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Algumas notas sobre as teorias da linguagem - Piaget, Chomsky e Skinner

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Anhllse Psicológica (%'E), I I . 1:llC124 
Algumas notas sobre 
as teorias da aquisição da linguagem: 
Piaget, Chomsky, Skinner 
FRANÇOISE PAROT * 
Este artigo tem por objectivo expor o modo 
como o problema teórico da aquisição da lin- 
guagem é posto pelas três principais correntes 
que orientam a investigação em psicolinguística: 
Chomsky, Piaget e Skinner. A razão que nos 
leva a abordar este problema é por nos parecer 
que isso permite aprofundar as polémicas epis- 
ternológicas que actualmente caracterizam a psi- 
cologia dita «científica>>. Por isso sublinhamos 
que a nossa abordagem não se limitará apenas 
ao problema da aquisição da linguagem, mas, 
por razões que julgamos evidentes, muitas vezes 
alargaremos o âmbito da nossa exposição. 
Para nós, a aquisição da linguagem não cons- 
titui senão um tema de aplicação de uma pro- 
blemática mais geral que poderemos resumir da 
seguinte maneira: Há verdadeiramente opções 
irredutíveis em d'sicologia cieniífica» ou tratas 
-se ÍM realidade de versões diferentes de uma 
mesma opção fundamental? 
Definido o objecto do nosso trabalho, este 
será em parte constituído por opiniões ou julga- 
mentos, de qualquer forma tomadas de posição 
num domínio problemático. Estas tomadas de 
posição não poderemos defendê-las em nome 
da sua verdade mas pelo que julgamos ser a sua 
justeza. Nós consideramos que o interesse maior 
* Investigador no Laboratoire de Psychologie ex- 
perimentale et comparé (associado ao CNRS, Univer- 
sité René-Descartes (Sorbonne) e EPHE, 3ème Section. 
de um tal trabalho é suscitar um debate. Porém, 
no âmbito deste artigo, não poderemos deixar 
de ser breves, esquemáticos e simplificar ao 
máximo as posições em presença. No entanto, 
tentaremos não retirar o essencial. 
Outra nota preliminar: Esta exposição tem um 
carácter critico. Está perfeitamente excluído que, 
individualmente e no actual estádio do nosso 
trabalho, possamos emitir opiniões sobre o que 
deveria ser a psicologia da linguagem. Procura- 
remos mais tarde compreender o que ela é. 
Antes de examinarmos as três posições em 
questão é necessário que fique assente uma dife- 
rença importante na abordagem dos três autores: 
- Chomsky define-se primeiramente pelas 
suas posições em linguística, mas define-se tam- 
bém pelas suas posições políticas. Ambas são 
bem conhecidas. A partir das suas posições em 
linguística e em política Chomsky elaborou uma 
«psicologia» no sentido geral. Isto é, se seguir- 
mos Chomsky nas suas posiçóes em linguística 
e em política tal implica uma certa concepção 
da psicologia. I3 necessário sublinhar que para 
Chomsky, e por razões que voltaremos a referir, 
as fronteiras entre psicologia e linguística são 
difíceis de determinar. As concepções de criati- 
vidade, de competência por exemplo, funcionam 
na linguística chomskiana, mas no decorrer desta 
exposição nós considerá-las-emos como uma 
parte da psicologia chomskiana, definindo a sua 
115 
linguística como um conjunto de regas que lhe 
parecem descrever a estrutura das linguagens. 
- Piaget e Skinner, pelo contrário, definem- 
-se pelas suas posições em psicologia, ainda que 
o primeiro se tenha dedicado no princípio A bo- 
tânica e o segundo ci literatura. É a partir de 
concepções psicológicas que eles desenvolvem 
uma certa posição quanto a linguagem. Al iás , 
podemos acentuar que a sua psicologia contém 
igualmente posições ideológicas, posições que 
estabelecem eventualmente laços estreitos com 
certas práticas do aparelho escolar. 
Esta diferença entre Chomsky, por um lado, 
e Piaget e Skinner, por outro, permite, em parte, 
compreender que para o primeiro a linguagem 
constitui um domínio de estudo específico e 
uma característica distintiva do homem, en- 
quanto para Piaget e principalmente Skinner, a 
linguagem não é senão um comportamento 
c o m os outros. 
volta da in- 
vestigação daquilo que constitui, para cada um 
dos autores, o mofor da aquisição da linguagem, 
o que cada um deles define como o princípio 
que está na origem do desenvolvimento, assim 
como o conjunto de factores que determinam R 
conduta do indivíduo. 
Procuraremos mostrar que em Ultima análise 
estamos em presença de uma altermiiva incon- 
tornúvel. quer seja o meio (ou ambiente), quer 
seja o organismo com as suas diversas caracte- 
rísticas, que constitua esse motor. 
Esta alternativa remete-nos para um debate 
filosófico e cada um destes três autores tomou 
claramente posição nesse debate. É necessário 
acentuar que esse debate não se sobrepõe ao de- 
bate inato/adquirido, que retomaremos em prin- 
cípio e que de qualquer forma se nos coloca, 
quer tomemos o meio ou o organismo como 
motor da ontogénese. 
