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Físico-Química I Termoquímica Capítulo 2, seção 2C. ATKINS, P.; PAULA, J. Físico-Química. Vol. 1. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018. ISBN 978-85-216-3472-0. Disponível online na plataforma Minha Biblioteca. A definição de Termoquímica O estudo da energia transferida na forma de calor durante o transcurso das reações químicas é denominado termoquímica. A termoquímica é um ramo da termodinâmica, pois o vaso da reação e seu conteúdo constituem um sistema, e as reações químicas provocam troca de energia entre o sistema e as suas vizinhanças. TermoquímicaTermodinâmica Como a liberação de calor corresponde à diminuição da entalpia de um sistema, podemos dizer que um processo exotérmico é aquele no qual ΔH < 0. Inversamente, uma vez que a absorção de calor provoca a elevação de entalpia do sistema, um processo endotérmico é aquele no qual ΔH > 0. Variações de entalpia-padrão Variação de entalpia-padrão, ΔH⊖ é a variação de entalpia num processo em que as substâncias, nos estados inicial e final, estão nos respectivos estados-padrão: O estado-padrão de uma substância, em certa temperatura, é o da substância em sua forma pura sob pressão de l bar. Por exemplo, o estado-padrão do etanol líquido, a 298 K, é o etanol líquido puro, a 298 K e sob pressão de l bar. O estado-padrão do ferro sólido, a 500 K, é o ferro puro, a 500 K e sob pressão de l bar. A definição de estado-padrão é mais sofisticada para soluções (assunto de Físico-Química 2). Um tipo de variação de entalpia-padrão é o da entalpia-padrão de vaporização, ΔvapH ⊖, que é a variação de entalpia por mol quando um líquido puro, a l bar, se vaporiza em gás, também a l bar: As entalpias-padrão podem se referir a qualquer temperatura. A temperatura adotada para o registro de dados termodinâmicos é de 298,15 K (caso não haja observação em contrário, todos os dados termodinâmicos se referem a essa temperatura). Entalpias de transformações físicas A variação de entalpia-padrão que acompanha uma mudança de estado físico é a entalpia-padrão de transição, ΔtrsH ⊖. A entalpia-padrão de vaporização, ΔvapH ⊖, é um exemplo. Outro é o da entalpia-padrão de fusão, ΔfusH ⊖: Entalpias-padrão de fusão à temperatura de transição, ΔtrsH ⊖/(kJ mol–1). Entalpias-padrão de vaporização à temperatura de transição, ΔtrsH ⊖/(kJ mol–1). O valor de ΔH⊖ será o mesmo, qualquer que tenha sido o processo da transformação entre os mesmos estados inicial e final (função de estado). Por exemplo, podemos imaginar a transformação de um sólido em vapor através da sublimação: ou ocorrendo em duas etapas, primeiro a fusão e depois a vaporização do líquido que resulta da fusão: Como o resultado global da via indireta é o mesmo da via direta, a variação de entalpia, nos dois casos, é a mesma. Para os processos ocorrendo na mesma temperatura: A entalpia de sublimação de uma substância é maior do que a entalpia de vaporização, pois as entalpias de fusão são sempre positivas. As variações de entalpia-padrão dos processos direto e inverso só diferem pelo sinal: Por exemplo, como a entalpia de vaporização da água é +44 kJ mol–1, a 298 K, a entalpia de condensação do vapor de água, nesta temperatura, é –44 kJ mol–1. A vaporização de um sólido frequentemente envolve um grande aumento de energia, especialmente quando o sólido é iônico e há forte interação coulombiana entre os íons. MX(s) → M+(g) + X–(g) A entalpia de rede, ΔHL, é a variação de entalpia molar padrão para esse processo. A entalpia de rede é igual à energia interna de rede em T = 0; à temperatura ambiente, elas diferem somente em alguns quilojoules por mol, e a diferença é geralmente ignorada. Os valores experimentais da entalpia de rede são obtidos através do ciclo de Born-Haber, um processo fechado de transformações no qual uma das etapas é a formação do composto sólido a partir de um gás de íons muito separados. Ciclo de Born- Haber para o cloreto de potássio. Entalpias de transformações químicas Existem duas maneiras de se registrar a variação de entalpia que acompanha uma reação química. Uma é escrever a equação termoquímica, a combinação de uma equação química com a correspondente variação de entalpia- padrão: Reagentes puros, separados, em seus estados-padrão → produtos puros, separados, em seus estados-padrão Exceto no caso de reações iônicas em solução, as variações de entalpia que acompanham a mistura e a separação são insignificantes em comparação com as variações de entalpia da reação em si. Para a combustão do metano, o valor-padrão corresponde a uma reação em que 1 mol de CH4 gasoso puro, a 1 bar, reage completamente com 2 mol de O2 gasoso puro para dar 1 mol de CO2 puro a 1 bar e 2 mol de H2O líquida pura a 1 bar. Registramos a entalpia-padrão de reação, ΔrH ⊖, a 298,15 K: Para a reação da forma 2 A + B → 3 C + D, a entalpia-padrão de reação é: em que Hm ⊖(J) é a entalpia molar padrão da espécie J na temperatura de interesse. Observe como o “por mol” de ΔrH ⊖ vem diretamente do fato de as entalpias molares aparecerem na expressão. Interpretamos