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APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS- JOSUÉ- IPA-2015

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APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
José Afonso da Silva
NORMAS CONSTITUCIONAIS QUANTO A EFICÁCIA
O sociologismo jurídico reduz o problema da eficácia vigente, sob essa perspectiva é que se 
costuma dizer que muitas normas constitucionais, especialmente as chamadas programáticas, não 
adquirem vigência enquanto uma lei ordinária ou complementar não as efetuar efetivamente. Uma 
norma jurídica no entanto, entra em vigor antes de tornar-se eficaz, isto é, antes de ser seguida e 
aplicada.
Positividade do direito exprime a característica de um Direito que rege, in concreto, a conduta 
humana, mediante normas bilaterais e atributivas, socialmente postas; pode ser histórico, como 
atual, opõe-se a direito natural.
Vigência do Direito, ou Direito Vigente, caracteriza o Direito que rege, aqui e agora, 'hic et 
nunc”, as relações sociais; refere-se ao Direito presente; designa a existência específica de uma 
norma, opondo-se ao direito histórico.
Eficácia do Direito, toma-se a expressão em dois sentidos: a eficácia social uma efetiva 
conduta acorde com a prevista pela norma, refere-se ao fato de que a norma é realmente obedecida e 
aplicada; a eficácia jurídica da norma designa a qualidade de produzir em maior ou menor grau 
efeitos jurídicos, ao regular, desde logo as situações, relações e comportamento de que cogita. Os 
dois sentidos da palavra eficácia, acima apontados são diversos, uma norma pode ter eficácia 
jurídica ser ser socialmente eficaz.
Distinguem-se as normas jurídicas em preceptivas- as que impõem uma conduta positiva e em 
proibitivas- as que impõem uma omissão, uma conduta omissiva, um não atuar, um não fazer.
Para Del Vecchio essas duas espécies de normas são primárias, por que são suficientes por si 
mesmas, isto é, exprimem diretamente uma regra obrigatória do agir, outras normas são chamadas 
secundarias, visto que não são bastantes por si mesmas, mas dependem de outras, que devemos 
reportar-nos para compreender aquelas exatamente.
A clássica distinção das normas jurídicas sob o ponto de vista da eficácia é que separa em: 
Coercitivas, de acordo com a doutrina, são as que impõem, uma ação ou uma obstenção 
independentemente da vontade das partes, classificando-se por isso, em normas preceptivas e em 
normas proibitivas; dispositivas são as que “completam outras ou ajudam a vontade das partes a 
atingir seus objetivos legais, porque da natureza imperativa do Direito não se segue que ele não leve 
em conta ou suprima sempre a vontade individual”.
A jurisprudência e a doutrina constitucional norte-americana que conceberam e elaboraram a 
classificação das normas constitucionais, do ponto de vista de sua aplicabilidade em autoaplicáveis 
que são as desde logo aplicáveis, porque revestidas de pena eficácia jurídica, por regularem 
diretamente as matérias, situações ou comportamentos de que cogitam, enquanto normas 
constitucionais não autoaplicáveis são as de aplicabilidade dependente de leis ordinárias.
Ruy Barbosa oferece ampla exemplificação, donde extrai hipóteses de normas constitucionais 
autoaplicáveis por natureza:
 a) vedações e proibições constitucionais;
b) os princípios da declaração dos direitos fundamentais do homem;
c) as isenções, imunidade e prorrogativas constitucionais;
Além dessas, pelo conceito acima, também são autoaplicáveis as que não reclamam, para a sua 
execução:
a) a designação de autoridades, a que se cometa especificamente pela execução;
b) a criação ou indicação de processos especiais de sua execução;
c) o preenchimento de certos requisitos para sua execução;
d) a elaboração de normas legislativas que lhes revistam de meios de ação, porque já se 
apresentam armadas por si mesmas desses meios, ou seja, suficientemente explicitas sobre o 
assunto de que tratam.