Finalmente, tomaremos sempre em conta as 
funções representativa e comunicativa da lin- 
guagem. Esquematicamente, podemos conside- 
rar que a linguagem permite representar a rea- 
lidade através de uma relação entre um objecto 
e uma palavra, por exemplo; a este nível ela 
permite representar a realidade. Por outro lado 
Esta exposição será articulada 
a linguagem permite comunicar socialmente os 
conteúdos: é uma actividade social de troca. A 
linguagem humana diferencia-se da das abe- 
lhas, por exeniplo, o que não assegura que sai- 
bamos alguma função de representação mas 
sim uma simples função de comunicação. A 
maior parte das espécies animais dispõe de inc- 
canismos de representação da realidade: os 
chimpanzés, por exemplo, nas situações de des- 
vio mostram que dispõem daquilo a que Piaget 
chamou a permanência do objecto; mas estas 
capacidades de representação não são uíilizadas 
nas suas trocas comunicativas. 
Escolhemos apresentar estas três correntes de 
acordo com um plano que parece talvez acadé. 
mico mas que nos pareceu mais apto a permitir 
um debate. Começaremos por Chomsky, passa- 
remos a Piaget e terminaremos com Skinner, 
segundo uma escolha que não é arbitrária. Para 
cada um deles, resumiremos rapidamente a sua 
concepção de aquisição da linguagem, as suas 
concepçijes teóricas e epistemológicas funda- 
mentais e tentaremos enfim situar a «sua» psi- 
cologia relacionando-a com certas disciplinas 
conexas, em particular a biologia e o estudo 
dos fenóinenos sociais, pois que em epistemolo- 
gia o pólo orgânico e o pólo social constituem 
pontos de referência indispensáveis. E relacio- 
nando-a ainda com o estudo do comporta- 
mento animal, pois para alguns a linguagem 
constitui a característica diferenciadora da es- 
pécie humana. Finalmente relacionando-a com 
a elaboração de uma teoria do conhecimento em 
geral pois a evolução cognitiva da criança asse- 
melha-se a evolução histórica do conhecimento. 
Passamos a expor seguidamente alguns ele- 
mentos conclusivos sobre as diferenças e seme- 
lhanças entre estes pontos de vista. 
I - NOAM CHOMSKY 
Seria muito longo analisar aqui detalhada- 
mente as razões do grande acolhimento encon- 
trado pelas teses chomskianas ou demorarmo- 
-nos no impacto que tiveram todas as tomadas 
de posição de Chomsky tanto em linguística co- 
mo em política. Mas a inserção de Chomsky 
na corrente científica, parece contudo um fenó- 
meno interessante porque explica em parte a 
posição de Chomsky em psicologia: o seu ina- 
tismo; em oposição aos tecnocratas americanos 
cuja teoria mais «notável» parece ser o behavio- 
rismo, em nome do humanismo mas sobretudo 
do racionalismo, Chomsky combate as posições 
empiristas dos psicólogos. Contra a tábua rasa 
ele postula que a criança vem ao mundo com 
capacidades - verbais em particular - já pro- 
gramadas (Skinner e seguidores ironizaram esta 
questão perguntando quem transforma o homem 
em máquina). Por estas razões, não há qualquer 
ambiguidade em Chomsky quanto ao que cons- 
titui o motor do desenvolvimento da criança: 
são as suas estruturas inatas e épor isso que, tal 
como escreveu em 1970, a linguística é uma 
parte da psicologia. Com efeito, as característi- 
cas estruturais das linguagens dependem das ca- 
racterísticas do cérebro humano, e por este mo- 
tivo existem pontos comuns e universais em 
todas as linguagens. Assim, a sequência dos ti- 
pos de discursos que a criança é capaz de emi- 
tir em diferentes idades (discursos caracterizados 
de maneira estrutural pela sua sintaxe e pelo 
tipo de operação que permite passar da sua es- 
tnitura profunda & sua estrutura de superfície) 
não é senão a manifestação dos processos de 
actualização das estruturas inatas. Mais preci- 
samente, para Chomsky, no caso de uma criança 
de ano e meio, todas as potencialidades gra- 
maticais estão já presentes, mas se a criança não 
as utiliza é porque é necessário esperar a «colo- 
cação certa» dos diversos utensílios de realiza- 
ção, dos filtros psicológicos, como as operações 
mnemónicas, perceptivas, fonatórias, etc. que 
realizaram essas potenciaiiáades. A rapidez com 
que a criança vem a utilizar uma estrutura 
muito complexa, como é a linguagem, não pode 
explicar-se pelos mecanismos da imitação ou da 
aprendizagem descritos pelos psicólogos; tanto 
mais que acontece frequentemente a criança 
produzir discursos totalmente novos que jamais 
ouviu e que foram criados gracps a capacidade 
inata a que Chomsky chama competência. 
Nota: Estas concepções de Qomsky em 
Psicologia estabelecem uma estreita relação com 
aquilo a que chamámos linguística chomskiana. 
Esta é quase exclusivamente estrutural e tem 
como objectivo construir uma gramática uni- 
versai que seja a formalização da competência 
de todo o sujeito, mas a linguagem não é aqui 
estudada senão como modo de representação 
da realidade. Jamais nos seus aspectos comuni- 
cativos como a transmissão de conteúdos de 
indivíduo para indivíduo. 
