Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Disciplina: Alunos com Deficiência Intelectual Autores: Esp. Paola Zanini Kern Alves Revisão de Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva / D.ra Maria Tereza Costa Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Paola Zanini Kern Alves Alunos com Deficiência Intelectual 1ª Edição 2016 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA ALVES, Paola Zanini Kern. Alunos com Deficiência Intelectual / Paola Zanini Kern Alves. – Curitiba, 2016. 38 p. Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva / Maria Tereza Costa. Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Alunos com Deficiência Intelectual – Faculdade São Braz (FSB), 2016. ISBN: 978-85-94439-15-4 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Nas últimas décadas, professores do mundo todo deparam-se com uma nova visão educacional: a inclusão de alunos com deficiência intelectual nas escolas de ensino regular. Como o processo educacional desses alunos sempre esteve sob responsabilidade da Educação Especial, é fundamental ao professor contemplar em sua formação conteúdos teóricos metodológicos acerca desses assuntos. Diante das tendências mundiais voltadas à inclusão social, não há como conhecer a deficiência intelectual sem que se realize uma leitura mais ampla a novas concepções e práticas. 6 Aula 1 – O entendimento da Deficiência Intelectual ao longo da história da humanidade e a legislação Apresentação Aula 1 Nesta aula serão contextualizadas a trajetória e a história da Deficiência Intelectual, evidenciando a legislação que envolve o atual mundo chamado de inclusão. 1. O entendimento da Deficiência Intelectual ao longo da história da humanidade e a legislação No período da Santa Inquisição Católica e da Reforma Protestante, as pessoas com deficiência eram tratadas como uma pessoa do mal com direito a castigos, torturas e até mesmo a morte. Conforme os conhecimentos na área da medicina foram avançando, a deficiência começou a ser vista como doença, incurável, mental. No Brasil, as primeiras notícias que temos são da época do Império onde foram criadas as primeiras instituições totais para as pessoas cegas e surdas. Vocabula rio Instituição total: lugar de residência e trabalho, onde um grande número de pessoas, excluído da sociedade mais ampla, por um longo período de tempo, leva uma vida enclausurada e formalmente administrada (Goffan, 1962). Na década de 50, fase marcada pelas grandes Guerras Mundiais, os países participaram das Nações Unidas e, em 1948, elaboraram a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 7 Na década de 60, grandes grupos lutavam pelos direitos das minorias, iniciando as implementações dos serviços de Reabilitação Profissional voltados para a inserção da pessoa com deficiência na sociedade. Nos anos 60 e 70, é lançado um novo olhar e criam-se novas concepções à respeito dos sujeitos com deficiência, visando a sua capacitação para a vida no espaço comum da sociedade, posição essa, que preconiza as pessoas com deficiência, visando torná-las capazes de conviver em sociedade. Com essa nova visão, iniciam-se novos modelos de trabalho como o Paradigma de Serviços e não mais de Instituição Total. Ao se afastar do Paradigma da Institucionalização e adotar as ideias de Normalização, criou-se o conceito de integração, que se referia à necessidade de modificar a pessoa com necessidades educacionais especiais, de forma que esta pudesse vir a se assemelhar, o mais possível, aos demais cidadãos, para então poder ser inserida, integrada, ao convívio em sociedade. Assim, integrar significava localizar no sujeito o alvo da mudança, embora para tanto se tomasse como necessário a efetivação de mudanças na comunidade. Entendia- se, então, que a comunidade tinha que se reorganizar para oferecer às pessoas com necessidades educacionais especiais, os serviços e os recursos de que necessitassem para viabilizar as modificações que as tornassem o mais “normais” possível. A esse modelo de atenção à pessoa com deficiência se chamou Paradigma de Serviços (ARANHA, 2005, p. 18). Aranha (2005), afirma que o Paradigma de Serviços caracteriza-se pela oferta de serviço, o qual organiza-se em três etapas: - a primeira, de avaliação, em que uma equipe de profissionais identificaria tudo o que, em sua opinião, necessitaria ser modificado no sujeito e em sua vida, de forma a torná-lo o mais normal possível; - a segunda, de intervenção, na qual a equipe passaria a oferecer (o que ocorreu com diferentes níveis de compromisso e qualidade, em diferentes locais e entidades), à pessoa com deficiência, atendimento formal e sistematizado, norteado pelos resultados obtidos na fase anterior; - a terceira, de encaminhamento (ou reencaminhamento) da pessoa com deficiência para a vida na comunidade (ARANHA, 2005, p.18-19). Após a década de 80, com o avanço da medicina, da tecnologia e dos novos conhecimentos nas diversas áreas, os quais trouxeram novas transformações sociais para as pessoas com deficiências, houveram “quebras” 8 de barreiras geográficas, intercâmbios, manutenção e melhoria na qualidade de vida (o que antes era praticamente impossível). Na década de 90, com as lutas pelos direitos humanos (ainda que em processo de atenção educacional ou terapêutico), criaram-se espaços sociais inclusivos, dando um passo ao novo Paradigma de Suporte, com o objetivo de enriquecimento social e respeito as necessidades de todos. Aranha (2005), afirma que o Paradigma de Suporte é caracterizado pelo: [...] pressuposto de que a pessoa com deficiência tem direito à convivência não segregada e ao acessoimediato e contínuo aos recursos disponíveis aos demais cidadãos. Para tanto, fez-se necessário identificar o que poderia garantir tais circunstâncias. Foi nessa busca que se desenvolveu o processo de disponibilização de suportes, instrumentos que garantam à pessoa com necessidades educacionais especiais o acesso imediato a todo e qualquer recurso da comunidade. Os suportes podem ser de diferentes tipos (social, econômico, físico, instrumental) e têm como função favorecer a construção de um processo que se passou a denominar Inclusão Social (ARANHA, 2005, p. 21). Importante O Brasil