Cada norma constitucional é sempre executável por si mesma até onde possa, até onde é 
suscetível de execução. Do mesmo modo que não se pode afirmar que não há norma constitucional 
alguma de todo ineficaz, porque todas são, de modo unívoco, constitucionalmente cogentes em 
relação a seus destinatários.
A jurisprudência italiana formularam uma classificação das normas constitucionais, quanto a 
eficácia e aplicabilidade, que se dividem em:
a) normas diretrizes ou programáticas, dirigidas essencialmente ao legislador; 
b) normas preceptivas, obrigatórias, de aplicabilidade imediata;
c) normas preceptivas, obrigatórias, mas não de aplicabilidade imediata.
Essa classificação e sua terminologia são falsas e inaceitáveis, pela própria improcedência das 
premissas em que se assentam, pois fundamentam-se na distinção entre normas constitucionais 
jurídicas e não juridicas.
Em vez de dividir as normas constitucionais, quanto à eficácia e aplicabilidade, em dois grupos, 
achamos mais adequado considerá-las sob tríplice, característica, discriminando-as em três 
categorias: normas constitucionais de eficácia plena, normas constitucionais de eficácia contida e 
normas constitucionais de eficácia limitada ou reduzida.
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA
A Constituição Federal de 1988 mostra que a maioria de seus dispositivos acolhe normas de 
eficácia plena e aplicabilidade direta e imediata. Muitas dessas normas se apresentam em forma de 
mera autorização ou estatuição de simples faculdade, como as que definem competências de 
entidades federativas ou de órgãos de governo.
Não é fácil determinar um critério para distinguir as normas constitucionais de eficácia plena 
daquelas de eficácia contida ou limitada. Completa será a norma que contenha todos os elementos e 
requisitos para a sua incidência direta. Todas as normas regulam certos interesses em relação a 
determinada matéria. Não se trata de regular a matéria em si, mas de definir certas situações, 
comportamentos ou interesses vinculados a determinada matéria.
Em suma, são de eficácia plena as normas constitucionais que: a) contenham vedações ou 
proibições; b) confiram isenções, imunidades e prerrogativas; c) não designem órgãos ou 
autoridades especiais a que incumbam especificamente sua execução; d) não exijam a elaboração de 
normas legislativas que lhes completem o alcance e o sentido, ou lhes fixem o conteúdo, porque já 
se apresentam suficientemente explícitas na definição dos interesses nelas regulados.
Conceituam-se como sendo aquelas que, desde a entrada em vigor da constituição, produzem ou 
têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interresses, 
comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente quis regular.
As normas de eficácia plena incidem diretamente sobre os interesses a que o constituinte quis 
dar expressão normativa. São de aplicabilidade imediata, porque dotadas de todos os meios e 
elementos necessários à sua executoriedade. São autoaplicáveis, aplicam-se só pelo fato de serem 
normas jurídicas, que pressupõem, no caso, a existência do Estado e de seus órgãos.
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA
A peculiaridade das normas de eficácia contida configura-se nos seguintes pontos:
a) são normas que, em regra, solicitam a intervenção do legislador ordinário, fazendo expressa 
remissão a uma legislação futura, mas o apelo ao legislador ordinário visa a restringir-lhes a 
plenitude da eficácia, regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrem para os cidadãos, 
indivíduos ou grupos.
b) enquanto o legislador ordinário não expedir a normação restritiva, sua eficácia será plena; 
nisso também diferem das normas de eficácia limitada, de vez que a interferência dolegislador 
ordinário, em relação a estas, tem o escopo de lhes conferir plena eficácia e aplicabilidade concreta 
e positiva.
c) são de aplicabilidade direta e imediata, visto que o legislador constituinte deu normatividade 
suficiente aos interesses vinculados a matéria de que cogitam.
d) Algumas dessas normas já contém conceito ético juridicizado, como valor societário ou 
político a preservar, que implica a limitação de sua eficácia.
e) sua eficácia pode ainda ser afastada pela incidência de outras normas constitucionais,se 
ocorrerem certos pressupostos de fato.