Nenhuma arnbiguidade resta quanto a ausên- 
cia de papel que Chomsky determina para o 
meio social e mesmo físico na aquisição da lin- 
guagem. Para ele é inegável que o facto da 
criança aprender a falar é um fenómeno bioZó- 
gico. Para os que permaneceram incrédulos e 
não acreditaram que Chomsky tivesse expri- 
mido claramente esta posição, leram com utili- 
dade o seu último Livro Réflexions sur la Lan- 
guge. Para ultrapassar uma convicção condicio- 
nal na obra de Chomsky que alguns -nos 
quais me incluo- puderam tomar como a me- 
lhor arma contra o behaviorismo, a leitura desta 
obra é higiénica; lemos aí, por exemplo, que «os 
princípios que governam a estrutura e o em- 
prego da linguagem são universais, de acordo 
com uma necessidade biológica e não histórica» 
ou ainda que: acertas reaiizaçíjes intelectuais 
como a aprendizagem da linguagem revelam es- 
tritamente uma capacidade biológica determi- 
nada»; ou ainda para o inatismo das regras 
específicas de linguagem: ao pensamento da 
criança contém a seguinte instruçáo: construir 
tal regra». 
Chomsky toma uma posição firmemente ra- 
cionalista em filosofia e a expressão extrema 
deste racionalismo evidencia-se quando ele diz 
que «O processo que explica o conhecimento 
pelas estruturas do espírito é mais frutuoso que 
aquele que assenta nas estruturas do mundo». 
Que poderemos dizer da «Psicologia Choins- 
kiana», das suas relações com outras disciplinas? 
1. Com a Biologia: Porque o motor do com- 
portamento é o organismo e as suas estruturas 
características, a psicologia chomskiana estabe- 
lece relações privilegiadas com a biologia. Se- 
gundo Chomsky ela vai mesmo mais longe, pois, 
IZ7 
tal como afirma em Réflexions sur lu h g a g e , 
a psicologia é uma parte da biologia (logo, igual- 
mente, a linguísitca). Por consequência podemos 
tomar da teoria linguística a competência e a 
aquisição da linguagem em termos biológicos. 
2. Com o estudo dos jeiiómenos sociais: 
Também neste caso a posição chomskiana 6 
clara: para Chomsky as estruturas sociais, as 
ideologias, são como a linguagem manifesta- 
ções das estruturas do nosso espírito. Ele afirma 
que, por exemplo, «OS sistemas de confiança 
são os que o espírito, tal como a estrutura bio- 
lógica, destinou a conhecer». Consequentemente 
a psicologia chomskiana pode explicar os fenó- 
menos sociais em termos biológicos; ele afirma 
assim que «a hipótese inatista inclui iguaimente 
os princípios sobre o lugar e o papel dos indiví- 
duos na sociedade, na natureza e nas condições 
de trabalho,. 
3. Com o estudo do animal: Como recordá- 
mos, a linguagem é para Chomsky um compor- 
tamento específico, não como os outros, que 
é próprio do homem que é o único animal do- 
tado de razão. Se o homem fala é porque na 
história filogenética se produziu um fenómeno 
biológico de emergência, qualquer coisa como 
uma mutação que produziu uma modificação 
qualitativa decisiva. Deste modo os macacos 
não falam; podemos apenas condicioná-los a 
comunicar por um sistema de sinais, o que não 
tem muito interesse. 
Logo, a este nível a psicologia chomskiana 
parece contornar o estudo do animal. Mas, por- 
que a linguagem é para Chomsky um fenó- 
meno biológico, é interessante estudar no ani- 
mal os mecanismos de actualização das capaci- 
dades programadas. Porque «OS sistemas lin- 
guísticos se desenvolvem, naturalmente, como 
uma variante do instinto animal» o estudo do 
instinto interessa bastante ao psicólogo. 
4. Com a elaboração de uma teoria do co- 
nhecimento: Os escritos de Chomsky são pouco 
explícitos porque ele sempre afirmou, ao con- 
trário de Piaget, que o desenvolvimento da lin- 
guagem não depende do desenvolvimento cogni- 
tivo. Mas muito recentemente este diferendo 
parece ter sido sanado e Chomsky interessa-se 
agora pela capacidade cognitiva humana que ele 
considera totalmente programada. Podemos ci- 
tar a propósito uma das suas notas esclarece- 
doras: «O espírito humano é um sistema biolo- 
gicamente determinado, tendo certas potencia- 
lidades e certos limites ... ele tem uma adapta- 
ção natural para imaginar as teorias correctas 
de um tipo determinado,. 
rI - JEAN PIAGET 
G no âmbito muito complexo da construção 
de uma teoria do conhecimento que se situam 
as concepções de Piaget sobre a aquisição da 
linguagem. Piaget afirmou várias vezes que a 
sua teoria se diferencia por um lado do inatismo 
e por outro do empirismo, quer dizer de 
Chomsky e de Skinner, e nos seus escritos sobre 
psicologia ele pretendeu demarcar-se tanto de 
um como do outro. Mais precisamente, pode- 
mos observar que é sobretudo contra o empi- 
rismo que ele se levantou. Como afirma em 
Le Structuralisme Piaget considera, mais tarde, 
que a posição de Chomsky é incompleta. A afi- 
nidade entre Piaget e Chomsky revela-se em 
particular pela orientação dos trabalhos dos psi- 
colinguístas de Genebra que se reclamam do 
primeiro e do segundo. O que distingue, prin- 
cipalmente, Piaget dos chomskianos é que para 
ele o aparecimento e a evolução da linguagem 
dependem da evolução cognitiva da criança. A 
linguagem é para ele uma das manifestações da 
função semiótica e os trabalhos da Escola Psi- 
colinguística de Genebra têm como objectivo 
pôr em evidência que a linguagem da criança 
(ainda encarada segundo as suas características 
formais) se desenvolve seguindo a evolução 
cognitiva; por exemplo, a estrutura passiva, que 
implica uma inversão na ordem das palavras 
do activo, não seria adquirida senão no mo- 
mento em que a criança atingisse o estado de 
reversibilidade. 
