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artigo _ auto da barca do inferno e da compadecida .docx

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COMPARAÇÕES MARCANTES ENTRE AUTO DA BARCA DO INFERNO E AUTO DA COMPADECIDA
Leidiane Martins Belmiro 14260021
Mariluz Marçolla Ferreira 14260020
Alunas do 2º ano do Curso de Letras, da Associação Educacional Dom Bosco, trabalho apresentado à disciplina Leitura e Texto II, como requisito parcial de avaliação do 2º bimestre. 
Resumo 
A pretensão deste artigo é comparar o “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna e o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, obras escritas com 438 anos de diferença temporal, ressaltando seus pontos mais semelhantes: A presença de um Julgamento Final, o fato de personagens improváveis serem salvas e estes dois livros terem sido escritos para serem encenados. 
Palavras-chave: Julgamento, religiosidade, teatro. 
 Introdução
O objetivo do artigo é tratar de forma sucinta as semelhanças mais destacáveis entre o Auto da Barca do Inferno, do escritor português Gil Vicente e o Auto da Compadecida, do brasileiro Ariano Suassuna, ressaltando principalmente as características religiosas e cênicas presentes nas duas obras. Os temas para abordar estas semelhanças foram escolhidos, pois, os autores, a fim de apresentar de forma cômica que o ser humano tem mais vícios que virtudes, retrataram em forma literária estes temas tão discutidos para que os leitores revejam criticamente situações aparentemente comuns de seu cotidiano, e as chances de acontecimentos tão inesperados surgirem e mudarem completamente os conceitos considerados justos. Por abranger temas tão simples facilita que as obras sejam encenadas para qualquer público, transferindo estes fatos corriqueiros da vida real para o mundo literário, gerando reflexão moralizante. Espera-se que o artigo possa contribuir para uma melhor absorção dos principais conteúdos das obras, mostrando de forma clara e compreensível o quanto as considerações dos autores influenciaram e continuam influenciando o dia a dia de muitas pessoas. O primeiro tópico a ser abordado será o “Julgamento Final”, posteriormente o fato das personagens mais improváveis serem salvas e, por fim, as duas obras terem sido escritas para serem encenadas.
Julgamento Final
Numa leitura comparativa, o Auto da Barca do Inferno e Auto da Compadecida, apresentam pontos semelhantes em relação às mais diferenciadas classes da sociedade. As duas obras são uma severa crítica aos maus costumes dos representantes da Igreja, que abusam de seu poder de clero, o que instiga na corrupção das instituições religiosas, favorecendo os ricos, desmerecendo os pobres; hábitos que de fato são condenados pela própria Igreja. 
 Por serem as duas obras Autos, sua composição dramática se dá com argumentos bíblicos, para que os leitores desempenhem devidamente os princípios religiosos, valorizando a importância de ser fiel à religião, ao catolicismo e cumprindo os designíos de Deus. Por meio de um Julgamento Final vícios são condenados, modéstia e humildade são valorizadas desde antes da época em que as obras foram escritas. 
Vários setores sociais são criticados nas obras: hipocrisia do clero, a tirania, a vilania e a corrupção, feitas em nome da igreja e da fé cristã. Todos estes pecados terrenos cometidos pelas mais diversas personagens são sentenciados no momento do julgamento. 
No Auto da Barca do Inferno, o anjo é insensível para ele não há apelação, pois, os erros humanos são considerados imperdoáveis. Nem o anjo, nem o diabo esperam modificar o caráter das personagens. As sentenças dirigidas às personagens acabam se diferenciando um pouco nas duas obras, pois no auto de Gil Vicente não existe uma segunda chance. Diferentemente do Auto da Compadecida, em que o autor é mais “piedoso” e faz com que por intercessão da Santa, algumas personagens possam ir para o purgatório; Graças a este intermédio divino, que é uma figura feminina, considera-se que ela carregue consigo a piedade. 
