anos 60 do século XX. Chomsky foi um
severo crítico da psicologia behaviorista dominante na primeira metade do século passado. Para os behavioristas, todos os tipos de comportamento humano ou animal são gerados externamente, por meio de cadeias associativas entre dados estímulos e certas repostas. Para esses estudiosos, a associação entre estímulo e resposta é criada pela repetição, por meio de “recompensas” ou “reforços” advindos do ambiente. Segundo um behaviorista, o aprendizado pela pura repetição aconteceria mesmo no que diz respeito à linguagem humana, por ele denominada “comportamento linguístico”. Em 1959, Chomsky publicou sua clássica resenha sobre o livro Comportamento verbal, do famoso behaviorista B. F. Skinner. Na resenha, Chomsky demonstrou o caráter criativo da linguagem humana, sua natureza mental e abstrata, por oposição ao modelo de linguagem como “comportamento condicionado pelo ambiente” defendido pelos behavioristas. Desde então, Chomsky tem se empenhado na formulação de uma teoria sobre a natureza da linguagem na mente humana. No estágio atual de sua pesquisa, o chamado Programa Minimalista, Chomsky defende a hipótese de que todas as línguas naturais são um conjunto de princípios universais e inatos e de parâmetros, também inatos, mas
formatados durante o período da aquisição da linguagem.
Linguística II
Língua I e língua E
Aula 2
Língua-I corresponde ao conjunto de capacidades e habilidades mentais que fazem com que o indivíduo particular seja capaz de produzir e compreender um número potencialmente infinito de expressões linguísticas na língua de seu ambiente.
Língua I é o conhecimento linguístico de uma pessoa, aquilo que está presente em sua mente e lhe permite usar uma língua E. Por exemplo, a habilidade dinâmica de relacionar os itens do código Língua Portuguesa em frases complexas e extrair deles informação de significado é a língua I.
Língua E corresponde grosso modo ao que comumente se interpreta como língua ou idioma no senso comum, por pessoas que não frequentaram cursos especializados em linguística. Por exemplo, o português é uma língua E no sentido de que é esse fenômeno sociocultural, histórico e político que compreende um código linguístico: a língua portuguesa.
língua E
Por sua vez, a dimensão sociocultural/objetiva das línguas
é denominada língua-E, em que “E” quer dizer externa e EXTENSIONAL.
Extensional
(coletiva, exterior) 
língua I
A dimensão mental/subjetiva do fenômeno da linguagem, que
também chamamos de cognitiva ou psicológica, é sintetizada no conceito
de língua-I, em que “I” significa interna, individual e INTENSIONAL (escrito
com “s” mesmo!). 
Intensional (individual, interior)
Módulo da linguagem 
Conforme você aprendeu, a hipótese da modularidade da mente propõe que a mente humana não seja um todo indivisível, como assumem os psicólogos da hipótese holista, dentre os quais citamos o famoso Piaget. Pelo contrário, dizer que a mente é modular significa que ela deve ser composta por distintos módulos psicológicos, cada qual especializado num tipo específico de tarefa cognitiva. Ora,como a língua desempenha uma tarefa cognitiva específica, ela deve ser caracterizada, portanto, como um módulo cognitivo autônomo.
O que há de específico no módulo linguístico? Essa é uma questão ainda em pesquisa nas ciências cognitivas, mas, pelo que até aqui estudamos, você já sabe que a especifi cidade da linguagem diz respeito à aquisição da língua do ambiente durante a infância e ao uso de uma língua-I, tanto durante a infância quanto durante a vida adulta, para a produção e compreensão de um número infinito de expressões linguísticas (frases e discursos). Dizemos que essas tarefas são específicas da linguagem porque elas não se confundem com as funções de outros módulos cognitivos, como a visão, as emoções, a memória, a percepção espacial etc.
Submódulos da linguagem 
Como você estudou, à parte de ser um módulo mental, a linguagem é também constituída por módulos internos, os submódulos. Os casos de Genie, Chelsea e Antony ilustram a relativa independência desses
submódulos. Nos três casos, temos exemplos de aquisição anormal da linguagem. Enquanto Genie e Chelsea apresentavam bom desenvolvimento nos módulos lexical, semântico e pragmático, os
seus módulos fonológico, morfológico e sintático demonstravam-se bastante comprometidos, levando a um uso defi ciente da língua.Já Antony apresentava um problema inverso, pois seus módulos
fonológico, morfológico e sintático pareciam perfeitos, mas seus módulos semântico e pragmático apresentavam-se defi cientes, o que também levava o rapaz a um uso inadequado da língua. O fato de
termos casos de defi ciências cognitivas seletivas dentro do módulo da linguagem isto é, o fato de termos um problema, por exemplo, só na sintaxe ou só na semântica, evidencia que a linguagem é também
modular. O conhecimento linguístico parece estar organizado em frações e somente algumas, mas não todas, parecem estar afetadas nos casos de Genie, Chelsea e Antony.
Chomsky (aula 5)
Para Chomsky, uma das maiores evidências em favor da existência de uma gramática universal é o argumento da pobreza de estímulos.
GU é o estágio inicial da aquisição da linguagem. Esse estágio corresponde ao estado natural da cognição linguística humanaantes do contato da criança com a língua E em seu ambiente. A GU é interpretada, portanto, como uma propriedade do cérebro humano. Essa propriedade é a concretização biológica de nossa Faculdade da Linguagem. A GU, para dar à luz uma língua I, deve receber estímulos de uma língua ambiente. É sob a estimulação de uma língua E que a GU será capaz de filtrar os dados da experiência de um indivíduo particular de modo a gerar conhecimento linguístico em sua mente. A existência de tantas línguas diferentes no mundo se justifica pela composição da GU em dois conjuntos de informações, os Princípios e os Parâmetros. Os Princípios da GU são responsáveis pelas semelhanças que as línguas compartilham entre si, como o Princípio da Subordinação. Por outro lado, os Parâmetros da GU ordenam as diferenças possíveis entre as línguas, como o Parâmetro do Sujeito Nulo.
Pobreza de estímulos (Chomsky).
Ele defende que é impossível criar uma competência linguística com base apenas nos estímulos linguísticos. Para ele, as crianças deveriam completar os dados da experiência com algum filtro (organismo) que transformasse o input finito num output infinito. Exemplo: identificação das relações sintáticas e semânticas entre o referente e a anáfora do referente.

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