Para Piaget é a evolução cognitiva que deter- 
mina a evolução da linguagem. Como Chomsky, 
Piaget não toma em conta o aspecto represen- 
118 
tativo da linguagem e muito raramente a sua 
função de comunicação. Para saber qual é o 
motor da evolução da linguagem na criança, é 
necessário ver como Piaget explica a evolução 
cognitiva. Ele considera que quatro factores in-tervêm no seu desenvolvimento: a experiência 
do mundo, a maturação, o meio social e o 
equilíbrio que ele define como uma função bio- 
lógica característica de todos os organismos 
vivos e que tem por objectivo responder, por 
processos de regulamentação e de compensa- 
ção, . . . aos desequilíbrios provocados pelo meio. 
Com efeito Piaget descreve o modo como por 
mecanismos de assimilação e de acomodação o 
sujeito atinge fases ou estádios de equilíbrio 
privilegiado entre o seu conhecimento, consti- 
tuído por esquemas, e os dados do meio que 
ele toma em consideração. Quando este equilí- 
brio se rompe a tendência fundamental para o 
equilíbrio restabelece-se. 
(Ao nível do desenvolvimento da linguagem, 
Piaget mostra em Naisswce de I'lntelligence ou 
na Formdion âo Symbole que são os processos 
biológicos de acomodação que permitem o 
acesso A imitação diferida, depois & função se- 
miótica.) 
Deste modo, que dizer do princípio motor 
da evolução ontogenética em Piaget? Encontra- 
mos elementos de resposta a esta questão em 
Equilibration des Structures Cognitives. onde 
Piaget diz que «a tendência ao equiiíbrio é uma 
função explicativa central no problema do de- 
senvolvimento da função cognitivaa. Entre os 
quatro factores que intervêm de perto no desen- 
volvimento apenas o equilibrio parece ter uma 
função determinante. O que aliás se confirma 
se analisarmos os escritos mais recentes de 
Piaget, como Biologie et Conm'ssmce, Adapta- 
tion Vitale et Psychologie de I'InielligerÉce.. . ou 
Le Comportement, Moteur de I'Évolution; nes- 
tas obras ele tenta demonstrar que as estruturas 
cognitivas são como as características fenotí- 
picas (a forma das limneias, por exemplo) dos 
modos de adaptação biológica. Em Génèse et 
Structure ele escreve: «A evolução da inteligên- 
cia não é de outra natureza que a da evolução 
biológica». Estas duas evoluções têm o mesmo 
princípio motor: o equilíbrio, que é um pro- 
cesso biológico. A fonte da evolução das con- 
dutas, a raiz desta evolução parece ser também, 
para Piaget, o sujeito e as suas características 
orgânicas. Mas contrariamente a Chomsky, Pia- 
get não defende um inatismo de estruturas 
-cognitivo ou verbal- mas um inatismo de 
funções que regulam toda a vida biolbgica. 
Correlativamente, compreendese que em 
Piaget o meio tem simplesmente um papel deco- 
rativo, quadro no qual se actualizam estas fun- 
ções e a ordem universai do desenvolvimento da 
evolução cognitiva testemunha este papel deter- 
minante das funções biológicas. Esta universa- 
lidade levou Piaget a fazer LQ Fsychoíogie du 
Sujet Épistémique. 
Nota: Ao nível das experiências de inspira- 
ção piagetiana, e apesar do uso teórico da con- 
cepção de interacção, o meio é sempre um meio 
passivo, inerte, sempre caracterizado ao nível 
físico, nunca social. O papel que ele atribui ao 
meio está claramente descrito em Adaptation 
Vitale ... «para explicar a evolução das espécies 
e para explicar os comportamentos ou conheci- 
mentos, o factor primordial não está em pro- 
curar nas acções positivas ou negativas do meio, 
mas sim nas acções que o organismo ou o su- 
jeito exerce sobre o meio, e isto por via das 
iniciativas essencialmente endógenasn. 
Como situar então a Icpsicologia piagetianan 
relativamente às outras disciplinas? 
1. Com. a Biologia: Pode dizer-se que Piaget 
encarna ele próprio a relação da Psicologia com 
a Biologia. Em todo o caso, é bem claro que 
para ele a missão da Psicologia é, por um lado, 
descrever as estruturas do comportamento que 
se manifestam no decurso da ontogénese e por 
outro lado determinar os mecanismos que pro- 
vocam a sequência. Mas estes mecanismos são 
para Piaget de ordem bi016gica e porque ele 
considera que o futuro da psicologia está na 
sua fusão com as ciências biológicas: com efeito 
ele afirma em L'Ini;roducriora & I'Épistémologie 
Génétique: «Um dia a psicologia e a neurologia 
assimilar-se-ão reciprocamente e constituirão 
uma ciência comum,. 