tem definido políticas e criado instrumentos legais que garantem tais direitos. A transformação dos sistemas educacionais tem se efetivado para garantir o acesso universal à escolaridade básica e a satisfação das necessidades de aprendizagem para todos os cidadãos (SEESP/MEC, 2004, p. 3). Assim, o termo deficiência intelectual tem sua origem nos primeiros anos do século XXI, vindo para substituir o termo já existente “deficiente mental”. O termo, deficiente mental, começou a ser utilizado em meados do século XIX por um modelo médico para classificar aqueles que possuíam dificuldades no desenvolvimento mental. Ao analisar todo o processo histórico, é perceptível que a construção do conceito deficiência mental sofreu influências de ordem histórica, médica 9 organicista, jurídica, psicológica, pedagógica, ecológica e sociológica (SPROVIEN & ASSUNÇÃO, 2000). Giordano, (2000) afirma: Para compreender a construção do novo conceito de deficiência, associado ao intelecto e a adaptação social, faz-se necessário analisá- lo sob a luz das relações sociais construídas a partir da base do modo de produção e suas relações imbricadas, denominadas como estrutura e suas influências na constituição da infraestrutura da sociedade em determinados momentos históricos (GIORDANO, 2000, p.15). Em meados do século XIX, nos Estados democráticos Liberais (BOBBIO, 2005), as pessoas com algum tipo de deficiência tiveram alguns direitos reconhecidos, porém ainda não garantidos: Fonte: Elaborado pelo autor (2016). No Brasil, as pessoas com deficiência que mais sofreram, foram os os deficientes das camadas mais pobres: No entanto, assim como na velha Europa, a quase totalidade das informações sobre as pessoas defeituosas está diluída em comentários relacionados aos doentes e aos pobres de um modo geral, como era usual em todas as demais partes do mundo. Na verdade no Brasil a pessoa deficiente foi considerada por vários séculos dentro da categoria mais ampla dos “miseráveis” talvez o mais pobre dos pobres (SILVA, 1986, p. 273) Revolução Francesa ONU (Organização das Nações Unidas) OMS ( Organização Mundial da Saúde) OIT ( Organização Internacional do Trabalho) OEA (Organização dos Estados das Américas) AADM (Associação Americana Deficiência Mental) 10 No Brasil Colônia, as pessoas com deficiência eram aquelas que não tinham acesso ao trabalho ou a qualquer tipo de serviço ou outros recursos. Quem então prestava assistência a essas pessoas “diferentes” eram as Igrejas Católicas por meio de seus hospitais, escolas, asilos, etc. Lobo (2008, p.337) afirma, “enquanto o Estado não assumiu a responsabilidade pela assistência, a filantropia, atuando praticamente sozinha, viveu dos corações generosos dispostos a manter suas obras.” No Brasil, em meados do século XX, como acontecia durante o processo histórico das mais variadas sociedades, a deficiência intelectual encontrava-se indissociável dos transtornos mentais. Por esse motivo, foi fundado, na época do Regime Imperial, o Hospital Psiquiátrico da Bahia aonde os primeiros médicos psiquiatras vinham para estudar e tratar os tais: “idiotas, cretinos, estúpidos, débeis mentais, etc.” (LOBO, 2008). O Código Cível de 1916, no artigo 5°, em seus incisos II e III retrata que: LEI Nº 3.071, DE 1º DE JANEIRO DE 1916 [...] Art. 5º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I- I- Os menores de 18 (dezoito) anos; II- II- Os loucos de todos os gêneros; III- III- Os surdos – mudos que não puderem exprimir vontades; IV- Os ausentes, declarados tais por ato do juiz. [...] Disponível na integra no acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm A partir dessa visão, inicia-se o processo de educação especializada ainda dentro dos pavilhões dos hospitais psiquiátricos, entre 1920 e 1950 voltado a 11 todas as crianças que apresentassem anormalidades em seu desenvolvimento mental, comportamental e/ou social. Em 1920 chegou ao Brasil três educadores com novos pensamentos pedagógicos a respeito do atendimento especializado destinado às pessoas com deficiência intelectual que se encontravam nos pavilhões dos hospitais psiquiátricos. São eles: Theodore Simon, Arthur Perrelet e Helena Antipoff. Com essa nova equipe formada, em 1940, o médico psiquiatra Stanislau Krynski tornou-se diretor do pavilhão psiquiátrico infantil do Hospital do Juqueri – São Paulo. Seu trabalho foi tão atencioso e responsável que acabou contribuindo para a criação da Clínica de Diagnóstico Terapêutico dos Distúrbios do Desenvolvimento Mental (CLIDEME) e na origem da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo (APAE-SP). A partir de 1950 até a atualidade as instituições filantrópicas, com parcerias governamentais e particulares, assumiram o trabalho de ensinar e de preparar a pessoa com deficiência. No âmbito da legislação, relacionada a pessoa com deficiência, vem defendendo um política social e educacional de inclusão e direitos a igualdade de acesso ao espaço comum da vida em sociedade (ARANHA, 2001). Seguem na sequência as legislações no âmbito internacional e nacional: DOCUMENTOS ORIENTADORES NO ÂMBITO INTERNACIONAL Fonte: Elaborado pelo autor (2016). 1948 • Declaração Universal dos Direitos Humanos 1990 • Declaração de Jomtien 1994 • Declaração de Salamanca 1999 • Declaração de Guatemala 12 Saiba Mais Para saber mais sobre os documentos norteadores internacionais acesse: - Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: http://www.dudh.org.br/wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf - Declaração de Salamanca. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001393/139394por.p df - Declaração de Jomtien. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.p df - Declaração de Guatemala. Disponível em: http://www.riadis.org/wp- content/uploads/2015/04/DECLARACION-DE-GUATEMALA- PT-final.pdf LEGISLAÇÃO BRASILEIRA (MARCOS LEGAIS) • Constituição Federal. 1988 • Estatuto da Criança e do Adolescente 1990 • Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Decreto nº 3.298 1999 • Plano Nacional da Educação 2001 • Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as formas de discriminação contra as pessoas com dificiência. 2001 • Deretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. 