“O Diabo: Lá vem a Compadecida! Mulher em tudo se mete!” (SUASSUNA, p. 169,1993)
Nestas obras, os autores fazem jus ao maniqueísmo, que pode ser entendido como uma filosofia religiosa que basicamente afirma a existência de um conflito entre o Bem (reino da luz) e o Mal (reino das sombras), em que ambas contam com a presença de seus representantes, sendo o Bem: o Anjo, a Compadecida e Manoel (Jesus), e o Mal: o Diabo. 
Em várias passagens da obra de Ariano Suassuna, o comportamento de Manuel e o da Compadecida podem ser interpretados com tolerância às falhas humanas, com uma boa dose humor. Vale realçar que Manoel, no Auto da Compadecida, aparece como um negro, despertando comentários entre as personagens. O tom irônico e sincero de João Grilo na surpresa em ver a cor de pele de Manoel o faz ganhar pontos com ele, já que Manoel sabe que todas as personagens se espantariam, porém, só o mais simples e ingênuo foi capaz de se expressar.
“João Grilo: Porque... Não é lhe faltando com o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado” 
“João Grilo: [...] A cor pode não ser das melhores, mas o senhor fala bem que faz gosto” (SUASSUNA, p.147,1993)
Personagens improváveis serem salvas
Gil Vicente e Ariano Suassuna, a fim de surpreender os leitores, preparam-nos para um desfecho moralizante conforme os preceitos do cristianismo católico, valorizando a simplicidade, um aspecto primordial no sentido religioso da obra. 
No Auto da Barca do Inferno, a personagem do Parvo causa reação cômica no leitor. Parvo tem seu destino luminoso devido à sua inocência. Depois de uma vida simples veio à morte por samicas de caganeira, o Anjo concede-lhe um lugar em sua barca, e o mesmo completaria sua jornada indo para o céu. A primeira atitude invocada pelo leitor é o riso, e depois de feita uma análise das poucas personagens enviadas para o céu na obra de Gil Vicente, entende-se porque o Parvo conquista sua partida para o céu.
O cangaceiro Severino é salvo por seu sofrimento, pois quando criança já fora capaz por si só de absorver todos os seus pecados. Não foi a sua morte que o redimiu, mas a de seus pais, com oito anos de idade conheceu a fera que existe dentro dos homens. Severino enlouqueceu depois que a polícia matou sua família, ele não era responsável pelos seus atos, por isso foi salvo. A personagem do cangaceiro era no Auto da Compadecida a mais improvável de ir para o céu.
Já a personagem de João Grilo recebe e admite a acusação de enganar e mentir para alcançar seus objetivos, já tinha em sua consciência que iria para o Inferno. Porém sua advogada fiel: Compadecida, intercede por ele, defendendo-o por cada pecado cometido. João mentia para sobreviver, pois era explorado por sua esperteza e coragem, a esperteza era a única arma que João dispunha contra os maus patrões. Era pobre e teve que suportar as maiores dificuldades em uma terra seca, pelejou pela vida desde menino, acostumou-se a pouco pão, e muito suor, passava fome. Era um sertanejo pobre, mas corajoso e cheio de fé. Nossa senhora pede humildemente que João Grilo não seja condenado, mas vendo que não poderia ser salvo, insiste para que Manoel dê-lhe outra oportunidade, mais improvável ainda do que ir para o céu: voltar à vida.