119 
2. Com o esfudo dos ferrómcno:: sociais: 
Piaget é aqui menos categórico que Chonisky 
e de facto menos reducionista, todavia ele con- 
sidera que a história social pode ser explicada 
tal como a ontogénese e a filogénese, pelo pro- 
cesso do equilíbrio. Em Génèse et Structiire 
refere que: «Mesmo quando se trata de lutas 
e confiitos entre ideologias, eu creio que a no- 
ção de equilíbrio se aplica também neste do- 
mínio.. . Poderemos supor que atamos ainda 
no domínio social, numa fase pré-operatória 
análoga àquela que precede na psicologia da 
inteligência a formação de estruturas equilibra- 
das? Se se acredita em algum sistema social 
melhor que o nosso, como vós e eu, penso que 
podemos ambicionar um estado mais equilibra- 
do e de uma estabilização progressiva. Não 
vejo porque não se poderá aplicar a noção de 
equilíbrio Zt sociologia*. 
A História para Piaget parca reduzir-se a 
uma génese com uni estado de equilíbrio ideal 
a atingir. Talvez a diferença entre História c 
génese seja aqui central. 
A um nível diferente, o da relação social 
com o semelhante podemos recordar a fórmula 
célebre de Piaget segundo a qual a afectividade 
constituiria a energia que alimenta o motor que 
é o cognitivo nos seus mecanismos. Piaget não 
ignora certamente a importância da relação com 
o semelhante na génese cognitiva, mas podemos 
interrogar-nos sobre a sua concepção da análise 
que é necessário efectuar desta relação. Admira- 
mo-nos mesmo de encontrar em Entretiens avec 
Bringuier que «sobre a afectividade apenas a 
endocrinologia terá qualquer coisa a dizer-nos». 
O que motiva em Piaget uma afirmação tão 
surpreendente, é que para ele os afectos, os sen- 
timentos, não são estruturados em si mesmos, 
antes se organizam estruturalmente, intelectua- 
íizando-se (cf. Btudes Sociologiques). Isto é, a 
energia que constitui a afectividade, desde que 
penetre no motor cognitivo, intelectualiza-se. 
Esta a razão por que Piaget, em Le Jewemertt 
Moral chez I’Enfant, tenta mostrar que o desen- 
volvimento afectivo segue o desenvolvimento 
cognitivo e dele depende. Sobre a noção de 
cooperação podemos ler, em Études Sm‘ologi- 
ques, o seguinte: «As relações sociais de coopc- 
rago constituem grupos de operações, exacta- 
mente como todas as acções exercidas pelo indi- 
víduo sobre o mundo exterior e as leis de agru- 
pamento definirão a forma de equilíbrio ideal». 
Para Piaget, a afectividade não modifica em 
nada as estruturas cognitivas, o que não é senão 
a energia a definir por parâmetros biológicos. 
3. Com o estudo do cvtimal: Para Piaget há 
uma continuidade do animal ao homem, coníi- 
nuidade funcional, já que os princípios que 
determinam o comportamento humano são co- 
muns a todo o organismo vivo. Por isso existe 
uma psicologia animal piagetiana onde se es- 
tuda, por exemplo, a representação em dife- 
rentes espkcies animais. 
Ao nível do estudo da linguagem Piaget con- 
sidera, enquanto biólogo, que a ontogénese 
reproduz a filogénese, e afirma que as condi- 
çijes do aparecimento da linguagem na criança 
são as mesmas que as do seu aparecimento na 
filogénese, a saber, a permanência do objecto. 
Ora, como ele próprio explica em La Formation 
du Symbole, os chimpanzés dispõem da pernia- 
nência do objecto. Para Piaget isso demonstra 
que a função semiótica exprime-se de modo 
diferente do que a linguagem, pois os chim- 
panzés dispõem dela mas não falam. Isto parece 
demonstrar que as capacidades de representa- 
ção não são suficientes para o aparecimento 
da linguagem. Piaget, na mesma passagem, 
afirma sem rodeios que <<todo o recurso ao 
conceito de vida social é inadmissível em Psico- 
logia». Por que não falam então os chimpanzés? 
Devemos voItar aqui ao inatismo funcional 
defendido por Piaget: para ele as funções que 
são comuns a todas as espécies conduzem ilfunção semiótica que, no caso do homem, se 
realiza através da linguagem (o que não acon- 
tece nas outras espécies): é indispensável para 
Piaget explicar esta diferença por estruturas ner- 
vosas particulares, inatas. Encontramos a este 
respeito alguma coisa na intervenção de H. Sin- 
clair no Colóquio do CNRS de 1971: <<Em certo 
sentido, qualquer coisa como um esquema de 
base da linguagem humana existe efectivamente, 
120 
do mesmo modo que existem hipóteses de base 
que permitem il criança aproximar-se do mo- 
delo de linguagem que ihe fora apresentado. 
Este esquema tal como as hipóteses derivam de 
propriedades fundamentais do' espírito humano, 
e num certo sentido de coordenações neurológi- 
cas». O inatismo funcional de Piaget aproxima- 
-se então do inatismo estrutural de Chomsky. 