2001 13 Fonte: Elaborado pelo autor (2016). Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Para ampliar seus conhecimentos, leia EducaçãoInclusiva: A fundamentação filosófica, do MEC, no qual apresenta-se uma concepção filosófica de educação especial como pressuposto os Direitos Humanos. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/fundamentacaofilosofica.pdf Resumo Aula 1 Nesta aula o foco foi a trajetória da Educação Especial e da deficiência intelectual. Evidenciou-se também como se formou a sua atual concepção e quais leis garantem à essas pessoas o direito de ser cidadãos. Atividade de Aprendizagem Discorra sobre a importância da legislação, relacionada a pessoa com deficiência, evidenciando a sua Política Social e Educacional Inclusiva. Aula 2 – A Deficiência Intelectual: conceitos, causas e características Apresentação Aula 2 14 Nesta aula serão apresentados os conceitos médicos, psicológicos e psicopedagógicos, e as visões diferentes de como define-se a deficiência intelectual. 2. A Deficiência Intelectual: conceitos, causas e características A concepção de deficiência intelectual, ao longo da história, vem se modificando, mudando conceitos e formas de classificações, de acordo com acontecimentos dos momentos históricos que vivemos, e esta evolução também se dá para as pessoas de uma visão amplamente negativa. Historicamente, sempre foi delegado ao indivíduo com deficiência mental um lugar específico, do diferente, sendo a diferença considerada como atributo do indivíduo, ou seja, como algo pertencente a ele. Com isso, as pessoas com deficiência mental foram no decorrer dos anos, desacreditadas socialmente (Santos, 2007, p.39). No âmbito da deficiência, foram utilizadas várias terminologias. Pletsch (2009), evidencia algumas dessas palavras como: imbecil, débil mental, idiota (e nas últimas décadas), deficiente mental. No decorrer dos anos, com os novos estudos e as novas mentalidades filosóficas e educacionais nas áreas da medicina e da psicologia, voltadas a uma sociedade e uma educação inclusiva, a terminologia “deficiência mental” passa a ser substituída por deficiência intelectual. Em 1995, essa nova terminologia passa a ser oficialmente utilizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a partir de um Simpósio sobre a Deficiência Intelectual em Nova York. Porém, foi após a Declaração de Montreal sob Deficiência Intelectual que esta expressão passou a ser utilizada com frequência, sendo então amplamente divulgada pela Organização Pan- Americana de Saúde (OPAS). Importante Retardado Mental x Deficiente Mental Segundo a OMS: 15 RM: Utilizado para nomear aqueles indivíduos cujo desempenho educacional e social é inferior ao que se espera deles estando na origem os fatores relativos ao meio ambiente (de fora do indivíduo). DM: São as pessoas cujas condições fazem que suas capacidades mentais ou intelectuais se encontrem diminuídas como resultado de causas patológicas orgânicas (dentro da pessoas). 2.1 Classificações da Deficiência Intelectual. Não existe um modelo único de diagnóstico e classificação por graus ou níveis da deficiência. O que há é uma grande quantidade de classificações que diferem fundamentalmente de pontos de vistas. Em psicologia e pedagogia são três os paradigmas de avaliação: O grau da deficiência = QI ou estágios piagetianos; As dificuldades nas condutas adaptativas; O grau de educabilidade que determina as ações e intervenções psicopedagógicas. A deficiência deve ser compreendida como uma interação entre o funcionamento intelectual e a suas relações com o contexto social, isto é, as limitações deixam de ser observadas somente como dificuldade exclusiva da pessoa com deficiência intelectual, enquadrando-se em uma perspectiva quantitativa de inteligência, passando a ser consideradas como limitações do contexto social em ofertar apoio que ela necessita. Saiba Mais Características gerais da pessoa com deficiência intelectual: Funcionalidade intelectual geral inferior à média; Défices no funcionamento adaptativo; Início antes dos 18 anos. 16 Para se saber se ocorre a deficiência intelectual, o profissional habilitado deverá realizar avaliações utilizando, como instrumentos, provas e testes com muita cautela e responsabilidade. Entre os testes de inteligência mais utilizados pode-se citar: Teste de Inteligência Stanford – Binet; Escalas de Inteligência de Wechsler; Teste rápido de Inteligência de Kaufman; Bateria de Avaliação de Inteligência Infantil Kaufman; Avaliação do Pensamento Cognitivo de H. Kaufman. Após a realização desses instrumentos de avaliação, o profissional já pode classificar a deficiência em que se encontra a pessoa avaliada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca a deficiência mental em quatro categorias de retardo (1992): F73 RMP Profundo QI menor que 20 F72 RMG Grave QI de 20 a 34 F71 RMM Moderado QI de 35 a 49 F70 RML Leve QI de 50 a 70 Fonte: Quadro adaptado pela professora da OMS (1992). Pletsch (2009) e Pan (2008), comentam que, para a identificação da pessoa com deficiência intelectual, a American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD) adotou o conceito multidimensional que prioriza tanto os atributos individuais como o contexto em que ele vive: Dimensão I Habilidades Intelectuais: Avaliado por testes psicométricos de inteligência (QI). Essas habilidades referem-se à capacidade de ordem conceitual, raciocínio, planejamento, solução de problemas, pensamento abstrato, rapidez, etc. Dimensão II Comportamento Adaptativo: São habilidades importantes para a autonomia da pessoa, pois expressam independência pessoal e responsabilidade no meio em que vive de acordo com o esperado para a sua faixa etária e grupo social. 