Descobriremos na Constituição Federal a ocorrência das normas de eficácia contida 
especialmente entre aquelas que instituem direitos e garantias fundamentais, mas também elas vão 
despontando em outros contextos.
As normas de eficácia contida têm natureza de normas imperativas, positivas ou negativas, 
limitadoras do poder público, valendo dizer: consagradoras, em regra, de direitos subjetivos dos 
indivíduos ou de entidades públicas ou privadas. E as regras de contenção de sua eficácia 
constituem limitações a esses direitos e autonomias; ou, segundo uma teoria moderna são regras e 
conceitos limitativos das situações subjetivas de vantagem.
Normas de eficácia contida, portanto, são aquelas em que o legislador constituinte regulou 
suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas deixou margem a atuação 
restritiva por parte da competência discricionária do Poder Público, nos termos que a leis 
estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados.
Elas são normas de aplicabilidade imediata e direta, sua aplicabilidade não fica condicionada a 
uma normação ulterior, mas fica dependente dos limites que ulteriormente lhe estabeleçam 
mediante lei.
NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA
As normas de eficácia limitada são dois tipos : a) definidoras de princípios institutivo ou 
organizativo, que por brevidade, temos chamados de normas constitucionais de princípio institutivo; 
b) as definidoras de princípio programático, ou simplesmente, normas constitucionais de principio 
programático.
É difícil encontrar um termo apropriado para conceituar as normas de eficácia limitada. No 
entanto, apesar da imprecisão terminológica, mais importante que o uso de uma palavra 
determinada, deve ser a explicitação do sentido que ela expressa.
José Afonso da Silva atenta para a diferenciação que deve ser feita entre normas constitucionais 
de princípio institutivo, normas constitucionais de princípios gerais e princípios gerais do direito 
constitucional.
As normas constitucionais de princípio institutivo ou organizativo contém apenas o começo, o 
esquema geral de determinado órgão, entidade ou instituição. A efetiva criação, organização ou 
estruturação fica a cargo de normatização infraconstitucional na forma prevista pela Constituição. 
Como exemplo, cita-se art. 33 “A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos 
territórios”.
As normas constitucionais de princípios gerais ou normas-princípios são as normas 
fundamentais das quais as outras são apenas desdobramentos. Como exemplo, o autor cita o caput 
do art. 1º da Carta Magna e o art. 2º .
Já as normas constitucionais de princípios gerais ou normas princípios são escolhas políticas da 
sociedade feitas através do legislador. Elas especificam princípios fundamentais que informam toda 
ordem constitucional, mas elas não são indispensáveis para existência do Estado de Direito. O 
Estado de Direito democrático independe delas para existir. Por exemplo: a norma que especifica 
que o Brasil é uma república e que segue o modelo federal, art. 1º.
Assim, entendemos que as normas constitucionais de princípios gerais ou normas-princípios 
diferenciam-se dos princípios gerais constitucionais por serem escolhas políticas do legislador 
constituinte. Escolhas não essenciais para a formação do Estado de Direito.
Assim, as normas programáticas indicam para legislação infraconstitucional um caminho a 
seguir. Elas podem não obrigar o legislador a normatizar no sentido apontado por elas, mas pelo 
menos, com certeza elas obrigam que ele não legisle em sentido contrário.
As normas programáticas tem eficácia jurídica imediata, direta e vinculante nos seguintes casos: 
a) estabelecem um dever para o legislador; b) condicionam a legislação futura, com consequências 
de serem inconstitucionais as leis ou atos que a ferirem; c) informas a concepção do Estado e da 
sociedade e inspiram sua ordenação jurídica, mediante a atribuições de fins sociais, proteção doa 
valores da justiça social e revelação dos componentes do bem comum; d) constituem sentido 
teleológico para a interpretação, integração e aplicação das normas jurídicas; e) condicionam a 
atividade discricionária da administração e do judiciário; f) criam situações jurídicas subjetivas, de 
vantagem ou de desvantagem.
Graduando de Direito no IPA- 
Josué Gonçalves dos Santos

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