4. Com a teoria do ccrnhecimenfo: A elabo- 
ração de uma tal teoria é o objectivo primordial 
do trabalho de Piaget. Para ele a ontogénese 
cognitiva deve servir para compreender a his- 
tória do conhecimento, pois o que é importante 
não é o quadro no qual se elabora o conheci- 
mento (que é bem diferente ao nível da criança 
e ao nível dos grupos sociais), mas sim os me- 
canismos internos que governam esta elabora- 
ção. Encontramos vários textos de Piaget onde 
ele põe em paralelo, por exemplo, a evolução 
da noção de número, depois os caracteres e a 
sua evolução na criança. Isto levanta problemas 
bastante delicados: podemos perguntar, em par- 
ticular, se neste caso a anterioridade cronoló- 
gica não corresponde a uma inferioridade lóc 
gica. Encontramos algures M Psychdogie et 
Épistémdogie: «É bastante possível que em 
muitas sociedades o pensamento adulto não ul- 
trapasse o nível das operações concretas e não 
atinja mais do que o nível das operações pro- 
posicionistas que se elaboram entre os 12 e os 
15 anos nos nossos meiosB. 
Como iiustração desta posição Piaget cita os 
trabalhos de Gablik (Progression in Art) sobre 
as grandes etapas da pintura, onde o autor tenta 
mostrar que a pintura primitiva corresponde ao 
nível pré-operatório, a pintura clássica às ope- 
rações concretas e a pintura moderna ao estado 
hipotético-dedutivo. 
Ao nível da linguagem esta proposição le- 
vanta uma questão importante: o nível da lin- 
guagem atingido pela criança em cada idade é 
a manifestação do seu nível cognitivo e se a his- 
tória do conhecimento se assemelha à ontogé- 
nese, podemos dizer que as línguas primitivas 
ou as línguas mortas são menos elaboradas que 
as línguas modernas? 
I11 - BURRHUS FREDERIC SKINNER 
Como a posição piagetiana, a psicologia de 
Skinner é muito difícil de resumir e de com- 
preender. Nós esquematizá-ia-emos, tentando 
conservar o essencial. Tal como Piaget, é como 
psicblogo que Skinner aborda o comportamento 
verbal ao qual aplica as suas concepções gerais 
sobre o comportamento pois trata-se de um 
comportamento como os outros. 
Mas para compreender o método de Skinner 
é importante, tal Como para Chomsky, situá-lo 
no quadro das suas posições filosóficas. Skinner 
insiste longamente que, para ele, o behaviorismo 
constitui uma filosofia da ciência do comporta- 
mento. E na filosofia, Skinner escolheu clara- 
mente o seu campo: ele luta contra o espiritua- 
lismo em geral como o faziam já os primeiros 
behavioristas, e contra o mentalismo, em parti- 
cular, na psicologia. Para ele é muito impor- 
tante deixar de recorrer ao conceito de espírito 
e muito especialmente às vontades, as necessi- 
dades, às motivações, aos interesses, aos sen- 
timentos.. . para explicar o comportamento. pois 
estes conceitos por si mesmos não explicam 
nada e é até necessário explicá-los. E uma 
das razões da originalidade de Skinner na cor- 
rente behaviorista. Ele define-se como behavio- 
rista radical e mais ou menos todos os outros 
têm, segundo ele, pactos com o diabo, com o 
mentaiismo; todos os aconciliadoresn (média- 
tionistes), por exemplo. 
Logo o objectivo de Skinner é combater todo 
o recurso a uma causalidade interna na expli- 
cação dos comportamentos onde o meio, na sua 
concepção, tem um papel central. 
Ao nível da aquisição da linguagem é neces- 
sário para Skinner considerar dois elementos, 
como aliás para todos os comportamentos: a 
história dos reforçamentos que o sujeito expe- 
rimentou e a situação na qual o comportamento 
é realizado. Para conhecer a primeira, é nem- 
sário ter em conta as práticas da comunidade 
verbal, na qual vive a criança. Com efeito, Skin- 
ner recorre, por exemplo, i~ universalidade das 
práticas destas comunidades para explicar a 
existência de universalidades nas iííguas (posi- 
121 
ção retomada por F. François). É a universa- 
lidade das práticas sociais que explica a univer 
salidade de certos comportamentos. 
No que respeita ao mecanismo da aquisição 
da linguagem Skinner considera que, como para 
todo o comportamento, é o condicionamento 
operante que pode ter um papel importante: em 
presença de um certo estímulo (referência- 
-objecto), o indivíduo emite uma certa resposta 
(uma palavra) que o ambiente reforça ou não 
(incompreensão das outras pessoas, correcção 
pela mãe, obtenção do objecto...). O ambiente 
que condiciona uma tal aprendizagem inclui, 
evidentemente, todos os discursos entendidos 
pela criança, as realizações da sua língua ma- 
terna e é a sua relação com o ambiente que ex- 
plica a sua aquisição. Notamos que, contraria- 
mente a Chomsky e Piaget, Skinner não encara 
senão a f u q i í o comunicativa da linguagem. A 
representação não é para ele senão uma noção 
mentalista, para além do que significa ou repre- 
senta. Não restam senão os «significantes» que 
conservam com a realidade um laço estabele- 
cido no «USO» e que nada têm de arbitrário. 
Poderíamos evitar recordar que este empirismo 
militante não trouxe senão impasses ao nível 
da explicação em psicolinguística. Na realidade 
não existe nenhuma investigação experimental 
skinneriana no sentido estrito deste domínio. 