17 Dimensão III Participação, interação e papéis sociais: Participação na vida comunitária, em ambientes típicos dos pares da mesma idade, como o de casa, vizinhança, escola e trabalho. Dimensão IV Saúde: Completar com a saúde física e mental e os fatores etiológicos. Dimensão V Contexto: Análise do local onde a pessoa se relaciona com a família, vizinhança e escola. Fonte: Quadro adaptado pela professora da AAIDD (2002). Ví deo Assista o vídeo Você sabe o que deficiência intelectual e como identificá-la? que traz considerações importantes sobre o tema. Link: https://www.youtube.com/watch?v=BRkdTUutHws Outro aspecto proposto pela AAIDD, para a compreensão da deficiência intelectual, baseia-se no apoio que a pessoa necessita e de acordo com sua intensidade, esses apoios podem ser classificados em: Intermitentes: utilizado em situações específicas e quando necessário. Aplicado em períodos de transição na vida da pessoa. (Classe Especial); Pervasivos ou Generalizados: caracterizados como constantes, estáveis e de alta intensidade. (EE, APAE, Centros); Limitados: oferecido por tempo limitado na escola e no trabalho. Apoio a pequenos períodos que requeiram atenção de curta duração (SRM). A partir desse conceito a Deficiência Intelectual passa a ser entendida como um modo particular de funcionamento com especificidades e diferenças no desenvolvimento e aprendizagem. “A deficiência mental não se esgota na sua condição orgânica/e ou intelectual e nem pode ser definida por um único saber. Ela é uma 18 interrogação e objeto de inúmeras áreas do conhecimento” (MEC, 2007, p.15). Curiosidade As finalidades da educação especial para o alunos com deficiência intelectual são claras: apoiar, complementar,suplementar ou substituir os serviços ofertados pela escola regular: APOIAR: Prestar auxílio ao professor e ao aluno no ensino regular (recursos materiais, físicos e humanos – SRM). COMPLEMENTAR: O currículo para viabilizar o acesso à base nacional comum (Contraturno). SUBSTITUIR: Os serviços educacionais comuns “colocar em lugar de” (classes especiais, escolas especiais, centros e APAE). (MEC/SEESP, 2001) - adaptado. 2.1.1 A deficiência intelectual na visão de Piaget A ideia da Epistemologia Genética de Piaget, a qual evidencia o estudo da construção do conhecimento, tem como objetivo principal, compreender como um conhecimento mais elementar progride até o pensamento abstrato e elaborado. Piaget (1972) acredita que é através da interação com o meio que estas estruturas mentais se organizam. Piaget (1972) elenca alguns estágios que o ser humano passa. Essas fases (e/ou estágios) são sucessivamente construídos, sendo: sensório-motor; pré-operatório; operações concretas; operações formais. 19 Porém, conforme altera-se a idade, pode-se variar a condição orgânica (da criança) e suas relações com o meio ambiente. Piaget (1976), afirmava que a construção da cognição do deficiente era a mesma de outras crianças sem nenhuma deficiência, portanto, não havendo diferenças entre elas. Mantoan (1997), também relata que a deficiência intelectual seria da mesma forma que a uma construção mental inacabada. Assim, uma criança com DI passará pelos mesmos estágios de desenvolvimento, como propõe Piaget (1976), para outras crianças sem deficiência, com diferenciação: Fonte: Elaborado pelo autor (2016). Mantoan (1997), ainda coloca que, enquanto em uma criança sem deficiência há uma aceleração progressiva do pensamento operatório, na criança com deficiência observa-se lentidão ou até estagnação que conduz a viscosidade no raciocínio e limitações estruturais que dificultam a sua relação com o meio. RITMO TEMPO MENOS ALCANCE COGNITIVO 20 [...] a limitação funcional cognitiva dos deficientes, consequente (sic) de prejuízos nos sistemas básicos de retirada e retenção de informações: percepção, motricidade, memória e mobilização eficaz das capacidades cognitivas, com vistas à resolução de problemas (MANTOAN, 1997, p.59). Pelo olhar de Piaget (1976), este grupo de alunos tem possibilidades de se desenvolver pedagogicamente, desde que a escola ofereça a eles estratégias de desenvolvimento das estruturas mentais e estimulação do funcionamento intelectual. Mantoan (1993), resume que: [...] a integração escolar, cuja metáfora é o sistema de cascata, é uma forma condicional de inserção em que vai depender do aluno, ou seja, do nível de sua capacidade de adaptação às opções do sistema escolar, a sua integração, seja em uma sala regular, uma classe especial, ou mesmo em instituições especializadas. Trata-se de uma alternativa em que tudo se mantém, nada se questiona do esquema em vigor. Já a inclusão institui a inserção de uma forma mais radical, completa e sistemática, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou grupo de alunos que não foram anteriormente excluídos. A meta da inclusão é, desde o início não deixar ninguém fora do sistema escolar, que terá de se adaptar às particularidades de todos os alunos para concretizar a sua metáfora (MANTOAN, 1993. p. 3). 2.1.2 A deficiência intelectual na visão de Lev Vygotsky As principais teses de Vygotsky (1997), destacam-se na área da educação especial, principalmente quando falamos de pessoas com deficiência intelectual. Para ele, há certa relação indivíduo (sociedade a interação dialética e seu meio sociocultural, numa integração clara de aspectos biológicos com aspectos sociais) (REGO, 2002), ou seja, o desenvolvimento de uma pessoa, está ligado à sua interação entre o sujeito e a sociedade, a cultura e a sua história de vida. O cérebro é aberto a grande plasticidade cuja estrutura e modo de funcionamento é moldado ao longo da história do indivíduo. Psicologicamente, essas mudanças ocorrem a partir do contexto social. Assim, o professor mediador transforma a frustação em desafio, leva o aluno a conscientizar-se de 21 suas funções deficientes, para que possa trabalhá-las em si mesmo, sua falta de atenção, precisão, planejamento (REGO, 2002). Vygotsky (1997), em seus ensaios, evidencia a compensação partindo de uma visão histórico-cultural, em que a necessidade não era de olhar o defeito da pessoa com deficiência, mas ela como um todo, a sua condição de vida, nas suas possibilidades de aprendizagens. Para Vygotsky (1997): [...] em essência, não existe diferença no enfoque educativo de uma criança deficiente e de uma criança normal, nem na organização psicológica de sua personalidade” (VYGOTSKY, 1997, p.62). Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro Fundamentos de Defectología, de autoria de Vygostky. A obra aponta as dificuldades, características, peculiaridades do desenvolvimento e situações socioeducacionais, das pessoas chamadas por ele de "anormais". Resumo Aula 2 Nesta aula, abordaram-se as diferentes definições e classificações da deficiência intelectual até a atualidade. Evidenciou-se também à visão de alguns teóricos à respeito da avaliação, diagnósticos e encaminhamentos da criança que apresenta a deficiência. Atividade de Aprendizagem Piaget (1976), afirma que a construção da cognição da criança com deficiência intelectual é a mesma de outras crianças sem 22 nenhuma deficiência, portanto, não havendo diferenças entre elas. Discorra sobre o tema. Aula 3 – Conhecendo o aluno com Deficiência Intelectual Apresentação da Aula 3 Nesta aula serão levantadas as hipóteses e maneiras de identificar os alunos com deficiência intelectual e como fazer perceber as suas limitações e capacidades de aprimoramento na aprendizagem. 3. Conhecendo o aluno com Deficiência Intelectual (DI) A deficiência intelectual é definida como “limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo como expresso nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos 18 anos” (PAN, 2008, p.63). Entre as características mais expressivas sobressai a cognitiva, a qual interfere na aprendizagem da leitura e da escrita, já que os alunos apresentam dificuldades na apropriação de conceitos mais elaborados, na abstração, na compreensão de linguagens e ideias, resolução de problemas e planejamentos (além de possuir um ritmo mais lento se comparado aos demais colegas de sua idade sem a deficiência). O aluno com DI, pode também apresentar dificuldade em adaptar-se a novas situações, a comunicar-se, controlar suas emoções e estabelecer vínculos afetivos. Essas dificuldades se evidenciam na aquisição de conhecimentos acadêmicos, acarretando no descompasso entre idade/ano escolar. O reconhecimento das potencialidades, dificuldades cognitivas e habilidades apresentadas pelo aluno com DI permite, aos professores, elaborarem um trabalho pedagógico que atenda às suas limitações. 23 Para um bom andamento acadêmico do aluno com DI, é essencial elaborar estratégias que atendam, de fato, a maneira de processar e construir suas estruturas como: Adaptação curricular: de objetivos, conteúdos, avaliação e temporalidade. As modificações e adequações curriculares tem como objetivo facilitar ao aluno apropriação de conteúdos de cada ano escolar.Estas adaptações devem ser planejadas para ajudar o aluno a alcançar o máximo de suas potencialidades e níveis mais próximos aos demais alunos sem a deficiência. Medidas de acesso ao currículo: modificações realizadas no ambiente da escola com o objetivo de dar respostas educacionais aos alunos que precisam. Estes ajustes deverão partir do currículo e das especificações dos alunos. Algumas sugestões de trabalho, as quais poderão ser aplicadas em sala de aula: - Dar ao aluno ordens claras e sequenciais; - Evitar comparações com os demais colegas; - Retomar os conteúdos trabalhados anteriormente; - Propor tarefas breves e de curta duração; - Encorajá-lo a aprender de forma independente; - Adotar metodologia de ajuda entre os colegas; - Cobrar do aluno a execução das tarefas que lhes forem atribuídas; - Reorganizar o espaço físico; - Oferecer atenção individualizada ao aluno. Serviços de apoio especializado complementar: ofertado na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), o qual complementa a escolarização do aluno com DI, matriculado no ensino comum. 24 Amplie Seus Estudos Amplie seus estudos lendo Formas criativas para estimular a mente de alunos com deficiência, de autoria de Cinthia Rodrigues. Disponível no acesso: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formas-criativas- estimular-mente-deficientes-intelectuais-476406.shtml Importante QUE EXPECTATIVAS DE FUTURO TÊM AS CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL? por Marina da Silveira Rodrigues Almeida Sabemos atualmente que 87% das crianças com deficiência intelectual só serão um pouco mais lentas do que a maioria das outras crianças na aprendizagem e aquisição de novas competências. Muitas vezes é mesmo difícil distingui-las de outras crianças com problemas de aprendizagem sem deficiência intelectual, sobretudo nos primeiros anos de escola. O que distingue umas das outras é o fato de que o deficiente intelectual não deixa de realizar e consolidar aprendizagens, mesmo quando ainda não possui as competências adequadas para integrá-las harmoniosamente no conjunto dos seus conhecimentos. Daqui resulta não um atraso simples que o tempo e a experiência ajudarão a compensar, mas um processo diferente de compreender o mundo. Essa diferente compreensão do mundo não deixa, por isso, de ser inteligente e mesmo muito adequada à resolução de inúmeros problemas do quotidiano. É possível que as suas limitações não sejam muito visíveis nos primeiros anos da infância. Mais tarde, na vida adulta, pode também acontecer que consigam levar uma vida bastante independente e responsável. Na verdade, as limitações serão visíveis em função das tarefas que lhes sejam pedidas. Os restantes 13% terão muito mais dificuldades na escola, na sua vida familiar e comunitária. Uma pessoa com atraso mais severo necessitará de um apoio mais intensivo durante toda a sua vida. Todas as pessoas com deficiência intelectual são capazes de crescer, aprender e desenvolver-se. Com a ajuda adequada, 25 todas as crianças com deficiência intelectual podem viver de forma satisfatória a sua vida adulta. [...] Disponível na integra no acesso: http://www.psicopedagogavaleria.com.br/site/index.php?option= com_content&view=article&id=43:deficiencia-intelectual-ou- atraso-cognitivo&catid=1:artigos&Itemid=11 3.1 Intervenções pedagógicas para alunos com deficiência intelectual O aluno com déficit intelectual necessita de experiências concretas, funcionais, graduadas e significativas para desenvolver seu aprendizado de forma a respeitar seu atraso cognitivo e sua lentidão. No entanto, o ritmo mais lento e as características cognitivas desse aluno exigem um trabalho sistematizado e contínuo, e requerem um período mais longo para a aquisição desta aprendizagem. Ví deo Assista o vídeo sobre a criação de um software desenvolvido para a alfabetização matemática das pessoas com deficiência intelectual. Link: https://www.youtube.com/watch?v=9EMPsDbxro0 