O Auto da Compadecida remete a noção de que o homem é um ser passível de erro, mas é possível que seja perdoado por intermédio da Nossa Senhora, considerada pelos fiéis a advogada capaz de interceder pelos pecadores. Estas surpresas e imprevistos que tornaram a obra tão destacada e memorável. Na obra de Ariano Suassuna o bem prevalece sobre o mal, ao contrário do Auto da barca do Inferno em que o Diabo é protagonista e não há perdão pelos pecados terrenos. DIABO: “[...] Segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai. Pois que já a morte passastes, haveis de passar o rio.” (VICENTE, p. 13, 1997)
Teatro
 	Como já dito, os Autos se aproximam com o objetivo de criticar a sociedade.  Dentro da cultura de língua portuguesa, o auto é uma modalidade do teatro medieval, cujo enredo é religioso, por conta destes fundamentos, o auto de Gil Vicente se tornou tão admirávelaté mesmo nos dias de hoje, pois estabelece relações entre o sagrado e profano, numa espécie de crença, o sagrado é salvo e vai para o céu, e o profano, mesmo que as ações sejam realizadas às escuras as personagens seriam castigadas e condenadas a ir para o inferno. 
O Auto da Compadecida traz como proposta uma concepção de palco aberto, onde as modificações cênicas são feitas à vista de todos, fugindo assim das modalidades formais do teatro. Emprega musicalidade e tem personagens estereotipadas. O final da obra culmina com uma mensagem cristã. Essas características demonstram as influências do teatro vicentino na obra de Ariano Suassuna. 
No início de Auto da Compadecida, há um personagem que atua como palhaço que se dirige ao público de maneira circense conduzindo o espetáculo. Essa personagem não se mistura às outras personagens da obra, aparece apenas no início de cada ato e no final da peça. A figura do palhaço exerce função metateatral e anti-ilusionista, pois, o texto é construído nos moldes do metateatro (ou metadrama), segundo Lionel Abel; Apud: Carlos Ceia é “termo que se aplica às obras dramáticas que remetem para si próprias, enquanto textos de representação” explicitando qual a intenção da obra: o combate ao mundanismo, praga da Igreja. 
Gil Vicente escreveu o Auto da Barca do Inferno para criticar a crise moral que se abatia sobre todas as classes sociais: a nobreza, o clero e o povo. Sua peça teatral apresenta um retrato do cotidiano da época, que repassa ensinamentos morais e religiosos, pretexto para a sátira ou caricatura profana.
 
“Na época de Gil Vicente, havia a famosa expressão latina ‘ridendo castigat mores’ (rindo, castigam-se os costumes),” (Profa. Ms. Evaneide Nóbrega de Albuquerque, p. 4) “esta máxima latina está presente nas peças de Gil Vicente, dado que a crítica vicentina atinge toda a sociedade, ainda que de modo indireto.” Apud: Carla Marques e Inês Silva. Essa mesma expressão pode ser aplicada na peça de Ariano Suassuna, pois, o autor também produz sua obra com intenção crítica e moralizante para a sociedade brasileira, mesmo depois de séculos que a obra de Gil Vicente tenha sido escrita, ainda assim incentivou Ariano Suassuna na produção de seu Auto. 
O texto da obra de Gil Vicente apresenta estrutura poética e é muito simples, havendo várias cantigas populares no corpo da peça, possibilitando a participação da plateia. Sua estrutura definida não divide atos ou cenas, mas sim em cenas à maneira clássica, onde a peça é vista pelo percurso cênico de cada personagem, que demonstra suas ações enquanto “julgado.
“O Auto da Barca do Inferno é a primeira obra da Trilogia das Barcas de Gil Vicente. Foi encenada pela primeira vez em 1517. Não apresenta divisão externa, à diferença do teatro medieval, apresentando apenas um ato. Através da sucessão de personagens, podemos dividir o auto em cenas à maneira clássica. O cenário é constituído por um rio e um cais, onde estão ancoradas duas barcas: a do Anjo, que leva as personagens para o céu, e a do Diabo, que as transporta para o Inferno.” Apud: Carla Marques e Inês Silva.
À medida que as personagens vão surgindo na peça, trazem consigo elementos simbólicos, que representam seus pecados em vida terrena, e demonstram que não tem qualquer arrependimento pelos mesmos.
Por terem sido produzidas para serem encenadas as duas obras ganharam força, pois, quando escritas em forma de teatro, as obras alcançam o objetivo de fazer crítica indireta à sociedade. Pois, mesmo um nobre, na época de Gil Vicente, ou um padre na época de Ariano Suassuna, não poderiam afirmar que a crítica era direta, pois o teatro como manifestação artística livre não se restringe a nenhuma pessoa real.