E isso compreende-se: se na verdade a his- 
tória das relações de cada indivíduo com o seu 
ambiente é determinante, é claro que não se 
pode ter o conhecimento desta história parti- 
cular, individual e que nunca poderemos obser- 
var na totalidade. De facto o trabalho de Skin- 
ner é, como ele diz, um trabalho de filosofia: 
fia-se sempre pelo enunciar de princípios. Uma 
nota destaca este impasse e da parte de alguém 
que não pode ser suspeito de anti-behaviorismo: 
M. Richelle, que na A d y s e Formelle et Ana- 
lyse Functionelle du Langage (Bull. Psychol., 
1972) refere que <<poderemos imaginar a varia- 
ção das propriedades de um objecto e observar 
as modificações, na probabilidade de apareci- 
mento, de tal ou tal resposta verbal. As ques- 
tões deste tipo são em princípio passíveis de 
análise experimental mesmo se admitirmos que 
ninguém terá a paciência de conduzir este gé- 
nero de trabalho para o conjunto das unidades 
gramaticais». Se o próprio Richelle não tem 
paciência para ser skinneriano em Psicologia, 
quem o será? 
Resta ao psicólogo estudar um mecanismo 
geral de aquisição e de evolução dos comporta- 
mentos: o condicionamento operante. Mas de 
que natureza é este mecanismo para Skinner: 
em About Behaviorism encontramos: «O con- 
dicionamento operante é um processo bioló- 
gico». Quer dizer que, como o equilíbrio da 
teoria piagetiana, o condicionamento operante 
é um modo de relação de um organismo com o 
meio que, segundo Skinner, caracteriza a maior 
parte das espécies animais. O que varia de uma 
espécie para outra são as sensibilidades aos re- 
forçamentos: cada espécie é sensível a reforça- 
mentos particulares, estas sensibilidades resul- 
tam da sua história filogenética e estão inscritas 
no potencial genético de cada indivíduo. Como 
ele diz claramente em About Behaviorism, «a 
espécie humana é e permaneceum sistema bio- 
Podemos então perguntar qual é na verdade 
o papel do meio na psicologia skinneriana. Tal- 
vez o possamos resumir como tendo um papel 
de selecção, reforçando ou não certos compor- 
tamentos, o meio selecciona-os orientando assim 
o desenvolvimento. O papel que Skinner atribui 
ao meio é o mesmo que lhe é atribuído na teo- 
ria da evolução de Danvin e tem ainda o mes- 
mo papel para Skinner ao nível da evolução das 
culturas. Tal como Monod pensava que se po- 
dia elaborar uma história natural das ideias, 
Skinner afirma que se pode construir uma his- 
tória natural das culturas: cada nova prática 
social é, para ele, associada a urna mutação 
(variação brusca, endógena e aleatória); e a cul- 
tura dominante é, evidentemente, a melhor 
adaptada. 
Podemos então perguntamos se o papel de 
selecção que o meio desempenha (nesta concep- 
ção) é assimilável em relação a um papel motor 
e ainda se para Skinner o motor real não será o 
organismo; em Le Comportement, Moteur de 
I'EvoZution, Piaget afirma que «não é necessário 
lógico». 
122 
raciocinar como se a seleqão tivesse originado 
a propriedade útil porque de facto ela demar- 
cou-se favorecendo a escolha e a conservação». 
Quais as relações da Psicologia Skinneriana 
com as outras disciplinas? 
1. Com a Biologia: Aqui Skinner dá razão 
a Chomsky; o que se depreende da seguinte 
passagem de About Behaviorisrn: uA Psicolo- 
gia é um ramo da Biologim. Para Skinner a 
última explicação dos comportamentos só po- 
derá ser dada pelas ciências biológicas: uUm 
dia, contudo, concluir-se-á que é possível fazer 
a análise do que se passa no Sistema Nervoso 
Central no próprio momento em que o indivíduo 
manifesta um comportamento. Poder-se-á então 
substituir a história comportamental do sujeito 
pelo estado actual do seu SNC» (1971). Esta 
ideia, segundo a qual os psicólogos devem tra- 
balhar para abrir caminho aS investigações dos 
biólogos é retomada por Richelle na sua última 
obra: «A contribuição mais frutuosa que a psi- 
cologia pode dar it biologia ... é uma descrição 
coerente da relação entre fenómenos no domínio 
comportamentab. Skinner exprime também esta 
opinião em Cumulative record: u 0 desenvolvi- 
mento genético do organismo e as ligações com- 
plexas entre o organismo e o meio constituem 
matérias de diferentes disciplinas. Um dia, sa- 
beremos o que se passa logo que um estímulo 
actua sobre uma superfície do organismo e o 
que se passa em seguida no interior deste orga- 
nismo, numa série de etapas em que a úitima 
corresponde ao momento a partir do qual o or- 
ganismo age sobre o ambiente e eventualmente 
o modifi ca... Mas em todos estes aconteci- 
mentos internos será tido em conta o auxílio 
das técnicas de observação e medida, próprias 
da fisiologia das diversas partes do organismo 
e nos termos apropriados para uma situação 
particular. O objecto da Psicologia é encontrar 
as relações causais entre input e output que 
constituem a preocupação específica de uma 
ciência do comportamento.. . A melhor contri. 
buiçáo, que nós especialistas do comportamento 
podemos dar 2 investigação colectiva que visa 
descobrir de modo completo o organismo en- 
quanto sistema biológico, é a de fornecer um 
conjunto largo e coerente de relafies causais 
descritas com o máximo de precisão». 