Seguem algumas sugestões de como os professores poderão realizar suas intervenções pedagógicas: Desenvolver atividades que explorem a percepção para detalhes, utilizando figuras diversas; Organizar, junto com o educando, o planejamento de suas atividades; 26 Apresentar figuras incompletas para que localize o que está faltando na figura; Desenvolver a capacidade de ser flexível diante de uma determinada dificuldade, auxiliando para que busque as soluções, utilizando o método de ensaio e erro; Estimular a capacidade de análise e síntese com problemas ou situações propostas visualmente, através de histórias com sequência; Trabalhar com atividades que desenvolvam a capacidade perceptiva; Trabalhar percepção de detalhes, análise e síntese para desenhos abstratos; Fazer uso de diversos tipos de jogos, durante as atividades diárias; Colocar perto de colegas que não o provoquem, perto da mesa do professor na parte de fora do grupo; Afastar de portas e janelas para evitar que se distraia com os outros estímulos; Procurar não colocar os alunos com DI nos cantos da sala, onde a reverberação do som é maior. Ele precisa ficar nas primeiras carteiras das fileiras do centro da classe; Fazer uso do tangran, descobrindo as diversas formas de utilizá-lo; Procurar fazer uma rotina de classe clara e previsível, se possível, com roteiro no canto do quadro; Intercalar atividades de alto e baixo interesse durante o dia, em vez de concentrar o mesmo tipo de tarefa e um só momento; Procurar dar supervisão adicional aproveitando os intervalos entre as aulas e durante as tarefas; Trabalhar com livros, revistas, jornais, histórias sequenciais, para que tenha noção de sequência, estruturação do pensamento, coerência, coesão, criatividade e desenvolvimento do vocabulário; Promover reforços positivos quando for bem sucedido; 27 Propor trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e favorecer oportunidades sociais; Desenvolver métodos variados utilizando apelos sensoriais diferentes; Estimular a criação de pequenos livros com desenhos necessários; Favorecer a compreensão e interpretação de conteúdos de textos, mensagens e histórias; Repetir ordens e instruções; faça frases curtas e peça aos alunos para repeti-las, certificando-se de que ele as entendeu; Desenvolver atividades com formas geométricas e abstratas para desenvolver sua capacidade visomotora; Trabalhar com percepção de figura e fundo, onde o aluno com DI deverá descobrir as partes, e ou personagens essenciais e não essenciais da figura; Oportunizar a participação em atividades de expressão corporal (música, dança, artes, teatro); Trabalhar organização temporal através do ritmo, respiração e pontuação como um símbolo, proporcionando melhor entonação e ritmo na leitura e escrita; Trabalhar com as quatro operações, partindo do concreto, observando o mecanismo para efetuá-las, favorecendo meios para utilizar o raciocínio matemático, iniciando por adição e subtração; Trabalhar com a construção de numerais através de materiais concretos e organizando atividades que envolvam quantificação, facilitando o envolvimento do educando nas atividades; Trabalhar com problemas da vida diária, principalmente os que envolvem dinheiro, fazendo com que use raciocínio lógico; Trabalhar o desenvolvimento sequencial das histórias contadas através de fantoches, gravuras, livro, etc.; Proporcionar atividades que desenvolvama memória auditiva sequencial; 28 Propor atividades que favoreça noções reais de tempo, através do relógio na sala de aula, do calendário que deve ser trabalhado diariamente, relacionando os dias da semana, estações e meses do ano. Oferecer o manuseio do material concreto para contagem, envolvendo dúzia, meia dúzia, dezena, metade de elementos; Transmitir e receber recados, favorecendo a expressão adequada de seus pensamentos, sentimentos, opiniões e necessidades; Desenvolver seu raciocínio verbal e memória, reproduzindo histórias ouvidas; Trabalhar a orientação espacial na escrita correta de algarismos; Trabalhar a organização temporal através do ritmo, respiração e pontuação; Promover atividades que favoreçam a distinção dos lados direito e esquerdo e o domínio do emprego desses termos, iniciando com orientações simples com pontos de referência, mudando-os e cruzando-os até chegar à transposição. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Leia o livro Alfabetização para o Aluno com Deficiência Intelectual, de autoria de Maria da Piedade Resende da Costa, no qual relata diversas ideias de como alfabetizar o aluno com deficiência intelectual utilizando algumas técnicas diferenciadas. Resumo Aula 3 29 Nesta aula evidenciaram-se as características do aluno com deficiência intelectual e como trabalhar pedagogicamente com ele respeitando suas limitações e suas potencialidades. Atividade de Aprendizagem Você acredita que se os professores tiverem acesso ao conhecimento sobre a Educação Especial em sua formação inicial estariam aptos à resolver alguns problemas dos alunos com deficiência intelectual nas salas de aula do ensino comum? Discorra sobre a sua resposta. Aula 4 – O Atendimento Educacional Especializado (AEE) e sua potencialidade para o aluno com deficiência intelectual Apresentação da Aula 4 Nesta aula o foco será o Atendimento Educacional Especializado (AEE), evidenciando as suas especificidades e funcionalidades para o atendimento do aluno com deficiência intelectual. 4. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) e sua potencialidade para o aluno com deficiência intelectual Atualmente, a política de educação inclusiva adotada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), orienta que a educação especial, como modalidade, tem como função garantir a todos os alunos com deficiência o acesso ao ensino regular e ofertar a estes alunos o AEE, que promova a remoção de barreiras, as quais impedem ou dificultam sua aprendizagem. O AEE para os alunos com deficiência intelectual refere-se à forma pela qual o aluno trata todo o seu aprendizado. Esse aluno precisa ser estimulado e provocado, de modo que o conhecimento possa se tornar consciente e interiorizado. Cabe a esse professor assumir a posição de investigador, disposto a um aprendizado em conjunto com seu aluno. 