Conclusão 
Diante do que foi exposto, é possível perceber a influência religiosa que se faz presente até mesmo na contemporaneidade, pois mesmo que o leitor se depare com um texto escrito em 1517, ainda é capaz de fazer relações entre as passagens da obra com suas ações vividas nos dias atuais, como o fato das duas obras criticarem a tirania dos ricos e exaltarem a inocência e astúcia dos pobres. Como marcas essenciais do teatro Vicentino, o autor explora características denunciadas e satirizadas em sua época, que acabam por perpassar o tempo até chegar ao autor brasileiro: Ariano Suassuna, que reforça os pontos principais da obra de Gil Vicente, disseminando de forma simples e cômica a religiosidade e astúcia de um povo, destacando as experiências com raízes regionais e, ao mesmo tempo, universais, por ter sido influenciado de forma direta pelo teatro popular de Gil Vicente. 
O fato de haver um Julgamento Final nas duas obras retoma a crença de realizar tudo em vida conforme os preceitos divinos e assim conseguir absolvição no momento da partida. Ressalta-se também que as duas obras revelam ironia ao salvar uma inocente personagem que morre de forma cômica ou um traiçoeiro cangaceiro que em quase toda sua vida abusou da maldade. A grande essência que circunda as duas obras é a encenação, os autos vêm com intenção de moralizar a sociedade e procurar restabelecer princípios. A melhor maneira de entrar em contato com o leitor seria então torná-lo espectador, assim as obras alcançam um maior público e com maior intensidade. Os autos acabam por instigar o público a vivenciar a peça como uma fonte de lazer, educação e cultura. 
 "Refletir sobre a morte não é uma tarefa simples, visto que o ser humano não está preparado para lidar com sua finitude." (SOUZA, A. A. de; ALMEIDA, L. C. V. de.)
Referências:
ALBUQUERQUE, Profa. Ms. E. N. Auto da Compadecida como influência direta do Teatro Vicentino. Disponível em: <http://www.neteducacao.com.br/experiencias-educativas/ensino-medio/literatura/auto-da-compadecida-como-influencia-direta-do-teatro-vicentino> Acesso em: 28 jun. 2015, 23:33:30
CEIA. C; E-dicionario de termos literários. Disponível em: <http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1574&Itemid=2> Acesso em: 28 jun. 2015
FERNANDES, A. D. Comparação do auto da barca do inferno com o auto da comparecida. Disponível em: <https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20100322115635AAiDmI2> Acesso em: 26 jun. 2015, 17:52:24
MARQUES. C.; SILVA. I. O teatro vicentino. Disponível em:<http://pt.slideshare.net/myaronydomingos/teatro-vicentino> Acesso em: 28 jun. 2015 
O AUTO da compadecida. Produção de  Guel Arraes.Brasil: LEREBY PRODUÇÕES, 2000. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vWzjBxDflQo> Acesso em: 28 jun. 2015
SOUZA, A. A.; ALMEIDA, L. C. V., Acadêmicas do 8º período do Curso de Enfermagem da Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC Barbacena. Reflexões da enfermagem sobre a morte e o morrer na oncologia. Disponível em: < http://www.unipac.br/site/bb/tcc/tcc-ebf646fe373aee920c2e3747d5eb7031.pdf > Acesso em: 26 jun.2015, 17:44:13
SUASSUNA, A. Auto da compadecida. 25. ed. Rio de Janeiro: Agir,1990
 
VICENTE, G. Auto da barca do inferno. São Paulo: Klick, 1997
Leidiane Martins Belmiro, estudante de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco; E-mail: leidi.ane_belmiro@hotmail.com
Mariluz Marçolla Ferreira, estudante de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco; E-mail: mari-flicka@hotmail.com

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