o “por mol” observando os coeficientes estequiométricos na equação química. Neste caso, o “por mol” em ΔrH ⊖ significa “por 2 mol de A”, “por mol de B”, “por 3 mol de C”, ou “por mol de D”. Em geral: em que cada uma das entalpias molares das espécies químicas está multiplicada pelo coeficiente estequiométrico respectivo, ν (adimensional e positivo). Algumas entalpias-padrão de reação têm nomes especiais e importância particular, por exemplo, a entalpia-padrão de combustão, ΔcH ⊖. Entalpias-padrão de formação (∆fH ⊖) e de combustão (∆cH ⊖) de compostos orgânicos, a 298 K. Exemplo A combustão da glicose é O valor da entalpia mostra que há o desprendimento de 2808 kJ de calor quando se queima 1 mol de C6H12O6, nas condições- padrão, a 298 K. Exercício proposto (2C.2 do livro) Prediga a produção de calor da combustão de 1,0 dm3 de octano a 298 K. Sua massa específica é 0,703 g cm–3. Dados: ΔcH ⊖= −5.471 kJ mol-1 MMC8H18 = 114,23 g mol-1 Lei de Hess As entalpias-padrão de reações individuais podem ser combinadas para se ter a entalpia de outra reação. Esta aplicação da Primeira Lei da termodinâmica é conhecida como a lei de Hess: A entalpia-padrão de uma reação global é igual à soma das entalpias-padrão das reações individuais em que a reação global possa ser dividida. As etapas individuais não são, necessariamente, realizáveis na prática. Para o cálculo, elas podem ser reações hipotéticas. A base termodinâmica da lei de Hess é a independência de ΔrH ⊖ em relação ao caminho. Podemos partir dos reagentes especificados, passar por quaisquer reações (até hipotéticas), para chegar aos produtos especificados, e, no total, ter o mesmo valor da variação de entalpia. A importância da lei de Hess está na possibilidade de se ter uma informação sobre certa reação, que pode ser difícil de conseguir diretamente, através de informações obtidas em outras reações. Exemplo A entalpia-padrão de reação para a hidrogenação do propeno, CH2=CHCH3(g) + H2(g) → CH3CH2CH3(g) é –124 kJ mol–1. A entalpia-padrão de reação para a combustão do propano, CH3CH2CH3(g) + 5 O2(g) → 3 CO2(g) + 4H2O(l) é –2220 kJ mol–1. A entalpia-padrão de reação para a formação da água, H2(g) + ½ O2(g) → H2O(l) é –286 kJ mol–1. Calcule a entalpia-padrão da combustão do propeno. Método A chave para a resolução de problemas desse tipo é a capacidade de montar as equações termoquímicas que levam à equação desejada. Adicionam-se e subtraem-se as reações dadas, junto com quaisquer outras que forem necessárias, de modo a reproduzir a reação desejada. Então, adicionam-se e subtraem-se,do mesmo modo, as entalpias correspondentes às reações. Resposta A reação de combustão que se deseja é Essa reação pode ser obtida a partir da seguinte soma: Entalpias-padrão de formação A entalpia-padrão de formação, ΔfH ⊖, de uma substância é a entalpia-padrão da reação de formação do composto a partir dos respectivos elementos, cada qual no seu estado de referência. O estado de referência de um elemento é o seu estado mais estável, numa certa temperatura, sob pressão de l bar. Por exemplo, o estado de referência do nitrogênio, a 298 K, é um gás de moléculas de N2, o do mercúrio é o mercúrio líquido, o do carbono é a grafita e o do estanho é o estanho branco (metálico). Exceção: o estado de referência do fósforo é o fósforo branco, embora esta forma alotrópica não seja a mais estável; porém, é a mais reprodutível do elemento. As entalpias-padrão de formação são expressas como entalpias por mol de moléculas ou (para substâncias iônicas) de fórmulas unitárias do composto. Por exemplo, a entalpia-padrão de formação do benzeno líquido, a 298 K, é a entalpia da reação: 6C(s,grafita) + 3H2(g)→C6H6(l) e vale +49,0 kJ mol–1. As entalpias-padrão de formação dos elementos nos respectivos estados de referência são nulas em todas as temperaturas, pois são as entalpias de reações “nulas”, como, por exemplo, N2(g) → N2(g). A entalpia-padrão de formação de íons em solução constitui um problema em especial devido à impossibilidade de se preparar uma solução somente de cátions ou somente de ânions. Esse problema é resolvido definindo-se que o íon hidrogênio tem entalpia-padrão de formação nula em todas as temperaturas: (convenção) Entalpias-padrão de formação de compostos inorgânicos a 298 K, ΔfH ⊖/(kJ mol–1). Entalpias-padrão de formação de compostos orgânicos a 298 K, ΔfH ⊖/(kJ mol–1). Exemplo Se a entalpia-padrão de formação do HBr(aq) é igual a –122 kJ mol–1, tem-se o valor que é associado à formação do Br– (aq) e escrevemos que ΔfH ⊖(Br–,aq) = –122 kJ mol–1. Este valor pode ser combinado com, por exemplo, a entalpia- padrão de formação do AgBr(aq) para determinar o valor do ΔfH ⊖(Ag+,aq), e assim por diante. Fundamentalmente, essa definição ajusta os valores reais das entalpias de formação dos íons de um valor constante, que é escolhido de modo que o valor-padrão de um deles, o íon H+(aq), seja igual a zero. Exercício proposto (2C.4 do livro) Determine o valor de ΔfH ⊖(Ag+,aq); a entalpia-padrão de formação do AgBr(aq) é –17 kJ mol–1. Dado: ΔfH ⊖(Br–,aq) = –122 kJ mol–1