30 O aluno com deficiência intelectual precisa desenvolver sua criatividade, a capacidade de conhecer o mundo e a si mesmo. A liberdade de criação e de posicionamento autônomo é fundamental para o aluno com DI no AEE, pois permite que ele reveja sua forma de atuar com o conhecimento. O AEE deve ser organizado através de recursos próprios, de forma a complementar e suplementar a escolarização do aluno, com a função de identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade, oferecendo diferentes alternativas pedagógicas de atendimento e de acordo com as especificidades de cada aluno. A Constituição Federal de 1988, traz explícito o direito ao atendimento educacional especializado para as pessoas com deficiência, na rede regular de ensino, assim como também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB nº 9.394/96. Na Diretriz Nacional para a Educação Especial na Educação Básica de 2001, em seu artigo 2º, contempla-se que: [...] Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (BRASIL, 2001, S/p.). Ví deo Assista o vídeo sobre AEE, o qual enfatiza a acessibilidade e tecnologia assistiva. Link: https://www.youtube.com/watch?v=vBt58ktphSE O AEE deve ser organizado na escola de educação básica, em espaços constituídos de mobiliários, materiais didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade, equipamentos específicos e de professores com formação em educação especial. 31 O AEE para alunos com deficiência intelectual, deve organizar-se para ser complementar aos serviços educacionais comuns, com vistas à autonomia e independência do aluno, na escola e fora dela. Este trabalho é desenvolvido nas denominadas Salas de Recursos Multifuncionais. A implementação da Sala de Recursos Multifuncionais deve acontecer nas escolas devidamente autorizadas por órgãos competentes das Secretarias de Educação Estadual e Municipal, em horários distintos das salas de aulas comuns e deve ser equipada com materiais e equipamentos específicos, adequados e com acessibilidade. O trabalho pedagógico pode ser realizado individualmente ou em pequenos grupos: Ele pode ser realizado em grupos, porém atento para as formas específicas de cada aluno se relacionar com o saber. Isso também não implica em atender a esses alunos, formando grupos homogêneos com o mesmo tipo de problema (patologias) e/ou desenvolvimento. Pelo contrário, os grupos devem se constituir obrigatoriamente por alunos da mesma faixa etária e em vários níveis do processo de conhecimento (MEC/SEESP, 2007, p.19). A matrícula do aluno na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), deve estar condicionada a do ensino regular da própria escola (ou de outra). É importante esclarecer que esta sala não constituiu ensino particular, nem reforço escolar ou repetição de conteúdos da classe comum. Nessa sala o professor especializado em educação especial deve dispor de metas e procedimentos educacionais diferentes do ensino comum, mas sempre articulado com a vida escolar do aluno, pois a barreira à aprendizagem deve se constituir em um trabalho de colaboração entre todos os envolvidos no processo ensino aprendizagem. Portanto o trabalho pedagógico do professor na sala de recursos multifuncional deve orientar-se para: Realizar atividades que estimulem o desenvolvimento dos processos mentais: atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação, criatividade, etc. 32 Proporcionar ao aluno o conhecimento de seu corpo, levando-o a usá-lo como instrumento de expressão consciente na busca de sua independência e na satisfação de suas necessidades; Fortalecer a autonomia dos alunos para decidir, opinar, escolher e tomar iniciativas, a partir de suas necessidades e motivações; Propiciar a interação dos alunos em ambientes sociais, valorizando as diferenças e não a discriminação; Preparar materiais e atividades específicas para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos (MEC/SEESP, 2006, p.23) – adaptado pelo autor (2016). Cabe ao professor da Sala de Recursos Multifuncionais as seguintes atribuições: Identificar, elaborar e produzir recursos pedagógicos; Elaborar e executar plano de atendimento educacional especializado; Organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na SRM; Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos na sala de aulacomum; Estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias; Orientar professores e famílias sobre recursos pedagógicos; Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva: Tecnologia da informação e comunicação, comunicação alternativa, soroban, softwares, etc.; Estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum; Promover atividades e espaços de participação da família, equipe multidisciplinar e equipe da escola regular. (Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Especializado na Educação Básica, 2008) adaptado pelo autor (2016). 33 Fonte: http://www.contagem.mg.gov.br/arquivos/fotos/120228edis-atividades-aluno-na- e-m-dona-babita-camargos-(44).jpg Amplie Seus Estudos Amplie seus estudos lendo: - Orientações para a institucionalização da Oferta do Atendimento Educacional Especializado, nota técnica 11/2010 do MEC. Disponível no acesso: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&vie w=download&alias=5294-notatecnica- n112010&category_slug=maio-2010-pdf&Itemid=30192 - Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais, de autoria do MEC. Disponível no acesso: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&vie w=download&alias=11037-doc-orientador-multifuncionais- pdf&Itemid=30192 - Orientações para a implementação da política de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Disponível no acesso: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&vie w=download&alias=17237-secadi-documento-subsidiario- 2015&Itemid=30192 Assim, em uma escola que adota os princípios do paradigma inclusivo, o papel do AEE é fundamental, uma vez que possibilita, através de intervenções pedagógicas adequadas, responder às necessidades educacionais do aluno. 