2. Com a Sociologia: Para determinar a po- 
sição da psicologia skinneriana em relação aos 
fenómenos sociais é suficiente recordar a frase 
de Par-dela lu Liberté et la Dignité (1972), onde 
Skinner descreve longamente as razões que con- 
duzem it necessidade da Psicologia Experimen- 
tal nesta sociedade: a0 comportamento do tra- 
balhador é de toda a importância para o em- 
pregador, pois este último tira o seu lucro com 
tanto zelo e cuidado quanto o trabalhador efec- 
tua o seu trabalho. Como surpreendê-lo para o 
despedir?,. 
Recordemos ainda as aplicações tecnolbgicas 
da psicologia skinneriana: modificação do com- 
portamento e ensinamento programado. 
Skinner enuncia claramente que uma cultura 
se assemelha ao meio experimental da análise 
do comportamento que se pode planificar como 
uma experiência e cujo fim a atingir através 
destas manipulações e destes controlos é o s e 
guinte: adeverá ser possível construir um mun- 
do no qual todo o comportamento passível de 
ser punido só aparecerá muito raramente ou 
nunca». 
3. Com o estudo do animal: $ conhecida a 
inclinação de Skinner pelos ratos brancos. Essa 
preferência tem o seu fundamento na ideia de 
que sendo o condicionamento operante um me- 
canismo biológico pode ser estudado para cada 
espécie. Skinner não pensa que se possam ge- 
neralizar completamente os resultados obtidos 
nos ratos brancos ti espécie humana, mas os 
mecanismos fundamentais são os mesmos: u 0 
comportamento humano distingue-se dos outros 
pela sua complexidade, pela sua diversidade e 
pelas suas maiores realizações. mas os proces- 
sos fundamentais não são necessariamente dife- 
rentes dos dos animais» (Science crnd Human 
Behaviour, 1953). 
4. Com a teoria do conhecimento: Para 
Skinner o conhecimento é um repertório de 
comportamentos e, como nos outros comporta- 
123 
mentos, as ideias científicas são seleccionadas 
em função da sua adaptação ao meio. 
(Tradução de Otília Pacheco) 
SUMÁRIO 
Concluindo e como elemento para um debate 
sobre estas três concepções, pensamos que são 
mais evidentes as suas semelhanças do que as 
suas diferenças. Há nestas teorias uma concep- 
ção comum do que deve ser a Psicologia. Po- 
rém, no plano epistemológico, é importante dis- 
tinguir a posição de Skinner devido ao papel 
importante que o meio al desempenha, revelado 
no seu estudo sobre os aspectos exclusivamente 
comunicativos da linguagem. E ainda por causa 
da prática social que deriva da sua concepção. 
Apenas se acreditarmos que o meio é determi- 
nante no desertvolvimeiúo em geral poderemos 
acreditar na possibilidade de intervenção sobre 
o meio com vista a <<melhorar» esse desenvolvi- 
mento. Resta determinar o que significa esse 
melhoramento, ainda que Skinner não mostre 
ter qualquer dúvida sobre o assunto. 
Mas, a um nível mais global, e de certo mo- 
do, a teoria de cada um destes três psicólogos 
vai buscar a sua base I3 biologia. Cada um dos 
autores recorre a uma teoria de evolução bioló- 
gica e utiliza-a na sua explicapio do desenvol- 
vimento da criança. Nesta explica& nenhum 
deles evidencia o que cotztribui para a especifi- 
c idde do homem: a sua relação social com o 
semelhante, com a sociedade. O homem é sem- 
pre considerado como uma espécie biológica, 
nunca: social. 
O que certamente tem implicações directas 
m trabalho que é transferido para os psicólo- 
gos, mesmo se eles, ao estudar a linguagem, não 
são verdadeiramente chomskianos, piagetianos 
ou skinnerianos. 
RÉSUMÉ 
En conclusion et comme éiément d'un dè- 
baí sur ces trois conceptions, i1 semble que ce 
qui est frappant, c'est plus leurs similitudes que 
leurs différences. 11 y a I3 la base um conception 
commune de ce que doit être la psychologie. 
I1 est vrai cependant que sur le plan épisté- 
mdogique, i1 est importanf de distinguer I'ap- 
proche skinnérienne des deux autres en raison 
du rôle important joué par le milieu chez Skin- 
ner, révélé dans son étude des mpects exclusive- 
meni communicatifs du langage. En raison aussi 
de Ia prdique sociale qui découle de sa con- 
ception. Cest seulement si i'on croit que le 
m'lieic est déterminant duns le développement 
en général qu'on croit 2 la possibilité d'interve- 
nir sur ce milieu pour «améliorern ce développe- 
ment. Reste d déterminer ce que signifie cette 
arnélioration, même si Skinner, lui, n'a aucrin 
doute I3 ce sujet. 
Mais d un niveau plus global, i1 semble que 
&une certaine façon, la théorie de chacune de 
ces psychoiogies soíten dernier ressort lu bio- 
logie. Chacun de ces auteurs recourt 6 une théo- 
rie de l'évolution biologique et i'utilise dans 
son explication du développemní de i'enfant. 
Aucun deux ne recourt dans cette explicclrion 
d ce qui fait Ia spécificité de i ' fwme: son rap- 
port social d i'autre, ti Ia société. L'homme y 
esi t0ujmr.r considkrt! comme une espèce bio- 
logique, jamais sociale. 
Ce qui a bien siir des implications directes 
sur le travail qui est ainsi dévolu aux psycholo- 
gues, même si ceiin-ci, duns leur étude du lan- 
gage en tout cas, ne SOM j m k vraiment 
chomskiens, vraiment piagétiens, vraiment skin- 
nériens. 
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I24

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