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RESP 141 782-MG - TERMO INICIAL DA PENA PECUNIÁRIA

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 141.782 - MG (1997/0052173-7)
 
RELATOR : MINISTRO BARROS MONTEIRO
RECORRENTE : ARAKEN HANRIOT DA CUNHA E OUTROS
ADVOGADO : PEDRO SCHMIDT DE BRITO E OUTRO
RECORRIDO : CONSTRUTORA MENDES LTDA 
ADVOGADO : MÁRCIA CRISTINA SAMPAIO MENDES E OUTROS
RECORRIDO : TECNICON CONSTRUTORA LTDA 
RECORRIDO : JOSÉ CARLOS GENEROSO DAYRELL DA CUNHA 
RECORRIDO : RICARDO HENRIQUES VILARINHO 
EMENTA
OBRIGAÇÃO DE FAZER. EXECUÇÃO. MULTA DIÁRIA. TERMO 
INICIAL. FIXAÇÃO A PARTIR DA CITAÇÃO.
– O termo inicial da pena pecuniária deve corresponder ao momento em que 
configurado o inadimplemento por parte do devedor. Findo o prazo determinado pelo 
Juiz, após a citação do devedor para os termos da execução, haverá então lugar para a 
exigência da multa. Precedentes do STJ.
Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:
Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer 
do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma do relatório e notas 
taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. 
Ministros Cesar Asfor Rocha, Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior e Jorge 
Scartezzini.
Brasília, 15 de março de 2005 (data do julgamento).
MINISTRO BARROS MONTEIRO 
Relator
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RECURSO ESPECIAL Nº 141.782 - MG (1997/0052173-7)
 
RELATÓRIO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: 
Araken Hanriot da Cunha e outros ajuizaram ação cominatória contra 
“Tecnicon Construtora Ltda.” e outros, a qual foi julgada procedente pelo MM. Juiz de Direito 
da 9ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, tendo sido os réus condenados “a 
construírem imediatamente o muro de arrimo, atirantado e executado de acordo com as 
normas técnicas de engenharia, a ser concluído no prazo de 60 dias, sob pena de 
pagarem multa diária correspondente a 1,5% do preço final do muro, apurado em 
execução, até que cumpram a obrigação” (fl. 94). A sentença foi confirmada pela Quarta 
Câmara Cível do Tribunal de Alçada de Minas Gerais.
Com o trânsito em julgado da decisão, os autores requereram a execução. Não 
erigido o muro, pleitearam os exeqüentes a conversão da execução da obrigação de fazer em 
execução por quantia certa, por perdas e danos. A postulação foi deferida pelo decisório de 
fls. 174/176, vazada nestes termos em sua parte final:
“Dessa forma, é de se acolher o pedido de transformação de 
execução da obrigação de fazer em execução por quantia certa, por 
perdas e danos, e que faço nesta oportunidade, acolhendo o valor 
encontrado pela perícia realizada, aplicando-se a multa cominada na 
sentença e demais cominações, tudo conforme o art. 633 do CPC.
Determino que os autos sejam levados ao Contador para 
liquidação a ser homologada, observando o Sr. Contador que a 
multa imposta na sentença deverá incidir a partir de 24.7.1994 (fl. 
21v), isto é, 60 dias após a citação.” (Fl. 176).
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Contra o último tópico dessa decisão os exeqüentes interpuseram agravo de 
instrumento, visando à alteração do termo inicial da multa para sessenta dias, após o trânsito 
em julgado da sentença. O Tribunal de Alçada de Minas Gerais, à unanimidade, negou 
provimento ao recurso com a seguinte motivação no que ora interessa:
“Embora a sentença, no processo conhecimento, tenha 
estabelecido esse prazo para a construção do muro de contenção, 
impunha-se que os réus fossem citados para a execução, nos termos 
do art. 632 do Código de Processo Civil. Somente a partir daí é que 
estariam obrigados ao cumprimento do que foi determinado pela 
sentença. Citados e ultrapassados os sessenta dias, registrando-se sua 
omissão, desde então ficaram sujeitos ao pagamento da multa diária 
definida na sentença.
Para melhor clareza do assunto, transcrevo o art. 632 do Código 
de Processo Civil:
'Art. 632. Quando o objeto da execução for obrigação de 
fazer, o devedor será citado para satisfazê-la no prazo que o 
juiz lhe assinar, se outro não estiver determinado no título 
executivo.'
Destarte, como se retira do dispositivo acima, após a citação é que 
ficará o devedor na contingência de satisfazer a obrigação, no prazo 
que o juiz fixar ou, como é o caso dos autos, naquele que foi 
determinado pela sentença, título executivo.
Por conseguinte, depois de completada a citação dos agravados e 
transcorridos sessenta dias é que a multa terá incidência, como 
corretamente decidiu o nobre colega de primeiro grau.” (Fls. 
195/196).
Rejeitados os declaratórios, os exeqüentes manifestaram este recurso especial 
com arrimo nas alíneas “a” e “c” do admissor constitucional, apontando contrariedade aos arts. 
165, 287, 458, II, 467, 468, 535, II, 572, 580, parágrafo único, 614, II, 644 e 645 do CPC; 
123 e 124 do Código Civil de 1916, além de divergência jurisprudencial. Argüiram a nulidade 
do acórdão por falta de prestação jurisdicional, uma vez não supridas as omissões por ela 
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apontadas. Acrescentaram que, tendo a sentença exeqüenda estabelecido que as obras 
deviam iniciar-se imediatamente, o acórdão recorrido malferiu a regra do art. 644 do CPC em 
sua redação original, assim como violou a coisa julgada. Aduziram que, após o trânsito em 
julgado da sentença, o título executivo se achava pendente tão-somente de termo, qual seja, os 
sessenta dias para cumprimento espontâneo pelo devedor.
Oferecidas as contra-razões, o apelo extremo foi indeferido na origem, havendo 
os autos subido a esta Corte por força de provimento ao Agravo de Instrumento n. 
132.009-MG, de minha relatoria, para melhor exame da controvérsia.
É o relatório.
 