34 A escola comum e o AEE precisam acontecer simultaneamente, pois beneficiam o desenvolvimento do outro e jamais esse benefício deverá caminhar diretamente e sequencialmente. Amplie Seus Estudos Amplie seus conhecimentos lendo o material disponibilizado pelo MEC, o qual relata experiências de educadores brasileiros no trabalho com AEE para DI. Disponível no acesso: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_dm.pdf Resumo da Aula 4 Nesta aula, conhecemos sobre o atendimento educacional especializado e suas diferentes formas de atendimento. Onde o objetivo maior é propiciar condições para que o aluno possa construir sua inteligência, tornando-se agente capaz de produzir significado/conhecimento. Atividade de Aprendizagem O que se entende por educação especial na atualidade? Uma educação voltada para alguns alunos ou um modo diferente de fazer educação? Discorra sobre o tema. 35 Resumo da Disciplina Nesta disciplina evidenciou-se a necessidade da escola proporcionar ao aluno com deficiência um espaço de convívio social e de acesso ao conhecimento de forma plena. Elucidou-se também que a construção da visão da deficiência intelectual é social e foi historicamente construída sempre na busca de uma educação de qualidade e uma democratização dos serviços educacionais. Esta visão mudou em 1948 com a Declaração Universal de Direitos Humanos que garantiu o direito de todos a educação. É importante observar que a deficiência intelectual vem sendo debatida e discutida há várias décadas. Mudanças nas legislações, inclusão na sociedade e nas escolas, professores cada vez mais especializados para atender esse alunado. Porém, é preciso refletir, pois, não é porque a escola é para todos que há qualidade no ensino. Existe a necessidade de fazer-se um trabalho colaborativo entre o Atendimento Educacional Especializado e o ensino comum para que ocorra a troca e compartilhamento de um conhecimento em comum. É necessário o debate e a reflexão, visando mudanças nas práticas pedagógicas, no currículo, no planejamento e na organização escolar, pois a colaboração entre as partes é um meio do aluno com deficiência intelectual atingir um aprendizado de forma significativa e completa. 36 Referências ALMEIDA, M. S. R. Deficiência Intelectual ou atraso cognitivo? São Paulo: Casa do Psicopedagogo, S/d. Disponível no acesso: http://www.psicopedagogavaleria.com.br/site/index.php?option=com_content&v iew=article&id=43:deficiencia-intelectual-ou-atraso- cognitivo&catid=1:artigos&Itemid=11 Acessado em: Mai/2016. ARANHA, M. S. F. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na escola: necessidades educacionais especiais dos alunos / Maria Salete Fábio Aranha. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005. ARANHA, M. S. F. Paradigmas da relação da sociedade com as pessoas com deficiência. Revista do Ministério Público do Trabalho, ano XI (21), 2001. 160-173. BRASIL. Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado par a Deficiência Mental. Brasília: MEC/SEESP, 2007. ______________. Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica: MEC/SEESP, 2008. _____________. Educação Inclusiva: a fundamentação filosófica; V.1. Brasília MEC/SEESP, 2004. ____________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Lei nº 9394/96), 20 de dezembro de 1996. ______________. Sala de Recursos Multifuncional: espaço para Atendimento Educacional Especializado. Brasília: MEC/SEESP, 2006. 37 ______________. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva – versão preliminar. Brasília: setembro 2007. BOBBIO, N. O futuro da democracia. São Paulo: Paz e Terra, 2005. CARNEIRO, M. S. C. Deficiência mental como produção social: uma discussão a partir da história de vida de adultos com Síndrome de Dow. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007, Acesso em Maio de 2016. CARVALHO, E. N. S. e MACIEL, D.M.M. A. Nova Concepção de Deficiência mental segundo a American Association on Mental Retardation (AAMR): Sistema 2002. Temas de Psicologia da SBP, 2003, vol. 11, n.2, p.147-156. FERNANDES, S. Fundamentos para Educação Especial. Curitiba: IBpex, 2007. GIORDANO, B. W. (D)eficiência e trabalho: analisando suas representações. São Paulo, Annablume: FAPESP, 2000. 168p. GUHUR, M, de L.P. A representação da Deficiência Mental numa perspectiva histórica. Revista da Educação Especial, Brasília, v1, n2, p. 75- 84, 1994. LOBO, F.L. Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar. O que é? Por que? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. ______________. Ser ou Estar, eis a questão: explicando o Déficit Intelectual. Rio de Janeiro: WVA, 1997. _______________. Integração X Inclusão: Escola (de qualidade) para Todos. Campinas, 1993. PAN, M.A.G de S. O direito à diferença: uma reflexão sobre a deficiência intelectual e a educação inclusiva. Curitiba: IBPEX, 2008. 38 PIAGET, J. Desenvolvimento e aprendizagem. Traduzido por Paulo Francisco Slomp do original In. LAVATTELLY, C. S. e STENDLER, F. Reading in child behavior and development. NewYork: Hartcourt Brace Janovich, 1972. ______. Biologia e Conhecimento. Petrópolis: Editora Vozes, 1973. ______. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar,1976. PLETSCH, M. D. Repensando a inclusão escolar de pessoas com deficiência mental: Diretrizes políticas, currículos e práticas pedagógicas. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade do Estado do RJ – Faculdade de Educação, março 2009. http://www.eduinclusivapesq- uerj.pro.br/pdf/pletsch_tese.pdf. Acesso em Mai/2016. REGO, T. C. Vygotsky – Uma perspectiva histórico-cultural da educação. Editora Vozes, 14ª edição. Petrópolis, RJ, 2002. SANTOS, B. de S. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. São Paulo: Boitempo, 2007. SEESP/MEC. E24e Educação inclusiva; a fundamentação filosófica. V. 1 / Coordenação geral SEESP/MEC; Organização Maria Salete Fábio Aranha. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004. Disponível no acesso: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/fundamentacaofilosofica.pdf SILVA, O. M. A epopeia ignorada. A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. CEDAS: São Paulo, 1986. SPROVIERI, M. H. S. & ASSUNÇÃO F. B. Deficiência Mental: sexualidade e família. Barueri: Manole, 2005. VYGOTSKY, L.S. Obras escolhidas: fundamentos de defectologías. Volume 5. Madrid: Visor, 1997.
Compartilhar