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VOTO
O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): 
1. O acórdão recorrido apreciou, como lhe incumbia, as questões relevantes 
suscitadas pelas partes e dirimiu quantum satis a controvérsia. Constata-se dos embargos 
declaratórios opostos pelos ora recorrentes que simplesmente não se conformaram eles com a 
decisão proferida, finalidade para a qual, todavia, não foi instituída a referida via recursal.
2. Cinge-se a pendência à fixação do termo inicial da pena pecuniária por 
descumprimento do preceito estabelecido na sentença: a) incidência da multa sessenta dias 
após a citação (decisão do magistrado singular); b) fluição de sessenta dias depois do trânsito 
em julgado da sentença exeqüenda, conforme sustentam os recursantes.
Desassiste-lhes razão, haja vista que o julgado combatido não-somente aplicou 
os cânones legais pertinentes à espécie, como ainda se acha em harmonia com a orientação 
jurisprudência e promanada desta Corte.
Ao reverso do que asseveram os exeqüentes, a sentença proferida no processo 
cognitivo limitou-se a estabelecer os prazos para o início das obras (imediatamente) e para a 
sua conclusão (sessenta dias). Não definiu com precisão o termo inicial da multa.
O termo a quo da penalidade pecuniária – claro está – deve corresponder, em 
face da omissão havida a respeito no título sentencial, ao momento em que caracterizado o 
inadimplemento do devedor.
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É isso o que,por sinal, deixou assentado em linhas gerais a colenda Terceira 
Turma deste Tribunal quando do julgamento do REsp n. 6.644-MG, relator o Sr. Ministro 
Eduardo Ribeiro. Do voto de S. Exa. no referido precedente colhe-se:
“A sentença condenou os réus a prestarem o fato, como pedido 
na inicial. Cominou-se multa de quinhentos cruzeiros para o caso de 
inadimplemento. Anos após o trânsito em julgado, o autor 
compareceu aos autos, afirmando que pretendia executar o julgado. 
Pediu fossem os autos enviados ao Contador, para liquidação, o que 
foi feito. Levantado o cálculo, o Juiz homologou-o.
Com a devida vênia, não se atendeu ao disposto no artigo 632, 
combinado com o 644 do Código de Processo Civil. A execução da 
sentença, tratando-se de obrigação de fazer, há de iniciar-se pela 
citação do devedor para que cumpra o julgado. Para isso, gozará do 
prazo estabelecido pelo juiz. Findo, sem o adimplemento, haverá 
lugar para a multa. A 'astreinte' não tem natureza de punição mas de 
meio destinado a obter o cumprimento do julgado. Deste modo, não 
se justifica sua incidência enquanto não decorrido o prazo de que o 
devedor dispõe, tal como fixado pelo Juiz. Note-se que, no caso, não 
houve mesmo determinação de termo diverso, na sentença, para 
fluência do prazo. Outro não poderia ser que o da citação, prevista 
no dispositivo citado.”
Vale dizer, a multa diária somente pode ser cobrada a partir do 
descumprimento da sentença, ou seja, desde o momento em que, conforme acima assinalado, 
de maneira cabal se configure o inadimplemento do devedor. E este só se evidencia com a 
citação para os termos da execução. Nessa linha e na esteira do mencionado precedente 
decidiu esta Quarta Turma ao julgar o REsp n. 123.645-BA, relator Ministro Sálvio de 
Figueiredo Teixeira.
Era de rigor, pois, que, para a fluência da multa diária, fossem citados os 
executados, correndo a partir daí o prazo de sessenta dias. Na verdade, não encontram 
incidência no caso em exame as preceituações dos arts. 572, 614, II, (redação antiga) do 
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CPC, e 123/124 do CC/1916. Aplicam-se, sim, conforme supra aludido, as regras dos arts. 
632 e 644 (redação original) do Código de Processo Civil; o primeiro dispositivo indicado, ao 
impor a citação para o cumprimento do julgado; o segundo, ao exigir a definição do termo 
inicial da multa pelo Juiz de Direito.
À falta de fixação precisa, na sentença prolatada no processo de conhecimento, 
do termo a quo da multa diária, prevalece aquele determinado pelo Juiz de Direito: sessenta 
dias após a citação para os termos da execução. Tal é a orientação, aliás, jurisprudencial 
traçada por esta Corte Superior: REsp n. 110.344-RJ, relator designado o Sr. Ministro 
Waldemar Zveiter; REsp n. 518.155-RS, relator Ministro Luiz Fux.
Como se vê, inexiste a alegada afronta à coisa julgada, tampouco à legislação 
federal referida pelos recorrentes e, de outra parte, não se tem como passível de 
aperfeiçoar-se aqui o dissenso de julgados, porquanto os arestos paradigmas colacionados no 
recurso especial não contêm as peculiaridades fáticas que se encontram focalizadas na espécie 
dos autos.
3. Isso posto, não conheço do recurso.
É como voto. 
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
 
 
Número Registro: 1997/0052173-7 RESP 141782 / MG
Números Origem: 199600770760 2133415
PAUTA: 15/03/2005 JULGADO: 15/03/2005
Relator
Exmo. Sr. Ministro BARROS MONTEIRO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS
Secretária
Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ARAKEN HANRIOT DA CUNHA E OUTROS
ADVOGADO : PEDRO SCHMIDT DE BRITO E OUTRO
RECORRIDO : CONSTRUTORA MENDES LTDA
ADVOGADO : MÁRCIA CRISTINA SAMPAIO MENDES E OUTROS
RECORRIDO : TECNICON CONSTRUTORA LTDA
RECORRIDO : JOSÉ CARLOS GENEROSO DAYRELL DA CUNHA
RECORRIDO : RICARDO HENRIQUES VILARINHO
ASSUNTO: Civil - Direito das Coisas - Propriedade - Direito de Vizinhança
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão 
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do Sr. 
Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior e 
Jorge Scartezzini votaram com o Sr. Ministro Relator.
 Brasília, 15 de março de 2005
CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
Secretária
Documento: 534093 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 02/05/2005 Página 8 de 4

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